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História da América:

Aspectos introdutórios
Material Teórico
A Colonização da América

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Geraldo Barbosa Neto

Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
A Colonização da América

• Introdução
• A carreira das Índias: a empresa colonial espanhola
• O mercantilismo espanhol
• O sistema colonial espanhol

O principal objetivo desta unidade é compreender a relação econômica e


política que o reino da Espanha construiu com a América. Ela proporciona um
entendimento sobre a riqueza e o poder adquiridos pelos europeus e sobre a
pobreza e a submissão da América Latina.

Nesta unidade, deve ler atentamente o conteúdo. Ele lhe possibilitará conhecer e
compreender os laços políticos e econômicos que o reino da Espanha estabeleceu com
a América, durante a colonização espanhola do continente. Especificamente, conhecerá
alguns aspectos importantes da expansão marítima e comercial dos espanhóis, como era a
política econômica que mantinham com a América e como construíram um sistema para
explorar a riqueza americana e transferi-la para a Europa.
Você também encontrará nesta unidade uma atividade composta por questões de múltipla
escolha, relacionada com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar
conhecimentos e de debater questões sobre o tema da unidade no Fórum de Discussão.
É extremante importante que consulte os materiais complementares, pois eles são ricos em
informações que possibilitam o aprofundamento do tema da unidade.

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Unidade: A Colonização da América

Contextualização

Para iniciarmos esta unidade, convido você a refletir sobre a seguinte charge:

NOVAES, Carlos E.; LOBO, César. História do Brasil para principiantes. São Paulo: Ática. 2003, p. 15.

»» De qual contexto histórico essa charge trata?


»» Quem o personagem da charge representa?
»» Qual mensagem a charge pretende transmitir?
»» Qual pode ser o lugar que o personagem vê pela luneta?

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Introdução

Diálogo com o Autor


Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce:
se especializou em perder desde os remotos tempos em que os europeus do
Renascimento se balançaram através do mar e lhe fincaram os dentes na garganta.
[...] É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até
nossos dias, tudo tem se transformado sempre em capital europeu ou, mais tarde,
norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes
centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais,
os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os
recursos humanos. O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar têm
sido sucessivamente determinados, de fora, por sua incorporação à engrenagem
universal do capitalismo.
(GALEANO, 2004, p. 15-16, tradução nossa).

O escritor uruguaio Eduardo Galeano deu a um de seus livros mais célebres o título: Las
Venas Abiertas de América Latina (As Veias Abertas da América Latina). Ele interpreta
as expedições marítimas dos europeus para descobrir, conquistar e colonizar o continente
americano, como uma fera que vem se arrojando pela água, lança-se em direção à sua presa
e crava-lhe os dentes na garganta. Com essa imagem ele propõe que a Europa enriqueceu e
conquistou uma posição central no capitalismo mundial, sugando os recursos americanos. Em
outras palavras, defende a ideia de que os europeus prosperaram economicamente absorvendo
toda a riqueza americana (seu sangue). Para ele, a América continua sangrando pelos orifícios
deixados pela mordida dos europeus. O instante em que essa mordida ocorreu foi no período
dos descobrimentos europeus. Durante a colonização europeia, a América teve seu sangue,
que simboliza suas fontes de riqueza e sua mão de obra, sorvido pela Europa.

A carreira das Índias: a empresa colonial espanhola

“A expansão europeia é a explosão planetária da Cristandade latina” (CHAUNU, 1982,


p. XXI, tradução nossa). Antes dos ibéricos abrirem velas ao mar desconhecido, conheciam
somente uma pequena parte da verdadeira dimensão geográfica do mundo. Aos espanhóis,
coube descortinar para os europeus o vasto continente americano.

Essa expansão foi, sobretudo, marítima. No caso espanhol, esse processo construiu uma
rede de comunicações marítimas, através dos portos instalados nas orlas americana e europeia
(CHAUNU, 1982, p. 199-200).

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Unidade: A Colonização da América

Representação de uma armada espanhola do século XVI

The Battle with the Spanish Armada, Hendrick Cornelisz Vroom, 1601

O comércio atlântico ocasionou transformações importantes tanto na Europa quanto na


América. A intensa circulação de embarcações espanholas no Oceano Atlântico era um
aspecto que reunia em uma mesma circunstância o velho mundo europeu e o novo mundo
americano, articulando-os em um império centralizado no reino espanhol. Essa circulação é
designada por Carreira das Índias (MACLEOD, 1990).

Diálogo com o Autor


A Espanha e seu império americano, o Velho Mundo e o Novo, estavam unidos pelo
oceano Atlântico. Veleiros de madeira, frágeis segundo critérios modernos, fizeram
trabalhosamente a rota de ida e volta a América ano após ano durante mais de
três séculos, com assombrosa constância e regularidade. Estes barcos, os portos de
onde saíam e aonde chegavam, o trajeto que seguiam, o tempo que empregavam e
a gente que trabalhava ou viajava neles, formam um fascinante capítulo da história
do mar. A «carreira das Índias», como se chamava muitas vezes a conexão marítima
hispano-americana e ao comércio que transportava, era também, naturalmente,
um fator econômico e, em última análise, social e cultural de grande importância.
As frotas traziam a Europa milho, batatas, açúcar e tabaco, assim como ouro e
prata. Por sua vez, a Europa enviava gente e manufaturas, trigo, suínos, ovinos e
gado que afetaram grandemente a dieta e a paisagem americanas.
(MACLEOD, 1990, p. 45, tradução nossa).

O comércio atlântico foi centralizado na cidade espanhola de Sevilha. A localização geográfica


dessa cidade a protegia das tempestades atlânticas e da pirataria. Ela também reunia importantes casas
comerciais europeias, contando com a presença de mercadores genoveses, ingleses e holandeses.
Toda a circulação e a regulamentação do comércio atlântico foram centralizadas pela coroa na Casa
de Contratação de Sevilha (MACLEOD, 1990, p. 53-54).

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Casa de Contratação (à esquerda) e Porto (à direita), em Sevilha - Espanha

Fonte: wikimedia commons Fonte: Vista de Sevilla, Alonso Sánchez Coello, 1576-1600

Já os centros do império colonial espanhol foram a Cidade do México e Lima. Esses locais
do vale do México e dos Andes centrais concentravam a população americana e suas riquezas
agrícolas e minerais. Não foi fortuito o fato de essas regiões terem sido os primeiros alvos da
conquista espanhola (MACLEOD, 1990, p. 54).
Inicialmente, as embarcações deixavam a costa americana rumando para a Europa com
carregamento de ouro. Durante o processo de conquista, as incursões espanholas resultavam
no saque desse metal, quando o encontravam com os chefes indígenas mais abastados. Esse
metal também foi retirado dos rios dos territórios conquistados, com o emprego de mão de
obra indígena e africana. À medida que algumas fontes se esgotavam, outras eram encontradas,
ocasionando que a produção de ouro passasse por vários ciclos (MACLEOD, 1990, p. 59).
Por volta da metade do século XVI, a produção de ouro na colônia diminuiu vertiginosamente.
Esse acontecimento provocou uma alta dos preços tanto nas Índias como no reino espanhol.
Essa crise dos preços ultrapassou as fronteiras espanholas e atingiu toda a Europa (MACLEOD,
1990, p. 60).

Moeda de ouro dos Reis Católicos (Fernando e Isabel)

Fonte: wikimoneda.com

Além do ouro, os navios retornavam para o reino espanhol com significativos carregamentos
de prata. Enquanto o ouro foi extraído das ilhas e das terras baixas, a prata era retirada das
terras altas como, por exemplo, Potosí, que se situava no alto Peru. O mesmo fenômeno se
aplica às regiões mexicanas de Zacatecas e Guanajuato (MACLEOD, 1990, p. 64).

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Unidade: A Colonização da América

Diálogo com o Autor


Os Reis Católicos de Espanha decidiram financiar a aventura do acesso direto às
fontes, para se libertarem da onerosa cadeia de intermediários e revendedores que
monopolizavam o comércio das especiarias e plantas tropicais, as musselinas e as
armas brancas, provenientes de misteriosas regiões do oriente. O anseio de metais
preciosos, meio de pagamento para o tráfico comercial, impulsionou também a
travessia dos mares malditos. A Europa inteira necessitava de prata [...].
(GALEANO, 2004, p. 28, tradução nossa).

À medida que os carregamentos de ouro tiveram a Espanha como destino principal, a maior
parte da prata ficava retida na América. Ela era absorvida pela burocracia, que empregava
na remuneração de cargos administrativos. Também era absorvida nas trocas comerciais
existentes na colônia (MACLEOD, 1990, p. 64).

Representação da mina de Potosí – Bolívia, Theodore de Bry (século XVI)

Essa produção de metais preciosos na América e seu transporte para o reino espanhol
movimentaram a conjuntura mercantilista europeia.

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O mercantilismo espanhol

Pierre Deyon considera “[...] o mercantilismo como o conjunto das teorias e das
práticas de intervenção econômica que se desenvolveram na Europa moderna
desde a metade do século XV.” (DEYON, 1992, p. 47, tradução nossa).

Diálogo com o Autor


As colônias americanas foram descobertas, conquistadas e colonizadas dentro do
processo da expansão do capital comercial. A Europa estendia seus braços para
alcançar o mundo inteiro. Nem a Espanha nem Portugal receberam os benefícios do
arrojado avanço do mercantilismo capitalista, ainda que fossem suas colônias as que,
substancialmente, proporcionaram o ouro e a prata, que nutriram esta expansão.
(GALEANO, 2004, p. 47, tradução nossa).

O reino espanhol, cujas monarquia e nobreza não valorizavam a produção de mercadorias,


buscava os artigos que necessitava em seus vizinhos europeus. Desse modo, os metais preciosos
que explorava na América eram transferidos para os países que lhe forneciam manufaturas.
Para evitar que sua riqueza não fosse transferida para outros, o reino espanhol impôs pesadas
taxas para inibir as importações e as exportações.

Diálogo com o Autor


Para a Espanha, a política mercantilista de autossubsistência parece despida de
significação. A Espanha, onde abundam os preconceitos aristocráticos, onde as
profissões comerciais e manufatureiras gozam de uma consideração mesquinha,
necessita de seus vizinhos para atender às necessidades de seu império. O regime
oficial do exclusivo, o monopólio de Sevilha e Cádiz é examinado de mil maneiras;
os tecidos, as telas da Inglaterra, da Holanda e da França, abarrotam os navios da
“Carrera” das Índias. Reduzido aos extremos pelo mau estado de suas finanças,
o governo não hesita em sobrecarregar de taxas o comércio interno, e onera
pesadamente suas próprias exportações.
(DEYON, 1992, p. 11-12).

O reino espanhol, pelos projetos exuberantes da coroa e, sobretudo, por ela dispor de
recursos que lhe permitiam pagá-los prontamente, atraiu mercadores e banqueiros de várias
regiões da Europa. A intensa circulação de metais preciosos promoveu um crescente aumento
nos preços. Esse aumento ocasionou uma crise financeira em todo o continente europeu.
Como a Espanha era um reino predominantemente agrícola, necessitava exportar de outras
partes da Europa os produtos que precisava. Os atravessadores instalados no reino, movidos
pelos carregamentos de ouro e prata que chegavam aos portos espanhóis, buscavam lucros
exorbitantes com as ofertas de suas mercadorias (MACLEOD, 1990, p. 64).
Até o século XVIII, o quadro mercantilista espanhol não sofreu alterações significativas. Tarifas
onerosas arrasaram a insipiente indústria espanhola. Em vista disso, persistiu sua dependência
de produtos exportados. Para tentar mudar esse quadro, os espanhóis buscaram inspiração
nas políticas econômicas inglesas, francesas e holandesas. Sua economia apresentou alguns
traços de renovação, em especial, com as medidas tomadas para incentivar a agricultura e

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Unidade: A Colonização da América

a indústria. Contudo, essas medidas não tiveram sucesso. O pouco incremento que ocorreu
na economia do reino espanhol foi na produção de equipamentos, artigos e munições para
os militares. Também houve um incremento na produção de artigos destinados aos nobres
(BRADING, 1990, p. 89-90).
Se considerarmos o enorme volume de mercadorias que circulava no império espanhol, a
maior quantidade era exportada da Inglaterra, da França e da Holanda. Barcos franceses visitavam
os portos americanos frequentemente. Uma medida mercantilista dos espanhóis foi proibir os
mercadores franceses de comercializar na colônia. Tal medida visava garantir aos espanhóis
o monopólio comercial no Atlântico. Entretanto, a grande necessidade de mercadorias não
permitia que se livrassem dos comerciantes ingleses (BRADING, 1990, p. 103).
Grande parte dessa mercadoria era fruto de contrabando. O reino da Espanha aumentou a
fiscalização da costa americana. Isso fez com que as hostilidades entre os reinos crescessem.
Ao mesmo tempo, o combate ao contrabando inglês provocava na colônia uma escassez de
produtos e, por conseguinte, o aumento de preços (BRADING, 1990, p. 105).
Houve um curto período no qual a economia colonial mostrou algum desenvolvimento.
Foi durante o conflito ocorrido durante o processo de independência norte-americano (1779-
1783). Além do conflito atingir a produção dos ingleses, sua marinha foi empregada no
esforço de não perder sua colônia americana. A carência de mercadorias inglesas fez com
que a produção na colônia fosse estimulada. Contudo, terminado o conflito, as mercadorias
inglesas voltaram a abarrotar os portos hispano-americanos.

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O sistema colonial espanhol
Foi construído um sistema que garantia a um grupo restrito de mercadores o monopólio do
comércio atlântico. Esse grupo formou uma rede comercial que abrangia os portos espanhóis,
os do México e os do Peru.

Diálogo com o Autor


Ouro, prata, açúcar: a economia colonial, mais abastecedora do que consumidora,
estruturou-se em função das necessidades do mercado europeu, e a seu serviço.
[...] Os recursos fluíam para que os acumulassem as nações europeias emergentes
do outro lado do mar.
(GALEANO, 2004, p. 47, tradução nossa).

Um grupo restrito de mercadores detinha o controle da circulação de carregamentos no


Atlântico, excluindo não somente os estrangeiros, mas também casas mercantis distribuídas
em portos mais modestos das orlas espanhola e americana.

Diálogo com o Autor


O crescimento do sistema de frotas na segunda metade do século XVI reforçou
a confiança no monopólio mercantil. Espanha e seus grandes consórcios ou
consulados de mercadores de Sevilha, Cadiz, Vera Cruz e Lima se apoiavam em
um comércio e de comboios baseado na exclusão dos rivais, em uma programação
rígida e em portos monopolísticos onde o comércio pudera ser controlado —
sendo os mais notáveis Sevilha e Panamá — e na subordinação das colônias
e das propriedades espanholas. Os estrangeiros e seus produtos não foram os
únicos ao que se tentou excluir. Portos menores espanhóis e americanos, como
os de Galícia e o Rio da Prata, foram objeto de rígidas, ainda que infrutuosas,
proibições de participação no comércio das Índias.
(MACLEOD, 1990, p. 67, tradução nossa).

»» as riquezas produzidas na América foram acumuladas pelos europeus;


»» a expansão marítima espanhola estabeleceu uma comunicação
Em síntese
marítima entre a Europa e a América;
»» organizou-se um comércio atlântico a partir dos portos da América e
do reino da Espanha;
»» o comércio atlântico foi centralizado pela coroa espanhola na Casa de
Contratação de Sevilha;
»» os navios retornavam para o reino espanhol com significativos
carregamentos de ouro;
»» grande parte da produção de prata permaneceu na América;
»» o reino espanhol dependia das mercadorias produzidas pelos seus
vizinhos europeus;
»» por importar as mercadorias de outros países europeus, transferiu sua
riqueza de metais preciosos para outras regiões europeias;
»» o monopólio do comércio atlântico pertencia a um grupo restrito
de mercadores.

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Unidade: A Colonização da América

Material Complementar

Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta unidade, assista à reportagem sobre


as minas de Potosí, na Bolívia. Essa reportagem possibilita refletir sobre as continuidades que
a América mantém com sua época colonial.
Vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=dMCj97SC1XQ

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Referências

BRADING, D. A. La España de los Borbones y imperio americano. In: BETHEL, L. v. II.


Barcelona: Crítica, Cambridge University Press, 1990.

CHAUNU, P. La Expanción Europea, siglos XII al XV. Barcelona: Labor, 1982.

DEYON, P. O mercantilismo. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.

GALEANO, E. Las Venas Abiertas de America Latina. Buenos Aires: Siglo XXI, 2004.

MACLEOD, J. M. España y América: el comercio atlántico, 1492-1720. In: BETHEL, L. v.


II. Barcelona: Crítica. Cambridge University Press, 1990. p. 45-84.

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Unidade: A Colonização da América

Anotações

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