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Entradas e Bandeiras
Foi a partir do século 17 que as terras do interior do Brasil passaram a ser rotineiramente
exploradas. O desbravamento e povoação dessas terras foram iniciados por expedições pioneiras
chamadas de Entradas e Bandeiras. As Entradas geralmente eram expedições oficiais, ou seja,
foram organizadas pelo governo da autoridade colonial. Já as Bandeiras tinham motivação
particular, isto é, eram organizadas por colonos que se estabeleceram nos povoados..
Elas foram expedições organizadas para explorar o interior com o propósito de procurar
riquezas minerais, tais como ouro, prata e pedras preciosas. Objetivavam também caçar e
apresar índios para escravizá-los. Não era uma tarefa fácil organizá-las, e muito menos explorar
o interior do território colonial. Havia a necessidade do preparo de muitas provisões, como
alimentos, armas e instrumentos, que deviam ser transportados por animais e pelos próprios
exploradores.
Segundo o historiador John Monteiro, até 1641 os paulistas destruíram entre onze e catorze
missões jesuíticas espanholas. Cada uma tinha entre 3 000 e 5 000 índios, o que daria entre
33 000 e 55 000 índios escravizados. Ao todo, estima-se que as expedições tenham
escravizados 400.000 indígenas.
Contexto histórico
Desde a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, buscava-se metais preciosos. Como não
foram encontrados no primeiro momento da colonização, a Coroa portuguesa decidiu
investir na produção de açúcar, que era um produto valorizado no mercado externo. O litoral
brasileiro tinha solo fértil e clima favorável para o plantio da cana-de-açúcar, e, a partir do século
XVI, os engenhos se espalharam pelo litoral.
Contudo, o êxito na produção açucareira foi interrompido em 1630, quando os holandeses
invadiram o Brasil e ocuparam Pernambuco pelo controle dessa produção. Após intenso confronto
com os colonos, os invasores foram expulsos e se tornaram concorrentes do açúcar feito no
Brasil. Os portugueses não conseguiram manter a produção e o preço despencou no mercado.
A crise açucareira fez renascer o sonho dos colonos de encontrar ouro no Brasil. A União Ibérica,
junção dos reinos de Portugal e Espanha, suspendeu o Tratado de Tordesilhas, o que permitiu
o acesso ao interior do Brasil sem limitações impostas por tal documento. Não demorou para
surgirem as primeiras expedições que deram início à exploração do sertão brasileiro
Assim, as Entradas declinaram no início do século 17. As Bandeiras surgiram no início do desse
mesmo século e se estenderam por todo o século seguinte. Foi na vila de São Vicente que
surgiram as primeiras Bandeiras. Os habitantes da região tiveram que encontrar outra
atividade econômica para sobreviver. A alternativa foi a organização das expedições
desbravadoras.
Por sua vez, no século XVII, os holandeses tomam o controle dos mercados africanos,
tornando a mão de obra negra escassa e levando à escravização do índio, muitas vezes
com o aval da metrópole. Por este motivo, os paulistas irão atacar as missões jesuíticas durante
décadas, capturando índios já catequizados e “domesticados” para o trabalho. Com isso, jesuítas
e bandeirantes entraram em conflito diversas vezes, como a Guerra Guaranítica (1753 -
1754).
A vila de São Paulo também ficou famosa pela organização de expedições bandeirantes. As
Bandeiras organizadas pelos habitantes de ambas as vilas dedicaram-se, inicialmente, à caça e
apresamento de índios para vendê-los como mão-de-obra escrava aos engenhos produtores de
açúcar, situados nos ricos solos do Nordeste brasileiro.
Importância das entradas e bandeiras
• Foram importantes para reconhecer, ocupar e explorar o interior do Brasil.
Bandeiras
Características:
"Buscar o remédio para a sua pobreza", "buscar o seu remédio", "buscar sua vida", "o seu
modo de lucrar", expressões comuns em testamentos de bandeirantes, expressam os
objetivos da expansão desse grupo
A expedição bandeirante teve como ponto de origem a capitania de São Paulo, pois esta
ficava no centro de uma rede de trilhas indígenas. Os objetivos das bandeiras eram descobrir
metais preciosos no interior da colônia e aprisionar os índios para trabalharem como escravos na
capitania.
Apesar do romantismo e heroísmo apresentado pela história brasileira, a realidade
vivenciada pelos bandeirantes era precária. Andavam descalços, as roupas em farrapos, e era
comum sofrerem de fome, doenças e ataques de animas selvagens. Essa dureza das
expedições tornava os bandeirantes homens extremamente violentos, ambiciosos e rudes,
características muito utilizadas para a escravização de índios e combate aos quilombos. Por
exemplo, o Quilombo de Palmares foi destruído pela Entrada com mais de seis mil homens
comandada por Domingos Jorge Velho.
Tipos:
a) Bandeiras de apresamento: o motivo da expedição era aprisionar os índios para que
trabalhassem como escravos em São Paulo.
b) Bandeiras de prospecção: os bandeirantes adentravam no interior do Brasil em busca de
metais preciosos.
c) Bandeiras de contrato: a expedição saía de São Paulo para prender os escravizados fugitivos
e destruir os quilombos. O bandeirante Domingos Jorge Velho foi responsável pela destruição
do Quilombo dos Palmares.
Participantes:
A organização das bandeiras mobilizava toda a vila. Podiam ser formadas por centenas ou até
mais de mil homens, sendo o número de mamelucos (mestiço de indígena e brancos) ,índios e
sempre bem maior do que o de brancos.
As bandeiras percorriam o sertão durante meses e até por anos. Cada bandeira tinha um chefe,
um grupo de homens brancos para ajudá-lo, um capelão, mamelucos e muitos índios (cerca de
2.000 indígenas ou escravizados ou “domesticados”).
Os mamelucos guiavam a expedição. Reunindo características do branco e do índio,
desempenhavam papel importante como elemento de ligação entre as duas culturas, européia e
indígena.
A língua tupi reinava nos primeiros séculos de Brasil. Os colonizadores só se impuseram no
litoral no século 17 e, no interior, no 18. O mais português dos sertanistas tinha de usar uma fala
mista, de base tupi, chamada língua brasílica ou geral.
Os índios, além de ensinar o caminho, carregavam as provisões e eram responsáveis pela coleta
dos frutos da floresta necessários à alimentação do grupo. Para os indígenas escravizados
eram mais comuns as atividades de caça do que as atividades de agricultura que eram
impostas a eles.
Os bandeirantes levavam arcabuzes, bacamartes, pistolas, chumbo e pólvora, machados, facas,
foices e cordas para prender e conduzir os índios escravizados. Apesar de representados, em
pinturas e esculturas, como homens bem vestidos, andavam descalços, usando grandes
chapéus de abas largas e gibões de algodão acolchoados para se proteger das flechas.
Caminhavam em fila indiana, uma influência indígena. Durante o tempo que passavam no
sertão, o alimento básico era a "farinha de guerra", feita de mandioca cozida e compactada, além
do que encontrassem na mata.
Dependiam da caça, da pesca, das ervas e raízes, do mel silvestre e, quando adoeciam recorriam
aos recursos da flora e da fauna utilizados na "medicina" indígena, conhecidos mais tarde, em
toda a Colônia, como "remédios de paulistas". Com o tempo, passaram a plantar roças de
subsistência ao longo dos caminhos percorridos, que eram colhidas na volta ou deixadas para
outras bandeiras.
Principais Bandeirantes
Os mais notórios bandeirantes foram:
Com apenas 58 homens e sem a prata sonhada. Retornou a São Paulo três anos depois,
tendo percorrido mais de 12 mil quilômetros, velho, abatido, doente e sem a prata que tanto
sonhou
Existe uma rodovia paulista cujo nome presta uma homenagem a este bandeirante. A
Rodovia Raposo Tavares (SP-270) começa no bairro paulistano do Butantã (zona oeste) e
termina na divisa do estado de São Paulo com Mato Grosso do Sul (na cidade de
Presidente Epitácio).
Fernão Dias Pais
Fernão Dias (1608-1681) foi um célebre bandeirante paulista. Ficou conhecido como "O
Caçador de Esmeraldas". Os bandeirantes tinham o objetivo de procurar riquezas minerais
e encontrar mão de obra indígena. Fernão Dias Pais nasceu na vila de São Paulo de
Piratininga, em 1608. Filho e neto dos primeiros povoadores da capitania de São Vicente.
O governo português preocupado com a crise do açúcar passou a financiar as bandeiras e a
conceder títulos e privilégios aos bandeirantes como forma de estimulá-los na procura das
grandes minas.
Fernão Dias foi um dos representantes mais importantes desse período. Empreendeu em
1674, uma formidável caravana, da qual fazia parte seus filhos Garcia Rodrigues Pais e José
Dias Pais e seu genro Manuel Borba Gato e muitos índios.
Atraídos pela lenda das esmeraldas de Sabarabuçu, que segundo Marcos Azevedo voltara
do interior afirmando ter encontrado as preciosas pedras no início do século, mas recusou-
se a indicar o local da mina.
Durante sete anos, de 1674 a 1681, Fernão Dias explorou uma extensa área do interior de Minas
Gerais. Diversos integrantes da bandeira desistiram da jornada e retornaram para São Paulo.
Em determinado momento da expedição, conta-se que Bartolomeu Bueno (pai) se deparou com
índios da tribo Guaianases que impediram a entrada da bandeira em suas terras.
Percebendo que as índias estavam adornadas com ouro, Bartolomeu ateou fogo em um pouco de
aguardente a fim de amedrontar os índios e obriga-los a revelar o local onde estavam as jazidas.
Os índios acreditaram que a água estava pegando fogo, e diante da ameaça do bandeirante
de queimar os rios, os indígenas renderam-se.
Não só permitiram a entrada dos exploradores em seus territórios, como ainda lhes
revelaram a localização da mina.
Bartolomeu Bueno da Silva, o pai, ganhou dos índios o apelido de "Anhanguera", que
significa "Diabo Velho" ou "Espírito Maligno".
Atraído pelo ouro descoberto em Minas Gerais, o Anhanguera filho estabeleceu-se em Sabará e
mais tarde em São João do Pará e Pitangui, onde foi nomeado assistente do distrito.
Borba Gato
Borba Gato (1628-1718) foi um dos mais célebres bandeirantes, participou da importante
expedição chefiada por Fernão Dias, em busca das sonhadas esmeraldas. Descobriu o filão
de ouro das minas de Sabará. Ao longo de sua vida como bandeirante, foi um dos responsáveis
pela realização de diversas bandeiras pelo território brasileiro nos atuais estados de Minas Gerais
e São Paulo. Nessas bandeiras, os grupos indígenas os quais eram encontrados pelo caminho
eram assassinados, as mulheres estupradas e os sobreviventes escravizados.
Manuel Borba Gato nasceu em São Paulo, por volta de 1628. Era filho de João de Borba Gato e
Sebastiana Rodrigues. Foi casado com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias.
Borba Gato acompanhou a caravana formada por seu sogro, o “Caçador de Esmeraldas”
que partiu para o interior do Brasil em 1674, em busca das esmeraldas de Sabarabuçu.
Durante o período em que estava escondido, Borba Gato vasculhou a região das atuais
cidades de Sabará e Caeté, nas proximidades do rio das Velhas em Minas Gerais, onde
acabou encontrando um filão de ouro nas minas de Sabará.
O Governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá, quando soube da descoberta do ouro de Sabará,
negociou com Borba Gato sua liberdade em troca da informação onde estavam as grandes
pepitas. Novas descobertas foram surgindo e a região viveu o apogeu do ciclo do ouro. À
medida que aumentava a remessa de ouro para a metrópole, crescia também o número de
forasteiros.
Durante a Guerra dos Emboabas colocou a população do arraial do rio das Velhas (atual
Sabará) contra o forasteiro Manuel Nunes Viana. Inclusive, Borba Gato fixou um bando
(documento afixado para a população
saber das resoluções oficiais)
exigindo a retirada de Nunes Viana do
arraial. O desentendimento entre os dois
foi o estopim, entre outros fatores, à
guerra que confrontaria bandeirantes e
recém-chegados nas Minas Gerais.
No entanto, a historiografia brasileira tem reavaliado o papel dos bandeirantes, pois um dos
objetivos dessas expedições era caçar indígenas e escravizá-los. Muitas vezes, aldeias
inteiras eram destruídas e seus habitantes dispersados para sempre.
Os bandeirantes embora tenham tido um papel importante na história do Brasil não faziam
parte dela. Quando o Brasil se tornou independente de Portugal em 1822 os “neobrasileiros”
concluiram que o Brasil não possuía uma história própria, sendo apenas contada por Portugal.
Assim, em 1945 após D.Pedro II lançar um concurso com o título: “Como se deve escrever a
história do Brasil?”, este foi vencido pelo alemão Von Martius o qual escreveu o livro que serviu
como base histórica para o país. Entretanto, este livro não citava os bandeirantes, pois estes eram
vistos como “gente bárbara que vive do que rouba” (Conselho Ultramarino Português) o que
causou uma revolta na elite paulistana.
As honrarias aos bandeirantes ganhou maior força no século XIX quando a elite da província de
São Paulo tinha interesse de afirmar-se no cenário político. A economia crescente
da cafeicultura prosseguia, mas a elite ainda não detinha destaque político.
Nesse cenário surge a exaltação à figura dos bandeirantes, justificando uma força paulista e
afirmando um heroísmo de unidade nacional. Mas o surgimento da Republica no ano de 1889
não alterou para um poder paulista que a elite sonhava, então continuaram enaltecendo seu
passado.
O ápice para o enaltecimento dos bandeirantes foi a década de 1930 surgindo a proposta de
brasilidade a qual São Paulo buscava hegemonia política do país. Na Revolução de 1932 surge o
termo “paulista de quatrocentos anos” afirmando que as famílias antigas cultuavam a
ancestralidade acreditando pertencer a uma raça de privilégios. Apesar disso, nem metade da
população descendia dos portugueses.
Ao findar a guerra em que São Paulo perdera o mito dos bandeirantes continuou, tanto que
ainda se encontra nas praças e ruas inúmeros nomes com referência a eles.
1. Escravidão
Além da busca por pedras preciosas, que eram uma fonte em si de riquezas, os
bandeirantes tiveram papel na captura de indígenas livres para a escravização. Proprietários
relevantes de mão de obra cativa em suas viagens, a caça aos índios era uma de suas principais
funções.
Além disso, depois que a mão de obra indígena deixou de ser incentivada na colônia, muitos
bandeirantes continuaram atuando em nome da escravidão, perseguindo fugitivos negros ou
atuando em frentes militares contra quilombos, como é famoso o caso de Domingos Jorge
Velho, contra Palmares.
2. Falsa imagem
Porém, o esforço das bandeiras não representou uma verdadeira integração. A colonização
portuguesa se resumiu, em boa parte, à conquista do litoral. Porém, as rotas bandeirantes foram
úteis na delimitação da América Portuguesa no Tratado de Madri em 1750.
A realidade das bandeiras está constantemente imersa em uma série de mitos, em que sua figura
é “como o lídimo representante das mais puras raízes sociais brasileiras, conquistador de todo o
vasto sertão interior do país, pai fundador da raça e da civilização brasileira”, afirma Nicolau
Sevcenko, em Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos
20.
Na realidade, a integração nacional é fruto, incialmente, das guerras empreendidas por Dom
Pedro I e os esforços do Império, mas principalmente dos movimentos pela união nos anos 1930 e
1940.
Porém, como afirma Sevcenko, os paulistas criaram essa memória que favorece os bandeirantes,
como forma de autoafirmação. Se “denunciava as qualidades de arrojo, progresso e riqueza que
São Paulo possuía, representava o novo processo de integração territorial que dera sentido à vida
nacional”.
4. Sucesso por conta dos indígenas
Muitos atribuem o sucesso das bandeiras ao pioneirismo europeu ou ao pragmatismo
lusitano. Porém, as entradas vitoriosas e as conexões das viagens que chegaram até a
Amazônia têm como principal fonte de mérito o conhecimento dos indígenas que vivem no
continente a milhares de anos e possuem contatos com os mais diversos pontos da
América do Sul.
Da alimentação aos caminhos, formas de tráfego em rios e cuidado com os perigos, o
conhecimento dos índios que acompanhavam as bandeiras (muitas vezes coercitivamente)
foi essencial para a sobrevivência dos bandeirantes.
Um dos pontos mais relevantes dessa influência, que inclui as malhas de escoamento de São
Paulo até os dias de hoje, era o Caminho de Peabiru, uma rota pré-cabraliana usada pelos
indígenas em viagens que conectavam a atual Baixada Santista até os Andes, com diversas
ramificações. Os bandeirantes usaram muito os trajetos possibilitados pelo conhecimento anterior
das comunidades originárias.
5. Brigas com Jesuítas
Os bandeirantes possuíam fortes rixas com a Companhia de Jesus, mais forte braço da
Igreja Católica na América Portuguesa. Inicialmente conhecida por suas origens
econômicas, essa briga é mais profunda do que se expõe usualmente.
Além da questão da escravidão indígena, há motivações ideológicas para os conflitos, que
incluíam o fato de os jesuítas enxergarem nos sertanistas um péssimo comportamento ou mesmo
uma sujeira e uma inferioridade.
“Os jesuítas enviavam anualmente cartas para a Espanha, sobre os crimes dos bandeirantes,
queixando-se que os matavam impiedosamente”, muitas vezes com provas forjadas, afirma Anita
Novinsky (no artigo A “Conspiração do silêncio”).
Os bandeirantes também buscavam autonomias de ação que confrontavam os poderes dos
sacerdotes, que eram os principais braços da Santa Inquisição no Brasil. Existem iconografias
da época em que os bandeirantes, que ignoravam parte dos dogmas cristãos,
principalmente os sexuais, eram as figuras usadas na representação de Satanás. Com o
aumento dos poderes da Companhia de Jesus no Sul e das bandeiras no Sudeste, esse atrito
ficou ainda mais intenso.
Da captura de índios a falsa imagem: 5 fatos controversos sobre a atuação dos bandeirantes
Fontes:
Consequências das Bandeiras - resumo - Sua Pesquisa
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