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IDENTIFICAÇÃO - PROJETO
NÚMERO DO LINHA DE FOMENTO/CHAMADA
PROCESSO
405166/2012-5 Chamada MCTI/CNPq/SPM-PR/MDA N° 32/2012 / Chamada
Nº 32/2012 - Categoria 1: Projetos de até R$ 100.000,00
COMITÊ ASSESSOR
47 - PROGRAMA ESPECIAL DE INCLUSÃO SOCIAL, IGUALDADE E CIDADANIA
ÁREA DE CONHECIMENTO
Teoria Antropológica
MODALIDADE CA DE JULGAMENTO
CONTRATAÇÃO
Individual 47 - PROGRAMA ESPECIAL DE INCLUSÃO SOCIAL,
IGUALDADE E CIDADANIA
1
Sumário
IDENTIFICAÇÃO - PROJETO ............................................................................................................ 1
1. Introdução ............................................................................................................................... 10
2. Objetivos: ................................................................................................................................ 11
3. Metodologia ........................................................................................................................... 11
3.1. Reflexões sobre a metodologia desta pesquisa: as demandas do campo e a necessidade
de se repensar a etnografia .................................................................................................... 12
4. Descrição do campo e das atividades realizadas .................................................................... 16
5. Síntese das atividades realizadas ............................................................................................ 18
5.1. Atividades realizadas no ano de 2013 .............................................................................. 18
5.2. Atividades realizadas no ano de 2014 .............................................................................. 20
5.3. Atividades realizadas no ano de 2015 .............................................................................. 21
6. Divulgação dos resultados parciais em eventos científicos .................................................... 23
. Relatório descritivo ................................................................................................................... 43
8. Entrevistas e Análises ............................................................................................................ 145
8.1. Caso 1: Vitor ................................................................................................................... 145
8.2. Caso 2: C.T. ..................................................................................................................... 156
8.3. Caso 3: Murilo ................................................................................................................ 162
8.4. Caso 4: Rafael ................................................................................................................. 168
8.5. Caso 5: Júlio .................................................................................................................... 181
9. Considerações Finais ............................................................................................................. 189
10. Bibliografia consultada ao longo da pesquisa ..................................................................... 194
2
Sumário de gráficos
7. Relatório descritivo ................................................................................................................. 43
Gráfico 01 – Percentual da identificação social dos respondentes ........................................ 43
Gráfico 02 – Percentual em relação à idade ........................................................................... 44
Gráfico 03 – Percentual da identificação segundo cultura e costumes .................................. 45
Gráfico 04 – Percentual da identificação de cor e raça segundo o IBGE ................................ 45
Gráfico 05 – Percentual das relações afetivo/sexuais dos respondentes............................... 46
Gráfico 06 – Percentual do gênero das pessoas com quem os respondentes mantinham
relacionamento afetivo/sexual ............................................................................................... 47
Gráfico 07 – Percentual dos respondentes que tem filhos(as) ............................................... 48
Gráfico 08 – Percentual dos respondentes que gostaria de ter filhos(as) ou mais filhos(as). 49
Gráfico 09 – Percentual do grau de escolaridade ................................................................... 50
Gráfico 10 – Percentual dos respondentes que estavam estudando no momento do
questionário ............................................................................................................................ 50
Gráfico 11 – Percentual do principal motivo pelo qual os respondentes não estavam
estudando no momento da entrevista ................................................................................... 51
Gráfico 12 – Percentual de com quem os respondentes moravam no momento da entrevista
................................................................................................................................................. 52
Gráfico 13 – Percentual da idade até a qual os respondentes moraram com pais ou parentes
................................................................................................................................................. 52
Gráfico 14 – Percentual do motivo pelo qual os participantes deixaram de morar com pais
ou parentes ............................................................................................................................. 53
Gráfico 15 – Percentual dos participantes que não moram com pais ou parentes e mantém
contato com os pais ................................................................................................................ 53
Gráfico 16 – Percentual dos respondentes que tem algum tipo de problema de
relacionamento com os pais ................................................................................................... 55
Gráfico 17 – Percentual do grau de escolaridade dos pais dos respondentes ....................... 56
Gráfico 18 – Percentual do grau de escolaridade das mães dos respondentes ..................... 57
Gráfico 19 – Percentual das religiões ou igrejas atuais dos respondentes ............................. 58
Gráfico 20 – Percentual da frequência com que os respondentes comparecem ás cerimônias
de sua religião ......................................................................................................................... 59
Gráfico 21 – Percentual da religião na qual os participantes foram criados .......................... 60
Gráfico 22 – Percentual da cidade onde nasceram os respondentes ..................................... 61
Gráfico 23 – Percentual do estado onde nasceram os respondentes .................................... 62
Gráfico 24 – Percentual das cidades onde nasceram os entrevistados .................................. 62
Gráfico 25 – Percentual do estado onde nasceram os entrevistados .................................... 63
3
Gráfico 26 – Percentual da cidade onde os entrevistados residem atualmente .................... 63
Gráfico 27 – Percentual do estado onde os entrevistados residem atualmente ................... 64
Gráfico 28 – Percentual de motivos que levaram os entrevistados a mudarem da cidade
natal......................................................................................................................................... 64
Gráfico 29 – Percentual de outros motivos que levaram os entrevistados a mudarem de
cidade ...................................................................................................................................... 65
Gráfico 30 – Percentual da atual situação de moradia dos entrevistados ............................. 65
Gráfico 31 – Percentual de fonte de renda dos entrevistados ............................................... 66
Gráfico 32 – Porcentagem de ocupação/atividade laboral dos entrevistados ....................... 67
Gráfico 33 – Porcentagem da situação trabalhista dos entrevistados em sua ocupação ...... 67
Gráfico 34 – Porcentagem da renda mensal dos entrevistados na principal ocupação ......... 68
Gráfico 35 – Porcentagem de entrevistados que possuem convênio/plano de saúde .......... 68
Gráfico 36 – Porcentagem de entrevistados que precisaram de atendimento mas não
procuraram serviço de saúde .................................................................................................. 69
Gráfico 37 – Porcentagem de motivos pelos quais os entrevistados não procuraram
atendimento............................................................................................................................ 70
Gráfico 38 – Percentual relativo ao uso de álcool pelos entrevistados .................................. 71
Gráfico 39 - Percentual relativo ao uso de cigarro pelos entrevistados ................................. 71
Gráfico 40 - Percentual relativo ao uso de maconha pelos entrevistados ............................. 72
Gráfico 41 – Percentual relativo ao uso de lança perfume/loló pelos entrevistados ............. 72
Gráfico 42 - Percentual relativo ao uso de cocaína pelos entrevistados ................................ 73
Gráfico 43 - Percentual relativo ao uso de crack pelos entrevistados .................................... 73
Gráfico 44 - Percentual relativo ao uso de drogas pelos entrevistados – Xarope .................. 74
Gráfico 45 - Percentual relativo ao uso de anfetamina/metanfetamina pelos entrevistados 74
Gráfico 46 – Percentual relativo ao uso de heroína/morfina drogas pelos entrevistados ..... 75
Gráfico 47 – Percentual relativo ao uso de Ecstasy, MDMA pelos entrevistados .................. 75
Gráfico 48 - Percentual relativo ao uso de LSD pelos entrevistados ...................................... 76
Gráfico 49 - Percentual relativo ao uso de Ketamina (special K), GHB pelos entrevistados... 76
Gráfico 50 - Percentual relativo ao uso de drogas pelos entrevistados – Cogumelo ............. 77
Gráfico 51 – Percentual relativo ao uso de remédio psiquiátrico pelos entrevistados .......... 77
Gráfico 52 – Percentual relativo ao uso de outras drogas pelos entrevistados * .................. 77
Gráfico 53 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram depressão ....................... 78
Gráfico 54 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram outras doenças
psiquiátricas ............................................................................................................................ 78
Gráfico 55 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram tuberculose .................... 79
4
Gráfico 56 - Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram câncer ............................. 79
Gráfico 57 - Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram diabetes .......................... 80
Gráfico 58 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram hipertensão .................... 80
Gráfico 59 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram colesterol alto (gordura no
sangue) .................................................................................................................................... 81
Gráfico 60 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram HIV/Aids ......................... 81
Gráfico 61 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram gonorreia........................ 82
Gráfico 62 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram sífilis ............................... 82
Gráfico 63 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram doenças hepáticas (fígado)
................................................................................................................................................. 82
Gráfico 64 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram problemas nos rins......... 83
Gráfico 65 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram problemas cardíacos ...... 84
Gráfico 66 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram dependência ou problemas
com alguma outra droga ......................................................................................................... 84
67 – Percentual dos respondentes que afirmaram ter outros tipos de doença. .................... 85
Gráfico 68 – Percentual dos respondentes que no último ano, deixou de usar algum dos
itens na relação sexual ............................................................................................................ 85
Gráfico 69 – Percentual dos respondentes que nos últimos doze meses, fizeram exame de
HIV ou outras DST's ................................................................................................................. 86
Gráfico 70 – Percentual do local onde os exames de HIV ou outras DST's foram feitos ........ 86
Gráfico 71 – Percentual do motivo pelo qual os respondentes não fizeram os exames de HIV
ou outras DST's........................................................................................................................ 87
Gráfico 72 – Percentual dos respondentes em relação ao atendimento ginecológico .......... 88
Gráfico 73 – Percentual dos respondentes em relação ao suicídio ........................................ 89
Gráfico 74 – Percentual das idades que os respondentes começaram a ter consciência de
que desejariam viver e se identificar socialmente no gênero masculino ............................... 90
Gráfico 75 – Percentual dos respondentes que se apresentam (ou não) no gênero masculino
................................................................................................................................................. 91
Gráfico 76 – Percentual das idades em que os entrevistados passaram a se apresentar no
gênero masculino .................................................................................................................... 91
Gráfico 77 – Percentual de respondentes que fizeram (ou não) transformações corporais.. 92
Gráfico 78 – Percentual das idades com que os entrevistados iniciaram suas transformações
corporais.................................................................................................................................. 92
Gráfico 79 – Percentual de técnicas utilizadas pelos respondentes para modificar o corpo . 93
Gráfico 80 – Percentual de danos causados pelas técnicas de modificação corporal, exceto
hormônios e cirurgias, utilizadas pelos respondentes. ........................................................... 95
5
Gráfico 81 – Percentual sobre o uso de hormônios no presente ou no passado como parte
da transformação corporal...................................................................................................... 96
Gráfico 82 – Percentual do motivo pelo qual os respondentes não fizeram uso de hormônios
como parte de sua transformação corporal, caso desejassem............................................... 96
Gráfico 83 – Percentual do tempo de uso de hormônios pelos respondentes ...................... 97
Gráfico 84 – Percentual dos efeitos colaterais negativos decorrentes do tratamento
hormonal percebidos pelos respondentes ............................................................................. 98
Gráfico 85 – Percentual dos efeitos colaterais negativos específicos percebidos pelos
respondentes .......................................................................................................................... 99
Gráfico 86 – Percentual do acompanhamento médico recebido ou não pelos respondentes
para o uso de hormônios ...................................................................................................... 100
Gráfico 87 – Percentual dos meios de acesso a hormônios.................................................. 101
Gráfico 88 – Percentual dos meios de aplicação de testosterona ........................................ 102
Gráfico 89 – Percentual dos meios pelos quais os respondentes tiveram conhecimento sobre
o uso de hormônios............................................................................................................... 103
Gráfico 90 - Percentual do uso de substâncias como parte da transformação corporal...... 104
Gráfico 91 – Percentual do uso de suplementos e vitaminas como parte das transformações
corporais................................................................................................................................ 105
Gráfico 92 – Percentual das percepções sobre a realização da mastectomia (remoção
cirúrgica da mama)................................................................................................................ 106
Gráfico 93 – Percentual das percepções sobre a cirurgia de redução de mama .................. 107
Gráfico 94 – Percentual da realização da mamoplastia masculinizadora (cirurgia plástica
reconstrutiva que transforma a mama feminina em masculina) ......................................... 108
Gráfico 95 – Percentual da realização da histerectomia total (retirada de todos os órgãos
reprodutivos internos) .......................................................................................................... 108
Gráfico 96 – Percentual da realização da neofaloplastia (construção de neopênis a partir de
enxertos do corpo) ................................................................................................................ 109
Gráfico 97 – Percentual da realização da metoidioplastia (construção de neopênis a partir do
clitóris)................................................................................................................................... 110
Gráfico 98 – Percentual da realização da colpectomia/vaginectomia (fechamento do canal
vaginal) .................................................................................................................................. 110
Gráfico 99 – Percentual da realização da escrotoplastia (criação de testículos a partir de
próteses de silicone) ............................................................................................................. 111
Gráfico 100 – Percentual das avaliações dos resultados da(s) cirurgia(s) realizada(s) ......... 112
Gráfico 101 – Percentual das tentativas de realização de cirurgias através de plano/convênio
de saúde particular, caso desejem. ....................................................................................... 112
Gráfico 102 – Percentual das tentativas de realização do processo transexualizador pelo SUS
pelos respondentes ............................................................................................................... 113
6
Gráfico 103 – Percentual dos motivos pelos quais os respondentes não estão realizando o
processo transexualizador pelo SUS, caso desejem.............................................................. 114
Gráfico 104 - Percentual das percepções acerca do atendimento de psiquiatras e psicólogos
no seu processo de transição ou identificação ..................................................................... 116
Gráfico 105 – Percentual das percepções sobre a necessidade de ter iniciado o processo de
transformações corporais (cirurgias e hormonoterapia) antes dos 18 anos ........................ 117
Gráfico 106 - Percentual acerca do conforto com características designadas socialmente
como femininas no corpo ..................................................................................................... 118
Gráfico 107 - Percentual de conforto dos respondentes com características designadas
socialmente como femininas no corpo ................................................................................. 118
Gráfico 108 - Percentual de violências físicas sofridas pelos respondentes ......................... 119
Gráfico 109 - Percentual de violências sexuais sofridas pelos respondentes ....................... 120
Gráfico 110 - Percentual de violências psicológicas sofridas pelos respondentes ............... 121
Gráfico 111 - Percentual de violências sofridas por parte de parceira (o) / namorada (o) .. 122
Gráfico 112 - Percentual de violências sofridas por parte de familiares / parentes............. 123
Gráfico 113 - Violências sofridas por parte de amigos / colegas / conhecidos .................... 123
Gráfico 114 - Percentual de violências sofridas por parte de vizinhos ................................. 124
Gráfico 115 - Percentual de violências sofridas por parte de usuários / clientes do seu
ambiente de trabalho............................................................................................................ 125
Gráfico 116 – Percentual de violências sofridas por parte de chefe ou colega de trabalho 125
Gráfico 117 - Percentual de violências sofridas por parte de professores e funcionários de
instituição de ensino ............................................................................................................. 126
Gráfico 118 - Percentual de violências sofridas por parte de alunos de instituição de ensino
............................................................................................................................................... 127
Gráfico 119 - Percentual de violências sofridas por parte de policiais ................................. 128
Gráfico 120 - Percentual de violências sofridas por parte de líderes ou membros da sua
religião ................................................................................................................................... 128
Gráfico 121 - Percentual de violências sofridas por parte de líderes ou membros de outra
religião ................................................................................................................................... 129
Gráfico 122 - Percentual de violências sofridas por parte de pessoas desconhecidas na rua
............................................................................................................................................... 130
Gráfico 123 - Percentual de violências sofridas por parte de funcionários / gestores de
estabelecimentos públicos .................................................................................................... 131
Gráfico 124 - Percentual de violências sofridas por parte de funcionários / administradores
de estabelecimentos privados ou comerciais ....................................................................... 131
Gráfico 125 - Percentual dos locais que sofreram violência ................................................. 132
Gráfico 126 - Percentual de violências/danos patrimoniais sofridos ................................... 133
7
Gráfico 127 - Percentual de constrangidos por uma abordagem policial............................. 134
Gráfico 128 - Percentual dos que tem medo que as pessoas identifiquem como trans ...... 134
Gráfico 129 - Percentual dos que tem medo de serem constragidos publicamente por serem
trans ...................................................................................................................................... 135
Gráfico 130 - Percentual dos que tem medo de serem constrangidos ao mostrar os
documentos .......................................................................................................................... 136
Gráfico 131 – Percentual dos entrevistados que responderam ter medo de sofrer as
agressões mencionadas, em seu dia-a-dia ............................................................................ 137
Gráfico 132 – Percentual de entrevistados que conhecem (ou não) leis, decretos, resoluções
ou outras normas que garantem o direito ao nome social em órgãos públicos do seu
município, estado ou a nível de Governo Federal ................................................................ 138
Gráfico 133 – Percentual de entrevistados que tentaram utilizar o direito ao nome social em
órgãos públicos ..................................................................................................................... 139
Gráfico 134 – Percentual de entrevistados que mudaram o nome e/ou sexo no registro civil
............................................................................................................................................... 140
Gráfico 135 – Percentual dos motivos pelos quais o entrevistado não mudou seu nome e/ou
sexo no registro civil.............................................................................................................. 141
Gráfico 136 – Percentual de entrevistados que conhecem (ou não) instituições ou pessoas
que lutam pelos direitos de transexuais e transgêneros, na cidade em que mora atualmente
............................................................................................................................................... 142
Gráfico 137 – Percentual dos locais que o entrevistado frequenta e das atividades que ele
pratica em seu tempo livre ................................................................................................... 143
8
9
1. Introdução
As/os transexuais e transgêneros são potencialmente agentes de
deslocamentos em relação ao binarismo de gênero e à matriz heterossexual
que são vivenciadas, corporificadas, na prática. Contudo, a patologização
reduz essa experiência diversa a uma doença e busca adequar os corpos trans
ao modelo binário heterossexual. Neste sentido, reitera a norma que pressupõe
a relação causal e direta entre sexo e gênero. Nota-se que nos campos do
direito, saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos
humanos iniciativas para a população trans ainda se encontram geminais no
Brasil. No caso especificamente de homens trans, iniciativas relacionadas à
direito, saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos
humanos ainda são menos difundidas. Ainda que no Brasil não haja um
levantamento aprofundado sobre a população trans masculina, uma série de
preocupações se faz presente concernente a essa população, principalmente
relacionadas às consequências da violência de gênero, com orientação sexual
e identidade de gênero e o acesso limitado ao Sistema de Saúde. Dentro
desse contexto, a partir de estudos internacionais e de relatos de homens trans
no Brasil, destacamos os vários tipos de violência sofridos, além do risco de
morte nessa população. Nesse sentido, entendemos que o processo de
transição deva ser uma escolha do sujeito, uma ação autônoma, garantido pelo
Estado e com acesso indiscriminado à saúde. Em outras palavras, a vivência
desse processo, marcado pela invisibilidade, num cenário de autonomia dos
sujeitos trans, deveria estar desvinculada da patologização, pois é justamente
essa ausência de legitimidade e reconhecimento da autonomia e da
autodeterminação do sujeito trans, que reforça a vulnerabilidade dos homens
trans em termos jurídicos, políticos e sociais. Neste projeto abordamos essa
temática pouco problematizada com foco na carência de visibilidade das
demandas e de acesso a políticas públicas de saúde integral e específica para
homens trans. Nossa pesquisa está centrada no mapeamento exclusivo da
população trans masculina no Brasil, em especial nas capitais e região
metropolitana dos Estados de Minas Gerais e São Paulo.
10
2. Objetivos:
Mapeamento de redes sociais, discussões e articulações políticas da
população trans realizadas através da internet
3. Metodologia
Metodologicamente, foram propostas duas fases da pesquisa, além da
observação participante e de reuniões preliminares e presenciais com homens
trans de BH e região a fim de subsidiar a elaboração do questionário. Primeira
fase: mapeamento de informações e demandas através da internet (redes
sociais) considerando o âmbito nacional e aplicação de questionários online em
âmbito regional; 2ª fase: entrevistas semiestruturadas em âmbito regional
(Minas Gerais e São Paulo).
11
militantes transexuais e pesquisadores da área, visando a busca de dados
fundamentais para conhecimento da população e em particular um
mapeamento das principais demandas da área de saúde. A partir dos
questionários, alguns sujeitos foram selecionados para a entrevista, a fim de
aprofundar a discussão sobre as demandas e elaboração de políticas públicas
no campo da saúde para o grupo em questão, além de dados que poderão
subsidiar a formulação de políticas para a saúde, mas que, levando em conta a
escassez de informações públicas sobre esses sujeitos, propiciarão a
visibilidade de homens transexuais enquanto grupo com sérios entraves ao
acesso a direitos básicos. A observação participante se deu através da
participação em atividades presenciais com homens trans, mapeadas através
das discussões online, negociadas com os responsáveis pela organização das
atividades e mediadas pelas duas associações brasileiras de homens trans
(ABHT e IBRAT) e militantes trans locais.
13
de saúde. A partir dos questionários, alguns sujeitos são selecionados para a
entrevista, a fim de aprofundar a discussão sobre as demandas que possam
contribuir para a elaboração de políticas públicas para o grupo em questão.
14
além dessa fronteira, ou que provavelmente não existiriam (ao menos nos
termos em que hoje existem) se acreditassem nessa fronteira.
15
4. Descrição do campo e das atividades realizadas
O atual campo do projeto “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil:
entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para homens trans”,
constituiu-se a partir da rede de contato prévia de pesquisadores e militantes
trans do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT – NUH/UFMG e
posterior realização de: 1) mapeamento e acompanhamento das redes sociais
dos homens trans no Brasil, com maior foco para Belo Horizonte (MG), São
Paulo (SP) e Campinas (SP) ; 2) realização de reuniões mensais, no decorrer
de 2013 e primeiro semestre de 2014, com os homens trans de Belo Horizonte
e região metropolitana; 3) participação mensal, desde o início de 2014, em
reuniões no centro de referência da cidade de Campinas; 4) participação em
uma reunião do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT) na cidade
de São Paulo.
16
número de participantes. Constatamos as dificuldades de mobilização e
presença dos sujeitos nos mais diversos encontros, seja promovido pela
academia ou pela militância, e entendemos que tal situação está relacionada à
complexa dinâmica de assujeitamentos, discriminações e desmotivações que
as transexualidades configuram socialmente, fazendo com que muitos se
sintam mais motivados e confortáveis para atuação online.
17
planejamento inicial de aplicações presenciais. Em função das dificuldades
para a construção de um questionário online auto-aplicativo, houve um atraso
considerável no início das aplicações/disponibilização online do mesmo.
18
Durante todo o ano realizamos um levantamento bibliográfico, leitura
sistemática de textos e discussões em grupo sobre os mesmos nas reuniões
semanais.
19
17 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM
novembro
24 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM - Apresentação
novembro da situação judicial dos casos de alteração de registro em Minas
Gerais
20
setembro
Data Atividades
21
13 de março Grupo de Estudos. Discussão do livro “Problemas de Gênero”,
de Judith Butler.
22
Gerais – UFMG.
Resumo: O corpo como artefato físico e simbólico tem sido objeto de estudo da
antropologia desde o início do século passado. Contudo, as discussões tem se
refinado cada vez mais no sentido de se buscar o entendimento da construção
social dos corpos numa perspectiva maussiana que comtempla o ser humano
na sua tríplice dimensão biopsicossocial. As relações entre o fisiológico, o
psicológico e o social implicam em interdependência e impossibilidade de se
delimitar fronteiras nítidas entre tais dimensões. Para os estudos de gênero,
essa discussão é profícua no sentido de que se coloca em xeque tanto a
construção dos gêneros e das sexualidades quanto do próprio sexo, uma vez
que os sujeitos existem e se relacionam com o mundo – seja no que se refere
ao sexo, ao gênero ou à sexualidade – a partir do corpo, numa perspectiva
23
fenomenológica. Nesse contexto de discussões antropológicas de gênero, esse
trabalho pretende apresentar e problematizar questões concernentes aos
corpos de homens transexuais (também denominados homens trans,
transhomens ou FTMs – Female to Male) e fará referência a uma pesquisa em
andamento na Universidade Federal de Minas Gerais, intitulada
“Transexualidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade e a
demanda por políticas públicas para homens trans”. Dentre os objetivos da
pesquisa, está a problematização da construção de novos corpos que, através
de técnicas e procedimentos muito particulares, escapam à lógica da matriz
heterossexual reprodutiva. Os homens trans são sujeitos que nasceram com o
sexo feminino e foram biologicamente e socialmente identificados como
mulheres mas buscam através de vários recursos (hormonização, cirurgias
etc.), a transformação de seus corpos num viés masculino e o seu
reconhecimento social como homens. No Brasil, a cirurgia de
transgenitalização para homens trans é considerada experimental e, portanto, o
acesso a ela não é fácil, seja pelo SUS ou por convênios. A cirurgia mais
comumente realizada é a mastectomia (retirada dos seios) e, eventualmente
(quando há uma doença que justifique), a colpectomia (retirada do útero). Além
das cirurgias e da utilização de hormônios (o que caracteriza outra polêmica já
que o acesso aos hormônios também não é tão tranquilo no Brasil), os homens
trans ainda se apropriam de outros aparatos e técnicas visando à alteração de
seus corpos, como faixas de ataduras, coletes compressores etc.). Essa
alteração dos corpos não se desvincula de uma alteração nas relações sociais
e na forma de ver o mundo e as relações, evidenciando esse caráter
biopsicossocial da transexualidade, seja masculina ou feminina. Nesse sentido,
apresentaremos e analisaremos alguns dados iniciais da pesquisa em
andamento, a fim de problematizarmos a construção dos corpos
particularmente através da especificidade das experiências dos homens trans.
24
Autora: Érica Renata de Souza
Título: O antropólogo no campo e na rede: reflexões sobre etnografia e
redes sociotécnicas numa pesquisa sobre transexualidade masculina
Evento: 29ª Reunião Brasileira de Antropologia
Local: UFRN, Natal-RN.
Data: 03 a 06 de agosto de 2014.
25
campo para além de um sentido pautado na fisicalidade e presença humana do
pesquisador, condições que garantiriam, nos termos de James Clifford, a sua
“autoridade etnográfica”. Concluindo, essa pesquisa tem nos indicado um outro
lugar para o etnógrafo: como mais um ator da rede sociotécnica, ou seja, um
dos seus híbridos.
26
Autora: Érica Renata de Souza
Co-autor: Marco Aurélio Máximo Prado
Título: Políticas públicas para homens trans no Brasil: problematizando a
violência e a insuficiência de acesso à saúde.
Evento: Fifth International Conference Queering Paradigms: “Queering
narratives of modernity”
Local: Quito, Equador
Data: 18 a 22 de fevereiro de 2014
27
Autoras: Joicinele Alves Pinheiro; Shirlei dos Reis Ribeiro; Sofia
Gonçalves Repolês
Título: Construção e compartilhamento de desafios, demandas e
estratégias de homens transexuais para o acesso a saúde -notas sobre
um campo online
Evento: I Congresso de Diversidade Sexual e de Gênero
Local: Universidade Federal de Minas Gearis – Faculdade de Direito e
Ciências do Estado
Data: 02 a 05 de setembro de 2014
28
Campinas e em reuniões do IBRAT (Instituto Brasileiro de
Transmasculinidades) em SP. Pretendemos então apresentar as dificuldades
de acesso e atendimento no sistema público de saúde enfrentados por homens
transexuais, bem como suas principais demandas e estratégias para alcançá-
las identificadas através do mapeamento online de grupos e discussões em
redes sociais.
29
binários/genderqueer/transmasculinos, assim como compreender seus
processos de construção da identidades e corpos não-binários, bem como os
discursos mobilizados por estes atores a fim de construir e legitimar suas
demandas e identidades políticas.
30
visibilidade e demandas de acesso às políticas públicas de saúde integral e
específica.
31
elaborar uma caracterização das principais formas de violência e discriminação
aos quais os homens trans estão sujeitos.
32
às potencialidades e limitações que essas diferentes categorias identitárias
pemitem enquanto significação das vivências sexo-afetivas e enquanto
possibilidade de construção de comunidade/solidariedade política.
33
identitariamente. Em meio as discussões sobre os processos indentitários e
demandas de políticas públicas ao Estado por sujeitos que se auto-identificam
como homens trans, destacam-se os sujeitos que não se sentem contemplados
por esse termo/identidade e, por sua vez, identificam-se como “não-binários”,
genderqueer ou “transmasculinos”. Reivindicam demandas e formas de
identificação distintas como, por exemplo, o uso pelo movimento social do
termo “transmasculinidades” como identidade política que abarcaria uma
maior diversidade de experiências em detrimento do termo “homem trans”, que
diria respeito a uma forma especifica de identificação num espectro mais amplo
de transmasculinidades. No presente texto, nos dedicaremos a descrever e
analisar tais demandas levantadas pelos sujeitos trans não-
binários/genderqueer/transmasculinos no contexto brasileiro. Buscaremos
também compreender seus processos de construção da identidades e corpos
não-binários, bem como os discursos mobilizados por estes atores a fim
de construir e legitimar suas demandas e identidades políticas. Discutiremos
também as tensões que se dão em torno das distintas categorias político-
identitárias. Para tal empreendimento, estabeleceremos um diálogo teórico
com autores de outros países latino-americanos que desenvolvam debates,
pesquisas ou atividades de militância sobre o tema das transmasculinidades,
como Mauro Cabral (2003), Vendrell Ferré (2009), Valenzuela (2011) e Silva
e Rojas (2009).
34
Resumo: Este projeto problematiza as questões de gênero e sexualidade em
homens trans dentro da saúde pública brasileira. De modo que esses sujeitos
provocam um deslocamento no binarismo de gênero e na matriz heterosexual a
partir de suas vivências e corporificações. Entretanto, o processo
transexualizador do SUS, vigente atualmente, os enquadra em um modelo
binário heterossexual, patologizando essa experiência. Devido a isso há uma
invisibilidade e acesso limitado à saúde para essa população. Então, é a partir
de um levantamento das experiências trans que esse projeto pretende provocar
maiores problematizações e compreensões referentes à carência de
visibilidade e demandas de acesso às políticas públicas de saúde integral e
específica.
35
Os dados ainda são preliminares e oriundos de nossas observações e relações
com os homens trans no contexto de Belo Horizonte. A percepção aqui
apresentada é passível à mudanças ao longo do desenvolvimento da pesquisa.
36
próprio campo. Nesse sentido, a relação da pesquisa com a internet se
expandiu para além de um mapeamento, uma vez que as redes sociais
configuraram o nosso campo primário de coleta de dados e contato com os
interlocutores.
37
experiência a uma doença. Devido isso temos uma invisibilidade e acesso
limitado à saúde para essa população. Então, é a partir de um levantamento
dessas experiências trans que esse projeto pretende provocar maiores
problematizações e compreenções referentes à carência de visibilidade e
demandas de acesso às políticas públicas de saúde integral e específica. Essa
pesquisa se centraliza no mapeamento da população de homens trans do
Brasil, especialmente nas regiões da grande BH e da cidade de São Paulo.
38
Brasil, com foco nas cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Campinas. Em
que a invisibilidade se torna recorrente para esses sujeitos, seja por meio da
sociedade e do poder público que ignoram essa possibilidade de identidade de
gênero, uma vez que não se destina políticas que atendam às necessidades
dos homens trans. Seja por eles mesmos que se utilizam da estratégia de
passar por, que consiste na ocultação de sua experiência como transexual, em
um contexto que se poderia ter dito sobre ela. A pesquisa visa levantar os
principais espaços virtuais de sociabilidade, dados regionais e sócio-
econômicos, caracterizar as expressões das transidentidades masculinas e
investigar violências sofridas. Além de investigar as formas que os homens
trans têm acesso à rede de saúde, problemas sofridos em função do não
acesso aos tratamentos e suas principais demandas.
39
Autora: Sara Silveira Soalheiro
Co-autora: Marina Luiza Nunes Diniz
Título: Transexualidades masculinas e Saúde Pública: a estratégia de
passar por, a invisibilidade e a demanda por políticas públicas.
Evento: VI Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade; II Seminário
Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade; do II Encontro Gênero e
Diversidade na escola
Local: Universidade Federal de Juiz de Fora
Data: 24 a 26 de setembro de 2014
40
destaque para área de saudade, voltadas para esse segmento populacional,
mesmo que hajam demandas, já que o ato de passar por pode refletir em uma
não pleito pela garantia de direitos.
41
se encontra disponível online e em breve será aplicado a uma parcela da
população de homens trans de Minas Gerais.
42
. Relatório descritivo
43
Com relação à identificação social dos respondentes, dos 27 participantes,
81,48% (22) responderam se identificar como homem transexual/homem
trans/FTM/transhomem; 25,93% (7) como transgênero; 11,11% (3) como não
binário; 7,41% (2) como gay; 3,70% (1) como travesti e 3,70% (1) como homem
cis/biológico. Para as opções mulher cis/biológica, lésbica, outros e não sei não
houve nenhuma resposta.
44
Gráfico 03 – Percentual da identificação segundo cultura e
costumes
45
(6) como pardo; 14,29% (4) como preta; 3,57% (1) como amarela e 3,57% (1)
assinalaram a opção não sei.
46
Gráfico 06 – Percentual do gênero das pessoas com quem os
respondentes mantinham relacionamento afetivo/sexual
47
Gráfico 07 – Percentual dos respondentes que tem filhos(as)
48
Gráfico 08 – Percentual dos respondentes que gostaria de ter
filhos(as) ou mais filhos(as)
49
Gráfico 09 – Percentual do grau de escolaridade
50
*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta
Com relação ao principal motivo pelo qual os sujeitos não estavam estudando
no momento do questionário, dos 13 participantes: 46,15% (6) responderam
falta de recursos financeiros; 15,38% (2) começaram a trabalhar; 15,38% (2)
transfobia; 7,69% (1) violência psicológica; 7,69% (1) consideram que
terminaram os estudos e 7,69% (1) outros. Não houve respostas para a
categoria não sei.
51
Gráfico 12 – Percentual de com quem os respondentes moravam no
momento da entrevista
52
Com relação à idade até a qual eles moraram com pais ou parentes, dos 10
respondentes: 20% (2) responderam antes dos 18 anos; 50% (5) entre 18 e 25
anos e 30% (3) entre 26 e 34 anos.
Com relação ao motivo pelo qual eles deixaram de morar com pais ou
parentes, dos 11 respondentes: 36,36% (4) responderam violência/preconceito
da família; 27,27% (3) outros; 18,18% (2) formação/estudos; 9,09% (1) morar
com o/a parceiro/a e 9,09% tratamento médico e/ou cirúrgico (início da
transição). Dos 27,27% (3) que responderam outros, as categorias citadas
foram “Ter privacidade”, “Minha família não me aceita assim” e “Falecimento do
pai”.
53
*Dados referentes a 11 participantes que responderam essa pergunta.
Com relação aos 11 respondentes, que não moram com pais ou parentes:
81,82% (9) responderam manter contato com os pais; 9,09% (1) não mantém
contato com os pais e 9,09% (1) responderam “não, pais falecidos”.
54
Gráfico 16 – Percentual dos respondentes que tem algum tipo de
problema de relacionamento com os pais
56
(2) ensino médio incompleto (1º ao 3º ano do segundo grau incompletos);
7,14% (2) mestrado/especialização; 3,57% (1) não frequentaram a escola e
3,57% (1) assinalaram a opção “não sei”.
Com relação ao grau de escolaridade das mães, dos 28 respondentes: 25% (7)
responderam ensino fundamental incompleto (1ª a 9ª série incompletos);
21,43% (6) ensino médio completo (1º ao 3º ano do segundo grau completos);
17,86% (5) mestrado/especialização; 14,29% (4) ensino médio incompleto (1º
ao 3º ano do segundo grau incompletos); 10,71% (3) ensino superior completo;
3,57% (1) supletivo ensino médio (2º grau); 3,57% (1) ensino superior
incompleto e 3,57% (1) ensino fundamental completo (1ª a 9ª série completos).
57
Gráfico 19 – Percentual das religiões ou igrejas atuais dos
respondentes
58
*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta e geraram 42 respostas.
Era possível marcar mais de uma resposta.
59
Gráfico 21 – Percentual da religião na qual os participantes foram
criados
60
Com relação à religião na qual foram criados, dos 28 respondentes: 71,43%
(20) dos responderam católica; 10,71% (3) na opção outra; 7,14% (2)
acreditam em deus (ou deuses), mas não seguem nenhuma religião; 7,14% (2)
espírita/kardecista; 7,14% (2) outras afro-brasileiras; 3,57% (1) Igreja
Internacional da Graça; 3,57% (1) candomblé; 3,57% (1) umbanda; 3,57% (1)
Batista; 3,57% (1) Universal do Reino de Deus; 3,57% (1) Assembleia de Deus
e 3,57% (1) assinalaram a opção “não sei”. Para as opções Metodista;
Presbiteriana; Deus é Amor; Evangelho Quadrangular; Renascer em Cristo;
Sara Nossa Terra; Testemunha de Jeová; Budista; Judaica; Islamismo;
“Agnóstico (aquele que não acredita na existência de deus (ou deuses) porém
não nega essa possibilidade)” e “Ateu, não acredita em deus(es) e não tem
religião” não houveram respostas.
61
Limeira; 3,70% (1) Salvador; 3,70% (1) Santo André e 3,70% (1) São Caetano
do Sul.
62
Gráfico 25 – Percentual do estado onde nasceram os entrevistados
63
Gráfico 27 – Percentual do estado onde os entrevistados residem
atualmente
64
apresentados pelas opções do questionário, que serão descritos a seguir.
47,8%(11) dos participantes não se mudaram de sua cidade natal.
Entre aqueles que responderam a opção ¨outros¨, 25% (1) se mudaram de sua
cidade natal em função da mudança da mãe e outros 25% (1) em função da
mudança de cidade realizada pelo pai. Outros 25% (1) afirmam terem se
mudado em função do stress, e outros 25% (1) afirmam terem se mudado
motivados pelo falecimento do pai.
65
Com relação a situação de moradia, dentre os 27 respondentes 55,6% (15)
afirmam morar em casa ou apartamento de pais ou parentes, 18,5% (5) em
imóvel próprio, 14,8% (4) em hotel ou motel, 7,4% (2) em imóvel dividido com
ou pertencente a amigos e outros 3,7%(1) dizem morar em pensão ou casa de
diária.
66
Gráfico 32 – Porcentagem de ocupação/atividade laboral dos
entrevistados
67
trabalho. 5%(1) trabalham como autônomos e outros 5%(1) dizem não saber
sobre sua situação trabalhista na principal ocupação.
68
Dentre os 28 respondentes, 57%(16) afirmam possuir convênio ou plano de
saúde, outros 43%(12) dizem não possuir.
69
Gráfico 37 – Porcentagem de motivos pelos quais os entrevistados
não procuraram atendimento
71
Com relação ao uso de cigarro, dentre os 28 respondentes 39%(11) dizem já
terem feito uso de mas não fumam atualmente, 29%(8) afirmaram fazer uso de
cigarro, 21%(6) afirmam nunca ter consumido cigarros, 7%(2) preferiram não
responder a essa questão e 4%(1) escolheram a opção nenhuma das
alternativas com relação ao uso do cigarro.
72
* Dados referentes a 26 participantes que responderam esta pergunta
73
Com relação ao uso de crack, dentre os 25 respondentes, 92%(23) afirmam
nunca ter consumido essa substância. 8%(2) afirmam já terem feito uso mas
não consomem atualmente.
74
Com relação ao uso de anfetamina e metanfetamina, dentre os 25
respondentes 96%(24) afirmam nunca ter consumido essas substâncias. 4%(1)
afirmam consumi-las atualmente.
75
Com relação ao uso de ecstasy e MDMA, dentre os 21 respondentes 81%(17)
afirmam nunca ter consumido essas substâncias. 19%(4) afirmam já terem feito
uso mas não consomem atualmente.
76
Gráfico 50 - Percentual relativo ao uso de drogas pelos
entrevistados – Cogumelo
77
Gráfico 53 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
depressão
78
Gráfico 55 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
tuberculose
Dos 27 respondentes: 3,7% (1) dos afirmaram não saber se tem tuberculose;
3,7% (1) afirmaram ter e fazem acompanhamento médico e 92,6% afirmaram
nunca ter tido a doença.
79
Gráfico 57 - Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
diabetes
*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta
80
Gráfico 59 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
colesterol alto (gordura no sangue)
Dos 27 respondentes: 3,7% (1) afirmaram não saber se tem colesterol alto;
3,7% (1) afirmaram já ter tido, mas não tem mais; 3,7% (1) têm e nunca fizeram
acompanhamento médico; 3,7% (1) tem, já fez acompanhamento médico, mas
não faz mais; 14,8% (4) tem e faz acompanhamento e 70,4% (19) afirmaram
não ter colesterol alto.
81
Dos 27 respondentes: 7,4% (2) participantes afirmaram não saber se tem
HIV/Aids; 3,7% (1) afirmaram ter e fazem acompanhamento e 88,9% afirmaram
não ter a doença.
Dos 23 respondentes: 100% (23) dos entrevistados afirmaram não ter sífilis.
82
*Dados referentes a 24 participantes que responderam essa pergunta
83
Gráfico 65 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
problemas cardíacos
84
fizeram acompanhamento, mas não fazem mais e 68,2% (15) afirmaram não
ter dependência ou problemas com alguma outra droga.
Dos 28 respondentes: 100% (28) dos entrevistados afirmaram não ter ou terem
tido outros tipos de doença.
85
56,52% (13) deixaram de usar luvas de látex; 30,43% (7) deixaram de usar
lubrificante; 13,04% (3) dos entrevistados afirmaram não terem feito sexo no
período e 4,35% (1) afirmaram não saber.
Dos 27 respondentes: 81,5% (22) afirmaram não ter realizado exame de HIV
ou outras DST’s e 18,5% (5) afirmaram ter feito o exame nos últimos doze
meses.
86
Dos 5 respondentes que fizeram o exame: 60% (3) afirmaram ter feito o exame
no serviço público de saúde; 20% (1) no serviço particular e 20% (1) afirmou
não saber.
87
Gráfico 72 – Percentual dos respondentes em relação ao
atendimento ginecológico
88
Gráfico 73 – Percentual dos respondentes em relação ao suicídio
89
Gráfico 74 – Percentual das idades que os respondentes
começaram a ter consciência de que desejariam viver e se
identificar socialmente no gênero masculino
90
Gráfico 75 – Percentual dos respondentes que se apresentam (ou
não) no gênero masculino
91
Dos 21 respondentes: 28,5% (6) começaram a se apresentar no gênero
masculino entre os 7 e 17 anos; 62% (13) entre os 18 e 28 anos e 9,5% (2)
acima dos 28 anos sendo que um dos entrevistados tinha 32 e o outro 66
quando começaram a se apresentar no gênero masculino.
92
*Dados referentes a 12 participantes que responderam essa pergunta
93
*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes
podiam marcar mais de uma opção.
94
ou outra improvisação; 10,7% (3) usam faixas compressoras abdominais;
53,6% (15) usam top/camiseta apertada; 46, 4% (13) utilizam colete
compressor/binder; 10,7% (3) usam esparadrapo poroso e 21,4% (6) fazem
uso de faixas de ataduras.
*Dados referentes a 25 respondentes – poderiam eleger mais de uma opção - que respondem
a essa questão gerando 39 respostas.
95
Gráfico 81 – Percentual sobre o uso de hormônios no presente ou
no passado como parte da transformação corporal
Dos participantes que responderam a pergunta, 17,39% (4) declararam não ter
feito uso de hormônios como parte de sua transformação corporal por ter
atendimento negado pelo SUS; 13,04% (3) declararam ter atendimento negado
pelo plano de saúde/medico(a) particular.
96
Gráfico 83 – Percentual do tempo de uso de hormônios pelos
respondentes
Dos participantes que responderam esta questão, 15% (2) declararam fazer
uso de hormônios há 15 meses; 15% (2) declararam fazer uso de hormônios há
12 meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de hormônios há 36 meses; 7,69%
(1) declararam fazer uso de hormônios há 24 meses; 7,69% (1) declararam
fazer uso de hormônios há 19 meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de
hormônios há 10 meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de hormônios há 9
meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de hormônios há 7 meses; 7,69% (1)
declararam fazer uso de hormônios há 5 meses; 7,69% (1) declararam fazer
uso de hormônios há 2 semanas; 7,69% (1) declararam não saber.
97
Gráfico 84 – Percentual dos efeitos colaterais negativos decorrentes
do tratamento hormonal percebidos pelos respondentes
Dos participantes que responderam esta questão, 57,14% (8) declararam ter
percebido efeitos colaterais negativos decorrentes do tratamento hormonal;
35%71 (5) declaram não ter percebido efeitos colaterais negativos decorrentes
do tratamento hormonal; 7,14% (1) declararam não saber.
98
Gráfico 85 – Percentual dos efeitos colaterais negativos específicos
percebidos pelos respondentes
Dos participantes que responderam esta questão, 12,50% (1) declararam ter
experienciado “crises de ansiedade, péssimas, achava que ia morrer. Pânico
mesmo, coração disparava e etc.”; 12,50% (1) declararam ter experienciado
“redução da tolerância à dor, acne, eventual irritabilidade”; 12,50% (1)
declararam ter experienciado “ganho de peso”; 12,50% (1) declararam ter
experienciado “espinhas, suor excessivo, pele do rosto oleosa”; 12,50% (1)
declararam ter experienciado “espinhas, mudança de humor, ganho excessivo
de peso”; 12,50% (1) declararam ter experienciado “dor nas articulações”;
12,50% (1) declararam ter experienciado “dor de cabeça”; 12,50% (1)
declararam ter experienciado “agressividade/estresse”.
99
Gráfico 86 – Percentual do acompanhamento médico recebido ou
não pelos respondentes para o uso de hormônios
Dos participantes que responderam esta pergunta, 33,33% (6) declararam ter
recebido algum tipo de acompanhamento médico para o uso de hormônios por
meio de serviço particular; 22,22% (4) declararam ter recebido algum tipo de
acompanhamento médico para o uso de hormônios por meio do SUS; 22,22%
(4) declararam nunca ter procurado atendimento médico para o uso de
hormônios por precisar de laudo e ser demorado; 16,66% (3) declararam não
ter tido nenhum tipo de acompanhamento médico para o uso de hormônios e
ter acompanhamento negado pelo SUS; 11,11% (2) declararam não ter tido
nenhum tipo de acompanhamento médico para o uso de hormônios e ter
100
desistido do atendimento médico por precisar de laudo e ser demorado;
11,11% (2) declararam não ter procurado atendimento médico para o uso de
hormônios por receio de ter pedido negado e sofrer preconceito; 11,11% (2)
declararam não ter tido nenhum tipo de acompanhamento médico para o uso
de hormônios e ter tido acesso mais rápido em outros meios (academias,
internet, etc.); 5,56% (1) declararam não ter tido nenhum tipo de
acompanhamento médico para o uso de hormônios e ter acompanhamento
negado por plano de saúde / médico (a) particular.
Dos participantes que respondera esta pergunta, 50% (7) declararam ter obtido
acesso a hormônios por meio da farmácia, com receita liberada por médico(a);
21,20% (3) declararam ter conseguido acesso por meio de farmácia, com
receita falsificada; 7,20% (1) declararam ter conseguido por meio da(s)
academia(s) de ginástica/musculação; 7,20% (1) declararam ter conseguido
por meio da internet; 7,20% (1) declararam ter conseguido através de outras
101
formas, assinalando ser essa outra forma “um amigo trans”; 7,20% (1)
declararam não saber.
102
Gráfico 89 – Percentual dos meios pelos quais os respondentes
tiveram conhecimento sobre o uso de hormônios
Dos participantes que responderam esta pergunta, 69,23% (9) declararam ter
tido conhecimento sobre o uso de hormônios através da internet; 15,38% (2)
declararam ter tido conhecimento sobre o uso de hormônios através de
colegas; 7,69% (1) declararam ter tido conhecimento sobre o uso de hormônios
através do serviço de saúde particular; 7,69% (1) declararam ter tido
conhecimento sobre o uso de hormônios através do serviço de saúde pública.
103
Gráfico 90 - Percentual do uso de substâncias como parte da
transformação corporal
104
Gráfico 91 – Percentual do uso de suplementos e vitaminas como
parte das transformações corporais
105
Gráfico 92 – Percentual das percepções sobre a realização da
mastectomia (remoção cirúrgica da mama)
106
Gráfico 93 – Percentual das percepções sobre a cirurgia de redução
de mama
107
Gráfico 94 – Percentual da realização da mamoplastia
masculinizadora (cirurgia plástica reconstrutiva que transforma a
mama feminina em masculina)
108
Dos participantes que responderam esta pergunta, 80,77% (21) declararam
não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo; 19,23% (5) declararam
não ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia.
109
Gráfico 97 – Percentual da realização da metoidioplastia
(construção de neopênis a partir do clitóris)
110
Dos participantes que responderam esta pergunta, 52% (13) declararam não
ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia; 48% (12) declararam não ter
realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo.
111
Gráfico 100 – Percentual das avaliações dos resultados da(s)
cirurgia(s) realizada(s)
Dos participantes que responderam esta questão, 78,57% (22) declararam não
ter realizado nenhuma cirurgia; 7,14% (2) declararam satisfação plena com o
resultado da(s) cirurgia(s) realizada(s); 7,14% (2) declararam insatisfação; 0%
(0) declararam satisfação parcial;
112
Dos participantes que responderam esta questão, 42,30% (11) declararam que
não tentaram realizar cirurgia através de plano/convênio de saúde particular;
34,62% (9) declararam não ter tentado por plano de saúde particular; 23,08%
(6) declararam ter tentado, porém o pedido foi negado.
Dos participantes que responderam esta questão, 37,04% (10) declararam não
ter tentado realizar o processo transexualizador pelo SUS, porém desejá-lo;
25,93% (7) declararam ter tentado realizar o processo, porém não ter obtido
sucesso; 22,22% (6) declararam não ter tentado realizar o processo pelo SUS
e ter preferido o atendimento particular; 14,81% (4) declararam ter conseguido
realizar o processo transexualizador pelo SUS.
113
Gráfico 103 – Percentual dos motivos pelos quais os respondentes
não estão realizando o processo transexualizador pelo SUS, caso
desejem
Dos participantes que responderam esta pergunta, 25% (7) declararam como
motivo não saber como conseguir atendimento no Processo Transexualizador
no SUS; 21,43% (6) declararam como motivo estar esperando iniciar os
atendimentos; 14,29% (4) declararam como motivo não ter em seu município;
14,29% (4) declararam outros motivos; 3,57% (1) declararam como motivo ter
114
desistido após esperar muito na fila e não ter entrado; 3,57% (1) declararam
como motivo já ter estado no processo, mas saído por conta da demora a
realizar cirurgias; 0% (0) declararam como motivo umas das alternativas
seguintes: A) estar tentando entrar na fila, B) estar tentando conseguir
transporte gratuito pelo SUS (TFD) para ser atendido em outro estado ou
município, C) ter tentado conseguir transporte gratuito pelo SUS (TFD) e não
ter conseguido, D) já ter estado no processo, mas saído por passar
constrangimento no serviço, E) ter sido excluído do serviço pelos profissionais
ou ter tido atendimento negado.
115
Gráfico 104 - Percentual das percepções acerca do atendimento de
psiquiatras e psicólogos no seu processo de transição ou
identificação
Dos participantes que responderam esta questão, 48% (12) declararam que
não gostariam de precisar passar ou ter passado por atendimentos
psicológicos e psiquiátricos para realizar cirurgias ou hormonoterapia; 36% (9)
declararam não concordarem com nenhuma das alternativas acima; 32% (8)
116
declararam que o profissional tentou fazer-lhe acreditar que não é uma pessoa
trans, e sim lésbica e/ou mulher; 24% (6) declararam ter se sentido na
obrigação ou ter sido obrigado a demonstrar e exagerar mais estereótipos do
gênero masculino do que representam fora do consultório; 24% (6) declararam
que o profissional já perguntou mais coisas a respeito da vida sexual do
entrevistado ou da relação deste com seu corpo do que o entrevistado gostaria
de ter respondido; 20% (5) declararam ter de omitir certas informações a
respeito de sua expressão de gênero, vida sexual, ou existência de filho(s)
biológico(s);
Dos participantes que responderam esta questão, 80,77% (21) declararam ter
sentido necessidade de iniciar o processo antes dos 18 anos, porém não ter o
iniciado; 7,69% (2) declararam não ter sentido tal necessidade antes dos 18
anos e não ter iniciado o processo; 7,69% (2) declararam não saber; 3,85% (1)
declararam ter sentido necessidade de iniciar o processo antes dos 18 anos e
tê-lo iniciado.
117
Gráfico 106 - Percentual acerca do conforto com características
designadas socialmente como femininas no corpo
118
Dos 27 respondentes, em relação a se sentir confortável com as características
designadas socialmente como femininas em seu corpo (seios, curvas, ausência
de pelos, voz, altura etc): 29,6% (8) declararam que se sentem parcialmente
confortáveis e 70,4% (19) disseram se sentir plenamente desconfortáveis.
119
Gráfico 109 - Percentual de violências sexuais sofridas pelos
respondentes
120
Gráfico 110 - Percentual de violências psicológicas sofridas pelos
respondentes
121
Gráfico 111 - Percentual de violências sofridas por parte de parceira
(o) / namorada (o)
122
Gráfico 112 - Percentual de violências sofridas por parte de
familiares / parentes
123
*Dados referentes a 25 participantes que responderam essa pergunta.
Sobre já ter sofrido violência praticadas por amigos (as) / colegas / conhecidos
(as), dos 25 respondentes: 24% (6) responderam que havia sofrido por alguém
do gênero feminino; 44% (11) por alguém do gênero masculino e 32% (8)
declararam não ter sofrido violência por parte de amigos (as) / colegas /
conhecidos (as).
125
*Dados referentes a 22 participantes que responderam essa pergunta.
126
respondentes do questionário: 30,4% (7) declararam terem sofrido violências
por alguém do gênero feminino; 17,4% (4) por uma pessoa do gênero
masculino; 47,8 (11) responderam não e 4,3% (1) declararam não saber
responder.
127
Gráfico 119 - Percentual de violências sofridas por parte de policiais
128
gênero feminino; 30% (6) por uma pessoa do gênero masculino e 60% (12) não
sofreram violências por parte de líderes ou membros da sua religião.
129
Gráfico 122 - Percentual de violências sofridas por parte de pessoas
desconhecidas na rua
130
Gráfico 123 - Percentual de violências sofridas por parte de
funcionários / gestores de estabelecimentos públicos
131
*Dados referentes a 20 participantes que responderam essa pergunta.
132
cinema/teatro; 17,86% (5) igreja / terreiro / templo / centro / outra instituição
religiosa; 57,14% (16) ruas / praças / parques; 28,57% (8) casa de amigos;
42,86% (12) casa de familiares; 11,11% (3) lojas / padarias; 28,57% (8)
shopping; 17,86% (5) academia; 39,29% (11) em casa; 17,86% (5)
responderam a categoria outros e nenhum respondeu não saber.
133
violência ou dano patrimonial, nenhum respondeu a categoria outros e a
categoria não sei.
134
*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta.
Sobre ter medo que no dia-a-dia que as pessoas os identificassem como trans,
dos 27 respondentes: 40,7% (11) responderam sim; 55,6% (15) responderam
não e 3,7% (1) declararam não saber.
135
Ao medo de ser constrangido publicamente no dia-a-dia por ser trans, dos 27
respondentes: 81,5% (22) afirmaram sentir medo e 18,5 (5) responderam não
terem medo de serem constrangidos publicamente por serem trans.
136
Gráfico 131 – Percentual dos entrevistados que responderam ter
medo de sofrer as agressões mencionadas, em seu dia-a-dia
*O total de participantes que responderam às opções citadas no gráfico foi de 28, com exceção
para as opções “Sofrer constrangimentos, assédio moral ou bullying por se trans” e “Ser vítima
de estupro”, em que o total de respostas foi de 27.
137
responderam a segunda pergunta, 82,10% (23) disseram ter medo de ser
agredido ou ameaçado de agressão física por ser trans em seu dia-a-dia,
enquanto 17,90% (5) responderam não ter esse medo. Dos 28 que
responderam a terceira pergunta, 85,70% (24) disseram ter medo de ser
agredido por violência verbal, enquanto 14,30% (4) responderam não ter esse
medo. De um total de 27 participantes que responderam a quarta pergunta,
88,90% (24) declararam ter medo de ser vítima de estupro, enquanto 11,10%
(3) disseram não ter esse medo. Finalmente, dos 28 que responderam à última
pergunta, 82,10% (23) declararam ter medo de ser vítima de violência policial,
enquanto 17,90% (5) disseram que não possuir esse medo.
138
Dentre as opções citadas, um (1) entrevistado respondeu ter conhecimento do
direito ao nome social no SUS; um (1) respondeu conhecer a portaria do nome
social no SUS e no MEC; um (1) respondeu ter conhecimento sobre a lei
estadual que garante o direito ao nome social aos servidores em Minas Gerais;
um (1) respondeu conhecer leis estaduais em São Paulo, leis municipais em
Campinas (SP), além da resolução do SUS; e um (1) entrevistado respondeu
ter conhecimento do Decreto 55.588/2010.
139
Gráfico 134 – Percentual de entrevistados que mudaram o nome
e/ou sexo no registro civil
140
Gráfico 135 – Percentual dos motivos pelos quais o entrevistado
não mudou seu nome e/ou sexo no registro civil
*Os dados referem-se a um total de 26 participantes que, podendo marcar mais de uma opção,
somaram um total de 35 relatos.
141
obter todas as documentações necessárias, incluindo os laudos; um (1) está
esperando a defensora retornar ao trabalho, uma vez que na ocasião da
pesquisa esta estava em período de férias; dois (2) disseram já ter dado
entrada ao processo, porém ainda estavam aguardando uma resposta; e um
(1) relatou ter problemas jurídicos. Outros 3,85% (1) responderam não ser
necessário realizar esta mudança; e 3,85% (1) declaram não saber o motivo
pelo qual não realizaram esta alteração.
142
(Coletivo LGBT Classista) duas vezes; o Coletivo Transtornar uma vez; o
Coletivo Identidade uma vez; o Movimento Universitário Transgênero uma vez;
o Movimento Juntos BH uma vez; o Instituto Pauline Reichstul foi citado duas
vezes; o Centro de Referência uma vez; e a Marcha Mundial das mulheres uma
vez. Já, no que se refere às pessoas que lutam pelos direitos de travestis e
transexuais, a ativista Anyky Lima foi citada duas vezes; a psicóloga e
conselheira regional de psicologia Dalcira Ferrão foi citada três vezes; o ativista
Raul Capistrano foi citado uma vez; o pesquisador Vinícius Abdala foi citado
uma vez e opção “ativistas” apenas também foi mencionada uma vez.
*Os dados se referem a um total de 28 respostas, exceto para a opção “shopping” em que o
total de participantes que responderam esta pergunta foi de 27.
143
responderam frequentar bares, botecos e restaurantes; 60,70% (17)
responderam ir a lojas, padarias; 57,10% (16) responderam frequentar casa de
familiares; 50,00% (14) responderam frequentar festas populares ou de rua
(shows gratuitos) em seu tempo livre; 46,40% (13) responderam praticar
cuidados com a aparência nesse tempo; 39,30% (11) disseram praticar
academia/atividade física/esporte em seu tempo livre; 39,30% (11)
responderam ir à praia, cachoeira e/ou piscina em seu tempo livre; 28,60% (8)
disseram ir a boates, casas de show; 25,00% (7) responderam praticar cursos
por hobbie; 25,00% (7) disseram ir à estádios/campo de futebol; 21,40% (6)
disseram frequentar igreja, terreiro, templo ou outra instituição religiosa em seu
tempo livre; e 3,60% (1) responderam ir à zona/sauna gay/cine pornô em seu
tempo livre.
144
8. Entrevistas e Análises
1
Os nomes são fictícios. Todo o procedimento das entrevistas foi realizado de acordo com o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos sujeitos antes das entrevistas.
145
transição aos 28, em janeiro de 2014. A trajetória de Vitor é marcada pelo
envolvimento com a militância no movimento LGBT, que contribuiu para sua
formação política e pessoal e que se expressa nos posicionamentos levantados
com relação à vivência das transexualidades e de como esta tem sido
percebida e abordada pelo Estado.
147
todo mundo que é pra gente fazer essas indicações de profissionais, né? Porque é
foda! Já é difícil um que atenda pelo plano, é um em um milhão..”
“A cirurgia foi tranquila, mas primeiro eu tive que pegar laudo, né? E laudo é
uma merda! E pra gente que é militante ainda e que sabe todo o pleito da
despatologização... Aí eu fui no Dr. Roberto. Ele passa porque as pessoas precisam
fazer a cirurgia mesmo, né? [...] E eu levei pra minha médica e é só com o laudo que
faz. Inclusive, o Dr. Maurício (o endócrino) também só atende com o laudo. Pelo que
eu vejo, nenhum médico começa o tratamento tanto da cirurgia quanto endocrinológico
sem o laudo. Acho que eles precisam se resguardar, né?”
148
dificuldade em encontrar profissionais capacitados e especializados nestas
demandas, o que coloca em risco aqueles que buscam acessar tais serviços.
149
“É uma terapia compulsória, né? Assim, ninguém faz isso, né? Existe um nicho
de mercado pra comparar laudo. As pessoas aparecem pra gente pra vender laudo e
eu acho um absurdo. Porque você tá explorando ali a situação de, até, marginalidade
da pessoa pra poder estrupiar alguma coisa que ela deve ter ainda, geralmente da
prostituição, pra vender laudo. Primeiro que eu não acho que a gente seja doente, né?
Sou militante da pró-despatologização. [...] Esse processo de dois anos do Processo
Transexualizador que a gente tem que fazer compulsoriamente eu acho um absurdo!
Primeiro porque não é doença, né? E, segundo, é que esperar dois anos ninguém
espera. A partir do momento em que você se entende – que já é difícil de você se
entender transexual – você vai esperar por dois anos? Porra nenhuma! Você vai é
tomar o negócio clandestino... E, enfim, por isso que o pessoal vende laudo, né? Que
vai virando um nicho de mercado e um ciclo vicioso. Acho uma merda esse processo
transexualizador, ou colocar esse período de dois anos compulsório! Se fosse uma
orientação: ‘ó, recomenda-se fazer’, mas não! É tratamento compulsório!”
“Tem uma questão que eu percebo, da galera trans que, inclusive eu já tive
também essa experiência, que é de evitar procurar ajuda na saúde por causa da
150
questão do nome social, ou de imaginar como vai ser a recepção do médico e tal... E
eu vejo que isso é muito comum com todas as pessoas trans. Isso dificulta muito na
saúde. Tem que ter uma estratégia que a gente tem que elaborar na academia, no
movimento social e no governo pra poder emancipar essas pessoas de alguma forma,
melhorar a alto estima, pra que elas tenham essa segurança pra poder usar esses
equipamentos porque eu vejo a galera deixando de ir. Igual quando eu descobri esse
negócio do meu fígado... Nossa! Eu tava deixando de ir por causa disso... Até que eu
falei assim “foda-se”. Eu vou ter que ter retorno daquilo que eu vim procurar.”
“Eu tô tendo esse cuidado de cuidar de tudo a partir de agora. Até essa
questão mesmo de emagrecer. Meu médico ele tinha indicado cirurgia bariátrica! Aí eu
falei assim: nem, eu não tô querendo fazer essa porra não! E aí ele falou, “ah, então
vamos tentar fazer uma reeducação alimentar com outra medicação”. E são coisas
que, assim, não tem nada a ver com a transexualidade, mas que eu evitava a procurar
ajuda médica e eu só ia engordando, engordando, e aí eu fui me fudendo... Mas, em
geral, a galera não vai mesmo saber de nada! Se não tem acesso nem ao que precisa,
quem dirá à saúde básica! Eu lembro por exemplo da história de uma menina que se
cortou e que tiveram que chamar uma enfermeira pra ir na casa dela porque ela não ia
acessar o serviço de saúde, uma UPA, o que fosse... Então, muitas vezes eles
preferem ter atendimento em casa, mesmo que de forma inadequada, pra não ter que
procurar. Eu tenho um amigo que trabalha em farmácia também que fala isso, que a
galera procura muitas soluções emergenciais em farmácia pra não ter acesso aos
equipamentos, sabe?
151
Confrontados com a falta de acolhimento e atendimento capacitado nos
serviços de saúde, principalmente públicos, o que se verifica é a uma constante
elaboração de estratégias que consigam suprimir parte dessas demandas. O
acesso aos serviços via convênio ou particular é algo que marca e especifica a
trajetória de Vitor, mesmo que isso não seja suficiente ainda. Porém, ao longo
de sua fala, percebe-se que como muitas pessoas trans optam por não
procurar qualquer serviço de saúde, cientes dos constrangimentos que poderão
sofrer, recorrendo a soluções emergenciais como a automedicação.
152
das mais diversas situações de violência apareceu recorrentemente. Inclusive
relata que pelo processo de transição, ao se distanciar do que é reconhecido
como “feminino”, passou a sofrer menos violência, o que não quer dizer que
tenha deixado de sofrer.
“Eu acho que eu sofri menos violência sendo sapatão do que meus amigos que
foram os viadinhos, né? Que até apanhavam... Eu acho que eu sofri menos. É meio
polêmico isso, mas eu acho que quando você tem essa questão mais próxima com o
masculino, eu acho que vem da misoginia, né? O problema do gay não é só a
homofobia, o machismo. O problema é a misoginia. O ódio ao feminino. A identidade
feminina ela sofre mais em todos esses espaços, na minha opinião, na minha leitura e
na vivência que eu tenho. Eu reconheço, inclusive, que eu sofro menos a partir da
minha transição.”
“Para alguns homens trans têm aquela coisa patriarcal, macho-alfa, né? De ser
o provedor, aquele cara que paga a conta, o que manda no final... Isso tem demais! A
gente até tenta dar uns toques na galera, mas eles falam que a gente é meio chato.
Mas a gente tenta porque é totalmente incoerente, né? A gente já vivenciou o
machismo, então a gente não pode ser machista, na minha concepção.”
153
Destaca, porém, que este tem sido um processo e que, aos poucos, ela tem
avançado em sua compreensão. Uma das questões que ele chama a atenção
é o fato de ela ser policial civil, formação que ele acredita limitar um pouco seu
entendimento, mais que sua aceitação. Já sua relação com o pai, ele
caracteriza como sendo tranquila, destacando, inclusive, a participação dele no
seu processo.
“Meu pai é de boa. Ele teve um AVC há uns três anos atrás, então, assim, ele
tem a fala limitada, mas ele consegue... Assim, há uns quinze dias atrás que minha
barba começou a crescer mesmo. Aí ele me deu um barbeador e creme e falou: pode
crescer, mas tem que fazer. (risos) Ele me deu toda coleção de carrinho dele. Meu pai
é um cara que foi rockeiro, então ele tá bem mais avançado que minha mãe. Porque
minha mãe é policial civil. Os dois são divorciados. Meu pai é muito mais avançado
nesse sentido, então ele sinaliza sempre, apesar dele não poder comunicar muito bem
que apoia.”
A relação com a irmã, porém, que mora fora do Brasil, não é boa,
embora hoje quase não haja, de fato, “relação” entre os dois. A irmã, segundo
ele, é extremamente reacionária, machista e racista, o que, desde a época em
que ele se identificava enquanto lésbica, gerava-lhe certo transtorno.
154
próprio, sem a ajuda de ninguém é algo de que se orgulha muito e se considera
vitorioso.
“Então, a gente tem essa expectativa de vida das pessoas trans e, em especial
das mulheres trans, que é de 35 anos por causa da questão da violência, né? Mas eu
tenho muito medo! Primeiro, porque não tem muita pesquisa em relação a como que
isso vai se comportar, essa questão da utilização dos hormônios... Tem poucos dados
sobre isso e eu tenho muito medo! Não tenho tranquilidade com isso não! Eu penso
como vai ser... Eu vejo o João W Nery meio que sofrendo pra caramba com a questão
da utilização inadequada dos hormônios... Não sei. Tenho muito medo. Tenho muito
medo das cirurgias que eu pretendo fazer e eu penso que isso pode antecipar minha
passagem pro outro lado e eu tenho muito medo. Inclusive no momento reacionário
que a gente tem vivido na conjuntura política, né? Eu estava até comentando com um
amigo esses dias que eu preciso retificar meu nome de uma vez porque se retroceder
como eu tô vendo que vai retroceder aqui, se não der pra ir pro Uruguai, pelo menos
eu tô com meu documento tranquilo porque eu tenho muito medo tanto da questão da
conjuntura política como das questões da saúde que eu não sei como vai lidar.”
155
“Sempre contribuí com INSS, desde os meus 14 anos quando comecei a
trabalhar. Já tem bastante tempo já. Acho que vou até conseguir aposentar mais cedo.
Mas eu pretendo fazer uma previdência privada. A gente não sabe como vai ser essa
questão da previdência, como que vai lidar a questão financeira e econômica do país...
Porque mesmo sendo de esquerda eu preciso fazer uma previdência privada pra me
resguardar. E eu tô na minha terceira graduação, pretendo ficar nessa área mais de
humanas porque eu acho que eu já tenho uma estabilidade, pagar minhas coisas,
continuar estudando, pagar meu hormônio que já é caro e pretendo não perder isso!
Então eu vou continuar pagando o INSS e também uma previdência privada que é o
plano B, né? A gente tá num momento de crise que a gente não pode nem especular o
que é que vai acontecer ou não.”
156
“O preconceito maior foi dentro de casa. Quando parte de algumas pessoas da
minha família ficou sabendo da minha decisão de transicionar, e alguns amigos
também. Talvez pelo medo né, porque não conhecem e hormonizar-se é arriscar,
também tem um certo risco, aliás, tem um risco muito grande né, então é aquela coisa,
você sofre preconceito sim. Não se hormoniza, não acha legal, vou ficar com medo.
‘Ah, mas porque você quer tirar o seio?’ Uai se você pode colocar porque eu não
posso tirar? Eu tive esse trocadilho com minha irmã só pra poder amenizar a coisa né.
‘Ah não, mas eu acho que você tá bem assim você devia ficar dessa forma.’ Por que
uai? Não tá ferindo sua vida, tá dizendo respeito à mim não é você. ‘Ah, mas como eu
vou te chamar daqui pra frente?’ Não importa, ué. Deixa as coisas acontecerem, você
tá sofrendo por antecipação, quem deveria tá sofrendo sou eu e não você.”
C.T. acredita que “por ser diferente” as pessoas de sua família tem
dificuldades em entender sua identidade de gênero. Não pretende contar para
o pai sua decisão de começar o processo transexualizador, aproveitando que
ele vive no exterior e dificilmente se veem. Esta atitude é justificada por C.T.
como uma forma de se preservar de um possível preconceito que possa surgir.
As modificações corporais que preocupam a irmã revelam mecanismos que
exercem um controle sobre os corpos. A resposta de C.T. demonstra como o
ideal de saúde de cada um varia dependendo da perspectiva. Do ponto de vista
de C.T. a retirada dos seios trará um bem a sua saúde na medida em que seu
corpo estará mais próximo do que ele quer. Os seios caracterizam a
feminilidade em nossa sociedade, sua retirada causa um impacto positivo nos
homens trans já que se livram de uma parte de seus corpos que não condiz
com sua identidade.
157
Conseguiu atendimento endocrinológico na Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais através dos alunos de pós-graduação no intuito de
começar sua hormonização. Conseguiu as receitas e o acompanhamento
médico gratuito graças a um contato com um amigo, mas decidiu esperar.
Como C.T. considera fertilizar um de seus óvulos e implantá-lo na companheira
fica receoso de que, com o tratamento, seus óvulos sejam incapazes de serem
fertilizados.
“Roupa normalmente é sempre um pouco mais larga né, pra disfarçar porque a
primeira identificação com a gente é as mamas... e voz não dá pra disfarçar muito
158
porque minha voz é fina. A hormonização pra mim é importante por causa disso e...
acho que a principal coisa... pelos menos assim comigo... não vou responder pelos
outros, mas a principal coisa que um homens trans tem urgência é a retirada das
mamas. É o alívio social, porque você pode ter uma voz fina, você pode ter um cabelo
grande, mas você não tem a mama tá bom. Então assim... é, são roupas largas
mesmo e masculinas que é do gosto mesmo, sempre foi. Eu sempre tive essa
identificação. Eu não entro numa loja de departamento, por exemplo, que eu compro
uma roupa, eu nunca vou nas araras femininas nem nada nesse sentido então... Mais
é roupa mesmo eu não uso muita técnica não. Mais novo eu costumava por faixa né,
nos seios pra poder amarrar eles, mas aí eu percebi que com o tempo aquilo não
parava de crescer então não tinha como eu ficar escondendo muito e machucava
demais. Eu sei que tem uns caras que usam binder2 né, pra poder disfarçar mais, pra
comprimir. Mas sei que isso também não é um procedimento legal porque se aperta
demais você vai ter um problema lá na frente, isso não é bom pra saúde.”
Sobre as violências que já sofreu C.T. discorre que em grande parte elas
provem da ignorância dos outros, que não conseguem reconhecer a sua
identidade masculina. A este respeito ele afirma que frequentemente não é
identificado como homem por causa de seu corpo.
2
Camiseta ou faixa utilizada por homens trans que comprime os seios.
159
“É só a faixa mesmo que era... que era que... eu acho que é a que mais
violenta a gente psicologicamente porque tá crescendo, você não te como fugir
daquilo. Então você tem que ter meios de disfarçar, mas saber que as pessoas vão te
identificar. Mais novo ninguém conseguia me identificar, olhava pra mim e não me
identificava, mas com o tempo eu engordei, com o tempo a gente vai tomando formas
e se você não hormonizou isso fica muito visível, por mais que você tente disfarçar. Aí
fica uma coisa, infelizmente, caricata que a gente é chamada de sapatão masculina
né, ou sapatão... butcher né, a gente é confundido muito com essas meninas que nem
sempre porque se vestem desse jeito se identificam, tem um gênero ‘ai eu sou um
menino’. Isso daí é muito diferente, eu tenho consciência disso, que eu ainda vou ser
chamada de sapatão, de masculina, de né... dessas coisas pejorativas, isso pra gente
ofende porque não tem nada haver uma coisa com a outra, até porque sapatão né...
engraçado porque entre o nosso meio isso é dito como brincadeira. Não sei se muita
gente leva a mal, mas entre o meio externo, entre as pessoas que não transgêneras e
entre as pessoas que não são do meio gay isso é pejorativo pra gente. E isso é muito
ruim né, esse tipo de identificação pra gente, não é legal.”
Em seu trabalho é respeitado, todos o chamam por C.T., o que para ele
é enaltecedor. Achou curioso isso ter ocorrido e quando comentou com a
companheira esta afirmou que bastava olhar para ele para saber que se tratava
de um homem. Pouco antes de entrar de férias, dias antes da entrevista, uma
colega de trabalho afirmou ser a única a chamá-lo por seu nome. C.T. não se
apresenta por seu primeiro nome por ser associado a uma mulher, ele pediu
então que a colega o chamasse por C.T. porque se sentia desconfortável em
ser chamado por um nome feminino, a colega consentiu com o pedido.
160
Apesar da relação respeitosa que estabeleceu em seu atual emprego,
C.T. reclama do preconceito que enfrenta no mercado de trabalho pelo fato de
ser um homem trans.
“As empresas quando você fala... quando você se apresenta pra elas de uma
forma e elas percebem o seu visual, que a primeira coisa que vê é o visual e depois
quando vê como você se apresenta, qual a sua postura, o que você é, a vaga some,
desaparece. Você não recebe nem um retorno de volta, isso pra gente é humilhante.
Que as pessoas olham identidade de gênero, orientação sexual pra ver se vai
empregar alguém e não a sua competência.”
“A gente finge um personagem que eles querem... que eles acham que a
gente vai viver e a gente não vive né. Não é não se assumir, eu sou assumido desde
muito cedo. Mas, é tipo assim, o meu profissional não tem nada haver com a minha
vida pessoal.”
161
para ela. Ele possui horror da masculinidade hegemônica machista, acredita
que não consegue se pensar como homem sem ser feminista.
162
Aos 18 anos começou a namorar uma antropóloga que estudava sobre
intersexualidade, ele desabafou sobre não se sentir a vontade em ser mulher e
ela o apresentou algumas coisas sobre transexualidade. No início afirmou não
ter sido nada libertador e ficou receoso de se enquadrar “naquilo”, pois
considerava o termo muito pesado. Mas depois, ambos começaram a trabalhar
nessa questão, ela começou a chamá-lo no masculino para ver se ele se sentia
a vontade.
“Fui me sentindo imensamente mais a vontade e aos poucos fui pedindo para
os meus amigos me chamarem assim, até rolar uma aceitação mesmo de como eu me
identificava”.
Ele passou por dois psiquiatras que ficaram perguntando se ele tinha
certeza que se enquadrava, enquanto o terceiro foi um profissional mais
“aberto” que iniciou o processo de hormonização. Ele tentou pelo SUS, mas
não conseguiu. Não entendeu muito bem porque não havia conseguido, mas
163
foi informado que não tinha o direito de usar. A equipe foi visitar a sua casa,
porém, como naquela época ele morava com os pais e o SUS dá prioridade
para quem não tem condições financeiras, não foi aprovado. Porém, mesmo
morando com os pais, Murilo não é dependente financeiro deles, e afirma ter
sido um processo muito difícil. A partir de então, ele passou a vender comida
para conseguir pagar pelo particular, Murilo diz:
“eles meio que julgaram pelo que a minha família tem e não tem nada a ver
comigo”.
164
pelos e com a voz, por achar ela muito feminina, mas depois que começou a
tomar o hormônio, isso não o incomoda mais.
Ele disse que não tem nada a reclamar a respeito do atendimento com a
endocrinologista, se sente muito confortável nas consultas. Ela e a secretaria
têm muito respeito por ele e o nome social, uma vez que ela atende vários
outros homens trans. Já sua experiência com ginecologista é extremamente
constrangedora, ele afirma que os profissionais não têm preparo algum para
lidar com “essa situação”. Para ele é um ambiente que não o reconhecem
como homem.
“Eu percebi que isso meio que mudou a minha orientação sexual e não minha
identificação de gênero.”
Outra violência sofrida por ele foi quando se assumiu lésbica em casa,
em que toda a família era muito tradicional e católica. Ele conta que apanhava
em casa todos os dias de seus pais, sendo que alguns dias não podia ir para
escola, pois estava muito machucado. A escola percebeu que estava
acontecendo algo e chamou os pais para uma conversa, em que expuseram
toda a situação e todos os colegas ficaram sabendo. Então, além de sofrer
violência física e psicológica em casa, também passou sofrer violência
psicológica na escola, por parte dos colegas.
Além de apanhar de seus pais, eles tiraram tudo que ele tinha acesso,
como computador e celular, e ele só podia sair de casa para ir ao colégio.
Mediante toda essa situação, um professor iria acionar o conselho tutelar para
tirar dos pais do Murilo a guarda dele, porém a família o expulsou de casa
quando soube as intenções do professor. Além disso, Murilo também não
queria que o professor tirasse sua guarda. Quando saiu de casa, foi morar com
um tio e passou a sentir uma maior discriminação na rua, porque começou a se
165
masculinizar, como por exemplo, cortar o cabelo. Murilo afirma que essa foi
uma fase muito difícil, em que pessoas desconhecidas questionavam o que ele
era.
“Uma vez uma mulher me parou na rua e me perguntou: Que monstro você
é?”.
Ele disse estar em uma relação sexo-afetiva com uma mulher que se
identifica como hétero, que entende o corpo dele e todas as suas questões,
além de afirmá-lo como homem, o que traz bastante segurança para Murilo.
Em relação aos relacionamentos anteriores, ele afirma que o mais marcante foi
com a antropóloga.
166
“Ela que iniciou isso e foi construindo junto comigo. Ela conversou com
uns amigos dela, ela morava no Rio e quando eu chegava no Rio, 'tavam' todos os
amigos dela me chamando de Murilo.”.
De uma forma geral ele considera ter tido sorte com os outros
relacionamentos, sempre receber apoio de suas parceiras.
“Para minha mãe é tipo o fim, eu poderia ser tudo menos trans.”.
Ele se considera muito paciente com a mãe, que diariamente faz alguma
crítica a ele, como sobre o corpo, roupa e cabelo. Apesar disso, ele se sente
muito bem perto de seus pais e gosta de estar próximo a eles. Ele considera a
família em geral muito aberta, como tios e avós, exceto a mãe. Murilo ainda
não tem filhos, mas tem muita vontade ter. Ele não quer engravidar, e sim ser
pai, sendo que para ele o que impede no momento é ter uma melhor condição
financeira.
Murilo não sabe o que define sua masculinidade, disse que não acredita
ter coisas masculinas e femininas, mas que foi socializado a pensar
erroneamente que homens devem assumir o controle, estar no poder e ser
mais racionais. Ele acredita exercer esse poder em sua profissão, por ser chefe
de cozinha em um restaurante e ter que coordenar uma equipe.
167
“Eu sempre associei o sentimento a uma certa fragilidade e a mulheres. Então,
sendo racional eu me sinto mais homem, sabe?! Quando eu começo a ver que eu 'tô'
sentindo demais, eu fico c****** 'tô' fraco.”.
No trabalho, diz sempre ter sido masculino ¨assim, com esse jeito meu¨,
mas que tinha dificuldade de aceitar a si mesmo antes da realização da
cirurgia. As pessoas, não somente no ambiente de trabalho, o tratavam
utilizando pronomes masculinos ocasionalmente, em geral reconheciam um
168
corpo feminino, segundo Rafael principalmente em função dos seios e da voz
mais aguda, e assim o tratavam no feminino. Afirma que ainda há colegas de
trabalho que seguem utilizando pronomes femininos para se referirem a ele
embora já tenha se apresentado como trans e com seu nome social e realizado
a cirurgia de mamoplastia masculinizadora. Diz se incomodar com essa atitude
dos colegas e inclusive manifestar-se com relação a isso, entretanto ainda não
houve por parte dos mesmos.
¨O meu primeiro baque foi quando eu tinha uns sete anos mais ou menos, seis
ou sete... Porque assim, minha mãe não cortava meu cabelo, eu tinha o cabelo
grande. Porque ela achava lindo e etc e eu não gostava, mas enfim... Então eu era o
Paulo Ricardo do RPM, porque ele tinha cabelo grande, e então ele era o cara que eu
falava que eu era, né? E eu fui brincar com uma vizinha minha, e nessa brincadeira eu
era o Paulo Ricardo e ela era uma fã. E ela virou pra mim e falou:Vão brincar sem
roupa?¨. Na hora que ela tirou a roupa eu fui embora! Comecei a chorar, fiquei em
choque. Porque eu vi que ela era, eu tipo, que eu tinha o corpo igual ao dela,
entendeu? Na verdade o meu choque foi ali assim, porque ela era toda menininha e eu
não e de repente eu falei ¨Puts! mas é igual!¨, entendeu?¨
¨Eu achava as roupas dele muito legais. Eu queria realmente ser aquilo.¨
Embora não quisesse ter a mesma orientação sexual do tio, que é gay,
pois se interessa por mulheres.
169
Rafael fala também de um relacionamento sexo-afetivo longo, que durou
12 anos, de 2003 a 2014, que já iniciou apresentando uma identidade
masculina. Essa pessoa com quem se relacionava, segundo Rafael, era um
amigo trans seu, que também identificava-se no masculino. Eram amigos e
depois começaram a namorar,então diz que durante grande parte do
relacionamento foram um casal gay. Rafael nos relata que tanto ele quanto o/a
parceiro/a ao longo dos anos de relacionamento expressaram distintas
identificações de gênero. Como exemplo Rafael conta de um momento em sua
vida em que durante o período de três anos fez uso de anticoncepcionais em
função de um problema de saúde. Nos relata que durante esse tempo se sentia
muito mais emotivo e sensível, ¨aquela menina¨, e que se permitiu
experimentar e vivenciar a feminilidade. Segundo Rafael esses três anos foram
bons no sentido de que pode perceber e ter certeza daquilo que não era e não
queria ser, uma mulher.
¨Porque eu vestia roupas, vestido, saia...E eu assim, mas gente! Parecia que eu
tava usando uma fantasia as vezes sabe? Mas eu me permiti viver isso. E dentro do
meu relacionamento, então assim, é, é...a gente sempre teve essa coisa mais,
é...binária mesmo aí eu era a menina e tinha um menino, e vice-versa também, ela já
foi menina e eu menino, e a gente já foi muito menino menino mesmo. Que era o que
foi maior parte do tempo.¨
170
¨Isso não me faz bem. Eu não estou me sentindo como eu, como eu sou mesmo,
a minha essência não é essa.¨
¨a frase que ele falou entrou na minha cabeça e ficou assim: Meu Deus! Que ele
virou pro filho dele e falou assim ¨Eu sou gay. E eu vou fazer alguma coisa a respeito
disso.¨ Então quando ele fala isso (repete a frase), eu pensei no que eu estava
fazendo a respeito do que eu sentia. E eu nunca fiz nada. Até então, nunca tinha feito
nada até então. E eu falei ¨É agora.¨ sabe? Me despertou de alguma forma, sabe?
Essa frase de eu vou fazer alguma coisa a respeito disso, porque eu me sentia homem
só que eu não fazia nada a respeito da mudança que eu queria e aí eu decidi. O que
me deu força psicológica foi o filme (risos).¨
171
em função disso sentia medo e insegurança com relação a suas decisões e
como estas afetariam suas relações sociais. Com o acompanhamento
psicológico percebeu que as mudanças não aconteceriam tão rápido quanto
desejava, e se viu um tanto perdido com relação aos caminhos e tempos dos
processos que envolvem a transição.
172
homens trans. Foi primeiro ao psiquiatra, ainda antes de haver realizado a
cirurgia, e diz haver sido muito bem atendido, marcando um retorno para
depois da realização da cirurgia. Quando voltou depois da cirurgia já obteve um
termo de consentimento do psiquiatra para que desse início ao tratamento
hormonal, termo solicitado pelo endocrinologista.
e completa emocionado:
173
relativo a seu preço, muito mais alto que os das outras testosteronas
disponíveis.
Com relação ao uso da Nebido, Rafael diz que tudo tem ocorrido bem e
tranquilamente. Diz da dor no momento da aplicação, que dura em média dois
minutos por se tratar de uma grande quantidade de líquido espesso, e que dura
aproximadamente quatro dias após aplicação. Diz que as mudanças são
suaves e gradativas. Já percebeu bastante alteração em sua voz, que o tem
deixado bastante feliz assim como o crescimento da barba, e as mudanças que
tem percebido nos traços do rosto e no formato dos ombros. Destaca também
mudanças com relação a aumento de libido e de força física.
Para o aumento do volume dos pêlos da barba Rafael também tem feito
uso de Minoxidil com propilenoglicol, utilizados em geral para calvice, mas que
é frequentemente utilizado por homens trans com o mesmo fim.
Pretende fazer logo a cirurgia de retira dos úteros e ovários pois mesmo
fazendo o uso de testosterona a taxa de hormônio estradiol continua alta, o que
cria a necessidade do uso de bloqueadores hormonais. Rafael explica que a
orientação do médio endocrinologista é de que o uso dos bloqueadores seja
por um período curto de tempo, de formas evitar os efeitos colaterais em
consequência de uso prolongado. E que a melhor forma de seguir o tratamento
será com a realização da cirurgia.
174
¨força de vontade tão grande para fazer tudo direitinho que eu lutei para
conseguir assim. Não, vou mudar meus hábitos radicalmente.¨
Rafael avalia tudo o que fez e as técnicas que utilizou para modificação
de seu corpo como positivas, até mesmo o uso da faixa, que por mais que lhe
causasse uma série de danos, na época considerava aquilo como positivo por
deixar seu corpo mais próximo do que desejava. Avalia sua cirurgia como uma
das mais importantes realizações de sua vida, que lhe permitiu se olhar no
espelho e identificar-se com a imagem que nele se projetava. E aponta a
hormonização como um processo que
¨está fazendo com que tudo se encaixe¨, trazendo novas mudanças que são
celebradas a cada dia. ¨Então cada dia mais feliz, cada dia melhor.¨
175
Durante um período realizou acompanhamento psicológico por um ano
meio na universidade fumec, em que estudava, onde forneciam atendimentos
gratuitos para os estudantes por estudantes de psicologia em formação. Diz
que esse processo de auto escuta mediado pela terapeuta foi muito importante,
e que a partir de então pode resolver diversas questões de sua vida que
percebia como pendentes. Rafael afirma que o acompanhamento realizado lhe
fez muito bem e avalia positivamente a atuação de sua terapeuta. Os demais
acompanhamentos, de psiquiatra e endocrinologista são feitos através do plano
de saúde, assim como a cirurgia realizada. Avalia estes atendimentos como
excelentes, e destaca o fato de tê-los procurado em função das indicações que
recebeu de outros homens trans.
176
Sua avaliação com relação a atendimentos ginecológicos se mostra
bastante negativa. Rafael relata que em sua última visita ao ginecologista, no
hospital das clínicas da ufmg, se sentiu muito mal e exposto. Diz desejar
realizar o quanto antes a retirada do útero para que não precise mais realizar
estas consultas. Disse que este atendimento foi realizado por três estudantes
de medicina e por uma professora, que na medida em que o examinava
expunha diversas questões e especificidades de seu corpo para as alunas,
gerando forte constrangimento em Rafael. Fala de outra experiência péssima,
em que esperou oito meses por uma consulta em que foi atendido por dois
alunos que não compreendiam nada a respeito do útero bicorno. Relata que
durante toda a consulta os alunos que realizavam o atendimento saiam para
conversar com a médica responsável que não participou em momento algum
da consulta.
Rafael diz não fazer uso de drogas. Eventualmente consome álcool, mas
com o uso da testosterona foi orientado pelo médico a reduzi-lo.
177
Com relação a experiências de situações de violência, Rafael relata ter
sofrido um abuso sexual aos 10 anos, por um vizinho muito conhecido da
família que passou a mão em seu corpo. Diz que para ele isso foi uma violência
muito grave até hoje. Relata também já ter sofrido violências verbais na rua em
função de sua masculinidade e então lesbianidade. Mas afirma sempre ter se
sentido seguro e a vontade de demonstrar afetos e tudo aquilo que sentia
vontade com suas parceiras.
Rafael diz que atualmente tem certo medo, mas que ainda assim acha
que em geral a questão da violência afeta a homens trans de maneira menos
intensa quando comparado as incidências de violência contra mulheres trans e
travestis, que segundo ele ainda sofrem um pouco mais. Diz que atualmente a
maioria das pessoas já o tratam no masculino em função de sua aparência,
mas que ainda assim tem certo receio
¨você pensa assim: nossa será que tem algum conhecido assim? Por exemplo,
uma pessoa do trabalho que é totalmente contra e que vai querer te fazer mal... Eu
tenho esse medo as vezes sabe? De será que alguém vai querer fazer mal pra mim?
Por eu ter feito essa escolha, por eu ter mudado meu corpo, etc. Mas eu vivo assim,
graças a Deus, muito bem. É, no trabalho as pessoas que lidam comigo acho que são
bem tranquilas. O meu chefe acho que é o mais tranquilo de todos, né? E é isso
assim, basicamente eu to vivendo bem.¨
178
Pretendem ter filhos e já pensam sobre realizar inseminação artificial em um
momento de maior estabilidade. Afirma ter muita vontade de participar da vida
e da educação de uma criança. Diz que está feliz sexualmente. Afirma que tudo
melhorou após a intervenção cirurgica e a hormonização, que sente mais vigor
e força. Relata aumento da libido ¨ahh! eu fiquei bem mais safado! (risos)¨.
Afirmou que então se sentiu entregue e a vontade durante as relações sexuais,
em que estava com o corpo que queria ter, com o qual realmente se identifica.
E afirma não ter problemas com relação a sua genital, que os tinha
anteriormente, mas que com as modificações que já iniciaram com o uso da
testosterona já se sente melhor e satisfeito.
Com relação a família, Rafael é filho único e mora com a mãe, o pai, a
avó e o tio em uma casa da família. Diz que o tio, que foi uma referência
importante em sua vida, deveria ter uma cabeça melhor que a que tem. Não o
chama pelo seu nome social, tampouco o trata no masculino. Acredita que o tio
não consegue fazer isso por ter um pensamento com relação ao gênero muito
fortemente atrelada ao genital da pessoa. Diz que apesar disso gosta dele, mas
que deve aprender muito com relação a essas questões ainda, que o
incomodam muito nessa relação. Com a mãe a relação foi tranquila durante
maior parte do tempo, e tem sido bastante companheira ao longo de todo o
processo. Rafael relata que quando decidiu iniciar os processos de transição
conversou com sua mãe, que considera como uma pessoa muito importante
em sua vida, e que o apoiou desde o início. Esse apoio foi, segundo Rafael, de
grande ajuda e importância para que seguisse em frente ao longo de todo o
processo de das dificuldades que encontrava no caminho. Porém nos conta
que na medida em que suas decisões foram se concretizando sua mãe em
alguns momentos se mostrou ansiosa e preocupada, principalmente com
relação a intervenções cirúrgicas. Com o pai tudo correu tranquilamente
também. Rafael diz se preocupar desde sempre em não ferir os pais, que foi
algo que pesou muito durante o início de suas decisões com relação a
transição e que precisou ser bastante trabalhado durante sua terapia. Com a
avó a relação também é boa. Com relação a todas as dificuldades com
familiares diz que é preciso ter paciência, pois vem passando por muitas
179
mudanças e estes processos, para eles, são muito recentes, ao passo que
para Rafael fazem parte de um longo caminho anterior.
Com relação a trajetória escolar Rafael relata que durante boa parte do
período escolar não conseguia ser amigo das meninas, e os meninos
tampouco costumavam ser mais acessíveis. Então em geral fica sozinho.
Quando estava na sétima série, com aproximadamente 13 anos, depois de ter
sido reprovado e ter de repetir o ano, entrou em uma turma a qual se adaptou
muito bem e teve oito amigos, garotos, e foram da mesma turma de escola e
de amigos até a conclusão do ensino médio. Segundo Rafael eram os
melhores da turma e nesse período suas notas também estavam entre as
melhores e inclusive melhoraram em matemática, motivo de sua reprovação
anterior. Estudou em um colégio católico e avalia que teve uma boa formação.
Após a conclusão do ensino médio começou a trabalhar, passou por uma
secretaria de escola, uma loja de piercing, e por um tempo maior em uma
empresa de cobranças, trabalho que segundo ele o fez muito mal, sofrendo de
estresse profundo. Depois prestou vestibular por três vezes. Na terceira foi
aprovado no curso de Artes Visuais na UEMG, no qual se formou. Desde 2005
trabalha com design. Posteriormente, em 2011, realizou o curso de Jogos na
FUMEC e se formou em 2014 e desde então trabalha na própria FUMEC com
edição de vídeo. Pretende também montar um estúdio de tatuagem.
Rafael diz que não sabe dizer ao certo quais que pontos caracterizam
sua masculinidade. Diz que a forma com que se vê e se sente são essenciais
para si mesmo e inclusive para que pareça para as outras pessoas. Afirma que
no geral já se sentia homem, já se sentia no gênero masculino mas as
mudanças físicas foram muito importantes para alcançar o reconhecimento
social que desejava. E que quando isso começa a acontecer seria como uma
materialização, realização dos seus desejos e expectativas. Com relação a
especificidades de sua masculinidade, diz que ela tem uma forte carga de
doçura, que cultivou por toda a vida, que tem um jeito de ser atencioso,
cuidadoso. Diz ser ¨a moda antiga¨, que gosta de agradar. Descreve sua
masculinidade como uma masculinidade especial.
180
Rafael não vê relação entre identificações com a masculinidade e
questões geracionais.
Com relação a sua situação econômica Rafael diz estar bem, estável em
seu emprego e com um retorno financeiro razoavelmente bom, que lhe permite
viver confortavelmente.
Com relação a sua sociabilidade com outros homens trans, Rafael diz
fazer parte dos grupos nas redes sociais. Diz que tem contato mais próximo
com alguns homens trans de Belo Horizonte e Região Metropolitana, muito em
função das indicações e trocas de informações. Rafael diz que em função de
questões de trabalho e de tempo tem não tem participado dos encontros nos
últimos anos, mas que já participou de alguns. E que segue mantendo contato
pela internet.
181
Júlio se identifica como homem trans não binário.
Com relação ao uso do nome social, Júlio diz que o vem utilizando na
internet, com amigos, e que já fez também algumas entrevistas de emprego
com seu nome social. Em casa com os familiares diz não usá-lo até então.
¨Ah, você é mulher, não precisa virar homem. E eu não tinha referência
nenhuma do que que era um homem trans. Eu só conhecia mulheres trans, travestis.
Aí quando surgiu esse questionamento uma vez eu deixei de lado, continuei vivendo
acho que era bobagem. E aí foi há pouco tempo, com uma pessoa próxima que
começou a transição, e aí outra pessoa começou a transição também... Aí eu falei
assim: ¨Ah! pera, calma, deixa eu dar uma olhada nisso aqui de novo. Aí eu percebi
que era isso.¨
Júlio nos conta que nesses dois momentos, naquele em que se negou e
naquele em que resolveu pensar melhor sobre sua transmasculinidade, foram
determinantes as influências de suas então companheiras. No primeiro
momento quando falou sobre o assunto com sua então namorada, Júlio diz que
que ela tratou o assunto como se fosse uma bobagem sem importância de sua
cabeça, e o estimulou a não pensar sobre isso. No segundo momento, disse
que os sentimentos foram mais intensos e que foi incapaz de ignorá-los
182
novamente, e que o apoio de sua namorada atual foi fundamental em seu
processo de identificação com a transmasculinidade.
Outro fator importante nesse processo, segundo Júlio, foi que tinha
apenas referências de masculinidades as masculinidades hegemônicas ou,
como diz, padrão. E que em seu processo de identificação precisou de outras
referências de pessoas trans que experienciavam e expressavam
masculinidades menos estereotipadas. Ele menciona masculinidades gays,
bissexuais e outras transmasculinidades como referenciais importantes nesse
processo.
Ele nos explica que tem uma condição médica chamada fibromialgia e
mais recentemente descobriu o diagnostico de espondilite anquilosante, que
diz ser um tipo de reumatismo que atinge a coluna. Descobriu que com relação
a Fibromialgia o uso de testosterona pode trazer melhorias no quadro, mas os
picos não são recomendados.
Para conseguir a receita, relata que foi necessário passar por uma
psicóloga e psiquiatra com o objetivo de conseguir uma declaração e então se
consultar com endocrinologista. Júlio destaca que para ele essa questão se
deu de maneira mais tranquila devido a já realizar esses acompanhamentos
antes por outros motivos. A realização desses procedimentos foi pelo plano de
saúde, exceto o acompanhamento psicológico, o qual foi por meio de consultas
particulares.
183
Outras modificações corporais foram a modificação das roupas para
peças mais masculinas, e o uso de cortes de cabelo que também considera
mais masculinos e menos andróginos do que usava anteriormente e tem se
sentido melhor com essas mudanças. Tem feito também uso de Minoxidil para
estimular o crescimento e aumento do volume dos pelos. O que não faz tanto
efeito em pessoas que não estão utilizando testosterona simultaneamente, mas
que já vem usando para estimular.
Júlio diz que para ele o binder é um problema, pois comprime tanto a
parte posterior dos seios quanto a anterior das costas, o que o faz sentir muita
dor e inviabiliza seu uso. Diz que já tentou utilizá-lo algumas vezes, mas a dor
torna-se insuportável em poucos minutos.
184
Utilizam regularmente os serviços de saúde de psicologia, realizando
consultas semanais, a psiquiatra visita a cada 40 dias e o endocrinologista
visitou duas vezes e ainda não sabe qual será a frequência após o início da
hormonioterapia. Pretende começar a fazer fisioterapia, o que acredita que o
levará a ter consultas mais regulares também com a reumatologista que o
atende. Sobre a experiência com atendimentos ginecológicos, Júlio disse ter
ido somente uma vez a uma consulta do tipo, já há muito tempo, via SUS e
disse ter corrido tudo bem. Afirmou ter pegado indicação com sua psicóloga de
outra médica ginecologista com quem irá se consultar no mês de setembro.
¨Foi uma coisa interessante. Porque antes eu, antes eu só gostava de mulher.
Mas aí hoje eu percebo que o problema era eu me relacionar com um cara e esse cara
185
estar me lendo como mulher. Aí hoje em dia se eu estou com um homem e ele me lê
como uma pessoa transmasculina”
Hoje diz sentir certa insegurança nesses casos, mas que não sente
mais o estranhamento que sentia antes. Relata-nos esse processo um tanto
tortuoso e com certas dificuldades, de modificação de sua identificação a
respeito da sexualidade como algo que derivou de sua identificação com a
transmasculinidade, que provocou mudanças e rearranjos em sua forma de se
relacionar sexo-efetivamente com outras pessoas. Júlio afirma ficar confuso em
alguns momentos com seus sentimentos com relação a homens, que variam
entre certa “inveja” do corpo e da aparência, e em alguns casos o desejo e a
atração mais propriamente ditos.
Júlio é filho único. Relata ter uma relação mais próxima com a mãe e
mais distante com o pai, embora os três vivam juntos, com mais uma tia e um
tio. Diz que durante a adolescência teve dificuldades na relação com a mãe,
que segundo ele era excessivamente protetora. Quando contou sobre sua
transmasculinidade disse que ao mesmo tempo em que foi compreensiva teve
também uma série de dificuldades, acredita que estão em um processo no qual
está começando a conhecer e se familiarizar com a questão. Disse também
que ainda não tocou nessa questão com outros parentes que vivem em sua
casa. Com os outros parentes mais distantes diz que não pretende a princípio
ter uma conversa do tipo. Considera como família seus pais e os tios que vivem
com ele na mesma casa, e outra tia com quem tem posicionamentos políticos
mais semelhantes.
Júlio diz que ele e sua companheira não pretendem ter filhos, não têm
vontade, ao menos atualmente.
186
A trajetória escolar de Júlio foi bastante solitária. Não sofria bullying, mas
foi uma criança muito isolada, que não era ¨zuada¨ pelos colegas, mas que
também não tinha uma relação de conversa ou proximidade com eles. Durante
o ensino médio teve grupo de amigos, mas ainda assim se sentia um tanto
deslocado, com uma sensação de não pertencimento.
Diz que pretende voltar a estudar e cursar faculdade de Design. Mas que
atualmente, em função de dificuldades financeiras não se encontra em
condições de estudar em um cursinho preparatório para o ENEM e tampouco
para arcar com os custos de materiais durante o curso de graduação. Que no
próximo ano pretende prestar o ENEM e tentar alguma vaga no Prouni em sua
faculdade de preferência.
¨Eu acho que quanto mais novo é o pessoal, mais eles tão se sentindo
confortáveis com outras coisas. Eu vejo muito isso no, vi isso no... lá (no ENAHT). E
3
I Encontro Nacional de Homens Trans, evento realizado em fevereiro de 2015.
187
vejo muito no Facebook também. Que aí tem um cara trans que eu sigo, não binário,
que ele tá com um neném recém-nascido, então tá amamentando, fazendo essas
coisas. ¨
Com relação a sua sociabilidade com outros homens trans, Júlio diz que
tem sido boa. Que teve medo de que sofresse em função de posturas e
atitudes de bifobia, mas que isso não ocorreu. Diz que há uma boa rede de
apoio, mas que gostaria que fosse mais intensa e mais presencial que virtual.
Diz que se fica sem aplicativos de comunicação ou redes sociais 4 acaba
ficando de fora das redes de contatos e dos grupos nos quais as pessoas mais
conversam e trocam informações. Diz contar com o apoio mais
especificamente de pessoas que vivem em BH ou região metropolitana, que
têm um grupo específico, e que se unem para discutir as questões relativas às
suas experiências de transmasculinidade.
9. Considerações Finais
De acordo com os dados coletados através da aplicação de
questionários e por meio de entrevistas semi-estruturadas percebemos
algumas considerações podem ser levantadas a respeito das especificidades
das vivências dos homens trans.
4
Júlio exemplifica citando a rede social Facebook e o aplicativo de troca de mensagens instantâneas
Whatsapp
189
Tais situações provocam fissuras nessas relações e, ao mesmo tempo,
o distanciamento familiar dificulta a trajetória desses homens de diversas
maneiras. A negação da identidade de gênero por parte da família pode
influenciar diretamente, por exemplo, no que se refere às questões financeiras.
Sem o apoio familiar o sujeito precisa trabalhar para sustentar suas
necessidades, o que, por vezes, compromete seu processo de transição. Os
hormônios que ingerem para modificar seus corpos tem preço muito elevado, o
que impossibilita que muitos deles busquem a hormonização pela via privada.
A falta de apoio familiar também influencia fortemente a autoestima destes
homens, uma vez que a negação de suas identidades de gênero configura-se
como uma violência psicológica que tem reflexos no próprio âmbito da saúde
destes sujeitos.
190
A situação de insegurança vivenciada por muitos e o receio de sofrer
constrangimentos, na maioria das vezes, resultam na não procura por
atendimento médico e no afastamento desses serviços, levando-os a
elaborarem outras estratégias que deem conta de suas demandas. A
configuração de redes de apoio e de troca de informações foi uma das
situações percebidas ao longo da pesquisa, principalmente via internet. Nesse
espaço, percebe-se uma articulação desses sujeitos, onde compartilham suas
experiências de transição, trocam indicações de profissionais, técnicas,
medicamentos e posologias, o que demonstra como a carência de serviços e
atendimento profissional leva-os a desenvolverem formas de resistência para
assegurar seus processos de transição e identificação. Esta é uma dinâmica
complexa que, ao mesmo tempo em que opera criando laços e uma rede de
contatos mais ampla, acaba por substituir acompanhamentos adequados e
especializados para as demandas específicas de cada um.
191
pesquisa. Além disso, ao padronizar um único tipo de tratamento, modelo a ser
seguido pelos protocolos, excluem-se outras inúmeras possibilidades de se
vivenciar as transexualidades, além de resumir as demandas a um único
quadro de referência. Reclamações acerca da necessidade de acessar outros
serviços para a transição ou com relação a outros tipos de prioridades
apareceram com alguma constância nos relatos.
192
dos homens trans. Muitos deles figuram como “o primeiro caso” para seus
endocrinologistas e psiquiatras. O preconceito e a falta de preparo dos
profissionais constrangem os homens trans que, muitas vezes, não tem seu
nome social respeitado, e tampouco suas vivências.
além desses problemas, um paradoxo se instala: no caso dos homens
trans quanto mais masculino, mais próximo do estereótipo do masculino, mais
fácil de se ter acesso aos hormônios, ou melhor, mais provável que o médico
se disponha a iniciar ou continuar um tratamento. Mas, para se obter essa
aparência mais masculina, a utilização da testosterona tem um papel
fundamental. Se ela é negada quando o homem trans está querendo iniciar seu
processo transexualizador, seu caminho será mais longo e mais difícil do que o
do homem trans que já faz uso do hormônio antes de procurar um médico.
Esse uso só é possível através da compra dos hormônios por vias irregulares
que não passem pelo consultório médico, o que vulnerabiliza essa população
ainda mais. A falta de um acompanhamento médico adequado pode levar a
sérios problemas de saúde, sem contar a vulnerabilidade social e econômica
dos homens trans nessa situação.
A noção de atenção integral à saúde deveria ir muito além do
ambulatório e do hospital. Como bem nos lembra Freitas (2014, p. 49-50):
193
referenciais “sexo feminino” para se aos homens trans e “sexo masculino” para
as mulheres trans. Por mais que essa terminologia possa fazer sentido do
ponto de vista médico, ela constrange e regula as experiências trans,
colocando os sujeitos sob a tutela de um saber médico que desconhece as
experiências e especificidades desses sujeitos.
Nesse sentido, a proposta da atenção integral à saúde pode ser um
começo, desde que a integralidade do cuidado envolva não apenas uma
humanização nos serviços oferecidos apenas de acordo com o ponto de vista
dos profissionais envolvidos, mas que respeite as posições de enunciação de
homens e mulheres transexuais.
Em outras palavras, que os homens trans possam, por exemplo, chegar
num consultório médico sem a obrigatoriedade de performatizar o estereótipo
do masculino para conseguir uma receita de testosterona, que sejam
atendidos, ouvidos e respeitados em seus anseios e necessidades como
cidadãos que tem direito à atenção integral da sua saúde, independentemente
de sua genitália, da sua performatividade de gênero ou da sua “aparência”. Em
suma, uma humanização no acesso aos serviços e no atendimento que
substitua aqueles momentos, nas palavras de Butler, “em que alguém vai até
os psicólogos, psiquiatras, profissionais médicos e legais para negociar o que
deve sentir, como o não reconhecimento do gênero de alguém ou, ainda, o
não reconhecimento da condição humana de alguém.” (Butler, 2004, p.58,
tradução livre).
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