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20221025 - Expansão Territorial Portuguesa – Bandeirantes e Jesuítas

Durante o período da União Ibérica (1580-1640), as expedições ao chamado sertão do território da

América Portuguesa, passaram a ser cada vez mais frequentes. Dentro desse período, diversos

grupos se embrenharam nas matas ainda não exploradas pelo europeu, fosse para apresar (capturar

Índios), procurar pedras e metais preciosos ou para espalhar a fé cristã. No território que na época

pertencia à Portugal, dois grupos se destacaram no desbravamento do território. Eles foram os

bandeirantes e os jesuítas.

Bandeiras e bandeirantes

Uma das poucas povoações originárias, da época de 1530, que prosperaram, São Paulo, ao

contrário do Nordeste açucareiro, não possuía aptidão para a produção de açúcar. Isso levou a uma

situação que era lida à época, como de extrema pobreza. Para contornar essa situação, os então

chamados paulistas, passaram a organizar expedições para o sertão inexplorado, com objetivos

específicos: apresamento de indígenas e a busca de pedras e metais preciosos. Um terceiro objetivo

era o sertanismo de contrato, que apareceu posteriormente.

Uma característica interessante da população da Vila de São Paulo era um pouco diferente de boa

parte das posses portuguesas da época, por conta da pobreza em que viviam, os habitantes da

região viviam em um contato extremamente próximo dos indígenas. E, embora a maioria desses

nativos fossem escravos, muitos dos paulistas se casavam com índias e geravam os mestiços, à

época chamados de mamelucos, que eram ensinados na cultura portuguesa, mas também que

conheciam as tradições e hábitos indígenas. Os paulistas também eram conhecidos por mais falar a

chamada língua geral do que o próprio português.

As bandeiras foram expedições que entravam na mata ainda por ser ocupada se utilizando,

principalmente, dos conhecimentos dos indígenas a respeito de como se locomover na floresta, bem

como a forma de se marcar o caminho. Como mão de obra, os índios eram utilizados como

carregadores, cozinheiros e combatentes.

As bandeiras consideradas as principais são as seguintes:


– Bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva: ocorrida entre 1672 e 1740, partiu da região norte do

atual estado de São Paulo em direção a região centro-oeste do Brasil. Tinha como principal objetivo

o descobrimento de jazidas de ouro e pedras preciosas.

– Bandeira de Raposo Tavares: ocorrida entre 1598 e 1658, partiu da cidade de São Paulo em

direção às regiões sul e centro-oeste do Brasil. Tinha como principal objetivo a captura de indígenas.

– Bandeira de Domingos Jorge Velho: ocorrida entre 1615 e 1703, partiu da região litorânea do

Nordeste em direção ao sertão e litoral paulista. Tinha como principal o sertanismo de contrato, onde

os bandeirantes eram contratados por fazendeiros para combater quilombos e tribos indígenas que

atacavam cidades e engenhos.

Devemos mencionar também a bandeira de Fernão Dias, no ano de 1674. Embora não tenha

encontrado nada de grande valor econômico, os caminhos abertos por eles proporcionaram a

descoberta do ouro no interior do Brasil em Sabará (Minas), em 1693; Cuiabá (Mato Grosso), em

1719 e Vila Boa (Goiás), em 1725.

As bandeiras abriram espaço para diversas outras atividades comerciais, principalmente após a

descoberta do ouro no sertão. Com as expedições indo cada vez mais longe no território, houve a

necessidade da criação de entrepostos comerciais (as vendas) a beira das estradas, dotadas de

granjas para a plantação de víveres. Também proporcionou o aumento do comércio de carnes,

principalmente o charque e couros, levando a um aumento da criação do gado em território nacional.

Jesuítas: entre a cruz e a flecha

Os jesuítas são religiosos da Igreja Católica que fazem parte da Companhia de Jesus. Esta ordem

religiosa foi fundada em 1534 por Inácio de Loiola. A Companhia de Jesus foi criada logo após a

Reforma Protestante (século XVI), como uma forma de barrar o avanço do protestantismo no mundo.

Portanto, esta ordem religiosa foi criada no contexto da Contrarreforma Católica. Os primeiros

jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549, com a expedição de Tomé de Souza.

Objetivos dos jesuítas no período da colonização brasileira:

– Levar o catolicismo para as regiões recém-descobertas, no século XVI, principalmente a América;


– Catequizar os índios americanos, transmitindo-lhes as línguas portuguesa e espanhola, os

costumes europeus e a religião católica;

– Difundir o catolicismo na Índia, China e África, evitando o avanço do protestantismo nestas regiões;

– Construir e desenvolver escolas católicas em diversas regiões do mundo.

Os jesuítas também foram grandes responsáveis pelo desbravamento do território da América

Portuguesa. Por conta do Padroado, que dentre outras coisas colocava sob a responsabilidade do rei

o avanço da fé católica, os padres dessa ordem católica possuam livre passagem no território,

sempre avançando em direção ao sertão no objetivo de catequizar os índios.

Quando encontravam uma aldeia, os jesuítas organizavam uma missão (ou aldeamento), que

possuía um duplo sentido: cristianizar os índios e civilizá-los. Por conta disso, além da catequese, os

índios cultivavam cereais, frutas e erva mate; extraíam materiais da floresta, produziam tecidos,

objetos de couro, esculturas etc. Vários desses produtos eram vendidos para a Europa. Eles também

combateram firmemente a escravidão indígena, até que em 1680, conseguiram do rei de Portugal a

lei que proibia o uso da mão de obra escrava indígena em todo o território da América Portuguesa.

Colonizadores em conflito

Como os indígenas ainda eram largamente utilizados como mão de obra, a vitória dos jesuítas não

foi vista com bons olhos pelos colonos. E mesmo antes da sanção da lei de 1680, já havia conflitos

constantes entre os bandeirantes e os índios aldeados nas missões dos jesuítas.

Um episódio interessante foi a chamada Revolta de Beckman, que também ficou conhecida como

Revolta de Bequimão, eclodiu em 1684 justamente por conta da proibição do uso da mão de obra

escrava indígena na região do Pará. Descontentes com a perda da principal mão de obra da região,

e com a Companhia de Comércio do Maranhão que não levava escravos negros para lá, os colonos

do lugar planejaram uma insurreição contra a Companhia e os Jesuítas. Liderados por Manoel

Beckman, invadiram o Colégio Jesuíta e destituíram o governador.

A revolta foi prontamente suprimida por tropas Portuguesas, mas em troca, a mão de obra escrava

indígena foi restabelecida na região.

Novos tratados, novas fronteiras


Com todas essas iniciativas de exploração do território por parte de agentes portugueses, e durante o

processo, o fim da União Ibérica, viu-se a necessidade de rever os antigos acordos de fronteira

estabelecidos. Assim, houve a dissolução do Tratado de Tordesilhas e sua substituição pelo Tratado

de Madri (1750). Nesse tratado, que expandia de forma grandiosa os territórios dominados pelos

portugueses, ficou estabelecido que a Colônia de Sacramento pertenceria à Espanha e, em troca,

Portugal receberia a área dos Sete Povos das Missões, situadas onde hoje fica a área do Rio Grande

do Sul.

O grande problema nessa “troca”, fora a presença dos jesuítas espanhóis na região, junto a cerca de

30 mil índios guaranis aldeados. Pelo acordo, os jesuítas e índios deveriam deixar suas terras e

migrar para a região dominada pela Espanha. Entretanto, os índios não aceitaram essa condição e

se rebelaram contra a ordem dos estados Espanhol e Português, deflagrando a chamada Guerra

Guaranítica, que durou cerca de dois anos (1754-1756). Não sem dificuldade portugueses e

espanhóis venceram os índios, visto que estavam em vantagem de terreno e de recursos, entretanto,

não puderam resistir às investidas dos colonizadores.

Após esse episódio, dois outros tratados foram firmados:

Tratado de Idelfonso (1777): Dava aos espanhóis a região de Sacramento e dos Sete Povos das

missões e devolviam algumas terras ocupadas no Rio Grande do Sul.

Tratado de Badajós (1801): Sentindo-se prejudicados, os portugueses exigiram um novo acerto.

Assim, no Tratado de Badajós, os portugueses ficavam com o território dos Sete Povos das Missões

e os Espanhóis com a Colônia do Sacramento.

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