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Maranh-g

ensaios de biografia
& história _.,~~c_

DORES
:OSTA.
HLO CHECHE GALVES
Yuri Costa
Marcelo Cheche Galves
(organizadores )

Maranhão
ensaios de biografia
e história

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Café ~ Cd(líJ
EDITORA UEMA
Cogito. Ergo Sum

São Luís, 2011


Copyn'ght© 2011 by Yuri Costa e Marcelo Cheche Galves.

Editoração: Café & Lápis


Editores: Claunísio Amorim Carvalho & Germana Costa Queiroz Carvalho
Revisão: Claunísio Amorim Carvalho
Diagramação: Germana Costa Queiroz Carvalho
Capa: Eduardo César Machado de Jesus
Ilustração da Capa: Mappa das cidades, vilas, lugares e freguesias das capitanias do Maranhão e
Piauhy com o número em geral dos abitantes das ditas capitanias e em particular de cada huma
das referidas distancias em fica o da capital: vindo-se pela notícias dos mortos e nascidos, no
conhecimento do augmento da população, desde XIII de fevereiro de MDCCLXXXIII athe 17
Apresentação 09
de dezembro de MDCCLXXXVII, que foi o tempo que as governou JOZÉ TELLES DA SILVA.
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Acervo Digital. Prefácio 11
Impressão: Halley S. A. Gráfica e Editora
PARTE I - Ordem e contestação: disputas políticas e projetos
alternativos de Estado
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Governantes e proprietários
Costa, Yuri -
FERNANDO ANTONIO SOARES DE NORONHA: um
C8373m
imbecil ou um homem do seu tempo? . 19
Unidade • .l"çç,..J::}. __ Maranhão: ensaios de biografia e história / Yuri Costa & Marcelo
Júlia Constança Pereira Camêlo
N° Chamada ~I clICheche Galves (orgs.) - São Luís: Café & Lápis; Editora UEMA, 201l.
--- ..-----.M.?J.lS-.-- RAIMUNDO JOSÉ DE SOUSA GAIOSO: do prestígio ao
v .. __ ~_ Ed. _ 424 p.
;~nbü PC _~ ..L~~g..Q
degredo . 37
,~;)rbO lÚllCfde. h-:- ISBN 978-85-62485-16-9 Edyene Moraes dos Santos Lima
;.• JC~ .lQ..rJ-:~~~.i?-l. Maranhão - História. L Título. ANA JANSEN: a mulher e o mito .
53
1-'"7ç~-'~'$--S3:-+~ CDD 981.21 Elizabeth Sousa Abrantes e Sandra Regina Rodrigues dos Santos
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Cl;d. tit:j)-:t2r~-:±r-
- .- - - ._,--
Indice para catálogo sistemático:
Maranhão - História: 98l.2l.
Contestadores
BRANDINDO ESPERANÇAS E FANTASIAS: o contro-
vertido Francisco Antonio Brandão Jr. .. . 78
Livro publicado com recursos provenientes do Edital n.? 024/2010 - Programa de Apoio à
--- Regina Helena Martins de Faria
Publicação (APUB / FAPJ!MA).
ENTRE BARÕES E ESCRAVOS: agonia e morte de Celso
Publicação de acordo com as novas regras ortográficas da língua portuguesa. Magalhães . 102
2011
Yuri Costa
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MARIA ARAGÃO: da agitação e propaganda à educação
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PARTE 11- Dimensões da cultura: o púlpito, o prelo e as ruas APRESENTAÇÃO
Padres, pastores e perseguidos pela (falta de) fé
AS FACES DO PADRE VIEIRA: o jesuíta no Maranhão,
segundo seus biógrafos 191
Alirio Cardozo
DOS TRIBUNAIS AO LIMOEIRO: Gregório de Andrade e
Afonseca e a Inquisição no Maranhão 211
Eloy Barbosa de Abreu
UM CRISTÃO-NOVO GOVERNANDO O BISPADO? a tra- Maranhão: ensaios de biografia e história tem como objetivo reunir
jetória de Filipe Camelo de Brito no Maranhão setecentista 231 pesquisas que, a partir de um viés biográfico, contribuam para um maior
Pollyanna Gouveia Mendonça conhecimento de trajetórias de vidas passadas parcial ou integralmente
no Maranhão, bem dos meios em que os personagens trabalhados
O SACERDOTE PARADIGMA: a trajetória do padre pelos autores se movimentaram e a forma como influenciaram seus
Raimundo Alves da Fonseca (1842-1883) 253 respectivos contextos históricos.
Wheriston Silva Neris Desde o início do projeto, refutamos a perspectiva de "efeméri-
O APÓSTOLO DA SIMPLICIDADE EVANGÉLICA: Este- des", comum a uma escrita de louvação a pessoas/personalidades,
vam Ângelo de Souza e o pentecostalismo no Maranhão 280 no melhor estilo do que se convencionou denominar história política
Lyndon de Araújo Santos e Elba Fernanda Marques Mota tradicional. Os textos aqui apresentados não visam exaltar pessoas,
Jornalistas, literatos e artistas populares mas criticar vivências, valoradas de diferentes formas pelos autores.
GONÇALVES DIAS, HISTORIADOR: a outra face do poeta..
Rafael Serra de Resende
r:::)MARIA FIRMINA DOS REIS E O VERBO ENCANTADO:
vida e obra de uma romancista do século XIX no Maranhão
Régia Agostinho da Silva
a 300

I 319
Por isso mesmo, ao convidar os diferentes pesquisadores a
contribuir com a Coletânea, procuramos não estabelecer. critérios
c1assificatórios para a eleição dos personagens aqui reunidos, poden-
do ser estes conhecidos ou anônimos. Poderão ser encontrados nas
páginas seguintes nomes consagrados pela historiografia regional e/ ou
nacional, mas também personagens desconhecidos, cuja importância
ALUÍSIO AZEVEDO: uma tentativa de viver de literatura no caberá ao leitor validar ou não.
Brasil oitocentista 335 Daí por que a Coletânea foi pensada e concretizada seguindo
Leudjane Michelle Viegas Diniz à procura de novos personagens e/ou novas abordagens sobre velhos
UM HOMEM É COMO UMA MONTANHA: Clodoaldo conhecidos. Construir um grande painel dos personagens em seu tempo
Freitas enredado nas teias da vida 350 foi sempre o objetivo último dessa empreitada.
Alcebíades Costa Filho e Edwar de Alencar Castelo Branco Da mesma forma, a Coletânea não está ligada a uma cronologia
A CIDADE DA FUZARCA E SEU ÚLTIMO FUZILEIRO.... 368 específica, no sentido de abarcar apenas personagens que atuaram
Fabio Henrique Monteiro Silva em determinado contexto histórico. A prioridade não foi escrever
uma cronologia de pessoas do/no Maranhão. Por essa mesma razão,
FREDERICO JOSÉ CORRÊA EM: o retrato que não era para
não priorizamos a organização dos trabalhos por períodos/ séculos/
a capa . 386 décadas, mas por temas correlatos aos distintos artigos.
José Henrique de Paula Borralho O livro está dividido em três partes. A primeira abarca trabalhos
OS PERCURSOS DA MEMÓRIA: construções biográficas relacionados à dinâmica e ao conflito da/na sociedade maranhense
sobre Odorico Mendes e Garcia de Abranches . 398 desde o séc. XVII até o séc. XX. A segunda mantém relação com
Marcelo Cheche Galves personagens e práticas religiosas desenvolvidas no Maranhão em
Os autores . 419 diferentes contextos. A terceira e última parte reúne textos relacionados

Maranhão: ensaios de biografia e história. 9


AS FACES DO PADRE VIEIRA:
o jesuíta no Maranhão, segundo
seus biógrafosl
Alirio Cardozo

Tem sido notavelmente vária,


e até contraditória, afama do célebre
jesuíta o padre Antonio Vieira.
D. Francisco Alexandre Lobo
(1849, p. 175)
Nas suas diversas cartas e sermões
não é raro ouvir dizer a estejesuíta
que elle não era opposto à escravidão,
que bem conhecia sua neccessidade.
PADRES, PASTORES E João Francisco Lisboa
'PERSEGUIDOS PELA (1865, p. 432)
(FALTA DE) FÉ Vieira e o Maranhão da década de 1650

Era 1653,17 de janeiro. 2 Nesta data, chegava ao porto da cidade


de São Luís uma pequena caravela de 60 toneladas, um pouco menor
que as naus que mais tarde circularão por ali (VIElRA, 2003, p. 128).
A embarcação finalmente trazia, após uma longa viagem com escalas
na Ilha da Madeira, e Cabo Verde, o novo Superior da Companhia de
Jesus para o Estado do Maranhão, o padre Antônio Vieira (612/1608-
18/6/1697). Acompanhavam este padre mais três jesuítas: Matheus
Delgado, Manoel de Lima e Manoel de Sousa. Todos na cidade sabiam
de quem se tratava. Naquela metade do século XVII, o padre Vieira
1 Este texto é fruto de uma pesquisa maior desenvolvida no doutorado da
Universidad de Sa1amanca (Espanha), que conta com o financiamento da Co-
ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES-Brasil),
e apoio do Departamento de História da UFMA. O autor agradece aos pro-
fessores Marcelo Cheche Galves e Yuri Costa, e aos professores Alcir Pécora
e Rafael Chambouleyron, estes últimos que iniciaram muitas destas reflexões.
2 Alguns autores apontam o dia 16 de janeiro como a data provável da che-
gada do Padre Vieira ao Maranhão, a exemplo de Antonio Henriques Leal
(1873, p. 133). O próprio João Francisco Lisboa considera as duas possibilida-
des como verossímeis, em seu ensaio biográfico póstumo de 1865 (LISBOA,
1865, p. 356).

Maranhão: ensaios de biografia e história. 191


já não era um jesuíta qualquer. Tratava-se do confessor e conselheiro que foi destacado como escrivão para o Tribunal da Relação da Bahia,
particular do próprio rei D. João IV, a quem o soberano também no Estado do Brasil; sua mãe era a lisboeta Maria de Azevedo. Vieira
considerava um amigo. Sabe-se que o rei tentou evitar a saída do jesuíta parte para o Brasil em 1615, acompanhando a família. Em 1623
da cidade de Lisboa, que acabou ocorrendo, após muitos atrasos, em passa a estudar, como noviço, no colégio da Companhia de Jesus na
22 de novembro de 1652. Assim, iniciava-se uma etapa especialmente cidade de Salvador. Em 1625, emite os primeiros votos da Ordem.
lembrada nas muitas obras dedica das ao padre Vieira, principalmente as Em 1634, Vieira confirma os votos sacerdotais, e um ano depois já
de caráter biográfico. Os biógrafos costumam dividir a vida do famoso era o responsável pela cadeira de Teologia do Colégio da Bahia.'
jesuíta, entre outras classificações, em duas grandes fases: a chamada Em 1641, após o fim da união político-monárquica entre Portugal e
"fase política" (1641-1652), momento em que esteve envolvido em Espanha (1580-1640), Vieira volta a sua terra natal, passando a exercer
assuntos de estado em Portugal; e a chamada "fase missionária" (1653- grande influência sobre a política lisboeta. Em 1644, foi nomeado
1661), período em que o padre Vieira fixou residência no Maranhão. Pregador Régio, e passa a exercer a função de confessor de D. João
Este artigo pretende discutir como algumas biografias luso- IV, o primeiro rei português em mais de 60 anos. Mais tarde, em 1646,
brasileiras, principalmente aquelas do final do século XIX, atribuem o jesuíta se destacaria em missões diplomáticas por toda a Europa,
sentido à presença deste jesuíta no antigo Estado do Maranhão, entre principalmente na França e Holanda. Entre 1648 e 1650, surgem as
1653 e 1661. No final das contas, estes autores ajudaram a criar uma primeiras denúncias no Tribunal do Santo Oficio, e a primeira ameaça
interpretação clássica a respeito da história das missões jesuíticas na de expulsão da Ordem, esta última jamais chegou a concretizar-se. Em
região, relacionando-a diretamente a uma suposta "ética vieiriana" , 1652, o padre Vieira decide ir como Superior da missão jesuítica ao
interpretação não completamente abandonada em dias de hoje. Estado do Maranhão, aparentemente a contragosto de D. João IV Por
Assim, este artigo não pretende ser uma biografia corrente sobre sua importância como negociador diplomático do rei de Portugal, a
a vida e morte do padre Vieira, mas também não pretendemos fazer decisão de ir como missionário para o Maranhão teria levantado as
biografias dos seus biógrafos. Trata-se bem mais de uma reflexão sobre mais diversas hipóteses, coevas e posteriores.
a memória historiográfica acerca da atividade jesuítica na região. Na cidade de Lisboa, o padre Vieira foi uma espécie de "valido"
No caso do Maranhão, determinadas representações da imagem do político do novo soberano português, cargo informal considerado
padre Vieira parecem estar fortemente ligadas à memória do anti- impróprio para a cultura política da época, principalmente em função
jesuitismo pombalino. Nesse sentido, Vieira não era visto apenas como da memória recente de ministros poderosos como o Duque de Olivares,
o "Superior da missão", era também o seu inspirador e modelo para na Espanha (ELLIOTT; BROCKLISS, 2000). Este status garantiu a
os demais jesuítas. Desta forma, certas obras oitocentistas tentavam Vieira muitos inimigos durante toda a vida, inclusive no interior da
escrever uma história das missões religiosas utilizando largamente Companhia, fato recordado pelos biógrafos. Entretanto, o jesuíta não
a documentação vieiriana como filtro, atribuindo grande valor às seria lembrado apenas por sua ingerência nos negócios de Estado.
suas impressões e interpretações. Por outro lado, estas biografias Como se sabe, o padre Vieira é considerado o maior sermonista e
oitocentistas não tinham o mesmo tom. Assim, se em muitos trabalhos orador de sua geração. Ao longo da vida, o jesuíta escreveu obras de
o padre Vieira era considerado o exemplo mais completo do jesuíta caráter religioso e político (ou como seria mais justo, obras de caráter
mundano, palaciano, semilaico; em outros, foi o jesuíta devoto, místico, retórico-religioso-politico) com acentuado valor erudito. Escreveu
profético, e antiescravista. Estas distintas fórmulas comportavam mais de 200 sermões, muitos discursos, inúmeras cartas e pequenos
também diferentes posições sobre a própria identidade dos jesuítas em tratados, algumas destas obras foram consideradas modelo retórico a
geral e, dos padres no Estado do Maranhão, em particular. Apesar de ser seguido por trata distas dos séculos XVIII e XIX. Numa época em
não pretender escrever uma biografia clássica, ainda são necessários ~e a noção de "fama" ainda não estava completamente constituída
alguns dados sobre a vida do famoso jesuíta, e sobre a situação do
Estado do Maranhão na década de 1650. Evidentemente, os principais 3 A formação jesuítica, como se sabe, inicia no chamado "noviciado", em
biógrafos do padre Vieira estavam completamente familiarizados com que o ingresso toma familiaridade com as regras da Ordem e com o chama-
do "espírito inaciano". Após dois anos, tem início a seguinte fase em que
estes eventos.
são celebrados os três votos tradicionais: Pobreza, Castidade e Obediência,
Nascido na cidade de Lisboa, na rua dos cônegos, freguesia da
confirmados mais tarde no final da formação do jesuíta, e acrescidos do voto
Sé, Vieira era filho de Cristovão Vieira Ravasco, funcionário português especial de-obediência ao Papa que só a Companhia celebrava.
192 • Alírio Cardoso Maranhão: ensaios de biografia e história. 193
na cultura letrada portuguesa, Vieira já era considerado "famoso". O adotaram táticas e fórmulas legais para a captura de índios no sistema
padre Vieira já tinha 45 anos quando chegou à cidade de São Luís, de "resgates". A chegada do famoso jesuíta coincidiria com o início
mais que a expectativa de vida dos portugueses da época. da regulação desta atividade, que já contava antes com instruções da
Para compreender a importância atribuída à estadia de Vieira própria Câmara de São Luis a respeito (CARDOZO, 2007).
no Maranhão, devemos voltar à situação desta região na década de Para boa parte da historiografia, é comum o entendimento de
1650. Como se sabe, apesar de já existirem jesuítas na expedição de que a presença do padre Vieira teria alterado o equilíbrio de forças,
Alexandre de Moura, em 1615, os reis espanhóis que governaram estas entre moradores e missionários, em função da grande influência
terras durante a União Ibérica tinham suas preferências pelo apostolado que exercia o jesuíta sobre a Corte portuguesa. De fato, no início da
franciscano. De fato, o primeiro apostolado missionário do Maranhão missão, os padres se comprometiam a não alterar os usos locais do
foi franciscano, especificamente da Província de Santo Antônio. Por trabalho indígena, incluindo a posse que alguns moradores tinham de
outro lado, já havia existido um experimento apostólico jesuítico, índios semiurbanizados (SARAIVA, 1992, p. 19). Em poucos meses,
em 1622, liderado pelo padre Luis Figueira, que acabou morrendo Vieira já tinha estabelecido outra política, com o avanço das missões e
supostamente pelas mãos dos índios Aruãs na Ilha do Marajó (Grão- fazendas jesuíticas pelo sertão "maranhense", e a posterior redefinição
Pará). De modo geral, o próprio Vieira se considerava um sucessor dos tais "usos locais" da mão-de-obra nativa. Entre 1654 e 1655, o
daquele primeiro jesuíta, reafirmando sua chegada ao Maranhão como famoso jesuíta regressou à Europa para negociar as novas leis sobre
obra da Providência, e símbolo de novos tempos para a Companhia de o cativeiro indígena com o próprio rei D. João IV. A lei Régia de 9 de
Jesus (CARDOSO; CHAMBOULEYRON, 2003, p. 33-62). abril de 1655, que garantiu a jurisdição do trabalho indígena aos padres
De fato, na década de 1650, Vieira inaugurava uma nova etapa jesuítas, já foi muitas vezes interpretada como o produto da enorme
nas missões jesuíticas no Maranhão. Os jesuítas agora contavam com influência do padre Vieira sobre a política cortesã. De qualquer forma,
amplo apoio da Coroa e com uma estrutura material bem superior em função da nova legislação proibitiva, iniciaram outros confrontos
àquela garantida aos franciscanos. Duas outras questões marcam a entre padres e moradores, que tiveram o seu momento mais dramático
chegada do padre Vieira a estas terras. Em 1652 as duas capitanias, no início da década de 1660. Durante o famoso Motim de 1661,
Maranhão e Grão-Pará, foram separadas em governos autônomos; entre 15 e 17 de maio, os jesuítas são expulsos das duas capitanias,
e, no mesmo período, surgem as primeiras leis reais de proibição dos Maranhão e Grão-Pará. O padre Vieira acaba sendo o alvo principal
cativeiros indígenas, bem como a garantia real dos privilégios jesuíticos das hostilidades. Com a morte do rei D. João IV, em novembro de
para a organização de fazendas e missões na região (KIEMEN, 1954, p. 1656, por determinação do novo monarca, D. Afonso VI (1656-1668),
80). A lei de 17 de outubro de 1653, contrária ao trabalho compulsório, o famoso jesuíta foi proibido de residir na região, para onde nunca mais
e que regulava a obtenção de indígenas pelos oficiais régios, logo voltaria. Em 1663, o padre Vieirajá estava desterrado no colégio jesuíta
resultou na primeira das revoltas antijesuíticas ocorridas no estado. da cidade de Coimbra, onde ocorreram os primeiros interrogatórios
Por outro lado, o avanço português pelo sertão, aliado ao aumento da do seu processo na Inquisição, cujo documento mais importante da
população nas capitanias reais, tem como consequência uma crescente acusação foi a carta Esperanças de Portugal, texto profético redigido em
demanda pelo trabalho nativo entre as décadas de 1650 e 1660. solo maranhense, em 1659. Terminaria, assim, o que alguns biógrafos
Nas muitas obras escritas a respeito da presença do padre oitocentistas chamaram de "fase missionária".
Vieira na região, o domínio sobre o trabalho indígena sempre foi
um tema privilegiado. Nesta época, a economia maranhense era Os biógrafos e a tradição antijesuíta
surpreendentemente diversificada. Além do boom do açúcar que vai
durar até o final do Seiscentos, o Estado do Maranhão passa a investir Para muitos autores, a "fase missionária" do padre Vieira
em produtos como: tabaco, açúcar, madeiras, algodão, e na coleta, e parece verdadeiramente incompreensível, e um dos aspectos da vida
depois cultivo, de "especiarias" da terra (CHAMBOULEYRON, 2006, do jesuíta que mais alimentou debates e especulações. Sobre o tema,
p. 2260). Evidentemente, essa economia emergente dependia cada vez !oão Francisco Lisboa (1812-1863), autor da biografia brasileira mais
mais de um controle efetivo sobre o trabalho indígena, pedra angular das ImPortante feita no século XIX, é taxativo ao dizer que a mudança
ressalvas que alguns portugueses tinham em relação à Companhia de Para o Maranhão foi forçada pelas circunstâncias políticas da época,
Jesus. Ao longo da metade do século XVII, os moradores portugueses ordenada pelo rei para proteger seu conselheiro particular, e pouco

194 • Alírio Cardoso Maranhão: ensaios de biografia e história. 195


para a relação ambígua que oS padres desenvolviam com a escravidão,
tinha de motivação religiosa. (LISBOA, 1865, p. 219; 352). De fato ,
recriando a ideia do "estado dentro do estado", a partir da revisitação
é comum nestas biografias um capítulo especial para tentar explicar
das disputas entre padres e moradores no Estado do Brasil e no Estado
a saída do padre Vieira de Portugal, onde tinha a proteção do rei, e o
do Maranhão.
conforto de uma vida cortesã. Outra tópica comum nas biografias é a
A interpretação pombalina sobre a atuação da Companhia de
tendência em considerar que as várias atividades desempenhadas pelo
Jesus no Novo Mundo, realimentada por intelectuais republicanos
jesuíta eram incoerentes entre si, pois existiria um "Viera político", um
e liberais, favoreceu um novo ciclo de debates a respeito do legado
"Vieira religioso", outro "Vieira diplomata", e outro "Vieira escritor".
histórico daqueles padres para o estabelecimento da "civilização" no
Para explicar estas fases, os autores recorreram a diferentes fórmulas,
Brasil e em Portugal (ARAÚJO, 2004). Estes textos analisam o trabalho
variando da genialidade de um espírito inquieto (LOBO, 1849) até a
dos jesuítas do século XVII com os olhos voltados para o processo
dissimulação supostamente própria da formação jesuíta (LISBOA,
de dissolução da Companhia de Jesus, na segunda metade do século
1865). Tais tendências são ensaiadas já na primeira biografia conhecida
XVIII. A campanha de libelos acusatórios do governo pombalino
sobre o padre Vieira: a Vida do Apostólico P. Antonio Vieira, escrita pelo
culminou com a supressão da Ordem em Portugal (1759), medida
padre André de Barros, em 1746, que vai servir como base discursiva e
seguida rapidamente por França, Espanha, Nápoles, o que contribuiu
analítica de praticamente todas as biografias oitocentistas (BARROS,
decisivamente para a extinção formal dos jesuítas pelo papa Clemente
1837). XIV, em 1773. A restauração da Ordem no mundo católico ocorreria
Em grande parte, a forma como é representada a figura do padre
anos mais tarde, com o Papa Pio VII, em 7 de agosto de 1814. Após a
Vieira na tradição historiográfica oitocentista reflete um pouco a própria 21.a Congregação Geral da Companhia de Jesus, em 1829, estes padres
imagem dos jesuítas em geral. No século XIX, tal imagem não deixa de
resolvem partir 'para o contra-ataque. A renovada Ordem religiosa
sofrer mudanças, em parte influenciada pelo movimento antijesuitista
inicia uma série de publicações, de teses e documentos, cujo objetivo
que marcou as tendências intelectuais do. período. Entretanto, o
era contar a sua própria versão da história. Assim, os padres tentavam
antijesuitismo da segunda metade do século XIX constitui um capí-
"resgatar" certa memória positiva sobre as atividades da Companhia
tulo dentro de uma tendência anticlerical maior, bastante enfatizada
de Jesus nas várias partes do Mundo, tentando acabar com o que eles
em obras de caráter liberal na Europa da época (LEROY, 1999). No
chamavam de "jesuitofobia" (O'MALLEY, 1999, p. 11-12).
caso de Portugal e Brasil, esta tendência anticlerical tinha sua gênese
A restauração da Companhia de Jesus no mundo católico não
na produção da intelectua1idade pombalina, na metade do século
deixou de impactar a intelectualidade do período. Anos depois, algumas
XVIII (FRANCO, 2001, p. 209-253). obras do século XIX reforçariam ainda mais a imagem dos jesuítas
O famoso conflito entre a Coroa portuguesa e os padres da
como dissimulados, mentirosos, conspiradores, regicidas, imagem da
Companhia de Jesus já foi exaustivamente estudado pela historiografia
qual não escaparia nem Loyola, nem Anchieta, nem mesmo Vieira
nos dois lados do Atlântico. Os pontos centrais deste confronto eram: 1.
(FRANCO; REIS, 1997, p. 57). Como consequência, os autores da época
A gestão dos negócios jesuíticos, sobretudo as fazendas, supostamente
participam de uma verdadeira disputa de longa duração pela memória
independentes em relação ao estado português (CASTELNAU- jesuíta, entre herdeiros indiretos do antijesuitismo pombalino, como
L'ESTOILE; ZERON, 1999, p. 335-358); 2. A oposição sistemática
Antonio Henriques Leal (1828-1885), João Francisco Lisboa e João
que tinham os jesuítas em relação aos tratados hispano-Iusos de
Lúcio de Azevedo (1855-1933), e adeptos do movimento restaurador
1750, na região platina (ASSUNÇÃO, 2004, p. 29). Como se sabe, a jesuíta, como D. Francisco Alexandre Lobo, bispo de Viseu e, mais
campanha de Pombal contra a Companhia de Jesus era baseada ern
tarde, o padre Serafim Leite (1890-1969).
libelos acusatórios, publicados e traduzidos em diversas línguas, cujOS
Essa batalha pela memória jesuítica pode ser facilmente
mais famosos eram: a Relação Abreviada da República (1757), a Dedução
encontrada nos mais diversos registros de época. No Diccionário
Chronologica e Analytica (1776) e As instruções Secretas dosjesuítas (1767).
Espaíiol-Portugués, publicado em Lisboa por Manuel Mascarenhas
Estes textos ganham novas edições no século XIX, alimentando cada
Valdez, em 1864, o verbete "jesuíta" significa "individuo astucioso";
vez mais determinada forma de compreender a atividade jesuíta ern
e. "jesuitismo": "hypocrisia, conducta subtil, astuta, ardilosa,
geral (FRANCO, 2001, p. 209-253). No interior desta releitura doS
dlssimulação" (VALDEZ, 1864, p. 947). Anos antes, no Diccionario da
textos pombalinos, alguns circuitos intelectuais liberais enfatizavarn a
Língua Portugueza, composto por Antônio de Moraes Silva, em 1831,
suposta incoerência da prática apostólica jesuítica, chamando atençãO
Maranhão: ensaios de biografia e história. 197
196 • Alírio Cardoso
o verbete "jesuítico" aparece como sinônimo de "enredos, intrigas", da emergência dos principais textos de caráter biográfico a respeito
representando bem a natureza dos debates da época (SILVA, 1831, do jesuíta. Nesta época, foram produzidos alguns ensaios sugestivos,
p. 198). De modo geral, essa forma de entender o lavar jesuíta nas como o informe de Teófilo Braga (1843-1924), chamado de O centenário
"colônias" acaba influenciando as biografias dedicadas aos principais do padre Vieira, publicado na revista Vanguarda (BRAGA, 1897), e a
personagens da Companhia de Jesus. E, nesse sentido, a vida e obra coletânea de orientação católica O livro de oiro do Padre Vieira, um misto
do padre Vieira acabaria por assumir um papel de evidência, como de catálogo de documentos e ensaio biográfico de natureza apologética
uma espécie de padrão moral a partir do qual seriam avaliados os (ALMEIDA; LOURENÇO, 1897). Antes disso, são dignos de menção
demais integrantes da Ordem, embora tal imagem fosse extremamente alguns emblemáticos trabalhos, como o Epitome da vida do padre Vieira,
cambiante (FRANCO; REIS, 1997). escrito por José Inácio Roquette (1801-1870), em 1844, que fazia parte
Com efeito, em certos trabalhos o padre Vieira aparece como da coleção: Biografias dos brasileiros distintos por letras, armas, virtudes,
protótipo do jesuíta conspirador e, outras vezes, como destacada etc.., da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RIHGB)
exceção dentro de uma Ordem corrompida. Entretanto, nem sempre (ROQUETTE, 1844, p. 229-252). Também merece atenção o Discurso
estas diferenças estão tão claramente demarcadas (PIRES, 1997, Historico e critico acerca do Padre Antonio Vieira e das suas obras, escrito pela
p. 25-32; FIGUEIREDO,2008, p. 87-105). Além disso, entre certos primeira vez em 1823 por D. Francisco Alexandre Lobo (1763-1844),
autores liberais existiu a tendência em considerar os primeiros jesuítas, Bispo da cidade de Viseu (LOBO, 1844). Anos depois, D. Romualdo de
da geração de Loyola, Bobadilla, Simão Rodrigues, Xavier, como Seixas escreve um artigo para a RIHGB, chamado Breve memória acerca
verdadeiros exemplos de caridade cristã, à diferença do procedimento da naturalidade dopadre Antônio Vieira, em que refuta a popular tese que
dos padres do século XVIII. De qualquer forma, não seria possível, em afirmava que o famoso jesuíta teria nascido no Brasil, defendida por
função dos limites deste trabalho, enumerar o universo de biografias, certos intelectuais do período (SEIXAS, 1856, p. 5-32). Muitos destes
pequenos trabalhos, ensaios e capítulos de livros dedicados à vida do trabalhos estavam, na verdade, mais interessados na definição do
padre Vieira, nos diversos países em que foram publicados (PAIVA, caráter nacional brasileiro, e os jesuítas apareciam sempre como figura
1999). Para complicar, ainda carecemos de trabalhos mais sistemáticos ambígua, às vezes como pioneiros na abertura dos sertões, e outras
sobre a imagem que os intelectuais do século XIX, sobretudo os liberais, vezes seriam uma ameaça a "unidade nacional" (DOMINGOS, 2009,
faziam dos jesuítas e de seus principais representantes. Entretanto, p. 161-179).
algumas obras merecem uma referência especial, o que faremos a A maior parte dos trabalhos citados manifesta algum grau de
seguir. interesse pela "fase maranhense" do padre Vieira. Outros ensaios
Tal como dissemos, a tradição considera que a Vida do Apostólico fazem referências mais sistemáticas a respeito da presença do jesuíta
P. Antonio Vieira, da Companhia de Jesus (1746), de André de Barros, seria no Maranhão. Entre estas obras, talvez a mais importante seja a Vida
a primeira biografia a respeito do padre Vieira. Todavia, já existiam do Padre Antonio Vieira, trabalho póstumo de João Francisco Lisboa,
informações biográficas em textos anteriores, como nos Livros 2.°, 3.° publicado no quarto capítulo de sua Obras (LISBOA, 1865, p. 273),
e 4° na Crônica da missão dos Padres da Companhia de Jesus no Maranhão cuidadosamente editado por Antonio Henriques Leal que, todavia, já
(1698), do padre João Felipe Bettendorf, missionário contemporâneo tinha saído à luz em números isolados do Jornal de Timon, entre 1853
do padre Vieira (BETTENDORF, 1990). Também existem pequenas e 1858 (CHAMBOULEYRON, 2002a, p. 67). No mesmo sentido,
obras de natureza apologética, ainda na primeira metade do século embora não se trate de uma biografia, são importantes os textos do
XVIII, como a Apologia a favor do R. P. Antonio Vieyra da Companhia próprio Antonio Henriques Leal (1828-1885), especificamente os dois
de Jesus da Província de Portugal (1727), escrita pela madre agostiniana artigos publicados na Revista do IHGB, em 1871 e 1873, com o título
Margarida Inácia (INÁCIA, 1727); ou o Espelho da eloquencia portugueza de Apontamentos para a história dos jesuítas, extrahidos dos chronistas da
ilustradopelas exemplares luzes do verdadeirosol da elegância. O venerávelPadre Companhia de Jesus (LEAL, 1871; LEAL, 1873). Por outro lado, algumas
Antonio Vieira (1734) do padre Custódio Jesam Barata, pseudônimo de obras do início do século XX também poderiam fazer parte deste
João Baptista de Castro (BARATA, 1734). estudo, embora ampliassem demasiadamente o recorte cronológico
A segunda metade do século XIX, por ocasião das comemorações proposto. Falamos especificamente de História de António Vieira,
do bicentenário da morte do padre Vieira, em 1897, e com o impacto PUblicadaem dois tomos por João Lúcio de Azevedo, entre 1918 e 1921,
anterior da restauração da Companhia de Jesus, vai ser testemunha qUeinveste na figura do jesuíta pragmático, incoerente, representante
198 • Alírio Cardoso
Maranhão: ensaios de biografia e história • 199
preservavam certa "ética vieiriana", traduzida na oposição sistemática
ideal da fórmula mundana que caracterizaria a companhia de Jesus
aO governo local. Esta forma de entender a ação missionária relegou a
segundo a opinião do autor. João Lúcio de Azevedo também escreve~
segundo plano as missões jesuítas anteriores, e minimizou a importância
outras obras em que a presença do padre Vieira no Maranhão é
da presença de outras Ordens religiosas: franciscana, carmelita e
destacada, sobretudo em Os jesuítas no Grão-Pará, de 1901, obra de
mercedária. Em consequência, muitos autores, querendo fazer uma
referência sobre os conflitos entre jesuítas e os moradores nesta parte
história das missões religiosas no Maranhão, acabam fazendo obras de
da América Portuguesa (AZEVEDO, 1930), e também em Os jesuítas e
caráter biográfico, relacionando diretamente a missão à atuação pessoal
a inquisição em conflito no século XVII (AZEVEDO, 1916).
do padre Vieira, como fio condutor dos principais eventos. É possível
encontrar estas tendências tanto em obras antijesuíticas, quanto nas de
Vieira e a questão indígena caráter apologético.
De fato, a experiência como missionário no Maranhão e Grão- De modo geral, para estes autores estava muito claro que
Pará parece ter deixado profundas marcas na obra do padre Vieira. a documentação produzida pelo padre Vieira, pela qualidade e
N as cartas escritas em solo maranhense existe uma estratégia discu. sistematicidade com que eram tratadas as questões, deveria ser uma
rsiva bastante reiterada, nelas o padre Vieira está constantemente fonte privilegiada na confecção de qualquer "História" das missões do
reafirmando a sua própria importância no desenvolvimento da Maranhão. Para João Lúcio de Azevedo, o principal biógrafo de Vieira
missão, algumas vezes lembrando as malogradas tentativas dos seus no início do século XX, a história da ocupação do Estado do Maranhão
antecessores. Esta estratégia está presente nas cartas que enviou ao se confundia claramente com a figura "imperativa" de Antonio Vieira.
padre Provincial do Brasil. Na missiva de 22 de maio de 1653, Para este autor, o ano de 1653 aparece como um marco fundamental,
primeira carta escrita no Maranhão, o jesuíta ressalta os conflitos com capaz de alterar os rumos da história da região, pois neste ano: "a figura
os "portugueses" em função do problema da escravidão indígena, gigantesca de Vieira começa a projetar a sua vasta sombra na história
atribuindo a si mesmo o protagonismo na condução.do tema, em razão das missões do Pará" (AZEVEDO, 1930, p. 40-41). Da mesma forma,
de sua proximidade com o rei. Em determinado trecho, Vieira explica para o padre Serafim Leite, historiador jesuíta da primeira metade do
ao Provincial como sua relação de amizade com o soberano era motivo seculo XX: .
de especial hostilidade por parte dos maranhenses: o maior nome da Companhia de Jesus no Norte do Brasil
Uma das causas, que pareceu em Portugal podia ajudar é o padre Antonio Vieira, e anda de tal forma vinculado
muito a entrada da Companhia nestas terras, era o respeito ao estabelecimento da Companhia nele, que em vez de se
da mercê que El-Rei me fazia, a autoridade das suas cartas situar a sua atividade ao sabor dos acontecimentos, são os
e a recomendação que nelas faz a todos seus ministros e acontecimentos que gravitam à roda de Vieira, como objeto
povos acerca de mim e da missão. Os efeitos de todas estas direto de sua vontade ou como reação, coeva ou póstuma,
cartas e recomendações foi quererem-nos lançar fora, e a a actos que brotaram do seu espírito, como inspirador ou
mim particularmente, pelos respeitos acima referidos, não agente (LEITE, 1943, p. 3).
havendo, em todos aqueles primeiros dias quem de tudo
fizesse mais caso que se tal coisa não houvesse. (VIEIRA, Tais exageros também estavam presentes nas obras apologéticas
2003, [1653], p. 142-143).
do final do século XIX. Na biografia de orientação católica, O livro
de oiro do Padre Vieíra, de 1897, obra cuidadosamente elaborada para
Não há como negar que as cartas do padre Vieira são importantes refutar os argumentos antijesuítas da época, o protagonismo de Vieira
registros do problema indígena nesta parte da América. Entretanto, não é menor. Agora, o jesuíta aparece como figura moralizante e devota,
também são documentos repletos de fórmulas e estratégias retóricas mas empreendedora, profundamente interessado no desenvolvimento
o
que tipificavam os assuntos tratados, reorientando ações e redefinind material do novo estado, de modo que: "o Maranhão transmutava-se sob
eventos (HANSEN, 1997, p. 541-556). O interesse gerado por estas aquella admirável influência apostólica" (ALMEIDA; LOURENÇO,
cartas e sermões acabou ajudando a criar duas grandes tendências ~o 1897, p. XLIII). A suposta influência do padre Vieira sobre os rumos
il
que concerne ao estudo da presença jesuítica no Maranhão: 1. A idel de toda a missão jesuítica está presente até mesmo na obra de João
de que a relação entre missionários e moradores estava definida apenas Francisco Lisboa, sempre cético em relação à "vocação apostólica" da
pelo conflito; 2. A tese de que as principais ações missionárias da regiãO
Maranhão: ensaios de biografia e história. 201
200 • Alírio Cardoso
Companhia de Jesus. Para este autor, o caráter mundano e materialista comparando-os a murta que, para se lhe afeiçoar nos jardins estátuas e
das missões jesuíticas no Maranhão se ajustava bem aos princípios outros ornatos, cumpre talhal-a à thesoura" (LEAL, 1871, p. 68).
morais daquele "jesuíta-cortesão". Nesse sentido, seria o padre Vieira Para outros correspondentes do IHGB, seria possível observar
o principal responsável em converter o problema indígena em um tema diferenças entre o padre Vieira e o corpo da Companhia de Jesus. Na
de grande vulto, com desdobramentos palacianos. opinião de José Inácio Roquette, 'por exemplo, estava claro que Vieira
Mas não era possívelque um homem de imaginação tão viva não representava os jesuítas da época, apresentando discordâncias que
e inquieta ficasseentre as paredes de um cubículo de frades quase resultaram na sua expulsão da Ordem. Tais diferenças eram
e por muito somenos que fosse o espetáculo do pequen~ ainda mais acentuadas em função dos compromissos que tinha o
Mundo a que seus olhos estavam por então condemnados famoso padre com os negócios de governo: "fosse porque vissem em
bem depressa essas lutas dos moradores com índios, essas Antonio Vieira mais um áulico do que um sócio da Companhia, ou por
insignificantes controvérsias que a principio o achariam que receassem que, ajudado por EI-Rei, quizesse introduzir novidades
indiferentes o desdenhosos, seriam cabaes a despertar a na corporação, mostraram-se [os Jesuítas] pouco satisfeitos com seu
actividade da sua alma ambiciosa, momentaneamente procedimento (... )"4 (ROQUETTE, 1844, p. 233-234). Na mesma
entorpecida (LISBOA, 1865, p. 358). linha, o antigo bispo de Viseu, em Portugal, D. Francisco Alexandre
Outro tema que vai atrair rapidamente a atenção dos biógrafos Lobo, no seu Discurso Histórico e critico acerca do Padre Antonio Vieira,
vai ser a defesa, que supostamente fazia Vieira, de uma estrutura obra que segue a estrutura do livro de André de Barros, reivindica a
econômica missionária independente dos poderes coloniais. Este necessidade de "se fazer cargo da diferença que houve entre os Jesuitas
tema vai ganhar uma dimensão bem maior, a partir dos debates em e Antonio Vieira", distinção que, segundo o autor, perdeu-se na época
torno da relação Igreja-Estado, na segunda metade do século XIX. do marquês de Pombal (LOBO, 1849, p. 202).
O alvo privilegiado destes debates era a estrutura de funcionamento Na obra de João Francisco Lisboa, por outro lado, o padre Vieira
das fazendas jesuíticas, entre os séculos XVII e XVIII (DOMINGOS, era representado como uma figura muito mais influente na composição
2009, p. 170-171). Para muitos autores, estava claro que, em função do do "jesuitismo". Para o biógrafo maranhense, aquele famoso jesuíta
lucro gerado pelas propriedades jesuítas, e do amplo domínio que estes não só era uma figura proeminente dentro da Ordem, era também um
padres teriam sobre os índios do Maranhão e do Brasil, a extinção da modelo que já anunciava as grandes ambigüidades que resultariam na
Ordem, em 1773, teria sido uma decisão coerente. Este era o parecer extinção dos jesuítas no século XVIII. No Maranhão, segundo João
de Antonio Henriques Leal, para quem os padres da Companhia de Francisco Lisboa, eram os planos do padre Vieira bem mais ambiciosos,
Jesus eram já incompatíveis com o livre pensamento e o "sistema cada vez mais inclinando-se para a "creação de um pequeno exército,
representativo". Para este autor, os jesuítas eram uma "anomalia", de que o superior das missões seria o verdadeiro general; e as coisas
uma "excrescencia repulsiva no século XIX", prejudiciais aos novos iriam assim gradualmente até estabelecer-se no Maranhão uma
valores que deveriam reger a vida civil, pois constituíam "um Estado republica igual a que depois viu o Paraguay" (LISBOA, 1865, p. 378).
no Estado, e ao mesmo tempo, uma igreja na igreja" (LEAL, 1871, p. De modo geral, para este autor, a oposição entre liberdade e escravidão
não estava plenamente estabelecida na prática jesuíta em geral e, nesse
52).
Nem todos os autores do período consideravam que o padre ~entido, o padre Vieira surgia exatamente como modelo apropriado e
Vieira era uma figura completamente representativa em relação às InSpiração retórica para os demais padres, considerando a escravidão
práticas da Companhia de Jesus. Num artigo complementar, escrito uma condição necessária para africano, mas também para o indígena,
para a Revista do IHGB, em 1873, o próprio Antonio Henriques Leal segundo certas circunstâncias (LISBOA, 1865, p. 432-437).
considera que aquele famoso jesuíta ainda não era o protótipo do V" Há muito mais diferentes opiniões a respeito da relação entre
"padre sinistro" e conspirador que supostamente encontraríamos n,os Ie!ra e a Companhia de Jesus. Da mesma forma, existem muito
séculos XVII e XVIII, ficando ele mais próximo da imagem do jesu1ta maISversões a respeito da intervenção vieiriana sobre o problema da
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ambíguo de outros tempos, no estilo de um Anchieta, por exernp~?·
Para Leal, o padre Vieira era ao mesmo tempo moralizador e viciosO: a !t'bedeCitação,
na verdade,é idêntica a algumaspassagensdo livro do padre An-
Barros (BARROS, 1837) que também pode ser encontrado em outras
favor dos índios e que todavia aconselhava a força para os domesticar, o ras do período, com ou sem a devida referência.
202 • Alírio Cardoso Maranhão: ensaios de biografia e história • 203
escravidão. Não seria possível, segundo os limites que propomos para têm construído uma versão mais verossímil acerca do olhar vieiriano
este trabalho, avaliarmos, por exemplo, as obras não luso-brasileiras a sobre o índio e sobre a escravidão, comparando apropriadamente os
respeito destes ternas, disponíveis na segunda metade do século XIX. escritos do padre Vieira com os de outros autores do período (PÉCORA,
Um bom exemplo seria Vieira, sa vie et ses oeuvres, de Ernest Carel, que 2005, p. 83-98; RAMINELLI, 1996, p. 73-79). Na segunda metade
investe no debate acerca da defesa dos índios e da disputa entre Vieira e do século XX, os estudiosos chegavam à conclusão de que, antes de
a Inquisição, produzindo úma imagem ainda repleta de anacronismos mais nada, Vieira deveria ser estudado como um padre do século
liberais, mas agora centrada no jesuíta eloquente defensor das liberdades XVII, com todo o ônus que isso poderia acarretar. Para Aleir Pécora,
(CAREL, 1879). Por outro lado, existem obras fora do circuito luso- por exemplo, qualquer leitura verossímil da documentação vieiriana
brasileiro que discordam da imagem clássica do padre Vieira incoerente deveria supor uma unidade "teológico-retórico-política", pois os
e pragmático. No Capitulo XXVI da História do Brasil, do britânico mecanismos da prática política seiscentista ainda estão profundamente
Robert Southey, o tema da contradição entre as atividades políticas e imbricados com modelos retórico,s e religiosos (PÉCORA, 1994). Para
religiosas não parece ser relevante, bem mais distante do debate anti- o Maranhão, outros estudos recentes têm relativizado o problema do
jesuitista de fundo pombalino (SOUTHEY, 1862, p. 151-215). Em conflito entre jesuítas e moradores, demonstrando que os padres da
geral, para os autores oitocentistas luso-brasileiros o padre Vieira era Companhia de Jesus, na verdade, tinham muito mais apoio entre os
um personagem que poderia ser moldado de acordo com as inclinações habitantes de São Luis e Belém do que se costumava pensar antes
político-intelectuais de cada um. Nesse caso, eram atribuídos a Vieira (CHAMBOULEYRON, 2002b, p. 301-316).
qualidades e defeitos que diziam bem menos sobre o jesuíta, e bem Evidentemente, as obras oitocentistas tinham outras
mais sobre os seus próprios biógrafos. preocupações. Sem dúvida, estes escritos têm muito a dizer sobre o
passado colonial do Maranhão, e devem ser avaliados como leituras
Conclusão: a tradição vieiriana na encruzilhada dos tempos completamente envolvidas nos debates de sua própria época e lugar
discursivo. No caso dos intelectuais oitocentistas, especialmente os
A tradição que tentou explicar as missões religiosas do maranhenses, estava claro que a biografia era um gênero privilegiado na
Maranhão seiscentista a partir de uma suposta ética vieiriana não está afirmação de determinadas posições nos campos intelectual e político
completamente ausente nas obras do século XX. Assim, ainda é possível (BORRALHO, 2009, p. 54-55). Todavia, o exagerado valor atribuído
encontrar muitos trabalhos preocupados em demonstrar as raízes pré- à documentação vieiriana, entendida como uma janela aberta ao
liberais de Antônio Vieira, baseadas em princípios antiescravistas passado seiscentista, ainda resiste corno tradição historiográfica entre
supostamente presentes na sua obra, amiúde comparada com a de Las nós. Com efeito, ainda temos a tendência de uniformizar os diferentes
Casas (PALACIN, 1998; HAUBERT, 1964; FERREIRA, 2000). No projetos missionários que existiram no Maranhão. Na verdade,
limite desta ideia está a tentativa de explicar o pensamento vieiriano nos inclinamos muitas vezes a igualar estratégias missionárias que
como "progressista", capaz de relativizar certos entraves da condição eram distintas e mesmo concorrentes (CARDOZO, 2008, p. 11-38).
intelectual de sua época, inventando novos modos para as velhas Por isso, parece cada vez mais importante o retorno a outras fontes
usanças do Antigo Regime (BOSI, 1997, p. 172). Da mesma forma, missionárias - carmelitas, mercedários, franciscanas - (CARVALHO
ainda existe urna clara tendência em acentuar as supostas contradições JUNrOR, 2008, p. 325-353), bem como a releitura de outros cronistas
entre os aspectos doutrinários e temporais do pensamento vieiriano, jesuítas (CARVALHO, 2008). Desta forma, talvez possamos encontrar
assumindo aqui grande importância o estudo de sua "fase maranhense" diversidade, onde acreditávamos existir apenas uniformidade.
(HOORNAERT, 1993; NEVES, 1997, LINS, 1956). Por fim, esquecemos muitas vezes que a primeira edição (a
Nos últimos anos, todavia, alguns estudiosos têm ampliado chamada princeps) dos sermões vieirianos foi reunida somente no ano de
o foco, revisitando ternas clássicos, agora mais atentos aos limites 1679, e que não foi organizada e corrigida apenas pelo famoso jesuíta,
do pensamento e prática vieirianos, condizentes com os aspectoS já velho e enfermo (SALOMÃO, 2001, p. 7-93). As reflexões de Vieira
doutrinários da formação daquele jesuíta, e com as fórmulas tradicionais sobre o Maranhão do século XVII foram amadurecidas, modificadas,
do seu tempo. Nesse sentido, o terna clássico da contradição entre e editadas anos depois de sua saída de São Luis. Aliado a isso tudo,
as atividades políticas e religiosas tem sido objeto de intensa revisão as próprias cartas escritas pelo padre Vieira não podem ser lidas corno
(COHEN, 1998; SANTOS, 1997). Ao mesmo tempo, muitos estudoS diários de viagem, são documentos menos preocupados com "o que
204 • Alírio Cardoso Maranhão: ensaios de biografia e história. 205
aconteceu", e mais inclinados a fornecer uma leitura edificante para os BOXER, Charles. R.. A idade de ouro no Brasil: dores de crescimento
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naturais às suas divindades. Embora houvesse, durante o período
espafíol-portugués, el primero que se ha publicado con Ias voces,
colonial, uma preponderante política de implementação da religião
frases, refranes y locuciones usadas en Espana y Américas espafiolas
católica como prática norte adora da visão de mundo e dos costumes,
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sociedade, mas também uma estrutura social organizada em função
daqueles que os discriminavam" (CARNEIRO, 2005, p. 207).
Em relação aos judeus, tanto em Portugal quanto em todas
as outras nações cristãs, eram considerados como classe distinta re-
ligiosa e politicamente. Quando convertidos ao cristianismo, embora
essa condição permitisse alguns privilégios aos cristãos-novos e des-
cendentes de judeus, as manifestações de preconceito racial também

210 • Alírio Cardoso Maranhão: ensaios de biografia e história. 211

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