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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO
GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5
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6.3 Decorrências da revolução verde ............................................................................. 55
10 TEORIAS MIGRATÓRIAS......................................................................................... 83
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10.3.2 Consequências demográficas ............................................................................. 94
12.1.1 Movimentos migratórios do período colonial até o século XIX .......................... 107
12.1.2 As migrações internas de meados do século XIX ao século XXI ...................... 110
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1 INTRODUÇÃO
Bons estudos!
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2 A POPULAÇÃO E SUA HISTORICIDADE
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A abolição do trabalho infantil também afetou a dinâmica familiar, pois provocou
uma redução no número de filhos, já que as crianças passaram de produtoras ativas de
renda para meras consumidoras no seio das famílias (DANTAS; MORAIS; FERNANDES,
2011). Além disso, a ampliação dos direitos civis às mulheres, que se inseriram no
mercado de trabalho e passaram a reivindicar direitos do ponto de vista reprodutivo,
afetou significativamente a taxa de fecundidade e natalidade. De forma complementar, o
desenvolvimento urbano da época, associado a melhorias nas condições sanitárias,
contribuiu para uma melhor qualidade de vida da população, aumentando obviamente a
expectativa de vida.
A terceira fase do crescimento populacional no contexto europeu foi
caracterizada por uma estabilização e posterior redução demográfica, em virtude do
declínio na taxa de fecundidade, redução da taxa de mortalidade e consequente aumento
na expectativa de vida da população (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). A
segunda e terceira fases do crescimento populacional em países subdesenvolvidos,
como Brasil, Índia e México, também foram marcadas pela redução nas taxas de
natalidade e mortalidade. Essas transformações na dinâmica populacional ocorreram em
virtude de fatores sociais, como o acesso aos métodos contraceptivos e parciais
conquistas de direitos reprodutivos pelas mulheres; desenvolvimento urbano e melhoria
nas condições sanitárias; acesso à educação e saúde; e melhoria nas condições de
moradia. Aspectos econômicos também devem ser considerados, como o
desenvolvimento socioeconômico dos países, que resultou em melhoria na qualidade de
vida das pessoas.
No entanto, é importante levar em consideração que não estamos nos referindo
a realidades homogêneas, ainda que distintos países, ricos ou pobres, compartilhem
situações semelhantes em termos socioeconômicos. Em países como Angola,
Moçambique e Etiópia, por exemplo, as taxas de crescimento populacional são elevadas,
alcançando respectivamente 3,3%, 2,9% e 2,4% para o ano de 2017 (THE WORLD
BANK, 2019). É interessante notar que essas taxas são típicas da primeira fase de
crescimento populacional de países como Brasil (2,3% em 1960), Colômbia (3% em
1963) e Chile (2,94% em 1963) (THE WORLD BANK, 2019). O acelerado crescimento
populacional em países africanos pode estar associado a questões sócio produtivas e
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culturais, como as estruturas agrárias em que a mão-de-obra é essencialmente familiar
e o casamento é uma forma de ampliar o terreno cultivado; a valorização de famílias com
muitos filhos; a prática eventual da poligamia; e o escasso uso de métodos contraceptivos
por parte das mulheres.
Analisando o caso de Moçambique, Cardoso (2007) entende que existe uma
relação entre casamento precoce, nupcialidade e taxa de fecundidade que altera toda a
dinâmica populacional no país. A elevação da idade de casamento, por exemplo, cada
vez mais comum nos contextos urbanos, é considerada um dos fatores que contribui para
a redução das taxas de fecundidade. No entanto, é interessante considerar que o
continente africano é bastante diverso e sua dinâmica populacional merece ser analisada
com os devidos cuidados, considerando suas especificidades histórico-geográficas, em
constante diálogo com as possíveis relações em escala global.
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Os progressos da medicina datam de meados do século XIX em diante, com a
introdução da noção de assepsia e a descoberta de anestésicos. No final do
século XIX, destacam-se os bactericidas e a imunologia, citando-se, entre outros,
os trabalhos de Pasteur. A pesquisa em quimioterapia, iniciada na década de
1930, avança até nossos dias (DAMIANI, 1998, p. 32).
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espaciais. Nesse sentido, a geografia econômica desempenha um papel importante, na
medida em que busca compreender de que forma as relações econômicas — entre
fatores de produção (espaço, trabalho e capital) e agentes econômicos (produtores e
consumidores) — em diferentes escalas se materializam e se movem pelo espaço,
produzindo-o e transformando-o (CLAVAL, 2012).
A geografia, como sabemos, passou por distintas fases em sua base
epistemológica, incorporando diferentes perspectivas teóricas, como a regional,
quantitativa, crítica e pós-moderna. Consequentemente, os estudos geográficos focados
em problemáticas econômicas acompanharam a trajetória da disciplina. Na segunda
metade do século XIX, geografia econômica clássica utilizava o método descritivo para
retratar as áreas e fluxos de produção (CLAVAL, 2012) e, do ponto de vista demográfico,
preocupou-se em realizar esboços quantitativos da distribuição da população sobre o
espaço: “É comum a utilização da representação cartográfica dessa repartição, dos
mapas — por pontos e signos volumétricos proporcionais —, e do cálculo das densidades
de população por quilômetro quadrado, em unidades de superfície de diferentes
tamanhos” (DAMIANI, 1998, p. 49).
Nesse sentido, os estudos populacionais em geografia apresentavam pouco
caráter analítico, da mesma forma que não consideravam a dimensão humana e histórica
do processo de distribuição populacional. Sendo assim, não explicavam a diversidade
sócio produtiva do espaço (por exemplo, a diversidade cultural de uma população e o
potencial econômico de um lugar) e sua relação com as dinâmicas de concentração e
dispersão populacional. O paradigma clássico da geografia econômica também enfocou
as potencialidades econômicas dos recursos naturais e, partir disso, suas transformações
e uso pelas atividades humanas (CARVALHO; FILHO, 2017). Em sua relação com a
geografia populacional, passou a avaliar em que medida esse potencial econômico
poderia influenciar o nível de densidade de ocupação populacional em determinada área.
No entanto, a disciplina não considerava inúmeras variáveis — sobretudo as históricas,
técnicas, sociais e produtivas — que poderiam afetar as formas de ocupação e uso do
solo, como as próprias técnicas empregadas pelas pessoas para explorar o potencial
produtivo e econômico de um lugar (DAMIANI, 1998).
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Posteriormente, orientada pelo paradigma da economia espacial, a geografia
econômica se debruçou sobre o tema da localização das atividades econômicas,
especialmente as industriais, considerando o impacto destas sobre o espaço em que
vivemos (CLAVAL, 2005; 2012; CARVALHO; FILHO, 2017). Segundo Damiani (1998, p.
50), na antiga União Soviética da primeira e segunda metade do século XX:
No entanto, foi em sua vertente mais crítica que a geografia econômica passou
a dialogar com os estudos populacionais em uma perspectiva não apenas quantitativa,
mas também qualitativa, considerando aspectos históricos, culturais, sociais e políticos.
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dentro do sistema capitalista que produz e reproduz desigualdades sociais, econômicas
e espaciais. Em uma perspectiva demográfica, sabemos que a população se configura
também como força de trabalho, produtora e consumidora de bens e serviços,
contribuindo para a reprodução do sistema de produção capitalista e sua lógica espacial,
ao mesmo tempo em que é atingida por essa estrutura. Fenômenos como a migração,
por exemplo, podem ser motivados por questões econômicas, como crise de desemprego
e declínio de um estado de bem-estar social. A mortalidade, por sua vez, encontra-se
diretamente relacionada às condições socioeconômicas da população, tanto que autores
como Damiani (1998) preferem tratá-la de forma diferencial, visto que atinge
predominantemente a população mais pobre.
Além disso, a geografia é capaz de explicar — tanto de uma perspectiva
econômica quanto espacial — fenômenos como o êxodo rural e a urbanização. Esses
são fenômenos complexos impulsionados pelo processo de modernização da agricultura,
caracterizada pela transformação fundiária e da base técnica da produção agrícola, e
também pela industrialização, que, como vimos, contribuiu para o crescimento
populacional nas cidades, por meio da natalidade e migração. Essa realidade, embora
tenha afetado diversos países, é a marca das realidades condicionadas pelo que
entendemos por subdesenvolvimento:
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foram afetadas por questões sociais e econômicas, como a Revolução Industrial nos
séculos XVIII e XIX, avanços na medicina e melhorias nas condições sanitárias no século
XX e avanços no desenvolvimento socioeconômico em nível mundial. Nesse sentido,
percebemos que essa relação direta entre aspectos socioeconômicos e dinâmica
populacional tem sido abordada pela geografia econômica, a partir de enfoques
regionais, quantitativos e críticos, desde o século XIX, época da sistematização e
consolidação da geografia enquanto ciência. Essa trajetória epistemológica também é
marcada pela fundação da disciplina de geografia populacional na metade do século XX,
que tem incorporado novos enfoques teóricos (como os estudos críticos e culturais), a
fim de dar conta do caráter multidimensional das dinâmicas populacionais.
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são questões estruturais e institucionais, como as práticas sociais, classes sociais, as
leis, o trabalho, entre outros fatores (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011).
Historicamente, a população sempre foi tema de discussão política ou intelectual.
No campo da geografia, ao longo dos séculos XIX e XX, ela foi considerada a primeira
forma de abordagem a fenômenos humanos complexos (DAMIANI, 1998). Nesse sentido,
além de uma categoria analítica, a população é compreendida como um conjunto de
relações sociais e espaciais, mediada por fatores diversos, como as estruturas, as
instituições, os valores humanos e culturais, a economia, a natureza e o próprio espaço.
Sua dinâmica complexa e sua permanência nos estudos geográficos possibilitaram a
consolidação da disciplina de geografia da população na segunda metade do século XX
(SILVA; FERNANDES, 2016), definida, na época, como:
[...] a ciência que trata dos modos pelos quais o caráter geográfico dos lugares é
formado por um conjunto de fenômenos de população que varia no interior deles
através do tempo e do espaço, na medida em que seguem suas próprias leis de
comportamento, agindo uns sobre os outros e relacionando-se com numerosos
fenômenos não demográficos (ZELINSKY, 1974, p. 17)
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3.2 Componentes importantes para o estudo de populações
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nossas ações sociais repetitivas. O entrelaçamento dessas relações constitui o que o
sociólogo Giddens (1984) chama de sistema social. Para o autor, as sociedades, em suas
relações e práticas recursivas, legitimam as dinâmicas institucionais, reforçando as
estruturas. As estruturas são simultaneamente potencializadoras e limitadoras da ação
humana. Em outras palavras, nós, como atores sociais, reforçamos as estruturas, ao
mesmo tempo em que temos nossas ações determinadas por elas. Mas afinal, qual é a
relação disso tudo com as dinâmicas e os estudos populacionais?
A estrutura social é um componente importante para os estudos populacionais,
pois permite investigar qualitativamente como as relações sociais, as instituições e as
práticas recursivas da sociedade afetam e são afetadas pela dinâmica e estrutura
populacional. Podemos avaliar o impacto dos aspectos estruturais (políticos,
institucionais e econômicos) de um Estado na dinâmica populacional por meio de uma
diferenciação de gênero entre a população ocupada (que está trabalhando) e a
população desocupada (que não está trabalhando, mas encontra-se disposta a trabalhar)
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014). A partir disso,
poderemos questionar: existe uma discrepância entre homens e mulheres quando
examinamos o percentual de população ocupada no país? Caso exista, como ela pode
ser descrita, analisada e explicada?
Independentemente da área de estudo, os aspectos sociais estão sempre
presentes nos estudos populacionais, seja de forma explícita nos estudos de natureza
qualitativa — os quais geralmente realizam uma análise da estrutura social em questão
—, seja de forma implícita, a exemplo dos estudos quantitativos, em que os dados
numéricos são priorizados na análise, mas retratam uma realidade social que pode ser
examinada. Além disso, ainda que existam características transversais entre as
sociedades, ou seja, elas são organizadas por Estados, instituições, leis e normas, e cada
sociedade também apresenta suas especificidades históricas, políticas, culturais e
geográficas que não devem ser desconsideradas nos estudos demográficos.
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3.2.2 Aspectos socioeconômicos
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todos esses aspectos a partir dos diferenciais raciais e de gênero (DANTAS; MORAIS;
FERNANDES, 2011).
Em suma, trata-se de um índice bastante denso, que contém distintos
indicadores e dados oriundos de profundas pesquisas demográficas. A partir disso,
também podemos considerar que o componente socioeconômico é importante para os
estudos populacionais, pois mobiliza variáveis — como educação, trabalho, renda per
capita, escolaridade e moradia — que são comumente trabalhadas em áreas de
economia, economia política, ciências sociais, geografia e saúde coletiva, que, por sua
vez, permitem avaliar de forma mais circunstanciada a dinâmica demográfica de dada
realidade social.
Do ponto de vista antropológico, a cultura pode ser concebida como “[...] uma teia
de significados tecida pelo homem. Essa teia orienta a existência humana. Trata-se de
um sistema de símbolos que interage com os sistemas de símbolos de cada indivíduo
numa interação recíproca” (GEERTZ, 2003, p. 39). Nesse sentido, nossas ações
individuais e sociais também são práticas culturais, que transformam o espaço que
produzimos e vivemos. No âmbito geográfico, o giro cultural emergiu a partir da corrente
crítica da geografia e direcionou sua crítica à modernidade e seu determinismo
econômico para explicar os processos sociais e espaciais. Com isso, o giro cultural
defende que os processos sócio espaciais (entre eles os demográficos) estão
estreitamente relacionados à cultura, que também atravessa as relações de classe, raça
e gênero (NARVÁEZ MONTOYA, 2014). Os estudos de Campos et al. (2018), por
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exemplo, buscam compreender os padrões de mobilidade (migração) entre os grupos
indígenas no Brasil, considerando tanto aspectos culturais (práticas sociais e de relação
com a terra) quanto socioeconômicos (renda, região de domicílio, etc.).
Além disso, a partir da perspectiva cultural na geografia, a cultura também passa
a desempenhar um papel relevante na compreensão das formas de reprodução do
capitalismo na sociedade (ÁLVAREZ GALLEGO, 2014). Nessa linha, busca
compreender, por exemplo, como nos relacionamos com o trabalho produtivo e com o
consumo. Considerando os estudos populacionais, a relação entre os aspectos culturais,
de gênero e etnia é fundamental, pois, por meio de análises de variáveis comuns como
renda, trabalho, mortalidade e expectativa de vida, é possível compreender que a
população não é homogênea, apresentando diferenciações socioeconômicas, orientadas
pelas questões raciais, culturais, de gênero e classe. Nesse sentido, se nos dedicarmos
a compreender a população em um nível pormenorizado, perceberemos que as pessoas
estão inseridas em contextos econômicos, sociais e culturais específicos, comportando-
se de distintas formas ou afetadas em diferentes graus pelos mesmos problemas sociais.
Por essa razão, são necessárias abordagens teóricas e metodológicas sensíveis a essas
realidades e que forneçam subsídios para pensar, no debate público, projetos de
desenvolvimento social, a fim de atenuar as desigualdades que podem ser agravadas e
reforçadas pelas já mencionadas estruturas sociais.
Retomando nossos exemplos, sabemos que o indicador “renda”, comumente
utilizado para avaliar o índice de desenvolvimento humano em diversos países, varia
conforme o grupo social, considerando que a população é compartimentada de acordo
com as condições socioeconômicas das pessoas (estratificação social). Mas você sabia
que existe no Brasil uma diferença significativa de renda entre homens e mulheres?
Considerando o caso do Rio Grande do Sul, a renda per capita para o ano de 2010 entre
as mulheres foi de R$704,32, enquanto para os homens foi de R$711,98 (PROGRAMA
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2020). Também é possível
notar uma diferença em relação ao rendimento médio por pessoas ocupadas, que para
as mulheres foi de R$1.055 e para homens, de R$1.555,29 (PROGRAMA DAS NAÇÕES
UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2020).
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A diferença na taxa de desocupação e grau de formalização das pessoas
ocupadas também é evidente: mulheres com 6,33% e homens com 3,08% (taxa de
desocupação para o ano de 2010); e 65,44% para mulheres e 67,13% para homens (grau
de formalização para o ano de 2010), respectivamente. Outra informação interessante e
que dialoga com os dados apresentados é o nível educacional das pessoas ocupadas:
49,57% das mulheres ocupadas têm ensino médio completo (12,9% superior completo)
e 38,88% dos homens ocupados têm ensino médio completo (9,5% superior completo)
(PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2020). Mas como
os dados referentes ao nível educacional dialogam com essa discrepância de renda? É
exatamente essa pergunta que os estudos populacionais em diversas áreas tentam
responder. Nas ciências sociais, são discutidos os impactos que as estruturas sociais
exercem sobre essa dinâmica, com seus valores culturais herdados de uma época
recente em que, segundo as teorias neoclássicas do trabalho, as mulheres eram pouco
aptas para as atividades produtivas, em virtude da maternidade e de sua aptidão “natural”
ao cuidado da família (DEGRAFF; ANKER, 2004).
De acordo com a teoria neoclássica, a racionalidade dos trabalhadores faz com
que eles busquem trabalhos de acordo com suas capacidades e interesses. No caso das
mulheres, essa teoria aponta para a preferência por cargos com salários iniciais altos,
com baixo retorno de experiência e com flexibilidade nos horários de trabalho, de forma
que sejam permitidas saídas temporárias, pois as mulheres são consideradas
responsáveis pelo trabalho de reprodução social na casa (atividades domésticas e de
cuidado familiar) (DEGRAFF; ANKER, 2004).
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hoje em dia, um número cada vez maior de mulheres tem ensino superior e ocupa cargos
de autoridades — e algumas continuidades — a população feminina ainda recebe
salários menores em comparação à masculina, e as donas de casa, responsáveis pelo
trabalho de reprodução social, são categorizadas como “População Economicamente
Inativa”. Como se não bastasse, considerando a dimensão étnico-racial, se tomamos as
mesmas variáveis que utilizamos para interpretar a desigualdade de gênero, veremos
que a situação não apenas permanece, como se agrava.
Ainda considerando o recorte espacial do Rio Grande do Sul, no ano de 2010 a
renda per capita entre a população negra gaúcha foi de R$558,81 e entre a população
branca, R$1.038,03; os rendimentos médios entre a população ocupada foram de
R$875,06 (população negra) e de R$1.414,51 (população branca). A taxa de
desocupação foi de 6,43% para negros e 4,22% para brancos; e o grau de formalização
foi de 64,21% (negros) e 66,84% (brancos). As informações mais impressionantes são
relacionadas à longevidade e à mortalidade: a expectativa de vida ao nascer é de 74,2
anos para negros e de 75,8 anos para brancos; já a mortalidade infantil é de 14,3%
(negros) e de 11,8% (brancos) (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO, 2020).
Ademais, o Atlas da Violência dos anos de 2017, 2018 e 2019, elaborado pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revela que, em escala nacional, a
população jovem negra é a principal vítima de homicídios no Brasil. Ou seja, a taxa
mortalidade, componente básico para avaliar a dinâmica populacional, é maior para essa
categoria social. A realidade das mulheres negras — considerando uma intersecção entre
os componentes étnico-raciais e de gênero — é bastante semelhante:
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4.1 Contexto da teoria populacional formulada por Malthus
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vinculado à referida Revolução Industrial. Esta, associada à Revolução Agrária —
definida pela transformação na estrutura fundiária e modernização da agricultura, com o
uso de insumos e novas tecnologias produtivas —, transformou a dinâmica populacional
europeia a partir da intensificação da migração no sentido campo–cidade, bem como pela
urbanização e aumento nas taxas de natalidade, visto que muitas famílias escolhiam ter
mais filhos, pois estes poderiam constituir mão-de-obra fabril.
É interessante entender que as teorias malthusianas não surgem apenas em um
contexto sócio produtivo, mas em um momento de efervescência intelectual e política, no
qual emergem diferentes formas de pensar e interpretar a realidade da época, definida
pela industrialização, pela acumulação de capital por grupos sociais restritos e pela
intensificação das desigualdades socioeconômicas. Nesse mesmo contexto, surgem
críticas sociais por parte de intelectuais dedicados a compreender os processos de
desigualdade oriundos do sistema de produção capitalista que vinha se fortalecendo
desde o século XVI na Europa. Entre os intelectuais contemporâneos de Malthus que
também abordavam a questão da expansão demográfica, podemos destacar os filósofos
Marquês de Condorcet (1743–1794) e William Godwin (1756–1836).
Esses teóricos defendiam uma sociedade igualitária, na qual os trabalhadores
não deveriam ser separados dos meios de produção, possuindo, portanto, autonomia
produtiva. Godwin e Condorcet indicavam que uma das características primordiais do
capitalismo consistia nessa separação entre trabalhadores e seus meios de subsistência.
Esse processo ocorreu na Europa entre os séculos XIV e XVIII, convertendo os
agricultores em trabalhadores livres, que poderiam vender sua força de trabalho.
Segundo Damiani (1998), tal processo viria a ser interpretado por Karl Marx no século
XIX como processo de acumulação originária, considerada a gênese do próprio
capitalismo (DAMIANI, 1998).
De acordo com Marx, foi a partir desse processo de separação entre
trabalhadores e os meios de produção que foram se aprofundando e se agudizando os
problemas de desigualdades sociais, visto que uma pequena parcela da população
acabava detentora dos meios de produção para a acumulação de capital, enquanto uma
significativa maioria tinha de vender sua força de trabalho para sobreviver em condições
miseráveis. Décadas antes, no entanto, Godwin e Condorcet já denunciavam as mazelas
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vividas pela população inglesa, compreendendo que somente uma sociedade igualitária
seria capaz de resolver a situação de miséria vivida naquele momento (DAMIANI, 1998).
Sendo assim, para esses intelectuais, a expansão demográfica não era considerada um
problema que poderia agravar a situação de miséria e fome. Pelo contrário, seguindo a
tendência do Iluminismo a respeito da relação população e riqueza, segundo eles, uma
população maior seria capaz de aumentar a produção e gerar mais riqueza. Em virtude
dessa postura, o economista Thomas Malthus os considerava “excessivamente otimistas”
(SOUZA; PREVIDELLI, 2017). Para Malthus:
A miséria, para ele, não era encarada como um problema, mas como um
obstáculo positivo ao acelerado processo de crescimento populacional, que, segundo
Malthus, comprometia uma relação equilibrada entre o tamanho da população e a
produção dos meios de subsistência, ou seja, de alimentos. Para ele, a miséria
funcionaria como um fator de regulação natural, responsável por reequilibrar duas forças
desproporcionais: a multiplicação da população e a produção dos meios de subsistência.
Para explicar sua posição teórica e política, em 1798 ele escreveu o ensaio intitulado
“Essay on the principle of population” (Ensaio sobre o princípio da população), material
que posteriormente, em 1803, seria republicado com novas considerações a respeito da
população: “escrita nos contextos históricos da Revolução Francesa e Revolução
Industrial, a obra dialoga diretamente com as ideias de transformação social da primeira
e os problemas de distribuição de riqueza da segunda” (SOUZA e PREVIDELLI, 2017,
documento on-line).
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de filhos, ela motivava os produtores a aumentarem a produção de alimentos para
abastecer a população crescente (DAMIANI, 1998; BIFFI; DA SILVA; TRIVIZOLI, 2018).
Agora, “quanto à produção de alimentos, ela não é ilimitada. Varia segundo a
existência de espaços cultiváveis, fertilidade do solo, disponibilidade dos
empreendedores para se voltarem a essa atividade etc.” (DAMIANI, 1998, p. 14). No caso
europeu, Malthus entendia que a produção de alimentos estaria mais comprometida
devido à escassez de terras cultiváveis e à primazia dada à produção manufaturada e,
posteriormente, industrial, as quais, apesar de enriquecer uma nação, como defendia o
economista Adam Smith, não a abasteceria com alimentos para sustentar uma população
cujo crescimento se tratava de um impulso natural (DAMIANI, 1998).
No entanto, estudos como os Souza e Previdelli (2017), dedicados a
compreender em profundidade a teoria desenvolvida por Malthus em diálogo com seu
contexto social e histórico, entendem que as referidas teses produzidas a respeito das
dinâmicas populacionais e sua relação com a capacidade produtiva de um país — a
exemplo de Godwin, Condorcet e Malthus — apresentavam uma insuficiente base
empírica, visto que as informações demográficas disponíveis no século XVIII e XIX eram
bastante escassas e pouco precisas, pois foi exatamente nessa época em que se
realizaram os primeiros censos (SOUZA; PREVIDELLI, 2017). Ademais, no que concerne
à teoria de Malthus sobre a relação desigual entre população, produção de alimentos e
pobreza, os autores afirmam que tinha pouco fundamento matemático:
Ainda que, nessa primeira edição, Malthus não tivesse realizado sequer um
cálculo aproximado a partir de dados demográficos, ou mesmo uma
demonstração algébrica de sua tese central, ela era boa demais para ser
descartada pelos defensores do capitalismo industrial. Colocados contra a
parede pelos críticos das consequências da Revolução Industrial — que viam a
pobreza crescer à margem do progresso material de sua época — tais
apologistas agarraram-se à tábua de salvação malthusiana, atribuindo a causa
da pobreza ao excesso de pobres, e, em última análise, ao destempero
demográfico das classes menos favorecidas (SOUZA; PREVIDELLI, 2017,
documento on-line).
[...] quando as pessoas se tornam mais ricas e mais bebês sobrevivem, elas
passam a ter menos filhos. [Além disso], descobrimos que o estoque de alimentos
pode crescer geometricamente quando se aplica conhecimento para aumentar a
quantidade de gêneros capaz de ser extraída de um pedaço de terra (PINKER,
2018, p. 101–102).
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estreitamente vinculadas ao sistema econômico capitalista. Malthus seria, para esses
teóricos socialistas, um defensor da economia burguesa — que vinha se fortalecendo
desde o século XVII, atingindo sua expressão máxima com o capitalismo industrial do
século XIX (DAMIANI, 1998). A partir disso, podemos nos perguntar: a teoria malthusiana
é relevante para o contexto populacional atual?
Apesar de questionada, a teoria populacional malthusiana inspirou algumas
conceitualizações no pensamento econômico, como a lei dos rendimentos
decrescentes, desenvolvida pelo economista David Ricardo. Segundo essa lei, a
contratação de mais trabalhadores por uma indústria contribuiria para seu rendimento
produtivo e econômico até certo limite. A partir de então, esse rendimento tenderia ao
declínio e não seria necessária a incorporação de mais trabalhadores na produção
(DAMIANI, 1998). A relação dessa lei econômica com a teoria demográfica malthusiana
é reforçada a partir da interpretação de que tanto a produção agrícola quanto a industrial
seriam incapazes de dar conta de um contingente populacional excessivo. Por essa
razão, reforça-se a necessidade de controle do aumento demográfico.
A teoria malthusiana também foi reelaborada logo após a Primeira Guerra
Mundial, em virtude da baixa natalidade da população europeia. De acordo com Damiani
(1998), o entendimento da época era de que o fraco crescimento populacional na Europa,
com a redução na presença de jovens, estava comprometendo o desenvolvimento
produtivo e econômico. Com isso, foi valorizada a concepção de crescimento ótimo de
população, segundo a qual deveria existir um limite para o crescimento demográfico, em
que tanto a insuficiência quanto o excesso no número de habitantes poderiam
comprometer a disponibilidade de recursos (econômicos, produtivos, técnicos, etc.) para
garantir boa qualidade de vida à população (DAMIANI, 1998). Além disso, também após
a Segunda Guerra Mundial a teoria malthusiana foi retomada com nova roupagem e
identificada como neomalthusianismo, o qual, direcionando suas análises aos países
subdesenvolvidos, buscava avaliar a relação entre a quantidade (crescente) de
habitantes e a capacidade dos meios de subsistência e recursos naturais de um território
(DAMIANI, 1998), considerando as novas questões sociais e econômicas do momento,
como o alto crescimento populacional global e o desenvolvimento do meio técnico,
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científico e informacional. Na perspectiva ambientalista, destacam-se os teóricos Paul
Ehrlich e Garrett Hardin (CORAZZA; ARAÚJO, 2009).
Em linhas gerais, segundo a perspectiva neomalthusiana, o subdesenvolvimento
de países latino-americanos, africanos e asiáticos está diretamente vinculado à sua
população excedente, que compromete seu crescimento econômico. Ou seja, de acordo
com os neomalthusianos, a condição de subdesenvolvimento desses países é resultado
de seu excessivo contingente populacional. Por essa razão, seriam necessárias políticas
de controle de natalidade em tais realidades. A partir dessas considerações,
perguntamos: qual é o problema dessa abordagem?
O problema é que, assim como sua ideia original, essa nova perspectiva
malthusiana desconsiderou a complexidade das dinâmicas sociais, econômicas e
políticas em escalas nacionais e globais. Segundo Damiani (1998), tais dinâmicas são
mediadas por históricas relações de poder entre países ricos e pobres; por relações
coloniais que, em alguns países africanos, ainda se mantinham na década de 1950; pelos
interesses econômicos das empresas privadas (especialmente as farmacêuticas) —
maximização de seus lucros — que se beneficiaram com as políticas de planejamento
familiar (controle de natalidade) e de esterilização em massa da população pobre,
implementadas em países como Índia e Colômbia. A partir dessas considerações,
entendemos que, apesar de sua insuficiência argumentativa e empírica, como apontavam
seus críticos, as teorias malthusianas e neomalthusianas contribuíram em ações políticas
concretas, a exemplo da Grande Fome da Irlanda (1845–1849) e das referidas políticas
de controle de natalidade nos países subdesenvolvidos na segunda metade do século
XX. Por outro lado, fecharam os olhos às novas lógicas de consumo descontrolado
(especialmente nos Estados Unidos e Europa, após a Segunda Guerra), que se
ampliaram em escala mundial (DAMIANI, 1998).
Nesse sentido, partindo das reflexões de Lefebvre (1978 apud DAMIANI, 1998),
de que as ideologias se originam do real interpretado e representado, Damiani (1998)
entende que:
35
análises de caráter geral, especulativo, que ao mesmo tempo representam
interesses definidos, limitados, particulares (DAMIANI, 1998, p. 22).
Em 2030 [...] metade da população mundial terá uma renda entre US$ 6 mil e
US$ 30 mil, muito mais que os 29% que estão nessa faixa de renda hoje. O que
se pode chamar de classe média e que no início dos anos 1990 referia-se a 1%
da população chinesa chega hoje a 35%. Claro que isso é muito positivo. Mas se
essa população emergente adotar os padrões de consumo (alimentar e não
alimentar) existentes nos Estados Unidos, será impossível preencher as
necessidades de todos, mesmo com um extraordinário progresso técnico. E,
36
portanto, se nos Estados Unidos e, de maneira geral, entre as populações mais
ricas do mundo, os padrões de consumo não se alterarem, não há como
compatibilizar os ganhos recentes na renda dos pobres com a manutenção dos
serviços básicos que os ecossistemas prestam às sociedades humanas
(ABRAMOVAY, 2010, documento on-line)
37
5 AS TEORIAS POPULACIONAIS MARXISTA E REFORMISTA
39
Segundo Marx, o excessivo contingente populacional identificado no período
industrial não era resultado de uma relação desequilibrada entre o crescimento da
população e a produção dos meios de subsistência, como apontava a teoria malthusiana.
Para Marx, o ser humano é um ser social que interfere no curso de sua história e do
mundo em que vive. Desse modo, o crescimento da população não pode ser considerado
apenas como um impulso natural, como um resultado direto do aumento da oferta de
alimentos. O homem e a mulher são mais que um conjunto de funções biológicas. Além
disso, todo sistema econômico e social, segundo Marx, apresenta a sua lei geral de
população (SOUZA; PREVIDELLI, 2017), que incorpora tanto elementos considerados
da natureza humana quanto os fatores sociais e histórico de cada período (DAMIANI,
1998).
Além disso, Marx também se debruçou sobre o tema da pobreza. Contrariando
Malthus, na visão marxista o pobre não é caracterizado apenas como alguém privado
dos meios de subsistência, mas como aquele que não consegue obtê-las por meio do
trabalho: “[...] a qualidade de necessitado do trabalhador decorre do fato de ele depender
sempre da necessidade que o capitalista — que o emprega — tem de seu trabalho”
(DAMIANI, 1998, p. 16–17). No contexto ao qual se referia Marx, a população excedente
não era vista em termos absolutos, mas em sua posição relativa ao capital e ao sistema
de produção industrial da época, o século XIX. Em outras palavras, a superpopulação
não era lida exclusivamente como um processo de crescimento natural (absoluto) da
população, e sim interpretada a partir de sua relação (funcional) com o sistema produtivo
capitalista, isto é, como mão-de-obra excedente disponível para atender as necessidades
do capital. Segundo essa perspectiva, a superpopulação relativa é simultaneamente
resultado e condição para o desenvolvimento do capital (DAMIANI, 1998).
Para melhor compreendermos essa relação, precisamos entender que a
população também constitui força de trabalho. Somos todos trabalhadores e
trabalhadoras, certo? Agora, vamos imaginar o período de expansão da produção
industrial no século XIX e a consolidação do sistema capitalista, com suas leis e regras
para funcionar de forma satisfatória. No capitalismo, o objetivo da produção é acumular
mais capital e isso ocorre por meio do lucro. Para aumentar o lucro é necessário reduzir
os custos de produção e torná-la mais eficiente. Isso significa que para se desenvolver,
40
a produção industrial não tem condições de absorver toda a população existente como
força de trabalho (assalariada). O trabalho humano é fundamental, mas a produção
industrial passa a necessitar cada vez mais de outros fatores de produção (máquinas,
novas técnicas, tecnologias, matérias-primas) para expandir a produção existente e
inovar suas formas produtivas, visando sempre o lucro. Nesse contexto, observa-se a
substituição crescente de trabalhadores pelo maquinário, e o resultado disso não pode
ser outro: a constituição de uma população trabalhadora desocupada, ou, como chama
Marx, um exército industrial de reserva (DAMIANI, 1998).
Na visão marxista, esse contingente populacional disposto a trabalhar opera uma
função importante para a reprodução do capitalismo industrial, a qual se beneficia do
excedente de pessoas desempregadas para justificar, por meio da crescente demanda
por trabalho, o reduzido salário entre os trabalhadores empregados e suas excessivas
horas de trabalho. Por isso, Marx fala de uma superpopulação relativa, que é ao mesmo
tempo resultado e condição para a acumulação capitalista.
41
diametralmente oposta à malthusiana, segundo a qual a miséria, como um fenômeno
natural, seria a principal reguladora dessa relação população/meios de subsistência.
É interessante notar como a perspectiva marxista exerceu significativa influência
no desenvolvimento de novas teorias e estudos contemporâneos diversos, entre esses
os populacionais. Dando um salto espaço-temporal, nos deparamos, na segunda metade
do século XX, com uma realidade de alto crescimento populacional, sobretudo nos países
subdesenvolvidos. A razão dessa nova dinâmica populacional é atribuída especialmente
aos avanços da biomedicina no tratamento, prevenção e controle de doenças, reduzindo
a mortalidade e levando ao fortalecimento da industrialização nas cidades e no campo
(modernização da agricultura, com a mecanização da produção, uso de novas
tecnologias, adoção de insumos químicos e concentração de terras), o que resulta na
saída de pessoas do campo em direção à cidade — êxodo rural — na busca por emprego
e melhor qualidade de vida, mas nem sempre se concretizado.
Nesse contexto, emerge a teoria reformista para pensar a dinâmica populacional.
Inspirada pelas assertivas marxistas, essa perspectiva entende que reformas
socioeconômicas seriam necessárias para estabilizar o crescimento populacional. Nesse
caso, formas de garantir melhor qualidade de vida à população (como garantia de acesso
à educação e saúde de qualidade, bem como distribuição de renda) não apenas
ajudariam a reduzir as taxas de fecundidade, natalidade e mortalidade entre a população
como contribuiriam para o desenvolvimento econômico e social dos países latino-
americanos, africanos e asiáticos (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011).
42
Nesse sentido, podemos dizer que muitas discussões epistemológicas e
filosóficas foram desenvolvidas no trabalho intelectual de Marx e incorporadas por outros
intelectuais, cuja posição teórica é identificada como marxista. Sendo assim, o nível de
complexidade da abordagem marxista para explicar a sociedade é resultado também de
muitas interpretações realizadas por teóricos em diferentes áreas, como sociologia,
economia e geografia. A perspectiva marxista na geografia — tendo como principais
expoentes teóricos, como David Harvey, Henri Lefebvre, Milton Santos e Pierre George
— consolidou- -se a partir da segunda metade do século XX, com o objetivo de investigar
a natureza social do espaço. O pensamento geográfico orientado pelo marxismo parte
da premissa de que as relações sociais, econômicas e produtivas incidem profundamente
no espaço, a partir da produção e circulação de mercadorias, das relações sociais e
produtivas mediadas pelo capitalismo e pela produção e reprodução das desigualdades
socioeconômicas e espaciais (HARVEY, 1980; SMITH, 1988).
Esse pressuposto também é considerado ao se analisar as dinâmicas
populacionais na primeira e segunda metade do século XX. No entanto, uma parcela
significativa dos estudos em geografia de cunho marxista estava preocupada em
compreender a produção e reprodução do capital sobre o espaço geográfico, priorizando
temas como a produção do espaço urbano, os fluxos de mercadorias e a produção de
desigualdades sociais, deixando em segundo plano as questões demográficas
(MORMUL; GIROTTO, 2015). Contudo, para Pierre George o tema do crescimento
populacional e o que se entende por superpopulação ainda se constituíam como
problemáticas a serem analisadas para entender os processos contraditórios de
desenvolvimento econômico e social.
George é considerado um dos precursores dos estudos populacionais em
geografia a partir de uma perspectiva crítica. Segundo Mormul e Girotto (2015), foi este
geógrafo quem cunhou o termo geografia da população, a partir de sua obra de mesmo
nome. Neste livro, além de descrever a distribuição da população sobre a superfície
terrestre (o que também evidencia sua afiliação inicial à geografia francesa clássica), ele
aborda temáticas sobre desigualdades socioeconômicas, tanto em países desenvolvidos
quanto subdesenvolvidos, bem como o envolvimento da população na produção e no
consumo (GARCIA; SALVI, 2018), considerando sua diferenciação socioeconômica.
43
Orientando-se pela ideia de superpopulação relativa de Marx, George (1955 apud
DAMIANI, 1998) elabora uma crítica à ideia de ótimo de população, que foi desenvolvida
na primeira metade do século XX, na Europa, com o objetivo de definir teoricamente um
estado de equilíbrio entre a quantidade de habitantes e os recursos disponíveis, para
garantir a qualidade de vida a cada indivíduo. O problema da perspectiva de ótimo de
população é que a variação do ótimo se daria de acordo com as condições de produção
em determinado contexto e a capacidade de consumo das pessoas (DAMIANI, 1998).
Entretanto, essa capacidade de consumo dos indivíduos varia de acordo com as suas
condições socioeconômicas. Desse modo, não existe nivelamento-padrão ou
homogêneo para definir o grau de satisfação das necessidades das pessoas: “[...] o
estado de superpopulação dependeria, enquanto realidade subjetiva, de as pessoas se
contentarem ou não com um baixo nível de vida” (DAMIANI, 1998, p. 68).
Nesse sentido, para George (1955 apud DAMIANI, 1998), uma definição a priori
tanto do nível de vida da população quanto de uma determinação de ótimo de população
seria artificial e subjetiva, pois a compreensão da existência de uma superpopulação
ocorreria em momentos de crise do sistema socioeconômico capitalista. Explicando
melhor: o problema do desemprego não é resultado de uma superpopulação, mas de um
problema oriundo do próprio sistema econômico (DAMIANI, 1998), pois, como vimos, no
capitalismo ela pode ser mobilizada para a acumulação de capital, com a oferta e procura
de mão-de-obra.
Do ponto de vista técnico, o ótimo é tanto mais elevado quanto mais se sustentar
não produtores. E, do ponto de vista econômico, o ótimo é tanto mais elevado
quanto maior for o número de participantes efetivos na partilha da produção. Esta
última consideração, conclui o autor, leva à forma de superpovoamento relativo
social, atingindo certas camadas sociais (DAMIANI, 1998, p. 68).
51
demográfico (CORAZZA; ARAÚJO, 2009), sendo que mudanças de comportamento,
transformações tecnológicas ou atuações institucionais não eram priorizáveis para
pensar a relação entre população, desenvolvimento e ambiente.
Por isso, para Damiani (1998) essa nova perspectiva malthusiana não
considerava a complexidade das dinâmicas sociais, econômicas e políticas em escalas
nacionais e globais, da mesma forma que não explicitava as relações de poder, tampouco
os interesses de autoridades políticas e econômicas no controle do crescimento
demográfico. Tais dinâmicas são mediadas por históricas relações de poder entre países
ricos e pobres, pelas relações coloniais que em alguns países africanos ainda se
mantinham na década de 1950 e pelos interesses econômicos das empresas privadas
(especialmente as farmacêuticas) que se beneficiaram com as políticas de planejamento
familiar (controle de natalidade) e de esterilização em massa da população pobre,
implementadas em países como Índia e Colômbia.
Além disso, não questionava a lógica capitalista de produção e consumo - uso
de combustíveis fósseis, produção exponencial de lixo, uso intensivo de agrotóxicos na
produção agrícola e superprodução de alimentos mal distribuídos — responsável pela
degradação ambiental e pela precarização de parcela significativa da população. A
emergente abordagem neomalthusiana, com viés ambientalista, tampouco problematizou
os níveis de consumo característicos dos países desenvolvidos: “[...] um norte-
americano, por seu nível de vida, sobrecarrega os recursos e a natureza 20 a 50 vezes
mais do que uma pessoa desfavorecida de um país subdesenvolvido” (DAMIANI, 1998,
p. 26).
Com isso, percebemos que as dinâmicas demográficas e de desenvolvimento,
em nível mundial, não devem ser interpretadas de forma reducionista. Sendo assim, é
necessário levar em conta a complexidade presente nessas relações, articulando não
apenas aspectos demográficos e ambientais. É preciso entender a importância das
questões sociais (pobreza, educação, acesso à amenidades geográficas), econômicas
(desenvolvimento econômico, renda, trabalho, padrões e níveis de produção e consumo),
culturais (padrão de consumo) e científicas e tecnológicas (desenvolvimento de
tecnologias sustentáveis ou não), que são mediadoras de nossa relação com a natureza
e da forma como a transformamos.
52
6.2 A teoria neomalthusiana e a escassez de alimentos
[...] era necessário um controle rígido da natalidade, uma vez que (a) o número
de consumidores tende a aumentar em proporção superior ao produto nacional,
o que leva ao empobrecimento geral da população; (b) a relação entre o
contingente economicamente ativo e a população global tende a ser
desfavorável; (c) o aumento da população leva à necessidade de ampliação do
fator trabalho em detrimento da formação de capital; (d) o crescimento contínuo
da população provoca destruição do meio ambiente e o esgotamento de recursos
não renováveis [...]. Como se vê, nas preocupações dos neomalthusianos não
constava qualquer perspectiva de alteração da realidade, isto é, de modificação
das estruturas econômicas e sociais ou das relações entre países ricos e pobres
(MENDONÇA, 2014, documento on-line).
A terra, por sua vez, era considerada o único fator de produção capaz de gerar
riqueza (MENDONÇA, 2014) e que se encontrava em ameaça de exaurimento, devido
ao aumento demográfico, sobretudo em países latino- -americanos, africanos e asiáticos.
Josué de Castro (1908–1973), médico, geógrafo, especialista em geografia dos
países subdesenvolvidos e presidente do conselho executivo da ONU para a Alimentação
e a Agricultura (FAO) na década de 1950, estabeleceu em seu livro Geopolítica da Fome
(1951) críticas contundentes às colocações de Vogt, afirmando que não levava a sério
informações científicas produzidas a respeito das dinâmicas demográficas na América
Latina (a região, ao contrário do que afirmava Vogt, não era densamente povoada),
desconsiderando, igualmente, as estruturas históricas (colonialismo e imperialismo),
econômicas e sociais (entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos) relacionadas ao
problema da fome em nível mundial. Assim, na opinião de Castro:
54
técnicas de produção agrícola). No contexto brasileiro, por exemplo, Castro entendia que
era necessária uma transformação na estrutura fundiária por meio da reforma agrária e
o incremento da produção agrícola por meio do desenvolvimento das técnicas.
Para tanto, ele considerava imprescindível o desenvolvimento econômico dos
países subdesenvolvidos, que se fortaleceriam por meio da cooperação econômica em
âmbito internacional. A eliminação da fome era considerada, então, resultado e condição
para o desenvolvimento econômico, noção evidenciada pela consolidação de
organizações como a FAO/ONU e a Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe (Cepal) na segunda metade do século XX. Além disso, Castro defendia a
necessidade de políticas alimentares, responsáveis por viabilizar a distribuição adequada
de alimentos a preços justos, a fim de evitar problemas relacionados a superprodução e
subconsumo, pois, para ele, não bastava a produção de víveres com o uso de novas
técnicas agrícolas se os alimentos não estivessem ao alcance de quem necessita e não
poderiam pagar (DINIZ, 1984).
59
7.1 Crescimento vegetativo versus crescimento demográfico
60
Assim, os aspectos sociais, socioeconômicos e políticos são fundamentais para
os estudos populacionais. Esses componentes permitem analisar o comportamento
demográfico de determinado lugar em sua complexidade e explicar por que o crescimento
vegetativo de um país aumentou, diminuiu, se estabilizou ou por que o número de
pessoas que saíram (emigraram) de determinado país cresceu. Os aspectos sociais nos
permitem compreender como as relações sociais, econômicas e políticas que
estabelecemos uns com os outros e com o espaço em que vivemos afetam a dinâmica
populacional. Consideremos uma cidade brasileira hipotética e sua realidade social: se
sua política de bem-estar social é deficiente, a qualidade de vida de sua população será
afetada; se o índice de violência urbana é alto e o serviço de segurança da cidade é
ineficiente, o número de óbitos deve aumentar; se sistema de saúde é precário, isso pode
comprometer a expectativa de vida das pessoas.
Os aspectos socioeconômicos — que não estão isolados dos aspectos sociais
— também influenciam na qualidade de vida da população, além de revelar a dinâmica
de desenvolvimento de um país, afetando os índices de óbitos, nascimentos e emigração.
Apoiando essa afirmação em exemplos, vamos comparar países latino-americanos e
seus Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Selecionamos três países com o maior
IDH da América Latina e mais três países com o menor IDH da região. Além disso,
identificamos seus índices de mortalidade (óbitos) entre a população masculina (Quadro
1).
Quadro 1. Relação entre IDH e taxa de mortalidade masculina para o ano de
2014
Fonte: Adaptado de Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2015); World Bank
Group (2019a).
61
Ao realizarmos uma breve leitura dos dados apresentados, notamos que os
países com pior IDH — que é, de forma geral, calculado considerando fatores como
saúde, renda e educação — apresentam também o maior número de óbitos entre a
população masculina. É evidente que nossa leitura dessas informações entende que
existe uma multiplicidade de fatores mediando essa relação IDH–mortalidade e que a
relação causal entre ambos índices deve ser interpretada em sua complexidade. Um
exemplo interessante para entender essa afirmação é o índice de mortalidade masculina
entre os países com os piores IDHs: Haiti, Honduras e Guatemala. Se focássemos
apenas no entendimento de que, quanto menor o IDH, maior a mortalidade, não
conseguiríamos explicar por que a taxa de mortalidade de Honduras é menor que a de
Guatemala, sendo que este último apresenta maior IDH; ou que a Argentina, com IDH
maior que o Uruguai, apresenta maior mortalidade masculina.
O mesmo podemos afirmar com relação à ideia predominante de que quanto pior
for a condição socioeconômica e o nível educacional de uma família brasileira, maior será
seu número de filhos, sendo que taxa de fecundidade, ainda que seja maior entre as
camadas mais pobres, tem diminuído significativamente entre este mesmo grupo social
(FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2019). Ainda considerando a
influência dos aspectos sociais e econômicos nas dinâmicas de crescimento vegetativo
e horizontal, tomemos como exemplo dois casos extremos de maior e menor IDH na
América Latina: Argentina e Haiti, respectivamente. Notamos nas informações contidas
no Quadro 2 que, no caso do Haiti, país com o pior IDH da região, o saldo migratório é
negativo, o que significa que existem mais pessoas saindo do país para viver em outros.
Fonte: Adaptado de Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2015); World Bank
Group (2019a)
62
Agora que conhecemos os elementos que constituem o crescimento vegetativo
e horizontal, podemos avançar para uma breve discussão sobre em que consiste o
crescimento demográfico de determinado lugar.
63
Assim, a taxa de natalidade do País A é de 4,54‰, o que significa que para cada
grupo de mil pessoas, nasceram 4,54 crianças vivas no ano de 2019. É importante
lembrar que a taxa de natalidade se encontra diretamente relacionada com a taxa de
fecundidade, que se refere ao número de filhos que uma mulher teria durante a sua idade
reprodutiva. Isso significa que se a taxa de fecundidade diminuir, a taxa de natalidade
também sofrerá decréscimo (DAMIANI, 1998).
Considerando o caso brasileiro, a taxa de fecundidade atual é de 1,7, ou seja, as
mulheres brasileiras têm em média 1,7 filhos ao longo de sua idade reprodutiva. Esse
valor, de acordo com os estudos realizados pelo Fundo de Populações das Nações
Unidas, encontra-se abaixo da taxa de reposição populacional do Brasil, que atualmente
é de 2,2 (FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2018). Tanto a taxa de
natalidade quanto a de fecundidade são influenciadas por aspectos econômicos, sociais
e culturais de uma nação. A ativa participação de mulheres no mercado de trabalho, por
exemplo, ou a ampliação de seu acesso à educação e melhorias em sua situação
socioeconômica, bem como o acesso a informações e métodos contraceptivos, podem
influenciar em sua disposição com relação a ter filhos.
Já a taxa de mortalidade, como o nome sugere, equivale ao número de óbitos
ocorridos anualmente para cada 1000 habitantes em relação à população total de um de
determinado lugar (DAMIANI, 1998).
64
Interpretando os dados, vemos que a taxa de mortalidade do País A, em 2019,
foi de 1,45‰, indicando que a cada mil habitantes desse país, 1,45 pessoas faleceram.
Não ignorando o fato de que os óbitos podem ocorrer de forma natural, em virtude do
envelhecimento e outras causas, retomemos nossa discussão da seção anterior, sobre o
impacto do cenário socioeconômico de uma realidade geográfica específica sobre o
índice de mortalidade. A partir disso, podemos nos questionar sobre as motivações
relacionadas a esse índice ou analisá-lo de forma mais circunstanciada; entender suas
causas, saber sua diferenciação por sexo (masculino, feminino), por idade (estratificação
por faixa etária), por condição socioeconômica, etc.
Com as informações de que dispomos, já podemos calcular o crescimento
vegetativo, ou natural, do País A. Basta tomarmos a taxa de natalidade (4,54‰) e subtrair
desse valor a taxa de mortalidade (1,45‰). Com isso, obteremos um crescimento
vegetativo de 3,09‰ (ou 0,309%). Esse valor indica que houve um crescimento de 3,09
pessoas para cada grupo de mil habitantes do país. Vimos que outro processo que
influencia diretamente o crescimento demográfico é a migração, que se trata de um
fenômeno antigo, bastante complexo e de grande importância em escala mundial. Em
síntese, podemos definir migração como o deslocamento de um lugar para outro
realizado por pessoas, podendo ocorrer dentro de um mesmo país ou entre países
diferentes (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). Nesse caso, conforme
mencionamos anteriormente, podemos ter a emigração, que ocorre quando as pessoas
saem de determinado país em direção a outro, e a imigração, que define a entrada de
pessoas em um país no qual desejam viver.
O fenômeno da migração entre países pode ocorrer por diversos motivos, como
escolhas pessoais, necessidades ou oportunidades que surgem em diferentes
localidades. Outro fator que pode influenciar o processo de migração é a falha de um país
em proporcionar qualidade de vida à sua população, na forma de segurança, saúde,
educação e trabalho com renda mínima para garantir a subsistência. Esse fator
socioeconômico pode estimular certas pessoas a migrar para buscarem oportunidades
em outros países. De acordo com o relatório publicado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) em 2019, o número de migrantes internacionais neste mesmo ano foi
estimado em 272 milhões, correspondendo a 3,5% da população mundial
65
(ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL PARA LAS MIGRACIONES, 2019). O país que
recebeu o maior número de imigrantes em 2019 foi o Estados Unidos, com 19% do total
(50,7 milhões de imigrantes internacionais). A Índia, por outro lado, corresponde ao país
com o maior número de emigrantes (17,5 milhões), ou seja, de pessoas que saíram do
país para viver em outros.
Sabemos que o saldo migratório, ou o crescimento horizontal, de um país é um
dos componentes básicos para calcular o seu crescimento demográfico. Continuando
com nosso exemplo fictício envolvendo o País A, estabelecemos que o número de
pessoas que migraram para o país em 2019 foi de 1.650 e o número de pessoas que
saíram foi de 550. Com isso, a migração líquida do País A foi de 1.100 pessoas, ou 0,2%.
Desse modo, o crescimento demográfico do País A pode ser calculado da seguinte forma:
0,309% (crescimento vegetativo) + 0,2% (crescimento horizontal) = 0,509% (crescimento
demográfico). Outra forma de calcular esse valor é por meio da seguinte fórmula:
70
• O termo povoado está vinculado à população relativa, isto é, corresponde à
razão entre a população absoluta de um lugar e sua área territorial.
71
Figura 1. Países do globo e sua densidade populacional em 2019.
Fonte: Population Pyramid (2019, documento on-line).
Uma observação interessante que podemos fazer sobre esse mapa é que países
populosos como Estados Unidos e Brasil — os quais ocupam respectivamente o terceiro
e o sexto lugar entre os mais populosos do mundo (UNITED NATIONS, 2019) — não são
densamente povoados. A densidade demográfica do Brasil, como vimos, é de 24,78
hab./km², enquanto a dos Estados Unidos é de 33,47 hab./km². Isso significa que um país
populoso pode, mesmo assim, apresentar baixa densidade populacional. Com isso,
podemos perguntar: quais são, então, os fatores que favorecem a concentração da
população em determinado lugar? Entendemos que esses fatores são múltiplos:
espaciais, naturais, sociais, históricos, econômicos, políticos, etc. É importante estarmos
atentos ao fato de que um território com reduzida dimensão territorial — como Macau,
que é a região mais povoada do mundo, possuindo uma área de 115,3 km² para uma
população absoluta de 640.446 habitantes — provavelmente será mais densamente
povoado que um país com dimensões continentais, como a Rússia, que mesmo com uma
população total de 145.872.260 de habitantes, apresenta uma densidade demográfica
equivalente a 8,53 hab./km². Outro fato a ser destacado é que um mesmo país, como o
Brasil, pode apresentar regiões com maior ou menor densidade demográfica, a depender
de seu contexto histórico, socioeconômico e suas características físico-naturais (figura
abaixo).
72
Figura 2. Brasil e sua densidade demográfica em 1960, 1980 e 2010.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010a, documento on-line).
O Brasil é considerado um país com alta população absoluta, mas com baixa
população relativa, pois apresenta uma ampla dimensão territorial constituída por
recursos naturais que, historicamente, favoreceram a elevada ocupação de seu território
em áreas específicas, como a costa atlântica, possuidora de abundantes recursos
hídricos, terras férteis com relevo adequado para a produção agrícola e abertura marítima
ao comércio exterior (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). É exatamente nessa
região que observamos, ao longo do tempo, o desenvolvimento de atividades produtivas
agroexportadoras durante o período colonial, processos de urbanização ao longo dos
séculos XIX e XX e a crescente industrialização a partir da segunda metade do século
XX (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). Se observarmos o mapa da figura acima,
veremos que as áreas mais densamente povoadas, ao longo de 50 anos, seguem sendo
as próximas ou localizadas na faixa litorânea, onde se encontram grandes cidades, como
Rio de Janeiro (região Sudeste do país) e Salvador (região Nordeste) que, em uma
perspectiva histórica e contemporânea, constituem grandes centros econômicos da
73
nação. Além disso, não podemos deixar de mencionar a região onde se localiza São
Paulo, que possui a maior densidade demográfica do país e que, atualmente, é
considerada uma megalópole, apresentando uma concentração de atividades produtivas
e econômicas dos mais variados tipos. Ademais, a região litorânea do Brasil apresenta
historicamente uma estrutura logística que possibilita o fluxo de mercadorias e pessoas,
sendo este um fator que tem contribuído para o adensamento populacional nessa faixa
territorial.
Ainda observando o mesmo mapa da figura acima, constatamos que as regiões
localizadas no interior do país (Norte e Centro-Oeste), embora tenham, entre 1960 e
2010, aumentado o seu nível de ocupação territorial e densidade populacional —
resultado de projetos nacionais de colonização, expansão da fronteira agrícola e
desenvolvimento regional —, permanecem sendo as áreas menos povoadas do país,
com exceção dos recortes espaciais que representam os grandes centros urbanos
(DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). Se considerarmos os dados do
recenseamento de 2010, veremos que a população total do Brasil era de 190.755.799
milhões de pessoas e a densidade demográfica de então era de 22,43 hab./km²
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010b). Nesse sentido, ao
observarmos o mapa da densidade demográfica mais recente na figura acima, de 2010,
constatamos que o país apresenta áreas cuja população relativa varia de menos de 10
hab./km² a mais de 100 hab./km², revelando uma distribuição populacional bastante
desigual pelo território. No cômputo geral, o país apresenta uma baixa densidade
demográfica, ou seja, é pouco povoado.
74
relação sociedade/meio/espaço/território/natureza e como estes são transformados no
processo de produção ou construção do espaço geográfico.
Nesse sentido, sabemos que a natureza — interpretada de forma geral como um
conjunto de elementos como relevo, vegetação, animais, solo e clima — também constitui
um objeto de estudo geográfico. Retomando brevemente a trajetória da ciência
geográfica, entendemos que tanto a geografia preconizada por Friedrich Ratzel quanto a
escola francesa de Vidal de la Blache, com suas distinções teórico-epistemológicas,
buscavam compreender de que modo o espaço físico-natural influenciava as formas de
ocupação do território e transformação da natureza.
Como exemplo, tomemos a região sul do Rio Grande do Sul, precisamente a
região de Pelotas. Os municípios dessa região encontram-se entre duas formações
geomorfológicas distintas: a Planície Costeira, com relevo plano, abundante e complexa
hidrografia e proximidade ao mar; e o Escudo Cristalino, que apresenta relevo irregular,
riqueza de recursos hídricos, solos férteis, vegetação original abundante, etc. Essa
configuração físico-natural possibilitou alguns processos de formação social, territorial e
histórica, bem como o desenvolvimento de atividades voltadas sobretudo à agricultura e,
mais recentemente, à agroindústria (SALAMONI; WASKIEVICZ, 2013).
Na área mais plana da região, por exemplo, desenvolveu-se durante os séculos
XVIII e XIX a criação de gado e a produção de charque, que representava a principal
atividade produtiva da região nessa época. Ao longo do século XIX, o povoado ampliou
sua população e suas atividades econômicas. Por meio de um conjunto de ações e
relações sociais, políticas e econômicas converteu-se, com o passar do tempo, em
freguesia e na década de 1830 alcançou o estatuto de cidade (GUTIERREZ, 2001;
ROSA, 1985). Sua economia gira em torno do setor primário, com a produção de
commodities e cultivares da agricultura familiar. Seu setor secundário é voltado
principalmente à agroindústria, com produção em pequena, média e larga escala,
enquanto seu o setor terciário concentra-se na prestação de serviços diversos, como
comércio, turismo rural e educação.
A região do Escudo Cristalino, com relevo mais acidentado e vegetação mais
densa, também foi ocupada, mas em menor intensidade. Na segunda metade do século
XIX, essa foi uma área de colonização europeia não ibérica, mas anteriormente já era
75
habitada por povos nativos e, posteriormente, por população africana e seus
descendentes, que representaram a principal mão-de-obra do polo estancieiro-
charqueador entre os séculos XVIII e XIX (GUTIERREZ, 2001). Atualmente, essa área
do município de Pelotas é classificada como zona rural. Possui como principal atividade
econômica a agricultura e a agroindústria de base familiar. Além disso, é formada por
pequenas aglomerações, apresentando densidade demográfica bem menor que a da
sede municipal onde se localiza a cidade.
Com esse exemplo, podemos perceber que o processo de adensamento
demográfico ou povoamento não é um simples resultado de fatores naturais; é produto
de um conjunto de ações humanas em uma perspectiva social, histórica, política, cultural
e econômica. De acordo com Dantas, Morais e Fernandes (2011, p. 171), esses fatores
históricos e econômicos são os principais responsáveis pelas aglomerações
populacionais que vêm elevando a densidade demográfica de algumas regiões do
mundo:
De forma complementar, a autora entende que existe uma relação direta entre
as dinâmicas populacionais e econômicas, afirmando que:
77
populacional. Nos EUA, um país populoso e de densidade demográfica
relativamente elevada, as maiores concentrações estão nos aglomerados
urbanos situados nas proximidades do Oceano Atlântico; nesta área, encontram-
se duas das maiores megalópoles do mundo: Boston/Washington e
Chicago/Pittsburgh. Os fatores que explicam essa elevada concentração
populacional são a disponibilidade de recursos naturais, a existência de uma
densa rede hidrográfica e o processo de colonização do território. Recentemente,
surgiu uma megalópole (San Diego/San Francisco) na Costa Oeste dos EUA, em
decorrência do desenvolvimento do Vale do Silício, importante centro tecnológico
(DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011, p. 174).
78
dado território. Já o subpovoamento é o contrário, ou seja, o número total de habitantes
se encontra abaixo da quantidade e disponibilidade de recursos para satisfazer as
necessidades da população e insuficiente para dinamizar a economia, por meio do
trabalho, produção e consumo. A condição de superpovoado atribuída a um país não
está diretamente relacionada à sua densidade demográfica, mas ao seu grau de
desenvolvimento socioeconômico. O que isso significa? Que se um país, independente
do seu nível de distribuição e concentração populacional, não produz e dispõe de
recursos sociais e econômicos para atender as necessidades de sua população, ele é
considerado um país superpovoado. Com isso, entendemos que mesmo um país que
apresente baixa densidade demográfica ou seja pouco populoso pode ser superpovoado
(DAMIANI, 1998).
A partir disso, também analisar em que medida a densidade demográfica de um
lugar pode influenciar sua dinâmica econômica. Ao identificar de que forma uma
população está distribuída por determinado território, as autoridades de gestão e
planejamento em nível local ou nacional podem avaliar a melhor forma de alocar recursos
e elaborar políticas de desenvolvimento territorial, de acordo com seu contingente
populacional, em termos absolutos e relativos:
79
9 DIFERENÇAS POPULACIONAIS NO HEMISFÉRIO NORTE E NO HEMISFÉRIO
SUL
Esses indicadores variam em função de fatores ambientais que, por sua vez,
levam uma população a aumentar, diminuir, oscilar ou se estabilizar. Para
compreendermos as respostas, é importante integrar as informações dadas pelos
indicadores e associá-las aos fatores ambientais, de maneira a analisar os processos
populacionais. A teoria da transição demográfica foi elaborada em 1929 pelo pesquisador
Warren Thompson, cujos princípios foram aplicados em estudos realizados por Frank
Notestein e publicados em 1944. Essa teoria baseia-se na análise das mudanças das
taxas de natalidade e de mortalidade, como essas alterações ocorrem em cada região e
como se relacionam aos fenômenos da industrialização e da modernidade. Ou seja,
consiste em uma teoria que considera a tendência de crescimento de uma população em
uma determinada localidade de acordo com os ciclos que ocorreram e se intensificaram,
sob diversas razões, no decorrer do tempo (ARAUJO; TAVEIRA; FOGAÇA, 2016).
Dessa forma, para a teoria da transição demográfica não existe um processo
único e constante que determina as oscilações demográficas, como um crescimento
populacional muito elevado. Esses processos variam com o tempo em função de
acontecimentos históricos que podem alterar as perspectivas de crescimento. Assim, os
processos com grande elevação das taxas tenderiam a se estabilizar com o tempo,
80
especialmente pelas sucessivas modificações nas taxas de natalidade e de mortalidade
em virtude de acontecimentos como: melhorias nas condições de saúde, seja no
atendimento hospitalar ou no saneamento básico; aumento da escolaridade, que se
reflete em melhores condições de vida e consciência dos cuidados com a saúde e a
alimentação; guerras, conflitos, pandemias e violência urbana, que atuam como fatores
que interferem nas taxas de mortalidade, etc. Nesse contexto, a transição demográfica
pode ser dividida em fases, de acordo com os fenômenos relacionados à modernidade,
sendo de grande importância para analisar o crescimento vegetativo de uma população.
10 TEORIAS MIGRATÓRIAS
83
que a natureza fornecia. Quando as necessidades já não eram atendidas, eles se
deslocavam novamente em busca de novos lugares.
No decorrer do tempo, o ser humano aprendeu a cultivar alguns alimentos e a
domesticar os animais, buscando se estabelecer em vales próximos aos grandes rios e
diminuir a necessidade de se deslocar em busca de alimentos e segurança. A partir do
momento em que o ser humano dominou as primeiras técnicas agrícolas, passou de
nômade para sedentário, ou seja, com moradia fixa. Nascia a era neolítica, e com a
redução da necessidade de migração por alimentos e segurança, os grupos
populacionais passaram a se unificar e se fortalecer para a proteção das habitações
contra os inimigos, surgindo assim os primeiros exércitos. As primeiras áreas com vida
sedentária mais robusta estavam localizadas às margens dos rios, pela necessidade de
irrigação. A ocupação de forma fixa iniciou-se nos vales do rio Nilo, no Egito; dos rios
Tigre e Eufrates, no Iraque; do rio Indo, no Paquistão, Afeganistão e Índia; e do rio
Amarelo, na China (FUNARI, 2008). O estabelecimento de grupos humanos nos vales
dos rios foi o responsável por espalhar as cidades e a vida sedentária para as áreas em
torno dos vales fluviais. Além disso, a fixação dos grupos, de diversas etnias, contribuiu
para a invenção e o avanço da escrita, bem como para o surgimento das ciências exatas,
como a matemática e a astronomia, na busca por entender os ciclos de cheias e secas
dos rios.
No Oriente, a ocupação dessas regiões e o desenvolvimento de seus povos
despertaram o interesse de outros grupos por essas áreas, iniciando-se os primeiros
conflitos e invasões, a partir de 3.000 a.C., quando os semitas invadiram as cidades
sumérias e estabeleceram o Império dos Acádios (FUNARI, 2018). Ao mesmo tempo,
outros grupos também buscavam novos territórios, seguindo-se uma série de invasões à
Mesopotâmia por povos persas e gregos, e ao Egito, por várias etnias e por todas as
direções, sendo depois finalmente conquistado pelos gregos e persas, entre outros. No
Ocidente, da mesma forma que o nomadismo foi superado pelo sedentarismo, as
primeiras cidades evoluíram para grandes Impérios, como o Grego, o Romano e o
Germânico. A partir do século V d.C., iniciaram-se na região os primeiros conflitos e
invasões com o objetivo de conquista territorial. Tanto no Oriente quanto no Ocidente, as
conquistas e as invasões estimularam os movimentos migratórios, já que muitos povos e
84
etnias temiam por suas vidas e pelos novos regimes. Por isso, deslocavam-se em busca
de novas moradias. O Império Romano, inclusive, foi destruído em função da grande
imigração dos bárbaros para o seu território. Dessa maneira, as migrações ocorreram em
função de fatores de sobrevivência, como busca por alimentos e proteção, e também por
fugas após invasões e conflitos em seus territórios de origem. Além disso, devemos
destacar que também existiam os movimentos migratórios ocasionados por catástrofes
naturais e mudanças climáticas.
Os padrões migratórios mudaram a partir dos séculos XIV e XV, graças à era das
grandes descobertas, iniciadas no território europeu. Nos séculos subsequentes, os
continentes americano, africano e partes do continente asiático foram invadidos por
correntes migratórias, que buscavam conquistar, explorar e colonizar essas regiões. O
período das grandes descobertas foi o responsável por iniciar um novo tipo de migração
internacional, de caráter não voluntário e forçado, que foi o tráfico de escravos. Os
escravos eram trazidos principalmente da África para trabalhar nas Américas. Com a
abolição da escravatura no século XIX, outro fenômeno migratório foi iniciado, também
relacionado ao trabalho, mas de forma voluntária. Não só os escravos se deslocaram
internamente em busca de oportunidades, mas também migrantes de outras
nacionalidades, especialmente europeias, que viam nas Américas uma nova
oportunidade de vida (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). Com a Revolução
Industrial, entre os séculos XVIII e XIX, à medida que novas tecnologias e maquinários
passaram a ser implantados nos processos fabris, muitos trabalhadores foram
dispensados em decorrência da sua substituição pelas máquinas. Dessa maneira, uma
grande massa populacional buscou na migração para o “Novo Mundo”, especialmente
para as Américas, novas oportunidades de trabalho e de vida (DANTAS; MORAIS;
FERNANDES, 2011).
A partir do século XX, outros eventos também promoveram intensas correntes
migratórias, como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, especialmente a última.
Durante a Segunda Guerra, a questão dos refugiados tornou-se muito evidente em
decorrência da perseguição dos alemães a determinados grupos, como os judeus. Ao
mesmo tempo, alguns países como Estados Unidos, Canadá e Austrália aproveitaram os
conflitos para estimular as correntes migratórias para seus países, aumentando sua força
85
de trabalho para aproveitar o grande incremento econômico do pós-guerra. No século
XXI, as migrações ocorrem de maneira constante, sendo observados tanto os fluxos de
quem busca novas oportunidades em outros países como também os fluxos relacionados
aos refugiados por conflitos. Ao longo da história, percebemos que os movimentos
populacionais foram se estabelecendo a partir de diversos contextos e também em
diferentes escalas. A migração tornou-se cada vez mais complexa, pois não se tratava
mais de um simples deslocamento populacional. À medida que foram acrescentados
outros elementos a essa dinâmica, os deslocamentos também passaram a envolver
interesses e questões de ordem estrutural e conjuntural de organizações sociais, das
condições políticas e econômicas, das relações de trabalho, entre outros.
Dessa maneira, os movimentos migratórios são considerados fenômenos que
envolvem as escalas mundial, regional e local, e ocorrem associados às condições
socioeconômicas, políticas, culturais e ambientais. As condições socioeconômicas atuam
tanto na atração quanto na repulsão de movimentos migratórios, de acordo com as
condições de cada região, dependendo se atendem ou não aos desejos e necessidades
dos indivíduos. Já as condições políticas também são fatores de atração e repulsão, pois
de acordo com o regime político ou com a forma de condução governamental, muitas
pessoas se sentem livres ou coagidas a expressar seus sentimentos, lutar por seus
direitos e cumprir com seus deveres. As questões culturais são bastante amplas, pois
envolvem tradições, valores e hábitos, que também influenciam na atração ou na
repulsão de migrantes. Ademais, também temos as questões ambientais, relacionadas
tanto ao desejo de morar em um lugar com clima mais quente ou mais frio, mas também
em virtude dos problemas ambientais, como as mudanças climáticas e as catástrofes
naturais. As variáveis envolvidas nos processos migratórios são muitas e com diferentes
graus de complexidade. Entretanto, boa parte dos movimentos migratórios tem como
motivação inicial os elementos socioeconômicos. Para explicar os fenômenos migratórios
associados a esses elementos, existem diversas abordagens teóricas, tema da próxima
seção.
86
10.2 Diferentes teorias e suas influências econômicas
87
a aquisição de outros conhecimentos até sua formação e seu treinamento profissional,
serão determinados pela relação entre os custos de todo o processo de formação e os
benefícios futuros que ele espera receber por esse investimento. Essa análise sobre o
investimento em uma carreira também se aplica ao ato de migrar, pois está relacionada
ao grau de decisão de um núcleo familiar ou de um indivíduo sobre a sua movimentação
migratória, ou seja, se o investimento necessário para a migração e os retornos que
poderão ser obtidos compensarem e comportarem as questões relacionadas ao
casamento, à separação e ao tamanho da família. Dessa forma, o investimento no
processo migratório requer um tempo para que possa gerar resultados. A renda do
imigrante logo que ingressa no país de destino é, na maioria das vezes, menor quando
comparada aos nativos, pois está relacionada à ausência de algumas habilidades, como
o domínio do idioma. No decorrer do tempo, o imigrante pode passar a investir seus
rendimentos em sua formação ou na aquisição de novas habilidades, de acordo com o
tempo que permanecerá no país e sua expectativa de ganhos em relação aos
investimentos (SANTOS et al., 2010).
93
10.3 Consequências das migrações
94
da região de destino, como saúde, educação e segurança, o que pode provocar um
desequilíbrio econômico, político e social. Já as regiões que perdem contingentes
demográficos para a migração apresentam, como consequência, a redução da população
ativa e também do crescimento populacional, o que reduz a geração de renda e outros
aspectos econômicos, como as dinâmicas industriais e comerciais. Além disso, os
processos migratórios também podem alterar a estrutura demográfica da população,
desequilibrando as taxas relacionadas ao gênero e também aos grupos etários, bem
como nos serviços básicos prestados à população, como saúde, educação, transporte e
segurança. Ademais, também promove uma redistribuição da população, podendo
acentuar ou suavizar os desequilíbrios regionais (DANTAS; MORAIS; FERNANDES,
2011).
99
obrigam milhares de pessoas, todos os anos, a buscarem novos lugares para recomeçar
suas vidas.
120
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
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