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RELATÓRIO FINAL

IDENTIFICAÇÃO - PROJETO
NÚMERO DO LINHA DE FOMENTO/CHAMADA
PROCESSO
405166/2012-5 Chamada MCTI/CNPq/SPM-PR/MDA N° 32/2012 / Chamada
Nº 32/2012 - Categoria 1: Projetos de até R$ 100.000,00

COMITÊ ASSESSOR
47 - PROGRAMA ESPECIAL DE INCLUSÃO SOCIAL, IGUALDADE E CIDADANIA

ÁREA DE CONHECIMENTO
Teoria Antropológica
MODALIDADE CA DE JULGAMENTO
CONTRATAÇÃO
Individual 47 - PROGRAMA ESPECIAL DE INCLUSÃO SOCIAL,
IGUALDADE E CIDADANIA

TÍTULO: Transexualidades e saúde no Brasil: entre a invisibilidade e a demanda


por políticas públicas para homens trans

INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Minas Gerais


Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

COORDENAÇÃO: Profa. Dra. Érica Renata de Souza (Doutora em Ciências


Sociais)

PARTICIPANTES DA PESQUISA: Prof. Dr. Marco Aurélio Máximo Prado


(Doutor em Psicologia Social); Profa. Dra. Paula Sandrine Machado
(Doutora em Antropologia Social); Leonel Cardoso dos Santos,
Doutorando em Psicologia Social; Rafaela Vasconcelos Freitas,
Doutoranda em Psicologia Social; Guilherme da Rocha Campos,
Mestrando em Antropologia Social; Lorena Hellen de Oliveira, Mestarndo
em Antropologia Social; Sofia Gonçalves Repolês, Mestranda em
Antropologia Social; Gustavo Ramos Rodrigues, Graduando em
Antropologia; Joicinele Alves Pinheiro, Graduanda em Ciências Sociais;
Marina Luiza Nunes Diniz, Graduanda em Psicologia; Sara Silveira
Soalheiro, Graduanda em Ciências Sociais e Shirlei dos Reis Ribeiro,
Graduanda em Antropologia

COLABORADORES: Igor Ramon Lopes Monteiro, Mestre em Psicologia


Social e Leonardo Tenório, Presidente da ABHT até 2014 e militante das
causas trans

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Sumário
IDENTIFICAÇÃO - PROJETO ............................................................................................................ 1
1. Introdução ............................................................................................................................... 10
2. Objetivos: ................................................................................................................................ 11
3. Metodologia ........................................................................................................................... 11
3.1. Reflexões sobre a metodologia desta pesquisa: as demandas do campo e a necessidade
de se repensar a etnografia .................................................................................................... 12
4. Descrição do campo e das atividades realizadas .................................................................... 16
5. Síntese das atividades realizadas ............................................................................................ 18
5.1. Atividades realizadas no ano de 2013 .............................................................................. 18
5.2. Atividades realizadas no ano de 2014 .............................................................................. 20
5.3. Atividades realizadas no ano de 2015 .............................................................................. 21
6. Divulgação dos resultados parciais em eventos científicos .................................................... 23
. Relatório descritivo ................................................................................................................... 43
8. Entrevistas e Análises ............................................................................................................ 145
8.1. Caso 1: Vitor ................................................................................................................... 145
8.2. Caso 2: C.T. ..................................................................................................................... 156
8.3. Caso 3: Murilo ................................................................................................................ 162
8.4. Caso 4: Rafael ................................................................................................................. 168
8.5. Caso 5: Júlio .................................................................................................................... 181
9. Considerações Finais ............................................................................................................. 189
10. Bibliografia consultada ao longo da pesquisa ..................................................................... 194

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Sumário de gráficos
7. Relatório descritivo ................................................................................................................. 43
Gráfico 01 – Percentual da identificação social dos respondentes ........................................ 43
Gráfico 02 – Percentual em relação à idade ........................................................................... 44
Gráfico 03 – Percentual da identificação segundo cultura e costumes .................................. 45
Gráfico 04 – Percentual da identificação de cor e raça segundo o IBGE ................................ 45
Gráfico 05 – Percentual das relações afetivo/sexuais dos respondentes............................... 46
Gráfico 06 – Percentual do gênero das pessoas com quem os respondentes mantinham
relacionamento afetivo/sexual ............................................................................................... 47
Gráfico 07 – Percentual dos respondentes que tem filhos(as) ............................................... 48
Gráfico 08 – Percentual dos respondentes que gostaria de ter filhos(as) ou mais filhos(as). 49
Gráfico 09 – Percentual do grau de escolaridade ................................................................... 50
Gráfico 10 – Percentual dos respondentes que estavam estudando no momento do
questionário ............................................................................................................................ 50
Gráfico 11 – Percentual do principal motivo pelo qual os respondentes não estavam
estudando no momento da entrevista ................................................................................... 51
Gráfico 12 – Percentual de com quem os respondentes moravam no momento da entrevista
................................................................................................................................................. 52
Gráfico 13 – Percentual da idade até a qual os respondentes moraram com pais ou parentes
................................................................................................................................................. 52
Gráfico 14 – Percentual do motivo pelo qual os participantes deixaram de morar com pais
ou parentes ............................................................................................................................. 53
Gráfico 15 – Percentual dos participantes que não moram com pais ou parentes e mantém
contato com os pais ................................................................................................................ 53
Gráfico 16 – Percentual dos respondentes que tem algum tipo de problema de
relacionamento com os pais ................................................................................................... 55
Gráfico 17 – Percentual do grau de escolaridade dos pais dos respondentes ....................... 56
Gráfico 18 – Percentual do grau de escolaridade das mães dos respondentes ..................... 57
Gráfico 19 – Percentual das religiões ou igrejas atuais dos respondentes ............................. 58
Gráfico 20 – Percentual da frequência com que os respondentes comparecem ás cerimônias
de sua religião ......................................................................................................................... 59
Gráfico 21 – Percentual da religião na qual os participantes foram criados .......................... 60
Gráfico 22 – Percentual da cidade onde nasceram os respondentes ..................................... 61
Gráfico 23 – Percentual do estado onde nasceram os respondentes .................................... 62
Gráfico 24 – Percentual das cidades onde nasceram os entrevistados .................................. 62
Gráfico 25 – Percentual do estado onde nasceram os entrevistados .................................... 63

3
Gráfico 26 – Percentual da cidade onde os entrevistados residem atualmente .................... 63
Gráfico 27 – Percentual do estado onde os entrevistados residem atualmente ................... 64
Gráfico 28 – Percentual de motivos que levaram os entrevistados a mudarem da cidade
natal......................................................................................................................................... 64
Gráfico 29 – Percentual de outros motivos que levaram os entrevistados a mudarem de
cidade ...................................................................................................................................... 65
Gráfico 30 – Percentual da atual situação de moradia dos entrevistados ............................. 65
Gráfico 31 – Percentual de fonte de renda dos entrevistados ............................................... 66
Gráfico 32 – Porcentagem de ocupação/atividade laboral dos entrevistados ....................... 67
Gráfico 33 – Porcentagem da situação trabalhista dos entrevistados em sua ocupação ...... 67
Gráfico 34 – Porcentagem da renda mensal dos entrevistados na principal ocupação ......... 68
Gráfico 35 – Porcentagem de entrevistados que possuem convênio/plano de saúde .......... 68
Gráfico 36 – Porcentagem de entrevistados que precisaram de atendimento mas não
procuraram serviço de saúde .................................................................................................. 69
Gráfico 37 – Porcentagem de motivos pelos quais os entrevistados não procuraram
atendimento............................................................................................................................ 70
Gráfico 38 – Percentual relativo ao uso de álcool pelos entrevistados .................................. 71
Gráfico 39 - Percentual relativo ao uso de cigarro pelos entrevistados ................................. 71
Gráfico 40 - Percentual relativo ao uso de maconha pelos entrevistados ............................. 72
Gráfico 41 – Percentual relativo ao uso de lança perfume/loló pelos entrevistados ............. 72
Gráfico 42 - Percentual relativo ao uso de cocaína pelos entrevistados ................................ 73
Gráfico 43 - Percentual relativo ao uso de crack pelos entrevistados .................................... 73
Gráfico 44 - Percentual relativo ao uso de drogas pelos entrevistados – Xarope .................. 74
Gráfico 45 - Percentual relativo ao uso de anfetamina/metanfetamina pelos entrevistados 74
Gráfico 46 – Percentual relativo ao uso de heroína/morfina drogas pelos entrevistados ..... 75
Gráfico 47 – Percentual relativo ao uso de Ecstasy, MDMA pelos entrevistados .................. 75
Gráfico 48 - Percentual relativo ao uso de LSD pelos entrevistados ...................................... 76
Gráfico 49 - Percentual relativo ao uso de Ketamina (special K), GHB pelos entrevistados... 76
Gráfico 50 - Percentual relativo ao uso de drogas pelos entrevistados – Cogumelo ............. 77
Gráfico 51 – Percentual relativo ao uso de remédio psiquiátrico pelos entrevistados .......... 77
Gráfico 52 – Percentual relativo ao uso de outras drogas pelos entrevistados * .................. 77
Gráfico 53 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram depressão ....................... 78
Gráfico 54 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram outras doenças
psiquiátricas ............................................................................................................................ 78
Gráfico 55 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram tuberculose .................... 79

4
Gráfico 56 - Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram câncer ............................. 79
Gráfico 57 - Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram diabetes .......................... 80
Gráfico 58 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram hipertensão .................... 80
Gráfico 59 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram colesterol alto (gordura no
sangue) .................................................................................................................................... 81
Gráfico 60 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram HIV/Aids ......................... 81
Gráfico 61 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram gonorreia........................ 82
Gráfico 62 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram sífilis ............................... 82
Gráfico 63 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram doenças hepáticas (fígado)
................................................................................................................................................. 82
Gráfico 64 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram problemas nos rins......... 83
Gráfico 65 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram problemas cardíacos ...... 84
Gráfico 66 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram dependência ou problemas
com alguma outra droga ......................................................................................................... 84
67 – Percentual dos respondentes que afirmaram ter outros tipos de doença. .................... 85
Gráfico 68 – Percentual dos respondentes que no último ano, deixou de usar algum dos
itens na relação sexual ............................................................................................................ 85
Gráfico 69 – Percentual dos respondentes que nos últimos doze meses, fizeram exame de
HIV ou outras DST's ................................................................................................................. 86
Gráfico 70 – Percentual do local onde os exames de HIV ou outras DST's foram feitos ........ 86
Gráfico 71 – Percentual do motivo pelo qual os respondentes não fizeram os exames de HIV
ou outras DST's........................................................................................................................ 87
Gráfico 72 – Percentual dos respondentes em relação ao atendimento ginecológico .......... 88
Gráfico 73 – Percentual dos respondentes em relação ao suicídio ........................................ 89
Gráfico 74 – Percentual das idades que os respondentes começaram a ter consciência de
que desejariam viver e se identificar socialmente no gênero masculino ............................... 90
Gráfico 75 – Percentual dos respondentes que se apresentam (ou não) no gênero masculino
................................................................................................................................................. 91
Gráfico 76 – Percentual das idades em que os entrevistados passaram a se apresentar no
gênero masculino .................................................................................................................... 91
Gráfico 77 – Percentual de respondentes que fizeram (ou não) transformações corporais.. 92
Gráfico 78 – Percentual das idades com que os entrevistados iniciaram suas transformações
corporais.................................................................................................................................. 92
Gráfico 79 – Percentual de técnicas utilizadas pelos respondentes para modificar o corpo . 93
Gráfico 80 – Percentual de danos causados pelas técnicas de modificação corporal, exceto
hormônios e cirurgias, utilizadas pelos respondentes. ........................................................... 95

5
Gráfico 81 – Percentual sobre o uso de hormônios no presente ou no passado como parte
da transformação corporal...................................................................................................... 96
Gráfico 82 – Percentual do motivo pelo qual os respondentes não fizeram uso de hormônios
como parte de sua transformação corporal, caso desejassem............................................... 96
Gráfico 83 – Percentual do tempo de uso de hormônios pelos respondentes ...................... 97
Gráfico 84 – Percentual dos efeitos colaterais negativos decorrentes do tratamento
hormonal percebidos pelos respondentes ............................................................................. 98
Gráfico 85 – Percentual dos efeitos colaterais negativos específicos percebidos pelos
respondentes .......................................................................................................................... 99
Gráfico 86 – Percentual do acompanhamento médico recebido ou não pelos respondentes
para o uso de hormônios ...................................................................................................... 100
Gráfico 87 – Percentual dos meios de acesso a hormônios.................................................. 101
Gráfico 88 – Percentual dos meios de aplicação de testosterona ........................................ 102
Gráfico 89 – Percentual dos meios pelos quais os respondentes tiveram conhecimento sobre
o uso de hormônios............................................................................................................... 103
Gráfico 90 - Percentual do uso de substâncias como parte da transformação corporal...... 104
Gráfico 91 – Percentual do uso de suplementos e vitaminas como parte das transformações
corporais................................................................................................................................ 105
Gráfico 92 – Percentual das percepções sobre a realização da mastectomia (remoção
cirúrgica da mama)................................................................................................................ 106
Gráfico 93 – Percentual das percepções sobre a cirurgia de redução de mama .................. 107
Gráfico 94 – Percentual da realização da mamoplastia masculinizadora (cirurgia plástica
reconstrutiva que transforma a mama feminina em masculina) ......................................... 108
Gráfico 95 – Percentual da realização da histerectomia total (retirada de todos os órgãos
reprodutivos internos) .......................................................................................................... 108
Gráfico 96 – Percentual da realização da neofaloplastia (construção de neopênis a partir de
enxertos do corpo) ................................................................................................................ 109
Gráfico 97 – Percentual da realização da metoidioplastia (construção de neopênis a partir do
clitóris)................................................................................................................................... 110
Gráfico 98 – Percentual da realização da colpectomia/vaginectomia (fechamento do canal
vaginal) .................................................................................................................................. 110
Gráfico 99 – Percentual da realização da escrotoplastia (criação de testículos a partir de
próteses de silicone) ............................................................................................................. 111
Gráfico 100 – Percentual das avaliações dos resultados da(s) cirurgia(s) realizada(s) ......... 112
Gráfico 101 – Percentual das tentativas de realização de cirurgias através de plano/convênio
de saúde particular, caso desejem. ....................................................................................... 112
Gráfico 102 – Percentual das tentativas de realização do processo transexualizador pelo SUS
pelos respondentes ............................................................................................................... 113

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Gráfico 103 – Percentual dos motivos pelos quais os respondentes não estão realizando o
processo transexualizador pelo SUS, caso desejem.............................................................. 114
Gráfico 104 - Percentual das percepções acerca do atendimento de psiquiatras e psicólogos
no seu processo de transição ou identificação ..................................................................... 116
Gráfico 105 – Percentual das percepções sobre a necessidade de ter iniciado o processo de
transformações corporais (cirurgias e hormonoterapia) antes dos 18 anos ........................ 117
Gráfico 106 - Percentual acerca do conforto com características designadas socialmente
como femininas no corpo ..................................................................................................... 118
Gráfico 107 - Percentual de conforto dos respondentes com características designadas
socialmente como femininas no corpo ................................................................................. 118
Gráfico 108 - Percentual de violências físicas sofridas pelos respondentes ......................... 119
Gráfico 109 - Percentual de violências sexuais sofridas pelos respondentes ....................... 120
Gráfico 110 - Percentual de violências psicológicas sofridas pelos respondentes ............... 121
Gráfico 111 - Percentual de violências sofridas por parte de parceira (o) / namorada (o) .. 122
Gráfico 112 - Percentual de violências sofridas por parte de familiares / parentes............. 123
Gráfico 113 - Violências sofridas por parte de amigos / colegas / conhecidos .................... 123
Gráfico 114 - Percentual de violências sofridas por parte de vizinhos ................................. 124
Gráfico 115 - Percentual de violências sofridas por parte de usuários / clientes do seu
ambiente de trabalho............................................................................................................ 125
Gráfico 116 – Percentual de violências sofridas por parte de chefe ou colega de trabalho 125
Gráfico 117 - Percentual de violências sofridas por parte de professores e funcionários de
instituição de ensino ............................................................................................................. 126
Gráfico 118 - Percentual de violências sofridas por parte de alunos de instituição de ensino
............................................................................................................................................... 127
Gráfico 119 - Percentual de violências sofridas por parte de policiais ................................. 128
Gráfico 120 - Percentual de violências sofridas por parte de líderes ou membros da sua
religião ................................................................................................................................... 128
Gráfico 121 - Percentual de violências sofridas por parte de líderes ou membros de outra
religião ................................................................................................................................... 129
Gráfico 122 - Percentual de violências sofridas por parte de pessoas desconhecidas na rua
............................................................................................................................................... 130
Gráfico 123 - Percentual de violências sofridas por parte de funcionários / gestores de
estabelecimentos públicos .................................................................................................... 131
Gráfico 124 - Percentual de violências sofridas por parte de funcionários / administradores
de estabelecimentos privados ou comerciais ....................................................................... 131
Gráfico 125 - Percentual dos locais que sofreram violência ................................................. 132
Gráfico 126 - Percentual de violências/danos patrimoniais sofridos ................................... 133

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Gráfico 127 - Percentual de constrangidos por uma abordagem policial............................. 134
Gráfico 128 - Percentual dos que tem medo que as pessoas identifiquem como trans ...... 134
Gráfico 129 - Percentual dos que tem medo de serem constragidos publicamente por serem
trans ...................................................................................................................................... 135
Gráfico 130 - Percentual dos que tem medo de serem constrangidos ao mostrar os
documentos .......................................................................................................................... 136
Gráfico 131 – Percentual dos entrevistados que responderam ter medo de sofrer as
agressões mencionadas, em seu dia-a-dia ............................................................................ 137
Gráfico 132 – Percentual de entrevistados que conhecem (ou não) leis, decretos, resoluções
ou outras normas que garantem o direito ao nome social em órgãos públicos do seu
município, estado ou a nível de Governo Federal ................................................................ 138
Gráfico 133 – Percentual de entrevistados que tentaram utilizar o direito ao nome social em
órgãos públicos ..................................................................................................................... 139
Gráfico 134 – Percentual de entrevistados que mudaram o nome e/ou sexo no registro civil
............................................................................................................................................... 140
Gráfico 135 – Percentual dos motivos pelos quais o entrevistado não mudou seu nome e/ou
sexo no registro civil.............................................................................................................. 141
Gráfico 136 – Percentual de entrevistados que conhecem (ou não) instituições ou pessoas
que lutam pelos direitos de transexuais e transgêneros, na cidade em que mora atualmente
............................................................................................................................................... 142
Gráfico 137 – Percentual dos locais que o entrevistado frequenta e das atividades que ele
pratica em seu tempo livre ................................................................................................... 143

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9
1. Introdução
As/os transexuais e transgêneros são potencialmente agentes de
deslocamentos em relação ao binarismo de gênero e à matriz heterossexual
que são vivenciadas, corporificadas, na prática. Contudo, a patologização
reduz essa experiência diversa a uma doença e busca adequar os corpos trans
ao modelo binário heterossexual. Neste sentido, reitera a norma que pressupõe
a relação causal e direta entre sexo e gênero. Nota-se que nos campos do
direito, saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos
humanos iniciativas para a população trans ainda se encontram geminais no
Brasil. No caso especificamente de homens trans, iniciativas relacionadas à
direito, saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos
humanos ainda são menos difundidas. Ainda que no Brasil não haja um
levantamento aprofundado sobre a população trans masculina, uma série de
preocupações se faz presente concernente a essa população, principalmente
relacionadas às consequências da violência de gênero, com orientação sexual
e identidade de gênero e o acesso limitado ao Sistema de Saúde. Dentro
desse contexto, a partir de estudos internacionais e de relatos de homens trans
no Brasil, destacamos os vários tipos de violência sofridos, além do risco de
morte nessa população. Nesse sentido, entendemos que o processo de
transição deva ser uma escolha do sujeito, uma ação autônoma, garantido pelo
Estado e com acesso indiscriminado à saúde. Em outras palavras, a vivência
desse processo, marcado pela invisibilidade, num cenário de autonomia dos
sujeitos trans, deveria estar desvinculada da patologização, pois é justamente
essa ausência de legitimidade e reconhecimento da autonomia e da
autodeterminação do sujeito trans, que reforça a vulnerabilidade dos homens
trans em termos jurídicos, políticos e sociais. Neste projeto abordamos essa
temática pouco problematizada com foco na carência de visibilidade das
demandas e de acesso a políticas públicas de saúde integral e específica para
homens trans. Nossa pesquisa está centrada no mapeamento exclusivo da
população trans masculina no Brasil, em especial nas capitais e região
metropolitana dos Estados de Minas Gerais e São Paulo.

10
2. Objetivos:
 Mapeamento de redes sociais, discussões e articulações políticas da
população trans realizadas através da internet

 Mapeamento regional dos indivíduos e identificação do perfil


socioeconômico de homens transexuais (moradia, renda, escolaridade,
profissão, situação familiar, acesso à saúde);

 Perfil da transexualidade (fase em relação à transição, quais as


aspirações/desejos em relação às etapas da transição, e sob quais
circunstâncias e motivos pelos quais se submeteriam – ou não - às
intervenções corporais; se já modificaram os documentos);

 Caracterização das violências e discriminações a que homens


transexuais estão submetidos, em diversos aspectos: violências
simbólicas, físicas e verbais, problemas com empregabilidade,
dificuldades do uso do nome social e de acesso à saúde.

 Caracterização das principais formas pelas quais homens trans tem


acesso aos equipamentos da rede de saúde pública, as insuficiências do
serviço de saúde em atender tais indivíduos, problemas sofridos em
função do não acesso aos tratamentos de saúde e quais suas principais
demandas.

3. Metodologia
Metodologicamente, foram propostas duas fases da pesquisa, além da
observação participante e de reuniões preliminares e presenciais com homens
trans de BH e região a fim de subsidiar a elaboração do questionário. Primeira
fase: mapeamento de informações e demandas através da internet (redes
sociais) considerando o âmbito nacional e aplicação de questionários online em
âmbito regional; 2ª fase: entrevistas semiestruturadas em âmbito regional
(Minas Gerais e São Paulo).

A elaboração e aplicação de questionários online foi resultado do primeiro


mapeamento via internet, da observação participante, e da consultoria de

11
militantes transexuais e pesquisadores da área, visando a busca de dados
fundamentais para conhecimento da população e em particular um
mapeamento das principais demandas da área de saúde. A partir dos
questionários, alguns sujeitos foram selecionados para a entrevista, a fim de
aprofundar a discussão sobre as demandas e elaboração de políticas públicas
no campo da saúde para o grupo em questão, além de dados que poderão
subsidiar a formulação de políticas para a saúde, mas que, levando em conta a
escassez de informações públicas sobre esses sujeitos, propiciarão a
visibilidade de homens transexuais enquanto grupo com sérios entraves ao
acesso a direitos básicos. A observação participante se deu através da
participação em atividades presenciais com homens trans, mapeadas através
das discussões online, negociadas com os responsáveis pela organização das
atividades e mediadas pelas duas associações brasileiras de homens trans
(ABHT e IBRAT) e militantes trans locais.

3.1. Reflexões sobre a metodologia desta pesquisa: as demandas do


campo e a necessidade de se repensar a etnografia

O método etnográfico, consagrado na Antropologia, encontra-se num


momento em que a própria noção de campo precisa seja repensada a partir
das redes de produção de ciências, tecnologias e saberes. Faz-se necessário
fornecer novos subsídios para as pesquisas cujo campo precisa romper com a
distinção online/off-line a fim de compreender os processos de construção de
corpos e sujeitos.

Dentro dessa discussão, pretendemos identificar e compreender em que


medida as associações e redes virtuais favorecem a produção de corpos e
sujeitos que se identificam como homens trans, transhomens ou FTMs (Female
to Male).

A nossa pesquisa tem revelado que a oposição online/off-line


metodologicamente não se mostrou profícua para compreendermos as
associações e articulações dos homens trans, uma vez que não tem se
mostrado como uma opção inteligível para eles. A internet se configura, ela
12
mesma, como um dos atores. Em outras palavras, a construção dos corpos e
subjetividades dos homens trans se dá numa rede sociotécnica. Além disso, a
rede indica um outro lugar para o etnógrafo: como mais um ator da rede
sociotécnica, ou seja, um dos seus híbridos.

Nesse sentido, a intenção aqui não é debater a relação entre etnografia


virtual e “analógica”, mas refletir sobre a possibilidade de uma etnografia que
dilate a sua noção de campo para além de um sentido pautado na fisicalidade e
presença humana do antropólogo, condições que tem garantido, nos termos de
James Clifford, a sua “autoridade etnográfica”.

O lugar do etnógrafo há tempos tem sido questionado, desde a


problematização apresentada pelos pós-modernos até a etnologia. Como
escreve Alcida Ramos, no texto “Do engajamento ao desprendimento”:

“Em cerca de cinco anos, minha visão da matéria mudou substancialmente ao


observar caso após caso de jovens pesquisadores frustrados por situações de
campo pouco amistosas. Foi uma oportunidade que agarrei para tomar pé do
atual estado da profissão no Brasil. A análise desse novo momento no trabalho
etnográfico levou-me a defender um estado de desprendimento. Porém, longe
de ser uma abdicação ao compromisso, esse desprendimento implica um tipo
de liberação de manias de grandeza que têm turvado a vista dos etnógrafos
para o vigor da vontade indígena por conquistar sua agencialidade plena.”
(p.12)

Nesse sentido, a agencialidade passa a ser entendida como uma ação


não mais exclusiva do etnógrafo, mas de todos os atores que configuram o
campo.

Metodologicamente, o caráter etnográfico da pesquisa precisou ser


repensado em função do próprio campo. Como não há dados sobre essa
população no Brasil, sentimos a necessidade de aplicar um questionário
inicialmente visando busca de dados fundamentais para conhecimento da
população e em particular um levantamento das principais demandas da área

13
de saúde. A partir dos questionários, alguns sujeitos são selecionados para a
entrevista, a fim de aprofundar a discussão sobre as demandas que possam
contribuir para a elaboração de políticas públicas para o grupo em questão.

A observação participante se dá através do acompanhamento de


atividades de caráter acadêmico e militante realizadas por homens trans.
Atividades estas levantadas através das discussões online, negociadas com os
responsáveis pela organização e mediadas pelo presidente da ABHT que é
consultor da pesquisa.

Contudo, nos deparamos com as seguintes dificuldades: baixo número


de participantes nas reuniões que organizamos, baixo número de participantes
nas atividades organizadas pelos próprios homens trans, baixo numero de
interessados em responder um questionário presencialmente. Nossa questão
constantemente era: onde estão os homens trans? A resposta que o campo
nos deu foi que eles estão muito presentes e atuantes, na internet. A partir do
momento em que aceitamos e reconhecemos esse dado – que a princípio nos
apareceu com uma dificuldade da pesquisa – e reavaliamos nossa forma de se
fazer essa etnografia, nossos laços se estreitaram com nossos interlocutores.
Até mesmo o questionário, que seria presencial, tornou-se um questionário
online. Pesquisas recentes sobre transexualidade masculina no Brasil, como de
Àvila e Freitas, respectivamente Doutorado e Mestrado recentemente
defendidos, corroboram o dado de que não tem sido possível, no Brasil, uma
pesquisa com homens trans que exclua a agencialidade dos homens trans na
internet.

O que estou querendo dizer é que o campo passou a existir a partir do


momento em que conseguimos reconhecer que o “nosso” campo não é nosso,
que quem o constrói são nossos interlocutores.

Além disso, a princípio entendíamos a internet como uma ferramenta


metodológica, mas percebemos que as associações e redes virtuais não
apenas mediam ou produzem associações e redes off-line - nas quais a
materialização desses outros corpos se realiza - mas também como essas
redes online se mesclam com os redes off-line, embaçando a fronteira entre o
virtual e o material, apontando para a produção de corpos que se movem para

14
além dessa fronteira, ou que provavelmente não existiriam (ao menos nos
termos em que hoje existem) se acreditassem nessa fronteira.

Nesse sentido, também percebemos que a materialidade que


buscávamos, como pesquisadores (em termos fisicalidade, presença humana,
materiais e ferramentas de pesquisa – como um gravador e um questionário
em mãos) teve que ceder lugar a uma outra noção de materialidade. Digamos
que saímos de uma materialidade positivista para uma noção de materialidade
relacional (Mol) e controversa.

Segundo Latour (2011), “Quando os aproximamos dos lugares onde são


criados fatos e máquinas, entramos no meio de controvérsias. Quanto mais nos
aproximamos, mais as coisas se tornam controversas. Quando nos dirigimos
da vida “cotidiana” para a atividade científica, do homem comum para o de
ciência, dos políticos para os especialistas, não nos dirigimos do barulho para o
silêncio, da paixão para a razão, do calor para o frio. Vamos de controvérsias
para mais controvérsias.” (Ciencia em Ação, p.43)

Nesse sentido, antropologicamente falando, os sujeitos são


controversos, o campo é controverso, bem como a etnografia. Se, como
escreve Latour, entramos no meio de controvérsias sempre que lidamos com
lugares onde são criados fatos e máquinas, lembramos que, nesta pesquisa, a
reflexão sobre o campo e a etnografia não pode desconsiderar o dado de que
os próprios corpos dos nossos interlocutores são lugares onde são criados
fatos e máquinas.

Encontramo-nos num momento em que a etnografia precisa ser


repensada a partir das redes de produção de ciências, tecnologias, saberes,
corpos e subjetividades. Porque as assimetrias que historicamente garantiram
a legitimidade do trabalho do antropólogo tornaram-se insuficientes para
conseguirmos realizar pesquisas que nos permitam compreender os processos
controversos de construção de corpos e sujeitos.

15
4. Descrição do campo e das atividades realizadas
O atual campo do projeto “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil:
entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para homens trans”,
constituiu-se a partir da rede de contato prévia de pesquisadores e militantes
trans do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT – NUH/UFMG e
posterior realização de: 1) mapeamento e acompanhamento das redes sociais
dos homens trans no Brasil, com maior foco para Belo Horizonte (MG), São
Paulo (SP) e Campinas (SP) ; 2) realização de reuniões mensais, no decorrer
de 2013 e primeiro semestre de 2014, com os homens trans de Belo Horizonte
e região metropolitana; 3) participação mensal, desde o início de 2014, em
reuniões no centro de referência da cidade de Campinas; 4) participação em
uma reunião do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT) na cidade
de São Paulo.

A realização do mapeamento e acompanhamento das redes sociais


aconteceu através da nossa participação, enquanto pesquisadores, em grupos
fechados de facebook para homens trans (FTMs – Female to Male) e mulheres
trans (MTFs – Male to Female) a partir do consentimento dos membros e da
apresentação e mediação prévia de homens transexuais da rede de contatos
de pesquisadores do NUH/UFMG. Esta área do campo, que de início seria
apenas uma ferramenta de mapeamento, tornou-se o nosso principal meio de
interlocução e coleta de dados da população. Com ele conseguimos capitar
discussões e trocas de experiências que perpassam diversas questões como
uso de hormônio, acesso ao atendimento médico, o uso do nome social,
relacionamentos familiares, relações amorosas/sexuais, etc e estabelecer uma
relação no âmbito particular através do chat do facebook.

As reuniões mensais da cidade de Belo Horizonte acontecem nas tardes


dos terceiros domingos, sendo na maioria das vezes realizadas em uma sala
cedida por um dos museus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Inicialmente encontramos dificuldades para a construção desse espaço de
diálogo, devido restrições de horários e locais disponíveis. As reuniões
acontecem aos domingos em função de alguns homens trans trabalharem aos
sábados, e a disponibilidade de locais públicos nesse dia da semana é muito
pequena. Outra dificuldade encontrada para essas reuniões era o baixo

16
número de participantes. Constatamos as dificuldades de mobilização e
presença dos sujeitos nos mais diversos encontros, seja promovido pela
academia ou pela militância, e entendemos que tal situação está relacionada à
complexa dinâmica de assujeitamentos, discriminações e desmotivações que
as transexualidades configuram socialmente, fazendo com que muitos se
sintam mais motivados e confortáveis para atuação online.

Mesmo com dificuldades as reuniões aconteceram com propostas


temáticas para discussão, mas com grande flexibilidade para as demandas dos
participantes. Normalmente esses temas e demandas referiram-se às questões
de saúde e direitos, mas sempre interseccionados com temas referentes as
relações familiares, relacionamentos, intervenção no corpo, registro do nome
social, trabalho etc.

Em Campinas começamos no início de 2014 a nossa participação em


reuniões do Centro de Referência da cidade. Essas reuniões acontecem em
um grupo de homens trans e mulheres trans e convidados, com a orientação
de uma psicóloga. O grupo existe há mais de dez anos com uma dinâmica bem
livre de discussões e compartilhamento de experiências.

Em São Paulo participamos em uma reunião do IBRAT com o intuito de


apresentar a pesquisa, propor a parceria e também acompanhar a organização
militante do local.

Devido à inexistência de dados sobre a população de homens trans no


Brasil nos propusemos a aplicação de um questionário que buscou dados
básicos para o conhecimento da população com maior relevância para as
demandas da área da saúde. A elaboração do questionário passou por um
longo processo de trabalho, no qual foi construído a partir e juntamente dos
campos citados anteriormente, em principal as redes sociais e as reuniões de
Belo Horizonte, estudos bibliográficos e pesquisadores da área. Outro fator
importante para a construção desse questionário foi a consultoria do então
presidente da Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT), que pôde
discutir e construir com a equipe questão por questão. Devido à baixa presença
dos homens trans em eventos, encontros e reuniões, foi avaliado a importância
da internet como ferramenta para aplicação do questionário, modificando o

17
planejamento inicial de aplicações presenciais. Em função das dificuldades
para a construção de um questionário online auto-aplicativo, houve um atraso
considerável no início das aplicações/disponibilização online do mesmo.

Ao reavaliar as ações em 2015 optou-se por realizar, em Belo Horizonte,


um novo formato de encontros mensais, substituindo as reuniões temáticas,
por uma proposta mais atrativa e informal. Criamos o evento
“Transmasculinidades no cinema”, em que, cada mês, era exibido um filme
com a temática da transexualidade seguido de uma conversa. As conversas
versavam sobre o filme, transexualidades e questões relacionadas. Observou-
se que esta foi uma outra forma interessante de abordar questões familiares,
relacionamentos amorosos, intervenção no corpo, registro do nome social,
trabalho e direitos. Tal iniciativa proporcionou maior abertura para os sujeitos
falarem de si e suas próprias experiências, a partir de suas percepções e
estímulos do filme.

O questionário online esteve disponível de 26 de janeiro a 30 de julho de


2015 para que os homens trans pudessem respondê-lo. A partir do término
desse período iniciaram-se as análises destes questionários, com o intuito de
identificar as questões mais relevantes para um aprofundamento nas
entrevistas. As entrevistas foram formuladas com perguntas pré-estrutaradas,
de forma a guiar os entrevistadores, a partir de observações dos
desdobramentos do questionário. As entrevistas se iniciaram em 06 de junho e
se encerraram em 1 de agosto de 2015, marcadas previamente com os
homens trans a serem entrevistados e foram gravadas com o consentimento
destes e realizadas em dupla.

5. Síntese das atividades realizadas


5.1. Atividades realizadas no ano de 2013
No primeiro semestre de 2013 haviam reuniões quinzenais nas quartas
feiras às 14h, no segundo semestre devido as demandas passamos a nos
encontrar semanalmente às sextas feiras 15h.

18
Durante todo o ano realizamos um levantamento bibliográfico, leitura
sistemática de textos e discussões em grupo sobre os mesmos nas reuniões
semanais.

Data Resumo das atividades


Fevereiro e Releituras do projeto com discussões dos seus direcionamentos
março com base em bibliografias lidas.
05, 10, 24 e Levantamento online da população de homens trans;
26 de abril Início da elaboração do questionário;
Reuniões e atividades com Leonardo Tenório, presidente da
ABHT (Associação Brasileira de Homens Transexuais)
Maio Elaboração do questionário e preparação para o primeiro
encontro com os homens trans de BH e região.
14 de Junho Reunião com a pesquisadora externa do projeto
Junho Continuação da elaboração do questionário e direcionando a
aplicação online.
Problemas em encontrar espaço para reunir com os homens trans
de BH e região.
Maior foco na pesquisa para as questões referentes à saúde e
SUS.
14 a 16 de Participação no I Encontro de Homens Trans do Norte e Nordeste
junho – João Pessoa – Paraíba.
17 a 22 Reuniões e atividades com Leonardo Tenório, presidente da
junho ABHT (Associação Brasileira de Homens Transexuais)
Elaboração do instrumento quantitativo – Questionário.
07 julho Encontro mensal com homens trans de BH e RM
18 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM
agosto
15 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM
setembro
20 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM
outubro
21 a 25 de Participação na XXII SEMANA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA da
outubro UFMG Com apresentação do trabalho: TRANSEXUALIDADES E
SAÚDE NO BRASIL: ENTRE A INVISIBILIDADE E A DEMANDA
POR POLÍTICAS PÚBLICAS PARA HOMENS TRANS"
21 a 25 de Prêmio Relevância Acadêmica - trabalho:
outubro TRANSSEXUALIDADES E SAÚDE NO BRASIL: ENTRE A
INVISIBILIDADE E A DEMANDA POR POLÍTICAS PÚBLICAS
PARA HOMENS TRANS - XXII SEMANA DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA da UFMG -

19
17 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM
novembro
24 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM - Apresentação
novembro da situação judicial dos casos de alteração de registro em Minas
Gerais

5.2. Atividades realizadas no ano de 2014


Durante todo o semestre realizamos um levantamento bibliográfico,
leitura sistemática de textos e discussões em grupo sobre os mesmos nas
reuniões semanais.

Data Resumo das atividades

Janeiro e Criação de uma página na internet para aplicação do


Fevereiro questionário online. Esta versão foi utilizada para aplicação de
alguns questionários pilotos.

17 de janeiro IV Encontro trans de BH

16 de Encontro mensal com homens trans de BH e RM


fevereiro

25 de Reunião do projeto com a defensora pública de direitos


fevereiro humanos de BH.

16 de março Encontro da defensora pública com a população trans de BH.

16 de março Início do campo em Campinas. Reuniões no centro de


referência da cidade.

27 de abril V encontro trans de BH

07 de maio Participação em colóquio sobre Invisibilidade Trans –


Faculdade de Direito UFMG

07 a 09 de ABEH: participação em Simpósio Temático: Transexualidades


maio masculinas; apresentação de pôster.

25 de maio Participação em Reunião do IBRAT em São Paulo

25 de maio Encontro mensal com os homens trans de BH; filme e debate

25 de maio Participação da reunião no centro de referência de Campinas

21 de junho Participação da reunião no centro de referência de Campinas

16 de agosto Participação da reunião no centro de referência de Campinas

2 a 5 de I Congresso de Diversidade Sexual e de Gênero

20
setembro

22 a 24 de Apresentação dos resultados parciais no GT Saúde em


setembro Brasília para os trabalhos contemplados na Chamada
MCTI/CNPq/SPM-PR/MDA N° 32/2012.

24, 25 e 26 de VI Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade - Universidade


setembro Federal de Juiz de Fora

05 de outubro Participação da reunião no centro de referência de Campinas

13 a 14 de XXIII Semana de Iniciação Científica


outubro

5.3. Atividades realizadas no ano de 2015

Data Atividades

1 a 25 de Continuação do período de edição, revisão e teste do


janeiro questionário online.

16 de Grupo de Estudos: Discussão do livro “Discursos Fora da


janeiro Ordem: sexualidade, saberes e direitos”, de Larissa Pelúcio e
Richard Miskolci.

25 de (Período em que o questionário ficou disponível online)


janeiro a 16 Divulgação e aplicação do questionário online.
de março

30 de Grupo de Estudos. Discussão do livro “Challenging Gender


janeiro Norms”, de Williams e Kaufman.

13 de Grupo de Estudos. Discussão do primeiro volume do livro “O


fevereiro Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir.

20 a 23 de Participação no Primeiro Encontro Nacional de Homens Trans –


fevereiro ENAHT na Universidade de São Paulo – USP, em São Paulo.

27 de Grupo de Estudos. Discussão da Tese de Doutorado “Os


fevereiro desafios da despatologização da transexualidade: reflexões
sobre a assistência a transexuais no Brasil”, de Daniela M.
Amaral.

28 de Primeira edição do evento Transmasculinidades no Cinema.


fevereiro

21
13 de março Grupo de Estudos. Discussão do livro “Problemas de Gênero”,
de Judith Butler.

17 de março Tabulação dos dados dos questionários.


a 10 de abril

27 de março Grupo de Estudos. Continuação da discussão do livro


“Problemas de Gênero”, de Judith Butler.

3 de a 17 de Revisão do roteiro das entrevistas


abril

10 de abril Grupo de Estudos. Discussão do artigo “Atenção integral à


saúde e diversidade sexual do processo transexualizador do
SUS: avanços, impasses, desafios”, de Tatiana Lionço.

10 de abril a Análise dos questionários e elaboração do Relatório de Análise


15 de maio dos Questionários

24 de abril Grupo de Estudos. Discussão do artigo “Multidões queer: notas


para uma política dos "anormais", de Beatriz Preciado.

1 de maio a Agendamento e realização das entrevistas.


1 de agosto

8 de maio Grupo de Estudos. Discussão do artigo “Limites e possibilidades


do exercício da autonomia nas práticas terapêuticas de
modificação corporal e alteração da identidade sexual”, de
Miriam Ventura.

18 a 21 de Participação no Seminário “América Latina – Cultura, História e


maio Política” em Uberlândia – MG.

22 de maio Grupo de Estudos. Discussão do artigo “Reflexões sobre a


possibilidade da despatologização da transexualidade e a
necessidade da assistência integral à saúde de transexuais no
Brasil”, de Guilherme Almeida e Daniela Murta.

22 de maio Discussão e análise das entrevistas. Elaboração do Relatório de


a 02 de Análise das Entrevistas.
agosto

23 de maio Segunda edição do evento Transmasculinidades no Cinema

29 de maio Participação na II Jornada do Grupo de Estudos “Gênero,


feminismo e sexualidade”, na Universidade federal de Minas

22
Gerais – UFMG.

5 de junho Grupo de Estudos. Discussão da Tese de Doutorado “O sexo


dos anjos: representações e práticas em torno do gerenciamento
sociomédico e cotidiano da intersexualidade”, de Paula Sandrine
Machado.

5 de junho a Elaboração do Relatório Final da pesquisa.


24 de julho

6. Divulgação dos resultados parciais em eventos científicos

Autora: Érica Renata de Souza


Co-autora: Sofia Gonçalves Repolês
Título: O corpo no mundo e o mundo do corpo: problematizando o caráter
biopsicossocial dos corpos a partir das experiências de homens trans
Evento: VI Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade; II Seminário
Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade; do II Encontro Gênero e
Diversidade na escola
Local: Universidade Federal de Juiz de Fora
Data: 24 a 26 de setembro de 2014

Resumo: O corpo como artefato físico e simbólico tem sido objeto de estudo da
antropologia desde o início do século passado. Contudo, as discussões tem se
refinado cada vez mais no sentido de se buscar o entendimento da construção
social dos corpos numa perspectiva maussiana que comtempla o ser humano
na sua tríplice dimensão biopsicossocial. As relações entre o fisiológico, o
psicológico e o social implicam em interdependência e impossibilidade de se
delimitar fronteiras nítidas entre tais dimensões. Para os estudos de gênero,
essa discussão é profícua no sentido de que se coloca em xeque tanto a
construção dos gêneros e das sexualidades quanto do próprio sexo, uma vez
que os sujeitos existem e se relacionam com o mundo – seja no que se refere
ao sexo, ao gênero ou à sexualidade – a partir do corpo, numa perspectiva

23
fenomenológica. Nesse contexto de discussões antropológicas de gênero, esse
trabalho pretende apresentar e problematizar questões concernentes aos
corpos de homens transexuais (também denominados homens trans,
transhomens ou FTMs – Female to Male) e fará referência a uma pesquisa em
andamento na Universidade Federal de Minas Gerais, intitulada
“Transexualidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade e a
demanda por políticas públicas para homens trans”. Dentre os objetivos da
pesquisa, está a problematização da construção de novos corpos que, através
de técnicas e procedimentos muito particulares, escapam à lógica da matriz
heterossexual reprodutiva. Os homens trans são sujeitos que nasceram com o
sexo feminino e foram biologicamente e socialmente identificados como
mulheres mas buscam através de vários recursos (hormonização, cirurgias
etc.), a transformação de seus corpos num viés masculino e o seu
reconhecimento social como homens. No Brasil, a cirurgia de
transgenitalização para homens trans é considerada experimental e, portanto, o
acesso a ela não é fácil, seja pelo SUS ou por convênios. A cirurgia mais
comumente realizada é a mastectomia (retirada dos seios) e, eventualmente
(quando há uma doença que justifique), a colpectomia (retirada do útero). Além
das cirurgias e da utilização de hormônios (o que caracteriza outra polêmica já
que o acesso aos hormônios também não é tão tranquilo no Brasil), os homens
trans ainda se apropriam de outros aparatos e técnicas visando à alteração de
seus corpos, como faixas de ataduras, coletes compressores etc.). Essa
alteração dos corpos não se desvincula de uma alteração nas relações sociais
e na forma de ver o mundo e as relações, evidenciando esse caráter
biopsicossocial da transexualidade, seja masculina ou feminina. Nesse sentido,
apresentaremos e analisaremos alguns dados iniciais da pesquisa em
andamento, a fim de problematizarmos a construção dos corpos
particularmente através da especificidade das experiências dos homens trans.

24
Autora: Érica Renata de Souza
Título: O antropólogo no campo e na rede: reflexões sobre etnografia e
redes sociotécnicas numa pesquisa sobre transexualidade masculina
Evento: 29ª Reunião Brasileira de Antropologia
Local: UFRN, Natal-RN.
Data: 03 a 06 de agosto de 2014.

Resumo: A proposta desse trabalho é problematizar o método etnográfico a


partir do debate das redes de produção de ciências, tecnologias e saberes que
propiciam a produção de gêneros e sexualidades e, portanto, de novos corpos
e sujeitos. No caso específico dessa pesquisa, o objetivo inicial é identificar e
compreender em que medida as associações e redes virtuais favorecem a
produção de corpos e sujeitos que se identificam como homens trans,
transhomens ou FTMs (Female to Male). Ademais, pretendemos verificar em
que medida essas associações e redes online não apenas mediam ou
produzem associações e redes off-line - nas quais a materialização desses
outros corpos se realiza - mas também como essas redes online se mesclam
com os redes off-line, embaçando a fronteira entre o virtual e o material,
apontando para a produção de corpos que se movem para além dessa
fronteira, ou que provavelmente não existiriam (ao menos nos termos em que
hoje existem) se acreditassem nessa fronteira. Nesse processo, o método
etnográfico, consagrado na Antropologia a partir da noção de campo, encontra-
se num momento em que a própria noção de campo precisa seja repensada a
partir das redes de produção de ciências, tecnologias e saberes, a fim de
fornecer subsídios para as pesquisas cujo campo precisa romper com a
distinção online/off-line a fim de compreender os processos de construção de
corpos e sujeitos. A nossa pesquisa tem revelado que a oposição online/off-line
metodologicamente não se mostrou profícua para compreendermos as
articulações dos homens trans pois não tem se mostrado como uma opção
inteligível para esses atores, pelo fato de que a internet se configura, ela
mesma, como um dos atores. Em outras palavras, a construção dos corpos e
subjetividades dos homens trans se dá numa rede sociotécnica. Nesse sentido,
nossa intenção não é debater a relação entre etnografia virtual e “analógica”,
mas refletir sobre a possibilidade de uma etnografia que dilate a sua noção de

25
campo para além de um sentido pautado na fisicalidade e presença humana do
pesquisador, condições que garantiriam, nos termos de James Clifford, a sua
“autoridade etnográfica”. Concluindo, essa pesquisa tem nos indicado um outro
lugar para o etnógrafo: como mais um ator da rede sociotécnica, ou seja, um
dos seus híbridos.

Autora: Érica Renata de Souza


Co-autor: Marco Aurélio Máximo Prado
Título: “E a fila não anda”: questões sobre transexualidade masculina e
saúde
Evento: VII Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade
Sexual e de Gênero da ABEH
Local: Campus da FURG, Rio Grande do Sul
Data: 07 a 09 de maio de 2014

Resumo: Essa apresentação tem por objetivo apresentar os dados parciais da


pesquisa “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade e
a demanda por políticas públicas para homens trans”, iniciada janeiro de 2013.
A princípio pretendemos, com essa pesquisa, contribuir para o processo de
reconhecimento das diversas demandas sociais. Para isso, buscamos
compreender tanto as especificidades das demandas dos homens trans quanto
as insuficiências do serviço de saúde para a população em questão a partir de
uma perspectiva regional, porém situada num contexto nacional de
invisibilidade sociocultural e política dos homens trans. Nesse contexto,
problematizaremos como os homens trans constroem seus corpos e
subjetividades num processo marcado pela ciência e pela tecnologia, desde o
uso da internet até as intervenções médicas e cirúrgicas nos corpos visando às
transformações desejadas. Em outras palavras, essas intervenções nos corpos
são cruciais para as identidades trans, mas sofrem limitações diante das
insuficiências do serviço de saúde para os homens trans.

26
Autora: Érica Renata de Souza
Co-autor: Marco Aurélio Máximo Prado
Título: Políticas públicas para homens trans no Brasil: problematizando a
violência e a insuficiência de acesso à saúde.
Evento: Fifth International Conference Queering Paradigms: “Queering
narratives of modernity”
Local: Quito, Equador
Data: 18 a 22 de fevereiro de 2014

Resumo: Nesta comunicação, apresentaremos os dados iniciais da pesquisa


“Transexualidades e saúde no Brasil: entre a invisibilidade e a demanda por
políticas públicas para homens trans”. Sabemos que nos campos do direito,
saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos humanos
iniciativas para a população trans ainda se encontram geminais no Brasil. No
caso especificamente de homens trans, iniciativas relacionadas à direito,
saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos humanos
ainda são menos difundidas. Ainda que no Brasil não haja um levantamento
aprofundado sobre a população trans masculina, uma série de preocupações
se faz presente concernente à mesma, principalmente relacionadas às
consequências da violência de gênero e o acesso limitado ao Sistema de
Saúde. Temos por objetivo investigar e analisar tanto as especificidades dos
homens trans quanto as insuficiências de acesso, integralidade e humanização
do serviço de saúde para a população em questão a partir de uma perspectiva
regional, porém situada num contexto nacional de invisibilidade sociocultural e
política dessa população. Nesse sentido, abordamos questões como o
respeito ao uso do nome social nesses serviços, demandas de intervenções
corporais (hormonais, cirúrgicas e tecnológicas) e técnicas de reprodução
assistida visando à parentalidade (gravidez do homem trans, do parceiro ou da
parceira). Metodologicamente, nossa pesquisa centralizará no mapeamento
exclusivo da população trans masculina no Brasil, com foco em três cidades
brasileiras. Propomos quatro momentos, não lineares, da pesquisa, sendo eles:
levantamento de dados na internet, aplicação de questionários, grupos focais e
entrevistas, além de observação participante em atividades e eventos
relacionados à temática.

27
Autoras: Joicinele Alves Pinheiro; Shirlei dos Reis Ribeiro; Sofia
Gonçalves Repolês
Título: Construção e compartilhamento de desafios, demandas e
estratégias de homens transexuais para o acesso a saúde -notas sobre
um campo online
Evento: I Congresso de Diversidade Sexual e de Gênero
Local: Universidade Federal de Minas Gearis – Faculdade de Direito e
Ciências do Estado
Data: 02 a 05 de setembro de 2014

Resumo: A transexualidade masculina é a denominação dada a uma


discordância entre o sexo feminino designado ao nascimento e o gênero
masculino com o qual os sujeitos se reconhecem e desejam ser socialmente
reconhecidos. As experiências e corpos assim assignados, desafiam e
desestabilizam as prescrições da matriz heterossexual (BUTLER, 2003) que
estabelecem uma relação direta e causal entre sexo, gênero e práticas sexuais,
atribuindo a estas um caráter de naturalidade.

O Sistema Único de Saude (SUS) trabalha a partir de diretrizes médicas que


patologizam as experiências transexuais/transgêneras, violentando os sujeitos
e suas subjetividades. Desta forma, limitam o acesso a saúde integral e
silenciam demandas específicas desta população, agravando a situação de
vulnerabilidade social dos mesmos.

O projeto “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade e


a demanda por políticas públicas para homens trans”, inciado em fevereiro de
2013, tem como proposta levantar e sistematizar dados refentes à população
de homens trans da região metropolitana de Belo Horizonte, da capital paulista
(SP) e da cidade de Campinas, com maior enfoque nas questões referentes a
saúde.

Metodologicamente nos propomos um mapeamento online dos interlocutores,


aplicação de questionários, entrevistas presenciais e pesquisa etnográfica.
Atualmente nos reunimos mensalmente em encontros temáticos com a
população de BH, em reuniões também mensais no Centro de Referência de

28
Campinas e em reuniões do IBRAT (Instituto Brasileiro de
Transmasculinidades) em SP. Pretendemos então apresentar as dificuldades
de acesso e atendimento no sistema público de saúde enfrentados por homens
transexuais, bem como suas principais demandas e estratégias para alcançá-
las identificadas através do mapeamento online de grupos e discussões em
redes sociais.

A partir dos contatos estabelecidos até este momento da pesquisa, percebe-se


que o de acesso à saúde para pessoas transexuais ainda é uma demanda
pouco visibilizada. Embora o Processo Transexualizador do SUS hoje
proponha a atenção à saúde, não assegura o cuidado integral necessário para
essa população além de reiterar violências através do discurso patológico e
essencializado.

Autoras: Érica Renata de Souza e Sofia Gonçalves Repolês


Título: Abrindo O Guarda-Chuva Da Diversidade: O Debate Das
Transmasculinidades
Evento: Seminário América Latina: Cultura, História e Política
Local: Uberlândia , Minas Gerais
Data: 18 a 21 de maio de 2015

Resumo: No decorrer do desenvolvimento da pesquisa “Transexualidades e


saúde no Brasil: entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para
homens trans” (FAFICH/UFMG), obtivemos dados através da aplicação de
questionários e da realização de trabalho de campo, os quais indicaram a
pluralidade das experiências e corporalidades das transmasculinidades, bem
como as disputas e coalisões políticas dentro do guarda-chuva da diversidade.
Em meio às discussões sobre os processos identitários e as demandas de
políticas públicas ao Estado por sujeitos que se auto-identificam como homens
trans, destacam-se aqueles que não se sentem contemplados por esse
termo/identidade e se autodenominam “não-binários”, “transmasculinos”,
genderqueer ou “gênero fluido”. Neste texto, nosso objetivo é descrever e
analisar tais demandas levantadas pelos sujeitos trans não-

29
binários/genderqueer/transmasculinos, assim como compreender seus
processos de construção da identidades e corpos não-binários, bem como os
discursos mobilizados por estes atores a fim de construir e legitimar suas
demandas e identidades políticas.

Autora: Sofia Gonçalves Repolês


Co-autoras: Joicinele Alves Pinheiro e Shirlei dos Reis Ribeiro
Título: Transexualidades e saúde no Brasil: entre a invisibilidade e a
demanda por políticas públicas para homens trans
Evento: VII Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade
Sexual e de Gênero da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura
– ABEH.
Local: Cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul
Data: 07 a 09 de maio de 2014

Resumo: Transexuais e transgêneros são potencialmente agentes de


deslocamentos em relação ao binarismo de gênero e à matriz heterosexual que
são vivenciadas,corporificadas,na prática. Contudo,a patologização reduz a
pluralidade das experiências transexuais a uma doença e busca adequar os
corpos trans à categorias simbolicamente pautadas e inteligíveis à
heteronormatividade. Neste sentido, reitera a norma que pressupõe a relação
causal e direta entre sexo e gênero, e deslegitima outras diversas experiências
que não se adequam à mesma.

O Sistema de Saúde Pública do Brasil ainda trabalha segundo diretrizes que


patologizam as experiências trans e, assim, desrespeitam a autonomia e a
auto-determinação dos sujeitos. Deste modo, além da vulnerabilidade social à
qual são submetidos, as dificuldades de acesso ao sistema de saúde
constituem mais uma forma de violência contra esses sujeitos, seus corpos,
subjetividades e experiências.

A partir do levantamento das experiências trans masculinas, nas cidades de


Belo Horizonte, São Paulo, Campinas e Regiões Metropolitanas, pretende-se
contribuir para maior problematização e compreensão referentes à carência de

30
visibilidade e demandas de acesso às políticas públicas de saúde integral e
específica.

Autora: Sofia Gonçalves Repolês


Título: Transexualidades e saúde no Brasil: entre a invisibilidade e a
demanda por políticas públicas para homens trans
Evento: XXII Semana de Iniciação Científica
Local: Universidade Federal de Minas Gerais
Data: 21 a 25 de outubro de 2013

Resumo: O Sistema de Saúde Pública do Brasil ainda hoje trabalha de acordo


com as diretrizes que patologizam tais experiências e que, portanto,
desrespeitam a autonomia e a capacidade de auto-determinação dos sujeitos
que reivindicam as identidades trans. Sendo assim, ademais das violências
motivadas por questões de gênero, sexualidade e da vulnerabilidade social na
qual se encontram dada a dificuldade de acesso aos campos do trabalho,
assistência social, direitos, educação e segurança, o campo da saúde - tanto
por dificuldades e limitações de acesso, como por trabalharem na chave da
patologização de experiências trans e travestis - constitui-se como mais uma
forma de violência para com esses sujeitos, seus corpos, subjetividades
experiências.

Parte de nossa pesquisa se dedica a um mapeamento de homens transexuais


nas cidades de Belo Horizonte, Campinas, São Paulo e Regiões
Metropolitanas. Durante sua primeira fase desenvolvemos um questionário
dividido em doze temas centrais de interesse: dados sociodemográficos,
escolaridade, família, religião, migração e moradia, trabalho e renda,
identificação e transformação no corpo, saúde, violência, sociabilidade e lazer,
e direitos civis. Este instrumento metodológico será utilizado como forma de
obter dados e informações que consideramos básicos para uma primeira
avaliação das situações socioeconômica, familiar, escolar, de moradia e
acesso à saúde da população de transexuais masculinos. Buscaremos também

31
elaborar uma caracterização das principais formas de violência e discriminação
aos quais os homens trans estão sujeitos.

A pesquisa se encontra em andamento, em breve iniciaremos a aplicação dos


questionários que fornecerão dados sobre as principais formas de acesso à
saúde pública, as demandas desta população e (in)suficiências encontradas no
atendimento, bem como as consequências e problemas gerados pelas
dificuldades de acesso, ou pelo não acesso à rede de saúde pública.

Autora: Sofia Gonçalves Repolês


Título: (DES)IDENTIFICAÇÕES E SOLIDARIEDADE ENTRE LÉSBICAS,
PESSOAS TRANS E TRANS HOMENS.
Evento: Seminário Internacional Desfazendo Gênero
Local: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Data: 14 a 16 de agosto de 2013

Resumo: A resistência experimentada nas vivências corporais e práticas sexo-


afetivas-políticas dissidentes com relação à coerência entre sexo, gênero e
desejo, prescrita pela matriz heterosexual (Butler, 2008), envolve muitas vezes
a desidentificação com a categoria sexo-genérica atribuída à pessoa ao
nascimento. No caso das pessoas que foram biopoliticamente asignadas ao
sexo feminino no nascimento, esse processo muitas vezes passa pela crítica
do lugar de inferioridade e subordinação conferido às mulheres na sociedade
machista e androcêntrica. A desidentificação enquanto mulher pode encontrar
diversas outras formas de identificação: as lésbicas que não se identificam
como mulheres, as pessoas trans e os trans homens. Apesar de
compartilharem algumas chaves interpretativas com relação à opressão
configurada no sistema binário de gênero pelo pensamento heteressexual
(Wittig, 2010) que torna ininteligíveis outras existências, essas identificações
implicam posicionamentos políticos diferenciados com relação às formas de
enfrentamento à heteronorma e à dominação sexista e configuram diferentes
trânsitos e inserções nas comunidades feministas, transfeministas e LGBT.
Buscamos nesse trabalho trazer as experiências dessxs sujeitxs com relação

32
às potencialidades e limitações que essas diferentes categorias identitárias
pemitem enquanto significação das vivências sexo-afetivas e enquanto
possibilidade de construção de comunidade/solidariedade política.

Autora: Sofia Gonçalves Repolês


Título: Transmasculinidades em movimentos: conflitos e construções
coletivas entre homens trans e trans não-binários
Evento: II Jornada do Grupo Feminismo e Relações de Gênero
(FEMEGEN) FAFICH/UFMG
Local: Universidade Federal de Minas Gerais
Data:29 de maio de 2015

Resumo: As experiências de transmasculinidades, vivenciadas por sujeitos que


foram designados como mulheres ao nascimento, mas que se identificam e
desejam ser socialmente identificados no gênero masculino, evidenciam a
instabilidade dos modelos de gênero e sexualidade normativos. Como parte
do(s) processo(s) de transmasculinização, muitos destes sujeitos realizam
ou desejam realizar intervenções hormonais e/ou cirúrgicas em seus corpos,
demandando acompanhamento médico integral e especializado. No Brasil, o
“processo transexualizador” do Sistema Único de Saúde oferece atendimento a
pessoas trans, porém, opera a partir de chaves que sustentam um modelo
normativo de transexualidade, ao qual se faz necessário corresponder para que
se possa acessar os serviços de saúde. A noção de “transexual verdadeiro”,
criada nos contextos médico e das ciências psi, refere-se a um modelo de
transexualidade que se adequaria plenamente à lógica heteronormativa e
cisgênera, após as devidas intervenções hormonais e cirúrgicas, excluindo ou
oprimindo uma diversidade de sujeitos e identidades trans que não
correspondem ao modelo médico psiquiátrico.

No decorrer do desenvolvimento da pesquisa “Transexualidades e saúde no


Brasil: entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para homens
trans” (FAFICH/UFMG), obtivemos dados através da aplicação de
questionários e da realização de trabalho de campo, os quais indicaram a
pluralidade das experiências e corporalidades das transmasculinidades, bem
como as disputas e coalisões entre aqueles que se diferenciam

33
identitariamente. Em meio as discussões sobre os processos indentitários e
demandas de políticas públicas ao Estado por sujeitos que se auto-identificam
como homens trans, destacam-se os sujeitos que não se sentem contemplados
por esse termo/identidade e, por sua vez, identificam-se como “não-binários”,
genderqueer ou “transmasculinos”. Reivindicam demandas e formas de
identificação distintas como, por exemplo, o uso pelo movimento social do
termo “transmasculinidades” como identidade política que abarcaria uma
maior diversidade de experiências em detrimento do termo “homem trans”, que
diria respeito a uma forma especifica de identificação num espectro mais amplo
de transmasculinidades. No presente texto, nos dedicaremos a descrever e
analisar tais demandas levantadas pelos sujeitos trans não-
binários/genderqueer/transmasculinos no contexto brasileiro. Buscaremos
também compreender seus processos de construção da identidades e corpos
não-binários, bem como os discursos mobilizados por estes atores a fim
de construir e legitimar suas demandas e identidades políticas. Discutiremos
também as tensões que se dão em torno das distintas categorias político-
identitárias. Para tal empreendimento, estabeleceremos um diálogo teórico
com autores de outros países latino-americanos que desenvolvam debates,
pesquisas ou atividades de militância sobre o tema das transmasculinidades,
como Mauro Cabral (2003), Vendrell Ferré (2009), Valenzuela (2011) e Silva
e Rojas (2009).

Autora: Joicinele Alves Pinheiro


Co-autora: Shirlei dos Reis Ribeiro
Título: Entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para
homens trans
Evento: VI Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade; II Seminário
Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade; do II Encontro Gênero e
Diversidade na escola
Local: Universidade Federal de Juiz de Fora
Data: 24 a 26 de setembro de 2014

34
Resumo: Este projeto problematiza as questões de gênero e sexualidade em
homens trans dentro da saúde pública brasileira. De modo que esses sujeitos
provocam um deslocamento no binarismo de gênero e na matriz heterosexual a
partir de suas vivências e corporificações. Entretanto, o processo
transexualizador do SUS, vigente atualmente, os enquadra em um modelo
binário heterossexual, patologizando essa experiência. Devido a isso há uma
invisibilidade e acesso limitado à saúde para essa população. Então, é a partir
de um levantamento das experiências trans que esse projeto pretende provocar
maiores problematizações e compreensões referentes à carência de
visibilidade e demandas de acesso às políticas públicas de saúde integral e
específica.

A pesquisa centraliza-se no mapeamento da população de homens trans nas


regiões de Belo Horizonte e sua região metropolitana , cidade de São Paulo e
Campinas. Até o momento foi possível um mapeamento superficial da atuação
de homens trans em ambientes virtuais – redes sociais, como Facebook - ,
assim como articulações presenciais – reuniões com debates sobre demandas
trans em Belo Horizonte e sua região metropolitana.

A partir desses meios é possível estabelecer comparações entre os dois


ambientes de sociabilidade no que tange à invisibilidade, ao acesso a direitos e
à articulação política. As redes sociais apresentam-se, até o momento, como
um ambiente de troca de experiências. Muitos dos homens trans compartilham
nesses espaços suas vivências e dificuldades ao acesso a diretos básicos,
como atendimentos em postos de saúde e respeito a sua identidade trans. De
certa forma, os relatos suprem a carência desses sujeitos de políticas públicas
específicas as suas demandas, além de configurar instrumentos de articulação
política.

Embora ainda incipiente, essa articulação política ocorre de maneira autônoma


e específica. Em nossa experiência, enquanto pesquisadoras, nos deparamos
com esse quadro específico quando, por exemplo, tentamos estabelecer inter-
relações, que além do espaço virtual, também incluam sociabilidade em
espaços físicos. Nesse esforço percebemos que o engajamento em espaços
virtuais apresenta uma proeminência em relação ao outro.

35
Os dados ainda são preliminares e oriundos de nossas observações e relações
com os homens trans no contexto de Belo Horizonte. A percepção aqui
apresentada é passível à mudanças ao longo do desenvolvimento da pesquisa.

Autora: Joicinele Alves Pinheiro


Título: Um campo etnográfico online de experiências transexuais
masculinas
Evento: XXIII Semana de Iniciação Científica
Local: Universidade Federal de Minas Gerais
Data: 13 a 14 de outubro de 2014

Resumo: A transexualidade masculina implica em potenciais agentes de


deslocamento da relação binária de gênero e da matriz heterossexual
(BUTLER, 2003) que pressupõe uma relação direta e causal entre sexo,
gênero e práticas sexuais, de forma naturalizante. Isso porque são
experiências onde não há uma correspondência entre o sexo feminino
assignado pela sociedade ao nascimento e o gênero masculino com o qual os
sujeitos se identificam e desejam ser reconhecidos.O acesso dessa população
ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil se dá ainda de forma limitada e
por um viés patologizante. De modo que essas experiências e suas
subjetividades são submetidas ao processo transsexualizador e do acesso
básico a saúde integral, revelando a vulnerabilidade social dos sujeitos e a
carência de políticas públicas adequadas. Nesse sentido, o principal objetivo do
Projeto “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade e a
demanda por políticas públicas para homens trans” é problematizar a carência
de visibilidade e o acesso a políticas públicas de saúde integral e específica
para homens trans.

O projeto iniciado em janeiro de 2013 trabalha com interlocutores da região


metropolina de BH, da cidade de SP e de Campinas. Propos-se
metodologicamente três fases: mapeamento online, aplicação de questionários,
entrevistas e observação participante. Essas fases se mantêm, mas fez-se
necessário reconsiderar a relação entre pesquisadores e interlocutores, e o

36
próprio campo. Nesse sentido, a relação da pesquisa com a internet se
expandiu para além de um mapeamento, uma vez que as redes sociais
configuraram o nosso campo primário de coleta de dados e contato com os
interlocutores.

Atualmente há reuniões presenciais e mensais em BH e no Centro de


Referência de Campinas, além de ter se estabelecido uma parceria com o
IBRAT (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades) em SP. Também há
participação em encontros e movimentos de militância organizados por homens
trans na cidade de BH. Contudo, esses encontros presenciais só aconteceram
depois que o campo online já estava estabelecido, campo esse que se
configurou principalmente por grupos fechados do facebook. Percebeu-se que
esse campo vai além de uma rede social, de comunicação. É um campo de
ativismo político, de troca de informações, que nos provoca a compreender
como essas redes virtuais contribuem, ou mesmo constroem, os corpos e
identidade desses sujeitos. Além disso, levou-nos a questionar a nossa própria
posição enquanto antropólogos e o campo etnográfico, percebendo que não
somos nós quem configuramos esse campo, e sim os nossos interlocutores.

Autora: Joicinele Alves Pinheiro


Título: Transexualidades/Transgenereidades e Saúde Pública no Brasil:
entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para homens
trans
Evento: XXII Semana de Iniciação Científica
Local: Universidade Federal de Minas Gerais
Data: 21 a 25 de outubro de 2013

Resumo: O presente projeto problematiza as questões de gênero e


sexualidade dos homens trans dentro da saúde pública brasileira. De modo que
esses agentes provocam um deslocamento no binarismo de gênero e na matriz
heterossexual a partir de suas vivências e corporificações. Sendo que, é
através do processo transexualizador patologizante, vigente atualmente, que se
tenta enquadrá-los no modelo binário heterossexual, reduzindo essa

37
experiência a uma doença. Devido isso temos uma invisibilidade e acesso
limitado à saúde para essa população. Então, é a partir de um levantamento
dessas experiências trans que esse projeto pretende provocar maiores
problematizações e compreenções referentes à carência de visibilidade e
demandas de acesso às políticas públicas de saúde integral e específica. Essa
pesquisa se centraliza no mapeamento da população de homens trans do
Brasil, especialmente nas regiões da grande BH e da cidade de São Paulo.

Propõe-se, metodologicamente, duas fases para o projeto. A primeira parte


consiste de um mapeamento via internet da população, das principais
demandas e políticas públicas no campo da saúde e a construção e aplicação
do questionário. Na segunda parte, a partir dos questionários, alguns sujeitos
serão selecionados para a entrevista, a fim de aprofundar a discussão sobre as
demandas e elaboração de políticas públicas no campo da saúde.

Considerando que o projeto se encontra na fase de finalização da primeira


parte, nesse período realizamos os mapeamentos via internet da população, no
qual percebemos que esse espaço é uma grande ferramenta de comunicação
entre eles, além de ser um mecanismo de visibilidade. Com esse primeiro
mapeamento das políticas públicas vigentes, foi possível confirmar o quão forte
é o discurso patologizante do Mistério Público de Saúde, da pouquíssima
inclusão dos homens trans e de como a construção desse processo é
verticalizada, sem levar em consideração um diálogo com a população em
questão.

Autora: Sara Silveira Soalheiro


Título: Transexualidades e saúde no Brasil: a demanda por políticas
públicas, a invisibilidade e o passar por dos homens trans
Evento: XXIII Semana de Iniciação Científica
Local: Universidade Federal de Minas Gerais
Data: 13 a 14 de outubro de 2014

Resumo: A pesquisa problematiza a carência de visibilidade e as questões


relacionadas às demandas de acesso a saúde pública dos homens trans no

38
Brasil, com foco nas cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Campinas. Em
que a invisibilidade se torna recorrente para esses sujeitos, seja por meio da
sociedade e do poder público que ignoram essa possibilidade de identidade de
gênero, uma vez que não se destina políticas que atendam às necessidades
dos homens trans. Seja por eles mesmos que se utilizam da estratégia de
passar por, que consiste na ocultação de sua experiência como transexual, em
um contexto que se poderia ter dito sobre ela. A pesquisa visa levantar os
principais espaços virtuais de sociabilidade, dados regionais e sócio-
econômicos, caracterizar as expressões das transidentidades masculinas e
investigar violências sofridas. Além de investigar as formas que os homens
trans têm acesso à rede de saúde, problemas sofridos em função do não
acesso aos tratamentos e suas principais demandas.

Propõe-se duas fases para a pesquisa, a primeira consiste em um


mapeamento via as redes sociais da população e das principais demandas e
políticas públicas no campo da saúde, através de levantamento de dados e
observação participante, além da aplicação de um questionário online. Na
segunda fase, a partir dos questionários respondidos, alguns sujeitos serão
selecionados para a entrevista, a fim de aprofundar a discussão sobre a
invisibilidade e as demandas de políticas públicas no campo da saúde.

A pesquisa está em andamento, mas através do mapeamento, levantamento


de dados e observação participante, foi possível perceber que os homens trans
passam por grandes dificuldades. Uma vez que existe a invisibilidade e a falta
de iniciativas relacionadas ao campo da saúde, do direito, educação, trabalho,
assistência social, segurança, política e direitos humanos. Tal invisibilidade
pode se explicada por uma certa passabilidade como homens cis, ou ao
desconhecimento da possibilidade da identidade de gênero transexual por
parte do outro. Como consequência estão relacionados problemas quanto à
documentação, à transfobia, à não possibilidade de expressar a identidade de
gênero, ao uso do nome social e de sanitários. Fato que essa invisibilidade
muitas vezes dificulta a formulação e implementação de políticas públicas,
voltadas para esse segmento populacional, mesmo que haja demandas. Ao
mesmo tempo, a simples visibilidade desses sujeitos não garante seus direito.

39
Autora: Sara Silveira Soalheiro
Co-autora: Marina Luiza Nunes Diniz
Título: Transexualidades masculinas e Saúde Pública: a estratégia de
passar por, a invisibilidade e a demanda por políticas públicas.
Evento: VI Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade; II Seminário
Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade; do II Encontro Gênero e
Diversidade na escola
Local: Universidade Federal de Juiz de Fora
Data: 24 a 26 de setembro de 2014

Resumo: Este projeto tem como tema central a problematização de questões


relacionadas ao gênero e a sexualidade dos homens trans, além de focar nas
estratégias englobadas pelo ato de passar por, juntamente com as demandas
de acesso a saúde pública dessa população nas cidades de Belo Horizonte e
região metropolitana, São Paulo e Campinas. Sendo que tais sujeitos que
passam pela experiência transexual, questionam a matriz heterossexual assim
como o binarismo de gênero, interpelando-as a partir de um novo rearranjo de
suas vivências com o corpo. Propõe-se então, metodologicamente, duas fases
para o projeto, além de uma análise interdisciplinar entre os cursos de Ciências
Sociais e de Psicologia. A primeira parte consiste de um mapeamento via as
redes sociais da população, das principais demandas e políticas públicas no
campo da saúde, que já está em andamento e a aplicação de um questionário
online. Na segunda parte, a partir dos questionários, alguns sujeitos serão
selecionados para a entrevista, a fim de aprofundar a discussão sobre as
demandas e elaboração de políticas públicas no campo da saúde. Ao longo do
mapeamento dessa população, foi possível perceber que os homens trans
passam por grande invisibilidade, no sentido de que muitas vezes os próprios
se utilizam da estratégia de passar por, que consiste na ocultação de sua
experiência como transexual, em uma situação que se poderia ter dito sobre a
transexualidade. Essa invisibilidade pode em parte ser explicada por um nível
de passabilidade como homem cis ou homem biológico frente ao outro, ao
próprio desconhecimento da possibilidade dessa experiência por parte de
outros sujeitos, ao medo de sofrer transfobia. Fato que essa invisibilidade,
atrelada ao passar por, muitas vezes inviabiliza e oculta políticas públicas, em

40
destaque para área de saudade, voltadas para esse segmento populacional,
mesmo que hajam demandas, já que o ato de passar por pode refletir em uma
não pleito pela garantia de direitos.

Autora: Marina Luiza Nunes Diniz


Título: O Psicólogo e o Processo Transexualizador no Sistema Único de
Saúde: despatologização e transexualidades masculinas – um conceito
em aberto
Evento: XXIII Semana de Iniciação Científica
Local: Universidade Federal de Minas Gerais
Data: 13 a 14 de outubro de 2014

Resumo: O Ministério da Saúde, através da portaria 457/2008, prevê ao menos


um psicólogo como parte da equipe médica multidisciplinar necessária a
realização do Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde. Em
2013, o Conselho Federal de Psicologia considerou que a transexualidade não
constitui uma condição psicopatológica. Dado essas recentes delimitações
institucionais e teóricas da psicologia frente a realidade da experiência
transexual vivenciada pelos sujeitos, faz-se relevante a produção de
conhecimento a respeito das implicações desse processo.

A pesquisa “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade


e a demanda por políticas públicas para homens trans” tem como objetivo
levantar e sistematizar dados referentes à população de homens trans em
Minas Gerais. A fim de produzir material que sirva de base para a construção e
análise de políticas públicas na área de psicologia, saúde, assistência social,
direitos humanos e legislação.

Entre julho de 2013 e agosto de 2014 a equipe de pesquisa realizou reuniões


mensais abertas para as quais homens trans, e por vezes seus amigos e
familiares, foram convidados. Mantendo a prerrogativa dos presentes de fazer
intervenções livres, algumas reuniões tiveram eixos temáticos tais como
educação e trabalho. Concomitantemente foi elaborado um questionário que já

41
se encontra disponível online e em breve será aplicado a uma parcela da
população de homens trans de Minas Gerais.

Os resultados preliminares da pesquisa apontam para a insuficiência dos


dispositivos de saúde pública que realizam o Processo Transexualizador. O
número de acessos é significativamente inferior à demanda, o que evidencia a
disparidade entre a regulamentação/reconhecimento de um direito e o acesso
ao mesmo. Os resultados também apontam para a insuficiência e ineficácia
das considerações e orientações do Conselho Federal de Psicologia - que
versam sobre um atendimento psicológico humanizado não orientado por um
modelo patológico ou corretivo das vivências trans – sobre a realidade da
prática psicológica vivenciada por homens trans. A invisbilidade que
acompanha a demanda pelo acesso a saúde desse segmento da população e
o preconceito institucional se apresentam como desafios para os direitos
humanos dos homens trans no Brasil.

Evento: Encontro Nacional de Homens Trans

Local: Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP)

Data: 20 a 23 de fevereiro de 2015

Forma de participação: Pesquisa de campo; ouvintes; apresentação da


pesquisa “Transexualidades e saúde no Brasil: entre a invisibilidade e a
demanda por políticas públicas para homens trans”

Resumo da participação no evento:

Encontro Nacional de Homens Trans (ENATH) na cidade de São Paulo (SP)


que se deu entre os dias 20 e 23 de fevereiro de 2015, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT). Os integrantes que equipe
presentes realizaram pesquisa de campo através de observação participante
durante o evento. Na ocasião realizamos também uma apresentação da
pesquisa “Transexualidades e saúde no Brasil: entre a invisibilidade e a
demanda por políticas públicas para homens trans”, aborando seus objetivos,
metodologia, resultados até então alcançados e perspectivas para sua
conclusão.

42
. Relatório descritivo

Os dados que serão apresentados a seguir foram coletados por meio de


um questionário online, constituído de questões abertas e fechadas, e que
esteve disponível para ser respondido no período de 19 de janeiro a julho de
2015. Foram aplicados 28 questionários que cumpriram todos os critérios de
elegibilidade estabelecidos para este estudo. A amostra consiste em sujeitos
que residem, atualmente, nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, São
Paulo e Campinas.
Os dados coletados foram digitados em banco de dados no software
Statistical Package for Social Sciences® (SPSS®), que foi utilizado para a
elaboração da máscara e extração dos dados dos questionários, as análises
estatísticas e as informações foram organizadas na forma de tabelas e
gráficos.

Gráfico 01 – Percentual da identificação social dos respondentes

*Dados referentes a 27 participantes que responderam esta pergunta e geraram 36 respostas.


Era possível marcar mais de uma alternativa.

43
Com relação à identificação social dos respondentes, dos 27 participantes,
81,48% (22) responderam se identificar como homem transexual/homem
trans/FTM/transhomem; 25,93% (7) como transgênero; 11,11% (3) como não
binário; 7,41% (2) como gay; 3,70% (1) como travesti e 3,70% (1) como homem
cis/biológico. Para as opções mulher cis/biológica, lésbica, outros e não sei não
houve nenhuma resposta.

Gráfico 02 – Percentual em relação à idade

*Dados referentes a 25 participantes que responderam essa pergunta

Com relação à idade dos participantes na ocasião da pesquisa, dos 25


respondentes, 36% (9) tinham de 18 a 20 anos; 12% (3) tinham de 21 a 23
anos, 8% (2) tinham de 24 a 26 anos; 20% (5) tinham de 27 a 29 anos; 4% (1)
tinham de 30 a 32 anos; 8% (2) tinham de 33 a 35 anos e 12% (3) tinham de 36
a 37 anos.

44
Gráfico 03 – Percentual da identificação segundo cultura e
costumes

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Com relação à identificação segundo cultura e costumes dos respondentes,


dos 27 respondentes: 55,56% (15) responderam se identificar como branco;
25,93% (7) como afro-brasileiro/negro; 3,7% (1) como asiático/oriental; 7,41%
(2) como “outro” e 7,41% (2) assinalaram a opção “não sei”. Dos 7,41% (2) que
responderam outro, as duas respostas citadas foram “multiétnico” e “mulato”.

Gráfico 04 – Percentual da identificação de cor e raça segundo o


IBGE

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Com relação à identificação de cor e raça segundo o IBGE, dos 27


respondentes: 57,14% (16) responderam se identificar da cor branca; 21,43%

45
(6) como pardo; 14,29% (4) como preta; 3,57% (1) como amarela e 3,57% (1)
assinalaram a opção não sei.

Gráfico 05 – Percentual das relações afetivo/sexuais dos


respondentes

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta e geraram 29 respostas.


Era possível marcar mais de uma alternativa.

Em relação as suas relações afetivo/sexuais, dos 27 participantes: 42,86% (12)


declararam não ter parceiro(a); 25% (7) tem parceiro(a) fixo mas não vive junto;
17,86% (5) casado/vive com alguém; 14,29% (4) não tem parceiro(a) fixo(a);
3,57% (1) tem mais de um(a) parceiro(a) fixo(a) e nenhum dos respondentes
declarou não sei.

46
Gráfico 06 – Percentual do gênero das pessoas com quem os
respondentes mantinham relacionamento afetivo/sexual

*Dados referentes a 25 participantes que responderam essa pergunta e geraram 32 respostas.


Era possível marcar mais de uma alternativa.

Em relação à identidade de gênero das pessoas com quem mantinham


relacionamentos afetivo/sexual, dos 25 participantes: 88% (22) declaram
manter relacionamentos com mulheres cis/biológicas; 24% (6) com homens
cis/biológicos; 4% (1) com homem transexual/homem trans/FTM/transhomem;
4% (1) com mulheres transexuais/mulheres trans/MTF/transmulheres; 4% (1)
com outros e 4% (1) assinalaram a opção não sei. Não houve respostas para
as opções não binário, intersexo e travesti.

47
Gráfico 07 – Percentual dos respondentes que tem filhos(as)

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Do total de 28 respondentes, em relação a ter filhos: 96,43% (27) declararam


não ter filhos e 3,57% (1) declararam ter um(a) filho(a) gerado(a) pelo(a)
parceiro(a).
O mesmo sujeito que respondeu ter um(a) filho(a) gerado(a) pelo(a) parceiro(a)
declarou que o/a(s) filho/a(s) não moram com ele. Nenhum dos respondentes
declarou já ter engravidado no momento da entrevista.
Eles também foram questionados se teriam realizado algum aborto, porém não
se aplicou a nenhum, uma vez que nenhum deles havia engravidado.

48
Gráfico 08 – Percentual dos respondentes que gostaria de ter
filhos(as) ou mais filhos(as)

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta e geraram 37 respostas.


Era possível marcar mais de uma alternativa.

Em relação ao desejo de ter filhos(as) ou mais filhos(as), 46,43% (13) dos


respondentes declararam que sim, por meio de adoção; 42,86% (12) sim,
gerado pelo(a) parceiro(a); 28,57% (8) não gostariam de ter filhos(as) ou mais
filhos(as); 10,71% (3) declararam não saber e 3,6% (1) sim, por meio de
gestação.

49
Gráfico 09 – Percentual do grau de escolaridade

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Com relação ao grau de escolaridade, dos 28 participantes: 46,43% (13)


responderam ter ensino médio completo (1º ao 3º ano do segundo grau
completos); 25% (7) ensino superior completo; 21,43% (6) ensino superior
incompleto; 3,57% (1) supletivo ensino médio (2º grau) e 3,57% ensino
fundamental incompleto (1ª a 9ª série incompletos).

Gráfico 10 – Percentual dos respondentes que estavam estudando


no momento do questionário

50
*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Dos 28 respondentes, em relação a estar estudando: 53,57% (15) declararam


estar estudando no momento da entrevista e 46,43% (13) declararam não estar
estudando.

Gráfico 11 – Percentual do principal motivo pelo qual os


respondentes não estavam estudando no momento da entrevista

*Dados referentes a 13 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação ao principal motivo pelo qual os sujeitos não estavam estudando
no momento do questionário, dos 13 participantes: 46,15% (6) responderam
falta de recursos financeiros; 15,38% (2) começaram a trabalhar; 15,38% (2)
transfobia; 7,69% (1) violência psicológica; 7,69% (1) consideram que
terminaram os estudos e 7,69% (1) outros. Não houve respostas para a
categoria não sei.

51
Gráfico 12 – Percentual de com quem os respondentes moravam no
momento da entrevista

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação à com quem os participantes moravam, no momento do


questionário: 53,57% (15) responderam com os pais; 14,29% (4) com amigos;
14,29% (4) com companheiros(a/s); 7,14% (2) com outros parentes; 3,57% (1)
com companheiro(as) e filhos(as); 3,57% (1) sozinho e 3,57% (1) outro. Dos
3,57% (1) que responderam outro, a única categoria citada foi “mãe + irmã”.

Gráfico 13 – Percentual da idade até a qual os respondentes


moraram com pais ou parentes

*Dados referentes a 10 participantes que responderam essa pergunta.

52
Com relação à idade até a qual eles moraram com pais ou parentes, dos 10
respondentes: 20% (2) responderam antes dos 18 anos; 50% (5) entre 18 e 25
anos e 30% (3) entre 26 e 34 anos.

Gráfico 14 – Percentual do motivo pelo qual os participantes


deixaram de morar com pais ou parentes

*Dados referentes a 11 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação ao motivo pelo qual eles deixaram de morar com pais ou
parentes, dos 11 respondentes: 36,36% (4) responderam violência/preconceito
da família; 27,27% (3) outros; 18,18% (2) formação/estudos; 9,09% (1) morar
com o/a parceiro/a e 9,09% tratamento médico e/ou cirúrgico (início da
transição). Dos 27,27% (3) que responderam outros, as categorias citadas
foram “Ter privacidade”, “Minha família não me aceita assim” e “Falecimento do
pai”.

Gráfico 15 – Percentual dos participantes que não moram com pais


ou parentes e mantém contato com os pais

53
*Dados referentes a 11 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação aos 11 respondentes, que não moram com pais ou parentes:
81,82% (9) responderam manter contato com os pais; 9,09% (1) não mantém
contato com os pais e 9,09% (1) responderam “não, pais falecidos”.

54
Gráfico 16 – Percentual dos respondentes que tem algum tipo de
problema de relacionamento com os pais

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta e geraram 98 respostas.


Era possível marcar mais de uma alternativa.

Em relação aos 27 respondentes, que tem problemas de relacionamento com


os pais: 55,56% (15) responderam reprovação da sua
transexualidade/masculinidade; 48,15% (13) indiferença/não falam sobre sua
transexualidade/masculinidade; 40,74% (11) atribuições negativas a sua
pessoa e/ou corpo; 40,74% (11) não respeitam nome social e tratamento de
55
gênero no masculino; 33,33% (9) brigas e gritos; 29,63% (8) implicações,
deboches, acusações; 29,63% (8) xingamentos; 25,93% (7) proibição de usar
roupas masculinas; 18,52% (5) ameaças de agressão física; 11,11% (3)
ameaça de expulsão de casa; 11,11% (3) evita conviver com os pais e
parentes; 7,41% (2) expulsão de casa; 3,7% (1) agressão física; 3,7% (1)
ameaça de abuso sexual; 3,7% (1) responderam ter outro tipo de problema.
Para as categorias “você é proibido de sair de casa ou do quarto (isolamento
social)”, “assédio ou abuso sexual” e “não sei” não houve nenhuma resposta.
Para os 3,7% (1) que responderam ter outro tipo de problema, a única reposta
foi “Já conversamos a respeito da minha transição, mas acho que minha mãe
só vai me tratar no masculino quando eu estiver avançado nas mudanças
físicas.”.

Gráfico 17 – Percentual do grau de escolaridade dos pais dos


respondentes

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação ao grau de escolaridade dos pais, dos 28 respondentes: 35,71%


(10) dos participantes responderam ensino médio completo (1º ao 3º ano do
segundo grau completos); 21,43% (6) responderam ensino superior completo;
17,86% (5) ensino fundamental incompleto (1ª a 9ª série incompletos); 7,14%

56
(2) ensino médio incompleto (1º ao 3º ano do segundo grau incompletos);
7,14% (2) mestrado/especialização; 3,57% (1) não frequentaram a escola e
3,57% (1) assinalaram a opção “não sei”.

Gráfico 18 – Percentual do grau de escolaridade das mães dos


respondentes

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação ao grau de escolaridade das mães, dos 28 respondentes: 25% (7)
responderam ensino fundamental incompleto (1ª a 9ª série incompletos);
21,43% (6) ensino médio completo (1º ao 3º ano do segundo grau completos);
17,86% (5) mestrado/especialização; 14,29% (4) ensino médio incompleto (1º
ao 3º ano do segundo grau incompletos); 10,71% (3) ensino superior completo;
3,57% (1) supletivo ensino médio (2º grau); 3,57% (1) ensino superior
incompleto e 3,57% (1) ensino fundamental completo (1ª a 9ª série completos).

57
Gráfico 19 – Percentual das religiões ou igrejas atuais dos
respondentes

58
*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta e geraram 42 respostas.
Era possível marcar mais de uma resposta.

Com relação às religiões ou igrejas atuais, dos 27 participantes: 29,63% (8)


responderam espírita/kardecista; 18,52% (5) agnóstico (aquele que não
acredita na existência de deus (ou deuses), porém não nega essa
possibilidade); 18,52% (5) católica; 14,81% (4) umbanda; 14,81% (4) acreditam
em deus (ou deuses), mas não seguem nenhuma religião; 11,11% (3) batista;
11,11% (3) ateu, não acreditam em deus(es) e não tem religião; 11,11% (3)
candomblé; 11,11% (3) outras Afro-Brasileiras; 7,41% (2) budista; 3,70% (1)
Deus é Amor e 3,70% (1) outra. Para as opções islamismo, Metodista,
Presbiteriana, Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus, Evangelho
Quadrangular, Igreja Internacional da Graça, Renascer em Cristo, Sara Nossa
Terra, Testemunha de Jeová, Judaica e não sei, não houve resposta.

Gráfico 20 – Percentual da frequência com que os respondentes


comparecem ás cerimônias de sua religião

*Dados referentes a 19 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação à frequência com que comparecem as cerimônias de sua religião,


dos 19 participantes: 42,11% (8) dos responderam nunca; 21,05% (4)
raramente; 21,05% (4) uma vez por semana; 10,53% (2) uma vez por mês e
5,26% (1) assinalaram a opção “não sei”.

59
Gráfico 21 – Percentual da religião na qual os participantes foram
criados

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta e geraram 36 respostas.


Era possível marcar mais de uma alternativa.

60
Com relação à religião na qual foram criados, dos 28 respondentes: 71,43%
(20) dos responderam católica; 10,71% (3) na opção outra; 7,14% (2)
acreditam em deus (ou deuses), mas não seguem nenhuma religião; 7,14% (2)
espírita/kardecista; 7,14% (2) outras afro-brasileiras; 3,57% (1) Igreja
Internacional da Graça; 3,57% (1) candomblé; 3,57% (1) umbanda; 3,57% (1)
Batista; 3,57% (1) Universal do Reino de Deus; 3,57% (1) Assembleia de Deus
e 3,57% (1) assinalaram a opção “não sei”. Para as opções Metodista;
Presbiteriana; Deus é Amor; Evangelho Quadrangular; Renascer em Cristo;
Sara Nossa Terra; Testemunha de Jeová; Budista; Judaica; Islamismo;
“Agnóstico (aquele que não acredita na existência de deus (ou deuses) porém
não nega essa possibilidade)” e “Ateu, não acredita em deus(es) e não tem
religião” não houveram respostas.

Gráfico 22 – Percentual da cidade onde nasceram os respondentes

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação à cidade em que nasceram, dos 27 respondentes: 37,04% (10)


responderam Belo Horizonte; 22,22% (6) São Paulo; 3,70% (1) Bertioga; 3,70%
(1) Campina Grande; 3,70% (1) Contagem; 3,70% (1) Curitiba; 3,70% (1) Entre
Rios de Minas; 3,70% (1) João Pessoa; 3,70% (1) Leopoldina; 3,70% (1)

61
Limeira; 3,70% (1) Salvador; 3,70% (1) Santo André e 3,70% (1) São Caetano
do Sul.

Gráfico 23 – Percentual do estado onde nasceram os respondentes

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta.

Com relação ao estado onde nasceram, dos 27 respondentes: 48,15% (13)


responderam Minas Gerais; 37,04% (10) São Paulo; 7,41% (2) Paraíba; 3,70%
(1) Paraná e 3,70% (1) Bahia.

Gráfico 24 – Percentual das cidades onde nasceram os


entrevistados

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Com relação a cidade em que nasceram, 37,04% (10) dos entrevistados


responderam Belo Horizonte; 22,22% (6) São Paulo; 3,70% (1) Bertioga; 3,70%
(1) Campina Grande; 3,70% (1) Contagem; 3,70% (1) Curitiba; 3,70% (1) Entre
Rios de Minas; 3,70% (1) João Pessoa; 3,70% (1) Leopoldina; 3,70% (1)
Limeira; 3,70% (1) Salvador; 3,70% (1) Santo André e 3,70% (1) São Caetano
do Sul.

62
Gráfico 25 – Percentual do estado onde nasceram os entrevistados

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Com relação ao estado onde nasceram, 48,15% (13) dos entrevistados


responderam Minas Gerais; 37,04% (10) São Paulo; 7,41% (2) Paraíba; 3,70%
(1) Paraná e 3,70% (1) Bahia.

Gráfico 26 – Percentual da cidade onde os entrevistados residem


atualmente

*Dados referentes a 28 participantes que responderam a pergunta

Dentre os 28 respondentes, 51,9%(14) residem atualmente na cidade de Belo


Horizonte (MG), outros 22,2%(6) residem na cidade de São Paulo (SP),
7,4%(2) na cidade de Campinas (SP). Em cada uma das cidades de Contagem
(MG), Guarulhos (SP), Jundiaí (SP), Limeira (SP) e Santo André (SP), vivem
3,7%(1) dos respondentes participantes.

63
Gráfico 27 – Percentual do estado onde os entrevistados residem
atualmente

* Dados referentes a um total de 27 participantes que responderam esta pergunta


Com relação ao estado onde vivem atualmente, 56% (15) dos participantes
respondentes vivem em Minas Gerais e outros 44% (12) no estado de São
Paulo.

Gráfico 28 – Percentual de motivos que levaram os entrevistados a


mudarem da cidade natal.

* Dados referentes a um total de 23 participantes que responderam esta questão

Com relação aos motivos que levaram os participantes a se mudarem da


cidade natal, 21,7%(5) afirmam que o fizeram em função de formação e
estudos, 4,3%(1) em função da violência social, 4,3%(1) para realizarem
tratamento médico e cirúrgico parte da transição, e outros 4,3%(1) dizem não
saber o motivo. Outros 17,4%(4) apontaram motivos diferentes daqueles

64
apresentados pelas opções do questionário, que serão descritos a seguir.
47,8%(11) dos participantes não se mudaram de sua cidade natal.

Gráfico 29 – Percentual de outros motivos que levaram os


entrevistados a mudarem de cidade

* Dados referentes a um total de 4 participantes que responderam esta pergunta

Entre aqueles que responderam a opção ¨outros¨, 25% (1) se mudaram de sua
cidade natal em função da mudança da mãe e outros 25% (1) em função da
mudança de cidade realizada pelo pai. Outros 25% (1) afirmam terem se
mudado em função do stress, e outros 25% (1) afirmam terem se mudado
motivados pelo falecimento do pai.

Gráfico 30 – Percentual da atual situação de moradia dos


entrevistados

* Dados referentes a 27 participantes que responderam esta pergunta

65
Com relação a situação de moradia, dentre os 27 respondentes 55,6% (15)
afirmam morar em casa ou apartamento de pais ou parentes, 18,5% (5) em
imóvel próprio, 14,8% (4) em hotel ou motel, 7,4% (2) em imóvel dividido com
ou pertencente a amigos e outros 3,7%(1) dizem morar em pensão ou casa de
diária.

Gráfico 31 – Percentual de fonte de renda dos entrevistados

* Dados referentes a 27 participantes que responderam esta pergunta

Com relação a fonte de renda mensal, 51,9% (14) dos 27 respondentes


afirmam que sua principal fonte de renda se dá através de emprego ou trabalho
autônomo e da ajuda da família, de parceira(o) ou de outras pessoas. 29,6%
(8) afirmam que a principal fonte de renda se dá através de emprego ou
trabalho autônomo através do qual se sustentam totalmente. Outros 29,6% (8)
obtém renda através da ajuda da família ou de parceira(o) ou outras pessoas.
3,7% (1) obtém renda através de bolsa ou auxílio de programas sociais e
outros 3,7% (1) preferiram não responder a questão.

66
Gráfico 32 – Porcentagem de ocupação/atividade laboral dos
entrevistados

* Dados referentes a 26 participantes que responderam esta pergunta

Dentre os 26 respondentes, 56%(14) afirmaram estar trabalhando. 28%(7)


dizem não estar trabalhando atualmente mas afirmam estar a procura de
trabalho. Outros 16%(4) dizem não estar trabalhando e tampouco procurando
trabalho atualmente. E 4%(1) dizem não saber sobre sua situação laboral atual.

Gráfico 33 – Porcentagem da situação trabalhista dos entrevistados


em sua ocupação

* Dados referentes a 22 participantes que responderam esta pergunta

Ainda com relação a situação trabalhista, dentre os 22 respondentes desta


questão, 50%(11) afirmam ter a carteira de trabalho assinada, 23%(5) afirmam
trabalhar realizando ¨bicos¨, 18%(4) afirmaram estar atuando com contrato de

67
trabalho. 5%(1) trabalham como autônomos e outros 5%(1) dizem não saber
sobre sua situação trabalhista na principal ocupação.

Gráfico 34 – Porcentagem da renda mensal dos entrevistados na


principal ocupação

* Dados referentes a 26 participantes que responderam esta pergunta

Com relação a renda mensal dos entrevistados em sua ocupação principal,


entre os 26 respondentes 23,1%(6) afirmam não possuir nenhuma renda,
19,2%(5) afirmam receber até um salário mínimo, 42,3%(11) afirmam receber
de um a três salários mínimos, 11,5%(3) têm renda de três a seis salários
mínimos e 3,8%(1) informaram não saber.

Gráfico 35 – Porcentagem de entrevistados que possuem


convênio/plano de saúde

* Dados referentes a um total de 28 participantes que responderam esta pergunta

68
Dentre os 28 respondentes, 57%(16) afirmam possuir convênio ou plano de
saúde, outros 43%(12) dizem não possuir.

Gráfico 36 – Porcentagem de entrevistados que precisaram de


atendimento mas não procuraram serviço de saúde

* Dados referentes a um total de 27 participantes que responderam esta pergunta

Dentre os 27 respondentes desta questão, 85%(23) afirmam não terem


procurado o serviço de saúde mesmo ao sentir necessidade de algum
atendimento médio. 15%(4) dizem que não deixaram de procurar o serviço de
saúde quando acreditaram ser necessário.

69
Gráfico 37 – Porcentagem de motivos pelos quais os entrevistados
não procuraram atendimento

* Dados referentes a um total de 26 participantes

Com relação aos motivos – nesta questão os respondentes poderiam eleger


mais de uma opção de resposta - que os levaram a não procurar o serviço de
saúde ao sentir necessidade de algum tipo de atendimento médico, entre os 28
respondentes 50%(13) afirmaram não ter procurado atendimento por medo de
sofrer preconceito, discriminação ou outro tipo de violência por serem trans.
42,31%(11) em função da demora de agendamento para consultas e exames,
30,77%(8) por não terem dinheiro, 30,77% em função do desrespeito ao nome
social por parte dos servidores da saúde, 30,77%(8) afirmam ter recorrido a
automedicação. 23,08%(8) afirmam não ter procurado atendimento por já terem
70
sofrido preconceito, discriminação ou outro tipo de violência por ser trans,
3,85%(1) em função da distância ou outra dificuldade de acesso ao local de
atendimento, 3,85%(1) por incompatibilidade de horário, outros 3,85%(1) dizem
não saber e 10,71%(3) preferiram não responder a essa questão.

Gráfico 38 – Percentual relativo ao uso de álcool pelos


entrevistados

* Dados referentes a 28 participantes que responderam esta pergunta

Dos 28 respondentes, 50%(14) afirmam usar álcool atualmente, 46%(13) dizem


já terem feito uso de álcool mas não o faz atualmente, 4%(1) afirmam nunca
terem usado álcool.

Gráfico 39 - Percentual relativo ao uso de cigarro pelos


entrevistados

* Dados referentes a 28 participantes que responderam esta pergunta

71
Com relação ao uso de cigarro, dentre os 28 respondentes 39%(11) dizem já
terem feito uso de mas não fumam atualmente, 29%(8) afirmaram fazer uso de
cigarro, 21%(6) afirmam nunca ter consumido cigarros, 7%(2) preferiram não
responder a essa questão e 4%(1) escolheram a opção nenhuma das
alternativas com relação ao uso do cigarro.

Gráfico 40 - Percentual relativo ao uso de maconha pelos


entrevistados

* Dados referentes a 26 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de maconha, dentre os 26 respondentes 38%(10) afirmam


já terem feito uso de mas não consomem maconha atualmente, 38%(10)
afirmam nunca ter consumido maconha, 23%(6) afirmaram fazer uso de
maconha atualmente.

Gráfico 41 – Percentual relativo ao uso de lança perfume/loló pelos


entrevistados

72
* Dados referentes a 26 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de lança perfume, loló, clorofórmio ou cola de sapateiro,


dentre os 28 respondentes 71,4%(20) afirmam nunca tê-las consumido.
17,9%(5) afirmam já terem feito uso mas não as consomem atualmente e
3,6%(1) afirmaram fazer uso atualmente.

Gráfico 42 - Percentual relativo ao uso de cocaína pelos


entrevistados

* Dados referentes a 26 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de cocaína, dentre os 26 respondentes 62%(16) afirmam


nunca tê-la consumido. 35%(9) afirmam já terem feito uso mas não as
consomem atualmente, 4%(1) afirmaram fazer uso atualmente.

Gráfico 43 - Percentual relativo ao uso de crack pelos entrevistados

* Dados referentes a um total de 25 participantes que responderam esta pergunta

73
Com relação ao uso de crack, dentre os 25 respondentes, 92%(23) afirmam
nunca ter consumido essa substância. 8%(2) afirmam já terem feito uso mas
não consomem atualmente.

Gráfico 44 - Percentual relativo ao uso de drogas pelos


entrevistados – Xarope

* Dados referentes a 26 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de xarope, dentre os 26 respondentes 88%(23) afirmam


nunca ter consumido essa substância. 8%(2) afirmam já terem feito uso mas
não consomem atualmente 4%(1) usam atualmente.

Gráfico 45 - Percentual relativo ao uso de anfetamina/metanfetamina


pelos entrevistados

*Dados referentes a um total de 25 participantes que responderam esta pergunta

74
Com relação ao uso de anfetamina e metanfetamina, dentre os 25
respondentes 96%(24) afirmam nunca ter consumido essas substâncias. 4%(1)
afirmam consumi-las atualmente.

Gráfico 46 – Percentual relativo ao uso de heroína/morfina drogas


pelos entrevistados

*Dados referentes a um total de 23 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de heroína e morfina, dentre os 23 respondentes 91%(21)


afirmam nunca ter consumido essas substâncias. 9%(2) afirmam já terem feito
uso mas não consomem atualmente.

Gráfico 47 – Percentual relativo ao uso de Ecstasy, MDMA pelos


entrevistados

*Dados referentes a um total de 21 participantes que responderam esta pergunta

75
Com relação ao uso de ecstasy e MDMA, dentre os 21 respondentes 81%(17)
afirmam nunca ter consumido essas substâncias. 19%(4) afirmam já terem feito
uso mas não consomem atualmente.

Gráfico 48 - Percentual relativo ao uso de LSD pelos entrevistados

* Dados referentes a um total de 21 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de LSD, dentre os 21 respondentes 71%(15) afirmam


nunca ter consumido essa substância. 24%(5) afirmam já terem feito uso mas
não consomem atualmente, 5%(1) dizem usar atualmente.

Gráfico 49 - Percentual relativo ao uso de Ketamina (special K), GHB


pelos entrevistados

*Dados referentes a um total de 21 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de Ketamina, GHB, dentre os 21 respondentes 95%(20)


afirmam nunca ter consumido essa substância. 5%(1) afirmam já terem feito
uso mas não consomem atualmente.

76
Gráfico 50 - Percentual relativo ao uso de drogas pelos
entrevistados – Cogumelo

* Dados referentes a um total de 21 participantes que responderam esta pergunta

Com relação ao uso de cogumelo, dentre os 21 respondentes 95%(20) afirmam


nunca ter consumido essa substância. 5%(1) afirmam já terem feito uso mas
não consomem atualmente.

51 – Percentual relativo ao uso de remédio psiquiátrico pelos


entrevistados

Com relação ao uso de remédios psiquiátricos, dentre os 28 respondentes,


100%(28) deles afirmam nunca ter consumido essa substância.

52 – Percentual relativo ao uso de outras drogas pelos


entrevistados *

Dentre os 28 respondentes, 100%(28) deles afirmam nunca ter consumido


outras drogas além das listadas no questionário.

77
Gráfico 53 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
depressão

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Dos 28 respondentes: 3,55% (1) dos entrevistados não sabem se já tiveram


depressão; 17,9% (5) afirmaram já ter tido e não ter mais; 3,55% (1) tem e
nunca fez acompanhamento; 17,9% (5) tem, já fizeram acompanhamento mas
não fazem mais; 32,1% (9) tem e fazem acompanhamento e 25% (7) afirmam
não sofrerem de depressão.

54 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram outras


doenças psiquiátricas

Dos 28 respondentes: 100% (28) afirmaram não sofrerem de outras doenças


psiquiátricas.

78
Gráfico 55 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
tuberculose

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Dos 27 respondentes: 3,7% (1) dos afirmaram não saber se tem tuberculose;
3,7% (1) afirmaram ter e fazem acompanhamento médico e 92,6% afirmaram
nunca ter tido a doença.

Gráfico 56 - Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram


câncer

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Dos 27 respondentes: 3,7% (1) afirmaram não saber se sofrem de câncer;


7,4% (2) afirmaram ter e fazem acompanhamento médico e 88,9% (24)
afirmaram não ter câncer.

79
Gráfico 57 - Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram

diabetes
*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Dos 27 respondentes: 3,7% (1) afirmaram não saber se sofrem de diabetes;


7,4% (2) afirmaram ter e fazem acompanhamento médico e 88,9% (24)
afirmaram não ter diabetes.

Gráfico 58 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram


hipertensão

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Dos 27 respondentes: 3,7% (1) afirmaram não saber se sofrem de hipertensão;


14,8% (4) afirmaram ter e fazem acompanhamento médico e 81,5% (22)
afirmaram não ter hipertensão.

80
Gráfico 59 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
colesterol alto (gordura no sangue)

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Dos 27 respondentes: 3,7% (1) afirmaram não saber se tem colesterol alto;
3,7% (1) afirmaram já ter tido, mas não tem mais; 3,7% (1) têm e nunca fizeram
acompanhamento médico; 3,7% (1) tem, já fez acompanhamento médico, mas
não faz mais; 14,8% (4) tem e faz acompanhamento e 70,4% (19) afirmaram
não ter colesterol alto.

Gráfico 60 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram


HIV/Aids

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

81
Dos 27 respondentes: 7,4% (2) participantes afirmaram não saber se tem
HIV/Aids; 3,7% (1) afirmaram ter e fazem acompanhamento e 88,9% afirmaram
não ter a doença.

Gráfico 61 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram


gonorreia

*Dados referentes a 25 participantes que responderam essa pergunta

Dos 25 respondentes: 4% (1) afirmaram ter gonorreia e fazem


acompanhamento e 96% (24) afirmaram não ter a doença.

62 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram sífilis

Dos 23 respondentes: 100% (23) dos entrevistados afirmaram não ter sífilis.

Gráfico 63 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram


doenças hepáticas (fígado)

82
*Dados referentes a 24 participantes que responderam essa pergunta

Dos 24 respondentes: 4,2% (1) dos participantes afirmaram não saber se


sofrem de doenças hepáticas; 4,2% (1) afirmaram já ter tido, mas não têm
mais; 4,2% (1) afirmaram ter e fazem acompanhamento médico e 87,4% (21)
afirmaram não sofrerem de doenças hepáticas.

Gráfico 64 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram


problemas nos rins

*Dados referentes a 24 participantes que responderam essa pergunta

Dos 24 respondentes: 4,2% (1) afirmaram não saber se sofrem de problemas


nos rins; 4,2% (1) já tiveram, mas não tem mais; 4,2% (1) têm, já fizeram
acompanhamento, mas não fazem mais e 87,4% (21) afirmaram não sofrer de
problemas nos rins.

83
Gráfico 65 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram
problemas cardíacos

*Dados referentes a 23 participantes que responderam essa pergunta

Dos 23 respondentes: 8,7% (2) dos respondentes não sabem se sofrem de


problemas cardíacos; 4,3% (1) têm, já fizeram acompanhamento, mas não
fazem mais; 4,3% (1) têm e fazem acompanhamento e 82,6% (19) afirmaram
não sofrer de problemas cardíacos.

Gráfico 66 – Percentual dos respondentes que tem ou já tiveram


dependência ou problemas com alguma outra droga

*Dados referentes a 22 participantes que responderam essa pergunta

Dos 22 respondentes: 4,5% (1) afirmaram não saber se tem dependência ou


problemas com drogas; 18,3% (4) já tiveram, mas não têm mais; 4,5% (1) têm
problemas e nunca fizeram acompanhamento; 4,5% (1) têm problemas, já

84
fizeram acompanhamento, mas não fazem mais e 68,2% (15) afirmaram não
ter dependência ou problemas com alguma outra droga.

67 – Percentual dos respondentes que afirmaram ter outros tipos de


doença.

Dos 28 respondentes: 100% (28) dos entrevistados afirmaram não ter ou terem
tido outros tipos de doença.

Gráfico 68 – Percentual dos respondentes que no último ano, deixou


de usar algum dos itens na relação sexual

*Dados referentes a 23 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes


podiam marcar mais de uma opção.

Dos 23 respondentes, no último ano: 43,48% (10) deixaram de usar o


preservativo masculino em alguma relação; 65,22% (15) deixaram de usar o
preservativo feminino; 60,87% (14) deixaram de usar barreira de proteção;

85
56,52% (13) deixaram de usar luvas de látex; 30,43% (7) deixaram de usar
lubrificante; 13,04% (3) dos entrevistados afirmaram não terem feito sexo no
período e 4,35% (1) afirmaram não saber.

Gráfico 69 – Percentual dos respondentes que nos últimos doze


meses, fizeram exame de HIV ou outras DST's

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Dos 27 respondentes: 81,5% (22) afirmaram não ter realizado exame de HIV
ou outras DST’s e 18,5% (5) afirmaram ter feito o exame nos últimos doze
meses.

Gráfico 70 – Percentual do local onde os exames de HIV ou outras


DST's foram feitos

*Dados referentes a 5 participantes que responderam essa pergunta

86
Dos 5 respondentes que fizeram o exame: 60% (3) afirmaram ter feito o exame
no serviço público de saúde; 20% (1) no serviço particular e 20% (1) afirmou
não saber.

Gráfico 71 – Percentual do motivo pelo qual os respondentes não


fizeram os exames de HIV ou outras DST's

*Dados referentes a 24 participantes que responderam essa pergunta

Dos 24 respondentes: 62,5% (15) dos entrevistados afirmaram não ter


realizado o exame de HIV/DST’s por não julgarem necessário; 4,17% (1)
porque não tiveram acesso ao serviço público de saúde; nenhum dos
participantes deixou de fazer o exame por não ter dinheiro para o serviço
particular; 37,5% (9) não quiseram se submeter a um exame ginecológico e
8,33% (2) marcaram a opção “não sei”. 12,5% (3) afirmaram outros motivos
para não terem feito o exame, dentre as especificações: 8,33% (2) não fizeram
por terem parceira fixa e 4,17% (1) por não terem mantido relações sexuais no
período.

87
Gráfico 72 – Percentual dos respondentes em relação ao
atendimento ginecológico

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Sobre sua experiência em relação ao atendimento ginecológico, dos 28


respondentes: 35,6% (10) dos afirmaram não precisar de atendimento e por
isso não procuraram um ginecologista; 3,6% (1) já precisaram de atendimento,
mas não procuraram atendimento; 3,6% (1) já procuraram o ginecologista, mas
não fizeram os exames por se sentirem constrangidos; 3,6% (1) já se
consultaram, mas não fizeram os exames porque o médico não solicitou ou
porque não quiseram; 10,7% (3) não procuraram o ginecologista; 28,6% (8)
não vão ao ginecologista para fazer exames de rotina por se sentirem
constrangidos; 10,7% (3) nunca fizeram o Papanicolau/preventivo e 3,6% (1)
marcaram a opção “outro”, mas não houve especificações.

88
Gráfico 73 – Percentual dos respondentes em relação ao suicídio

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Dos 28 respondentes: 10,7% (3) afirmaram nunca ter pensado em suicídio;


25% (7) já pensaram, mas não pensam mais; 28,6% (8) afirmaram pensar
ocasionalmente em suicídio; 7,1% (2) pensaram e ainda pensam; 25% (7)
afirmaram já ter tentado suicídio e 3,6% (1) preferiram não responder.

89
Gráfico 74 – Percentual das idades que os respondentes
começaram a ter consciência de que desejariam viver e se
identificar socialmente no gênero masculino

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Sobre com a idade em que os respondentes começaram a ter consciência de


que desejariam viver e se identificar socialmente no gênero masculino: 3,6%
(1) afirmaram ter consciência aos 2 anos; 3,6% (1) aos 3 anos; 3,6% (1) aos 4
anos; 21,4% (6) aos 5 anos; 7,1% (2) aos 6 anos; 3,6% (1) aos 7 anos; 3,6%
(1) aos 11 anos; 3,6% (1) aos 12 anos; 3,6% (1) aos 13 anos; 3,6% (1) aos 14
anos; 3,6% (1) aos 16 anos, 7,1% (2) aos 17 anos; 7,1% (2) aos 19 anos; 7,1%
(2) aos 24 anos; 7,1% (2) aos 25 anos; 7,1% (2) aos 66 anos e 3,6% (1) aos 77
anos.

90
Gráfico 75 – Percentual dos respondentes que se apresentam (ou
não) no gênero masculino

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta

Dos 28 respondentes: 67,9% (19) apresentam-se no gênero masculino e 32,1%


(9) não se apresentam no gênero masculino.

Gráfico 76 – Percentual das idades em que os entrevistados


passaram a se apresentar no gênero masculino

91
Dos 21 respondentes: 28,5% (6) começaram a se apresentar no gênero
masculino entre os 7 e 17 anos; 62% (13) entre os 18 e 28 anos e 9,5% (2)
acima dos 28 anos sendo que um dos entrevistados tinha 32 e o outro 66
quando começaram a se apresentar no gênero masculino.

Gráfico 77 – Percentual de respondentes que fizeram (ou não)


transformações corporais

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

Dos 27 respondentes: 44,4% (12) responderam já terem feito transformações


corporais e 55,6% (15) afirmaram não terem realizado transformações
corporais.

Gráfico 78 – Percentual das idades com que os entrevistados


iniciaram suas transformações corporais

92
*Dados referentes a 12 participantes que responderam essa pergunta

Dos 12 respondentes: 8,3% (1) afirmaram terem iniciado suas transformações


corporais aos 11 anos, 25% (3) dos 18 aos 23 anos, 58,4% (7) dos 24 aos 29
anos e 8,3% (1) aos 32 anos de idade.

Gráfico 79 – Percentual de técnicas utilizadas pelos respondentes


para modificar o corpo

93
*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes
podiam marcar mais de uma opção.

Dos 28 respondentes: 28,6% (8) afirmaram utilizar hormônios; 7,1% (2) já


fizeram cirurgia sendo que um realizou mastectomia e outro mamoplastia
masculinizadora; 46,4% (13) praticam musculação ou outro esporte; 17,9% (5)
fazem uso de bombas clitorianas; 46,4% (13) utilizam roupas sobrepostas;
28,6% (8) usam packers (próteses penianas); 14,3% (4) usam meia enrolada

94
ou outra improvisação; 10,7% (3) usam faixas compressoras abdominais;
53,6% (15) usam top/camiseta apertada; 46, 4% (13) utilizam colete
compressor/binder; 10,7% (3) usam esparadrapo poroso e 21,4% (6) fazem
uso de faixas de ataduras.

Gráfico 80 – Percentual de danos causados pelas técnicas de


modificação corporal, exceto hormônios e cirurgias, utilizadas pelos
respondentes.

*Dados referentes a 25 respondentes – poderiam eleger mais de uma opção - que respondem
a essa questão gerando 39 respostas.

Dentre os participantes que responderam a pergunta, 48% (12) declararam a


ocorrência de escoriações e/ou feridas na pele; 40% (10) declararam
problemas na postura (coluna); 24% (6) declararam não ter identificado
nenhum dano; 16% (4) declararam problemas respiratórios; 16% (4); 8% (2)
declararam infecções na região genital; 4% (1) declararam não saber.

95
Gráfico 81 – Percentual sobre o uso de hormônios no presente ou
no passado como parte da transformação corporal

*Dados referentes a 27 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam a pergunta, 51,85% (14) declararam fazer


ou ter feito uso de hormônios como parte de sua transformação corporal;
48,15% (13) declararam não fazer ou não ter feito uso de hormônios como
parte de sua transformação corporal.

Gráfico 82 – Percentual do motivo pelo qual os respondentes não


fizeram uso de hormônios como parte de sua transformação
corporal, caso desejassem

*Dados referentes a 23 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam a pergunta, 17,39% (4) declararam não ter
feito uso de hormônios como parte de sua transformação corporal por ter
atendimento negado pelo SUS; 13,04% (3) declararam ter atendimento negado
pelo plano de saúde/medico(a) particular.
96
Gráfico 83 – Percentual do tempo de uso de hormônios pelos
respondentes

*Dados referentes a 13 respondentes que responderam esta questão.

Dos participantes que responderam esta questão, 15% (2) declararam fazer
uso de hormônios há 15 meses; 15% (2) declararam fazer uso de hormônios há
12 meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de hormônios há 36 meses; 7,69%
(1) declararam fazer uso de hormônios há 24 meses; 7,69% (1) declararam
fazer uso de hormônios há 19 meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de
hormônios há 10 meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de hormônios há 9
meses; 7,69% (1) declararam fazer uso de hormônios há 7 meses; 7,69% (1)
declararam fazer uso de hormônios há 5 meses; 7,69% (1) declararam fazer
uso de hormônios há 2 semanas; 7,69% (1) declararam não saber.

97
Gráfico 84 – Percentual dos efeitos colaterais negativos decorrentes
do tratamento hormonal percebidos pelos respondentes

*Dados referentes a 14 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta questão, 57,14% (8) declararam ter
percebido efeitos colaterais negativos decorrentes do tratamento hormonal;
35%71 (5) declaram não ter percebido efeitos colaterais negativos decorrentes
do tratamento hormonal; 7,14% (1) declararam não saber.

98
Gráfico 85 – Percentual dos efeitos colaterais negativos específicos
percebidos pelos respondentes

*Dados referentes a 8 respondentes que responderam a essa questão.

Dos participantes que responderam esta questão, 12,50% (1) declararam ter
experienciado “crises de ansiedade, péssimas, achava que ia morrer. Pânico
mesmo, coração disparava e etc.”; 12,50% (1) declararam ter experienciado
“redução da tolerância à dor, acne, eventual irritabilidade”; 12,50% (1)
declararam ter experienciado “ganho de peso”; 12,50% (1) declararam ter
experienciado “espinhas, suor excessivo, pele do rosto oleosa”; 12,50% (1)
declararam ter experienciado “espinhas, mudança de humor, ganho excessivo
de peso”; 12,50% (1) declararam ter experienciado “dor nas articulações”;
12,50% (1) declararam ter experienciado “dor de cabeça”; 12,50% (1)
declararam ter experienciado “agressividade/estresse”.

99
Gráfico 86 – Percentual do acompanhamento médico recebido ou
não pelos respondentes para o uso de hormônios

*Dados referentes a 28 respondentes dessa questão gerando 24 respostas.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 33,33% (6) declararam ter
recebido algum tipo de acompanhamento médico para o uso de hormônios por
meio de serviço particular; 22,22% (4) declararam ter recebido algum tipo de
acompanhamento médico para o uso de hormônios por meio do SUS; 22,22%
(4) declararam nunca ter procurado atendimento médico para o uso de
hormônios por precisar de laudo e ser demorado; 16,66% (3) declararam não
ter tido nenhum tipo de acompanhamento médico para o uso de hormônios e
ter acompanhamento negado pelo SUS; 11,11% (2) declararam não ter tido
nenhum tipo de acompanhamento médico para o uso de hormônios e ter

100
desistido do atendimento médico por precisar de laudo e ser demorado;
11,11% (2) declararam não ter procurado atendimento médico para o uso de
hormônios por receio de ter pedido negado e sofrer preconceito; 11,11% (2)
declararam não ter tido nenhum tipo de acompanhamento médico para o uso
de hormônios e ter tido acesso mais rápido em outros meios (academias,
internet, etc.); 5,56% (1) declararam não ter tido nenhum tipo de
acompanhamento médico para o uso de hormônios e ter acompanhamento
negado por plano de saúde / médico (a) particular.

Gráfico 87 – Percentual dos meios de acesso a hormônios

*Dados referentes a 14 respondentes que responderam a essa questão.

Dos participantes que respondera esta pergunta, 50% (7) declararam ter obtido
acesso a hormônios por meio da farmácia, com receita liberada por médico(a);
21,20% (3) declararam ter conseguido acesso por meio de farmácia, com
receita falsificada; 7,20% (1) declararam ter conseguido por meio da(s)
academia(s) de ginástica/musculação; 7,20% (1) declararam ter conseguido
por meio da internet; 7,20% (1) declararam ter conseguido através de outras

101
formas, assinalando ser essa outra forma “um amigo trans”; 7,20% (1)
declararam não saber.

Gráfico 88 – Percentual dos meios de aplicação de testosterona

*Dados referentes a 12 respondentes que responderam essa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 50,00% (6) declararam se


auto aplicar testosterona e nunca terem tido problemas com isso; 25% (3)
declararam receber a aplicação na farmácia; 16,67% (2) declararam receber
aplicação no posto de saúde ou no processo transexualizador no SUS; 8,33%
(1) declararam se auto aplicar testosterona, mas já ter tido problemas
decorrentes disso (hemorragia, insensibilidade no braço ou perna, muita dor,
muito inchaço, etc.).

102
Gráfico 89 – Percentual dos meios pelos quais os respondentes
tiveram conhecimento sobre o uso de hormônios

*Dados referentes a 13 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 69,23% (9) declararam ter
tido conhecimento sobre o uso de hormônios através da internet; 15,38% (2)
declararam ter tido conhecimento sobre o uso de hormônios através de
colegas; 7,69% (1) declararam ter tido conhecimento sobre o uso de hormônios
através do serviço de saúde particular; 7,69% (1) declararam ter tido
conhecimento sobre o uso de hormônios através do serviço de saúde pública.

103
Gráfico 90 - Percentual do uso de substâncias como parte da
transformação corporal

*Dados referentes a 28 respondentes que responderam a essa questão gerando 32 respostas.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 50,00% (14) declararam


não fazer ou nunca ter feito uso de nenhuma substância; 46,43% (13)
declararam ter feito uso de testosterona; 10,71% (3) declararam ter feito uso
de suplementos e vitaminas; 3,57% (1) declararam ter feito uso de
bloqueadores de hormônios femininos: “Citrato de Tamoxifeno”; 3,57% (1)
declararam ter feito uso de outras substâncias.

104
Gráfico 91 – Percentual do uso de suplementos e vitaminas como
parte das transformações corporais

*Dados referentes a 3 respondentes dessa questão.

Dentre os respondentes que declararam fazer uso de suplementos e vitaminas


como parte de suas transformações corporais, 33,33% (1) declararam ter feito
uso de termogênicos; 33,33% (1) declararam ter feito uso de Whey Protein,
BCAA’S, creatina e termogênicos; 33,33% (1) declararam ter feito uso de
“ZMA, Hiper Mass, 17500, BCAA, Anabolizante Natural Natubolic”.

105
Gráfico 92 – Percentual das percepções sobre a realização da
mastectomia (remoção cirúrgica da mama)

*Dados referentes a 28 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 60,71% (17) declararam


não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo; 28,57% (8) declararam
não ter feito e não ter a intenção de fazer a cirurgia; 10,71% (3) declararam já
ter feito a cirurgia por meio do sistema de saúde particular.

106
Gráfico 93 – Percentual das percepções sobre a cirurgia de redução
de mama

*Dados referentes a 22 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 59,09% (13) declararam


não ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia; 31,82% (7); declararam
não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo; 9,09% (2) declararam
já ter feito a cirurgia por meio do sistema de saúde particular.

107
Gráfico 94 – Percentual da realização da mamoplastia
masculinizadora (cirurgia plástica reconstrutiva que transforma a
mama feminina em masculina)

*Dados referentes a 26 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 76,92% (20) declararam


não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo; 15,38% (4) declararam
não ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia; 7,69% (2) declararam ter
feito a cirurgia por meio do sistema de saúde particular.

Gráfico 95 – Percentual da realização da histerectomia total (retirada


de todos os órgãos reprodutivos internos)

*Dados referentes a 26 respondentes dessa questão.

108
Dos participantes que responderam esta pergunta, 80,77% (21) declararam
não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo; 19,23% (5) declararam
não ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia.

Gráfico 96 – Percentual da realização da neofaloplastia (construção


de neopênis a partir de enxertos do corpo)

*Dados referentes a 23 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 73,91% (17) declararam


não ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia; 26,09% (6) declararam
não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo.

109
Gráfico 97 – Percentual da realização da metoidioplastia
(construção de neopênis a partir do clitóris)

*Dados referentes a 26 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 53,80% (14) declararam


não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo; 46,20% (12)
declararam não ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia.

Gráfico 98 – Percentual da realização da colpectomia/vaginectomia


(fechamento do canal vaginal)

*Dados referentes a 25 respondentes dessa questão.

110
Dos participantes que responderam esta pergunta, 52% (13) declararam não
ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia; 48% (12) declararam não ter
realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo.

Gráfico 99 – Percentual da realização da escrotoplastia (criação de


testículos a partir de próteses de silicone)

*Dados referentes a 24 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 50,00% (12) declararam


não ter realizado ou ter intenção de realizar a cirurgia; 50,00% (12) declararam
não ter realizado a cirurgia, mas ter intenção de fazê-lo.

111
Gráfico 100 – Percentual das avaliações dos resultados da(s)
cirurgia(s) realizada(s)

*Dados referentes a 28 respondentes que responderam a essa questão gerando 26 respostas.

Dos participantes que responderam esta questão, 78,57% (22) declararam não
ter realizado nenhuma cirurgia; 7,14% (2) declararam satisfação plena com o
resultado da(s) cirurgia(s) realizada(s); 7,14% (2) declararam insatisfação; 0%
(0) declararam satisfação parcial;

Gráfico 101 – Percentual das tentativas de realização de cirurgias


através de plano/convênio de saúde particular, caso desejem.

*Dados referentes a 26 respondentes dessa questão.

112
Dos participantes que responderam esta questão, 42,30% (11) declararam que
não tentaram realizar cirurgia através de plano/convênio de saúde particular;
34,62% (9) declararam não ter tentado por plano de saúde particular; 23,08%
(6) declararam ter tentado, porém o pedido foi negado.

Gráfico 102 – Percentual das tentativas de realização do processo


transexualizador pelo SUS pelos respondentes

*Dados referentes a 27 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta questão, 37,04% (10) declararam não
ter tentado realizar o processo transexualizador pelo SUS, porém desejá-lo;
25,93% (7) declararam ter tentado realizar o processo, porém não ter obtido
sucesso; 22,22% (6) declararam não ter tentado realizar o processo pelo SUS
e ter preferido o atendimento particular; 14,81% (4) declararam ter conseguido
realizar o processo transexualizador pelo SUS.

113
Gráfico 103 – Percentual dos motivos pelos quais os respondentes
não estão realizando o processo transexualizador pelo SUS, caso
desejem

*Dados referentes a 28 respondentes que responderam a essa questão gerando 24 respostas.

Dos participantes que responderam esta pergunta, 25% (7) declararam como
motivo não saber como conseguir atendimento no Processo Transexualizador
no SUS; 21,43% (6) declararam como motivo estar esperando iniciar os
atendimentos; 14,29% (4) declararam como motivo não ter em seu município;
14,29% (4) declararam outros motivos; 3,57% (1) declararam como motivo ter

114
desistido após esperar muito na fila e não ter entrado; 3,57% (1) declararam
como motivo já ter estado no processo, mas saído por conta da demora a
realizar cirurgias; 0% (0) declararam como motivo umas das alternativas
seguintes: A) estar tentando entrar na fila, B) estar tentando conseguir
transporte gratuito pelo SUS (TFD) para ser atendido em outro estado ou
município, C) ter tentado conseguir transporte gratuito pelo SUS (TFD) e não
ter conseguido, D) já ter estado no processo, mas saído por passar
constrangimento no serviço, E) ter sido excluído do serviço pelos profissionais
ou ter tido atendimento negado.

115
Gráfico 104 - Percentual das percepções acerca do atendimento de
psiquiatras e psicólogos no seu processo de transição ou
identificação

*Dados referentes a 25 respondentes que responderam a essa questão gerando 46 respostas.

Dos participantes que responderam esta questão, 48% (12) declararam que
não gostariam de precisar passar ou ter passado por atendimentos
psicológicos e psiquiátricos para realizar cirurgias ou hormonoterapia; 36% (9)
declararam não concordarem com nenhuma das alternativas acima; 32% (8)

116
declararam que o profissional tentou fazer-lhe acreditar que não é uma pessoa
trans, e sim lésbica e/ou mulher; 24% (6) declararam ter se sentido na
obrigação ou ter sido obrigado a demonstrar e exagerar mais estereótipos do
gênero masculino do que representam fora do consultório; 24% (6) declararam
que o profissional já perguntou mais coisas a respeito da vida sexual do
entrevistado ou da relação deste com seu corpo do que o entrevistado gostaria
de ter respondido; 20% (5) declararam ter de omitir certas informações a
respeito de sua expressão de gênero, vida sexual, ou existência de filho(s)
biológico(s);

Gráfico 105 – Percentual das percepções sobre a necessidade de ter


iniciado o processo de transformações corporais (cirurgias e
hormonoterapia) antes dos 18 anos

*Dados referentes a 26 respondentes dessa questão.

Dos participantes que responderam esta questão, 80,77% (21) declararam ter
sentido necessidade de iniciar o processo antes dos 18 anos, porém não ter o
iniciado; 7,69% (2) declararam não ter sentido tal necessidade antes dos 18
anos e não ter iniciado o processo; 7,69% (2) declararam não saber; 3,85% (1)
declararam ter sentido necessidade de iniciar o processo antes dos 18 anos e
tê-lo iniciado.

117
Gráfico 106 - Percentual acerca do conforto com características
designadas socialmente como femininas no corpo

*Dados referentes a 27 respondentes

Dos 27 respondentes, em relação a se sentir confortável com as características


designadas socialmente como femininas em seu corpo (seios, curvas, ausência
de pelos, voz, altura etc): 29,63% (8) declararam que se sentem parcialmente
confortável e 70,37% (19) disseram se sentir plenamente desconfortável.

Gráfico 107 - Percentual de conforto dos respondentes com


características designadas socialmente como femininas no corpo

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta

118
Dos 27 respondentes, em relação a se sentir confortável com as características
designadas socialmente como femininas em seu corpo (seios, curvas, ausência
de pelos, voz, altura etc): 29,6% (8) declararam que se sentem parcialmente
confortáveis e 70,4% (19) disseram se sentir plenamente desconfortáveis.

Gráfico 108 - Percentual de violências físicas sofridas pelos


respondentes

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes


puderam marcar mais de uma alternativa.
Em relação às violências físicas sofridas pelos 27 respondentes: 29,63% (8)
tapa; 22,22% (6) chute; 14,81% (4) espancamento; nenhum respondeu
pedrada; nenhum respondeu tiro; 3,70% (1) facada/giletada; 33,33% (9) soco;
22,22% (6) beliscão/mordida/puxão de cabelo ou puxão de orelha; nenhum
respondeu assalto seguido de espancamento; 14,81% (4) jogaram objetos,
ovos ou lixo; 11,11% (3) cuspe; nenhum respondeu outra forma de violências
física e 48,15% (13) nunca sofreram violência física; 3,70%.

119
Gráfico 109 - Percentual de violências sexuais sofridas pelos
respondentes

*Dados referentes a 26 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes


puderam marcar mais de uma alternativa.

Sobre violências sexuais sofridas dos 26 respondentes: 15,38% (4) sexo


forçado/estupro; 11,54% (3) tentativa de sexo forçado/estupro; 30,77% (8)
práticas sexuais que você não gostaria de ter feito; 50,00% (13) passadas de
mão; 42,31% (11) insinuações constantes e constrangedoras; nenhum
respondeu a categoria outros; 34,62% (9) nunca sofreram violência sexual e
3,85% (1) responderam não saber.

120
Gráfico 110 - Percentual de violências psicológicas sofridas pelos
respondentes

*Dados referentes a 26 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes


puderam marcar mais de uma alternativa.

Dentre os 26 homens trans que responderam o questionário, em relação as


violências psicológicas sofridas: 96,43% (27) olhares repressores; 67,86% (19)
xingamentos; 57,14% (16) ameaças; 71,43% (20) ironia; 28,57% (8)
chantagem/extorsão; 85,71% (24) situações constrangedoras/humilhantes;
92,86% (26) brincadeiras/piadas desagradáveis; 60,71% (17) desrespeito ao
nome social e tratamento de gênero no masculino; 71,43% (20) insistência para
você reverter sua masculinidade/identidade de gênero masculina; 3,57% (1)
responderam a categoria de outras formas de violências psicológicas; nenhum
respondeu que nunca sofreu violências psicológicas.

121
Gráfico 111 - Percentual de violências sofridas por parte de parceira
(o) / namorada (o)

*Dados referentes a 25 participantes que responderam essa pergunta.

Ao se perguntar a respeito sobre violências sofridas por parte de parceira (o) /


namorada (o), dos 25 respondentes: 40% (10) responderam já ter sofrido
violência por uma parte de uma pessoa do gênero feminino; 12% (3) por uma
pessoa do gênero masculino e 48% (12) responderam não ter sofrido violência
por parte de parceira (o) / namorada (o).

122
Gráfico 112 - Percentual de violências sofridas por parte de
familiares / parentes

*Dados referentes a 26 participantes que responderam essa pergunta.

Os 26 respondentes, em relação a já ter sofrido violência por parte de


familiares e parentes: 61,53% (16) responderam já ter sofrido violência por
alguém do gênero feminino; 23,07% (6) por parte de alguém do gênero
masculino e 15,40% (4) responderam não ter sofrido violência por parte de
familiares / parentes.

Gráfico 113 - Violências sofridas por parte de amigos / colegas /


conhecidos

123
*Dados referentes a 25 participantes que responderam essa pergunta.

Sobre já ter sofrido violência praticadas por amigos (as) / colegas / conhecidos
(as), dos 25 respondentes: 24% (6) responderam que havia sofrido por alguém
do gênero feminino; 44% (11) por alguém do gênero masculino e 32% (8)
declararam não ter sofrido violência por parte de amigos (as) / colegas /
conhecidos (as).

Gráfico 114 - Percentual de violências sofridas por parte de vizinhos

*Dados referentes a 22 participantes que responderam essa pergunta.

Dos 22 respondentes do questionário, ao perguntar se já sofreram violências


sofridas por parte de vizinhos (as): 22,7% (5) afirmaram ter sofrido por uma
pessoa do gênero feminino; 27,3% (6) por uma pessoa do gênero masculino;
124
40,9% (9) responderam não terem sofrido violência por vizinhos (as) e 9,1% (2)
declararam não saber.

Gráfico 115 - Percentual de violências sofridas por parte de usuários


/ clientes do seu ambiente de trabalho

*Dados referentes a 21 participantes que responderam essa pergunta.

Em relação a já ter sofrido violência por parte de usuários / clientes do seu


ambiente de trabalho, 21 dos respondentes: 9,5% (2) declaram ter sido por
uma pessoa de gênero feminino; 23,8% (5) por uma pessoa do gênero
masculino; 61,9% (13) responderam que não e 4,8% (1) responderam não
saber.

Gráfico 116 – Percentual de violências sofridas por parte de chefe


ou colega de trabalho

125
*Dados referentes a 22 participantes que responderam essa pergunta.

Dos 22 respondentes sobre já ter sofrido violências praticadas por chefe ou


colega de trabalho: 13,6% (3) responderam por uma pessoa do gênero
feminino; 22,7% (5) por uma pessoa do gênero masculino; 59,1% (13) não
sofreram violências de chefe ou colega de trabalho e 4,5% (1) declararam não
saber.

Gráfico 117 - Percentual de violências sofridas por parte de


professores e funcionários de instituição de ensino

*Dados referentes a 23 participantes que responderam essa pergunta.

Ao se perguntar a respeito de violências sofridas por parte de professores,


funcionários de instituições de ensino (curso, escola, faculdade), dos 23

126
respondentes do questionário: 30,4% (7) declararam terem sofrido violências
por alguém do gênero feminino; 17,4% (4) por uma pessoa do gênero
masculino; 47,8 (11) responderam não e 4,3% (1) declararam não saber
responder.

Gráfico 118 - Percentual de violências sofridas por parte de alunos


de instituição de ensino

*Dados referentes a 23 participantes que responderam essa pergunta.

Dos 23 respondentes em relação a já ter sofrido violência por parte de alunos


de instituição de ensino (curso, escola, faculdade): 21,7% (5) responderam que
sim por uma pessoa do gênero feminino; 43,5% (10) responderam que sim por
uma pessoa do gênero masculino e 34,8% (8) responderam que não.

127
Gráfico 119 - Percentual de violências sofridas por parte de policiais

*Dados referentes a 22 participantes que responderam essa pergunta.


Sobre já ter sofrido violências praticadas por parte de policiais, dos 22
respondentes: 4,5% (1) responderam por uma pessoa do gênero do feminino;
31,8% (7) por uma pessoa do gênero masculino; 59,1% (13) declararam não
terem sofrido violência por parte de policiais e 4,5% (1) responderam não
saber.

Gráfico 120 - Percentual de violências sofridas por parte de líderes


ou membros da sua religião

*Dados referentes a 20 participantes que responderam essa pergunta.

Dos 20 respondentes, ao se perguntar a respeito de violências sofridas por


parte de líderes ou membros da sua religião: 10% (2) por uma pessoa do

128
gênero feminino; 30% (6) por uma pessoa do gênero masculino e 60% (12) não
sofreram violências por parte de líderes ou membros da sua religião.

Gráfico 121 - Percentual de violências sofridas por parte de líderes


ou membros de outra religião

*Dados referentes a 21 participantes que responderam essa pergunta.

Em relação a já ter sofrido violência por parte de líderes ou membros de outra


religião, dos 21 respondentes: 14,3% (3) responderam terem sofrido por parte
de uma pessoa do gênero feminino; 33,3% (7) por parte de uma pessoa de
gênero masculino e 52,4% (11) responderam não terem sofrido violência.

129
Gráfico 122 - Percentual de violências sofridas por parte de pessoas
desconhecidas na rua

*Dados referentes a 23 participantes que responderam essa pergunta.

Dos 23 respondentes sobre já terem sofrido violências praticadas por parte de


pessoas desconhecidas na rua: 34,8% (8) responderem por alguém do gênero
feminino; 47,8% (11) pelo gênero masculino; 13% (3) responderam que não
sofreram violências por pessoas desconhecidas na rua e 4,3% (1)
responderam não saber.

130
Gráfico 123 - Percentual de violências sofridas por parte de
funcionários / gestores de estabelecimentos públicos

*Dados referentes a 20 participantes que responderam essa pergunta.

Ao se perguntar a respeito de violências sofridas por parte de funcionários /


gestores de estabelecimentos públicos, dos 20 respondentes do questionário:
20% (4) por uma pessoa do gênero feminino; 15% (3) pelo gênero masculino;
60% (12) responderam não e 3,6% (1) declararam não saber.

Gráfico 124 - Percentual de violências sofridas por parte de


funcionários / administradores de estabelecimentos privados ou
comerciais

131
*Dados referentes a 20 participantes que responderam essa pergunta.

Dos 20 respondentes em relação a já ter sofrido violência por parte de


funcionários / administradores de estabelecimentos privados ou comerciais:
30% (6) declararam ser por uma pessoa do gênero feminino; 30% (6) por uma
pessoa do gênero masculino; 35% (7) responderam que não e 5% (1)
declararam não saber.

Gráfico 125 - Percentual dos locais que sofreram violência

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes


puderam marcar mais de uma alternativa.

Dos 28 respondentes, em relação aos locais que as violências foram sofridas:


3,57% (1) responderam não ter sofrido violência; 46,43% (13) bares / botecos /
restaurantes; 32,14% (9) boates / casas de show; 3,57% (1) zona / sauna gay /
cine pornô; 39,29% (11) festas populares/de rua (shows gratuitos); 25,00% (7)
praia/cachoeira/piscina (clube); 7,14% (2) estádio / campo de futebol; 7,14% (2)

132
cinema/teatro; 17,86% (5) igreja / terreiro / templo / centro / outra instituição
religiosa; 57,14% (16) ruas / praças / parques; 28,57% (8) casa de amigos;
42,86% (12) casa de familiares; 11,11% (3) lojas / padarias; 28,57% (8)
shopping; 17,86% (5) academia; 39,29% (11) em casa; 17,86% (5)
responderam a categoria outros e nenhum respondeu não saber.

Gráfico 126 - Percentual de violências/danos patrimoniais sofridos

*Dados referentes a 28 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes


puderam marcar mais de uma alternativa.

Sobre as violências/danos patrimoniais os 28 respondentes do questionário


apontaram: 35,71% (10) proibição de ter acesso às suas roupas masculinas;
35,71% (10) inutilizar ou dar fim às suas roupas masculinas; 28,57% (8)
danificação proposital de seus bens e 53,57% (15) apontou que nunca sofreu

133
violência ou dano patrimonial, nenhum respondeu a categoria outros e a
categoria não sei.

Gráfico 127 - Percentual de constrangidos por uma abordagem


policial

*Dados referentes a 23 participantes que responderam essa pergunta.

Em relação a se sentir constrangido por uma abordagem policial, entre os 23


dos respondentes: 60,9% (14) responderam já ter sentido constrangimento por
uma abordagem policial e 39,1% (9) responderam não terem sentido
constrangimento por uma abordagem policial.

Gráfico 128 - Percentual dos que tem medo que as pessoas


identifiquem como trans

134
*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta.

Sobre ter medo que no dia-a-dia que as pessoas os identificassem como trans,
dos 27 respondentes: 40,7% (11) responderam sim; 55,6% (15) responderam
não e 3,7% (1) declararam não saber.

Gráfico 129 - Percentual dos que tem medo de serem constragidos


publicamente por serem trans

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta.

135
Ao medo de ser constrangido publicamente no dia-a-dia por ser trans, dos 27
respondentes: 81,5% (22) afirmaram sentir medo e 18,5 (5) responderam não
terem medo de serem constrangidos publicamente por serem trans.

Gráfico 130 - Percentual dos que tem medo de serem constrangidos


ao mostrar os documentos

*Dados referentes a 27 participantes que responderam essa pergunta. Os respondentes


puderam marcar mais de uma alternativa.

Em relação ao medo de ser constrangido ao mostrar os documentos no dia-a-


dia, dos 27 respondentes do questionário: 81,5% (22) responderam sim a
pergunta e 18,5 (5) responderam não terem medo.

136
Gráfico 131 – Percentual dos entrevistados que responderam ter
medo de sofrer as agressões mencionadas, em seu dia-a-dia

*O total de participantes que responderam às opções citadas no gráfico foi de 28, com exceção
para as opções “Sofrer constrangimentos, assédio moral ou bullying por se trans” e “Ser vítima
de estupro”, em que o total de respostas foi de 27.

Ao serem questionados se teriam medo de sofrer constrangimentos, assédio


moral ou bullying por ser trans no seu dia-a-dia, dos 27 entrevistados que
responderam esta pergunta, 81,50% (22) disseram que sim (teriam esse
medo), enquanto 18,50% (5) deles responderam que não. Já dos 28 que

137
responderam a segunda pergunta, 82,10% (23) disseram ter medo de ser
agredido ou ameaçado de agressão física por ser trans em seu dia-a-dia,
enquanto 17,90% (5) responderam não ter esse medo. Dos 28 que
responderam a terceira pergunta, 85,70% (24) disseram ter medo de ser
agredido por violência verbal, enquanto 14,30% (4) responderam não ter esse
medo. De um total de 27 participantes que responderam a quarta pergunta,
88,90% (24) declararam ter medo de ser vítima de estupro, enquanto 11,10%
(3) disseram não ter esse medo. Finalmente, dos 28 que responderam à última
pergunta, 82,10% (23) declararam ter medo de ser vítima de violência policial,
enquanto 17,90% (5) disseram que não possuir esse medo.

Gráfico 132 – Percentual de entrevistados que conhecem (ou não)


leis, decretos, resoluções ou outras normas que garantem o direito
ao nome social em órgãos públicos do seu município, estado ou a
nível de Governo Federal

*Dados referentes a um total de 27 participantes que responderam esta pergunta

Disseram ter conhecimento sobre leis, decretos, resoluções ou outras normas


que garantem o direito a seu nome social apenas 14,80% (6) dos
entrevistados. 63% (17) deles responderam não ter conhecimento sobre essas
leis, decretos, resoluções ou outras normas e 14,80% (4) marcaram a opção
“não sei” como resposta.

138
Dentre as opções citadas, um (1) entrevistado respondeu ter conhecimento do
direito ao nome social no SUS; um (1) respondeu conhecer a portaria do nome
social no SUS e no MEC; um (1) respondeu ter conhecimento sobre a lei
estadual que garante o direito ao nome social aos servidores em Minas Gerais;
um (1) respondeu conhecer leis estaduais em São Paulo, leis municipais em
Campinas (SP), além da resolução do SUS; e um (1) entrevistado respondeu
ter conhecimento do Decreto 55.588/2010.

Gráfico 133 – Percentual de entrevistados que tentaram utilizar o


direito ao nome social em órgãos públicos

*Os dados se referem a um total de 27 participantes que responderam esta pergunta

Responderam nunca ter tentado utilizar o direito ao nome social em órgãos


públicos 53,60% (15) dos entrevistados. Disseram ter tentado, porém sem
nunca conseguir utilizar esse direito 10,70% (3) deles. Responderam ter
tentado e conseguido utilizar poucas vezes esse direito 14,30% (4) dos
entrevistados. Outros 10,70% (3) responderam ter tentado e conseguido todas
as vezes, embora encontrando dificuldades. Já 3,60% (1) responderam ter
conseguido utilizar esse direito todas as vezes em que tentaram sem encontrar
problemas; e 3,60% (1) responderam ter conseguido na maioria das vezes.

139
Gráfico 134 – Percentual de entrevistados que mudaram o nome
e/ou sexo no registro civil

*Os dados se referem a um total de 27 participantes que responderam esta pergunta

Dentre os 27 participantes que responderam esta pergunta, 96,30% (26)


disseram não ter alterado o nome e/ou sexo no registro civil, enquanto apenas
3,70% (1) responderam tê-lo feito.

140
Gráfico 135 – Percentual dos motivos pelos quais o entrevistado
não mudou seu nome e/ou sexo no registro civil

*Os dados referem-se a um total de 26 participantes que, podendo marcar mais de uma opção,
somaram um total de 35 relatos.

Dentre os motivos apontados como aqueles pelos quais o entrevistado não


mudou seu nome e/ou sexo no registro civil, 42,31% (11) responderam não tê-
lo feito pois está esperando realizar cirurgias e/ou hormonioterapia para entrar
com o pedido; 30,77% (8) responderam não ter conhecimento sobre o
procedimento necessário para fazer realizar essa alteração; 26,92% (7)
disseram não tê-la realizado devido à dificuldade de acessar o procedimento;
26,92% (7) relataram outros motivos, dentre os quais: dois (2) estão com o
processo em andamento na defensoria ainda; um (1) está com dificuldade em

141
obter todas as documentações necessárias, incluindo os laudos; um (1) está
esperando a defensora retornar ao trabalho, uma vez que na ocasião da
pesquisa esta estava em período de férias; dois (2) disseram já ter dado
entrada ao processo, porém ainda estavam aguardando uma resposta; e um
(1) relatou ter problemas jurídicos. Outros 3,85% (1) responderam não ser
necessário realizar esta mudança; e 3,85% (1) declaram não saber o motivo
pelo qual não realizaram esta alteração.

Gráfico 136 – Percentual de entrevistados que conhecem (ou não)


instituições ou pessoas que lutam pelos direitos de transexuais e
transgêneros, na cidade em que mora atualmente

*Os dados se referem a um total de 27 participantes que respondera esta pergunta

De um total de 27 entrevistados, 55,60% (15) responderam ter conhecimento


de pessoas ou instituições que lutam pelos direitos de transexuais e
transgêneros em sua cidade; 14,80% (4) responderam não haver
instituições/pessoas com estes fins em sua cidade; e 29,60% (8) disseram não
saber se há pessoas ou instituições que lutam pelos direitos de transexuais e
transgêneros em sua cidade.
Ao serem questionados sobre quais seriam essas instituições/pessoas que
lutam pelos direitos de transexuais e transgêneros em suas cidades, o IBRAT
(Instituto Brasileiro de Transmasculinidades) foi citado uma vez; o CELLOS MG
(Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual) duas vezes; o Coletivo MOOCA

142
(Coletivo LGBT Classista) duas vezes; o Coletivo Transtornar uma vez; o
Coletivo Identidade uma vez; o Movimento Universitário Transgênero uma vez;
o Movimento Juntos BH uma vez; o Instituto Pauline Reichstul foi citado duas
vezes; o Centro de Referência uma vez; e a Marcha Mundial das mulheres uma
vez. Já, no que se refere às pessoas que lutam pelos direitos de travestis e
transexuais, a ativista Anyky Lima foi citada duas vezes; a psicóloga e
conselheira regional de psicologia Dalcira Ferrão foi citada três vezes; o ativista
Raul Capistrano foi citado uma vez; o pesquisador Vinícius Abdala foi citado
uma vez e opção “ativistas” apenas também foi mencionada uma vez.

Gráfico 137 – Percentual dos locais que o entrevistado frequenta e


das atividades que ele pratica em seu tempo livre

*Os dados se referem a um total de 28 respostas, exceto para a opção “shopping” em que o
total de participantes que responderam esta pergunta foi de 27.

Ao serem questionados sobre os locais que frequentam e as atividades que


praticam em seu tempo livre, 85,70% (24) responderam ficar na internet no
tempo livre; outros 82,10% (23) responderam frequentar casa de amigos em
seu tempo livre; 75,00% (21) responderam ficar em casa; 75,00% (21)
responderam frequentar teatros e cinemas; 75,00% (21) responderam ir a
praças e parques; 63,00% (17) responderam frequentar shopping; 60,70% (17)

143
responderam frequentar bares, botecos e restaurantes; 60,70% (17)
responderam ir a lojas, padarias; 57,10% (16) responderam frequentar casa de
familiares; 50,00% (14) responderam frequentar festas populares ou de rua
(shows gratuitos) em seu tempo livre; 46,40% (13) responderam praticar
cuidados com a aparência nesse tempo; 39,30% (11) disseram praticar
academia/atividade física/esporte em seu tempo livre; 39,30% (11)
responderam ir à praia, cachoeira e/ou piscina em seu tempo livre; 28,60% (8)
disseram ir a boates, casas de show; 25,00% (7) responderam praticar cursos
por hobbie; 25,00% (7) disseram ir à estádios/campo de futebol; 21,40% (6)
disseram frequentar igreja, terreiro, templo ou outra instituição religiosa em seu
tempo livre; e 3,60% (1) responderam ir à zona/sauna gay/cine pornô em seu
tempo livre.

144
8. Entrevistas e Análises

Para aprofundamento dos dados coletados através dos questionários


foram realizadas entrevistas semi-estruturadas após o encerramento da fase
dos questionários online. Entrou-se em contato com todos os 28 respondentes,
sendo que apenas oito se disponibilizaram a participar desta etapa da
pesquisa.
Considerando que as entrevistas dependiam da resposta dos
interlocutores que responderam ao questionário, tivemos a dificuldade de
conseguir a realização efetiva de duas entrevistas ao final da vigência do
projeto. Assim sendo, as entrevistas em Campinas e São Paulo foram
realizadas e gravadas, mas a transcrição e a análise serão feitas em momento
posterior. Cabe ressaltar que apenas um homem trans de São Paulo e um
homem trans de Campinas se dispuseram a participar da fase das entrevistas.

8.1. Caso 1: Vitor


Vitor1, 30 anos, heterossexual, solteiro, autodeclarado pardo,
candomblecista, residente em Contagem (MG). Possui graduação em Análise
de Sistemas e em Engenharia de Redes e, atualmente, cursa sua terceira
graduação em Serviço Social, na modalidade à distância. Trabalha com gestão
de projetos sociais e tem rendimento mensal entre três a seis salários mínimos.
Declara ter tido consciência de que desejaria viver e se identificar socialmente
no gênero masculino aos 25 anos de idade, iniciando seu processo de

1
Os nomes são fictícios. Todo o procedimento das entrevistas foi realizado de acordo com o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos sujeitos antes das entrevistas.

145
transição aos 28, em janeiro de 2014. A trajetória de Vitor é marcada pelo
envolvimento com a militância no movimento LGBT, que contribuiu para sua
formação política e pessoal e que se expressa nos posicionamentos levantados
com relação à vivência das transexualidades e de como esta tem sido
percebida e abordada pelo Estado.

Segundo ele, seu processo de transição para o gênero masculino foi


adiado muitas vezes em decorrência de um relacionamento que vivenciou por
um período de sete anos, no qual sua companheira não concordava com tal
transição.

“Eu milito no movimento LGBT desde 2004, então eu conhecia a questão da


transexualidade. O que atrasou a transição foi a questão do relacionamento. Eu tive
um relacionamento de 7 anos e ela me segurava a todo momento dizendo: ah, eu não
sou hétero, eu sou lésbica. Então, a todo momento, eu recuava. Até que chegou um
momento em que eu mandei à merda, né? Tipo isso! E tive que escolher entre a minha
transição e meu relacionamento! E então eu estou aí com quase dois anos de
transição. [...] mas eu já tinha entendimento de que era trans desde a minha infância.
Com o processo da militância eu tive mais certeza. Faltava mesmo alto estima e
estabilidade, tanto financeira quanto social mesmo pra poder fazer isso.”

Dentre os procedimentos e técnicas utilizados em seu processo de


transição, estão presentes os hormônios, dos quais faz uso há cerca de um
ano e meio, e a cirurgia de mastectomia, realizada em maio de 2014. Vitor
relata ter tido conhecimento sobre o uso de hormônios via internet, adquirindo-
os, inicialmente, de forma clandestina, embora hoje os consiga em farmácia
com receita liberada pelo médico endocrinologista que o acompanha no
tratamento. Foi com o uso do Durateston que iniciou seu processo, porém,
após descobrir que seu fígado vinha sendo comprometido pelo uso
inadequado, mudou sua medicação para o tipo Nebido, o qual utiliza
atualmente. A nova medicação, porém, única que o profissional da saúde lhe
recomenda devido aos danos já causados pela anterior, tem um custo
elevadíssimo, o que leva Vitor a refletir sobre as inúmeras variáveis que
determinam o acesso de um sujeito a determinado recurso, como é o caso
desses hormônios.
146
“Eu comecei a tomar clandestinamente como todo mundo faz, né? E tomava de
acordo com aqueles tutoriais de internet que a galera faz. E, aí, quando eu tive
acompanhamento me falaram assim: Ó, seu fígado está zicado. Ou você para o
tratamento ou você vai tomar Nebido, tá R$500,00. Aí eu falei: bom, vou tomar Nebido!
Meu ciclo ainda é de 45 em 45 dias, geralmente o do pessoal é de três em três meses,
né? Então, assim, ficou bem mais caro. [...] Ele (o endocrinologista) começou a me
acompanhar em dezembro do ano passado e agora tá de boa. O que é difícil mesmo é
você pagar R$500,00 quase todo mês praticamente, né, de remédio.”

Vitor destaca que a falta de acesso ao serviço de saúde e ao


acompanhamento médico é o maior desafio que os homens trans enfrentam e
isso tem consequências graves, comprometendo a saúde e bem estar desses
sujeitos. Em sua fala, ficam evidentes as ineficiências do sistema de saúde,
sobretudo o público, que não dá conta de responder às demandas mais
básicas desta população. O que, em parte, favoreceu seus processos foi a
possibilidade de acessar o sistema privado de saúde, além de contar com a
condição de ter um plano de saúde, sendo por estas vias que realiza
acompanhamento com o endócrino, além de ter sido também por onde
acessou a cirurgia de mastectomia.

“A gente tem um problema que é de saúde pública que é a questão do não


acompanhamento, que você custa a arrumar. Eu sempre tive plano de saúde e
continuei com o meu que era pra poder realizar minha transição. E o
acompanhamento eu só consegui depois de um ano que eu já tava tomando
hormônio. [...] E olha que eu só soube disso (que o fígado estava comprometido)
porque tive acompanhamento, então você imagina o tanto de gente que tem isso e
nem sabe! Aí eu fiz um monte de exame e tal. Ele começou a me acompanhar. Eu
estava bem gordo, estava pesando mais de 102 kg, agora eu tô com 85, então ele tá
me acompanhando em tudo nisso... É um médico fantástico! Eu pago mó pau pra ele!
Sempre indico ele pras pessoas porque ele é muito foda, o endócrino! E a gente
inclusive criou uma planilha no google docs, que a gente está compartilhando com

147
todo mundo que é pra gente fazer essas indicações de profissionais, né? Porque é
foda! Já é difícil um que atenda pelo plano, é um em um milhão..”

Verifica-se que a carência de atendimento à saúde dos homens trans,


leva-os a elaborarem estratégias capazes de assegurar algumas de suas
demandas, as quais deveriam ser garantias e preocupações públicas. Neste
contexto, consolida-se uma rede de apoio em que informações preciosas a
respeito de profissionais, medicamentos, posologias e técnicas são
compartilhadas entre eles, sobretudo via internet, instrumento que mais
possibilita tais trocas entre esta população.

Para realizar a mastectomia, em maio de 2014, também em serviço


particular, Vitor baseou-se em indicações, tanto para conseguir o laudo
necessário para a cirurgia e para o tratamento hormonal, como para acessar a
médica que realizou o procedimento. Em sua fala, ele ressalta com frequência
sua posição com relação à emissão de tais laudos para acessar os serviços.

“A cirurgia foi tranquila, mas primeiro eu tive que pegar laudo, né? E laudo é
uma merda! E pra gente que é militante ainda e que sabe todo o pleito da
despatologização... Aí eu fui no Dr. Roberto. Ele passa porque as pessoas precisam
fazer a cirurgia mesmo, né? [...] E eu levei pra minha médica e é só com o laudo que
faz. Inclusive, o Dr. Maurício (o endócrino) também só atende com o laudo. Pelo que
eu vejo, nenhum médico começa o tratamento tanto da cirurgia quanto endocrinológico
sem o laudo. Acho que eles precisam se resguardar, né?”

Ele relata que o pós-operatório foi tranquilo e se considera plenamente


satisfeito com os resultados da cirurgia. O único problema que teve (a
formação de queloides) considera ter sido por própria negligência sua, uma vez
que não fez o repouso solicitado, além de não ter usado o colete por mais
tempo. Vitor planeja realizar ainda mais dois outros procedimentos: a
histerectomia e metoidioplastia e tem procurado pelos profissionais que
possam atende-lo por convênio ou particular. Ressalta, porém, a enorme

148
dificuldade em encontrar profissionais capacitados e especializados nestas
demandas, o que coloca em risco aqueles que buscam acessar tais serviços.

“Eu quero passar pela histerectomia e pela meto (metoidioplastia), mas eu


queria fazer essas duas cirurgias em uma só. Geralmente, todo lugar faz é isso. Pra
que no pós-operatório eu tenha um só. Inclusive, eu vou nessa médica fazer um check
up e eu tô com o César (amigo transexual e também militante), a gente tá tentando ver
se a gente consegue algum cirurgião aqui em Minas que faça pela UNIMED. Ele
conseguiu um que faz a histerectomia, mas eu quero que faça os dois. Mas o
problema é que a cirurgia é em caráter experimental e aí só sobra o Dr. Marcelo, o
açougueiro, carniceiro, pra poder fazer. [...] e aí, ou faz com Dr. Marcelo, ou você vai
pra Alemanha ou pra Londres gastar 60 mil pra fazer. E a histerectomia precisa fazer
porque senão o cara continua produzindo hormônio, né?”

Diante deste depoimento, percebe-se a dificuldade para acessar


procedimentos relacionados à transição e constituição da identidade de gênero
destes sujeitos, seja pela falta de profissionais que os atendam, seja pelo
precário atendimento fornecido por alguns, colocando em risco a saúde e bem
estar dos que os procuram. Além disso, é preciso considerar que, neste caso
específico, o acesso é buscado vias particulares e não públicas, o que levanta
ainda mais a questão de como a maioria da população – que muitas vezes não
conta com o benefício do plano de saúde ou tem condições de pagar por um
serviço particular – acessaria determinados procedimentos, seguros de seu
atendimento e qualidade.

Em sua opinião com relação ao Processo Transexualizador do SUS,


Vitor destaca a morosidade do processo e critica a terapia compulsória prevista
no mesmo, a qual corresponde ao discurso patologizador da transexualidade,
materializado, principalmente, nos laudos emitidos por profissionais psiquiatras
e psicólogos. Observa ainda o mercado que se configura em torno desta
atuação, um verdadeiro comércio de laudos, em que o sujeito deve recorrer
para conseguir realizar quaisquer procedimentos.

149
“É uma terapia compulsória, né? Assim, ninguém faz isso, né? Existe um nicho
de mercado pra comparar laudo. As pessoas aparecem pra gente pra vender laudo e
eu acho um absurdo. Porque você tá explorando ali a situação de, até, marginalidade
da pessoa pra poder estrupiar alguma coisa que ela deve ter ainda, geralmente da
prostituição, pra vender laudo. Primeiro que eu não acho que a gente seja doente, né?
Sou militante da pró-despatologização. [...] Esse processo de dois anos do Processo
Transexualizador que a gente tem que fazer compulsoriamente eu acho um absurdo!
Primeiro porque não é doença, né? E, segundo, é que esperar dois anos ninguém
espera. A partir do momento em que você se entende – que já é difícil de você se
entender transexual – você vai esperar por dois anos? Porra nenhuma! Você vai é
tomar o negócio clandestino... E, enfim, por isso que o pessoal vende laudo, né? Que
vai virando um nicho de mercado e um ciclo vicioso. Acho uma merda esse processo
transexualizador, ou colocar esse período de dois anos compulsório! Se fosse uma
orientação: ‘ó, recomenda-se fazer’, mas não! É tratamento compulsório!”

Percebe-se, portanto, uma sucessão de conflitos e dificuldades


vivenciados por esses sujeitos ao longo de suas trajetórias para acessar
serviços que, para muitos, são imprescindíveis à sua constituição. A
patologização de suas vivências, por exemplo, nega-lhes a autonomia sobre
seus corpos, que passam a ser tutelados pelo Estado. Neste contexto, para
vivenciar a transição desejada, devem se “adequar” a determinado padrão de
práticas e comportamentos, a fim de que recebam, depois de um período de
dois anos, um laudo que “garanta” sua “condição” de transexualidade, tudo lido
sob os termos da patologização.

O não reconhecimento do nome social é uma das questões que


desestimula muitos homens trans a procurarem ajuda médica, demonstrando
como estes, na maioria das vezes, não são acolhidos em momento algum de
sua transição. Vitor observa ainda como algo que deveria ser um direito
assegurado, passa a depender da própria atuação do sujeito, na sua
individualidade.

“Tem uma questão que eu percebo, da galera trans que, inclusive eu já tive
também essa experiência, que é de evitar procurar ajuda na saúde por causa da

150
questão do nome social, ou de imaginar como vai ser a recepção do médico e tal... E
eu vejo que isso é muito comum com todas as pessoas trans. Isso dificulta muito na
saúde. Tem que ter uma estratégia que a gente tem que elaborar na academia, no
movimento social e no governo pra poder emancipar essas pessoas de alguma forma,
melhorar a alto estima, pra que elas tenham essa segurança pra poder usar esses
equipamentos porque eu vejo a galera deixando de ir. Igual quando eu descobri esse
negócio do meu fígado... Nossa! Eu tava deixando de ir por causa disso... Até que eu
falei assim “foda-se”. Eu vou ter que ter retorno daquilo que eu vim procurar.”

Ao não se sentirem acolhidos nesses espaços, deixam de procurar os


serviços necessários e acabam, muitas vezes, adiando ao máximo até
perceberem complicações mais graves na saúde. Vitor relata que, na sua
vivência, o descuido com sua saúde esteve diretamente relacionado a esse
receio de sofrer constrangimentos. Ressalta ainda as ineficiências do
atendimento à saúde básica, já que nem as próprias demandas da
transexualidade são atendidas nesses centros de saúde.

“Eu tô tendo esse cuidado de cuidar de tudo a partir de agora. Até essa
questão mesmo de emagrecer. Meu médico ele tinha indicado cirurgia bariátrica! Aí eu
falei assim: nem, eu não tô querendo fazer essa porra não! E aí ele falou, “ah, então
vamos tentar fazer uma reeducação alimentar com outra medicação”. E são coisas
que, assim, não tem nada a ver com a transexualidade, mas que eu evitava a procurar
ajuda médica e eu só ia engordando, engordando, e aí eu fui me fudendo... Mas, em
geral, a galera não vai mesmo saber de nada! Se não tem acesso nem ao que precisa,
quem dirá à saúde básica! Eu lembro por exemplo da história de uma menina que se
cortou e que tiveram que chamar uma enfermeira pra ir na casa dela porque ela não ia
acessar o serviço de saúde, uma UPA, o que fosse... Então, muitas vezes eles
preferem ter atendimento em casa, mesmo que de forma inadequada, pra não ter que
procurar. Eu tenho um amigo que trabalha em farmácia também que fala isso, que a
galera procura muitas soluções emergenciais em farmácia pra não ter acesso aos
equipamentos, sabe?

151
Confrontados com a falta de acolhimento e atendimento capacitado nos
serviços de saúde, principalmente públicos, o que se verifica é a uma constante
elaboração de estratégias que consigam suprimir parte dessas demandas. O
acesso aos serviços via convênio ou particular é algo que marca e especifica a
trajetória de Vitor, mesmo que isso não seja suficiente ainda. Porém, ao longo
de sua fala, percebe-se que como muitas pessoas trans optam por não
procurar qualquer serviço de saúde, cientes dos constrangimentos que poderão
sofrer, recorrendo a soluções emergenciais como a automedicação.

Para Vitor, que é militante pró-despatologização e que atua no


movimento LGBT para a visibilidade das pessoas trans e de suas demandas,
as vivências das transexualidades estão ainda marcadas, dentro do próprio
movimento, por um discurso que não dá conta de representar suas atuais
pautas, sobretudo a da despatologização, embora ele reconheça alguns
avanços.

No que se refere às violências já vivenciadas, Vitor ressalta


principalmente aquelas de caráter institucional e que se referem,
principalmente, ao não reconhecimento do nome social. Atualmente, ele
trabalha como gestor de projetos sociais, mas até pouco tempo trabalhava em
uma empresa privada como analista de rede. Neste ambiente, embora tivesse
conquistado o reconhecimento do seu nome social, sofreu algumas situações
de violência em que colegas de trabalho o assediavam chamando-o pelo nome
de registro, ato de extrema covardia, como ele mesmo relatou. Um outro
espaço em que destaca ter sofrido violência foi no candomblé que frequenta
atualmente. Segundo ele, devido à tradição de que “se tem útero deve usar
saia e se não tem deve usar calças”, sofreu de alguns irmãos da casa certos
constrangimentos por não se adequar a este padrão. Porém, com o apoio do
seu pai de santo, tem conseguido se firmar na casa e pretende passar pela
iniciação em breve, resolvido a conquistar seu espaço masculino e legítimo
naquele espaço.

Ao pensar na sua trajetória, Vitor analisa também que a violência está


muito relacionada àquilo que foi socialmente compreendido como sendo o
feminino. Em sua fala, o reconhecimento da misoginia como desencadeadora

152
das mais diversas situações de violência apareceu recorrentemente. Inclusive
relata que pelo processo de transição, ao se distanciar do que é reconhecido
como “feminino”, passou a sofrer menos violência, o que não quer dizer que
tenha deixado de sofrer.

“Eu acho que eu sofri menos violência sendo sapatão do que meus amigos que
foram os viadinhos, né? Que até apanhavam... Eu acho que eu sofri menos. É meio
polêmico isso, mas eu acho que quando você tem essa questão mais próxima com o
masculino, eu acho que vem da misoginia, né? O problema do gay não é só a
homofobia, o machismo. O problema é a misoginia. O ódio ao feminino. A identidade
feminina ela sofre mais em todos esses espaços, na minha opinião, na minha leitura e
na vivência que eu tenho. Eu reconheço, inclusive, que eu sofro menos a partir da
minha transição.”

Vitor considera que os homens trans, devido ao fato de já terem sofrido


diversas formas de machismo ao longo de suas trajetórias, têm o dever de não
reproduzir esse mesmo padrão de comportamento, o qual, muitas vezes, vêm
para assegurar a construção de um ideal de masculinidade.

“Para alguns homens trans têm aquela coisa patriarcal, macho-alfa, né? De ser
o provedor, aquele cara que paga a conta, o que manda no final... Isso tem demais! A
gente até tenta dar uns toques na galera, mas eles falam que a gente é meio chato.
Mas a gente tenta porque é totalmente incoerente, né? A gente já vivenciou o
machismo, então a gente não pode ser machista, na minha concepção.”

Sobre sua relação no universo familiar, relata que a questão da


aceitação foi percebida de formas diferentes pelo pai, mãe e irmã. Os pais são
divorciados e, atualmente, Vitor vive somente com a mãe. Ele conta que a mãe,
embora aceite-o, ainda tem dificuldades em reconhece-lo no gênero masculino.
Relata que, em determinadas situações, quando ele não está por perto, ela se
refere a ele no gênero feminino, o que já lhe causou alguns constrangimentos.

153
Destaca, porém, que este tem sido um processo e que, aos poucos, ela tem
avançado em sua compreensão. Uma das questões que ele chama a atenção
é o fato de ela ser policial civil, formação que ele acredita limitar um pouco seu
entendimento, mais que sua aceitação. Já sua relação com o pai, ele
caracteriza como sendo tranquila, destacando, inclusive, a participação dele no
seu processo.

“Meu pai é de boa. Ele teve um AVC há uns três anos atrás, então, assim, ele
tem a fala limitada, mas ele consegue... Assim, há uns quinze dias atrás que minha
barba começou a crescer mesmo. Aí ele me deu um barbeador e creme e falou: pode
crescer, mas tem que fazer. (risos) Ele me deu toda coleção de carrinho dele. Meu pai
é um cara que foi rockeiro, então ele tá bem mais avançado que minha mãe. Porque
minha mãe é policial civil. Os dois são divorciados. Meu pai é muito mais avançado
nesse sentido, então ele sinaliza sempre, apesar dele não poder comunicar muito bem
que apoia.”

A relação com a irmã, porém, que mora fora do Brasil, não é boa,
embora hoje quase não haja, de fato, “relação” entre os dois. A irmã, segundo
ele, é extremamente reacionária, machista e racista, o que, desde a época em
que ele se identificava enquanto lésbica, gerava-lhe certo transtorno.

Segundo Vitor, sua relação com o restante da família se limita ao contato


com dois tios, sendo que um é uma figura bastante presente em sua vida,
tendo sido por meio dele que conseguiu o atual emprego. Esse tio, ele conta,
por ser homossexual, reconhece as dificuldades e demandas e é por isso que
acredita conseguir o apoio que detém. Já o outro tio é alguém a quem
acompanha em momentos de lazer, como idas à estádio e jogos de futebol.
Com os demais, diz não fazer muita questão de se relacionar, o que não passa,
segundo ele, pela questão da transexualidade. É mais por uma questão
política, uma vez que, por ser militante de um partido de esquerda, prefere
negar sua origem (já que a família é bastante tradicional na cidade, além de
sempre ter tido muito dinheiro). Ter conquistado suas coisas por esforço

154
próprio, sem a ajuda de ninguém é algo de que se orgulha muito e se considera
vitorioso.

Com relação às suas expectativas futuras, Vitor fala sentir bastante


medo, tanto com relação à baixa expectativa de vida das pessoas trans, quanto
pelo medo dos efeitos colaterais da ingestão inadequada dos hormônios a
longo prazo, dos procedimentos aos quais ainda pretende se submeter e de
toda conjuntura política envolvente que, a cada dia, torna-se mais retrocedente
e reacionária. Tudo isso acaba por compor um cenário marcado pelas
incertezas e inseguranças para as pessoas trans.

“Então, a gente tem essa expectativa de vida das pessoas trans e, em especial
das mulheres trans, que é de 35 anos por causa da questão da violência, né? Mas eu
tenho muito medo! Primeiro, porque não tem muita pesquisa em relação a como que
isso vai se comportar, essa questão da utilização dos hormônios... Tem poucos dados
sobre isso e eu tenho muito medo! Não tenho tranquilidade com isso não! Eu penso
como vai ser... Eu vejo o João W Nery meio que sofrendo pra caramba com a questão
da utilização inadequada dos hormônios... Não sei. Tenho muito medo. Tenho muito
medo das cirurgias que eu pretendo fazer e eu penso que isso pode antecipar minha
passagem pro outro lado e eu tenho muito medo. Inclusive no momento reacionário
que a gente tem vivido na conjuntura política, né? Eu estava até comentando com um
amigo esses dias que eu preciso retificar meu nome de uma vez porque se retroceder
como eu tô vendo que vai retroceder aqui, se não der pra ir pro Uruguai, pelo menos
eu tô com meu documento tranquilo porque eu tenho muito medo tanto da questão da
conjuntura política como das questões da saúde que eu não sei como vai lidar.”

Em um contexto de incertezas, Vitor tem investido na aposentadoria já


faz algum tempo. Ciente, porém, de possíveis desestabilizações no sistema
previdenciário público, tem pensado outras estratégias que assegurem uma
velhice mais tranquila, como a contribuição de um sistema previdenciário
privado.

155
“Sempre contribuí com INSS, desde os meus 14 anos quando comecei a
trabalhar. Já tem bastante tempo já. Acho que vou até conseguir aposentar mais cedo.
Mas eu pretendo fazer uma previdência privada. A gente não sabe como vai ser essa
questão da previdência, como que vai lidar a questão financeira e econômica do país...
Porque mesmo sendo de esquerda eu preciso fazer uma previdência privada pra me
resguardar. E eu tô na minha terceira graduação, pretendo ficar nessa área mais de
humanas porque eu acho que eu já tenho uma estabilidade, pagar minhas coisas,
continuar estudando, pagar meu hormônio que já é caro e pretendo não perder isso!
Então eu vou continuar pagando o INSS e também uma previdência privada que é o
plano B, né? A gente tá num momento de crise que a gente não pode nem especular o
que é que vai acontecer ou não.”

Vitor participa atualmente do Coletivo MOOCA, um movimento classista


de combate à opressão LGB e Trans e tem se empenhado na elaboração de
estratégias e atuações que coloquem em visibilidade as demandas das
pessoas trans.

8.2. Caso 2: C.T.


C.T. tem trinta e sete anos, é casado há seis anos com uma mulher,
trabalha contratado como agente de obras públicas na cidade administrativa de
Belo Horizonte. Graduou-se em gestão de tecnologia da informação em 2012.
Começou a se identificar socialmente como homem há dois anos.
Primeiramente se identificou como uma mulher lésbica por se interessar
sexualmente por mulheres, hoje se afirma como um homem hétero.

Na infância, sempre se identificou com as práticas de meninos,


socialmente se via como menino. C.T. foi criado com os pais, uma irmã e um
irmão até os seis anos, quando seus pais se separaram. Quando o pai veio
buscá-lo para morar no Canadá optou por viver com a mãe. Viveu com ela até
os doze, durante os anos da adolescência morou com seus avós. Possui o
respeito da família que “aprendeu a entender o diferente.” C.T. sofreu mais
preconceito dentro de casa do que fora dela.

156
“O preconceito maior foi dentro de casa. Quando parte de algumas pessoas da
minha família ficou sabendo da minha decisão de transicionar, e alguns amigos
também. Talvez pelo medo né, porque não conhecem e hormonizar-se é arriscar,
também tem um certo risco, aliás, tem um risco muito grande né, então é aquela coisa,
você sofre preconceito sim. Não se hormoniza, não acha legal, vou ficar com medo.
‘Ah, mas porque você quer tirar o seio?’ Uai se você pode colocar porque eu não
posso tirar? Eu tive esse trocadilho com minha irmã só pra poder amenizar a coisa né.
‘Ah não, mas eu acho que você tá bem assim você devia ficar dessa forma.’ Por que
uai? Não tá ferindo sua vida, tá dizendo respeito à mim não é você. ‘Ah, mas como eu
vou te chamar daqui pra frente?’ Não importa, ué. Deixa as coisas acontecerem, você
tá sofrendo por antecipação, quem deveria tá sofrendo sou eu e não você.”

C.T. acredita que “por ser diferente” as pessoas de sua família tem
dificuldades em entender sua identidade de gênero. Não pretende contar para
o pai sua decisão de começar o processo transexualizador, aproveitando que
ele vive no exterior e dificilmente se veem. Esta atitude é justificada por C.T.
como uma forma de se preservar de um possível preconceito que possa surgir.
As modificações corporais que preocupam a irmã revelam mecanismos que
exercem um controle sobre os corpos. A resposta de C.T. demonstra como o
ideal de saúde de cada um varia dependendo da perspectiva. Do ponto de vista
de C.T. a retirada dos seios trará um bem a sua saúde na medida em que seu
corpo estará mais próximo do que ele quer. Os seios caracterizam a
feminilidade em nossa sociedade, sua retirada causa um impacto positivo nos
homens trans já que se livram de uma parte de seus corpos que não condiz
com sua identidade.

Como o pai e o irmão moram no exterior e não há muito contato com a


irmã, C.T. considera hoje como parte de sua família mais próxima os parentes
de sua companheira. Afirma que não teve um processo traumático na família já
que sempre foi respeitado por suas atitudes. Quando conheceu a família da
companheira foi “chegando aos poucos” e acabou agradando a todos. Planeja
a possibilidade de ter filhos já que a companheira se dispõe a engravidar.

157
Conseguiu atendimento endocrinológico na Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais através dos alunos de pós-graduação no intuito de
começar sua hormonização. Conseguiu as receitas e o acompanhamento
médico gratuito graças a um contato com um amigo, mas decidiu esperar.
Como C.T. considera fertilizar um de seus óvulos e implantá-lo na companheira
fica receoso de que, com o tratamento, seus óvulos sejam incapazes de serem
fertilizados.

C.T. iniciou o processo transexualizador pelo SUS. A ouvidoria da


prefeitura de Belo Horizonte tentou guiá-lo, mas ouve muita confusão devido ao
despreparo dos funcionários envolvidos, que por vezes encaminharam-no a
hospitais que não estão preparados para atender a demanda dos homens
trans. C.T. afirma que os médicos são muito despreparados e que deveria
haver profissionais capacitados para lidar com as especificidades da população
trans. “Nunca me chamaram pelo nome social, não tem jeito, eles não chamam
pelo nome social.” Apesar do desrespeito ao nome social, conseguiu no posto
de saúde perto de sua casa um atendimento com um clínico-geral e obteve seu
laudo psiquiátrico, necessário para que se inicie a hormonoterapia. No entanto,
não sabe o tempo de validade do laudo: afirma que assim que a prefeitura
conseguir um endocrinologista apto para auxiliá-lo pretende iniciar o processo
de hormonização pelo SUS. Ele não se arrisca a tomar os hormônios sem o
acompanhamento médico e reclama do preço dos medicamentos, afirma que o
alto preço dos hormônios impede que os compre por conta própria.

O único serviço médico que procura com frequência é o ginecológico.


Considera o procedimento horrível, “sem palavras”. “O ato de ir no
ginecologista já é uma violência pra gente.”

C.T. falou também a respeito do uso de roupas masculinas e da


necessidade mais fundamental para si no processo de transição: a
mastectomia.

“Roupa normalmente é sempre um pouco mais larga né, pra disfarçar porque a
primeira identificação com a gente é as mamas... e voz não dá pra disfarçar muito

158
porque minha voz é fina. A hormonização pra mim é importante por causa disso e...
acho que a principal coisa... pelos menos assim comigo... não vou responder pelos
outros, mas a principal coisa que um homens trans tem urgência é a retirada das
mamas. É o alívio social, porque você pode ter uma voz fina, você pode ter um cabelo
grande, mas você não tem a mama tá bom. Então assim... é, são roupas largas
mesmo e masculinas que é do gosto mesmo, sempre foi. Eu sempre tive essa
identificação. Eu não entro numa loja de departamento, por exemplo, que eu compro
uma roupa, eu nunca vou nas araras femininas nem nada nesse sentido então... Mais
é roupa mesmo eu não uso muita técnica não. Mais novo eu costumava por faixa né,
nos seios pra poder amarrar eles, mas aí eu percebi que com o tempo aquilo não
parava de crescer então não tinha como eu ficar escondendo muito e machucava
demais. Eu sei que tem uns caras que usam binder2 né, pra poder disfarçar mais, pra
comprimir. Mas sei que isso também não é um procedimento legal porque se aperta
demais você vai ter um problema lá na frente, isso não é bom pra saúde.”

Apesar de disfarçar a presença dos seios, o uso da faixa deixou de ser


interessante para C.T. devido aos ferimentos que ela causava. A faixa é usada
como uma técnica para esconder os seios, salientando ainda mais a urgência
da cirurgia de retirada das mamas por parte dos homens trans. Além da
mastectomia, C.T. gostaria de realizar a histerectomia. Para ele, menstruar é
uma das coisas que mais causam desconforto, tanto física quanto
psicologicamente. A menstruação é, em sua opinião, um processo violento, que
não condiz com sua identidade masculina.

Não possui expectativas quanto ao nascimento de barba, de acordo com


ele sua raça/cor, autodeclarada amarela, não tem propensão a ter pelos no
corpo. Pretende, no entanto, cultivar as costeletas, pois tem paixão por elas.

Sobre as violências que já sofreu C.T. discorre que em grande parte elas
provem da ignorância dos outros, que não conseguem reconhecer a sua
identidade masculina. A este respeito ele afirma que frequentemente não é
identificado como homem por causa de seu corpo.

2
Camiseta ou faixa utilizada por homens trans que comprime os seios.

159
“É só a faixa mesmo que era... que era que... eu acho que é a que mais
violenta a gente psicologicamente porque tá crescendo, você não te como fugir
daquilo. Então você tem que ter meios de disfarçar, mas saber que as pessoas vão te
identificar. Mais novo ninguém conseguia me identificar, olhava pra mim e não me
identificava, mas com o tempo eu engordei, com o tempo a gente vai tomando formas
e se você não hormonizou isso fica muito visível, por mais que você tente disfarçar. Aí
fica uma coisa, infelizmente, caricata que a gente é chamada de sapatão masculina
né, ou sapatão... butcher né, a gente é confundido muito com essas meninas que nem
sempre porque se vestem desse jeito se identificam, tem um gênero ‘ai eu sou um
menino’. Isso daí é muito diferente, eu tenho consciência disso, que eu ainda vou ser
chamada de sapatão, de masculina, de né... dessas coisas pejorativas, isso pra gente
ofende porque não tem nada haver uma coisa com a outra, até porque sapatão né...
engraçado porque entre o nosso meio isso é dito como brincadeira. Não sei se muita
gente leva a mal, mas entre o meio externo, entre as pessoas que não transgêneras e
entre as pessoas que não são do meio gay isso é pejorativo pra gente. E isso é muito
ruim né, esse tipo de identificação pra gente, não é legal.”

Importante frisar que C.T. considera pejorativo ser chamado de sapatão


porque esta denominação lhe nega o direito que tem de ser homem e ressalta
que a palavra ofende somente quando é utilizada por pessoas que não
conseguem entender “o diferente”. C.T. não é uma mulher masculina, mas um
homem. Ele afirma que fora do meio gay já está acostumado com o tratamento
preconceituoso, mas por vezes no meio também é discriminado porque as
pessoas não entendem sua identidade de gênero, ele não cobra compreensão,
mas respeito por parte dessas pessoas.

Em seu trabalho é respeitado, todos o chamam por C.T., o que para ele
é enaltecedor. Achou curioso isso ter ocorrido e quando comentou com a
companheira esta afirmou que bastava olhar para ele para saber que se tratava
de um homem. Pouco antes de entrar de férias, dias antes da entrevista, uma
colega de trabalho afirmou ser a única a chamá-lo por seu nome. C.T. não se
apresenta por seu primeiro nome por ser associado a uma mulher, ele pediu
então que a colega o chamasse por C.T. porque se sentia desconfortável em
ser chamado por um nome feminino, a colega consentiu com o pedido.

160
Apesar da relação respeitosa que estabeleceu em seu atual emprego,
C.T. reclama do preconceito que enfrenta no mercado de trabalho pelo fato de
ser um homem trans.

“As empresas quando você fala... quando você se apresenta pra elas de uma
forma e elas percebem o seu visual, que a primeira coisa que vê é o visual e depois
quando vê como você se apresenta, qual a sua postura, o que você é, a vaga some,
desaparece. Você não recebe nem um retorno de volta, isso pra gente é humilhante.
Que as pessoas olham identidade de gênero, orientação sexual pra ver se vai
empregar alguém e não a sua competência.”

A dificuldade em conseguir trabalho é mais um ponto sintomático do


preconceito institucionalizado. C.T. pretende prestar algum concurso público
para conseguir um emprego sem ter que se preocupar com desconfortos em
entrevistas nas quais o que está sendo julgado é seu caráter e não sua
habilidade para o emprego.

Antecipando reações desagradáveis, C.T. se mantem reservado no


trabalho. Acredita que essa atitude evita diversas situações constrangedoras,
além do fato de reservar-se o direito de não expor sua vida pessoal.

“A gente finge um personagem que eles querem... que eles acham que a
gente vai viver e a gente não vive né. Não é não se assumir, eu sou assumido desde
muito cedo. Mas, é tipo assim, o meu profissional não tem nada haver com a minha
vida pessoal.”

C.T. afirma que sua masculinidade é caracterizada pelo carinho e


cuidado que tem para com os outros. Usa como exemplo a atenção e o amor
que presta à esposa. Quando compra alguma coisa para si compra outra igual

161
para ela. Ele possui horror da masculinidade hegemônica machista, acredita
que não consegue se pensar como homem sem ser feminista.

Em relação a questões geracionais, C.T. entende seu processo sendo


diferente dos homens trans mais jovens. Acredita que eles possuem uma
necessidade mais urgente de modificação corporal, o que justifica pelo fato de
terem acesso mais fácil a técnicas masculinizadoras e pelo próprio ímpeto da
juventude. Corrobora o fato de ter aprendido muito com a idade a ter calma e
paciência para fazer as coisas, por isso toma muito cuidado em cada etapa de
seu processo, para que no futuro não se arrependa de suas escolhas.

8.3. Caso 3: Murilo


Murilo, 23 anos, heterossexual, solteiro, autodeclarado branco,
agnóstico. Residente em Belo Horizonte (MG). Possui graduação em
Gastronomia. Atualmente está empregado. Declara que na infância começou
sua identificação com o gênero masculino. A trajetória de Murilo é marcada por
conflitos familiares e questionamentos sobre os papéis de gênero atribuídos às
pessoas.

Murilo se auto identifica socialmente em termos de gênero como homem


trans. Utiliza o nome social em todas as ocasiões e afirma ter tido muita sorte
em relação ao emprego, pois achava que seria o lugar em que teria mais
resistência, porém, colegas de trabalho e amigos respeitam seu nome. Murilo
afirma que o único ambiente que não respeita muito seu nome social é o
familiar.

Desde pequeno afirma ter começado uma identificação com o gênero


masculino, mas seus pais tentavam enquadrá-lo em uma “caixa” do que é de
menina. Ele não conhecia o termo transexualidade e foi aos 15 ou 16 anos
“que isso foi ficando mais forte”, sendo que o que ele conhecia como mais
próximo era o termo “travesti”. Por não conhecer o que era homem trans, se
identificava nessa época como lésbica, mas também começou a questionar
essa identificação, porque nenhuma outra amiga lésbica queria ser homem.

162
Aos 18 anos começou a namorar uma antropóloga que estudava sobre
intersexualidade, ele desabafou sobre não se sentir a vontade em ser mulher e
ela o apresentou algumas coisas sobre transexualidade. No início afirmou não
ter sido nada libertador e ficou receoso de se enquadrar “naquilo”, pois
considerava o termo muito pesado. Mas depois, ambos começaram a trabalhar
nessa questão, ela começou a chamá-lo no masculino para ver se ele se sentia
a vontade.

“Fui me sentindo imensamente mais a vontade e aos poucos fui pedindo para
os meus amigos me chamarem assim, até rolar uma aceitação mesmo de como eu me
identificava”.

Em relação ao seu processo de modificação corporal começou relatando


que quando se assumiu lésbica foi expulso de casa, e assim ele pode sair da
“norma”, e não precisou de se “feminilizar” mais. Sendo assim, esse processo
de modificação - de cortar cabelo e usar roupa masculina - começou desde
então e foi intensificando mesmo antes de ele se “assumir” trans. Desde que se
assumiu, o que mais mudou foi começar usar o binder e o hormônio. O uso de
hormônio se iniciou em março de 2015. Ele afirma que já queria fazer o uso de
hormônio há bastante tempo, mas esperou a família ter maior aceitação para
começar a hormonização. Nesse tempo ficou fazendo a terapia por mais ou
menos dois anos para conseguir o laudo, mas era difícil porque os médicos não
achavam que ele se enquadrava.

“Eu não tento me masculinizar, tendo trejeitos muito brutos, ou engrossando a


minha voz. Eu acho que eu não preciso disso, eu tenho uma figura de referência que é
meu pai, que é super meigo e isso é um problema na hora de conseguir o laudo.”

Ele passou por dois psiquiatras que ficaram perguntando se ele tinha
certeza que se enquadrava, enquanto o terceiro foi um profissional mais
“aberto” que iniciou o processo de hormonização. Ele tentou pelo SUS, mas
não conseguiu. Não entendeu muito bem porque não havia conseguido, mas
163
foi informado que não tinha o direito de usar. A equipe foi visitar a sua casa,
porém, como naquela época ele morava com os pais e o SUS dá prioridade
para quem não tem condições financeiras, não foi aprovado. Porém, mesmo
morando com os pais, Murilo não é dependente financeiro deles, e afirma ter
sido um processo muito difícil. A partir de então, ele passou a vender comida
para conseguir pagar pelo particular, Murilo diz:

“eles meio que julgaram pelo que a minha família tem e não tem nada a ver
comigo”.

Murilo também faz acompanhamento com endocrinologista e, para


começar tomar os hormônios, teve que fazer mais de 40 exames, sendo que
ficou muito caro ter que pagar tudo pelo particular. Ele ainda não realizou
nenhuma cirurgia, mas pretende realizar a “mastectomia”. Em relação às
mudanças que aconteceram a partir do momento em que começou a tomar o
hormônio, ele disse ter se sentindo mais seguro, mais eufórico, mais
estressado, mais explosivo, aumento de libido e afirma que tem mais
dificuldades para conseguir chorar. Já em relação às mudanças físicas, relata o
aparecimento de pelos, os músculos ficaram mais marcados mesmo sem fazer
exercício físico, e a voz começou a falhar e a engrossar.

Sobre usar o binder e o hormônio ele não considera que tenham


causado danos psicológicos, mas sim físicos. O binder aperta muito e não é
possível ter uma postura adequada, além de trazer dificuldades para respirar.
Já em relação aos aspectos positivos, traz maior confiança para sair de casa.
Ele acha importante ter um acompanhamento psicológico, mas não para
conseguir um laudo ou estar no CID, mas como uma forma de suporte mais
eficiente e menos burocrático.

Sobre as características do seu corpo lidas socialmente como femininas,


ele disse sentir desconforto com peito e no início tinha problemas por não ter

164
pelos e com a voz, por achar ela muito feminina, mas depois que começou a
tomar o hormônio, isso não o incomoda mais.

Ele disse que não tem nada a reclamar a respeito do atendimento com a
endocrinologista, se sente muito confortável nas consultas. Ela e a secretaria
têm muito respeito por ele e o nome social, uma vez que ela atende vários
outros homens trans. Já sua experiência com ginecologista é extremamente
constrangedora, ele afirma que os profissionais não têm preparo algum para
lidar com “essa situação”. Para ele é um ambiente que não o reconhecem
como homem.

Em relação às violências sofridas, aos 4 anos Murilo sofreu um abuso


sexual.

“Eu percebi que isso meio que mudou a minha orientação sexual e não minha
identificação de gênero.”

Outra violência sofrida por ele foi quando se assumiu lésbica em casa,
em que toda a família era muito tradicional e católica. Ele conta que apanhava
em casa todos os dias de seus pais, sendo que alguns dias não podia ir para
escola, pois estava muito machucado. A escola percebeu que estava
acontecendo algo e chamou os pais para uma conversa, em que expuseram
toda a situação e todos os colegas ficaram sabendo. Então, além de sofrer
violência física e psicológica em casa, também passou sofrer violência
psicológica na escola, por parte dos colegas.

Além de apanhar de seus pais, eles tiraram tudo que ele tinha acesso,
como computador e celular, e ele só podia sair de casa para ir ao colégio.
Mediante toda essa situação, um professor iria acionar o conselho tutelar para
tirar dos pais do Murilo a guarda dele, porém a família o expulsou de casa
quando soube as intenções do professor. Além disso, Murilo também não
queria que o professor tirasse sua guarda. Quando saiu de casa, foi morar com
um tio e passou a sentir uma maior discriminação na rua, porque começou a se

165
masculinizar, como por exemplo, cortar o cabelo. Murilo afirma que essa foi
uma fase muito difícil, em que pessoas desconhecidas questionavam o que ele
era.

“Uma vez uma mulher me parou na rua e me perguntou: Que monstro você
é?”.

Depois de sair de casa continuou morando um tempo em Belo


Horizonte, seguido de Curitiba, Campos do Jordão e Rio de Janeiro até
retornar a Belo Horizonte para casa dos seus pais. Nesse tempo teve contato
com os pais por meio de ligações e algumas visitas.

Após terminar o ensino médio, Murilo fez um curso técnico e depois


faculdade e se formou em Gastronomia. Durante o curso ele iniciou a transição,
disse que todos os colegas de turma respeitavam o nome social e que a
maioria dos professores também, e que não teve muitos problemas
relacionados a sua trajetória na faculdade.

Quando questionado a respeito de sua sexualidade, Murilo afirma que se


identifica como hétero e disse ter uma percepção que para homens trans, ser
heterosexual é como uma questão de afirmação. Ele diz:

“se você é gay ou 'bi' as pessosas te enxergam como menos homem.”.

Ele disse estar em uma relação sexo-afetiva com uma mulher que se
identifica como hétero, que entende o corpo dele e todas as suas questões,
além de afirmá-lo como homem, o que traz bastante segurança para Murilo.
Em relação aos relacionamentos anteriores, ele afirma que o mais marcante foi
com a antropóloga.

166
“Ela que iniciou isso e foi construindo junto comigo. Ela conversou com
uns amigos dela, ela morava no Rio e quando eu chegava no Rio, 'tavam' todos os
amigos dela me chamando de Murilo.”.

De uma forma geral ele considera ter tido sorte com os outros
relacionamentos, sempre receber apoio de suas parceiras.

Para Murilo, a relação com a família, excluindo sua sexualidade, sempre


foi muito boa. As irmãs lidam muito bem com o fato de Murilo ser homem trans
mas têm um pouco de dificuldade de chamá-lo no pronome masculino,
principalmente em casa. Já o pai ignora que tenha algo acontecendo e que
nada mudou ou vai mudar, o que incomoda Murilo, que preferiria que fosse
algo discutido.

“Para minha mãe é tipo o fim, eu poderia ser tudo menos trans.”.

Ele se considera muito paciente com a mãe, que diariamente faz alguma
crítica a ele, como sobre o corpo, roupa e cabelo. Apesar disso, ele se sente
muito bem perto de seus pais e gosta de estar próximo a eles. Ele considera a
família em geral muito aberta, como tios e avós, exceto a mãe. Murilo ainda
não tem filhos, mas tem muita vontade ter. Ele não quer engravidar, e sim ser
pai, sendo que para ele o que impede no momento é ter uma melhor condição
financeira.

Murilo não sabe o que define sua masculinidade, disse que não acredita
ter coisas masculinas e femininas, mas que foi socializado a pensar
erroneamente que homens devem assumir o controle, estar no poder e ser
mais racionais. Ele acredita exercer esse poder em sua profissão, por ser chefe
de cozinha em um restaurante e ter que coordenar uma equipe.

167
“Eu sempre associei o sentimento a uma certa fragilidade e a mulheres. Então,
sendo racional eu me sinto mais homem, sabe?! Quando eu começo a ver que eu 'tô'
sentindo demais, eu fico c****** 'tô' fraco.”.

Murilo considera ter tido muita sorte em relação à questão financeira,


porque rapidamente conseguiu pular a etapa de ser cozinheiro e trabalhar
realmente na sua área, como chefe de cozinha. Além do salário dele permitir
que ele seja independente financeiramente e conseguir fazer a transição.

8.4. Caso 4: Rafael


Rafael, 33 anos, heterossexual, solteiro, autodeclarado branco,
agnóstico, residente em Belo Horizonte (MG). Possui ensino superior completo.
Atualmente está empregado. Tem rendimento mensal de 3 a 6 salários
mínimos. Declara que desde a infância tinha identificações com a
masculinidade. Com a idade entre 30 e 31 anos decidiu dar início ao processo
de transmasculinização.

Rafael se auto identifica socialmente em termos de gênero como homem.


Diz que isso é muito forte nele desde que tomou a decisão de passar pela
transição. Se identifica como homem e é assim que quer ser tratado. Utiliza o
nome social no trabalho, entre os colegas. Iniciou em seu atual emprego antes
do início da transição e já de início se apresentou com um apelido, pelo qual
era chamado por todos. Deseja realizar alteração do nome em seu cartão
bancário e também no cartão do plano de saúde (unimed). Entretanto foi
orientado pela advogada a não realizar esse trâmite no momento em função de
um processo contra a unimed ainda em andamento. Quando for possível pedir
tais alterações do nome aí usará em todos os lugares.

No trabalho, diz sempre ter sido masculino ¨assim, com esse jeito meu¨,
mas que tinha dificuldade de aceitar a si mesmo antes da realização da
cirurgia. As pessoas, não somente no ambiente de trabalho, o tratavam
utilizando pronomes masculinos ocasionalmente, em geral reconheciam um

168
corpo feminino, segundo Rafael principalmente em função dos seios e da voz
mais aguda, e assim o tratavam no feminino. Afirma que ainda há colegas de
trabalho que seguem utilizando pronomes femininos para se referirem a ele
embora já tenha se apresentado como trans e com seu nome social e realizado
a cirurgia de mamoplastia masculinizadora. Diz se incomodar com essa atitude
dos colegas e inclusive manifestar-se com relação a isso, entretanto ainda não
houve por parte dos mesmos.

Rafael diz que seu processo de identificação com o gênero masculino se


iniciou ainda muito cedo. Se sentia menino e relata ter sentido um baque em
uma determinada situação em que se deu conta de que seu corpo era igual ao
corpo das meninas:

¨O meu primeiro baque foi quando eu tinha uns sete anos mais ou menos, seis
ou sete... Porque assim, minha mãe não cortava meu cabelo, eu tinha o cabelo
grande. Porque ela achava lindo e etc e eu não gostava, mas enfim... Então eu era o
Paulo Ricardo do RPM, porque ele tinha cabelo grande, e então ele era o cara que eu
falava que eu era, né? E eu fui brincar com uma vizinha minha, e nessa brincadeira eu
era o Paulo Ricardo e ela era uma fã. E ela virou pra mim e falou:Vão brincar sem
roupa?¨. Na hora que ela tirou a roupa eu fui embora! Comecei a chorar, fiquei em
choque. Porque eu vi que ela era, eu tipo, que eu tinha o corpo igual ao dela,
entendeu? Na verdade o meu choque foi ali assim, porque ela era toda menininha e eu
não e de repente eu falei ¨Puts! mas é igual!¨, entendeu?¨

Rafael diz que sempre se identificou com os brinquedos e outras coisas


que são socialmente reconhecidos como para/de meninos. Identificava-se
também com o tio que desde a infância de Rafael vivem na mesma casa. Diz
que gostava das roupas do tio e que as usava durante a adolescência, ouvia as
mesmas músicas que o tio.

¨Eu achava as roupas dele muito legais. Eu queria realmente ser aquilo.¨

Embora não quisesse ter a mesma orientação sexual do tio, que é gay,
pois se interessa por mulheres.

169
Rafael fala também de um relacionamento sexo-afetivo longo, que durou
12 anos, de 2003 a 2014, que já iniciou apresentando uma identidade
masculina. Essa pessoa com quem se relacionava, segundo Rafael, era um
amigo trans seu, que também identificava-se no masculino. Eram amigos e
depois começaram a namorar,então diz que durante grande parte do
relacionamento foram um casal gay. Rafael nos relata que tanto ele quanto o/a
parceiro/a ao longo dos anos de relacionamento expressaram distintas
identificações de gênero. Como exemplo Rafael conta de um momento em sua
vida em que durante o período de três anos fez uso de anticoncepcionais em
função de um problema de saúde. Nos relata que durante esse tempo se sentia
muito mais emotivo e sensível, ¨aquela menina¨, e que se permitiu
experimentar e vivenciar a feminilidade. Segundo Rafael esses três anos foram
bons no sentido de que pode perceber e ter certeza daquilo que não era e não
queria ser, uma mulher.

¨Porque eu vestia roupas, vestido, saia...E eu assim, mas gente! Parecia que eu
tava usando uma fantasia as vezes sabe? Mas eu me permiti viver isso. E dentro do
meu relacionamento, então assim, é, é...a gente sempre teve essa coisa mais,
é...binária mesmo aí eu era a menina e tinha um menino, e vice-versa também, ela já
foi menina e eu menino, e a gente já foi muito menino menino mesmo. Que era o que
foi maior parte do tempo.¨

O uso de anticoncepcionais se deu por recomendação médica em função de um


sangramento que teve durante um ano, como uma menstruação constante embora
pouco volumosa. Rafael nos conta de uma particularidade, possui dois úteros, o
chamado útero bicorno e que em função disso tinha sangramentos excessivos que
buscou contornar através do uso de anticoncepcionais.

Em 2007 quando decidiu não fazer mais o uso de anticoncepcionais, decidiu


também cortar o cabelo e assim por um fim a essa fase. Rafael relata ter precisado
passar por curetagens em função de um acumulo de sangue em seus úteros que
teriam acontecido em função do uso de anticoncepcional que não fazia efeito com total
eficácia em seu organismo.

170
¨Isso não me faz bem. Eu não estou me sentindo como eu, como eu sou mesmo,
a minha essência não é essa.¨

Entretanto, passados quatro anos, em 2011, precisou tomar


anticoncepcionais novamente. Relata que antes de terminar a primeira caixa,
completanto o ciclo menstrual, voltou a se sentir mais sensível ¨aquela coisa
insuportável¨ e resolveu parar novamente. Rafael nos diz sentir que seu
organismo responde muito bem aos hormônios, tanto masculino quanto
feminino, e que realmente se sentia diferente quando tomava hormônios
femininos.

Com relação ao seu processo de modificação corporal, Rafael nos conta


que se iniciou em 2007, quando decidiu não tomar mais anticoncepcionais e
cortou os cabelos. Diz que foi neste momento em que tomou consciência de
que gostaria de ter um corpo masculino. Nos relata que soube da possibilidade
de transformar seu corpo quando viu reportagens e notícias sobre um homem
trans que estava grávido, com o qual logo se identificou. Entretanto diz também
das dificuldades relativas a ¨coragem¨ de materializar seus desejos de
transformação corporal. Nos conta que em 2012 viu o filme que marcou sua
vida e sua trajetória trans, no qual um dos personagens já idoso, após a morte
da esposa, se assume gay para o filho, Rafael diz que

¨a frase que ele falou entrou na minha cabeça e ficou assim: Meu Deus! Que ele
virou pro filho dele e falou assim ¨Eu sou gay. E eu vou fazer alguma coisa a respeito
disso.¨ Então quando ele fala isso (repete a frase), eu pensei no que eu estava
fazendo a respeito do que eu sentia. E eu nunca fiz nada. Até então, nunca tinha feito
nada até então. E eu falei ¨É agora.¨ sabe? Me despertou de alguma forma, sabe?
Essa frase de eu vou fazer alguma coisa a respeito disso, porque eu me sentia homem
só que eu não fazia nada a respeito da mudança que eu queria e aí eu decidi. O que
me deu força psicológica foi o filme (risos).¨

A partir de então Rafael procurou profissionais da saúde, começou a fazer


terapia junto a uma psicóloga. Nos relata ter sentido que teria muitas
dificuldades com a família, o trabalho, e em todos os demais âmbitos sociais, e

171
em função disso sentia medo e insegurança com relação a suas decisões e
como estas afetariam suas relações sociais. Com o acompanhamento
psicológico percebeu que as mudanças não aconteceriam tão rápido quanto
desejava, e se viu um tanto perdido com relação aos caminhos e tempos dos
processos que envolvem a transição.

Posteriormente fez um plano de saúde e começou a se informar sobre


médicos e as possibilidades acerca da cirurgia de mamoplastia
masculinizadora. Rafael diz que tinha seios muito volumosos, que lhe
causavam dores na coluna e traziam danos físicos a seu corpo, sendo
diagnosticado com gigantomastia. Além disso era algo que não gostava de ver
em seu corpo, que não sentia como parte de si e da imagem que gostaria de
ter. Com a cirurgia afirma terem sido retirados 3kg. A cirurgia foi realizada por
um médico conhecido da família com quem Rafael tinha uma boa relação e
abertura para expor o que desejava. A cirurgia foi então realizada como uma
cirurgia de redução dos seios, mas que foi na verdade, uma mamoplastia
masculinizadora, conforme haviam combinado para que o plano de saúde
cobrisse o procedimento.

Junto ao plano de saúde precisou fazer várias tentativas para autorização


do procedimento cirúrgico de redução dos seios em função da gigantomastia.
Depois de diversas respostas negativas, Rafael acionou uma advogada e
através de processo judicial obteve uma liminar que autorizou a realização do
procedimento, realizando então a cirurgia. Posteriormente perdeu a liminar e
atualmente a situação segue incerta e Rafael ainda não sabe se terá ou não
que arcar com os custos da cirurgia, o processo segue correndo na justiça. Em
função disso Rafael diz não ter ainda realizado a mudança do nome nos
documentos do plano de saúde.

Rafael nos conta que iniciou o processo de hormonoterapia após a


realização da cirurgia. Foi operado no dia 30 de março de 2015 e dia 27 de
abril tomou a primeira dose do hormônio Nebido. No dia de nossa entrevista 27
de julho de 2015, havia tomado a segunda dose. Através dos grupos de
homens trans e temas relativos a transmasculinidade Rafael obteve indicações
de um psiquiatra e de um endocrinologista que faziam acompanhamentos de

172
homens trans. Foi primeiro ao psiquiatra, ainda antes de haver realizado a
cirurgia, e diz haver sido muito bem atendido, marcando um retorno para
depois da realização da cirurgia. Quando voltou depois da cirurgia já obteve um
termo de consentimento do psiquiatra para que desse início ao tratamento
hormonal, termo solicitado pelo endocrinologista.

¨E aí eu comecei, dia 27 foi minha primeira dose. É...Nossa! Impossível


descrever tanta felicidade assim, porque eu já tinha feito a cirurgia e na verdade se eu
te falar que foi algo que nunca, assim, os enfermeiros do hospital falaram que nunca
assim viram nada igual. Eu não tomei um remédio pra dor! eu tenho 74 cm de cicatriz
e eu não tomei nada pra dor. Eu não senti dor, eu não senti dor! (...) Fui pra casa,
também não tomei nada pra dor!¨

e completa emocionado:

¨e a melhor sensação do mundo foi sair da cirurgia e logo em seguida, quando


eu levantei para ir ao banheiro, foi ver o meu reflexo no espelho. A primeira vez que eu
vi...eu falei ¨Meu Deus! Agora sou eu! Agora sou eu no espelho. Sabe? Foi a maior
felicidade da minha vida foi me ver no espelho logo depois que eu sai da cirurgia. E eu
acho que eu tava tão feliz que a dor nem veio por isso, sabe? É porque agora as
coisas se acertaram.¨

Com relação a hormonização Rafael afirma que preferiu fazer o caminho


mais seguro, com acompanhamento médico. Conta de uma experiência
anterior com a testosterona, em 2013, quando tomou uma dose de testosterona
(durateston) com um amigo trans, e teve uma grave crise de ansiedade e
pânico - e outras crises desencadeadas a partir daí que duraram cerca de um
ano-, precisando buscar atendimento médico e realizando certo
acompanhamento.

Atualmente não tem problemas. Está realizando acompanhamento com


médico endocrinologista que recomendou o uso de Nebido, como meio mais
seguro de realizar a hormonização. Rafael destaca o fator negativo da Nebido

173
relativo a seu preço, muito mais alto que os das outras testosteronas
disponíveis.

Com relação ao uso da Nebido, Rafael diz que tudo tem ocorrido bem e
tranquilamente. Diz da dor no momento da aplicação, que dura em média dois
minutos por se tratar de uma grande quantidade de líquido espesso, e que dura
aproximadamente quatro dias após aplicação. Diz que as mudanças são
suaves e gradativas. Já percebeu bastante alteração em sua voz, que o tem
deixado bastante feliz assim como o crescimento da barba, e as mudanças que
tem percebido nos traços do rosto e no formato dos ombros. Destaca também
mudanças com relação a aumento de libido e de força física.

Para o aumento do volume dos pêlos da barba Rafael também tem feito
uso de Minoxidil com propilenoglicol, utilizados em geral para calvice, mas que
é frequentemente utilizado por homens trans com o mesmo fim.

Pretende fazer logo a cirurgia de retira dos úteros e ovários pois mesmo
fazendo o uso de testosterona a taxa de hormônio estradiol continua alta, o que
cria a necessidade do uso de bloqueadores hormonais. Rafael explica que a
orientação do médio endocrinologista é de que o uso dos bloqueadores seja
por um período curto de tempo, de formas evitar os efeitos colaterais em
consequência de uso prolongado. E que a melhor forma de seguir o tratamento
será com a realização da cirurgia.

Com relação ao uso de outras técnicas de mudança corporal, Rafael nos


relata que antes da mamoplastia masculinizadora utilizava faixas para
compressão dos seios, mas que como tinha seios volumosos essa técnica
surtia pouco efeito e provocava falta de ar e escarificações na pele. O cirurgião
que visitou o orientou então a cessar o uso da faixa também em função da
flacidez que provocava, podendo dificultar ou mesmo prejudicar os resultados
da cirurgia. Rafael diz utilizar também o packer já há alguns anos.

Outro processo importante pelo qual passou nesse período foi a


eliminação de 40 quilos para realização da cirurgia. Rafael conta que pesava
120Kg e tinha pressão alta, e que sabia que sua cirurgia poderia não correr
bem em função de seu peso, o que lhe deu

174
¨força de vontade tão grande para fazer tudo direitinho que eu lutei para
conseguir assim. Não, vou mudar meus hábitos radicalmente.¨

Com a perda dos 40Kg sua pressão se estabilizou novamente e não


precisou fazer uso de remédios para tal fim.

Rafael avalia tudo o que fez e as técnicas que utilizou para modificação
de seu corpo como positivas, até mesmo o uso da faixa, que por mais que lhe
causasse uma série de danos, na época considerava aquilo como positivo por
deixar seu corpo mais próximo do que desejava. Avalia sua cirurgia como uma
das mais importantes realizações de sua vida, que lhe permitiu se olhar no
espelho e identificar-se com a imagem que nele se projetava. E aponta a
hormonização como um processo que

¨está fazendo com que tudo se encaixe¨, trazendo novas mudanças que são
celebradas a cada dia. ¨Então cada dia mais feliz, cada dia melhor.¨

Com relação ao processo transexualizador pelo SUS, Rafael afirma nunca


ter tentado essa via. Através de contatos com outros homens trans nas redes
sociais percebeu as dificuldades do processo e em se obter algum avanço.
Destacou também a questão da demora em outros atendimentos que teve pelo
SUS, e do sofrimento causado pela espera. Preferiu então optar por realizá-lo
através de um plano de saúde. Rafael nos conta que tinha acesso ao hospital
das clínicas da ufmg em função de seu útero bicorno, e que quando comentou
questões relativas ao processo ou a procedimentos de transmasculinização foi
silenciado e desencorajado pela médica que o atendia e que se negou a
realizar qualquer tipo de procedimento de retirada dos úteros e ovários.

Relata que o uso da testosterona já trouxe efeitos positivos com relação


ao excesso de menstruação.

175
Durante um período realizou acompanhamento psicológico por um ano
meio na universidade fumec, em que estudava, onde forneciam atendimentos
gratuitos para os estudantes por estudantes de psicologia em formação. Diz
que esse processo de auto escuta mediado pela terapeuta foi muito importante,
e que a partir de então pode resolver diversas questões de sua vida que
percebia como pendentes. Rafael afirma que o acompanhamento realizado lhe
fez muito bem e avalia positivamente a atuação de sua terapeuta. Os demais
acompanhamentos, de psiquiatra e endocrinologista são feitos através do plano
de saúde, assim como a cirurgia realizada. Avalia estes atendimentos como
excelentes, e destaca o fato de tê-los procurado em função das indicações que
recebeu de outros homens trans.

Com relação a características de seu corpo que são socialmente


compreendidas como femininas, Rafael diz que o que lhe incomoda é a voz,
que ainda acha bastante feminina, e que isso é ainda o que resta para ser
modificado. Fala que é identificado no masculino por outras pessoas, mas que
quando estas ouvem sua voz muitas vezes hesitam em tratá-lo no masculino
ou passam a tratá-lo automaticamente no feminino. Pretende realizar
acompanhamento com fonoaudiólogos para masculinizar a voz e a forma de
falar.

Rafael faz uma avaliação geral do atendimento do SUS positiva com


relação a outros momentos em que o demandou, como por exemplo quando
teve as crises de pânico e ansiedade e procurou o pronto atendimento. Diz que
no primeiro dia em que procurou o pronto atendimento foi acolhido por um
médico de forma que considerou insatisfatória, acabando por buscar o pronto
atendimento novamente no dia seguinte, quando foi atendido por uma médica
que o acolheu e acompanhou de maneira que avaliou como muito satisfatória.
Entretanto argumenta que necessitava realizar seu processo de
transmasculinização de maneira mais rápida que aquela oferecida pelo SUS.

Atualmente utiliza regularmente o serviço de endocrinologia com maior


frequência, e de psiquiatria.

176
Sua avaliação com relação a atendimentos ginecológicos se mostra
bastante negativa. Rafael relata que em sua última visita ao ginecologista, no
hospital das clínicas da ufmg, se sentiu muito mal e exposto. Diz desejar
realizar o quanto antes a retirada do útero para que não precise mais realizar
estas consultas. Disse que este atendimento foi realizado por três estudantes
de medicina e por uma professora, que na medida em que o examinava
expunha diversas questões e especificidades de seu corpo para as alunas,
gerando forte constrangimento em Rafael. Fala de outra experiência péssima,
em que esperou oito meses por uma consulta em que foi atendido por dois
alunos que não compreendiam nada a respeito do útero bicorno. Relata que
durante toda a consulta os alunos que realizavam o atendimento saiam para
conversar com a médica responsável que não participou em momento algum
da consulta.

Com relação a demandas ao serviço de saúde, Rafael diz que acredita


que tudo deveria ser mais acessível para a população. Argumenta que no SUS
deveriam haver políticas que informassem e capacitassem os profissionais com
relação ao uso e respeito do nome social e ao processo transexualizador de
modo geral. Reclama da falta de clareza por parte dos profissionais com
relação a encaminhamentos e procedimentos específicos. Demanda também
uma maior acessibilidade a medicamentos pelo SUS, que incluisse também a
testosterona para pessoas trans. Como caso da Nebido, cujo valor no mercado
é de aproximadamente R$510,00, o que inviabiliza ou dificulta o acesso para
grande parte das pessoas. Gostaria também que houvesse mudanças com
relação ao tempo e a burocracia que envolvem todos os processos e
atendimentos junto ao SUS. E também uma descentralização de pessoal, de
forma que os postos de saúde menores e que realizam atendimento mais local
tivessem também uma equipe com médicos especialistas em diversas áreas,
com destaque para psiquiatria. Esse destaque de Rafael se dá em função da
necessidade de acompanhamento psiquiátrico por dois anos segundo as
diretrizes que determinam o processo transexualizador.

Rafael diz não fazer uso de drogas. Eventualmente consome álcool, mas
com o uso da testosterona foi orientado pelo médico a reduzi-lo.

177
Com relação a experiências de situações de violência, Rafael relata ter
sofrido um abuso sexual aos 10 anos, por um vizinho muito conhecido da
família que passou a mão em seu corpo. Diz que para ele isso foi uma violência
muito grave até hoje. Relata também já ter sofrido violências verbais na rua em
função de sua masculinidade e então lesbianidade. Mas afirma sempre ter se
sentido seguro e a vontade de demonstrar afetos e tudo aquilo que sentia
vontade com suas parceiras.

Rafael diz que atualmente tem certo medo, mas que ainda assim acha
que em geral a questão da violência afeta a homens trans de maneira menos
intensa quando comparado as incidências de violência contra mulheres trans e
travestis, que segundo ele ainda sofrem um pouco mais. Diz que atualmente a
maioria das pessoas já o tratam no masculino em função de sua aparência,
mas que ainda assim tem certo receio

¨você pensa assim: nossa será que tem algum conhecido assim? Por exemplo,
uma pessoa do trabalho que é totalmente contra e que vai querer te fazer mal... Eu
tenho esse medo as vezes sabe? De será que alguém vai querer fazer mal pra mim?
Por eu ter feito essa escolha, por eu ter mudado meu corpo, etc. Mas eu vivo assim,
graças a Deus, muito bem. É, no trabalho as pessoas que lidam comigo acho que são
bem tranquilas. O meu chefe acho que é o mais tranquilo de todos, né? E é isso
assim, basicamente eu to vivendo bem.¨

Com relação a sexualidade, Rafael relata que se relaciona com mulheres,


se identifica como ativo, e que gosta também de penetração. Atualmente está
namorando, e diz estar feliz com sua escolha e seu relacionamento. Fala sobre
seu relacionamento anterior, que durou 12 anos, em que sua então
companheira em alguns momentos o apoiava e em outros não, o que lhe
gerava certo sofrimento e algumas dificuldades. E então após esse término e a
realização das intervenções cirúrgicas e do início da hormonização iniciou um
outro relacionamento, com um corpo novo do jeito que desejava. Disse que
então se sentiu homem totalmente, do jeito que sempre quis. Sua companheira
vive em Curitiba, e se encontram mensalmente. Atualmente planejam morar
juntos em BH ou Curitiba, ele diz que provavelmente ele irá se mudar para lá.

178
Pretendem ter filhos e já pensam sobre realizar inseminação artificial em um
momento de maior estabilidade. Afirma ter muita vontade de participar da vida
e da educação de uma criança. Diz que está feliz sexualmente. Afirma que tudo
melhorou após a intervenção cirurgica e a hormonização, que sente mais vigor
e força. Relata aumento da libido ¨ahh! eu fiquei bem mais safado! (risos)¨.
Afirmou que então se sentiu entregue e a vontade durante as relações sexuais,
em que estava com o corpo que queria ter, com o qual realmente se identifica.
E afirma não ter problemas com relação a sua genital, que os tinha
anteriormente, mas que com as modificações que já iniciaram com o uso da
testosterona já se sente melhor e satisfeito.

Com relação a família, Rafael é filho único e mora com a mãe, o pai, a
avó e o tio em uma casa da família. Diz que o tio, que foi uma referência
importante em sua vida, deveria ter uma cabeça melhor que a que tem. Não o
chama pelo seu nome social, tampouco o trata no masculino. Acredita que o tio
não consegue fazer isso por ter um pensamento com relação ao gênero muito
fortemente atrelada ao genital da pessoa. Diz que apesar disso gosta dele, mas
que deve aprender muito com relação a essas questões ainda, que o
incomodam muito nessa relação. Com a mãe a relação foi tranquila durante
maior parte do tempo, e tem sido bastante companheira ao longo de todo o
processo. Rafael relata que quando decidiu iniciar os processos de transição
conversou com sua mãe, que considera como uma pessoa muito importante
em sua vida, e que o apoiou desde o início. Esse apoio foi, segundo Rafael, de
grande ajuda e importância para que seguisse em frente ao longo de todo o
processo de das dificuldades que encontrava no caminho. Porém nos conta
que na medida em que suas decisões foram se concretizando sua mãe em
alguns momentos se mostrou ansiosa e preocupada, principalmente com
relação a intervenções cirúrgicas. Com o pai tudo correu tranquilamente
também. Rafael diz se preocupar desde sempre em não ferir os pais, que foi
algo que pesou muito durante o início de suas decisões com relação a
transição e que precisou ser bastante trabalhado durante sua terapia. Com a
avó a relação também é boa. Com relação a todas as dificuldades com
familiares diz que é preciso ter paciência, pois vem passando por muitas

179
mudanças e estes processos, para eles, são muito recentes, ao passo que
para Rafael fazem parte de um longo caminho anterior.

Com relação a trajetória escolar Rafael relata que durante boa parte do
período escolar não conseguia ser amigo das meninas, e os meninos
tampouco costumavam ser mais acessíveis. Então em geral fica sozinho.
Quando estava na sétima série, com aproximadamente 13 anos, depois de ter
sido reprovado e ter de repetir o ano, entrou em uma turma a qual se adaptou
muito bem e teve oito amigos, garotos, e foram da mesma turma de escola e
de amigos até a conclusão do ensino médio. Segundo Rafael eram os
melhores da turma e nesse período suas notas também estavam entre as
melhores e inclusive melhoraram em matemática, motivo de sua reprovação
anterior. Estudou em um colégio católico e avalia que teve uma boa formação.
Após a conclusão do ensino médio começou a trabalhar, passou por uma
secretaria de escola, uma loja de piercing, e por um tempo maior em uma
empresa de cobranças, trabalho que segundo ele o fez muito mal, sofrendo de
estresse profundo. Depois prestou vestibular por três vezes. Na terceira foi
aprovado no curso de Artes Visuais na UEMG, no qual se formou. Desde 2005
trabalha com design. Posteriormente, em 2011, realizou o curso de Jogos na
FUMEC e se formou em 2014 e desde então trabalha na própria FUMEC com
edição de vídeo. Pretende também montar um estúdio de tatuagem.

Rafael diz que não sabe dizer ao certo quais que pontos caracterizam
sua masculinidade. Diz que a forma com que se vê e se sente são essenciais
para si mesmo e inclusive para que pareça para as outras pessoas. Afirma que
no geral já se sentia homem, já se sentia no gênero masculino mas as
mudanças físicas foram muito importantes para alcançar o reconhecimento
social que desejava. E que quando isso começa a acontecer seria como uma
materialização, realização dos seus desejos e expectativas. Com relação a
especificidades de sua masculinidade, diz que ela tem uma forte carga de
doçura, que cultivou por toda a vida, que tem um jeito de ser atencioso,
cuidadoso. Diz ser ¨a moda antiga¨, que gosta de agradar. Descreve sua
masculinidade como uma masculinidade especial.

180
Rafael não vê relação entre identificações com a masculinidade e
questões geracionais.

Com relação a questão racial acredita que se relaciona com a questão de


gênero como mais uma instância em que se constroem preconceitos e
discriminações sociais. Afirma não entender pessoas que passam por
situações ou experiências de discriminação e discriminam outras pessoas em
uma situação distinta.

Com relação a sua situação econômica Rafael diz estar bem, estável em
seu emprego e com um retorno financeiro razoavelmente bom, que lhe permite
viver confortavelmente.

Com relação a religião diz que acredita em diversas coisas, energias,


forças. Não gosta e não frequenta nenhuma religião. Gosta de rezar
intimamente, sozinho. Diz não ter preconceitos com nenhuma religião, mas que
se sente incomodado com diversos posturas de alguns evangélicos, o que
acaba por gerar uma antipatia com algumas pessoas, mas ainda assim procura
lidar bem com essas situações.

Com relação a sua sociabilidade com outros homens trans, Rafael diz
fazer parte dos grupos nas redes sociais. Diz que tem contato mais próximo
com alguns homens trans de Belo Horizonte e Região Metropolitana, muito em
função das indicações e trocas de informações. Rafael diz que em função de
questões de trabalho e de tempo tem não tem participado dos encontros nos
últimos anos, mas que já participou de alguns. E que segue mantendo contato
pela internet.

8.5. Caso 5: Júlio


Júlio, 26 anos, bissexual, solteiro, autodeclarado branco, agnóstico,
residente em Belo Horizonte (MG). Possui ensino médio completo e,
atualmente, não está fazendo curso superior ou técnico. Atualmente está
desempregado. Tem r. Declara ter tido consciência de que desejaria viver e se
identificar socialmente no gênero masculino aos 24 anos de idade. A trajetória
de Júlio é amplamente marcada por processos subjetivos de ressignificação da
masculinidade e da sexualidade.

181
Júlio se identifica como homem trans não binário.

Com relação ao uso do nome social, Júlio diz que o vem utilizando na
internet, com amigos, e que já fez também algumas entrevistas de emprego
com seu nome social. Em casa com os familiares diz não usá-lo até então.

Relata problemas com relação ao uso do nome social em consultas


médicas que realiza através de plano de saúde (Unimed). Diz que em geral os
médicos que frequenta respeitam seu nome, mas o mesmo não ocorre entre as
secretárias e se sente inseguro e com dúvidas sobre como abordá-las com
relação a isso.

Com relação a seu processo de identificação com o gênero masculino,


Júlio nos relata que foi um processo longo e confuso. O rapaz, que por muito
tempo se entendeu enquanto lésbica, nos conta sobre uma pressão no sentido
de que se pode ser uma lésbica masculina, mas não excessivamente
masculina.

¨Ah, você é mulher, não precisa virar homem. E eu não tinha referência
nenhuma do que que era um homem trans. Eu só conhecia mulheres trans, travestis.
Aí quando surgiu esse questionamento uma vez eu deixei de lado, continuei vivendo
acho que era bobagem. E aí foi há pouco tempo, com uma pessoa próxima que
começou a transição, e aí outra pessoa começou a transição também... Aí eu falei
assim: ¨Ah! pera, calma, deixa eu dar uma olhada nisso aqui de novo. Aí eu percebi
que era isso.¨

Júlio nos conta que nesses dois momentos, naquele em que se negou e
naquele em que resolveu pensar melhor sobre sua transmasculinidade, foram
determinantes as influências de suas então companheiras. No primeiro
momento quando falou sobre o assunto com sua então namorada, Júlio diz que
que ela tratou o assunto como se fosse uma bobagem sem importância de sua
cabeça, e o estimulou a não pensar sobre isso. No segundo momento, disse
que os sentimentos foram mais intensos e que foi incapaz de ignorá-los

182
novamente, e que o apoio de sua namorada atual foi fundamental em seu
processo de identificação com a transmasculinidade.

Outro fator importante nesse processo, segundo Júlio, foi que tinha
apenas referências de masculinidades as masculinidades hegemônicas ou,
como diz, padrão. E que em seu processo de identificação precisou de outras
referências de pessoas trans que experienciavam e expressavam
masculinidades menos estereotipadas. Ele menciona masculinidades gays,
bissexuais e outras transmasculinidades como referenciais importantes nesse
processo.

Com relação a modificações corporais, ainda não realizou nenhuma


cirurgia. Recentemente conseguiu uma receita de testosterona (Nebido), mas
em função de seu alto custo ainda não pôde adquiri-la e realizar a aplicação.
Júlio nos relata ter alguns problemas de saúde que inviabilizam o uso de
testosteronas mais comuns e econômicas, como Deposteron e Durateston, que
operam através de picos de hormônio, que estressam excessivamente os
músculos o que poderia agravar seu quadro de saúde.

Afirma que gostaria de realizar a mamoplastia masculinizadora e a


cirurgia de metoidioplastia.

Ele nos explica que tem uma condição médica chamada fibromialgia e
mais recentemente descobriu o diagnostico de espondilite anquilosante, que
diz ser um tipo de reumatismo que atinge a coluna. Descobriu que com relação
a Fibromialgia o uso de testosterona pode trazer melhorias no quadro, mas os
picos não são recomendados.

Para conseguir a receita, relata que foi necessário passar por uma
psicóloga e psiquiatra com o objetivo de conseguir uma declaração e então se
consultar com endocrinologista. Júlio destaca que para ele essa questão se
deu de maneira mais tranquila devido a já realizar esses acompanhamentos
antes por outros motivos. A realização desses procedimentos foi pelo plano de
saúde, exceto o acompanhamento psicológico, o qual foi por meio de consultas
particulares.

183
Outras modificações corporais foram a modificação das roupas para
peças mais masculinas, e o uso de cortes de cabelo que também considera
mais masculinos e menos andróginos do que usava anteriormente e tem se
sentido melhor com essas mudanças. Tem feito também uso de Minoxidil para
estimular o crescimento e aumento do volume dos pelos. O que não faz tanto
efeito em pessoas que não estão utilizando testosterona simultaneamente, mas
que já vem usando para estimular.

Júlio diz que para ele o binder é um problema, pois comprime tanto a
parte posterior dos seios quanto a anterior das costas, o que o faz sentir muita
dor e inviabiliza seu uso. Diz que já tentou utilizá-lo algumas vezes, mas a dor
torna-se insuportável em poucos minutos.

Mesmo com o uso das técnicas de masculinização do corpo que realizou


até então, o entrevistado afirma que as pessoas que não o conhecem seguem
tratando-o no feminino, não o lendo como homem.

Com relação ao processo transexualizador pelo SUS, Júlio afirma nunca


ter dando entrada pois em Belo Horizonte não há um ambulatório trans que
possa oferecer acolhimento e acompanhamento de pessoas trans, o que para
ele impossibilita o acesso ao serviço. Sendo assim tem feito acompanhamento
através de seu plano de saúde. Afirma ainda não ter realizado nenhum
processo burocrático de solicitação de mudança de nome. Avalia seus
atendimentos como bons, em função de sempre procurar indicação com outros
homens trans sobre médicos que realizam atendimentos com estes sujeitos e
se mostram mais sensíveis a questão. Comenta que teve sorte com relação a
reumatologista, a quem buscou por ser referência com relação a Fibromialgia e
que o atendeu bem e não criou problemas com relação ao uso de testosterona,
por exemplo.

Com relação a características de seu corpo que são lidas socialmente


como femininas, Júlio afirma sentir incômodo principalmente com relação aos
seios e a com sua voz, que considera muito aguda e feminina. Diz que esses
incômodos são mais externos que internos, ou seja, se dão mais em função de
aparecerem e serem vistos pelas pessoas que em função deles o identificam
como mulher cis e o tratam utilizando pronomes e artigos femininos.

184
Utilizam regularmente os serviços de saúde de psicologia, realizando
consultas semanais, a psiquiatra visita a cada 40 dias e o endocrinologista
visitou duas vezes e ainda não sabe qual será a frequência após o início da
hormonioterapia. Pretende começar a fazer fisioterapia, o que acredita que o
levará a ter consultas mais regulares também com a reumatologista que o
atende. Sobre a experiência com atendimentos ginecológicos, Júlio disse ter
ido somente uma vez a uma consulta do tipo, já há muito tempo, via SUS e
disse ter corrido tudo bem. Afirmou ter pegado indicação com sua psicóloga de
outra médica ginecologista com quem irá se consultar no mês de setembro.

Com relação a demandas aos serviços de saúde, Júlio considera


importante que haja mais médicos endocrinologistas capacitados para tratar e
acompanhar pessoas trans. Diz que precisa também de outros atendimentos
especializados tais como de reumatologia e fisioterapia, que pelo SUS diz que
não conseguiria acessar. Além disso, ele também fala sobre a necessidade de
um processo mais agilizado de encaminhamentos, consultas, exames.

Com relação a uso de drogas e medicamentos, Júlio faz uso de


Paroxetina (antidepressivo) e Donarem (para reduzir ansiedade e ajudar a
dormir). Diz também utilizar álcool e maconha com uma frequência bem baixa.
Relata-nos que gostaria de fazer uso medicinal de maconha em função dos
efeitos positivos que pode trazer para seu quadro de fibromialgia.

Com relação a situações de violência, relata que com sua


masculinização mais intensificada das roupas e cortes de cabelo, se
intensificaram também as violências causadas por olhares de desprezo e
desaprovação pode desconhecidos em locais públicos. Mas que nunca sofreu
violência física, tampouco verbal até então.

Júlio se identifica como bissexual, por sentir atração por mais de um


gênero. Acerca de seu processo de identificação como bissexual, ele comenta:

¨Foi uma coisa interessante. Porque antes eu, antes eu só gostava de mulher.
Mas aí hoje eu percebo que o problema era eu me relacionar com um cara e esse cara

185
estar me lendo como mulher. Aí hoje em dia se eu estou com um homem e ele me lê
como uma pessoa transmasculina”

Hoje diz sentir certa insegurança nesses casos, mas que não sente
mais o estranhamento que sentia antes. Relata-nos esse processo um tanto
tortuoso e com certas dificuldades, de modificação de sua identificação a
respeito da sexualidade como algo que derivou de sua identificação com a
transmasculinidade, que provocou mudanças e rearranjos em sua forma de se
relacionar sexo-efetivamente com outras pessoas. Júlio afirma ficar confuso em
alguns momentos com seus sentimentos com relação a homens, que variam
entre certa “inveja” do corpo e da aparência, e em alguns casos o desejo e a
atração mais propriamente ditos.

Atualmente está em um relacionamento aberto com uma mulher cis e


bissexual, com quem se relaciona já há três anos. Relata também que sua
forma de fazer sexo mudou um pouco, mas até então menos do que pensava
que mudaria. Diz estar se descobrindo uma pessoa mais ativa, e que em seu
relacionamento estão negociando e se adaptando as novas mudanças e
dinâmicas durante o sexo.

Júlio é filho único. Relata ter uma relação mais próxima com a mãe e
mais distante com o pai, embora os três vivam juntos, com mais uma tia e um
tio. Diz que durante a adolescência teve dificuldades na relação com a mãe,
que segundo ele era excessivamente protetora. Quando contou sobre sua
transmasculinidade disse que ao mesmo tempo em que foi compreensiva teve
também uma série de dificuldades, acredita que estão em um processo no qual
está começando a conhecer e se familiarizar com a questão. Disse também
que ainda não tocou nessa questão com outros parentes que vivem em sua
casa. Com os outros parentes mais distantes diz que não pretende a princípio
ter uma conversa do tipo. Considera como família seus pais e os tios que vivem
com ele na mesma casa, e outra tia com quem tem posicionamentos políticos
mais semelhantes.

Júlio diz que ele e sua companheira não pretendem ter filhos, não têm
vontade, ao menos atualmente.
186
A trajetória escolar de Júlio foi bastante solitária. Não sofria bullying, mas
foi uma criança muito isolada, que não era ¨zuada¨ pelos colegas, mas que
também não tinha uma relação de conversa ou proximidade com eles. Durante
o ensino médio teve grupo de amigos, mas ainda assim se sentia um tanto
deslocado, com uma sensação de não pertencimento.

Diz que pretende voltar a estudar e cursar faculdade de Design. Mas que
atualmente, em função de dificuldades financeiras não se encontra em
condições de estudar em um cursinho preparatório para o ENEM e tampouco
para arcar com os custos de materiais durante o curso de graduação. Que no
próximo ano pretende prestar o ENEM e tentar alguma vaga no Prouni em sua
faculdade de preferência.

Júlio diz entender sua masculinidade como menos estereotipada, que


tem como referências em geral homens gays, e que não se interessa por
referências de masculinidade hegemônica heterossexual. Relata que
principalmente através da internet pode entrar em contato com outros sujeitos
que experienciam a transmasculinidade construindo outras formas de
masculinidade e de referências para outros sujeitos trans. Diz que no I ENAHT 3
pode entrar em contato e conhecer pessoalmente essas pessoas, que avalia
muito positivamente essa experiência em que pôde entrar em contato e
conversar com pessoas que tinham diferentes experiências e formas de
identificação com a transmasculinidade. Relatou o encontro como um espaço
muito interessante, que proporcionou convivência entre os diversos sujeitos
que experienciam a transmasculinidade de diversas formas.

Com relação a questões geracionais relacionadas a identificações com a


transmasculinidade, Júlio relata perceber que entre os homens trans mais
velhos, há mais ou menos uma linearidade, ou certo padrão, nas formas de
identificação com a masculinidade e de construção do corpo.

¨Eu acho que quanto mais novo é o pessoal, mais eles tão se sentindo
confortáveis com outras coisas. Eu vejo muito isso no, vi isso no... lá (no ENAHT). E

3
I Encontro Nacional de Homens Trans, evento realizado em fevereiro de 2015.

187
vejo muito no Facebook também. Que aí tem um cara trans que eu sigo, não binário,
que ele tá com um neném recém-nascido, então tá amamentando, fazendo essas
coisas. ¨

Entende que antigamente havia uma maior pressão externa a


adequação a um determinado tipo de masculinidade para que fossem
respeitados, pois não tinha nenhum espaço garantido ou respeitado. Avalia que
atualmente as pessoas estão mais livres para construírem outras
masculinidades.

Com relação à questão racial, diz só se sentir a vontade para falar do


que as outras pessoas não brancas falam, marcando sua posição de privilégio
como uma pessoa branca, que os problemas de pessoas brancas que
decidiram transicionar, após a transição se diluem ou se tornam mais fáceis. Ao
passo que entre pessoas negras, segundo as mesmas relatam, passam de um
problema para outro deixando de ser lidas como objetos muito sexualizados e
passando a ser lidas como uma ameaça.

Para Júlio, sua situação econômica influencia em seu processo de


masculinização atualmente em função de estar desempregado e, portanto, sem
ter os recursos financeiros necessários para ter acesso aos hormônios.
Gostaria também de ter condições financeiras de modificar todo o seu guarda-
roupa de uma vez, mas que tem feito isso aos poucos de acordo com suas
possibilidades. Diz também não saber se sua transexualidade pode ter
influenciado em alguma das entrevistas de emprego como fator negativo,
embora acredite nessa possibilidade. Acredita que suas questões e limitações
de saúde influem também em sua situação trabalhista, tendo em vista que
atualmente não se vê em condições de trabalhar, por exemplo, em um
emprego que exija oito horas diárias. Pretende melhorar questões relativas a
saúde para então buscar emprego de forma mais incisiva.

A questão religiosa não é central ou muito relevante para Júlio. Tem


vontade de procurar um centro espírita, mas que até hoje teve experiências
ruins em função do conservadorismo das pessoas. Relata que seus pais se
casaram na Umbanda, e que quando era criança, eles eram mais envolvidos
188
com a religião e depois foram se afastando. Diz então ter vontade de procurar a
Umbanda, também em função do histórico positivo da religião com relação a
questões de gênero.

Com relação a sua sociabilidade com outros homens trans, Júlio diz que
tem sido boa. Que teve medo de que sofresse em função de posturas e
atitudes de bifobia, mas que isso não ocorreu. Diz que há uma boa rede de
apoio, mas que gostaria que fosse mais intensa e mais presencial que virtual.
Diz que se fica sem aplicativos de comunicação ou redes sociais 4 acaba
ficando de fora das redes de contatos e dos grupos nos quais as pessoas mais
conversam e trocam informações. Diz contar com o apoio mais
especificamente de pessoas que vivem em BH ou região metropolitana, que
têm um grupo específico, e que se unem para discutir as questões relativas às
suas experiências de transmasculinidade.

9. Considerações Finais
De acordo com os dados coletados através da aplicação de
questionários e por meio de entrevistas semi-estruturadas percebemos
algumas considerações podem ser levantadas a respeito das especificidades
das vivências dos homens trans.

Primeiramente, no que se refere às relações no universo familiar,


percebe-se como estas se desenrolam em meio a negociações nas quais, por
vezes, a identidade de gênero dos sujeitos não é respeitada: 55,56% dos
entrevistados disseram que os pais reprovam sua transexualidade e 40,74%
afirmaram que os pais não respeitam o nome social. Estes dados apontam
para a dificuldade de reconhecimento que os homens trans possuem mesmo
no âmbito privado. O processo pelo qual eles passam afeta a família
diretamente na medida em que todas as relações do sujeito se modificam:
aquele que antes era visto como alguém do gênero feminino exige o
reconhecimento enquanto uma pessoa do gênero masculino. Este
deslocamento se mostra problemático dentro de uma perspectiva que imagina
o gênero como algo decorrente da genitália.

4
Júlio exemplifica citando a rede social Facebook e o aplicativo de troca de mensagens instantâneas
Whatsapp

189
Tais situações provocam fissuras nessas relações e, ao mesmo tempo,
o distanciamento familiar dificulta a trajetória desses homens de diversas
maneiras. A negação da identidade de gênero por parte da família pode
influenciar diretamente, por exemplo, no que se refere às questões financeiras.
Sem o apoio familiar o sujeito precisa trabalhar para sustentar suas
necessidades, o que, por vezes, compromete seu processo de transição. Os
hormônios que ingerem para modificar seus corpos tem preço muito elevado, o
que impossibilita que muitos deles busquem a hormonização pela via privada.
A falta de apoio familiar também influencia fortemente a autoestima destes
homens, uma vez que a negação de suas identidades de gênero configura-se
como uma violência psicológica que tem reflexos no próprio âmbito da saúde
destes sujeitos.

Nos espaços da escola e do trabalho este não reconhecimento é


acrescido, muitas vezes, por outras dinâmicas de exclusão, que se (re)afirmam
nas burocracias e formas de organização destes espaços. O não
reconhecimento do nome social e a interdição do uso de banheiros referentes
ao gênero identificado, por exemplo, são alguns dos exemplos de situações
que desafiam e violentam suas experiências. Principalmente através das
entrevistas, percebeu-se que, nestes ambientes, há uma constante negociação
destes sujeitos com os espaços em que circulam.

As situações de violência vivenciada por eles são bastante complexas e


envolvem diferentes naturezas como as de ordem física, psicológica, sexual e
institucional propagadas por diferentes agentes e também em diferentes níveis.
De uma maneira geral, destaca-se uma condição de vulnerabilidade que é
tratada, na maioria das vezes, com descaso pelo poder público, o qual
invisibiliza suas demandas e, mais ainda, suas próprias experiências.

No que se refere à procura e acesso aos serviços de saúde, são


relatadas diversas dificuldades como: a falta de acolhimento, o não
reconhecimento do nome social por agentes e profissionais de saúde, o
descaso profissional com relação às suas demandas, além da condição
patológica em que suas experiências são interpretadas.

190
A situação de insegurança vivenciada por muitos e o receio de sofrer
constrangimentos, na maioria das vezes, resultam na não procura por
atendimento médico e no afastamento desses serviços, levando-os a
elaborarem outras estratégias que deem conta de suas demandas. A
configuração de redes de apoio e de troca de informações foi uma das
situações percebidas ao longo da pesquisa, principalmente via internet. Nesse
espaço, percebe-se uma articulação desses sujeitos, onde compartilham suas
experiências de transição, trocam indicações de profissionais, técnicas,
medicamentos e posologias, o que demonstra como a carência de serviços e
atendimento profissional leva-os a desenvolverem formas de resistência para
assegurar seus processos de transição e identificação. Esta é uma dinâmica
complexa que, ao mesmo tempo em que opera criando laços e uma rede de
contatos mais ampla, acaba por substituir acompanhamentos adequados e
especializados para as demandas específicas de cada um.

Além disso, outra estratégia acionada por muitos é a da automedicação


ou a procura de profissionais farmacêuticos, o que se configura enquanto forma
de solucionar emergencialmente algum problema. Conforme apareceu em
alguns relatos, a procura por ajuda médica esteve relacionada, muitas vezes, a
uma condição agravada de saúde, ou seja, quando o comprometimento atinge
níveis quase insustentáveis, o que é muito revelador da condição de
insegurança vivenciada por muitos.

O sistema de saúde público é visto, pela maioria, como ineficiente frente


às suas demandas, além de serem recorrentes as críticas ao Processo
Transexualizador do SUS, tanto pela morosidade do mesmo, quanto pelo
acompanhamento psicológico compulsório, desaprovado unanimemente.
Observa-se que tal caráter de obrigatoriedade, ao retirar do sujeito qualquer
poder de autonomia, delega ao Estado e aos profissionais o direito de
intervirem sobre suas escolhas, criando uma relação tutelar.

O processo transexualizador em São Paulo, conforme foi relatado, pode ser


acessado tanto pelo Hospital das Clínicas (USP), quanto pelas unidades de
CRT’s. A grande demanda atual faz com que o processo seja ainda mais
moroso do que o previsto, o que foi mencionado algumas vezes nesta

191
pesquisa. Além disso, ao padronizar um único tipo de tratamento, modelo a ser
seguido pelos protocolos, excluem-se outras inúmeras possibilidades de se
vivenciar as transexualidades, além de resumir as demandas a um único
quadro de referência. Reclamações acerca da necessidade de acessar outros
serviços para a transição ou com relação a outros tipos de prioridades
apareceram com alguma constância nos relatos.

Em Belo Horizonte e região metropolitana, o contexto de atendimento à


saúde de pessoas transexuais se faz pelos órgãos de saúde básica e
complementar. Não há na capital nem no interior do estado nenhum hospital
universitário credenciado ao programa do Processo Transexualizador do SUS.
Os participantes da pesquisa relatam a busca por atendimento em posto de
saúde regionais, alguns hospitais que atendem pelo SUS na capital e
atendimento via planos de saúde e particulares. Houve recentemente iniciativas
institucionais em resposta às demandas dos usuários e dos movimentos
sociais, no sentimento de credenciar o Hospital das Clínicas (UFMG) no
programa nacional, porém até o momento não há notícias sobre este processo.
No interior do estado, na cidade de Uberlandia, há um ambulatório de
atendimento à pessoas transexuais, porém esta área não compreende uma
região de abrangência da pesquisa.

O que verificou na pesquisa é que grande parte dos que fazem


acompanhamento com algum profissional atualmente, o faz, na maioria das
vezes, via plano de saúde ou particular, o que nem sempre garante acesso
livre de constrangimentos e/ou riscos. Considerando, porém, que, de maneira
geral, tais benefícios são acessados apenas por pequena parcela da
população, cabe refletir como as possibilidades de vivenciar essa transição é
limitada por aspectos econômicos e sociais.

Os homens trans enfrentam as diversas camadas burocráticas e


preconceituosas desde o início do tratamento transexualizador (Arilha, 2010;
Ávila e Grossi, 2011; Freitas, 2014). Postos de saúde e mesmo consultórios
particulares com profissionais despreparados para lidar com as especificidades
e demandas dessa população. Os relatos dos nossos interlocutores tem
revelado que a maioria dos médicos não conhece a possibilidade de existência

192
dos homens trans. Muitos deles figuram como “o primeiro caso” para seus
endocrinologistas e psiquiatras. O preconceito e a falta de preparo dos
profissionais constrangem os homens trans que, muitas vezes, não tem seu
nome social respeitado, e tampouco suas vivências.
além desses problemas, um paradoxo se instala: no caso dos homens
trans quanto mais masculino, mais próximo do estereótipo do masculino, mais
fácil de se ter acesso aos hormônios, ou melhor, mais provável que o médico
se disponha a iniciar ou continuar um tratamento. Mas, para se obter essa
aparência mais masculina, a utilização da testosterona tem um papel
fundamental. Se ela é negada quando o homem trans está querendo iniciar seu
processo transexualizador, seu caminho será mais longo e mais difícil do que o
do homem trans que já faz uso do hormônio antes de procurar um médico.
Esse uso só é possível através da compra dos hormônios por vias irregulares
que não passem pelo consultório médico, o que vulnerabiliza essa população
ainda mais. A falta de um acompanhamento médico adequado pode levar a
sérios problemas de saúde, sem contar a vulnerabilidade social e econômica
dos homens trans nessa situação.
A noção de atenção integral à saúde deveria ir muito além do
ambulatório e do hospital. Como bem nos lembra Freitas (2014, p. 49-50):

“Ao debatermos saúde é importante considerarmos não somente as


implicações das intervenções no corpo. A integralidade da saúde e bem
estar desses sujeitos devem considerar as condições sociais em que
estão inseridos. Entre transexuais e outras populações vítimas de
discriminação e preconceito são frequentes os problemas como a
violência, o consumo de drogas, o alcoolismo, a depressão, a e outras
situações de saúde decorrentes da exclusão social, agravadas pela
dificuldade de se profissionalizar e obter renda própria. Estes são fatores
que se entrecruzam e maximizam a vulnerabilidade, e o sofrimento
destas pessoas.”

Contudo, para que os sujeitos possam assim se reconhecer, o sistema


público (e tb o privado) de saúde o Brasil também precisa reconhecer os
lugares de enunciação de homens (e mulheres) trans, sujeitos e corpos com
especificidades e demandas que não se resumem a alterações no corpo dentro
de uma lógica dicotômica pautada em corpos femininos ou masculinos. A
Portaria, por ex., ao classificar os procedimentos, utiliza-se ainda dos

193
referenciais “sexo feminino” para se aos homens trans e “sexo masculino” para
as mulheres trans. Por mais que essa terminologia possa fazer sentido do
ponto de vista médico, ela constrange e regula as experiências trans,
colocando os sujeitos sob a tutela de um saber médico que desconhece as
experiências e especificidades desses sujeitos.
Nesse sentido, a proposta da atenção integral à saúde pode ser um
começo, desde que a integralidade do cuidado envolva não apenas uma
humanização nos serviços oferecidos apenas de acordo com o ponto de vista
dos profissionais envolvidos, mas que respeite as posições de enunciação de
homens e mulheres transexuais.
Em outras palavras, que os homens trans possam, por exemplo, chegar
num consultório médico sem a obrigatoriedade de performatizar o estereótipo
do masculino para conseguir uma receita de testosterona, que sejam
atendidos, ouvidos e respeitados em seus anseios e necessidades como
cidadãos que tem direito à atenção integral da sua saúde, independentemente
de sua genitália, da sua performatividade de gênero ou da sua “aparência”. Em
suma, uma humanização no acesso aos serviços e no atendimento que
substitua aqueles momentos, nas palavras de Butler, “em que alguém vai até
os psicólogos, psiquiatras, profissionais médicos e legais para negociar o que
deve sentir, como o não reconhecimento do gênero de alguém ou, ainda, o
não reconhecimento da condição humana de alguém.” (Butler, 2004, p.58,
tradução livre).

10. Bibliografia consultada ao longo da pesquisa

ALMEIDA, Guilherme. S. “Homens trans”: novos matizes na aquarela das


masculinidades?”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 02,
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transexualizador no SUS a partir de uma experiência de atendimento.” In:
ARILHA, Margareth, LAPA, Thaís S., PISANESCHI, Tatiane C.
Transexualidade, travestilidade e direito à saúde. São Paulo, Oficina
Editorial, 2010, pp.117-148.
ALMEIDA, Guilherme. S.; MURTA, Daniela. “Reflexões sobre a
possibilidade da despatologização da transexualidade e a necessidade da

194
assistência integral à saúde de transexuais no Brasil”. Sexualidad, Salud y
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AMARAL, D. M. Os desafios da despatologização da transexualidade:
reflexões sobre a assistência a transexuais no Brasil. 2011. 107f. Tese
(Doutorado em Saúde Coletiva) – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
ARÁN, Márcia. “A saúde como prática de si: do diagnóstico de transtorno de
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ARILHA, Margareth, LAPA, Thaís de Souza, PISANESCHI, Tatiane Crenn.
Transexualidade, travestilidade e direito à saúde. São Paulo: Oficina
Editorial, 2010.
ÁVILA, S. N.; GROSSI, M. P. “O 'Y' em questão: As transmasculinidades
brasileiras”. In: FAZENDO GÊNERO 10, 2013, Florianópolis. Fazendo
Gênero 10 (anais eletrônicos). Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Catarina, 2013. v. 1. p. 1-12.
BAUMAN, Z. O Mal-estar da Pós-modernidade. Brasil: Zahar, 1999.
BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo. Brasil: Nova Fronteira, 2009. 936 p.
BENEDICT, Ruth. Padrões de Cultura. Brasil: Vozes, 2013.
BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência
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BENTO, Berenice. Sexualidade e experiências trans: do hospital à alcova.
Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 10, out. 2012. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232012001000015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 3 mar. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 457, de 19 de agosto de 2008.
Aprovar, na forma dos Anexos desta Portaria a seguir descritos, a
Regulamentação do Processo Transexualizador no âmbito do Sistema
Único de saúde – SUS. Diário Oficial União. 19 ago. 2008; Seção 1.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 859, de 30 de julho de 2013.
Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de
Saúde - SUS. Diário Oficial União. 30 jul. 2013; Seção 1.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.579, de 31 de julho de 2013.
Suspende os efeitos da Portaria nº 859/SAS/MS de 30 de julho de 2013.
Diário Oficial União. 31 jul 2013; Seção 1.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.707, de 18 de agosto de 2008.
Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o Processo
Transexualizador, a ser implantado nas unidades federadas, respeitadas as
competências das três esferas de gestão. Diário Oficial União. 18 ago.
2008; Seção 1.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2803, de 19 de dezembro de
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