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História para o Concurso de Admissão ao Curso de Formação de Sargentos (EsSa)

Os Jesuítas e os Tratados de Limites Coloniais

1. Os Jesuítas
Os Jesuítas eram sacerdotes pertencentes à Companhia de Jesus ou Ordem Jesuítica, fundada na Europa por Inácio de Loyola em
1534. Entre os objetivos dos Jesuítas estava a divulgação da religião católica pelo mundo. A ordem procurava fazer de seus sacerdotes uma espécie
de “soldados do catolicismo”. Foi com essa intenção que, em 29 de março de 1549, desembarcou na Baía de Todos os Santos o primeiro grupo
de jesuítas, chefiados por Manuel da Nóbrega.

1.1 Missões Jesuíticas


Desde os primeiros tempos, os jesuítas dedicaram-se à catequização dos indígenas combatendo, para isso, os costumes e as tradições
indígenas que se chocavam com o Cristianismo, como a antropofagia, a poligamia, a nudez, e a crença nos rituais dos pajés. Para realizar a
tarefa de catequização, os jesuítas obtiveram dos governantes à concessão de sesmarias, onde foram construídos aldeamentos (ou missões) que
reuniam os indígenas. Porém, para Cristianizar os indígenas, os jesuítas compreenderam muito rapidamente que antes era preciso dominá-los. Nesse
sentido, consideravam legítimo o uso de meios violentos, caso fosse preciso. À medida que os grupos indígenas afastavam-se do litoral, fugindo das
invasões de suas terras, os jesuítas também seguiam para o interior do território, fundando, entre os séculos XVII e XVIII, aldeamentos na Amazônia
e em áreas que correspondem ao sul e ao sudeste do Brasil atual.

1.2 Alvo das Bandeiras de Apresamento


Nos aldeamentos, ocorria a aculturação dos indígenas. Aprendiam a língua portuguesa, a doutrina católica, alguns ofícios e os
costumes da cultura europeia. Além disso, nas missões do norte da colônia, os jesuítas faziam com que eles trabalhassem na extração de riquezas
naturais, conhecidas como drogas do sertão (guaraná, pimenta, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais), cuja venda
proporcionava bons lucros aos padres da Companhia de Jesus. Por tudo isso, as missões jesuíticas tornaram-se o alvo predileto das bandeiras de
apresamento, pois lá os bandeirantes encontravam o índio ladino, isto é, aculturado e conhecedor dos ofícios que interessavam aos compradores
dos escravos.

1.3 Rotina dos Aldeamentos


A rotina diária de catequese nos aldeamentos começava, em geral, bem cedo, com a missa. Depois, parte dos indígenas ia trabalhar nas
plantações coletivas e na extração de drogas do sertão. Enquanto a outra parte ficava na aldeia, desenvolvendo atividades artesanais. Enquanto
os adultos trabalhavam para suprir as necessidades materiais da aldeia, as crianças aprendiam a ler, escrever e contar. Os jesuítas também lhe davam
aula de moral e religião, pois pensavam que, sendo mais receptivas que os adultos, as crianças poderiam depois influenciá-los.
Muitos colonos queriam capturar e escravizar os indígenas para utilizá-los como mão de obra, contrariando os jesuítas, que defendiam
a proposta de aculturá-los e controlá-los dentro das missões. Essas divergências geraram uma série de conflitos, como a chamada Revolta de
Beckman, no Maranhão.
Na época da União Ibérica, os jesuítas conseguiram com a metrópole a edição de normas que proibiam o ataque e a escravização dos
índios. Assim, “protegiam” os nativos dos colonos, embora os explorassem a sua maneira. Porém, reconhecendo a necessidade de mão de obra
para a lavoura, o rei foi obrigado a alterar varias vezes a legislação para atender os plantadores. Embora continuasse a manter a restrição à livre
escravização indígena. Mas, os plantadores sempre encontravam meios para burlar a legislação e escravizar ou manter em cativeiro os
indígenas protegidos por lei. A atuação enérgica dos jesuítas e as restrições legais continuaram a serem obstáculos à lavoura canavieira.
Vale salientar que os jesuítas não eram contrários à escravização dos indígenas, mas se opunham à escravização indiscriminada, como
pretendiam os povoadores. Para os jesuítas, a escravização deveria ter um objetivo religioso e não econômico. Escravizar para cristianizar,
não para obter lucro. Como os colonos pretendiam escravizar os nativos tendo em vista exclusivamente o próprio interesse, tal atitude foi interpretada
pelos jesuítas como a expressão da cobiça, que eles e toda sociedade portuguesa condenavam.
O rei de Portugal colocou-se em princípio, a favor dos jesuítas, pois a escravização indiscriminada dos nativos pelos povoadores era
muito arriscada. O medo constante de ataques indígenas aconselhava prudência. Como os jesuítas, o rei não era contrário à escravidão, mas sua visão
diferia da dos jesuítas. O rei concordava com a escravidão, desde que esta se limitasse aos indígenas hostis aprisionados em “guerra justa”. E
chamava-se “guerra justa”, a que fosse feita com a autorização do rei. Os indígenas aliados foram declarados livres e os cristianizados não
podiam ser escravizados.
Mesmo com todas as restrições, o trabalho indígena acabou sendo amplamente utilizado no processo de montagem da economia açucareira.
À medida que essa economia começou a se expandir, a necessidade de mão de obra foi aumentando e o seu fornecimento precisava de alguma
regularidade. Tudo isso acabou pesando na substituição gradativa do indígena pelo africano. Em 1760, acusados de conspiração contra o Reino
Português, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil.

2. Tratados de Limites Coloniais


Vimos até aqui, que a colonização portuguesa não respeitou o Tratado de Tordesilhas, expandindo as fronteiras do Brasil por meio
das ações dos bandeirantes, da pecuária, da mineração e dos jesuítas. Os espanhóis, por sua vez, também descumpriram esse tratado, já que
invadiram colônias portuguesas situadas no Oriente, como as Ilhas Filipinas.
Os limites no extremo norte foram disputados com os franceses, que haviam se fixado nas Guianas, e no extremo sul, com os espanhóis.
A essa altura, estava claro que o meridiano de Tordesilhas já não podia ser tomado como referência para delimitar os domínios portugueses e
espanhóis.
Era necessário, portanto, renegociar e fixar as novas fronteiras internacionais coloniais na América. Foi assim que, a partir do século
XVIII, os dois países ibéricos, além da França, assinaram vários tratados de fronteiras, foram eles:

2.1 Tratado de Utrecht (1713 e 1715)


O primeiro tratado de Utretcht (1713), assinado entre representantes de Portugal e da França, estabelecia que a França reconhecia o
direito exclusivo de Portugal navegar no Rio Amazonas, em troca do reconhecimento português da posse da Guiana pelos franceses. Ainda
nesse primeiro tratado, o Rio Oiapoque, no extremo norte da colônia, seria o limite da fronteira entre o Brasil (no atual Amapá) e a Guiana Francesa.
O segundo tratado de Utrecht (1715) procurava resolver as divergências entre portugueses e espanhóis quantos aos limites de seus
domínios no sul do país. A Espanha reconheceu a possessão portuguesa da Colônia de Sacramento (fundada em 1680, hoje uma cidade
uruguaia), mas não de forma definitiva. Houve, porém, resistência dos espanhóis que lá moravam.

2.2 Tratado de Madri (1750)


Estabelecido entre representantes dos reis da Espanha e de Portugal. Segundo esse novo tratado, ficou estabelecido o princípio do Uti
Possidetis, isto é, determinava que a cada um desses países caberia a posse das terras que ocupavam. Assim, territórios ocupados por
portugueses foram reconhecidos pela Espanha como portugueses e territórios ocupados por espanhóis foram reconhecidos por Portugal como
espanhóis.
Com esse tratado, foram formalmente invalidados os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. Além disso, a Espanha, tendo
como objetivo o controle das duas margens do Rio da Prata, cedeu aos portugueses o território dos Sete Povos das Missões (que ocupava parte
do atual estado do Rio Grande do Sul) em troca da Colônia de Sacramento.
A colônia de Sacramento era apenas uma fortaleza erguida na margem oposta a Buenos Aires. A região dos Sete Povos de Missões
reunia sete aldeamentos de índios Guarani dirigidos por jesuítas, situava-se ao longo da margem oriental do Rio Uruguai.
O acordo estabelecido pelo Tratado de Madri não foi cumprido. Os Guaranis e os Jesuítas recusaram-se a aceitar o controle
português e a abandonar os territórios das Missões. Em 1753, a revolta já havia tomado todos os aldeamentos. As forças armadas portuguesas e
espanholas unidas partiram para o confronto, dando origem às Guerras Guaraníticas, que terminaram com a derrota dos indígenas em 1756.
A maioria dos indígenas refugiou-se nas matas, a partir das quais poderiam ocupar os novos territórios. Por essa razão, o ministro português,
Marquês de Pombal, concretizou o Tratado do Pardo (1761). A situação voltou ao que era antes de 1750.

2.3 Tratado de Santo Idelfonso (1777)


Assinado por representantes de Portugal e Espanha, estabelecia que os espanhóis ficariam com a Colônia do Sacramento e a região dos
Sete Povos das Missões, em troca devolveriam a Ilha de Santa Catarina (atual estado do Rio Grande do Sul), que até então pertencia à
Espanha. O Tratado foi considerado desvantajoso pelos portugueses, pois cediam a Colônia de Sacramento e recebiam quase nada em troca.

2.4 Tratado de Badajós (1801)


Estabeleceu, finalmente, que a região dos Sete Povos das Missões ficaria com os portugueses e a Colônia do Sacramento com os
espanhóis. Depois de tantas lutas, confirmavam-se as fronteiras que, basicamente, tinham sido definidas pelo Tratado de Madri.

Merece destaque:

* A metrópole portuguesa, desejando garantir a posse sobre o estuário do Rio Prata, por onde escoava a produção de Potosí, fundou, em 1680, a
colônia de Sacramento, próximo a cidade espanhola de Buenos Aires. Quatro anos depois lusos do arquipélago de Açores e paulistas fundavam, mais
ao norte, Laguna, em Santa Catarina.

*Princípio de uti possidetis, estabelecido no Tratado de Madri de 1750, foi utilizado pelo representante português no tratado, Alexandre de Gusmão.

* Nome dos Povoados de Sete Povos de Missões – Santo Ângelo, São Borja, São João Batista, São Lourenço, São Nicolau, São Miguel e São Luís
Gonzaga.

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