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A FORMAÇÃO DO

TERRITÓRIO BRASILEIRO
Desde a assinatura do Tratado de
Tordesilhas que ficara estabelecido que
as terras que pertenciam por direito a
Portugal, no que veio a se tornar o Brasil,
compreendiam os territórios a leste
de uma linha imaginária que cortava a
colônia. O que estivesse a oeste dessa
linha pertencia à Espanha. Contudo,
na prática, boa parte dos navegadores
não sabiam onde começava essa linha,
justamente porque ela era imaginária.

Após a União Ibérica (1580-1640) que


uniu as Coroas de Espanha e Portugal, a
linha de Tordesilhas deixou de valer na
prática e, neste período, houve uma grande
expansão na ocupação do território que
viria a se tornar o Brasil. Porém, outros
fatores também foram muito importantes
para a formação do território brasileiro. É
O Bandeirante Domingos Jorge Velho
o que veremos a seguir.

FATORES DE EXPANSÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO


Em resumo, podemos citar quatro fatores principais que levaram à expansão dos
territórios coloniais portugueses na América, para além do Tratado de Tordesilhas:

f As Missões Jesuíticas

f A Extração das Drogas do Sertão

f O Bandeirantismo

f A Pecuária

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As Missões Jesuíticas
A Formação do Território Brasileiro

Desde o ano de 1549 que os jesuítas estavam no território brasileiro com a missão de
converter os povos indígenas e fortalecer a fé católica dos colonos. Criada na esteira
da reação católica à Reforma Protestante, a Companhia de Jesus foi responsável
pela educação em várias das colônias dos países ibéricos.

Padre Antônio Vieira pregando para indígenas

No Brasil, as primeiras escolas e os primeiros livros que descreviam a colônia foram


fundados e escritos por jesuítas como o Padre José de Anchieta e o Padre Antônio
Vieira. Por outro lado, no seu processo de interação e conversão dos povos nativos
da América, os jesuítas precisaram aprender os idiomas indígenas. Portanto, eles
também foram responsáveis pelos primeiros dicionários e gramáticas das línguas
indígenas.

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No interior do Brasil, os jesuítas fundaram as chamadas reduções, que eram aldeamentos

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autossuficientes onde, além de serem educados no catolicismo, os indígenas eram
expostos à cultura europeia. Porém, os jesuítas respeitavam muitos aspectos das
culturas nativas, desde que não entrassem em choque com os dogmas cristãos.

Basicamente, as reduções jesuíticas foram a principal forma de ocupação do interior


do Brasil até o século XVIII quando os jesuítas foram expulsos de todos os territórios
coloniais portugueses. Além de levantarem suspeitas devido à sua abertura para as
culturas nativas, os jesuítas protegiam os indígenas dos colonos que queriam escravizá-
los.

O uso do trabalho escravizado indígena era algo discutido entre os jesuítas; a


Companhia de Jesus era contrária ao uso da mão de obra indígena pelos colonos,
mas parte dos jesuítas defendia o uso da mão de obra indígena nos trabalhos do
aldeamento. Portanto, é preciso afastar a imagem construída ao redor dos jesuítas
como defensores dos indígenas, e compreendê-los como agentes históricos com
interesses próprios.

A Extração das Drogas do Sertão


"Drogas do sertão" era o nome que se dava, no Brasil colonial, aos produtos típicos da
região amazônica como cupuaçu, guaraná, urucum, cacau, açaí e outros. Quando da
chegada ao Brasil, os portugueses buscavam metais preciosos e especiarias do Oriente.

Mas, conforme foram conhecendo melhor o território brasileiro, os colonizadores


perceberam que o Brasil também oferecia muitas especiarias típicas. Por outro lado,
as drogas do sertão abasteciam não somente o mercado europeu, mas também o
brasileiro. Muitos desses produtos, como sabemos, possuem propriedades medicinais.

Açaí, uma droga do sertão

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A propósito, elas eram extraídas tanto pelos jesuítas quanto pelos bandeirantes, que
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exploravam o interior do Brasil em busca de indígenas para escravização. Aliás, o papel


dos bandeirantes na exploração e ocupação do interior do Brasil será visto logo a seguir.

O Bandeirantismo
Tidos como heróis, principalmente no estado de São Paulo, os bandeirantes foram, ao
lado dos jesuítas, os principais desbravadores do sertão brasileiro. Essa denominação,
sertão, referia-se a todo o interior do Brasil, e tem origem na palavra desertão, pois o
interior era “desabitado” e desconhecido. Cabe uma observação em relação a desabitado,
pois, na realidade, o chamado sertão era povoado por muitos povos indígenas.

Monumento às Bandeiras, localizado em São Paulo

As expedições que os bandeirantes realizavam no interior do Brasil para “caçar


índios” (apesar do peso da expressão, ela expressa a crueldade da época) eram
chamadas de bandeiras, e daí vem a expressão bandeirante, que significa "aquele
que participa das bandeiras".

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Normalmente, as bandeiras saíam da capitania de São Vicente, na região onde

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atualmente se localiza a cidade de São Paulo e, por esse motivo, era comum se
referir aos bandeirantes como paulistas. Além da busca por mão de obra escrava
indígena, os bandeirantes também procuravam ouro, prata e outras pedras preciosas.
Por outro lado, eles também foram utilizados em expedições militares, como na que
destruiu o Quilombo dos Palmares.

Ao contrário do imaginário popular, que retrata os bandeirantes com longas botas


e tipo étnico próximo ao do europeu, a realidade é que eles eram mestiços de
brancos com indígenas (mamelucos/caboclos), e se vestiam de acordo com o que
era necessário para desbravar o sertão, muito provavelmente com roupas mais
leves e pés descalços.

Os bandeirantes foram construídos como heróis nacionais, em especial no estado


de São Paulo, região de origem de expedições de bandeirantes. Porém é preciso
compreender a grande devastação humana cometida por esse grupo, que defendia os
interesses particulares de latifundiários. Além da exploração do interior do território
brasileiro, os bandeirantes também foram responsáveis pela “caça” de indígenas,
que seriam transformados em escravizados pelos colonos luso-brasileiros, pela
recuperação de escravizados fugidos e pela destruição de quilombos.

A Pecuária
Inicialmente, a pecuária desenvolveu-se próxima aos engenhos de açúcar do nordeste
brasileiro. A ideia era atender o mercado interno, não somente com a carne em si, mas
com os produtos derivados do couro. A expansão do latifúndio foi empurrando o gado
para áreas interioranas do território, pois o gado precisava de mais pasto e os animais
comiam a plantação de cana. Era preciso, então, afastar o gado dos latifúndios.

Tropeiros

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A pecuária em si, quando praticada de forma extensiva, é uma atividade que
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promove a ocupação do interior do território e favoreceu, principalmente na época


colonial, um modo de vida nômada. Normalmente, aqueles responsáveis em cuidar
do gado eram chamados de vaqueiros, mas existiam também os tropeiros, que
trabalhavam com a venda de animais de transporte, como burros e cavalos, mas
igualmente no transporte de mercadorias entre uma região e outra.

Na região Nordeste e parte do Sudeste, o Rio São Francisco, chamado de “Rio


dos Currais”, foi importante para a pecuária, pois ela acompanhou o curso do rio,
penetrando cada vez mais em regiões do interior da colônia. Por outro lado, o acesso
à água era importante não somente para os humanos, mas também para os animais.

Outra região da colônia que baseou a sua economia na pecuária foi a região Sul que,
diferente de outras, investiu mais na criação intensiva de gado, ou seja, gado em
fazendas, que era utilizado para abastecer outras regiões do Brasil como o charque.

Charque era o nome que se dava à carne dessecada e salgada, preparada assim
como forma de preservá-la. O protagonismo da produção de charque para a
interiorização do território está inserido no contexto do ciclo do ouro. Após o achado
de ouro no final do século XVII, a região centro-oeste do Brasil se desenvolveu de
forma rápida, mas não produzia o suficiente para abastecer as novas vilas e cidades
que se formavam. Dessa forma, o gado criado no sul do país passou a abastecer
outras áreas do país. Desde o século XVIII, a região Sul do Brasil se constitui como
a principal fornecedora de charque para o resto da colônia. Definitivamente, a cultura
sertaneja do Brasil é muito marcada pela ligação com a pecuária.

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