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Ceará Colonial

A Primeira Ocupação (1603-1678):

 Os primeiros povos do Ceará:


Antes da chegada dos primeiros europeus ao território que hoje é o Ceará, a terra
era habitada por muitos povos diferentes. Os europeus, ao chegarem à América,
chamaram todos esses povos de “índios”, fazendo parecer que todos eles eram iguais.
Isso acontecia porque os primeiros exploradores não puderam nem quiseram
compreender os povos que encontravam, até tendo dúvidas se eles eram mesmo seres
humanos. Esses primeiros europeus à visitar as Américas enxergavam nos povos
nativos aquilo que eles queriam ver. Colombo, que queria chegar nas Índias, achou que
esses povos era nativos daquela região, por isso os chamou de “índios”. Posteriormente,
eles passaram a acreditar que esses povos viviam como que no Paraíso Terrestre,
achando que eles não tinham guerras, fomes, leis, reis ou fé, ou sejam, que eram como
crianças. Achavam que os índios eram como um quadro em branco, prontos para
receber a civilização européia e tornarem-se súditos mansos e fiéis. Isso durou enquanto
os contatos iniciais foram pacíficos. Depois que alguns dos povos nativos passaram a
hostilizar os europeus, eles passaram a ser chamados de bárbaros, canibais, verdadeiros
monstros. Todas essas visões, claro, eram a dos europeus. A visão que eles tinham dos
índios era a que eles próprios projetavam.
Os portugueses logo classificaram os índios do Brasil em dois tipos, os Tupis e
os Tapuias. Os Tupis eram aqueles índios que falavam um idioma semelhante (com
diferentes dialetos), habitavam em geral próximos da costa e tinham certas
características culturais semelhantes. Esses índios, de modo geral, eram vistos como
índios “bons”, capazes de serem cristianizados e civilizados. O restante das tribos que
não se encaixavam nesse perfil eram chamados de Tapuia, termo que quer dizer “os
contrários” ou “os inimigos”. Os Tapuias eram vistos como bárbaros, índios agressivos
do interior, incapazes de serem civilizados. A verdade é que esses povos chamados de
tapuias eram muito diferentes entre si, com línguas, costumes e até aparência diferentes.
Mesmo os povos Tupis tinham grandes diferenças entre uma tribo e outra, apesar de
serem mais aparentados. Precisamos lembrar sempre que os nativos americanos eram
povos muito diferentes entre si, que muitas vezes não conheciam uns aos outros ou eram
mesmo inimigos. Não se pode pensar neles como um povo só, com um governo único.
No Ceará, as tribos Tupis haviam chegado pouco tempo antes dos primeiros
europeus. Parece, inclusive, que as tribos tupis chegaram mais ou menos na mesma
época que os portugueses chegaram na Bahia e em Pernambuco, por volta de 1500, ou
um pouco antes. Elas eram dividas em dois grandes grupos. Os Tabajaras habitavam
principalmente na serra da Ibiapaba. Os Potiguaras ou Pitiguaras habitavam perto do
Rio Jaguaribe e espalhados pelo litoral leste. Os Potiguaras e os Tabajaras eram, de
modo geral, inimigos. Outras tribos Tupis menores também existiam. Os índios
“Tapuia” pertenciam a vários povos diferentes, cada qual composto por várias tribos. O
grupo Cariri habitava a região dos Inhamúns e do Cariri. Os Canindé e Jenipapo
habitavam as bacias do rio Banabuiú e Quixeramobim. Os Quixelô habitavam a região
onde hoje fica Iguatu. Esses são apenas alguns dos povos. Podemos falar também nos
Aruás, Anacés, Tremembé, Paiacús, Tocarijús e muitos outros. Cada um desses povos
tinha as suas particularidades.
Os Tupis, de modo geral, falavam línguas aparentadas ao tronco Tupi-Guarani.
Ou seja, falavam línguas semelhantes e em geral podiam compreender uns aos outros.
Muitos portugueses também falavam uma versão simplificada do tupi-guarani,
conhecida como ‘Língua Geral’, codificada pelos jesuítas. As tribos tupis em geral

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praticavam a agricultura, plantando principalmente a mandioca. Viviam de forma semi-
sedentária, morando por alguns anos numa região até que o solo perdesse a fertilidade e
depois se mudavam para outro local. A maioria das tribos praticava a antropofagia ritual
dos prisioneiros capturados. Eles costumavam viver em aldeias grandes, em grandes
casas comunitárias chamadas “tabas” ou “ocas”. Sua religião variava de tribo para tribo,
mas tinha alguns mitos e histórias em comum e deuses semelhantes, como o deus do
trovão (geralmente chamado de Tupã) e a deusa da lua. Os pajés eram os homens santos
dos Tupis, curandeiros e conhecedores dos deuses.
Quanto aos Tapuias, seu modo de vida variava de tribo para tribo. Algumas
praticavam a agricultura da mandioca, como os tupis, enquanto que outras viviam
exclusivamente da caça, da pesca e da coleta. Algumas tribos eram semi-sedentárias,
embora a maioria pareça ter sido muito nômade. Algumas tribos praticavam a
antropofagia, outras não. Mesmo as que praticavam a antropofagia, faziam isso de
forma diferente dos tupis, pois eles não costumavam comer seus inimigos, e sim seus
entes queridos que faleciam. Eles falavam muitos idiomas diferentes, o que tornava a
comunicação com eles difícil. Pouco se sabe sobre sua religião e costumes. Eram,
enfim, povos muito diferentes entre si.

 As expedições de Pero Coelho e dos Padres Pinto e Figueira:


Apesar da capitania do Ceará ter sido doada a Antônio Cardoso de Barros, ela
nunca foi colonizada no século XVI. A primeira expedição portuguesa à região foi
tentada em 1603, sob o comando do Capitão-mor Pero Coelho de Souza. O objetivo da
expedição era investigar a região, expulsar qualquer “pirata” francês, holandês ou inglês
que fosse encontrado, fazer aliança com os índios, encontrar as minas de prata e ouro
que se achavam existir aqui e, finalmente, chegar ao Maranhão. O capitão-mor Pero
Coelho gastou muito dinheiro para equipar a expedição, confiante que acharia grandes
riquezas aqui e se tornaria um homem rico.
A realidade é que a expedição acabou fracassando horrivelmente. Não foram
encontradas minas de ouro ou prata, nem nenhuma riqueza imediata, nem terras que
fossem boas para o cultivo da cana-de-açúcar. Pero Coelho chamou as terras que tentava
conquista de Nova Lusitânia e fundou um pequeno forte e um arraial nas margens do
Rio Ceará que chamou de Nova Lisboa. O capitão-mor, não querendo perder o dinheiro
que investira, começou a capturar a única “mercadoria” disponível ali, ou seja, índios
para serem escravizados, mesmo contrariando as ordens que recebera. Os índios, por
sua vez, resistiram ferozmente aos ataques de Pero Coelho. No final das contas a
dificuldade do caminho, a seca e os ataques indígenas forçaram o Capitão-mor Pero
Coelho a fugir do Ceará com o que restava dos seus homens. A brutalidade com que os
europeus trataram os índios foi o principal motivo do fracasso da expedição.
Em 1607 os portugueses tentaram de novo conquistar o Ceará, mas desta vez de
modo diferente. Enviaram dois padres, Francisco Pinto e Luís Figueira, como
missionários. Os dois foram inicialmente bem recebidos e chegaram até a Ibiapaba,
espalhando sua pregação. No entanto a expedição também falharia quando os índios
Tocarijús atacaram e mataram o Padre Pinto e forçaram o Padre Figueira a fugir de
volta à Paraíba.
Acabavam assim, em fracasso, as primeiras tentativas dos portugueses de
conquistar o Ceará.

 Martim Soares Moreno e a ocupação da capitania:


Em 1611, entretanto, volta ao Ceará um homem chamado Martim Soares
Moreno, que havia sido soldado na expedição de Pero Coelho quando era ainda muito

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jovem. Martim Soares Moreno havia feito amizade com um chefe indígena chamado
Jacaúna e sabia falar a língua tupi. Graças a isso ele conseguiu o posto de Capitão-mor
do Ceará e voltou para cá em 1611, acompanhado de uns poucos soldados e um padre.
Graças a sua amizade com os índios ele foi capaz de construir um novo forte no Rio
Ceará, chamado de São Sebastião. Muitos chamam Martim Soares Moreno de
“fundador do Ceará”, embora na verdade o forte fosse muito pequeno e ele não tivesse
força para fazer quase nada, dependendo da amizade com os índios para conservar o
território. Ele, entretanto, garantiu a posse das terras para a Coroa portuguesa com a
ajuda dos índios que se aliaram com ele, expulsando contrabandistas e “piratas”
franceses e holandeses que vieram aqui.
Devemos lembrar, entretanto, que a posição dos portugueses aqui era ainda
muito precária e que eles, de fato, não controlavam a maior parte das terras. Martim
Soares foi capitão-mor do Ceará entre 1611 e 1631, mas passou muitos anos nesse
período lutando no Maranhão e esteve duas vezes na Europa. Enquanto ele se ausentava
a capitania invariavelmente decaia, com o forte e os soldados em péssimo estado e os
índios muitas vezes tornando-se hostis aos outros portugueses. A única atividade
econômica desenvolvida era a agricultura e a pecuária de subsistência e,
esporadicamente, a coleta de âmbar e madeiras. A influência da colonização portuguesa
nesse período estava limitada às imediações do forte, ou seja, nas imediações de onde
hoje fica Fortaleza.
O sucesso de Martim Soares pode ser entendido porque, ao contrário de seu
antecessor, ele procurava tratar os índios como aliados e não os escravizava. Ao invés
de um grande conquistador e fundador do Ceará, como se costuma dizer, Martim Soares
Moreno foi mais um homem que soube se adaptar às condições que encontrava,
aliciando os índios a lutar do seu lado.

 A guerra com os holandeses:


Quando Martim Soares Moreno saiu do Ceará em 1631, alguns grupos indígenas
começaram a se opor aos portugueses. Assim, esses índios foram até Recife e
conseguiram que o Conde Maurício de Nassau, governante dos holandeses no Brasil,
enviasse uma força para conquistar o Forte de São Sebastião e expulsar os portugueses.
Assim, os holandeses conquistaram a capitania do Ceará em 1637, novamente com a
ajuda indígena. Os primeiros comandantes holandeses foram o Tenente Hendrik van
Ham e Gedeon Morris de Jonge. Esse último foi morto no começo de 1644, durante
uma rebelião indígena que matou todos os holandeses que estavam no Ceará. Por alguns
anos os índios do Ceará não quiseram saber nem dos portugueses nem dos holandeses.
Em 1649, entretanto, uma nova expedição holandesa chega ao Ceará comandada
por Mathias Beck, que restabelece a amizade com os índios e pode, assim, reocupar a
terra. Mathias Beck tem um papel importante porque foi ele que desistiu de manter o
forte na antiga localidade originalmente escolhida por Pero Coelho e Martim Soares, na
Barra do Rio Ceará. Foi ele quem trouxe o que restava daquele forte para construir um
novo, chamado Forte Schoonemborch, localizado onde hoje fica a sede 10ª Região
Militar, no centro da cidade de Fortaleza. Quando os holandeses no Brasil se renderam
em 1654, aquele forte foi passado para as mãos dos portugueses, sendo rebatizado de
Fortaleza da Nossa Senhora da Assunção. Foi ao redor desse forte que surgiu a atual
capital do estado, Fortaleza. É por esse motivo que Mathias Beck foi conhecido, durante
muito tempo, como “fundador de Fortaleza”, embora o termo seja um pouco enganador.
Beck não fundou uma cidade, sendo meramente comandante de um forte e de uma
pequena guarnição de soldados. A cidade que daria origem à Fortaleza foi se formando

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aos poucos, ao redor do forte, depois que este foi reconquistado pelos portugueses e não
há um único homem responsável pela sua fundação.

 Primeiras atividades econômicas:


Tanto os portugueses quanto os holandeses esperavam encontrar grandes
riquezas nas terras do Ceará. Pensava-se que havia minas de ouro e prata no estado,
especialmente na Ibiapaba. Outros produtos também eram vistos como possíveis
alternativas de lucro, como o pau-violeta e outras madeiras nobres, o sal e o âmbar-gris.
Martim Soares Moreno e Gedeon Morris de Jonge, um português e um holandês,
também achavam ser possível plantar cana em alguns lugares e ter um engenho para
fazer açúcar. Desde as primeiras expedições também se reconheceu o potencial da
capitania para a criação de gado. Nenhuma dessas atividades, entretanto, foi realizada
com sucesso nas primeiras décadas da capitania. A falta de mão-de-obra e materiais, a
guerra entre holandeses e portugueses e a distância dos outros centros populacionais do
Brasil fizeram com que essas mercadorias fossem pouco exploradas. Não deve-se dizer,
entretanto, que não havia atividade econômica na capitania desse período, apenas que
era uma atividade muito limitada.
A partir de 1678, começam a serem doadas as primeiras sesmarias no Ceará,
inicialmente na ribeira do Rio Jaguaribe. Essas sesmarias dariam origem às primeiras
fazendas de criação de gado, que seriam nos anos seguintes a maior fonte de receitas
para o estado.

 O papel estratégico de Fortaleza:


Desde os primeiros anos da colonização que a região onde hoje se localiza
Fortaleza era importante para a capitania. Por que será isso? A resposta a essa pergunta
tem várias partes, mas a mais importante é porque o local tinha uma posição estratégica
que fazia a ligação entre as capitanias de Pernambuco e do Maranhão. Devido às
correntes marítimas e os ventos predominantes na região, a navegação entre o Maranhão
e Pernambuco era difícil e, às vezes, muito demorada. Assim, procurou-se estabelecer
tanto um caminho por terra que ligasse as duas regiões quanto alguns portos de apoio
onde os barcos que faziam a viagem pudessem parar para descansar e se reabastecer. A
região onde hoje fica Fortaleza, a meio caminho entre São Luís e Natal, cumpria esses
objetivos estratégicos. Localizava-se também perto de cursos de água doce
permanentes, como o Rio Ceará e o Riacho Pajeú e tinha um porto natural que servia
para barcos de pequeno e médio porte. A posição de ambos os fortes construídos, o de
São Sebastião e o Schoonemborch, também facilitava a defesa contra os índios que
procurassem atacá-los.
Essa posição estratégica fez com que a região de Fortaleza fosse, sempre,
importante para a Capitania. O poder militar da capitania sempre esteve concentrado no
forte e nas aldeias indígenas circundantes, das quais já falamos. O capitão-mor,
governante da capitania, esteve sempre localizado no forte, reforçando sua importância.
Foram esses fatores que levaram a cidade a manter sua importância, apesar de ter sido
pobre e economicamente inferior às outras vilas durante mais de dois séculos.

Consolidação do domínio português (1678-1720)


Com a expulsão dos holandeses, a capitania volta a ser parte do Império
Português. Isso não significa, por outro lado, que os portugueses dominavam
efetivamente a terra. O que se assegurou foi a posse da terra frente aos competidores
europeus. O processo colonizador só se realizaria, entretanto, com a subjugação e a

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integração do território e das populações indígenas ao mundo colonial, um processo
brutal que foi conduzido, de grosso modo, entre as décadas de 1670 e 1720.
Para consolidar esse domínio os portugueses usaram tanto da força das armas,
contra as tribos que tentavam resistir ao processo de colonização, quanto da força da
religião, para “pacificar” as tribos vencidas ou aliadas. Em certas ocasiões a Cruz
(representada pelos aldeamentos jesuíticos), confrontava-se com a Espada (representada
pelas milícias e pelos funcionários reais) pelo direito de saber qual das duas decidiria o
futuro das terras e seus habitantes, mas na maior parte do tempo havia colaboração
estreita entre as duas instituições. Pela força da cruz e da espada a população indígena
era enquadrada na sociedade colonial ou exterminada.

 A Guerra dos Bárbaros e o ataque a vila do Aquiraz:


Entre 1686 e o começo da década de 1720 houve numerosos levantes indígenas
nos sertões das províncias do Ceará, Rio Grande Norte e da Paraíba. Na época as
autoridades portuguesas pensaram estar lidando com um único levante geral, que eles
acabaram chamando de “Guerra dos Bárbaros” (porque a maioria dos índios revoltados
era tapuia, portanto, bárbaros segundo a imagem portuguesa), embora hoje saibamos
que a “Guerra dos Bárbaros” foi formada por diversos conflitos menores interligados,
mas não iguais. Desses conflitos resultou um dos maiores extermínios indígenas da
história do Brasil, um verdadeiro banho de sangue do qual as populações indígenas
dessas províncias jamais se recuperaram. O estado da Paraíba, por exemplo, não possui
nenhuma tribo indígena reconhecida pelos órgãos governamentais atualmente, tal o grau
de extermínio ali perpetrado.
O conflito começou em 1686 no Rio Grande do Norte, com um levante em
grande escala de índios na ribeira do rio Açu. Os grupos indígenas saquearam fazendas,
mataram e capturaram gado, executaram fazendeiros, vaqueiros e escravos e destruindo
o que eram capazes. O levante continuou e se espalhou, chegando mesmo a derrotar as
forças de milícia locais dos colonos, botando a cidade de Natal praticamente sobre
cerco. O levante se espalhou pela ribeira do Jaguaribe, no Ceará, e para a Paraíba e
partes de Pernambuco, tornando-se tão sério que forçou o Governo Geral do Brasil a
convocar tropas mercenárias para combater com os índios. Esses mercenários
contratados pelo governo eram bandeirantes paulistas como Domingos Jorge Velho, que
havia anteriormente destruído o Quilombo dos Palmares. As tropas dos bandeirantes
paulistas eram, em grande parte, formada por indígenas também, índios aliados ao
processo colonizador.
Ao Ceará vieram os bandeirantes João Amaro Maciel Parente e o Mestre-de-
campo Manuel de Morais Navarro, que se juntaram aos comandantes locais como o
Coronel João de Barros Braga, comandante do regimento de cavalaria de milícia do
Jaguaribe. O Mestre-de-campo Manuel de Morais Navarro é conhecidos por matar 500
índios paiacus, já catequizados, num massacre sem sentido ocorrido na ribeira do
Jaguaribe. O coronel João de Barros comandou uma das mais efetivas milícias locais do
Ceará, chamada na época de Cavalaria do Certam (Cavalaria do Sertão), formada
basicamente por mestiços e índios aliados dos portugueses. Foi o coronel João de
Barros um dos principais responsáveis pela “limpeza” das ribeiras do Jaguaribe e do
Cariri de índios hostis e, posteriormente, conduziu a “guerra justa” que a Coroa
decretou contra os Anacés.
Em 1712 houve, no Ceará, novo levante indígena, aparentemente resultado do
assassinato de um filho de um líder indígena por um português. Grande parte dos índios
ainda não catequizados ou aldeados no Ceará se juntou à nova rebelião, fato que foi
agravado pela recusa de muitos índios aldeados, teoricamente aliados dos portugueses,

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de se meterem no conflito, deixando a defesa das terras para as milícias portuguesas. Os
índios novamente atacaram, pilharam e destruíram fazendas isoladas e chegaram a
atacar Aquiraz, a primeira vila do Ceará e uma das regiões mais povoadas do Ceará na
época. Cerca de duzentos homens morreram tentando defender-se dos índios enquanto o
resto da população correu para procurar proteção no Forte de Nossa Senhora, em
Fortaleza. O ataque à vila do Aquiraz seria, entretanto, a última grande ação armada de
grupos indígenas contra o governo da colônia. O levante foi eventualmente esmagado
pelas milícias portuguesas e houve grande número de mortos e escravizados entre os
índios.

 Aldeamentos :
Além da subjugação e do extermínio dos grupos indígenas através da escravidão
e das guerras, havia outros caminhos que a Coroa tomava para pacificar e tornar
produtivas as terras do Brasil. Essa alternativa, preferida pela Coroa inclusive, era a
evangelização dos índios e a sua inclusão na sociedade colonial que nascia, formada por
brancos, mestiços e índios e negros incorporados. O principal instrumento para a
catequização era o aldeamento, organizado pioneiramente pelos padres da Companhia
de Jesus, os Jesuítas. Eram levados para os aldeamentos os índios derrotados em
guerras, as crianças e as mulheres, bem como índios que fulgiam dos colonos e
buscavam refúgio contra a morte ou escravidão dentro dos aldeamentos, outro tanto de
índios era aldeado por sua própria vontade, após serem catequizados por algum padre
missionário.
O maior aldeamento do Brasil ficava localizado no Ceará, especialmente na
serra da Ibiapaba. Vários outros aldeamentos existiam, como os quatro aldeamentos
defensivos que cercavam Fortaleza: Parangaba, Caucaia, Monte-Mor Velho (atualmente
Pacajus) e Paupina (atualmente Messejana). Existiam aldeamentos também em
Almofala, Iguatu e Baturité, entre outros. O objetivo desses aldeamentos era tirar os
grupos indígenas de sua rotina e seus modos de vida tradicionais, expulsando os líderes
religiosos (pajés, etc), misturando diversas tribos num mesmo aldeamento, forçando-as
a falar um idioma em comum e vigiando seus hábitos e modo de vida. O objetivo era
“destribalizar” os índios para facilitar o processo de catequização. A vida no aldeamento
era marcada por rígidos ciclos de trabalho, oração e vida familiar, tudo sob a direção das
autoridades eclesiásticas.
Os índios no aldeamento ficavam submetidos à supervisão de um jesuíta e eram
incorporados ao mercado colonial como força de trabalho, seja para manter as
plantações e os currais da própria Companhia de Jesus, seja como força de trabalho a ser
“alugada” pelos colonos. Era também esperado que eles pegassem em armas para
defender os colonos contra ameaças, tais como invasões de outros países e ataques de
índios hostis. É por essa razão que muitos aldeamentos foram construídos ao redor de
Fortaleza, pois assim concentravam-se índios perto da sede da capitania, ao alcance do
Capitão-mor para serem usados em caso de emergência.
A difusão da religião católica ajudava o projeto colonizador, embora não seja
correto dizer que a cultura indígena foi destruída pelo contato com os europeus e suas
crenças. Pelo contrário, os povos indígenas mantiveram muitos de seus hábitos e
crenças, absorveram alguns dos hábitos e crenças européias e rearranjaram outros para
que se adaptassem a eles. Muitos traços da cultura indígena ainda podem ser
encontrados nos costumes populares, no artesanato, na práticas medicinais e na
religiosidade popular. Por outro lado, não podemos esquecer que a língua, os costumes
e a religião portuguesa foram implantados com a ajuda da força e da coerção. Os índios
que não se adaptavam estavam fadados ao extermínio.

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 Papel de fortaleza no período:
Fortaleza, embora ainda fosse habitada praticamente apenas pelo Capitão-mor e
pelos soldados do forte, adquiriu certa importância no período. Em primeiro lugar, a
própria presença do Capitão-mor, que ganhava cada vez mais poder, tornava o lugar
importante. Em segundo lugar, Fortaleza passou a servir como refúgio contra os ataques
indígenas (como aquele realizado contra Aquiraz em 1712), bem como fornecedor de
soldados e índios para serem usados nas guerras de conquista ou punição contra tribos
indígenas do sertão. Nessa época a cidade continuava possuindo pouca atividade
econômica e os únicos prédios importantes eram o Forte de Nossa Senhora da Assunção
e uma meia dúzia de sobrados erguidos pelos cidadãos mais abastados. Somente em
1726, quando a cidade foi erguida ao status de Vila, recebeu seu pelourinho e um prédio
(ainda bastante rústico) para servir de Casa de Câmara (o forte servia de cadeia). É
inegável, porem, que a cidade adquiriu nova importância por sua posição estratégica e
pela relevância política que advinha da presença do Capitão-mor e outros oficiais
régios.

Caminho para a independência (1720-1820)

 Organização administrativa da capitania


A administração da capitania era formada por diversas instâncias. Primeiro,
havia o Capitão-mor, responsável pelo controle militar e administrativo da capitania.
Ele comandava a guarnição do forte e devia zelar pela defesa contra inimigos externos.
Ele era também responsável pela manutenção da paz na capitania, garantido a segurança
dos funcionários régios. Devido à subordinação do Ceará à Pernambuco, o capitão-mor
tinha que pedir autorização daquela capitania para poder realizar algumas atividades.
Era também papel do Capitão-mor nomear e supervisar os capitães da milícia,
chamados de capitães-de-ordenança. Esses homens comandavam as tropas formadas por
todos os homens adultos, livres e em boa condição financeira que havia na capitania. As
milícias eram o principal instrumento de poder local e, conseqüentemente o cargo de
capitão-de-ordenança era muito valorizado. O Capitão-mor da capitania exercia seu
poder de nomear esses cargos como uma ferramenta política, barganhado com os
poderes locais. Os poderes do capitão-mor, embora supervisionado por Pernambuco,
eram enormes.
Embora muito poderosos, os capitães-mores raramente eram homens da terra e
sim portugueses apontados para um mandato de três anos. Assim, eles muitas vezes
entravam em choque com os poderes locais, representados principalmente pelas
Câmaras das vilas. A primeira vila do Ceará foi fundada em 1700, em Aquiraz.
Fortaleza foi a próxima, elevada à condição de vila em 1726 (é nessa data que se
comemora o aniversário da cidade). Entre 1738 e 1789 foram elevadas as seguintes
vilas: Icó, Aracati, Viçosa do Ceará, Caucaia, Parangaba, Messejana, Baturité, Crato,
Sobral, Granja e Quixeramobim. A criação das vilas tinha o objetivo de limitar os
poderes dos capitães-mores, bem como ajudar na arrecadação de impostos e no
recrutamento das milícias (cada vila formava um “termo”, onde eram recrutados os
milicianos).
Havia ainda um terceiro poder administrativo que agia na capitania. Era o
Ouvidor, responsável pela administração da justiça. O cargo de ouvidor é semelhante ao
de um juiz atual, embora com algumas peculiaridades. Até 1723 o Ceará não teve
ouvidor, enquanto a função era exercida por um ouvidor de Pernambuco. Mesmo depois
de 1723, por muito tempo, o Ceará foi formado por apenas uma Comarca e possuía,

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portanto, apenas um ouvidor para toda a capitania. Sua função era a de percorrer as
diversas vilas e arraias e administrar a justiça. O processo todo era, claramente, muito
precário. Piorava a situação o fato de que muitos ouvidores eram corruptos ou tomavam
parte nas brigas que envolviam famílias no sertão, como o caso clássico do primeiro
ouvidor do Ceará, José Mendes Machado. Este ouvidor tomou parte na rixa entre as
famílias Montes e Feitosas, ajudando esses últimos sempre que pode.

 Independência de Pernambuco
Durante todo o século XVIII o Ceará foi uma capitania subordinada à
Pernambuco. Isso significava que as comunicações com a Coroa, as ordens e o aparato
administrativo eram subordinados ao capitão-mor de Pernambuco. Isso se refletia
também na economia, pois o Ceará era proibido de negociar diretamente com Portugal
ou com as outras colônias portuguesas. Assim, todo o comércio do Ceará era
intermediado por Recife. Nossos produtos de exportação eram primeiro enviado para
Recife, para depois serem mandados a seus destinos e nossas importações vinham
também de Recife.
Essa situação perdurou durante todo o século XVIII, apesar de muitas
reclamações por parte da elite local para que a situação fosse mudada. O poder político
de Pernambuco e os interesses dos comerciantes ligados com a praça comercial do
Recife tornaram difícil a separação do Ceará, que só foi conseguida em 1799. A partir
daí a administração cearense passou a se comunicar diretamente com a metrópole e,
mais importante, os portos cearenses passaram a ter o direito de negociar por conta
própria, o que significava maiores possibilidades econômicas para a capitania. Essa
separação, evidentemente, não foi imediata. A influência econômica de Recife no Ceará
ainda era muito forte e a região do Cariri, em especial, continuou profundamente ligada
à Pernambuco, como ficou demonstrada pela adesão das elites daquela região aos
movimentos de 1817 e 1824, organizados em Pernambuco.

 O movimento de 1817
A chamada Revolução de 1817 que aconteceu em Pernambuco era um
movimento de anti-colonial, de cunho liberal e republicano, influenciado pelos ideais da
Independência Americana e da Revolução Francesa. Era um movimento organizado
pelas elites pernambucanas, insatisfeitas com a decadência político e econômica de sua
capitania, pela crescente centralização monárquica e pela cobrança de tributos. Grande
parte da força do movimento partiu da raiva que a população e a elite pernambucana
sentiam pelos comerciantes portugueses que praticamente dominavam todo o comércio
da região. A influência dos padres formados no Seminário de Olinda também foi
decisiva na organização do movimento. Não se pode pensar, entretanto, que fosse um
movimento que quisesse seriamente mudar a situação social interna da capitania. O
movimento acabou exercendo atração sobre certos setores da sociedade cearense,
especialmente na elite latifundiária do Cariri, liderados pela família Alencar.
Achava-se que a capitania do Ceará podia aderir em peso a revolta, e foram
enviados embaixadores de Pernambuco com destino a Icó e Aracati para tentar
convencer essas vilas a juntarem-se ao movimento, o que não foi bem sucedido. Apenas
a família Alencar e o Cariri aderiram a revolução, mas sua pequena insurreição foi
derrotada em apenas oito dias pelas forças organizadas pelo Governador Manuel Inácio
de Sampaio, um fiel monarquista. 25 pessoas foram presas mas acabaram sendo
anistiadas em 1821, ao contrário da maioria dos líderes pernambucanos, que foram
mortos.

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 Fortaleza no período
Fortaleza continuou sendo uma região de pouca atividade econômica durante
boa parte do período, mas continuou concentrando muito do poder político da capitania.
A cidade era ainda muito pequena e pobre, mas crescia de maneira cada vez mais
rápida. Em 1812 o governador da província, Luís Barba Alardo de Meneses, realizou
um censo da população da capitania e descobriu que as vilas Fortaleza e Aquiraz
tinham, cada uma 10 mil habitantes, comparadas com apenas 5 mil em Aracati. Apesar
dos dados desse censo serem muito precário, temos uma idéia de como a cidade cresceu
no período. Especialmente depois da independência de Pernambuco, foram feitas
reformas no Forte, foi criada uma bateria de canhões no Mucuripe para proteger o porto,
caminhos e estradas foram abertos e tentou-se melhorar o caminho que levava do porto
do Mucuripe até o Forte.
Em 1808, após a abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional,
Fortaleza (e os outros portos da capitania) passou a receber navios que vinham ou iam
diretamente para a Inglaterra, para outros países europeus e para os Estados Unidos.
Esses navios vinha, principalmente, por causa do algodão, do couro e, em menor
medida, pelo café que era exportado do Ceará. Esse novo fluxo de navios ajudou a
dinamizar a economia da capitania. Fortaleza começava a se afirmar como importante
centro comercial e econômico, além de político, situação que se confirmaria ao longo do
século XIX.

Atividades econômicas
 Primeiras atividades:
Antes da chegada dos europeus ao Ceará, os diferentes povos indígenas viviam
em um sistema econômico muito simples, voltado para a subsistência. Havia caça,
pesca, coleta de frutos e alguma agricultura. Os índios não possuíam animais
domesticados. Eles faziam roupas e outros instrumentos, bem como algum artesanato.
Os principais materiais eram o algodão, a madeira, penas e couros de animais, bem
como pedras. O metal era desconhecido.
Desde as primeiras expedições, os europeus tentaram implantar novas atividades
econômicas, atividades de caráter mercantilista voltadas para a produção de um
excedente produtivo que pudesse ser exportado e gerasse lucro. Esse sistema, claro, era
completamente diferente do modo de vida praticado pelos indígenas anteriormente. Nos
primeiros anos da capitania, os portugueses e holandeses tentaram produzir diversos
produtos coloniais. Cana-de-açúcar, madeiras (como o pau-violeta), âmbar-gris, sal,
gado e, principalmente, a procura por minas de prata e ouro. Nenhuma dessas atividades
foi muito bem sucedida nos primeiros anos, por diversos motivos. As minas que se
achavam existir não foram encontradas, o solo na maior parte da capitania não era
propício para a cana-de-açúcar, o âmbar-gris, embora valioso, era encontrado em
pequenas quantidades e a madeira tinha um valor baixo e também quantidade limitada.
Somente o gado e a agricultura de subsistência (mandioca e outros vegetais) foram bem
sucedidos nesses primeiros anos, mas limitados aos arredores do forte.

 A expansão da pecuária:
A primeira atividade econômica significativa do Ceará foi a pecuária, que
começou a crescer no Ceará nas últimas décadas do século XVII. A pecuária, no Brasil,
era uma atividade econômica secundária, mas extremamente importante. Ela fornecia
parte da alimentação da população, bem como fornecia os bois usados nos engenhos e
nas carroças usadas para transportar todo tipo de material. O couro era também

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aproveitado. Inicialmente o gado foi criado próximo ao litoral, na zona da mata
nordestina, ao lado dos canaviais e das plantações de mandioca e outros alimentos. A
quantidade de terras férteis, entretanto, era limitada e os canaviais tinham preferência,
pois o açúcar era a principal mercadoria exportadora e geradora de lucro da colônia.
Assim, o gado foi sendo movido para o sertão, chegando então ao Ceará.
Vieram, para o Ceará, basicamente duas correntes de povoadores ligados a
agropecuária. Uma era a chamada rota do “sertão de fora”, próximo ao litoral,
desenvolvida principalmente por pessoas vindas de Pernambuco. Essa rota chegou ao
Ceará na foz do Rio Jaguaribe, próximo ao mar e adentrou nos sertões por ali. A
segunda rota, chamada do “sertão de dentro”, partia do médio São Francisco, uma
região ligada à Bahia, indo em direção ao rio Parnaíba (no Piauí), essa rota chegou à
nascente do Jaguaribe no Ceará e acabou se encontrando com a rota do sertão de fora. A
ocupação das terras era feita mediante a expulsão ou extermínio dos grupos indígenas
que habitavam originalmente aqueles lugares, mediante os aldeamentos ou a guerra.
Assim, o gado foi o grande responsável pela “conquista do sertão”, ou seja, o processo
de expulsão e extermínio da população indígena e a implantação da povoação mestiça e
branca portuguesa.
As terras eram concedidas pela Coroa portuguesa para os colonos mediante o
sistema de sesmarias, onde o colono apenas precisava pedir as terras e ter os meios
necessários de povoá-la (ou seja, ter dinheiro e homens). Assim, a terra não tinha
nenhum custo, era vista como coisa praticamente ilimitada, vazia, bastando expulsar os
índios. As sesmarias no sertão eram, via de regra, muito grandes e sempre eram
delimitadas a partir de algum dos rios mais importantes. Elas deram origens às enormes
“fazendas de criar”, com seus currais nas beiras dos rios. O mais importante desses rios
era o Jaguaribe e seus tributários e, em seguida, o Acaraú.
Até 1750, de modo geral, o gado era levado para os mercados consumidores
ainda vivo e abatido no local. Essa era a chamada “carne verde” e seu principal mercado
consumidor era a capitania de Pernambuco, embora os rebanhos também fossem
levados para outros pontos, como a Bahia. As grandes boaiadas percorriam o sertão na
época propícia, marchando para seus locais de destino, onde seriam usadas como
animais de carga ou abatidos para o consumo. Os lugares onde essas boiadas se
concentravam, as regiões onde elas paravam e se abasteciam, deram início as primeiras
povoações do Ceará longe de Fortaleza, tais como Icó, Sobral e Quixeramobim.
De modo geral, os donos das grandes fazendas de gado raramente moravam
nelas, preferindo manter casas nas vilas ou mesmo em outras capitanias. O trabalho de
criar e cuidar do gado eram delegados para um empregado denominado de “vaqueiro” e
sua família. O vaqueiro era, em geral, um homem pobre e livre, branco, mestiço ou
negro liberto. Muitos índios também se tornaram vaqueiros, incorporando-se ao
processo colonial como “caboclos”. O vaqueiro não recebia pagamento regular, sendo
sua principal forma de pagamento o sistema de “quarteação”, ou seja, um em cada
quatro bezerros nascidos na boiada era do vaqueiro, enquanto os outros três eram do
proprietário. O vaqueiro, assim, vendia o seu gado para obter seu sustento ou tentava
juntar uma pequena boaiada para conseguir a independência do fazendeiro, o que era
raro. Nas grandes fazendas havia também alguma agricultura, de mandioca e outros
produtos para a alimentação local, geralmente executada pelas mulheres e crianças com
a ajuda dos homens nas épocas em que os bois ficavam soltos no sertão. Quando os
proprietários moravam nas fazendas, costumavam haver outros agregados da fazenda e
mesmo escravos domésticos. A vida nessas fazendas era sóbria e sem luxos, mesmo
para os fazendeiros, e a vida dos vaqueiros e outros empregados era de um trabalho duro

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e constante, marcado também pela falta de segurança. Uma seca podia dizimar os
rebanhos e levar os vaqueiros a perder tudo que possuíam.
O gado se adaptou bem ao sertão e era criado solto, com poucos cuidados. Os
rebanhos dos diversos fazendeiros e dos vaqueiros se misturavam no sertão e, para
separá-los, os vaqueiros se reuniam na época certa e percorriam o sertão para juntar o
gado e separar as reses entre os diferentes fazendeiros. Isso era feito através da
marcação dos bois com o ferro quente. Essa atividade de derrubar, separar e marcar os
bois deu origem à vaquejada que ainda hoje é praticada no Ceará. O rebanho foi
tornando-se cada vez maior. Em um testamento datado de 1723, o Capitão Félix da
Cunha Linhares deixava para seus descendentes seis fazendas de criação, com 8000
cabeças de gado, por exemplo.

 As charqueadas:
Ao lado do sistema da venda do gado como “carne verde”, desenvolveu-se
também a Charqueada, a produção do charque, ou seja, da carne seca. Embora não
saibamos desde quando começou a prática, a expansão das charqueadas se deu a partir
de 1740, mais ou menos. O clima da região litorânea; seco, quente, com ventos
regulares e abundância de sal favorecia a produção do charque e as primeiras oficinas de
charque foram sendo montadas ao redor de Aracati, na foz do Rio Jaguaribe. Dali, as
charqueadas se expandiram para o Acaraú e o Coreaú, indo chegar até o Rio Grande do
Norte e o Piauí. A maior parte da produção do charque, entretanto, concentrava-se no
Ceará, de onde era exportado para as outras capitanias e até para a África e Portugal. A
produção do charque alterou profundamente a economia e a sociedade cearense, como
veremos.
O charque é um modo de melhor conservar a carne, através da preservação.
Através da charqueada as boiadas não tinham que andar tanto para chegar aos locais de
destino, o que era muito vantajoso porque nessas viagens o gado perdia muito peso e
muitas cabeças se perdiam no caminho, pelos mais variados motivos (inclusive ataques
indígenas). Essas viagens também só eram possíveis em determinada época do ano, o
que limitava o escoamento da produção. Com a instalação das oficinas de charquear o
gado podia ser levado até Aracati ou às outras vilas que possuíam as oficinas e colocado
em fazendas de engorda antes de ser abatido e transformado no charque. Essa atividade
levou a uma maior divisão do trabalho na capitania, surgindo assim o setor dos
criadores e dos vaqueiros, o setor dos charqueadores e seus empregados, que
trabalhavam nas oficinas e o dos comerciantes que intermediavam a exportação do
charque pelos navios e a importação dos produtos que a capitania precisava. Duas vilas
tornaram-se os grandes centros da produção e comercialização do charque no Ceará:
Aracati e Sobral. Aracati, em particular, tornou-se a maior e mais rica cidade do Ceará
graças ao charque.
A produção do charque era uma atividade complexa que envolvia as fazendas de
engorda, os abatedouros, as oficinas de charqueamento propriamente ditas, as áreas de
secagem e preparação dos couros e armazéns, além dos portos necessários para
embarcar os produtos. Das vilas onde o charque era produzido eram exportadas a carne
seca e os couros, e importados o sal necessário para a fabricação e todo tipo de produto
a ser usado na capitania, desde comidas e bebidas até roupas, instrumentos de trabalho e
mobília. As charqueadas, entretanto, começaram a entrar em decadência no final do
século XVIII. As secas de 1777-78 e 1790-93 reduziram drasticamente o rebanho
cearense e o processo de fabricação do charque foi levado do Ceará para o Rio Grande
do Sul por um morador de Aracati, fazendo com que a competição com o produto
gaúcho rapidamente destruísse grande parte da indústria do charque.

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 O algodão:
Já existia, na América, uma variedade de algodão antes da chegada dos
europeus. Ele era usado pelos índios na fabricação de tecidos para suas roupas. Os
portugueses continuaram com essa prática, plantando e usando o algodão para a
fabricação de panos e roupas baratos, especialmente para os escravos. A expansão do
algodão como mercadoria colonial, entretanto, só aconteceu no final do século XVIII. O
principal motivo dessa expansão do algodão é ligada com o processo da revolução
industrial que acontecia na Inglaterra. A primeira indústria a ser atingida pela revolução
industrial foi justamente a indústria têxtil, que aumentou fenomenalmente a sua
produção, daí necessitando cada vez de mais matéria prima. O algodão usado na
Inglaterra originalmente vinha da Índia e das suas colônias americanas, mas os
capitalistas ingleses estavam dispostos a comprar algodão a bom preço de onde quer que
ele viesse.
Durante a Guerra de Independência Americana, entre 1774 a 1783, a produção
de algodão americana deixou de ser enviada à Inglaterra, o que aumentou o preço do
produto e tornou o algodão do Brasil competitivo, aumentando bastante a sua produção
e exportação. Até a segunda década do século XIX as relações entre os Estados Unidos
e a Inglaterra continuaram abaladas e a exportação americana de algodão cresceu apenas
aos poucos, embora acabasse dominando novamente o comércio de algodão mundial e
causando uma crise na produção cearense. Houve um novo surto de crescimento na
nossa produção de algodão, dessa vez mais curto, durante a Guerra Civil Americana
(1861-1864), quando novamente a produção americana foi paralisada. Esse foi o
chamado período dourado da cultura do algodão no Ceará. A partir daí a produção
começou a decair, embora continuasse sendo o principal produto da pauta exportadora
do estado ainda por muitos anos.
A cultura do algodão ajudou a povoar ainda mais o sertão, pois podia ser
plantando nas áreas mais secas do planalto central e na região norte, onde a criação de
gado era pequena. Na verdade, a cultura do algodão dava-se muito bem com a pecuária,
pois permitia às famílias que trabalhavam com a pecuária plantar um pouco de algodão
nas suas terras e obter alguma renda extra. Essa característica da cultura do algodão
deve ser lembrada, ou seja, a de que ele também era plantando em pequenas e médias
propriedades e não apenas nas grandes fazendas. Costuma-se usar a expressão “binômio
gado-algodão” para designar as atividades econômicas do Ceará entre meados do século
XVIII até fins do século XIX, tal era a importância desses dois produtos.
A cultura do algodão, como já dissemos, era praticada tanto nas grandes
fazendas especializadas como em pequenas e médias propriedades, paralelamente à
pecuária e a agricultura de subsistência. A mão-de-obra usada era formada basicamente
por pessoas livres, pobres, no sistema de arrendamento e por salário na época da
colheita. A mão-de-obra escrava era usada ocasionalmente, mas não em grandes
quantidades. A produção do algodão era escoada pelos principais portos do estado, ou
seja, Aracati, Camocim (ligado a Sobral) e Fortaleza. Graças ao algodão é que Fortaleza
começou a tornar-se economicamente importante no Estado, mas isso aconteceu
principalmente durante o século XIX, depois da Independência.

 Escravidão no Ceará:
Como já dissemos antes, a maior parte da população cearense no período
colonial era formada por trabalhadores livres com uma importante minoria escrava. A
maior parte da mão-de-obra usada tanto na pecuária como na cultura do algodão era
formado por mestiços e índios incorporados ao processo colonial, além de brancos e

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negros libertos ou forros. A mão-de-obra escrava concentrava-se em algumas
atividades, especialmente a doméstica e, até certo ponto, nas oficinas de charqueadas.
Os escravos eram mais comuns nas vilas do que no campo. Eles também eram usados
nas áreas de serra onde se plantava café e em outras atividades de trabalho intensivo.
Devemos lembrar que, apesar da mão-de-obra escrava não ter sido predominante
no Ceará, ela foi de fato usada e havia um número expressivo de escravos na capitania,
além de negros e mestiços libertos ou forros.

O CEARÁ E O PERÍODO IMPERIAL

FIM DO PERÍODO COLONIAL NO CEARÁ

Em 1812 chega ao Ceará o Governador e Coronel Manuel Inácio de Sampaio e


seu ajudante de ordens o tenente-coronel de engenheiros Antônio José da Silva Paulet, e
suas primeiras realizações foram a reconstrução do Forte de Schoonenborch, que já
tinha passado por outras tentativas de fortificações, com o intuito de impor em seu
governo um sentimento de boa ordem a cidade, assim também ordenou que se
levantasse a “Carta da Capitania do Ceará” e incluindo também a “A Planta da Villa de
Fortaleza e seu Porto” , elaborada em 1818 por Silva Paulet.
O contexto de rebeldias e levantes na crise do sistema colonial não encontraria
no Ceará muito apoio, devido a sua forte preocupação com a ordem e disciplina na
província, o Governador Sampaio não obtinha muita simpatia em sua administração.
Quando veio a Revolução Pernambucana de 1817, a sua ação foi logo de imediata a
sufocá-la, organizando um sistema de repressão ao movimento enviando as tropas
provinciais e prendendo seus líderes.

REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA – E A PARTICIPAÇÃO CEARENSE

Em 1817 ocorre a Revolução Pernambucana, revolução esta de cunho elitista,


que visasa a recuperação do prestigio político social e econômico de Pernambuco e a
manutenção de seus interesses e privilégios na região. A Revolução Pernambucana pode
ser encarada também com um movimento de libertação nacional, que almejava a
libertação do Brasil de Portugal.
Desde 1750 que a região nordestina passava por uma grave crise com a
decadência de vários de seus produtos. O açúcar passava por uma pesada concorrência
externa, fazendo com que caísse os lucros da produção, o algodão teve queda de preço
devido a concorrência do algodão norte-americano, mais barato e melhor qualidade. A
pecuária já vinha passando por dificuldades devido à concorrência dos criatórios de
charqueadas na região sul.
Além disto, a mudança da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro,
devido ás minas de ouro na região sudeste, colocou o Nordeste em segundo plano na
administração colonial, somando-se a isto os pesados impostos cobrados para sustentar
a Família Real e a Corte portuguesa que vieram para o Brasil em 1808.
Todos estes fatores geraram um contexto de insatisfação e revolta nas elites
pernambucanas, principiando uma revolta que se estenderia não só em Pernambuco,
mas também entre as províncias que eram dominadas ou sofriam influência direta de
Pernambuco. Assim os revolucionários diante de tantos problemas exigiam, a

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Independência e a Proclamação da Republica e da Liberdade de comércio para os
comerciantes brasileiros e nenhum privilégio aos comerciantes portugueses.
A pesar da mobilização do movimento nas províncias que eram dominadas ou
sofriam influência de Pernambuco, no Ceará a participação não foi tão intensa, a pouca
mobilização entre as elites locais a desorganização da Igreja e a intensa repressão
exercida pelo Governador Sampaio fizeram com que o movimento não obtivesse no
Ceará muita repercussão, fazendo com que o movimento se isolasse quase que
unicamente em uma região, o Cariri, e a uma família, os Alencar.
Com o apoio de Bárbara de Alencar, José Martiniano de Alencar e Tristão
Gonçalves, o Cariri aderiu a Revolução, porém duraram apenas oito dias sendo sufocada
pelas tropas imperiais, tendo os seus líderes presos e depois anistiados.

CONTEXTO CEARENSE NA INDEPENDÊNCIA

Com a saída do Governador Inácio Sampaio, o ceará a partir de 1820, passou a


ser administrado por Francisco Antonio Rubim, durante o processo de Independência,
que não se reduz só a data da mesma, mas a todo um contexto que a antecede e a
sucede, o Ceará tivera repercussões políticas por conta deste período. O governador
Rubim foi praticamente obrigado a renunciar, principalmente devido a sua falta de pulso
firme e de posicionamento definido em relação ao que se passava.. Após a sua
deposição, Francisco Xavier Torres foi o seu sucessor, realizando eleições para a
escolha de representantes para a Província do Ceará na Assembléia Constituinte
Portuguesa.
Em novembro de 1821, o poder local foi entregue a uma Junta Governativa
chefiada por José Raimundo do Paço Porbém Barbosa, ligado ao Partido Português e
contrário as pretensões emancipacionistas brasileiras.
Em julho de 1822, o Príncipe Regente D.Pedro determinou as eleições para
formar uma Assembléia Constituinte brasileira. A junta cearense, porém, fiel ás Cortes
Constituintes Portuguesas e as pretensões recolonizadoras destas, propositadamente
passaram a demorar no pleito, fazendo crescer a ira dos líderes cearenses ligados a o
Partido Brasileiro. Em virtude desta demora eclodiu no Crato um movimento contrário a
administração de Porbém Barbosa.
O Governo Provincial envia tropas para o Crato a fim de rebelar o movimento
emancipacionista daquela região, pretensões estas ligadas aos Alencar, pretensões estas
que aram ligadas a emancipação do Brasil de Portugal, assim podendo ficar livres do
jugo Português e livres para dominarem a política e economia no Ceará, no caso
contrários a Porbém Barbosa e sua Junta.
Iniciou-se assim um confronto nos sertões do Cariri. Os rebeldes, ( ligados ao
grupo dos Alencar ), conseguem derrotar as tropas governistas de Porbém Barbosa
elegendo uma nova Junta Governativa para a Província do Ceará, esta favorável a
Independência, e sob as ordens de Pereira Filgueiras. Coincidentemente naquele período
chegara ao Ceará a noticia da Independência, em outubro de 1822 trazida por navios
chega a noticia da independência, assim fazendo que não possibilitasse qualquer sentido
de reação do governo provincial, fazendo que se esvaziassem as tentativas de Porbém
Barbosa de manter o seu governo, assim renunciou e entregou o governo nas mãos de
Francisco Xavier Torres, comandante das armas de seu governo.
Pouco tempo depois o poder passa definitivamente para as mãos de Pereira
Filgueiras e pouco tempo depois se elegeu uma nova Junta Governativa administrada

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por Pinheiro Landim, que em seu governo foi que a vila de Fortaleza foi elevada a
categoria de cidade.

A SEDIÇÃO DE PINTO MADEIRA

Para que se possa compreender a Sedição de Pinto Madeira no Ceará, é


necessário que façamos um breve resumo do contexto histórico daquele período no país
e na província naquele momento.
O Brasil estava na administração de D.Pedro I, que devido a uma série de fatores
via seu governo passar por um forte processo de desgaste político e econômico, que
anteciparia fim de seu governo, o que veio a acontecer em 1831, quando então D.Pedro
I abdica do seu trono em nome do seu filho o príncipe Pedro de Alcântara que naquele
momento só contava com quatro anos de idade.
A decadência das exportações do açúcar e do algodão somados a uma
incompetência administrativa no âmbito financeiro e os inúmeros empréstimos
externos, que acarretaram uma imensa crise político e financeira. Durante a menor idade
de D.Pedro II, o Brasil passou a ser governado por um sistema de Regências (1831-
1840), período este acarretado por várias turbulências devido as revoltas que ocorreram
durante este período, tais como a Cabanagem no Pará, a Balaiada no Maranhão, a
Sabinada na Bahia e a Farroupilha no Rio Grande do Sul. Toda estas revoltas se
enquadram na luta de liberais radicais, as vezes com adesão da participação popular,
outras de caráter elitista tendo alguma participação popular.
Ao mesmo tempo, setores das classes dominantes que eram ligadas ao Partido
Português organizavam revoltas, a fim de reconduzir D.Pedro I ao poder e é neste
contexto em que devemos compreender a Sedição de Pinto Madeira. Com a abdicação
de D.Pedro I, os liberais iniciaram uma perseguição aos partidários de D.Pedro I. No
Ceará os liberais passaram a perseguir um dos partidários de D.Pedro, tratava-se do
Coronel de Milícias Joaquim Pinto Madeira, poderoso latifundiário da Vila de Jardim
no Cariri, que alcançara o posto de Comandante de armas do Crato e Jardim, devido a
sua posição absolutista e defensor da presença do imperador no Brasil.
Após a abdicação, os liberais do Cariri, iniciaram uma perseguição a Pinto
Madeira cassando o seu posto de Coronel e deliberando a sua prisão. Dois motivos
podem explicar o porquê da sedição; a primeira seria o choque entre os coronéis do
Crato e Jardim que disputavam a hegemonia política daquela região, isto devido a
fundação da Vila de Jardim que, segundo os liberais do Crato, restringiria o poder
político e econômico do Crato formando dois blocos opostos pela disputa da hegemonia
política na região. Pinto Madeira ganhara prestigio durante o primeiro reinado, prestigio
este que estava ameaçado no período regencial, assim partindo para um confronto
armado para não perder seu prestigio.
Outro fator que caracterizou a Sedição foi a tentativa de trazer novamente ao
poder o ex-imperador, D.Pedro I, que com certeza acirraria os ânimos, já que os liberais
jamais aceitariam tal situação, e este confronto entre liberais e monarquistas se
intensifica no Cariri entre as vilas do Crato e Jardim.
Em 1832 “cabras” do Crato e Jardim iniciam uma batalha sangrenta nos sertões
do Cariri, tomando dimensões que poderiam ser perigosas para o governo provincial.
Apesar de toda a resistência, e de terem vencidos os cratenses, o exército de Pinto
Madeira é vencido pelas tropas governistas, que resolveu intervir, onde em outubro de
1832, Pinto Madeira e o Padre Antonio Manuel Sousa acabam se entregando as tropas
governistas.

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Em 1834, Pinto Madeira fora julgado e condenado pelo assassinato do liberal
José P. Cidade, sendo fuzilado na Vila do Crato neste mesmo ano.

O CEARÁ E A POLITICA NO SEGUNDO REINADO

Contexto

Durante o Período Regencial, as elites cearenses se organizaram em partidos. De


um lado, tínhamos o Partido Liberal, liderado pelo Senador Alencar que reunia os mais
importantes e influentes latifundiários da Província. Do outro tínhamos o Partido
Conservador, que reunia além de alguns fazendeiros (latifundiários), também
comerciantes e militares.
Os liberais governaram a província até 1837, sendo que durante este período,
governaram José Mariano A. Cavalcante, que combateu e sufocou a Sedição de Pinto
Madeira e José Martiniano de Alencar, ou Senador Alencar, controverso político que ao
mesmo tempo se mostrava um bom administrador, promovia também uma severa
perseguição política de seus adversários.
Os conservadores comandaram a província nos últimos quatro anos do Período
Regencial, sendo que com o Golpe da Maioridade, os liberais voltaram ao controle
político do Ceará. Ao longo do Segundo Reinado, o quadro pouco se alterou no Ceará,
este permaneceu comandado pelas oligarquias organizadas nos partidos Conservador e
Liberal.
Mesmo tendo, esses partidos, sofrido alguns rachas internos, como por exemplo,
a divisão do Partido Liberal em Pompeus (sob o comando de Nogueira Accioly ) e os
Paulas ( liderado por Rodrigues Júnior ) e o racha dos conservadores em graúdos e
miúdos, praticamente não alteração e nem conciliação entre estes grupos na política
cearense. Os grupos defendiam apenas os seus ideais, os partidos sem grande motivação
ideológica ou posição própria, não passavam de instrumentos para os grupos elitistas se
manterem no poder e defenderem os seus interesses. A máquina pública era, com
freqüência, em eleições e política partidária.
Com tudo isso, a grande prejudicada era a população, que sofria com a pobreza,
a miséria, com a indústria da seca e a própria dependência desses oligarcas que se
utilizavam do poder local.
Pouco se viu de benefícios para as camadas mais populares, que em meio a tanta
pobreza, tanto descaso e corrupção conseguiam sobreviver em meio a fome e a miséria
do sertão cearense e ao esquecimento a que se fora submetido.

Política

O Ceará viveu durante o século XIX, principalmente na Segunda metade deste,


um momento de grandes mudanças, tanto em seus aspectos sociais como intelectuais.
Novas idéias associadas ao cientifico e ao liberalismo estremeceram as estruturas
tradicionais do poder e abriram o espaço para as novas idéias abolicionistas e
republicanas. E é por considerar fundamental o estudo deste período que, que se torna
premente compreender deste lócus de espacial os contextos político, sociais e
intelectuais.
Politicamente falando a estrutura estava montada como um Presidente da
Província, nomeado pelo Imperador, além de um secretário de governo que também era
nomeado por este. Existiam ainda três senadores e dez deputados ( responsáveis pela

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Representação nacional da Província ). Por fim a capital da Província de um prefeito
nomeado de pelo presidente da província.
Com a vigência de novas instituições políticas no Império, os fazendeiros
passaram se integrar nas facções e partidos tomando cabo na disputa do poder
provincial e local e ainda de todo o processo das eleições. Sendo assim, fazendeiros e
latifundiários permaneceram durante o império, na chefia política da província,
mantendo inalterado o quadro de controle político do Ceará nas mãos dos poderosos
clãs de familiares oligarcas oriundos do período colonial, como os Monte, os Feitosa, os
Pompeu, os Paula Pessoa e posteriormente oligarquia Accyolina.
Como já foi explicitado anteriormente, esses fazendeiros e latifundiários se
aglutinaram em dois diferentes grupos, o Partido Liberal (inicialmente comandado pelo
Senador Alencar e posteriormente pelo Senador Pompeu ), que após a morte do Senador
Pompeu o Partido Liberal se divide entre a representação política de duas famílias ou
clãs, que eram os Liberais Pompeus e os Liberais Paulas. E o Partido Conservador que
já fora explicitado anteriormente, após dissidências interiores também vai se subdividir
em graúdos e miúdos.
Ora, os clãs familiares constituíam as elites na província cearense,
principalmente se referindo aos aspectos políticos, sendo que esses grupos buscavam a
todo custo manter-se no poder, preparando-se e preparando seus filhos para o ingresso
na carreira política e assim a perpetuação de sua dominação política. Parafraseando a
pesquisadora Celeste Cordeiro, o perfil do político “deveria preencher os seguintes pré-
requisitos: ser um intelectual; pertencer a um clã familiar; ser cearense e não
adventício aos meios; possuir dons oratórios; e ter apoio das personalidades da cúpula
do Governo Central”. (CORDEIRO, Celeste. IN: SOUSA, Simone de. Uma Nova
História do Ceará, Ed. Fundação Demócrito Rocha, Fortaleza – Ce. 1999.
Enfim ser de família influente e estar preparado, já que a maioria possuía
diplomação superior, ou seja, foram preparados por suas famílias, ou ingressarem na
política e elitizarem seu grupo familiar, ou manterem seu grupo familiar no poder.

Economia e Sociedade

Durante a segunda metade do século XIX, o Ceará teve com principais produtos
de sua economia o algodão, atividade de destaque na província que atingiu seu auge
neste período e ainda o café que fora cultivado principalmente nas Serras do Baturité,
Maranguape e Araripe bem como a cera de carnaúba e borracha de maniçoba. O
algodão teve seu auge de exportação entre os anos de 1870 e 1875, onde foram
exportadas mais de 31 mil toneladas do produto.
Esse crescimento, se deu a partir de 1860, quando fora incrementada pela
procura exterior dos ingleses ( principalmente ) pelo produto, isso porque o seu maior
fornecedor, no caso os Estados Unidos da América, estavam com a produção reduzida
em decorrência de uma crise interna ocasionada pela Guerra de Secessão.
A partir de 1875, os lucros com essa atividade caem na medida em que cai
também o volume de exportação, isso porque a própria procura cai, já que os EUA
voltam a produzir o produto com maior regularidade e retomam a preferência no
mercado inglês e europeu como um todo.
Mesmo com a queda do lucro e do volume de exportação, continua o Ceará a ter
o algodão como principal produto de sua economia, fator de prosperidade
principalmente para Fortaleza, por onde todo o algodão cearense era negociado para
fora da província e para o exterior. Durante o período de safra e sua venda, o comércio

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fortalezense crescia demasiadamente, fazendo com que, com o passar do tempo, a
capital se consolidasse como centro econômico e social do Ceará.
O historiador Airton de Farias em seu livro “História do Ceará – dos Índios a
Geração Cambeba” enumera alguns fatores que podem nos auxiliar na nossa
compreensão acerca da hegemonia político-econômica de Fortaleza iniciada entre os
anos de 1820 e 1830, e consolidada na segunda metade do século XIX, são eles:

 Os capitais acumulados com o comércio exportador de algodão, e em menor


escala de outros produtos; café, borracha, couro, etc;
 A condição de capital, o que transformara Fortaleza em destacado ponto político
e para a recepção de obras e recursos políticos;
 A construção e melhorias de estradas e ferrovias ( Estrada de Ferro Fortaleza –
Baturité ) que ligavam Fortaleza ao interior, fazendo desses o centro coletor e
exportador da produção sertaneja.

Observe que junto a este crescimento de Fortaleza, surgem as primeiras fábricas


principalmente ligadas ao beneficiamento do algodão, que precisava ser aproveitado
interiormente com a diminuição de sua venda para o exterior. As primeiras indústrias
têxteis produziam tecidos para serem consumidos pelas camadas mais humildes da
sociedade fortalezense. Além das fábricas ligadas ao algodão, surgiram outros de
calçados, bebidas, chapéus, cigarros, etc.
No plano social urbano, temos a emergência de novos grupos elitistas, como
burgueses ligados ao comércio, e ainda de uma classe média ( profissionais liberais,
funcionários públicos, jornalistas, caixeiros, pequenos comerciantes, etc ) e um grande
número trabalhadores pobres em atividade ou não.
No sertão, as relações sociais continuaram a se dar um regime de semi-servidão
do sertanejo para com o latifundiário. Era uma sociedade pobre, antagônica e de relação
brutal. A exploração e a violência política e material conviviam lado a lado, as massas
continuavam subjugadas à vontade dos poderosos “coronéis”. A migração para os
centros urbanos era uma constante, principalmente no período das secas abarrotando
cidades como Fortaleza e Aracati de sertanejos que buscavam melhores condições de
vida e fugiam da secura do sertão.
A cada grande seca, como as de 1877 e 1879, o sertão esvaziava-se, e a fome e a
miséria castigavam a população.
A crise climática e a incompetência política em lidar com esta situação ( ou
melhor, o descaso com a população mais pobre ) arruinava a criação e os roçados, e a
miséria perseguia os sertanejos. Porém, ao mesmo tempo em que lhe traziam a desgraça
e a miséria, traziam também a união para a reação, a devoção a religiosidade como
única saída para superar tantas dificuldades. É nesse contexto que podemos observar os
movimentos messiânicos ao redor de um beato ou um líder religioso. Exemplos deste
tipo podemos perceber, com o Beato José Lourenço, Antonio Conselheiro, Padre Cícero
e outros ( e é claro com as particularidades inerentes a cada região e movimento ). Os
sertanejos buscavam o perdão dos pecados, seguiam os seus líderes por acreditarem que
dessa forma, se livrariam do martírio que sofriam.

Vida intelectual de Fortaleza

Fortaleza era uma região que na época não possuía mais que 30 mil habitantes,
sendo que desses tinham condições culturais e educacionais e participar de sua vida
intelectual. Mesmo porque poucas eram as instituições educacionais. Até 1870, apenas

18
seis escolas estavam em funcionamento: o Liceu, O Ateneu, o Panteon, o Colégio
Cearense ( para homens ), o Colégio Imaculada Conceição e o Cearense para mulheres.
No plano intelectual, a instituição de maior expressão era a Biblioteca Pública,
criada em 1865. Nas profissões liberais, existiam na década de 1870, advogados,
médicos, farmacêuticos, dentistas e outros.
A atividade jornalística contava com a atenção de seus jornais. Sendo eles Pedro
II e Constituição (diários e conservadores ), Cearense e Jornal de Fortaleza ( diários e
liberais ) e o Tribuna Católica e o Imparcial ( jornais semanais e católicos ),
posteriormente teríamos circulando em Fortaleza os jornais; Fraternidade ( maçons ) e o
Libertador ( abolicionista ).

ESCRAVISMO NO CEARÁ

Se comparado a zona açucareira, á região das Minas, e os cafezais sulistas, o


número de escravos no Ceará pode ser considerado pequeno, não excedendo ai a casa
dos 35 mil cativos. Isso pode ser explicado pela de recursos da Província para a compra
e cativos e ainda pelo pouco peso da mão-de-obra cativa na economia local, isso
também se compararmos a importância dos escravos em outras regiões do Brasil.
O escravo no Ceará era utilizado no Ceará principalmente nos serviços
domésticos e na maioria das vezes eram mantidos por pura questão de status social. Não
queremos dizer que com isso o negro fora insignificante na nossa economia, muito pelo
contrário, não dá pra ignorar a presença do negro na pecuária, na cotonicultura, e na
agricultura de subsistência. Acontece que a mão-de-obra escrava nessas atividades era
utilizada em menor escala, e isto pode ser provado através de documentos da época,
afinal, a pecuária com sua intensa mobilidade facilitava a fuga dos cativos, e
dificilmente os senhores consentiam confiança aos seus escravos nessas atividades. Já a
cotonicultura não era bastante convidativa, já que na era lucrativo usar tão cara mão-de-
obra em uma atividade que era realizada apenas em certo período do ano. Optava-se
pelo agregado meeiro e semi-servos.
Porém, devemos perceber que os escravos não tinham importância econômica no
Ceará, mesmo por que, apesar de estarem presentes em menor escala nestas atividades (
pecuária e cotonicultura ), não se pode descartara idéia de que eles também foram
utilizados e no criatório e no cultivo de algodão.

O CEARÁ ENTRE 1850 E 1930 E FORTALEZA NA BELLE ÉPOQUE.

As Campanhas abolicionistas.

Os primeiros registros de ações abolicionistas no Ceará datam da década de


1850. Tratam-se de dois projetos apresentados à assembléia provincial por Pedro Pereira
da Silva Guimarães, onde, a primeira (1850) foi repudiada e a segunda (1852), mesmo
chegando a ser discutida foi rejeitada. No final da década de 1860 e início do decênio
posterior, mudanças nos interesses de parte das elites locais fizeram surgir duas
resoluções de cunho redentorista, sendo a de n.º 1254 de 1868 e a de n.º 1334 de 1870.
Em 28 de setembro de 1879, comemorando os 8 anos da "Lei do Ventre Livre",
surgiu a Sociedade Perseverança e Provir, composta por membros ligados às elites da

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cidade de Fortaleza e a grupos economicamente emergentes. Essa sociedade promoveu
ações emancipacionistas dos escravos negros através de arrecadações de recursos
pecuniários para promover alforrias. No ano de 1880 era instalada outra sociedade
abolicionista, denominada Sociedade Cearense Libertadora. Esse grupo tinha João
Cordeiro como figura de destaque, além de tomar atitudes mais radicais, ficando
conhecido, esse grupo, por abolicionistas carbonários. O meio de difusão das idéias
desse grupo foi o jornal "O Libertador" de 1881. Em 1882, surge o Centro
Abolicionista, no qual seus membros ficaram conhecidos como abolicionistas
moderados. Nesse mesmo ano, formou-se nas chácaras do Benfica a sociedade feminina
das Cearenses Libertadoras. A partir de 1883 diversos municípios cearenses alforriaram
seus escravos, começando por Acarape (atual município de Redenção). Esse dado foi
contestado na época pelo jornal "O Libertador" de 1º de janeiro de 1884. Havia uma
disputa entre esses grupos abolicionistas pela legitimidade de suas ações.
O contingente de escravos negros no Ceará era bem menor que noutras
províncias e boa parte dos escravos eram domésticos, pois ter um escravo negro era
sinal de "status". O "Tráfico Interprovincial" e a mudança da utilização do cativo negro
por outros trabalhadores contribuíram para o fim da escravidão negra no Ceará. As
razões da abolição estão mais próximas dos interesses político e econômicos das elites
locais do que uma mera filantropia.

O Movimento Republicano no Ceará.

O republicanismo no Ceará era pouco expressivo até a Proclamação da


República. Com uma forte tradição conservadora no Ceará, as instituições monárquicas
e o legalismo tinha muita força. Assim, a primeira iniciativa de cunho republicano que
surgiu no Ceará da segunda metade do século XIX foi um artigo de Papi Júnior,
publicado em 26 de julho de 1889 no Seminário Crítico e Literário fundado por Antônio
Sales, Virgílio Brígido, José Carlos Jovino Guedes e o próprio Papi Júnior. Dessa
iniciativa surgiu o Centro Republicano do Ceará, onde, Joaquim Catunda era o
Presidente, Gonçalo de Lages era o Vice-Presidente, Antônio Cruz era o tesoureiro,
Horácio Moreira e João Cordeiro eram 1º e 2º secretários, respectivamente. Esse grupo,
que contava com a participação de mais de 20 pessoas eram os chamados "Republicanos
Carbonários".
A pouca expressividade desse grupo não trouxe preocupações aos republicanos
de última hora, formados pelas as facções liberais e conservadores que aderiram ao
novo regime e traçavam estratégias para continuarem exercendo o poder. De início, esse
grupo tratou de ingressar no Centro Republicano, mas, foram repudiados pelos jovens
Republicanos Históricos. Pois, segundos estes, aceitar os adeístas na agremiação seria
aceitar o roubo e o ludibrio.
Os antigos políticos da monarquia sabiam que era impossível se colocarem na
condição de primeiros republicanos, mas, sabiam que era preciso de instituições, onde,
fossem possíveis exercerem seu poder e liderança. Esse intuito não passava
desapercebido dos Republicanos Históricos, que logo tentaram transformar o Centro
Republicano num partido político, que deveria abranger os outros clubes republicanos
que surgissem e teriam que estarem ligados por rigorosas relações de dependência a
agremiação mais antiga. Assim, travou-se ataques entre o Centro Republicano e os
adeistas através dos meios de comunicação, onde, cada grupo procurava se mostrar
mais legítimo que o outro.
Com a luta política declarada surgiram vários grupos políticos formados pelos
antigos representantes do Império. Em 9 de fevereiro de 1890, Rodrigues Júnior fundou

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o Clube Democrático e em 9 de julho do mesmo ano, Antônio Pinto Nogueira Accioly
fundou a União Repúblicana. Assim, o antigo jornal dos Pompeus "A Gazeta do Norte",
ligado a Accioly, tornou-se "O Estado do Ceará".
O Centro Republicano sofria com divergências internas. Quando se deu a
ascensão de Floriano Peixoto à Presidência da República houve uma divisão no grupo.
Os que apoiavam o Marechal Deodoro saíram do grupo e fundaram o jornal "O Norte".
A facção que permaneceu no Centro Republicano continuou com 'O Libertador" como
meio de difusão de suas idéias. Porém, esse dois grupos entraram em atrito, pois, o
Centro Republicano apoiou Floriano Peixoto. Temos então, uma disputa entre
deodoristas e florianistas, onde, os primeiros eram perseguidos e apelidados de
'maloqueiros' e os últimos denominados de "cafinfins" pelos seus opositores. Essa
disputa se espalhou por todo o interior do Estado, principalmente nos grandes centros
urbanos do interior na época, como Limoeiro do Norte. Dentro dessa disputa Accioly
"costurou", durante um ano, uma união com os "cafinfins", na qual resultou o Partido
Republicano Federalista (PRF) em meados de 1892. Além do apoio á Floriano
fundaram o jornal "A República".
Em 1891, com a morte do Presidente do Estado Cel. Luiz Ferraz o Gal. Clarindo
de Queiroz e o Major Benjamim Liberato Barroso foram eleitos presidente e vice,
respectivamente. Porém, o fato de Clarindo de Queiroz ser deodorista ocasionou sua
deposição em 17 de fevereiro de 1891, assumindo de imediato o Cel. José Bezerril
Fontinele, o qual, após dois dias passou o governo à Liberato Barroso. Nesse momento,
Accioly assumiu a vice-presidência do Estado do Ceará, entre 1892 e 1896, quando foi
eleito presidente e dando início ao período oligárquico, até a revolta popular de 1912
ocasionando sua deposição.

A Padaria Espiritual.

Considerada a agremiação literária mais importante do Período Republicano no


Ceará, a Padaria Espiritual foi instalada em 30 de maio de 1892 na rua Formosa 105
(atual Barão do Rio Branco) e depois nos números 106 e 11da mesma rua. Esse grêmio
literário se destacou devido a sua originalidade. A história da Padaria Espiritual está
dividida em duas fases, uma de 1892 à 1894 e outra de 1895 à 1898. Na primeira fase o
caráter humorístico foi maior que na segunda. O periódico produzido pelo grupo
chamava-se "O Pão", o qual foi publicado 36 números, sendo 6 em 1892 e 30 na
segunda fase.
A agremiação foi formada por jovens literatos que freqüentavam os cafés da
Praça do Ferreira no início da década de 1890, mais precisamente o café do Mané Côco,
o então Café Java. O seu programa de instalação contava com 46 artigos e segundo o
artigo 1º, a instituição buscava produzir o pão do espírito aos sócios em especial e ao
público em geral. A sua principal característica era a crítica a janotice tradicional da
sociedade na época. Era proibido aos sócios tomar atitudes tipicamente burguesas, além
da valorização da nacionalidade. A Padaria contava com 20 sócios que eram conhecidos
como padeiros e os outros associados eram os padeiros livres. Segundo o artigo 2 a
agremiação era compostas por um padeiro-mor (presidente), dois forneiros (secretários),
um gaveta (tesoureiro), um guarda-livros, um investigador (olho da providência) e os
demais sócios (amassadores).
Os padeiros possuíam pseudônimos, dentre os quais podemos citar o de Antônio
Sales (Moacir Jurema) e Ulisses Bezerra (Frivolino Catavento). Foram presidentes do
grêmio Jovino Guedes 1892-1893, José Carlos Júnior 1894-1896, Rodolfo Teófilo

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1896-1898 e Antônio Sales o "mola mestra", que foi presidente interino na ocasião das
duas instalações.

A REMODELAÇÃO DE FORTALEZA.

Disciplinar a expansão urbana e aformosear a cidade.

Em 1875 era concluída a Planta Topográfica de Fortaleza e Subúrbios pelo


engenheiro Aldolfo Herbester, o qual, fora contratado em 1855, de Pernambuco pela
Província do Ceará e a Câmara Municipal de Fortaleza. O projeto de Herbster foi uma
ampliação da planta elaborada pelo engenheiro Silva Paulet, datada de 1818. Neste
projeto de 1875 encontram-se 3 "boulevards", que correspondem as atuais avenidas
Duque de Caxias, Dom Manuel e Imperador. Além de facilitar o escoamento urbano, a
principal finalidade da nova planta era disciplinar a expansão da cidade. O traçado em
xadrez do projeto topográfico de Fortaleza se trata de um modelo urbanístico utilizado
desde a antigüidade para fins de controle urbano. Suas ruas retas, cruzadas e com
ângulos de 90°, facilitam a vigilância dos poderes sobre as cidades. O modelo usado por
Herbester, em Fortaleza, foi uma imitação do traçado utilizado pelo Barão de
Haussmann em Paris. Ou seja, o uso de 3 "boulevards" foi uma cópia do plano utilizado
em Paris nos meados do século XIX.
Pode-se considerar como adaptação suavizada e de certa coerência o projeto
parisiense por Herbester, devido o fato de Fortaleza, desde meados do século XIX,
vinha passando por um processo de mudança na sua estrutura. Em 1875, a cidade já
contava com um porto, casas comerciais, escolas, biblioteca pública, além de se tornar o
principal centro cultural, político e social do Ceará. Todo esse impulso se dá devido ao
aumento das exportações da produção algodoeira. Além do que já foi dito, esse impulso
econômico contribuiu para a construção da estrada de ferro Fortaleza-Baturité na década
de 1860. Dentro desse contexto de crescimento, temos importantes modificações
sociais, como o surgimento de classes de profissionais liberais e uma grande reserva de
mão-de-obra de trabalhadores pobres. Assim, constituiu-se em Fortaleza a formação de
um mercado de trabalho. O plano de Herbester surge para disciplinar a malha urbana,
remodelar a capital, embelezando e racionalizando-a, facilitando a observação dos
poderes e a circulação de pessoas. A cópia do modelo de Haussmann serviu de molde
para diversas remodelações urbanas na sociedade ocidental do século XIX. A
disciplinarização do espaço público em Fortaleza no período da Belle Époque está
relacionado com as diversas medidas de controle. Trata-se de um processo disciplinador
que busca instaurar uma nova ordem social, econômica e racional.
A inserção do Brasil na mundialização do capitalismo através da exportação de
matérias-primas para as potências européias foi significativa para a emergência de
grupos burgueses e o surgimento das camadas médias. A assimilação de novas idéias e
valores por grupos emergentes faz com que houvesse um choque com o centralismo
imperial e a incapacidade produtiva das instituições estatais como a escravidão. Esse
embate resultou na instauração do trabalho assalariado e do republicanismo. Isso levou
ao desmonte do regime monárquico em 1889. Assim as idéias de progresso e civilização
foram as bases dos discursos e prática dos novos setores dominantes. Daí, inúmeros
embates foram travados para organizar um novo país, entre estes, temos a reforma
urbana.
Procurou-se então introjetar na sociedade novos hábitos, considerados ideais à
produtividade e o progresso. O processo de reordenamento urbano e inserção de novos
hábitos oriundos das camadas burguesas na sociedade sofreram resistência de outros

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grupos sociais. Em relação a Fortaleza esse processo foi mais pontual, tendo início a
partir de 1850 e se intensificando com a República, onde, em meados do século XIX,
intensificou-se a exportação de produtos primários para o mercado externo. O fato
dessas mudanças serem pontuais não minimiza os efeitos dos investimentos realizados
na sociedade fortalezense, como o controle na saúde, hábitos e alterações no espaço
urbano.
A remodelação urbana em Fortaleza tem início em 1850. Tanto o poder público
como o privado investiram nessas mudanças, mas, isso não significa que estes poderes
estava alinhados. O único intuito em comum entre esses poderes era o de civilizar tanto
a cidade quanto a população. Apesar das desigualdades geradas pelo acúmulo de capital,
as elites de Fortaleza ergueram edificações luxuosas para evidenciar seu poder
econômico e o alinhamento com o mundo moderno. Surgiram, então, novos prédios que
romperam com a arquitetura horizontal da cidade. Essas edificações adotaram novos
equipamentos arquitetônicos utilizados na época.
Nas últimas décadas do século XIX, além da nova planta urbanística de
Herbester, outros acontecimentos marcaram o período. Entre eles temos a construção da
ferrovia de Baturité e a seca de 1877. Com a ferrovia o fluxo de mercadorias para
exportação tornou-se mais dinâmico. Porém a seca de 1877-1880 trouxe um cenário
trágico. Nesta estiagem ocorreu uma violenta epidemia de varíola que dizimou boa parte
da população da cidade e fechou várias casas comerciais. Mesmo com a mobilização
governamental, pouco foi obtido. Pois, a cidade contava apenas com dois hospitais: a
Santa Casa de Misericórdia e o Lazareto da Lagoa Funda. Esse acontecimento
contribuiu para reforçar o discurso médico-político e instaurar uma política sanitária.
Na década de 1880, com a volta das chuvas, a normalidade volta e intensifica-se
o processo de urbanização da capital. Surgem, então, inúmeros equipamentos e serviços
de controle social. Com o crescimento espacial e populacional a cidade de Fortaleza
passa a dispor, a partir de década de 1880, de serviços de transporte coletivo, instalado
pela companhia Ferro Carril. Três pontos da cidade eram conectados pela primeira linha
instalada (centro, porto e matadouro). Após a primeira década do século XX intensifica-
se o fluxo de transportes na cidade. Temos os automóveis em 1910 e os bondes elétricos
em 1913. Assim, houve uma necessidade de remodelar a malha urbana e o transporte de
passageiros. Os meios de comunicação se desenvolveram a partir dessa época em
Fortaleza. Surgiram vários jornais, além do cabo submarino em 1882 e as caixas postais
em 1889.
Como espaço de sociabilidade, surgiu nessa época, o Passeio Público.
Localizado na Praça dos Mártires, foi todo remodelado e recebeu uma infra-estrutura
que buscava satisfazer os anseios modernizados do período. Este espaço estava dividido
em três planos, ou avenidas, como era denominada na época e existia uma forte divisão
social neste lugar. Havia um plano para as elites, um para as camadas médias e um para
os populares. O passeio público passou a ser menos freqüentado com a chegada dos
grandes cinemas em Fortaleza no final da década de 1910 início da posterior. Nesse
mesmo período de surgimento do passeio público temos a construção do novo porto de
Fortaleza e do prédio da Alfândega, localizados no bairro da Prainha, atual Praia de
Iracema.
O auge da produção algodoeira ocasionou a tentativa de industrialização no
Ceará. Surge nesse momento (1883) a primeira fábrica de tecidos de Fortaleza, de
propriedade do Dr. Thomas Pompeu de Sousa Brasil. Durante a 1ª República surgiram
outras fábricas, tanto de tecidos como de outros produtos. A importância dessa
"industrialização" tem um peso social maior que o econômico. Pois, deu possibilidade
ao aparecimento de operários e novos empresários.

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Paralelamente à reforma urbana e social na cidade, surge o movimento
abolicionista, o qual expressa os anseios de progresso das elites e camadas médias
urbanas de então. Todas essas transformações concorreram para o aumento
populacional, o qual, atingiu um percentual de aproximadamente 85% num período de
13 anos (1887-1900). Para conter os atritos sociais causados pelo aumento população
pobre de Fortaleza o poder público tomou várias medidas para tentar controlar e
disciplinar esse grande contingente que vinha ocupando a urbe.

"Fortaleza em Paris": As Reformas Urbanas na 1ª República.

A instauração da República no Ceará se deu entre os dias 15 e 16 de novembro


de 1889. Esta foi fruto da articulação entre a Escola Militar e o Centro Republicano.
Nesse momento o Cel. Luiz Ferraz assumiu a presidência do Estado até o seu
falecimento em 1891, quando foi substituído pelo Gal. Clarindo de Queiroz, o qual, foi
deposto no momento da ascensão de Floriano Peixoto à Presidência da República. O
fato de Clarindo de Queiroz não ter atendido o chamado do então presidente à Capital
da República gerou uma revolta militar que o depôs, após uma noite inteira de
bombardeio ao Palácio do Governo (atual sede da Academia Cearense de Letras).
Durante esse acontecido, ascendeu à chefia do Ceará o bacharel Antônio Pinto Nogueira
Accioly, montando uma oligarquia que durou de 1896 à1912. Accioly orbitava o poder
político há longa data. Ligados às elites imperiais, era genro e sucessor do Senador
Pompeu. Nogueira Accioly aderiu a República por conveniência em 1890, quando
fundou a União Republicana, composta pela antiga facção liberal e alguns
conservadores. Seu prestígio político era muito forte. Tanto que, em 1892 foi eleito
senador. Nesse momento sua influência política aumentou. O fato de ser florianista fez
com que Accioly tivesse participação na derrubada de Clarindo de Queiroz, ocupando a
vice-presidência do Estado ao lado do Presidente, Gal. Bezerril. No final deste governo
Nogueira Accioly foi eleito presidente do Estado com grande votação, tornando-se o
primeiro presidente civil do Estado do Ceará.
Da Proclamação da República à ascensão de Accioly as práticas modernizadoras
da cidade e disciplinadoras da população foram poucas. Nesse período destacam-se
como obras relevantes, a mudanças dos nomes da ruas para números no moldes de Nova
York em 1891, o qual não vingou, a criação da Academia Cearense em 1894 e o
Instituto do Ceará em 1887 como lugares de produção de saberes e a criação da
Dispensa do Pobres em 1885 como organização de controle assistencialista. Entre 1896
e 1930, o processo de modernização da cidade de Fortaleza se intensifica. Durante a
Oligarquia Acciolina (1896-1912) ficou à frente da Intendência Municipal de Fortaleza
o Cel. Guilherme Rocha o qual impulsionou todo o processo modernizador.
Dentre as várias obras em que há a presença da participação deste intendente
temos o Mercado de Ferro datado de 1887, construído na França e montado em
Fortaleza. Esta obra buscava resolver o problema do abastecimento na cidade e
disciplinar a mobilidade de sua população. Apesar do aparato policial republicano o
intuito dos agente modernizadores ligados ao poder não era o de excluir, mas, aproveitar
o potencial produtivo dos corpos tornando-os limpos, saudáveis e disciplinados. Outras
obras que podemos citar, são as reformas das praças do Ferreira, Marquês de Herval
(Atual Praça José de Alencar) e da Sé. A reforma dessas praças ultrapassou a fronteira
do aformoseamento. Seu intuito, era impor novos hábitos, considerados adequados à
idéia de modernidade e civilização. Além das reformas já citadas, Guilherme Rocha
implantou em 1893 o Código de Postura, que obrigava o uso de novos equipamentos
arquitetônicos nas casas e contes em ângulos obtusos nas esquinas. Essas medidas

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foram alvo de críticas dos oposicionistas do oligarca Accioly, como o jornalista João
Brígido, que denominava o Mercado de Ferro de "pardieiro".
Esses agentes modernizadores estavam sintonizados com as reformas que
ocorriam na Europa, principalmente com a França e a Inglaterra. Em Fortaleza, a
influência desses dois países era muito forte, inclusive, existiam na cidade muitas
firmas, técnicos e capitalistas oriundos desses países. Em poucas décadas, Fortaleza
passou mudanças que transformaram, praticamente, por completo a fisionomia da
cidade. Alguns cronistas fazem críticas à esse processo modernizador. Pois, a pesar de
inserir novos hábitos, vistos de forma positiva, haviam hábitos considerados nocivos,
como o jogo, o alto consumo de bebida alcoólica nos cassinos e a promiscuidade,
condenados pela medicina social e ocorrente nesses locais. Mas, esses cronistas não
deixavam de reconhecer os progressos que transformaram a cidade.
Além do Poder Público, os grupos emergentes também deixaram sua marca no
que diz respeito à remodelação urbana. Suas iniciativas levaram a construção de
edificações em estilo eclético, muito comum na época. Dentre essas edificações
oriundas do que podemos chamar de iniciativa privada, temos, como exemplo, a sede da
Fênix Caixeral, a Associação Comercial e o Palacete de Carvalho Mota. Uma das obras
que mais se destacou durante o período da Belle Époque em Fortaleza foi o Teatro José
de Alencar de 1910 na, então, Praça Marquês de Herval. Esse edifício possui um denso
significado cultural para a cidade. Além disso, o Teatro contou como fator decisivo para
a construção de uma ordem civilizatória em Fortaleza. É válido ressaltar que, até os
opositores de Accioly contemplaram a referida obra e reconheceram a sua importância e
grandiosidade. Contemporâneo ao Teatro José de Alencar foi a tentativa de implantação
do serviço de água e esgoto. Porém, a falta de capacidade técnica e pecuniária do Estado
para implantar projetos desse porte adiaram esta obra para a década de 1920. A revolta
de 1912 foi outro fator para esse adiamento.

A Revolta de 1912.

A pesar das obras realizadas em Fortaleza, havia um grande descontentamento


som o governo oligarca de Nogueira Accioly. Esse governo foi marcado por inúmeras
arbitrariedades. O nepotismo, a corrupção, o autoritarismo e a violência contra a
oposição e a população foram algumas de suas marcas. O descontentamento culminou
com uma revolta popular que durante 3 dias (21 à 24 de janeiro de 1912) que resultou
na deposição do oligarca. Entre o segundo semestre de 1911 e primeiro de 1912 o Ceará
encontrava-se no período eleitoral. A oposição apoiava o Cel. Franco Rabelo. O apoio
popular à Rabelo aumentou com o tempo e era manifestado nas passeatas, "meetings" e
comícios. Porém, três manifestações marcaram o período, devido a violência com que
foi reprimida pela polícia de Accioly. A primeira manifestação foi sufocada a bala e a
"pata de cavalo" e contava com a participação da população em geral. A segunda, que
foi organizada pela Liga Feminina foi reprimida da mesma forma. Mas, a terceira foi o
estopim da revolta. Uma passeata de crianças foi atropelada pela cavalaria do oligarca
no dia 21 de janeiro de 1912. A partir desse dia até o dia 24 do mesmo mês Fortaleza se
tornou uma verdadeira praça de guerra. Além do palácio do oligarca (atual Academia
Cearense de Letras - Palácio da Luz), foram atacados os símbolos da modernidade que
representava a oligarquia: praças, postes, casas e monumentos foram destruídos pela
população em fúria. Atingir esses símbolos do progresso burguês era, também,
expressar a insatisfação que essa modernidade trouxe para a população pobre. Após a
deposição de Accioly foi eleito Franco Rabelo para a presidência do Estado do Ceará.
Porém este governou por apenas 2 anos, até que uma tropa de jagunços comandada por

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coronéis acciolistas e com o apoio do Padre Cícero tentou depor Rabelo na chamada
"Sedição de Juazeiro". Nesse momento houve uma intervenção federal no Estado e
assume o poder o Interventor Federal Setembrino de Carvalho.
Durante o governo de Franco Rabelo o intendente foi Idelfonso Albano. Em sua
gestão procurou continuar o processo modernizador da cidade e civilizatório da
população. Dentre suas realizações temos: a reforma da Cadeia Pública e o novo sistema
penitenciário com base na criminologia moderna e práticas humanitárias, criação da
guarda cívica para disciplinar a população pobre, combate à febre amarela, recuperação
da salubridade pública, instauração de uma polícia médica, instalação do Instituto de
Amparo à infância, início do projeto de abastecimento de água da cidade e a rede de
esgoto, criação de vilas operárias, divisão da cidade em 4 distritos dentro da cidade para
viabilizar a limpeza e a abertura da AV. Sena Madureira. Além destas obras temos,
também, a chegada da energia elétrica na cidade em 1914 através da companhia Ceará
Light Power.

POLÍTICA E SOCIEDADE NO CARIRI.

Juazeiro, Padre Cícero e Sedição

Juazeiro do Norte nos fins do século XIX e inicio do XX sofre a forte influencia
da figura do Padre Cícero, e de todo um contexto social e político que o rodeou. Um
homem que exerceu uma função decisiva no contexto do catolicismo popular cearense e
que usou tal influencia como uma habilidade política que transformaria o Cariri em um
enorme reduto de poder no Ceará.

Quem foi Padre Cícero?

Cícero Romão Batista nasceu no Crato em março de 1844, seria o homem


responsável pela rápida transformação de um lugarzinho chamado Juazeiro, na região
do Cariri. Filho de prospero comerciante foi criado em um ambiente de fervor religioso
e freqüentou as melhores escolas do Crato e de Cajazeiras (PB) já no desejo de tornar-se
sacerdote. Sua trajetória porém foi ameaçada pela morte do pai (vitima de cólera em
1862), tendo que interromper os estudos para cuidar da mãe e duas irmãs solteiras. Após
a morte do pai teve uma “visão” deste lhe dizendo para não “abandonar os livros, pois
Deus daria um jeito de fazê-lo prosseguir os estudos”. O padrinho de Cícero, um
comerciante e chefe político do Crato, ao saber da tal “visão” financiou os estudos do
garoto.
A ajuda do padrinho foi fundamental para a entrada de Cícero no recém-
inaugurado Seminário da Prainha, um local de orientação europeizante e fruto da
Romanização (fortalecimento da hierarquia católica) que começava a despontar no seio
da Igreja Católica.
Em 1870, Cícero se ordena padre e ainda sem paróquia leciona latim em um
colégio do Crato. Pouco tempo depois ele é convidado a passar alguns dias no lugarejo
chamado Juazeiro, começa agora a historia do líder Padre Cícero. Lugarejo rude e
insignificante, originado de uma pequena capela em honra de Nossa Senhora das dores,
Juazeiro não tinha mais de 2000 habitantes, 2 “pedaços de rua”, 1 escola, 1 igrejinha, e
32 “prédios” de palha. O tal lugar seria palco do famoso “Milagre de Juazeiro”. Uma
beata de nome Maria de Araújo, durante a comunhão teria tido a hóstia transformada em
sangue, tal milagre despertou a desconfiança do clero romano para as atitudes de Padre
Cícero. O Santo Oficio convocou O padre para se explicar em Roma, e após três meses

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de julgamento Cícero é proibido de exercer os sacramentos (1894). Após tais eventos
Juazeiro sofre uma peregrinação que acontece até hoje, se tornando uma das cidades que
mais lucram no Cariri, e o Padre Cícero se torna símbolo do catolicismo popular do
Cariri.
O Padre agora mescla o seu poder religioso com o poder dos coronéis, e aquele
religioso de outrora, que ajudava e aconselhava os pobres e necessitados, passa a fechar
acordos com os poderosos, acordos esse que muitas vezes vem em detrimento da
população. Surge então o famoso “Coronel de Batinas” que vai exercer uma ampla
influencia na política cearense.

O político Padre Cícero

A figura do “coronel de batinas” se concretiza com atuação do Padre Cícero ao


lado de Floro Bartolomeu (médico baiano) e os dois apoiando e sendo favorecidos pela
oligarquia Accioly.
Cícero se torna prefeito de Juazeiro em 1911 e encabeça o Pacto dos Coronéis,
um acordo que reunia 17 coronéis do Cariri para acabar com as disputas locais e
conseguir apoio do comendador Accioly.
Em sua caminhada política Padre Cícero não para de ascender, e chega à vice-
presidência do estado, fruto de um acordo para que Rabelo pudesse assumir, tal
manipulação demonstra mais uma vez que o Padre e o Oligarca (Accioly) tinham um
comum acordo. As relações entre Franco Rabelo e Padre Cícero começam a se romper,
já que o padre queria mais cargos públicos, tal crise leva o padre a liderar um
movimento a fim de depor o governo de Rabelo.

A Sedição

A Sedição de Juazeiro foi um confronto armado entre 1913-1914, quando os


aliados de Accioly depuseram o governo Franco Rabelo.
Os cearenses esperavam muitas mudanças com a ascensão de Franco Rabelo, já
que o mesmo era fruto da Política Salvacionista e havia derrubado Nogueira Accioly.
No entanto o governo Rabelista não mudou muito a situação, até mesmo porque
Accioly fez um acordo com Franco Rabelo antes deste assumir o governo. O
comendador com tal acordo mantinha a maioria da câmara, mas tal concordância
duraria pouco, e a ruptura levaria ao surgimento de um forte movimento pro-Accioly
vindo do Cariri e liderado pelo Padre Cícero e por Floro Bartolomeu. Rabelo resolve
então “salvar” o Cariri do Pacto dos Coronéis, e desarticular as alianças de Accioly na
região.
O boato que Juazeiro seria destruída pelo governo do estado circulava em todos
os locais do Cariri, todos a partir de agora se esforçam para proteger a “Terra Santa” e o
padre “santo”. Foi formado o “exercito sedicioso” que simbolizava muito mais do que
uma luta política, uma luta religiosa em prol de um “santo”. Em 20 de dezembro de
1913, Juazeiro é atacada pelas tropas governistas, os jagunços vencem e iniciam uma
“caminhada” em direção a Fortaleza para derrotar o “Governo infiel”.
O governo Franco Rabelo convive com o caos agora, cidades são saqueadas
pelos sediciosos, o governo federal não se esforça em ajudar, pressionando assim a
renuncia de Franco Rabelo, que aconteceu em 14 de março de 1914. Após o objetivo
atingido, os jagunços são facilmente desarmados e mandados de volta para sua terra.
Embora o próprio Padre Cícero negue sua participação no movimento em seu
testamento, e porem ele pode até não ter siso o mentor intelectual do movimento, mas

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uma coisa não se pode negar, como argumentador e manipulador, ele exerceu uma
influencia fundamental nos sertanejos que acreditavam estar lutando em defesa do
“Padim”.
A Sedição de Juazeiro pode ser encarada como um movimento que envolveu
varias classes sociais com realidades diferentes, e por isso tem muitos significados
diferentes. Os acciolistas conseguem seu objetivo e derrubam Franco Rabelo, mas sem
Accioly no poder já que sua figura estava bastante desgastada, surge assim o
“acciolismo sem Accioly”. Já os sertanejos que defendiam Juazeiro, e que encararam o
movimento como uma “Guerra Santa”, achavam que tinham defendido bem o seu
“Padim”. Jagunços e cangaceiros protegeram seus coronéis e conseqüentemente seus
empregos. A heterogeneidade da massa que participou da Sedição garantiu a
heterogeneidade do movimento.

A modernidade turbulenta dos anos 20.

No período de 1917 à 1921 surgiram no Ceará organizações com o Partido


Socialista, Associação Gráfica do Ceará, Federação de Classes Trabalhadoras do Ceará
e do lado patronal em 1919 o Centro Industrial Cearense. Nesse período, no Brasil,
aumentava a força do movimento anarquista, a Revolução Bolchevique de 1917 na
Rússia e o surgimento do Partido Comunista Brasileiro em 1922. A questão educacional
era um problema que os agentes dominantes procuravam solucionar. Havia uma
preocupação em criar um tipo de trabalhador mais produtivo. Assim, Justiniano de
Serpa, entre 1920 e 1923 realizou uma reforma no ensino do Ceará com o auxílio do
educador paulista Manuel Bergston Lourenço Filho, tornando o ensino mais objetivo e
prático. No campo ideológico, havia uma preocupação com a estrutura física da escola e
a higiene.
O anseio contínuo de modernidade dos anos de 1920 fez surgir os primeiros
bairros elegantes da cidade, reformas em praças e aberturas de avenidas. Entre 1924 e
1928 a gestão de José Moreira da Rocha ocorreu a inauguração da rede de água e esgoto
de Fortaleza. A partir de 1930 o crescimento da cidade passou a ser desordenado. O
deslocamento das elites de Fortaleza começou a partir de 1915, intensificando-se na
década de 1920 para Jacarecanga e Praia de Iracema.
Os embates entre as classes altas e baixas eram constantes. A irreverência
popular era uma das mais usadas pela população pobre. Mesmo com esse embates os
dispositivos de saberes e poderes se sobressaíram sobre toda a sociedade, tanto
brasileira como fortalezense.

O CEARÁ ENTRE 1914 E 1930

Vitoriosa a Sedição de Juazeiro a política cearense passa a ser disputada por


duas forças organizadas em dois partidos, o Partido Democrata e o Conservador. Tais
partidos não possuíam uma forte ideologia política.
Entre os democratas destacara-se Fernandes Távora, que militou no Partido até
1920, quando funda o Partido Republicano Cearense. Existiam também a Marreta e
a Unicionista. Durante esse período (1914 – 1930) não existiu governo monolítico de
nenhuma das oligarquias.
As Oligarquias Coronelistas dominavam o interior, apesar da ameaça que agora
representavam os cangaceiros e os jagunços. O governo do Ceará no entanto, passou a

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reprimir mais as atividades de cangaceiros no território, assim como a tentativa da
diminuição do poder dos coronéis.
Após a Sedição o governo é entregue a Setembrino de Carvalho e pouco depois
é passado a Liberato Barroso, que governa até 1916 e imprime constante perseguição a
criminosos no interior.
Entre 1916 e 1920 é a vez de José Tomé de Sabóia e Silva governar o Ceará, e
procurar sanar a economia cearense através de obras publicas, financiamento agrícola e
colocando em dia o funcionalismo publico. Já nos anos compreendidos entre 1920 e
1924, foi a vez de Justiniano de Serpa e Idelfonso Albano, período em que aumenta a
criminalidade no interior do Ceará mesmo com a tentativa do governo de coibir tais
atos.
O Desembargador Moreira assume o governo entre 1924 e 1928, uma gestão
marcada por perseguições políticas aos seus adversários. A população se mostra
insatisfeita com os precários transportes, a criminalidade aumenta mais uma vez no
interior, e a Coluna Prestes cruza parte do Ceará em sua marcha contra a Republica
das Oligarquias.

CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DE 1932

A partir da segunda metade do século XIX, as secas se transformaram em um


enorme problema social para o Ceará, e não apenas um problema climático. O problema
se convertia em uma migração em massa para os centros urbanos gerando assim
conseqüências sociais variadas, como a prostituição, assaltos, epidemias e saques.
As enormes migrações mudavam a rotina dos centros urbanos, e faziam com que
surgissem medidas assistencialistas, com o intuito de acalmar a multidão, que em
desespero podiam promover saques.
A solução encontrada para tentar aliviar as migrações foi fixar o homem no
campo, o problema era como fazer isso? A solução encontrada foi a criação de Campos
de Concentração (sob forte vigilância) perto das ferrovias, tais espaços funcionaram
como prisões provisórias até o termino da crise. Os Campos serviriam para que os
retirantes não passassem necessidades, pois teriam alimentação e serviço médico
gratuitamente, ou melhor, em troca de trabalho. Mesmo com a criação dos campos e a
suspensão temporária de emissão de passagens para Fortaleza os retirantes continuavam
chegando a capital, seja através da invasão de trens ou através de viagens por outras
rotas.
No Ceará foram construídos um total de sete campos de concentração: Ipú,
Senador Pompeu, Quixeramobim, São Mateus, Crato e mais dois em Fortaleza. Apesar
do “esforço” do governo, tais locais tornaram-se propícios a fome e epidemias,
moléstias que se difundiam rapidamente entre a população dos campos de concentração.
Os Campos da capital ficaram um no Otavio Bonfim e outro no Pirambu, pois a
disposição dos ventos em tais localidades dificulta um pouco a difusão das epidemias.
Quem entrava nos campos tornava-se um prisioneiro, e só podia sair para
trabalhar em obras de “melhoramento urbano”, ou quando era levado para outro campo.
O problema dos Campos de concentração no Ceará já apontavam no começo do
século XX para um problema contemporâneo do nosso estado, a famosa “Indústria das
Secas”, um problema decorrente da estrutura agrária brasileira (latifúndios), da
concentração de renda, desvio de dinheiro publico e má utilização dos espaços rurais.

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Os campos de concentração conseguiram isolar a pobreza em lugares
“adequados”, no entanto gerou conflitos sociais marcantes até os dias atuais na
sociedade cearense.
As chuvas chegaram em 1933, e então se intensificam o discurso em prol do fim
dos campos de concentração. Para o governo não era difícil “soltar” os retirantes a
própria sorte. O ministro Jose Américo Bastos autoriza o fornecimento de passagens
para o retorno dos retirantes. No entanto seria melhor ter transformado os campos em
centros que auxiliassem a mendicância, problema este que continuou sempre existindo
no ceará.

Beato “Zé Lourenço” e o Caldeirão


Texto do Deputado Estadual Artur Bruno

O Estado do Ceará concede à história brasileira um dos movimentos sociais mais


significativos do século XX. Entretanto, a historiografia oficial, ainda calcada na
história factual e cronológica dos grandes heróis, colocou em segundo plano o
movimento do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, liderado por José Lourenço Gomes
da Silva, mais conhecido como beato José Lourenço.

O Caldeirão localizava-se no sítio Caldeirão, no município do Crato, no sopé da


Serra do Araripe, entre os anos de 1926 e 1936. Neste ínterim, os sertanejos das várias
localidades do Nordeste brasileiro, principalmente do Rio Grande do Norte, organizados
de maneira comunitária, através de um modo de produção dos bens materiais de forma
coletiva, desenvolveram uma sociedade onde inexistia a exploração do homem pelo
homem, onde "todos trabalhavam na agricultura e a produção era dividida de acordo
com a carência de cada um. Ninguém passava necessidade" (Régis Lopes: Uma Nova
História do Ceará). Diferentemente do que ocorria nos grandes latifúndios nordestinos,
onde predominava o regime de produção semi-feudal, no qual os grandes proprietários
de terras, sem o mínimo respeito à dignidade humana, exploravam a mão-de-obra
camponesa.

Desta feita, restavam aos sertanejos duas alternativas: ou continuarem sendo


oprimidos nos latifúndios ou fugirem destes para obterem a liberdade e o respeito no
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Obviamente que a segunda opção é, do ponto de
vista humano, mais racional, e foi, felizmente, a escolhida pelos sertanejos que foram
residir na comunidade. Todavia, "com muita e mais gente a chegar por tudo quanto é
vereda, o arraial despertou a ira da elite. Malasombro para o poder político sustentado
por coronéis, a Igreja Católica e o Estado. Era a paranóia de uma Nova Canudos". (Xico
Sá: Beato José Lourenço).Só para termos uma idéia da grandiosidade da comunidade do
Caldeirão, pode-se dizer que em pouco tempo de empreitada coletiva os camponeses
transformaram o terreno muito acidentado e quase deserto em um local de muita fartura,
cheio de plantações de laranjeiras, mangueiras, jaqueiras, limeiras, coqueiros,
bananeiras, cafeeiros, hortaliças, cereais, algodão. Mas essa bonança e fartura
cooperativista no Caldeirão, representando um movimento social de contestação
pacífica à situação dos sem-terras, comprometiam a base material da estrutura
capitalista, ou seja, a propriedade privada da terra, herança de um patrimonialismo
nascido desde os tempos coloniais.

Desse modo, as elites dominantes, receosas da proliferação das idéias


comungadas no Caldeirão, juntamente com o apoio da Igreja Católica, da Imprensa e do

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próprio Estado, promoveram, no dia 10 de setembro de 1936, a destruição total do
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, a qual, por intermédio de saques e incêndios,
culminou com a expulsão de todos os sertanejos e com a usurpação por parte da polícia
de quase todos os bens produzidos durante os dez anos de existência do Caldeirão.

Texto Complementar

Caminhos do Beato Zé Lourenço repercute na imprensa de Fortaleza

Em: 14.09.2006

A Cavalgada que vai refazer os Caminhos do Beato Zé Lourenço, foi objeto de matéria
publicada no jornal “Diário do Nordeste”, desta 5ª feira, dia 14. Abaixo a reportagem:

CALDEIRÃO DE JOSÉ LOURENÇO

Cavalgada seguirá passos do Beato

Crato (Sucursal) — A cavalgada de pesquisadores e interessados na história do Beato


José Lourenço acontece neste fim de semana, dias 16 e 17, com roteiro que segue os
passos daquele que foi considerado por muitos como um líder religioso. A viagem
começa no sábado, com saída do Campus do Pimenta, da Universidade Regional do
Cariri (Urca), no Crato, em direção ao Sítio União em Exu (PE), às 5 horas da manhã. A
idéia é cavalgar até às 8h30, quando os participantes deverão chegar ao sítio para a
abertura oficial, às 8h30, durante uma missa campal, que ali será celebrada. No Sítio
União, o Beato Zé Lourenço viveu seus últimos anos, após ter sido expulso do
Caldeirão.

Depois do café da manhã, os cavaleiros iniciam a viagem, retomando os caminhos do


Beato em direção ao Ceará. Às 13 horas, está previsto almoço em sítio no topo da
Chapada, propriedade de Chico Afonso. Em seguida, retomam o roteiro em direção ao
escritório da Floresta Nacional do Araripe, onde ocorrerá o jantar e pernoite, tendo
como apoio o Aeroporto de Fátima.

No domingo, às 3 horas da manhã, deverá ser reiniciada a cavalgada em direção ao Sítio


Caldeirão. Às 8 horas, dom Fernando Panico celebrará missa campal em memória dos
70 anos de destruição da comunidade do Caldeirão. Após a chegada dos Cavaleiros da
Santa Cruz do Deserto será feita uma reverência a Santo Inácio de Loyola, padroeiro do
Sítio Caldeirão. Às 10h30 haverá uma confraternização dos cavaleiros com a equipe que
promoveu a caminhada e os romeiros que foram participar da missa. Na ocasião, falarão
os professores Francisco Cunha e José Carlos dos Santos.

Sessenta anos após a morte do Beato e 70 anos depois da destruição da experiência


comunitária do Sítio Caldeirão, as estradas e veredas por ele pisadas serão novamente
percorridas. Desta vez quem vai percorrer esses caminhos não serão os camponeses
liderados pelo líder religioso, mas pessoas ligadas ao meio acadêmico, interessadas em
manter viva a memória da mais expressiva experiência coletivista de natureza religiosa
e popular, ocorrida no século passado. Os peregrinos que farão este percurso montados
em animais preferem ser chamados de “Cavaleiros da Santa Cruz do Deserto”, numa
alusão ao nome do sítio que era chamado de Caldeirão da Santa Cruz do Deserto.

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O lugar era uma comunidade auto-suficiente economicamente no que diz respeito à
fabricação de instrumentos e ferramentas de trabalho utilizados nas oficinas, lavoura e
no beneficiamento do consumo alimentar. O trabalho realizado pelo Beato durante dez
anos, de 1926 a 1936, pode ser visto como uma reforma agrária de origem popular. Ao
mesmo tempo em que crescia a fama do Caldeirão, transformado em celeiro agrícola do
Cariri e santuário de oração do Nordeste, cresciam também as atenções das autoridades
que viram naquele grupo social uma ameaça à ordem constituída. A solução foi
expulsar das terras, que pertenceram ao Padre Cícero, o Beato e seus seguidores.

José Lourenço, que conseguiu fugir de Caldeirão, fundou mais tarde nova comunidade
na Serra do Araripe. Embora fosse pacífica, alguns seguidores, pregavam a luta armada
de resistência. A nova comunidade foi destruída e mais de mil camponeses foram
mortos.

Fonte: www.urca.br

CEARÁ ENTRE 1945 E 1986:

O período de 1945 a 1986 tem três fases muito distintas. A primeira, que
termina em 1964, denominada redemocratização, se caracteriza pelo retorno da vida
democrática no País após a ditadura do Estado novo quando Getúlio Vargas aproveita
para potencializar dois partidos: PSD (Partido Social Democrático) e o PTB (Partido
Trabalhista Brasileiro). Ela foi dominada pela explosão da população das grandes
cidades, fruto da migração rural-urbana e encontramos o incipiente processo de
industrialização brasileira tendo como correspondente, no plano político, o fenômeno do
populismo. A segunda fase começa com o movimento político de 1964 e se caracteriza
pela “modernização conservadora”, uma modernização promovida pelo Estado
autoritário, e vai até o Governo Geisel, que completa o processo de abertura. A última
fase, iniciada com Sarney, se caracteriza pela convocação da nova constituinte e de
eleições diretas para presidente da República.

A dinâmica partidária (1945-1964)

Uma das novidades da política nacional advinda com a redemocratização de


1945 foi exatamente à existência da partidos políticos nacionais. Na primeira República,
os partidos políticos eram notoriamente estaduais. Nessa nova conjuntura vários grupos
como a UDN, o PSD e o PTB foram aos poucos recuperando e firmando o partidarismo
no novo cenário político do Estado, muito embora em um primeiro momento, fosse
nítida a fragilidade política desses partidos, fruto exatamente desse processo de
reorganização partidária.
Os maiores partidos cearenses que surgem nesse período, seguem uma
tendência nacional: o PSD, surgido da burocracia do estado novo, e a UDN (União
Democrática Nacional), uma oposição das oligarquias levantadas a partir do manifesto
mineiro de 1943.Um segundo grupo de partidos, o PSP (Partido Social Progressista) e o
PTB, servem de liderança alternativa na dinâmica política cearense. Eles correspondem
à resposta cearense ao populismo daquele e têm características próprias. Não são,
portanto, dois partidos com pesos semelhantes, mas um se fortalece na primeira eleição
e se apresenta em decadência em eleições posteriores, e o outro, o PTB, em ascensão

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nas duas ultimas eleições. Essa realidade mostra o declínio da liderança de Olavo
oliveira, do PSP, e a liderança em ascensão de Carlos Jereissati, do PTB.
Olavo Oliveira era um político tradicional e um burocrata do Estado Novo, Em
1947 pertencia à direção nacional do PSD. Ele recebeu a incumbência de ser o
organizador daquele partido no Ceará. Mas encontrando resistência no Estado por parte
do interventor Menezes Pimentel e seus seguidores, rompeu com o PSD e articulou a
criação do Partido Social Progressista (PSP) que, em São Paulo, gravitava em torno de
Ademar de Barros.
Dos partidos que alternavam no poder, a UDN surgiu da oposição natural ao
Estado novo e, no caso do Ceará, a LEC (Liga Eleitoral Católica). Esse partido possuía
dois ramos bem distintos no Estado: Um liderado no sul pela família Távora, tendo
como figura representativa Fernandes Távora, e outro ramo, na região norte, liderado
pelo Dr. José Sabóia de Albuquerque, juiz de direito em sobral.
Na eleição de 1947, a UDN, vitoriosa, elege o juiz Dr. Faustino de
Albuquerque para o governo do Estado. Não conseguindo assim o Dr. Menezes
Pimentel, no poder desde 1935, eleger seu sucessor pelo PSD. Foi também derrotado
anteriormente na disputa pelo Senado Federal, em 1945, quando não consegue se eleger
senador junto com César Cals de Oliveira. Naquela eleição os senadores eleitos pela
coligação UDN-PSP foram: Plínio Pompeu, genro de Sabóia, pela UDN, e Olavo
Oliveira, pelo PSP. Essa coligação vencedora, contudo, não durou muito tempo. Olavo
Oliveira rompeu com o partido coligado, e com o governador. O principal motivo era
sempre os recursos escassos a distribuir: cargos e funções.
Na eleição de 1950, o partido vencedor foi a oposição ao governador,
representada pelo PSD. Dr.Olavo Oliveira, senador do PSP e um dos responsáveis por
esse desempenho do PSD, elege quatro deputados estaduais e um federal, enquanto o
PTB ainda permanência um partido inexpressivo, já dirigido por Carlos Jereissati,
elegendo apenas um deputado estadual, enquanto o pequeno PR (Partido Republicano)
elegeu dois. Neste momento foi realmente o PSP o partido fiel da balança e decisivo
para a eleição do governador. Raul Barbosa, o governador eleito, era um tecnocrata e
professor da Faculdade de Direito do Ceará. A vitória do PSD, na eleição de 1950 em
coligação com o PSP, foi quase empatada e, por isto mesmo, não correspondeu a uma
folgada maioria do governo na assembléia legislativa. Raul Barbosa teve, como
Faustino de Albuquerque, que cooptar deputados da oposição, no caso da UDN. Esse
comportamento, contudo, passou a sr normal dentro deste quadro de convivência de
elites civis frágeis.
Chico Monte, uma antiga liderança da UDN, agora no PDS, rompe com o
Governador e com o partido indo engrossar as fileiras do então inexpressivo PTB. O
PSP com este crescimento inicial do PTB viu se assim enfraquecido na eleição de 1954,
enfraquecimento este agravado principalmente porque seu líder, Olavo Oliveira, não
conseguiu se reeleger senador, perdendo para Fernandes Távora da UDN.
A eleição de 1954 também traz a vitória do partido de oposição ao governo, e
uma liderança não ligada diretamente o meio rural, Paulo Sarasate da UDN. O
concorrente era Armando Falcão representante da ala jovem do PSD, indicado pelo
PSP. Este apesar de perder a eleição assumiu a cadeira de Deputado Federal, mandato
que passou a exercer pela segunda vez, sendo inclusive líder do governo. O vice de
Paulo Sarasate foi Flavio Marcilio do PTB, advogado e pessoa de confiança de Carlos
Jereissati. Em 1954, o partido que fez o papel de fiel da balança para a vitória da UDN,
foi o PTB e não mais o PSP.
A força da dissidência da zona norte, representada por Chico Monte, fez o
PTB cearense mais forte. Na eleição de 1958, é a vez de Sobral eleger Governador um

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de seus representantes. Naquele momento, o Presidente Juscelino Kubitschek, do PSD,
sofria uma oposição cerrada da maior parte da UDN liderada por Carlos Lacerda. Não
era o caso do partido no Ceará. Seu representante no congresso, Virgilio Távora,
integrava uma dissidência do seu partido. Távora, no Ceará, foi o concorrente de
Parsifal Barroso pela UDN, e foi derrotado na eleição de 1958. Parsifal Barroso, quando
indicado para concorrer ao governo pelo PTB em coligação com o PSD, tinha total
apoio também de Juscelino Kubitscheck. A vitória da coligação PSD-PTB não se
refletiu no legislativo, pois UDN e PSD elegeram quase o mesmo número de deputados
estaduais e federais. E o PSP e PTB também empataram tecnicamente em número de
eleitos.
A característica dessa eleição de 1958 no Ceará e que o PTB já despontava
como u partido em ascensão e a grande liderança não estava apenas na zona norte do
Estado, mas em Fortaleza na figura de Carlos Jereissati. Ele recebeu a simpatia de
Getúlio e de João Goulart. O governo de Parsifal Barroso teve então a concorrência não
só dos opositores tradicionais da UDN no plano da administração estadual, mas também
teve que administrar uma luta interna pelo controle do seu partido, o PTB, com a força
emergente de Carlos Jereissati. Em pouco tempo alegando desentendimento com este,
Barroso rompe com o PTB para entrar no, até então inexpressivo, PTN (Partido
Trabalhista Nacional). A realidade partidária já começava, assim, a se estruturar e duas
lideranças começavam a se fortalecer: Carlos Jereissati, por tutela do Governo Federal,
e Virgilio Távora, também apoiado pelo mesmo governo.
A eleição mais representativa dos aspectos estruturais das elites políticas
cearenses aconteceu no ano de 1962. Até então, como já examinamos, nenhum
governador conseguiu eleger seu sucessor, esta eleição parece ter sido uma exceção. O
governador Parsifal Barroso, do PTN, pôde reivindicar ter tido a paternidade da
indicação do candidato vitorioso ao governo do Estado. Mas quem ele indicou? Nada
mais do que seu opositor derrotado na eleição de 1958, o então ministro da viação do
governo parlamentar de João Goulart, Virgilio Távora. Não foi, portanto um candidato
que desse continuidade ao grupo político de Barroso.
No inicio das Articulações para a eleição de 1962, o deputado do PTB Flavio
Marcilio, inconformado com a exclusão do seu nome da lista dos candidatos, cria o PRT
fazendo depois, em um jornal local, uma declaração de apoio à candidatura de José
Flavio Costa Lima. A UDN por sua vez, não aceitava a proposta do PTB, de Carlos
Jereissati, que, ciente de sua importância, indicava a si mesmo para senador numa
possível coligação, e indicava Fausto Cabral para vice-governador. Parsifal Barroso,
inconformado então com a derrota que Jereissati lhe impôs no PTB, interfere no
processo, e assume imediatamente a proposta de uma coligação da UDN com o PSD e o
partido que ele então sustentava: o PTN. A chapa aceita, depois de muito debate, ficou
assim formada: Governador Virgilio Távora; Vice para o PSD com nome indicado por
José Martins Rodrigues (o indicado era Joaquim de Figueredo Correa); senadores
escolhidos, Dr. Tancredo Halley de Alcântara, e Wilson Gonçalves. Esta chapa eleitoral
ficou conhecida como união pelo Ceará. O PTB, o PSP, o PRT e o PR, partidos que
eram o fiéis da balança, lançaram um candidato alternativo ao governo, também em
coligação, Adahil Barreto, dissidente da UDN para governador e Fausto Cabral para
vice. Para o senado os lideres do PSP e do PTB, respectivamente Olavo Oliveira e
Carlos Jereissati. Era a primeira vez que estes partidos se coligavam para enfrentar os
dois partidos mais tradicionais.
Pode-se perceber que a vitória desse esforço das elites cearenses não foi plena.
A união pelo Ceará elegeu o governador, o vice e um senador. Mas perdeu a outra
cadeira para o senado, que ficou para Jereissati. Com essa eleição, acontece a

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consolidação de duas lideranças estaduais muito representativas: Carlos Jereissati e
Virgilio Távora. Estas são duas formas de lideranças diferentes entre si, mas
representativas de uma transição para a ideologia da modernidade, refletindo as idéias
de Celso Furtado e do Banco do Nordeste. Os partidos cearenses se estruturaram numa
sociedade que buscava o caminho para a modernidade que, naquela época, já era
identificada com a industrialização. A fragilidade estrutural das elites cearenses não
impediu que, com o apoio da ideologia nacional-desenvolvimentista, se fortalecessem
lideranças com as acima citadas.

O Ceará na Ditadura Militar

Após as eleições de 1962, dois acontecimentos contribuíram para novas


mudanças no quadro partidário cearense. O primeiro foi a morte de Carlos Jereissati, em
1963, sem deixar um sucessor político, seus filhos eram crianças nesse momento. O
segundo seria o golpe militar de 1964, que extinguia todos os partidos políticos,
legitimando apenas o bipartidarismo entre ARENA (Aliança Nacional Renovadora) e o
MDB (Movimento Democrático Brasileiro, partido considerado de oposição), e instituía
a eleição indireta para presidente, governadores e prefeitos das capitais.
Virgilio Távora teve o apoio do general cearense Castelo Branco, então
presidente, para continuar seu governo. Embora não conseguisse fazer seu sucessor. O
escolhido na sucessão do governo foi Plácido Aderaldo Castelo (1966-1971), eleito
indiretamente pelo regime militar. Apesar da alegação de falta de recursos, o que
resultou em diversos atrasos no pagamento do funcionalismo publico. Foi durante seu
governo, no espírito político de 64, que se fez obras grandiosas, como a construção do
Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), as rodovias Fortaleza-Aracati, Fortaleza-Crato e o
estádio Plácido Castelo conhecido como Castelão.

O Acordo dos Coronéis

A partir de 1971, o comando político do Ceará fica marcado pela presença de


coronéis no governo do Estado, sendo que César Cals, o coronel Adauto Bezerra e mais
uma vez Virgilio Távora, todos eleitos indiretamente, caracterizam, dentro do nosso
Estado, a política da ditadura militar que se evidencia em todo o País, atuando com
centralização política. O que pode ser percebido ao analisarmos o acordo entre esses
coronéis, objetivando a união da cúpula e a divisão das bases políticas entre eles, o que
restringia a atuação da oposição no estado, o então MDB. Este acordo costurado por
Virgilio Távora ficou conhecido como “acordo dos coronéis” ou “pacto dos
coronéis”.César Cals governou entre 1971 e 1975. Tecnoburocrata, Cals assumiu o
governo sem ser um militante político atuante, chegando a tal posto muito mais por sua
atuação em diversos outros cargos no campo administrativo. O prefeito indicado por
ele, uma prerrogativa desse período, foi também um técnico, o engenheiro Vicente
Fialho. Sendo o vice o coronel Humberto Bezerra, irmão gêmeo de Adauto Bezerra e
Virgilio Távora eleito senador.A sucessão do coronel César Cals, em 1976, foi tranqüila
devido ao acordo entre os coronéis. Era a vez do coronel Adauto Bezerra, tendo como
vice Waldemar Alcântara. A família Bezerra acabou consolidando-se politicamente no
estado, isso fica evidenciado quando os irmãos Bezerra são eleitos para todos os cargos
aos quais se candidataram, já durante o processo de abertura política a partir de 1974.

35
O governo Virgilio Távora e a crise dos coronéis

Com o fim do bipartidarismo, em 1979, a antiga arena passou a se chamar de


PDS (Partido Democrata Social), e o MDB de PMDB (Partido do Movimento
Democrático Brasileiro).
A primeira crise do acordo entre os coronéis surge na transição do governo de
Adauto Bezerra para o de Virgilio Távora. A chapa do PDS deveria ter como candidato
a senador o próprio Adauto Bezerra. Este teve receio de que virgilistas descontentes
com sua administração votassem massivamente no candidato do PMDB. Essa crise era
apenas um sinal de que o acordo só duraria dentro das regras da eleição indireta. A
grande novidade do período para o processo de legitimação do poder numa sociedade de
massa foi a introdução da televisão como instrumento de convencimento, com efeitos
imprevisíveis no processo eleitoral. A sociedade civil passava a ter um comportamento
eleitoral mais independente, sobretudo na zona urbana, mas, cada vez mais, essa
transformação atingia os movimentos rurais.
O “fantasma” do acordo dos coronéis era, pois, o pluripartidarismo que foi
institucionalizado em maio de 1985. Se o PMDB abrigava uma oposição, de varias
matizes, ao governo militar, incluindo vários partidos de esquerda. O PDS dividiu-se em
três: Virgilio Távora ficou no PDS, Adauto Bezerra liderou o PFL (Partido da Frente
Liberal), e César Cals no PSD (Partido Social Democrático). O cardo dos coronéis
tinha, pois, os dias contados. A escolha do sucessor de Virgilio Távora foi a hora
dramática para o acordo demonstrar sua fragilidade. Na disputa o presidente João
Batista Figueiredo interveio, e reuniu os coronéis com o ministro Leitão de Abreu, desta
reunião saiu um documento que ficou conhecido como “acordo de Brasília”. A chapa
ficou assim definida: Gonzaga Mota governador, Adauto vice, Virgilio Távora senador,
e César Cals indicaria o prefeito.Termina assim em um novo acordo, um novo pacto das
elites para dar sobrevida a política dos coronéis.
O governo de Gonzaga Mota era propício para o aparecimento de novos
atores. Estes iriam sair da organização da sociedade civil. A eleição de Maria Luiza, do
PT, para a prefeitura de Fortaleza em 1985, era mais um dado que indicava o vazio do
poder deixado pelos coronéis.

Fortaleza: Cultura e Lazer na segunda metade do Século XX

Ao analisarmos as formas de manifestação cultural em fortaleza e


principalmente a ocupação dos espaços destinados ao lazer, podemos identificar desde
já uma divisão social bem nítida entre aqueles que compõem a elite social local e
aqueles que formam as camadas mais populares. As condições de cultura e lazer dos
fortalezenses entre 45 e 60, passando para as décadas seguintes, deixam claras uma
divisão em Fortaleza, que passa a ser marcada também geograficamente, com espaços
ocupados maciçamente pela elite para lazer e moradia (geralmente locais mais
valorizados e mais bem estruturados) e o restante da sociedade seria exclusa dessa
vantagem, habitando locais destinados para as camadas mais pobres da cidade
(geralmente com condições de infra-estrutura bem inferiores).
Na década de trinta, o banho de mar, uma das sensações da cidade e ainda hoje
uma das principais formas de diversão, de lazer, ainda não era tido como lazer nos finais
de semana, fato que começava a mudar na década de 40. Já década de 50, era intensa a
movimentação de banhistas nas praias da cidade e em virtude dessa crescente procura,
principalmente pelas classes mais humildes, já se notava um certo incômodo da elite. As
famílias mais ricas reclamavam da “molecagem”, da “desordem” e da presença de

36
mulheres “sem reputação”, advindas das classes inferiores. Aos poucos, pólos foram
sendo demarcados, mesmo que sem nenhuma oficialidade. A praia de Iracema seria o
local das noites boêmias, como é até hoje, o Meirelles e arredores, local da elite que ia
se estabelecendo, e locais como Pirambú, Barra do Ceará e Mucuripe, iam sendo
ocupados pelas camadas mais pobres, tanto para moradia como para lazer.
Vários clubes e sociais como o Iate clube, o Ideal clube o Náutico foram se
constituindo em espaços sociais destinados a classe media e alta da cidade. O cinema
era também um outro espaço de lazer para quem tinha dinheiro para freqüentar os
cinemas como o Diogo e o São Luiz. Nota-se que a grande maioria dos habitantes não
tinham opções de lazer, a não ser em momentos raros como as festas públicas como o
carnaval, que ia aos poucos sendo privatizado também nos clubes.

O Governo das mudanças

A eleição para governador em 1986 teve um resultado inesperado: o coronel


Adauto Bezerra, apoiado pelas forças políticas até então dominantes no Estado, foi
derrotado por um jovem empresário que, pela primeira vez, concorria a um cargo
político. Iniciava-se, assim, um novo ciclo na política cearense, dominado pelo grupo de
jovens empresários que assumiu o controle do Centro Industrial Cearense (CIC)
liderados por Tasso Jereissati.
Tasso Jereissati representou a ascensão de um projeto político burguês baseado
neoliberalismo, formado principalmente pela burguesia industrial, sendo que a elite se
manteve, alterando apenas quem dela estaria no poder e também não podemos falar em
uma total exclusão das velhas oligarquias coronelistas locais do poder é obvio que elas
não teriam a mesma força de antes, no entanto, seria ingenuidade acreditar que não
exerceria mais nenhuma influência.
O domínio oligarca, a ditadura, e o coronelismo deixaram, no Ceará, muitos
problemas a nível social, de estruturação do Estado e ainda no que se refere a economia,
problemas que caberia a gestão Tasso Jereissati resolver. A alta taxa de analfabetismo,
de mortalidade infantil, e uma enorme divida externa. Uma total desorganização
administrativa da maquina publica, com funcionários fantasmas, atraso de salários, além
da miséria e dos crimes de pistolagem.
A primeira medida de Tasso fora a moralização do Estado. Vários funcionários
demitidos, varias ilegalidades foram punidas, o Estado passaria por uma tentativa de
saneamento financeiro.
A partir de então o governo cambebista (pois transferira o centro
administrativo para o Cambeba) passou a implementar seu projeto neoliberal tentando
abrir o Ceará para o investimento financeiro externo, e retirar do Estado a
responsabilidade de intervir e participar da disputa econômica, daí vem a idéia de
privatização das empresas públicas, tentou ainda, fazer da região um pólo de atrativo
turístico e ainda um pólo industrial interessante para a migração de industrias para o
Estado. O que geraria riqueza para o mesmo. Tudo muito interessante e até valido (com
exceção das privatizações) se não fosse o fato de Tasso se utilizar de um autoritarismo
muito forte, afastando os aliados que o apoiaram na sua candidatura, no caso PCB e o
PC do B, que logo migrariam para a oposição, não fosse pelo fato de sua política
privilegiar intensamente o setor industrial e conseqüentemente os que estavam no
comando no setor.
Apesar da queda da taxa de analfabetismo, da redução da mortalidade infantil,
da estabilização e organização do Estado, o governo Jereissati pode ser considerado

37
pouco atuante quanto ao aspecto social como um todo. A concentração de renda do
Ceará ainda é altíssima, poucos concentram a grande maioria da renda do estado,
enquanto a grande população vive em condições precárias. A pobreza intensificou-se, as
favelas continuam crescendo, a taxa de desemprego continua alta. As secas, apesar de
todo a tecnologia atual para se preparar para tais fenômenos, ainda assola os sertões
cearenses, fazendo a vida dos moradores do sertão uma eterna luta. A educação, apesar
do crescimento quantitativo de crianças na escola, ainda hoje apresenta problemas sérios
quanto a sua qualidade.
Por outro lado, cada vez mais industrias estrangeiras se instalaram no Ceará,
incentivadas pela mão-de-obra barata, pela isenção de impostos, pelos empréstimos de
terrenos para sua instalação, sufocando pouco a pouco, as empresas da região,
principalmente as de pequeno e médio porte.
Se por um lado a economia cresceu, o estado produziu mais, gerou riqueza,
desenvolveu o turismo, mostrou-se atraente para a visita e para os investimentos, saneou
suas estradas, modernizou suas entradas (construção do porto de Pecem, e
reestruturação do aeroporto Pinto Martins), por outro o Estado ainda se mostra um dos
mais pobres do País. Segundo o IBGE (1991), 98% dos chefes de família do Estado
ganham no Maximo até três salários mínimos, enquanto apenas 0,99% desses chefes
chegam a ganhar acima dos 20 salários mínimos, denotando um altíssimo nível de
concentração de renda.
Enfim, é inegável que o estado cresceu, mas é lamentável que esse
crescimento tenha favorecido e se concentrado nas mãos de uma minoria. Tasso
Jereissati possui três mandatos, o primeiro de 1987-1991, depois fez seu sucessor Ciro
Gomes 1991-1995, tendo seu segundo mandato de 1995-1998 e o terceiro de 1998-
2002. Durante sua carreira política, foi membro do PMDB, partido pelo qual como já
foi tido venceu sua primeira eleição, passando posteriormente para o PSDB no qual se
mantém até hoje.

Geografia do Ceará

Localização

O Estado do Ceará está localizado na Região Nordeste do Brasil, situando-se no


extremo oriental da América Meridional, quase totalmente inserido no "Polígono da
Seca", no semi-árido. Tomando-se por base seus pontos extremos, temos a seguinte
posição geográfica do seu território:

 Ponto extremo norte: Ponta de Jericoacoara


 Ponto extremo sul: BR-116 (Penaforte)
 Ponto extremo leste: Praia de Manibú (Icapuí) / Timbau (RN)
 Ponto extremo oeste: área de litígio CE/PI (Serra de Ibiapaba),

Estando colocado um pouco abaixo da linha do Equador, o Ceará tem sua posição
nitidamente tropical. Em sua configuração "triangular", "de um coração” limita-se a
oeste com o Estado do Piauí, a sul com Pernambuco, a leste com o Rio Grande do Norte
e Paraíba, e a norte com o Oceano Atlântico, formando com ele uma extensa moldura
litorânea de 573km.

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Área

O Estado do Ceará tem uma área de 146.348,3 quilômetros quadrados, onde sua
participação é da ocupação de 1,71% da área do Brasil e 9,37% da área que compreende
a Região Nordeste. Sua área ocupada por águas internas é de 0,8%.
A área de litígio do Ceará com o Piauí é de 2.977,4 quilômetros quadrados.

Clima e Temperatura do Ceará

Os aspectos climáticos predominantes no Estado do Ceará são:

 concentração das chuvas num curto período anual (de 3 a 5 meses), com uma
média de precipitação de 775mm e um coeficiente de variação de 30%;
 médias térmicas elevadas, variando de 23º a 27º C;
 forte insolação, numa média de 2.800 h/ano;
 umidade relativa do ar com 82% no litoral e inferior a 70% no sertão.

A regularidade do clima dominante limita a potencialidade dos recursos naturais


conserváveis (sol, vegetação, hidrografia), imprimindo um caráter de vulnerabilidade às
atividades produtivas.
Tratando-se do clima no espaço estadual, constata-se que a presença de fatores como a
altitude (que chega até 1.100m) e a proximidade do mar cria as condições climáticas
mais favoráveis, com temperatura amena e regime pluviométrico mais regular. Assim,
as temperaturas médias observadas são as seguintes:

 Litoral: com clima quente e úmido, suas médias térmicas são de 26ºC a 27ºC,
com máximas de 30ºC e mínimas de 19ºC;
 Serras: com clima frio e úmido, têm médias térmicas em torno de 22ºC, com
máximas de 27º e mínimas de 17ºC.
 Sertão: de clima semi-árido e médias térmicas não definidas, tendo média das
máximas entre 32ºC e 33ºC, e média das mínimas de 23ºC (nas noites);

Topografia

Na configuração do relevo do Ceará, a progressão topográfica evolui de 0(zero)


a 1.000m de altitude, em que se podem distinguir nitidamente as planícies litorâneas, as
depressões sertanejas de altitudes inferiores a 200m, os pés-de-serra que ficam entre 200
e 400m, e as serras, serrotes e planaltos, que chegam a alcançar uma altitude de 400 a
1.000m acima do nível do mar.

O ponto culminante do Ceará é o Pico do Oeste, com 1.145m de altura,


localizado na Serra das Matas, no limite Santa Quitéria/Monsenhor Tabosa. Seguido
dele, vem o famoso Pico Alto, situado em Guaramiranga, com 1.114m, grande atração
turística devido a bela paisagem unindo serra-sertão que é observada do alto da serra de
Guaramiranga.

39
Geologia

De um modo geral, a geologia do Ceará pode ser dividida em duas grandes


unidades distintas: o cristalino (embasamento), composto por rochas antigas e que
ocupam cerca de 74% do seu território, e o sedimentar.

Vegetação

A cobertura vegetal do Estado do Ceará, a flora, compõe-se predominantemente das


seguintes formações:

 Caatinga: do tupi, mata branca, espalha-se por todo o espaço ocupando cerca de
70% de sua área. Suas características são de porte arbustivos, troncos retorcidos,
folhas pequenas e caducifólias, xerófila (adaptada à escassez d'água) e raízes
profundas
A caatinga hipoxerófila, que tem maior porte e densidade, aparece nas faixas de
menos rigor climático, tais como a baixada litorânea e o sopé da Ibiapaba.
A caatinga hiperxerófila é a vegetação das regiões mais áridas, apresentando-se
mais baixas e rala, bem como com maior quantidade de espécies espinhosas;
Tem como algumas de suas espécies: algaroba, mulungu, aroeira, marmeleiro,
juazeiro, pau-branco, sabiá e predeiro. As espécies cactáceas são: xique-xique,
palma, facheiro e mandacaru. Seu desequilíbrio está nas queimadas e
desmatamentos (retirante de lenha).
 Formações Florestais: em meio a aridez predominante, destacam-se as manchas
verdes das florestas que cobrem as serras e os vales úmidos;
 Vegetação de dunas, mangues e tabuleiros: ocupam espaços pouco
representativos na área total do Estado. São predominantemente litorâneos.
- A vegetação de mangue é encontrada em áreas sob influência das marés, tendo
como características porte arbóreo/arbustivo, pobre em variedade (mangue preto,
mangue branco e mangue vermelho), higráfila (adaptada à umidade) , halófita
(adaptada a salinidade) e raízes suspensas. Sua importância está na manutenção
do clima, evita o alagamento das áreas adjacentes, alimentação e reprodução da
fauna marinha, pesca de peixe, caranguejo, camarão, e matérias-primas como
madeira (construção de moradias, produção de carvão artesanato) e cipós
(artesanato). As espécie animais encontradas são: garças, galinha d'água,
martim-pescador, beija-flor, lavandeira, gaivotas, etc. Seus desequilíbrios estão
na especulação imobiliária, desmatamentos, queimadas e despejos de esgotos e
lixo;
 Vegetação ciliar ou mata de galeria: ocorre como ocorrência dispersa em todo
o Estado, ocupando os vales úmidos dos rios e riachos, formando densos
povoamentos, nos quais a carnaúba, a oiticica, o juazeiro e o mulungu são
espécies dominantes.

Aspectos Gerais da Economia Cearense

A economia do Ceará é uma das que mais cresce nos últimos anos entre os
estados do Nordeste. Sua industrialização vem superando limites, onde o governo tem
trabalhado bastante na implantação de várias indústrias no interior do Ceará, através de

40
incentivos fiscais. O turismo também não fica para trás. É um dos maiores
investimentos do Ceará, que vem atraindo cada vez mais turistas, e também por abrir
vários setores da economia, como na indústria hoteleira, que tem vários ramos como
restaurantes, lavanderias, serviços de limpeza, etc.

Os destaques da economia cearense são:

Artesanato:

A imagem do Ceará está para sempre ligada a figura da mulher rendeira. A renda,
também conhecida como renda-de-bilbo ou renda da terra é a atividade exercida por
mulheres nas comunidades interioranas e sua produção está distribuída
principalmente na faixa litorânea.

 O artesanato de cestarias e do traçado no Ceará é dominado pelo emprego da


palha de carnaúba, do bambu e do cipó, para a confecção dos mais variados
objetos, tais como: chapéus, bolsas, cestas, etc. Os núcleos mais destacados
estão nos municípios de Sobral, Russas, Limoeiro do Norte, Jaguaruana, Aracati,
Massapé, Crateús, Baturité e Camocim.

A cerâmica cearense, de influência portuguesa, indígena e africana, se presta


para fins utilitários, decorativo e lúdico. Além de Fortaleza, os centros mais
representativos são: Cascavel, Ipu e Juazeiro do Norte.

O Ceará possui uma antiga tradição de artigos artesanais feitos de couro. A


significativa participação da pecuária e exportação de couros na nossa economia
explica a rica variedade de peças artesanais produzidas com esse material. Os
principais núcleos produtores são: Fortaleza, Jaguaribe, Crato e Juazeiro do
Norte.

A artesanato têxtil do Estado tem como principal característica a produção de


redes maciçamente localizadas nos municípios de Fortaleza e Jaguaruana.

Agricultura

A agricultura cearense apresenta-se, de uma maneira geral, em forma de


culturas combinadas, estabelecendo padrões variados em cada município.

No Sertão, a combinação como o algodão/milho/feijão não mostra


apenas a maior participação desses cultivos na área cultivada, mas traduz
o sistema com que são praticadas, em consorciação. A prática está
intimamente ligada ao fácil manejo de culturas de subsistência, uma vez
que permite a colheita de vários produtos dentro de uma mesma área
com o emprego dos mesmos tratos culturais e uma melhor utilização dos
restos dessas culturas para a pecuária extensiva, no mesmo ano.

Já no Litoral, distingui-se, dentro deste conjunto, pela presença do


cajueiro fazendo parte das combinações com lavouras alimentares de

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feijão, milho e mandioca, em regime de sequeiro e em regime irrigado
com o maracujá, melão e melancia.

Nos perímetros irrigados, destaca-se, notadamente, o monocultivo de


culturas alimentares produtoras de grãos, como o milho, o feijão e o
arroz, obedecendo em determinados casos, a rotação de culturas, nas
áreas dos módulos. Ressalte-se o monocultivo da cultura de cana-de-
açúcar e o policultivo de frutíferas como a banana, limão, laranja,
maracujá e ainda de certas olerícolas como melão e a melancia.

Pecuária

A história do boi no Nordeste continua a ser uma história viva. No Ceará,


ainda é uma de suas culunas econômicas. Nos séculos XVIII e XIX foi a
sua grande preocupação, a indústria pastoril. A principal mercadoria
eram os rebanhos. Mercadoria de condições excepcionais: ela mesma era
o valor, ela mesma transportava a si própria, ela mesma era o frete.

Uma das características da pecuária cearense é a diversidade de seus


rebanhos, que incluem também grande número de caprinos, eqüinos e
suínos, tendo inclusive o Estado condições excepcionais para o
desenvolvimento da caprinocultura.

As perspectivas neste campo para novos investimentos apresentam-se


bastante alentadoras, dispondo o Ceará de vastas áreas apropriadas à
expansão, inclusive do setor avícola, onde o Ceará ter revelado um grau
de desenvolvimento bastante expressivo, ocupado posição de destaque a
nível regional.

Extrativismo Vegetal

O extrativismo vegetal reveste-se de fundamental importância para a


nossa economia, muito embora os recursos disponíveis não venham
sendo explorados na plenitude dos seus potenciais. A ausência do
emprego de técnicas de manejo, ou ainda a inadequação destas, muito
tem contribuído para a ocorrência de pequenos índices de
desenvolvimento ou mesmo para a estagnação do setor, ainda que a
tecnologia utilizada na fase final do beneficiamento dessas matérias-
primas, tenham alcançado os mais altos níveis do Estado.

População

A população total do Estado de CEARÁ é de 7.430.661 de habitantes, de


acordo com o Censo Demográfico de 2000, realizado pelo IBGE. A Densidade
Demográfica é de 50,91 habitantes por km².

A área é de 145.712 km², representando 9,37% da Região Nordeste e 1,71% de


todo o território brasileiro.

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O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,7 segundo o Atlas de
Desenvolvimento Humano/PNUD (2000).

Pirâmide Etária

Com uma base larga e um topo estreito, a pirâmide etária cearense mostra que o
predomínio da faixa de crianças e jovens, e uma diminuição gradativa à medida que
aumentam as idades.

Distribuição da População

Devido às diferenciações regionais dentro do próprio Estado, a população se distribui


irregularmente, apresentando um predomínio de baixas densidades.Essas desigualdades
populacionais são observadas entre litoral, serras e sertão.

O Sertão, a mais extensa região cearense, apresenta baixa densidade demográfica,


explicado pelas condições físicas desfavoráveis à ocupação e ao desenvolvimento. Nas
áreas de serras e do litoral ocorre um adensamento mais expressivo devido às condições
naturais serem mais favoráveis.

EXERCÍCIOS.

01 (UFC) Sobre a economia cearense entre os períodos colonial e imperial, marque


a opção certa:

a) O trabalho de vaqueiro, no Ceará colonial, era ocupado por homens livres que
percebiam salários.
b) A cultura algodoeira foi responsável pelo povoamento da terra cearense a partir
do século XVI.
c) As oficinas de charque e a comercialização da carne seca fizeram do cariri a
principal região econômica do Ceará colonial
d) A predominância da exportação do Algodão pelo porto de Fortaleza contribuiu
para consolidar a capital como principal centro urbano do Ceará no século XIX
e) O café, no Ceará, só foi cultivado as regiões de Sobral e Camocim, e não teve
nenhuma expressividade na economia exportadora cearense do século passado.

02 (UFC) Assinale as opções corretas a respeito do Ceará Colonial:

01. O estabelecimento de engenhos no Cariri no começo do século XVI marca o


processo de colonização da capitania cearense
02. Enquanto os Holandeses se fixaram às margens do rio Ceará, construindo o
forte de são Sebastião, os Portugueses instalaram-se próximo ao riacho Pajeú,
fundando o forte de Schoonenborch;
04. A pecuária, a agricultura centrada no algodão, o trabalho escravo e o regime
de parceria formam a base da ocupação do espaço cearense.

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08. A falta de catequese missionária no Ceará tornou mais longa e árdua a
dominação portuguesa sobre as tribos indígenas cearenses
16. O comércio do charque e do couro pelo porto de Aracati fez desta vila o
principal centro econômico do Ceará
32. A criação de gado possibilitou a ocupação do interior cearense, e do couro se
faziam desde mobília a vestuário, utensílios domésticos e artefatos de trabalho.

03 (UFC-1992) Nas comemorações dos 500 anos da América, priorizam-se as


discussões sobre as minorias étnico-raciais. Tratando-se das questões indígenas, no
Ceará, constatamos que:

01. As poucas tribos existentes à época da colonização não foram objeto de


massacre dos colonizadores Europeus.
02. Os índios cearenses assimilaram os traços da cultura dos colonizadores sem
oferecer resistência
04. Os índios remanescentes, tapebas e tremembés, vivem ,hoje, em terras
demarcadas pela FUNAI
08. Os índios tapebas vivem o processo de empobrecimento das populações
periféricas das grandes cidades
16. Os aldeamentos organizados pelos missionários jesuítas contribuíram para o
processo de desaculturação do indígena.

04 (UFC) Explique o processo de ocupação do espaço cearense no período colonial,


relacionando sua economia com a da zona da mata nordestina.

05 (UFC) Sobre a organização política, econômica e social da capitania do Ceará, é


correto afirmar :

01. A ocupação do espaço geográfico cearense, no período colonial, deveu-se


basicamente à atividade pastoril.
02. Nas fazendas de gado, as chamadas “fazendas de criar”, situadas geralmente
nas ribeiras dos rios, girava a vida sócio-econômica da Capitania do Siará
Grande.
04. As oficinas de carne – as charqueadas- responsáveis pela produção da carne
de Sol, instalavam-se preferencialmente no litoral cearense, sendo Aracati o
principal escoadouro da produção.
08. A base do poder local estava concentrada nas mãos dos proprietários de
gado, que se tornaram os primeiros coronéis do sertão, impondo a todos (
índios escravizados, negros escravos e mestiços) o seu prestígio e mando.
16. O desenvolvimento da Pecuária no sertão cearense favoreceu o
surgimento das primeiras vilas, tais como : Caucaia, Parangaba,
Messejana e Aquiraz.
32. As vilas do Ceará Colonial, símbolo do poder local e da municipalidade
continham uma organização político- administrativa assentada no
pelourinho

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06 (UFC) Durante o período colonial, a Pecuária foi a principal atividade
econômica do Ceará. A predominância da atividade criatória e de um de seus
produtos – o Couro – foi tão marcante, à época, no sertões nordestinos,
sobretudo no cearense, que acabaram por formar, no dizer de Capistrano de
Abreu, uma civilização do couro;

A) Cite dois Fatores que concorreram para o desenvolvimento d Pecuária no Ceará


B) Explique por que o modo de vida sertaneja foi chamado de “civilização do
couro” ou “época do couro”

07 Já não existem aqui no Ceará índios ou bravios ( CEARÀ. Relatório apresentado


à Assembléia Provincial do Ceará pelo Exm. Sr. Dr. José Bento da Cunha
Figueiredo Júnior. Ceará: Typographia Cearense, 1863. P. 19 )

Relacione o processo d ocupação das terras com o extermínio da população


indígena.

08 (UECE) “Com o Algodão, rompe-se o exclusivismo pastoril no Ceará. A base da


economia passa a ser assentada na Agricultura, com a pequena disponibilidade
de Capital atraído para o financiamento da referida lavoura de exportação (
GIRÂO,Valdelice Carneiro, As Charqueadas in SOUZA, Simone – História do
Ceará ( Vários autores, Fortaleza, UFC/Fundação Demócrito Rocha, 1989,pag
75)
O texto se refere à economia cearense do período

a) Regencial
b) Republicano
c) Colonial
d) Do Estado Novo.

09 (UECE) “O Binômio Gado-algodão vai Ter em Fortaleza seu grande centro,


assim como a Cana-de-açúcar teve o Crato e a carne de sol teve Aracati.(SILVA,
José B. da. Os incomodados não se retiram; uma análise dos movimentos sociais
em Fortaleza. Fortaleza: Multigraf editora, 1992.p22)

A Produção do algodão, no século XIX, foi de grande importância para a


economia do Ceará e para o crescimento de sua capital.

a) durante o bloqueio continental imposto aos ingleses por Napoleão


b) durante a guerra da Secessão nos EUA (1861-1865)
c) logo após a transferência da família real portuguesa para o Brasil em 1808
d) com a abolição da escravatura no Ceará em 1883

10 (UNIFOR) Patrocínio deu ao Ceará o nome de Terra da Luz. O Imperador


aplaudiu comovido; e até Victor Hugo mandou da França sua saudação ao
cearense.
Os fatos a que o texto se refere relacionam-se com a:
a) Abolição da Escravidão em toda a província em 25 de Março de 1884.

45
b) Vitória Cearense na luta contra as revoltas provinciais no período
regencial
c) Comemoração da morte do Padre Mororó, herói cearense, em 30 de Abril
de 1826.
d) Proclamação de Tristão Gonçalves como Presidente da Província
cearense.

11 (UFC) Considerando-se a economia do Ceará, na Segunda metade do século


XIX, podemos afirmar, corretamente:

a) Apesar de o Ceará contar com uma diversidade de produtos do setor


primário, estes não figuravam nas exportações.
b) A principal fonte de receita da província era a exportação de artesanato,
principalmente objetos de couro e madeira.
c) O consumo interno de Algodão, no Ceará, sobretudo na produção de
tecidos grossos para escravos, impossibilitava qualquer excedente para
exportação.
d) O charque, produzido inicialmente em pelotas (RS), logo após sua
técnica de produção chegar ao ceará, passou a figurar na pauta de
exportação.
e) Dentre os produtos de exportação da província do Ceará figurava o café,
que tinha como principal região produtora a Serra de Baturité.

12 (UFC) No que concerne ao processo histórico cearense durante o século XIX, é


correto afirmar:
01. Somente no século em questão o cultivo do algodão se expandiu pelo
interior do Ceará, tornando-se o principal produto cearense de exportação
02. A confederação do Equador (1824), rebelião ocorrida no Nordeste e que
contou com a participação do Ceará, tinha por objetivo derrotar as
últimas resistências de portugueses contrários à independência do Brasil.
04 Os grupos provinciais que lideraram a Confederação do Equador eram
constituídos por proprietários rurais descontentes com o centralismo do
poder e com a política fiscal de D. Pedro I em relação às províncias
nordestinas.
08 Apesar das crises que afetavam a produção rural e a mão-de-obra escrava
na província, o Humanitarismo das sociedades emancipadoras,
patrocinadas pela Igreja, foi a razão do Pioneirismo da abolição da
Escravatura no Ceará.
16 O surgimento de agremiações literárias e científicas ( Padaria Espiritual,
Instituto Histórico etc) em Fortaleza a partir de 1870, reflete o processo
de urbanização da capital e a constituição de camadas médias urbanas
liberais e letrados.
32 As secas e as más condições de vida e trabalho no sertão, além de se
tornarem temas centrais na literatura local, também provocaram maciça
migração para a região amazônica.

46
13 (UFC/95.1) Durante o período colonial, a pecuária foi a principal atividade
econômica do Ceará. A predominância da atividade criatória e de um de seus
produtos — o couro — foi tão marcante, à época, nos sertões nordestinos,
sobretudo no cearense, que acabaram por formar, no dizer de Capistrano de Abreu,
uma “civilização do couro”,

a) Cite 2 (dois) fatores que concorreram para o desenvolvimento da pecuária no


Ceará;

b) Explique por que o modo de vida sertaneja foi chamado de “civilização do


couro.

14 (UFC/97) “Para o ano de 1823, a população do Ceará foi calculada em,


aproximadamente, 200.000 habitantes, dos quais 20,000 escravos, ou seja, apenas
10% do total. Meio século depois o primeiro recenseamento geral do país, o de
1872, apontou, na província, 641.850 habitantes, sendo os escravos 25.727, o que
correspondia a 4% do total.” (TAKEYA, Denise. Europa, França e Ceará: origens
do capital estrangeiro no Brasil. São Paulo~riatal: Hucitec/Ed. UFRN, 1995, p.
101)

Os dados referentes à utilização da mão-de-obra escrava na economia cearense do


século XIX, contidos no texto, podem ser explicados pelo(a):
a) extinção do tráfego negreiro, que estimulou o deslocamento de parte da mão-de-
obra escrava da economia local para as Províncias do Sul;

b) migração de grandes proprietários de terras para outras Províncias, levando


consigo os seus escravos;
c) desenvolvimento da cultura algodoeira, que absorvia mais trabalhadores
escravos do que livres;

d) ocorrência das cheias periódicas, que afetavam consideravelmente a produção


agrária da Província;
e) declínio das charqueadas, cuja mão-de-obra predominante era constituída de es-
cravos.

15 (UFC/2000 — 2~ Fase) Leia, com atenção, o texto abaixo e depois responda ao


que se pede:

“As secas de 1777-78, 1790-93 são apresentadas, (...) como causa única dos
primeiros impasses desenvolvimentistas do criatório do Ceará, e pela falência das
charqueadas. (...) Não deve ser esquecido, porém, que naquele período o Ceará não
apenas perdeu parte do rebanho e ganhou um competidor no comércio da carne
seca; um outro fato foi acrescido à economia cearense, a partir daí (...)“ (Fonte:
GIRAO, Valdelice Carneiro — As Oficinas ou Charqueadas no Ceará. Fortaleza:
Secretaria de Cultura e Desportos’ 1984, p. 127).

a) Explique o que eram as charqueadas;

47
b) Analise o outro elemento responsável pela falência das charqueadas,
considerando o contexto histórico.

16 (UECE/97.2) Sobre o processo de ocupação da costa cearense durante o século


XVII, pode-se afirmar corretamente que:
a) os portugueses aliaram-se aos indígenas que habitavam essas terras e
construíram fortes apenas para defender os centros de comércio do pau-brasil;
b) a presença portuguesa no Ceará tem a ver com a ocupação de Pernambuco pelos
franceses e do Maranhão pelos holandeses;
c) o litoral foi intensamente disputado por índios e forças militares de várias
potências européias, e várias fortificações foram construídas por portugueses e
holandeses;
d) a conquista do litoral cearense foi efetuada por motivos econômicos, já que o
cultivo da cana-de-açúcar estava bastante desenvolvido e o açúcar necessitava
ser transportado diretamente para Portugal.

17 (UNIFOR/95.1) Em 1603 ocorreu a primeira tentativa de ocupação do


território do Ceará e do Maranhão, que foi:
a) incentivada pelo governador geral Diogo Botelho.
b) facilitada por Martim Leitão.
e) agilizada por Tomé de Souza depois da introdução do gado.
d) acompanhada por grande número de padres jesuítas.
e) liderada pelo governador geral D. Diogo de Meneses.

18 (UNIFOR/95.l) Depois do domínio holandês, a capitania do Ceará


a) proclamou a autonomia de Sergipe, em 1824.
b) permaneceu sob a tutela de Salvador até 1822.
e) foi controlada pelos franceses até 1817.
d) ficou sob a autoridade de Pernambuco até 1799.
e) passou para as mãos dos ingleses em 1789.

19 (UNIFOR/97.2) A Capitania do Ceará, depois do domínio holandês, ficou sob a


autoridade:
a) do Maranhão, que depois da seca que durou de 1790 a 1794 viu a devastação de
seus rebanhos, acabando com a carne-seca.
b) de Pernambuco, só recuperado sua autonomia em 1799.
c) da Bahia e com a dinamização das atividades culturais, intensificaram-se os
desejos de libertar os escravos e proclamar a República.
d) do Piauí, só recuperando sua independência em 1822 quando o Brasil se libertou
de Portugal.
e) do Paraná, quando foi declarada extinta a escravidão nas terras cearenses.

20 (UNIFOR/00.l) Colonos portugueses, apoiados por expedições militares, começaram


a ocupar o Ceará por volta de 1610. O objetivo era proteger a Capitania criada em
1534, dos ataques de.
a) franceses, poloneses e árabes.
b) franceses, holandeses e ingleses.

48
c) alemães, belgas e suíços.
d) espanhóis, italianos e franceses.
e) alemães, russos e noruegueses.

21 (UFC/94.2) A consolidação de Fortaleza corno centro político econômico e


administrativo a partir da segunda metade do século passado verificou-se por (pelo):

1. Sua condição de centro coletor e exportador de algodão.

2. Sediar os principais serviços da administração pública.

4. Ser a capital da Província e cidade portuária.

8. Ter sido a primeira vila estabelecida no Ceará.

16 Desenvolvimento do comércio exportador.

22 (UFC/96.l) “(...) a EFB (Estrada de Ferro Baturité) surge quando o Ceará [vai-se in-
corporando] ao mercado internacional através de seus produtos (...), ora sofre as in-
fluências do mercado externo, ora as conseqüências da política nacional e ora a
interferência de fatores internos quer históricos, quer naturais”.
(Fonte: FERREIRA, Benedito Genésio. A Estrada de Ferro Baturité: 1870 —
1930. Fortaleza, Edições UFC/Stylus, 1989, p. 194).
Tendo como base o texto acima e os conhecimentos de História do Ceará, podemos
afirmar:
1. A EFB procurava atender a demanda de transporte para o café e o algodão,
produzidos no Ceará.
2. Na construção da EFB explorava-se a mão-de-obra de flagelados das secas
que se abatiam sobre o Ceará.
4. Como “o sertanejo é antes de tudo um forte”, nos períodos de seca a
produtividade de seu trabalho aumentava.
8. A inserção do Ceará no mercado internacional se fazia com a produção e
comercialização de produtos primários.
16. A construção da EFB excluía o Ceará do quadro da divisão internacional do
trabalho.

23 (UFC/99) “ESCRAVOS”
Vende uma pessoa chegada há pouco do Norte bonitos e moços, entre chies notam-
se um oficial de ourives, uma bonita crioula, uma parda de 18 a 20 annos com
habilidades, um preto padeiro e forneiro, um bonito pardo de 17 annos, optimo
para pagem e mais pretos moleques; na rua da Alfandega n. 278.”
Fonte: Jornal do Commercio, 1854 apud NOVAIS, Fernando. A História da vida
Privada no Brasil. v. 2. São Paulo. Companhia das Letras, 1997, p. 251.

O anúncio acima, publicado num Jornal do Rio de Janeiro, indica que os referidos
escravos eram oriundos de uma Província do Norte, classificação onde se inseria o
Ceará, que participou do comércio negreiro interprovincial, em virtude:

49
a) da promulgação da Lei do Ventre Livre que proibia a permanência da mão-
de-obra escrava nas atividades agrárias algodoeiras;

b) da qualificação dos escravos, garantida através da educação pela Igreja e


apoiada pelos abolicionistas locais;

c) do fracasso da campanha desenvolvida por Francisco Nascimento, o Dragão


do Mar, contra o comércio de escravos;

d) da proibição do tráfico negreiro internacional e da ausência de atividade


produtiva que dependesse sobretudo do trabalho escravo;

e) do declínio da Sociedade Cearense Libertadora considerada prejudicial


aos interesses do intenso tráfico negreiro existente.

24. (UFC/99 — 2ª Fase) “Ceará: Terra da Luz”. Esta denominação foi conferida ao
Ceará por ter sido a primeira província brasileira a libertar seus escravos.

a) Quais as principais atividades em que era utilizada a mão-de-obra escrava


no Ceará?
b) Caracterize o contexto sócio-político e econômico em que ocorreu a
abolição da escravidão no Ceará.

25. (UECE/94.2) A alcunha “Terra da Luz” foi atribuída ao Ceará por ter sido a
primeira Província a libertar oficialmente seus escravos, ainda em 1884. Sobre a
abolição precoce dos escravos no Ceará, podemos afirmar também corretamente
que:

a) foi unicamente decorrente da força do movimento abolicionista local,


enfrentando proprietários de escravos e governo.
b) o aumento do tráfico interprovincial em direção ao sul do País, a seca de
1877 -1880 e o movimento abolicionista que favorecia as fugas fizeram
com que, em
1884, muito poucos escravos ainda existissem no Ceará.
c) com a abolição a economia cearense se viu inteiramente desestruturada, já
que dependia totalmente de mão-de-obra escrava.
d) foi com decisiva participação do jangadeiro Dragão do Mar que a abolição
do Ceará se tornou possível, libertando milhares de negros através da
compra de suas cartas de alforria.

26. (UECE/96.2) O epíteto ‘Terra da Luz’ foi atribuído ao Ceará por ter sido a primeira
província brasileira a abolir oficialmente a escravidão.

Sobre este episódio tão marcante para a História do Ceará, assinale a alternativa cor-
reta:
a) a campanha abolicionista foi muito intensa, contando inclusive com a
.participação dos jangadeiros, já que os escravos constituíam quase a
metade da população da província.

50
b) a escravidão representava a principal fonte de mão-de-obra para a
província, principalmente na pecuária e na cultura do algodão
c) o movimento abolicionista foi liderado pelos proprietários de terras
insatisfeitos com a escravidão e interessados na imigração de europeus.
d) na década de 1880, o número de escravos já era muito reduzido, fato
agravado pela seca de 1877, quando as fugas e as alforrias foram
intensificadas.

27. (UECE/98.l) “A notícia da mudança da forma de governo chegou ao Ceará, como


em quase toda parte, inesperadamente. Na véspera do acontecimento na província
inteira talvez não se contassem três republicanos. Dois dias depois da proclamação
da república dava-se justamente o contrário, era difícil encontrar três monarquistas.”
(THEOPHILO, Rodolpho. Seccas do Ceará (2~ metade do sec. XIX). Ceará: Typ.
Moderna/Ateliers Louis, 1901. p. 36.) O texto indica algumas características das
transformações políticas acontecidas no Ceará em função da Proclamação da
República. Com relação a essas transformações, pode-se afirmar corretamente que:

a) com a Proclamação da República, os poucos republicanos conseguem assumir


todos os postos do governo, afastando definitivamente as antigas elites imperiais
do poder
b) o movimento republicano cearense foi dominado, após Proclamação, pelo grupo
oligárquico liderado pelo Comendador Nogueira Accioly
c) a população cearense aderiu em massa a República revoltando-se contra os
antigos líderes imperiais depondo força o Comendador Accioly
d) o movimento republicano local, liderado pelo Comendador Accioly, consegue
empolgar a população de Fortaleza derrubar as autoridades imperiais

28. (UECE/99.1) Com relação à revolta de Pinto Madeira, no Ceará, em 1831—1832,


pode-se dizer corretamente:

a) fez parte de um plano geral, articulado na capital do Império, para defender a


volta de D. Pedro 1 ao trono, nada tendo a ver com conflitos ou desavenças
locais ou regionais.
b) significou o aprofundamento das divergências entre os coronéis do sertão
cearense, no contexto da abdicação de D. Pedro 1.
c) constituiu-se em uma revolta tardia de portugueses e colonos descontentes com
o processo de independência do Brasil.
d) representou o descontentamento de coronéis do Cariri cearense contra a política
centralizadora do Presidente da Província, José Martiniano de Alencar.

29. (UECE/00) No Ceará, a segunda metade do século XIX foi um período de intensa
atividade intelectual e política, multiplicando-se os jornais e os clubes literários.
Assinale a opção que expressa corretamente alguns aspectos sociais dessa
efervescência cultural:

a) Os clubes eram formados por intelectuais descendentes dos velhos senhores da


pecuária e do algodão, de origem rural e posições conservadoras.
b) Os grêmios literários expressavam a emergência dos setores comerciais em
Fortaleza, constituindo uma elite intelectual ativa e atualizada.

51
c) As atividades intelectuais eram, em verdade, frutos tardios da expansão
algodoeira do século XVIII, quando os senhores de terras se estabeleceram na
capital.
d) Os grêmios, apesar de muitos, mantinham poucos sócios e uma rarefeita
programação cultural, resultado do acanhado porte intelectual de seus membros.

30. (UNIFORI94.2) No Reinado de D. Pedro II, o Ceará experimentou grande


progresso
em decorrência da introdução, dentre outras melhorias, da:

a) navegação a vapor e de estradas de ferro.


b) indústrias de bens duráveis e da produção açucareira.
c) lavra de minérios e da pecuária de corte.
d) criação extensiva de gado e da cultura do algodão.
e) iluminação a gás e da construção de hidroelétricas.

31. (UNIFOR/00.l) “No princípio era o gado e os homens que o tangiam. Em lenta pro-
gressão, vindos do vale do São Francisco, na Bahia, do sertão de Pernambuco e de
Sergipe, no final do século XVIII, aqueles rudes peregrinos da fortuna subiram os
contra-fortes da Chapada do Araripe e chegaram a um vale fértil, habitado pelos
índios Kariris, no sul do atual território cearense. Os desbravadores plantaram vilas,
que se transformariam em cidades, e por causa desse movimento migratório, a
colonização do Ceará começou pelo interior e não pelo litoral. Das numerosas
cidades que se formaram e dentre as que compõem o triângulo Crajubar, a última a
nascer, em 1872, foi a cidade do Padre Cícero Romão Baptista.”O texto
refere-se a.

a) Juazeiro do Norte
b) Fortaleza
c) Crato.
d) Maracanaú.
e) Barbalha.

32. (UFC/94.2) O jornal A Tribuna, fundado por Fernandes Távora, torna-se, no


começo da década de 20 do nosso século, porta-voz dos tenentes do Ceará,
denunciando “0 comportamento da pública administração com referência à
calamidade das secas, ao banditismo, aos males causados pelo oligarquismo...”
MONTENEGRO. J Alfredo. IN: Souza, Simone (Coord.). História do Ceará. Fortaleza:
UFC/Fundação Demócrito Rocha. 1989. p. 299. Cite, das oligarquias, duas práticas
políticas que eram criticadas pelos tenentes.

33. (UFC-95.0) A Legião Cearense do Trabalho (LCT) foi uma organização política
que se desenvolveu entre 1931 e 1937. Apresenta duas características políticas e
ideológicas desse movimento.

34. (UFC/95.2) Padre Cícero Romão Batista foi unia das principais figuras sócio -
político- religiosas do Ceará durante o período da Primeira República brasileira

52
(1889 — 1930). Cite e comente dois acontecimentos em que o referido padre teve
participação marcante.

35. (UFC/95.2) A Redemocratização de 1945, no Ceará, representou:

1. a ruptura com os setores tradicionais da política cearense.

2. a oportunidade de manifestação política dos setores de esquerda.

4. a liberdade de expressão dos meios de comunicação de massa.

8. a reorganização do movimento operário sindical com plena autonomia.

16. a busca de espaços políticos pela Igreja Católica a fim de neutralizar a ação,
exclusivamente, dos movimentos de direita.

36. (UFC/96.2) “Em 26 de agosto foi constituída a República ao Ceará, em um Grande


Conselho de 405 eleitores formados pelas pessoas economicamente mais
expressivas da província, com a presença das Câmaras de Fortaleza, Aquiraz e
Messejana e representantes das demais comarcas
(Maria do Carmo R. Araújo “A Participação do Ceará na Confederação do
Equador”. ln: Simone Souza (coord.) História do Ceará, 2~ ed. Fortaleza Fundação
Demócrito Rocha. 1994, p. 152).
O texto acima fala de um momento simbólico importante, quando da participação
do Ceará na Confederação do Equador. Sobre isto:

a) Responda o que foi a Confederação do Equador.

b) Indique dois (2) aspectos que influenciaram na adesão do Ceará à Confederação


do Equador.

37. (UFC/96.2) “A existência dessas hierarquias sociais nos eventos e espaços públicos
não foi novidade de fim de século. Constituiu uma mentalidade enraizada no
comportamento da cidade, em especial, uma idéia recorrente entre membros da
elite. E muito provável que o final do século tenha posto a nu as contradições
sociais, face a uma Fortaleza que integrava-se ao mercado internacional através do
algodão. Durante as secas ela recebia levas de migrantes do interior e sua elite
queria ter, na desprezível e insignificante região econômica de que fazia parte, uma
ilusão moderna”.
(PIMENTEL FILHO, José Ernesto. A Aristocratização Provinciana em Fortaleza:
1840 — 1890. Recife. Dissert. Mestrado — UFPE, 1995, p. 89). No final do século
XIX, Fortaleza passou por um processo de remodelação urbana associada:

1. aos interesses das lideranças intelectuais em frear “o progresso”, conservando o


perfil provinciano da cidade.
2. aos interesses das elites locais em “civilizar” e “modernizar’ espaço urbano,
dando-lhe feições estéticas européias.
4. aos interesses de comerciantes em adequar o espaço da cidade às necessidades

53
de seus negócios de importação/exportação.
8. aos interesses da administração pública em disciplinar o uso do espaço urbano
por uma população crescente.
16. aos interesses dos artistas locais em preservar o patrimônio arquitetônico
colonial da cidade.

38. (UFC/97 — 2~ Fase) No artigo intitulado “República Brazileira; O Estado Livre do


Ceará”, publicado no Jornal “Libertador”, de 18 de novembro de 1889, afirmava-se
“no Ceará, como na maioria das províncias brasileiras, cuja adesão é já conhecida,
a revolução operou-se pacificamente, sem abalos, sem comoções, sem violência,
sem resistência, e esse facto por si só constitui o evidente testemunho de que nada
faltara a república do Brasil sinão proclamá-la”.

Partindo das considerações, expressas nesse periódico, apresente as razões que


excluíam “a violência” e “a resistência” do processo político em questão.

39. (UFC/98 — 2~ Fase) “Sobre o Ceará pesa maldição maior do que as secas: a
inépcia e má vontade dos homens que dirigem a Nação e a falta de patriotismo de
nós cearenses.
(TEÕFILO, Rodolfo. A seca de 1915. Fortaleza. Edições UFC. 1980. p. 32)

Relacione o fenômeno da seca com a permanência de uma estrutura tradicional


(oligárquico - clientelista) de dominação política no sertão cearense.

40. (UFC/2000) O filme “For All” (Para Todos), lançado em 1998, trouxe aos cinemas
alguns aspectos da presença de militares norte-americanos em algumas cidades
brasileiras (Fortaleza e Natal), durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Assinale a alternativa que expressa corretamente algumas mudanças sociais


desencadeadas pela presença de militares norte-americanos em Fortaleza.
a) Os militares trouxeram costumes degradados, fazendo aumentar a prostituição, a
criminalidade e o vício do jogo;
b) A base norte-americana em Fortaleza ficou isolada da sociedade local,
contribuindo apenas para fornecer produtos importados aos setores mais ricos;
c) Novos costumes, novos comportamentos e novos hábitos foram adquiridos por
alguns setores da cidade, diminuindo a influência francesa que ainda
predominava;
d) A base foi instalada com o objetivo político de lutar contra a influência nazi-
fascista no Brasil, estimulando a ação de grupos de esquerda;
d) A presença dos americanos provocou um aumento da repressão aos sindicatos e
associações operárias em Fortaleza.

41. (UECE/95.1) Em 1914, exércitos de sertanejos armados chegaram até as portas de


Fortaleza, exigindo a renúncia do governo estadual: era a chamada Sedição de
Juazeiro. Como elementos deste conflito que abalou a sociedade cearense,
podemos assinalar corretamente:

54
a) significou o retorno de Nogueira Accioly ao poder, com o apoio do Padre Cícero
e do governo federal.
b) a formação de exércitos de sertanejos representou um dado de instabilidade que
levou o governo federal a reprimir violentamente a Sedição, recolocando Franco
Rebelo no poder.
c) foi provocada pelas dissidências oligárquicas entre rabelistas e aciolistas, que
disputavam o apoio do governo federal.
d) representou uma manifestação do poder do Padre Cícero, que se sentiu
ameaçado pelo governo liberal e democrático de Franco Rabelo.

42. (UECE/95.2) ‘Nem a construção do Teatro, nem as tentativas de instalar o


abastecimento de água e esgoto, ou mesmo o embelezamento da cidade promovido
pela Intendência Municipal impediram o crescente descontentamento da população
contra o governo de Nogueira Accioly.” (PONTE, Sebastião R. Fortaleza Belle
Epoque. Fortaleza: EDR, 1993. p. 48.)
Com relação ao governo de Nogueira Accioly, Presidente do Estado do Ceará até
1912, podemos assinalar corretamente que:

a) apesar de impopular, Accioly consegue manter-se estável no poder estadual até


a descoberta de fraudes e outras irregularidades administrativas, o que provocou
a intervenção do governo federal.
b) durante a campanha eleitoral de 1912, passeatas de oposição duramente
reprimidas pela polícia são o estopim para uma grande insurreição popular que
cerca o palácio e obriga Accioly a renunciar.
c) após uma intensa campanha de desgaste político, o movimento oposicionista
consegue eleger pacificamente seu candidato ao governo do Estado, Franco
Rabelo, empossado respeitosamente por Accioly.
d) diante das manifestações populares exigindo a sua renúncia, Accioly se retira do
governo para retornar mais forte do que nunca em 1914, com a Sedição de
Juazeiro.

43. (UECE/97.1) “O Ceará é uma terra condenada mais pela tirania dos governos do
que pela inclemência da natureza.” (TEÓFILO, Rodolfo. A seca de 1915.
Fortaleza. Ed. UFC. 1980. p. 31)

Esta frase, escrita em 1916, expressa uma revolta com aquilo que o autor via
acontecer no governo deste período. Marque a alternativa que indica corretamente
algumas características da política cearense na Primeira República:

a) a crítica do conservador Rodolfo Teófilo se dirigia às iniciativas democráticas e


socializantes que o governo de Franco Rabelo vinha implementando desde a
queda de Accioly em 1912;
b) o controle político era assegurado pelo domínio oligárquico e coronelista, em
que se sobressai a presença de Nogueira Accioly como o principal oligarca do
estado;
c) apesar do rígido controle oligárquico sobre o governo, havia um clima de
liberdade de expressão, em que os jornalistas e Críticos do governo podiam
manifestar-se sem medo de repressão;
d) as oligarquias que se sucediam no poder tinham que enfrentar frequentes

55
revoltas urbanas, como a Sedição de Juazeiro, em 1914.

44. (UECE/98.2) “Fortaleza era pura agitação. As acusações, os manifestos, as


passeatas os comícios e as provocações de parte a parte tornavam o ambiente
explosivo. O povo estava entusiasmado com a possibilidade real de depor Accioly.
De fato, esse sonho estava na iminência de concretizar-se, não pelo voto, mas pelas
armas, em uma revolta popular, cujo estopim, foi a passeata das crianças.’
(FARIAS, Airton de. História do Ceará: dos índios à geração Cambeba.
Fortaleza: Tropical, 1997. p. 130.) Sobre deposição do Comendador Nogueira
Accioly da Presidência do Estado do Ceará, em 1912, comentada no texto acima
citado, é correto afirmar que:
a) a expectativa popular foi frustrada pelos acordos políticos entre Accioly e o
candidato da oposição, Franco Rabelo, garantindo uma transição pacífica.
b) a queda de Accioly está ligada à “Política das Salvações” do Presidente Hermes
da Fonseca e à revolta popular diante dos desmandos do oligarca.
c) a revolta popular não só garantiu a deposição de Accioly como instalou um
governo revolucionário de caráter socialista que durou apenas duas semanas.
d) a derrota eleitoral de Accioly foi comemorada com entusiasmo pela população
que, apesar de tudo, manteve a ordem na cidade.

45. (UNIFOR/95.1) “O Ceará é um grande produtor, tendo sido estabelecido em


Fortaleza, em 1932, a primeira fábrica para extração do seu óleo (...)
desenvolvendo-se essa indústria, aí e no Piauí, quando a partir de 1838, se proibiu
o embarque de sementes”. o texto acima está se referindo à indústria extrativa

a) do babaçu.
b) da carnaúba.
c) do caroá
d) da oiticica.
e) do algodão.

46. (UNIFOR/95.2) O conflito entre sertanejos e tropas do governo do Ceará, em fins


de
1913 e início de 1914, que teve como uma das causas a ascensão política do Padre
Cícero Romão Batista, ficou conhecido como:
a) Revolta de Juazeiro.
b) Guerra do Contestado.
c) Revolução Federalista.
d) Revolta da Chibata.
e) De Canudos.

47. (UNIFOR/95.2) Devido a fatores históricos e condicionantes de ordem climática, a


região Sudeste do Estado do Ceará é uma área de:
a) intenso desenvolvimento industrial.
b) produção agrícola para exportação.
c) prática da pecuária intensiva.

56
d) grande adensamento populacional,
e) concentração de minifúndios.

48. (UNIFORI96.2) Quando Ciro Comes governava o Ceará, o Estado recebeu, do


Fundo
das Nações Unidas para a Infância e Adolescência, um prêmio pela.
a) solução definitiva da evasão escolar.
b) diminuição dos índices de analfabetismo.
c) redução significativa da mortalidade infantil.
d) distribuição mais eqüitativa da renda entre a população pobre.
e) criação de inúmeras frentes de trabalho para as crianças abandonadas.

49. (UNIFORJ96.1) Na segunda metade do século XIX, o centro de grande fermentação


intelectual, onde vários jornais pregavam as chamadas “idéias novas”, era
a) Juazeiro.
b) Parangaba.
c) Fortaleza.
d) Sobral
e) Crato.

50. (UNIFOR/95.1) “... Patrocínio deu ao Ceará o nome de Terra da Luz”. O Imperador
aplaudiu comovido; e até Victor Hugo mandou da França sua saudação aos
cearenses...
Os fatos a que o texto se refere relacionam-se com a
a) abolição da escravidão em toda a província do Ceará, em 25 de março de 1884.
b) vitória cearense na luta contra as revoltas provinciais, no período regencial.
c) comemoração da morte do Padre Mororó, herói cearense, em 30 de abril de
1826.
d) proclamação de Tristão Gonçalves como presidente da província cearense, em
26 de agosto de 1824.
e) expulsão dos franceses e flamengos da província do Ceará.

51. (UNIFOR/96.1)
Quem for para Juazeiro
Vá com dor no coração
Visitar Nossa Senhora
e o Padre Cícero Romão

Que o meu padim é um santo Isso tá mais que provado basta atentar os milagres
que ele tem realizado

O 1º foi ter feito em certa manhã pacata não me lembro bem a data a hóstia virar
sangue na boca de uma beata (Dias Gomes)

A beata a que os versos se referem é:

a) Maria Rosa.
b)Angélica
c) Maria de Araújo.
d)VirgemTeodora.

57
e) Violeta Matos

52. (UNIFOR.96.2) “... só em 1611 a história teve um final feliz e romântico. O


capitão (...) manteve um posto avançado na luta contra os franceses que estavam no
Maranhão e virou íntimo do cacique Jacaúna, a ponto de andar nu, pintar o corpo
com jenipapo e usar arco e flecha. Os amores com uma índia são temas de uma
obra imortal O texto descreve fatos que, na evolução histórica do Ceará, podem ser
relacionados a:

a) Antonio Cardoso de Barros, Mário de Andrade e a obra MACUNAÍMA.

b) Pero Coelho de Souza, Oswaldo de Andrade e a obra O REI DA VELA.

c) José do Patrocínio, Bernardo Guimarães e o romance ESCRAVA ISAURA.

d) Martim Soares Moreno, José de Alencar e o romance IRACEMA.

e) Bernardo Manuel Vasconcelos, Sérgio Buarque de Holanda e a obra VISÃO DO


PARAISO.

53. (UNIFOR/96.2) O Farol de Mucuripe, no Ceará de estilo barroco, foi


a) construído por Mathias Beck, em 1649, durante a ocupação holandesa.

b) erguido pelos escravos, em 1846, em homenagem à Princesa Isabel.

c) projetado pelo arquiteto francês George Mounier a pedido de D. João VI.

d) reformado em 1884 com o objetivo de incentivar o turismo no Nordeste.

e) levantado especialmente para servir de retiro espiritual e meditação para os


beneditinos.

54. (UNIFORI96.2) A pesca, uma das principais atividades econômicas do Ceará,


a) sobrepujou a criação do gado bovino acarretando a desestabilização das
indústrias de couro, pele e calçados.
b) inibiu o desenvolvimento do artesanato popular, relegando ao esquecimento a
figura da mulher rendeira.
c) colocou em segundo plano a produção do algodão, caju e carnaúba.
d) reprimiu a produção de sal, extraído do litoral.
e) transformou a jangada em um dos símbolos do Estado.

55. (UNIFOR96.2) O Ceará é marcado por contrastes. Recentemente recebeu um


prêmio da UNESCO pela redução da mortalidade infantil em 54%; ao mesmo
tempo o Estado;
a) diminuiu em 50% o seu PIB, entre os anos de 1986 e 1994.
b) apresenta 83% dos casos de dengue do país e a maioria dos registros de cólera.
c) não tem nenhum centro turístico expressivo, quando comparado a outros
Estados do Nordeste.

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d) mantém uma tradição de vida política tranqüila.
e) desenvolveu cidades, como Araripe, que é considerado o município de maior
desenvolvimento em todo o Brasil.

56 (UNIFOR/97.1) Em 1824 o Ceará participou da Confederação do Equador. Terra


dos coronéis e dos currais eleitorais, o Estado tem também uma tradição liberal: foi
a primeira província

a) aprovar em plebiscito uma nova Constituição que institucionalizava o Regime


Ditatorial.
b) determinar dois tipos de eleição: a majoritária para os cargos do Executivo, e a
proporcional para a Câmara dos Deputados.
c) desenvolver a indústria têxtil, de calçados, vestuário e alimentação durante o
Período Imperial.
d) agilizar a navegação de cabotagem/turística pelos rios: Jaguaribe, Salgado,
Conceição, Acaraú, Pacoti e Piranji.
e) libertar os escravos e uma das primeiras a aderir à República.

57. (UNIFORJ97.2) “Por ocasião das feiras populares em Juazeiro do Norte é


indispensável a presença daqueles que em longos versos improvisados contam
histórias, venerando personagens santificados em todo o Nordeste.”
O texto refere-se aos:
a) trovadores. d)solistas.
b) cancioneiros. e)intérpretes.
c) repentistas.

58. (UNIFOR/99.1) No mundo sem limites da tecnologia, o Ceará virou notícia. No


final do ano passado, dezessete jovens formados em universidades cearenses foram
selecionados para trabalhar na Flórida. O Ceará começa agora a atrair empresas,
num sinal de que Fortaleza caminha para tornar-se um pólo na área
a) da indústria farmacêutica.
b) dos esportes náuticos.
c) de eletrodomésticos.
d) do setor fruticultor.
e) Da informática.

59. (UNIFORI99.1) “O cearense é lembrado pela devoção ao líder político e religioso,


cultuado desde o final do século passado, que leva todos os anos mais de 1 milhão
de fiéis em romaria até a cidade de Juazeiro do Norte.”texto está se referindo ao:

a) Coronel Accioly.
b) Manoel da Nóbrega.
c) Franco Rabelo.
d) Padre Cícero.

60. (UNIFOR/99.1) A capital do Ceará, Fortaleza, é famosa por suas praias como a do
Mucuripe e a do Futuro, mas apresentou grande crescimento populacional em
1991, principalmente:

a) no litoral, por causa da culinária baseada em peixe, lagosta, camarão e

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caranguejo.
b) no centro-oeste, em função da inauguração da Companhia Siderúrgica do Ceará.
C) no lado sudeste, devido à construção de açudes, como os de Orós e Araras.
d) na região metropolitana que atrai migrantes de todo o estado.
e) na região noroeste da cidade, que em função dos incentivos fiscais fizeram
crescer os setores têxtil e alimentício.

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