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Quando os europeus chegaram ao Novo Mundo, a partir do século XV, foram descobrindo
pouco a pouco a sua enorme extensão e a grande diversidade ambiental. Descobriram
também que este era um continente amplamente habitado, por diversos grupos humanos
em diferentes estágios de organização e desenvolvimento tecnológico.
No âmbito legal, a primeira providência adotada pelos Reis Católicos foi a de tratar os
nativos americanos como seus súditos, com direitos e deveres semelhantes aos dos
espanhóis. Mas na prática, a necessidade de mão de obra para construir um império
colonial fez com que adotassem com os nativos o regime da encomienda, uma espécie de
escravidão.
Pouco a pouco foram tendo de adaptar sua legislação para incluir os nativos. E, além de
novas leis também criaram estruturas específicas de governo como o Conselho das Índias,
que era encarregado de coordenar legal e judicialmente a administração das possessões.
As leis que abordavam todos os aspectos do Direito Indiano ficaram conhecidas como
Leis das Índias. Elas definiram duas repúblicas, com regras específicas para cada uma: a
República dos Espanhóis e a República dos índios.
Um dos itens deste vasto conjunto de normas tratava das cidades, vilas e povoados que
necessitavam ser planejados e ter autorização real para sua criação. E definiam as
características geográficas e ambientais que deveria ter o sítio ou lugar de um novo
assentamento, assim como uma estrutura com geometria regular.
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As diretrizes para urbanização eram baseadas no Tratado de Arquitetura de Vitrúvio,
antigo documento do arquiteto romano, que foi a base para as cidades ideais do
Renascimento. Os espanhóis adotaram estas diretrizes criando cidades reticulares em
todos os seus domínios americanos., inclusive nos povoados de índios, com versões
simplificadas, em menor escala.
Cada povoado era administrado por apenas dois religiosos. O padre era encarregado dos
aspectos espirituais e um irmão coadjutor, tratava dos aspectos temporais ou materiais.
Em uma redução viviam até 6000 índios de diferentes grupos familiares, com seus
caciques que participavam de um conselho, o cabildo indígena.
As Leis das Índias foram adaptadas pelos jesuítas e aplicadas como regra nas suas
reduções. Isto gerou numa tipologia que repetiu, em todos os povoados, uma mesma
estrutura, com pequenas variações. O chamado Plano Tipo que está no Arquivo Jesuítico
de Roma, descreve o padrão e afirma que todas eram iguais.
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As reduções eram estruturadas por dois conjuntos de edificações: o conjunto dos padres,
fechado e protegido por muros, como nos inúmeros quarteirões jesuíticos ainda
existentes nas cidades onde se estabeleceram; e o setor dos índios, aberto e permeável,
com fileiras de habitação coletiva, rodeadas por avarandados.
Duas ruas principais se cruzavam no centro da praça, como nos antigos acampamentos
romanos. Uma delas, onde se realizavam as procissões, ligava a entrada da cidade com a
igreja.
No centro da redução uma grande praça, que era palco de eventos e celebrações religiosas
e outras atividades. Em um dos seus lados estava a grande igreja, com a residência dos
padres, os depósitos, as oficinas e o cemitério para os índios. Nas proximidades estavam
o cotiguaçú onde viviam as viúvas e órfãs e o tambo, onde se hospedavam os visitantes.
E, nos fundos do conjunto ficava a quinta, com pomar, horta e jardim.
Nos outros três lados da praça, os pavilhões dos índios, que tinham um cômodo para cada
família. Um deles, junto à praça, era destinado ao cabildo. Ao redor do povoado, outros
equipamentos como capelas, padaria, hospital, olaria e as fontes, currais, pomares e
ervais.
A arquitetura das reduções passou por três estágios. No início as construções seguiam as
técnicas dos indígenas que conheciam e dominavam o ambiente. Eram estruturadas por
varas de madeira cravadas no solo, vergadas e amarradas na parte superior. Depois, eram
cobertas por sucessivas camadas de palha que chegavam até o chão.
A terceira etapa se inicia com a chegada de irmãos arquitetos. Eles introduziram sistemas
construtivos europeus, com espessas paredes de pedra portantes. As estruturas de
telhados eram feitas em madeira e os forros, em abóbadas, de ladrilhos ou tábuas. As
igrejas eram geralmente ornamentadas com motivos barrocos em madeira ou pedra, se
revelava a proveniência e a formação dos autores.
Foram poucos os templos construídos com este sistema nas missões: o de São Miguel
Arcanjo, hoje no Brasil, e Trinidad e Jesus, que não foi concluído, no Paraguai.
Geralmente se atribui o projeto da igreja de São Miguel Arcanjo apenas ao irmão arquiteto
Giovanni Battista Primoli. Vários autores que estudaram esta obra concordam que sua
construção envolveu a três personagens: o padre Francisco de Rivera, espanhol, de Toledo
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e os irmãos Primoli, arquiteto italiano, de Milão; e José Grimau, arquiteto e pintor
espanhol, de Barcelona.
A igreja de São Miguel é um templo com planta em cruz latina, com três naves, sendo
a nave central, mais alta, com transepto, presbitério e sacristias nas laterais. As naves,
separadas por grandes arcadas, são cobertas por abóbadas, sendo a central de berço e as
laterais de aresta. Sobre o transepto, um zimbório em tambor, com abóboda em meia-
laranja. E, sobre a frontaria, um pórtico.
Na tradição européia, a lógica das construções dos templos católicos era iniciar pela
“cabeceira” (capela-mór) e concluir pelos “pés” (a frontaria). De acordo o estudo dos
remanescentes e de registros históricos, a obra de São Miguel foi construída em quatro
etapas, durante o período jesuítico. Posteriormente, os novos administradores inseriram
modificações.
A primeira etapa provavelmente foi iniciada em 1731, por Francisco Rivera que era o
padre em São Miguel. Rivera se empenhou para construir uma igreja com características
tradicionais dos templos missioneiros: um grande galpão com pórtico coberto. Ele tinha
justificativas funcionais para tanto.
A obra começou pelas sacristias, com muros de cantaria feitos por blocos regulares de
arenito aparelhado, assentados sobre argamassa de barro. Os detalhes dos primeiros
ornamentos e a portada leste, provavelmente inspirada nos tratados renascentistas,
demonstram o cuidado nos acabamentos, desde o início.
Com quase 60 anos e larga experiência construtiva, Primoli idealizou um templo com
características técnicas e estilísticas inovadoras em relação ao padrão tradicional
missioneiro. Ele propôs uma edificação de três naves, com paredes, pilares e arcos
portantes, com forros em abóbadas de pedra ou ladrilhos e, no transepto, uma cúpula.
E, uma fachada sem pórtico.
Rivera argumentava que não havia cal nas missões para construir as pesadas estruturas em
pedra propostas por Primoli. E com isto se iniciou uma longa disputa, entre ambos...
No interior das naves as paredes das laterais eram reforçadas por maciços salientes, que
funcionavam como contrafortes, alinhados aos suportes das arcadas. Foram preparadas
para receber o peso das abóbadas. Todas as paredes foram executadas com arenito ou grês
e, como acabamento, “branqueadas” com uma argila clara chamada tabatinga.
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A frontaria apresenta uma composição onde o exterior evidencia o interior: uma estrutura
em dois corpos conectados por volutas, e coroados por um frontão triangular. É marcada
verticalmente por pilastras simples ou em par, algumas com contrapilastras, com capitéis
de ordem compósita sobrepostos por entablamentos com cornijas e frisos com
denticulados.
Sem dúvida, a monumental frontaria barroca é o ponto alto de trabalho de Primoli nesta
obra. Ela provavelmente foi concluída até 1735, antes de seu retorno a Buenos Aires.
Primoli voltou a São Miguel no início de 1737 para construir a torre. Uma inscrição
existente em um dos seus capitéis apresenta a data ‘1739 AÑOS’, que pode registrar a
conclusão de suas obras em São Miguel.
Rivera voltou em 1740, como arquiteto, aos 72 anos. Ele veio concluir as obras da igreja,
colocar as coberturas e construir seu desejado pórtico. Nesta etapa ele executou os forros
em abóbadas de madeira nas naves, sendo de berço, na central, e de aresta nas laterais,
cobertas por telhados cerâmicos. Sobre o transepto, ao invés da cúpula, um zimbório em
tambor, octogonal, coberto por telhas, e, no interior uma meia-laranja.
Em 1744 chegou o irmão Grimau a São Miguel, com 26 anos, onde, provavelmente,
adquiriu experiência em construções com o padre Rivera.
O pórtico era uma enorme estrutura em estilo maneirista, elevada em relação à praça,
com nove arcos, cinco dos quais frontais, com pilastras de fustes cilíndricos e ordem
compósita apoiadas em plintos. Seu frontão tinha uma balaustrada com a imagem do
arcanjo São Miguel, ao centro, com três apóstolos a cada lado.
O pórtico foi engastado na frontaria e encobriu nichos, pilastras, capitéis e parte da janela
central. Foi construído com blocos mais regulares que os da frontaria, com ornamentos
minuciosamente esculpidos. Provavelmente essa foi a participação de Grimau que ficou
responsável por sua conclusão após a morte de Rivera, em 1747. Primoli faleceu em
Candelária, neste mesmo ano.
Depois do período jesuítico a igreja passou por significativas intervenções, com diminuição
das naves em função de incêndio e do êxodo da população. Os povoados entraram em
decadência, como registrou Demersay, em São Miguel, no século XIX. Em sua iconografia
ainda se verificam vestígios do recobrimento branco, na torre e no pórtico.
Talvez o pórtico tenha sido o grande gesto de Rivera na tentativa de vincular a igreja de
São Miguel aos peculiares templos da Paraquária.
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Alguma relação, ainda que breve.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
7
Questões
8
Respostas