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Contratante: Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS
Executor: Painel Pesquisas, Consultoria e Publicidade Ltda.
Contrato: n.º 53/SMADS/2021
Processo Licitatório: nº 46/SMADS/2021

COORDENAÇÃO DO OBSERVATÓRIO DA VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL COVS | SMADS

Carolina Teixeira Nakagawa Lanfranchi


Viviane Canecchio Ferreirinho
Maria Clara Ferreira da Silva
Maria Rita Gomes de Freitas
Filipe Santoro

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EQUIPE TÉCNICA - PAINEL PESQUISAS E CONSULTORIA

Direção Executiva
Ermelinda Maria Uber Januário

Coordenação Geral
Maria Helena Provenzano
João Jeronymo de Aquino Neto

Pesquisadores Sênior
Luciana Pena Morgado
Ana Carolina Martins Gil
Ermelinda Maria Uber Januário

Pesquisadores Pleno
Thaís Navas Marques Luiz
Samira Heidy da Silveira Nagib

Técnicos em Tecnologia de Informação


William Spiess
Allan Patrick Xavier dos Santos
Emanoel Alves Junior

Técnico em Geoprocessamento
Emanoel Alves Junior

Estatística
Fátima Mottin

Revisor Ortográfico
Lucas Amorim

Design Gráfico
Rafael Uber
Isabela Bortoletto Bozzola

Apoio Logístico
Diana Garbin
Lohane Renata de Castro Pereira

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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa com os pontos de concentração de CASR e dos riscos sociais identificados na etapa
da pesquisa dos informantes ........................................................................................................ 20

Figura 2: Mapa Racial da População de São Paulo/SP ................................................................... 23

Figura 3: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Raça/Cor Branca ..................... 23

Figura 4: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Raça/Cor Parda ....................... 23

Figura 5: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Raça/Cor Preta ....................... 23

Figura 6: Divisão territorial dos distritos de São Paulo para a pesquisa censitária de CASR .......... 24

Figura 7: CAs em situação de rua e CAs em instituições de acolhimento ...................................... 28

Figura 8:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos ............................ 40

Figura 9:Amostragem não-probabilística por cotas, dividida em dois grupos ............................... 45

Figura 10:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos........................... 76

Figura 11:Critério de análise das atividades relacionadas aos riscos sociais ................................. 77

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1:Variação percentual entre os dois anos, considerando as CAs acolhidos ...................... 37
Gráfico 2: Variação percentual entre os dois, considerando apenas as CASR ............................... 37
Gráfico 3:Sexo dos CASR por faixa etária ...................................................................................... 46
Gráfico 4: Percentual de CASR que nasceram em São Paulo na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de
situação ........................................................................................................................................ 50
Gráfico 5: Local de nascimento das CASR na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação ...... 51
Gráfico 6: Situação da matrícula por faixa etária .......................................................................... 51
Gráfico 7:Matriculados antes e depois do acolhimento na faixa etária de 7 a 17 anos ................. 53
Gráfico 8:Matricularia em tempo integral por situação atual da matrícula as crianças de 0 a 6 anos
...................................................................................................................................................... 54
Gráfico 9: Frequência de rua x frequência escolar ........................................................................ 55
Gráfico 10: Tempo de rua por faixa etária .................................................................................... 58
Gráfico 11:Pandemia como uma das causas da SR na faixa etária de 7 a 17 anos, por situação ... 60
Gráfico 12: Cruzamento do ano que veio para a rua com a declaração da pandemia como uma das
causas de estar em SR na faixa etária de 7 a 17 anos por situação ............................................... 61
Gráfico 13:Cruzamento entre o tempo médio de rua e pandemia por SR na faixa etária de 7 a 17
anos .............................................................................................................................................. 61
Gráfico 14:Incidência do risco por faixa etária .............................................................................. 87
Gráfico 15:Incidência do risco por sexo ........................................................................................ 89
Gráfico 16:Incidência das atividades por raça/cor ........................................................................ 90
Gráfico 17:Incidência das atividades por região de São Paulo ...................................................... 93
Gráfico 18:Percentual que mantém contato com familiares por faixa etária e tipo de situação (*)
.................................................................................................................................................... 102
Gráfico 19:Comparação, pernoite e as outras situações (acolhimento e outras trajetórias de risco),
do percentual de CA de 7 a 17 anos que NÃO utilizaram os serviços da rede em São Paulo ...... 113

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LISTA DE TABELAS
Tabela 1:Faixa etária de CAs entrevistados ................................................................................... 29
Tabela 2: CAs segundo identidade de gênero de 12 a 17 anos...................................................... 30
Tabela 3: CAs acompanhados de algum adulto ............................................................................. 32
Tabela 4: CAs segundo distrito e categorias de CAs ...................................................................... 34
Tabela 5: Variação percentual entre os dois anos, considerando as CAs acolhidos ...................... 37
Tabela 6: Variação percentual entre os dois anos, considerando apenas as CASR ........................ 37
Tabela 7: Faixa etária de CASR no Censo de 2007 ......................................................................... 38
Tabela 8: Faixa etária de CASR no Censo de 2022 ......................................................................... 38
Tabela 9: CASR - Atividades informadas pelo entrevistado e observadas pelo pesquisador ......... 41
Tabela 10: CASR – Riscos sociais segundo faixa etária .................................................................. 43
Tabela 11:Sexo na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação ................................................ 46
Tabela 12: Sexo na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação ............................................. 47
Tabela 13: Como se sente na faixa etária de 7 a 11 anos por sexo ............................................... 48
Tabela 14: Identidade de gênero na faixa etária de 12 a 17 anos por situação ............................. 49
Tabela 15: Sexo por faixa etária das CASR de 7 a 17 anos ............................................................. 49
Tabela 16: Situação da matrícula na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação .................... 52
Tabela 17: Situação da matrícula por faixa etária ......................................................................... 52
Tabela 18: Situação da matrícula na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação .................. 53
Tabela 16: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
...................................................................................................................................................... 54
Tabela 16: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
...................................................................................................................................................... 55
Tabela 16: O que você é desta criança? Na faixa etária de 0 a 6 anos por situação ...................... 56
Tabela 16: Escolaridade do responsável ....................................................................................... 57
Tabela 23: Há quanto tempo a criança de 0 a 6 anos tipo de situação está em situação de rua ... 59
Tabela 24: Período que a CA de 7 a 17 iniciou a trajetória de rua em relação a idade atual ......... 59
Tabela 25: Respondentes na faixa etária de 7 a 17 anos que estão há mais de 50% da vida em
situação de rua por situação ......................................................................................................... 60
Tabela 26: A pandemia da COVID-19 é uma das causas que você fez com que você viesse mais para
a rua na faixa etária de 7 a 17 anos, por tipo de situação ............................................................. 60
Tabela 27: Com quem você foi para a rua pela primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos ......... 62
Tabela 28: Por que você foi para a rua a primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos ................... 63

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Tabela 29: Com quem dorme/mora em casa cruzando com quem foi para a rua, na faixa etária de
7 a 17 anos, por tipo de situação .................................................................................................. 64
Tabela 30: Por que você foi para a rua a primeira vez por raça/cor .............................................. 65
Tabela 31: Realizava alguma atividade de geração de renda quando criança por raça/cor .......... 66
Tabela 32: Qual atividade que você exercia quando criança ......................................................... 67
Tabela 33: Há quanto tempo está desempregado?....................................................................... 68
Tabela 34: Você está procurando emprego .................................................................................. 68
Tabela 35: Por que não está procurando emprego ....................................................................... 69
Tabela 36: Locais mais citados ...................................................................................................... 71
Tabela 37: Atividades realizadas pelas CASR de 7 a 17 anos, por risco social ............................... 82
Tabela 38: Atividades realizadas pelos responsáveis de CASR de 0 a 6 anos, por risco social ....... 84
Tabela 39: Diferença da incidência do risco por faixa etária ......................................................... 86
Tabela 40: Diferença da incidência do risco por sexo biológico .................................................... 88
Tabela 41: Diferença da incidência das atividades por região de pesquisa ................................... 91
Tabela 42: Diferença da incidência das atividades por região de São Paulo ................................. 92
Tabela 43: Perfil da região de pesquisa nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem
na rua ............................................................................................................................................ 94
Tabela 44: Perfil da região de São Paulo nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem
na rua ............................................................................................................................................ 95
Tabela 45: Perfil da região de pesquisa nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a
faixa etária .................................................................................................................................... 96
Tabela 46: Perfil da região de São Paulo nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a
faixa etária .................................................................................................................................... 97
Tabela 47: Locais mais citados pelas CASR de 7 a 17 anos por tipo de situação............................ 99
Tabela 48: CA que sofreu algum tipo de violência ........................................................................ 99
Tabela 49: Tipos de violência ...................................................................................................... 100
Tabela 50: Diferença da incidência tipos de violência por faixa etária ........................................ 101
Tabela 51: Costuma ter contato com outras pessoas da sua comunidade na faixa etária de 7 a 17
anos por situação ........................................................................................................................ 103
Tabela 52: Você (respondente) mantém contato frequentemente com quais pessoas da sua família
ou conhecidos (família extensa) na faixa etária de 0 a 6 anos por grupo .................................... 104
Tabela 53: Diferença da incidência dos serviços por região de MORADIA em São Paulo ............ 111
Tabela 55: Pergunta aberta final para os responsáveis de 0 a 6 anos ......................................... 115
Tabela 56: Pergunta aberta final de 7 a 17 anos ......................................................................... 116

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AGRADECIMENTO
À Coordenação do Observatório da Vigilância Socioassistencial - COVS pela parceria,
engajamento, acolhimento e trabalho coletivo. À Coordenação de Proteção Social Básica e
Especial, a equipe do Espaço Público do Aprender Social - ESPASO, que integram a Secretaria
Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo - SMADS.
À Coordenação de Políticas para População em Situação de Rua e à Coordenação de
Políticas para Crianças e Adolescentes, que integram a Secretaria Municipal de Direitos Humanos
e Cidadania de São Paulo - SMDHC pelo apoio, acolhimento e trocas estabelecidas.
Aos trabalhadores da assistência social que disponibilizaram parte do seu tempo para
compartilhar experiências e referências que favoreceram para a construção dos instrumentais
utilizados nas etapas de campo. Aos profissionais dos Serviços Especializados em Abordagem
Social - SEAS, que desde o primeiro instante se mostraram abertos em trazer suas contribuições
e partilhar suas experiências com a nossa equipe. À Comissão Permanente dos Conselhos
Tutelares da cidade de São Paulo, pela disposição em contribuir com a pesquisa.
Aos representantes de organizações e movimentos sociais que se mostraram disponíveis
e estabeleceram interlocuções e/ou participaram dos grupos focais durante o percurso de
execução da pesquisa, em todos os itinerários: Movimento Nacional da População em Situação
de Rua, Espaço Sociocultural CISARTE, Movimento Estadual da População em Situação de Rua,
Fundação Projeto Travessia, Projeto Quixote, Rede Brasileira de Pesquisadores sobre População
em Situação de Rua, Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, Projeto A Cor da Rua, Fórum
Estadual dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes de São Paulo, Defensoria Pública do Estado
de São Paulo; além de pesquisadores acadêmicos e/ou autônomos, que acompanham o
fenômeno e as dinâmicas sobre crianças e adolescentes em situação de rua e, gentilmente,
compartilharam suas análises nos grupos focais ou em outros momentos de interlocução.
E por fim, agradecemos toda equipe de profissionais envolvidos na dinamização desta
pesquisa diagnóstica social: Coordenadores, Pesquisadores Sênior e Plenos, Técnicos, Estatística,
Logística, Supervisores e Pesquisadores de Campo; pelo engajamento, dedicação, sensibilidade
e disposição em fazer a pesquisa acontecer. Não podemos deixar de agradecer a todas as
crianças e adolescentes, e por vezes seus responsáveis, que disponibilizaram parte de sua rotina
para contribuir com a pesquisa. A todas e todos nosso muito obrigado!

Equipe Painel Pesquisas e Consultoria

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 12
2. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 13
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 18
4. RESULTADOS DA ETAPA CENSITÁRIA ............................................................................. 28
4.1 Universo de Crianças e Adolescentes Recenseados ........................................................... 28
4.2 Caracterização de CAs identificados na pesquisa censitária .............................................. 29
4.2.1 Perfil das CAs .............................................................................................................. 29
4.2.2 Crianças e Adolescentes acompanhados de algum adulto ........................................ 31
4.3. Distribuição de CASR no território .................................................................................... 33
4.4. Comparativo do perfil de CASR entre os censos de 2007 e 2022...................................... 37
4.5 Riscos Sociais identificados na etapa censitária ................................................................. 39
5. RESULTADOS DA ETAPA AMOSTRAL .............................................................................. 44
5.1 Perfil das CAs e dos responsáveis de crianças de 0 a 6 anos .............................................. 45
5.2 Escolaridade ....................................................................................................................... 51
5.3 Perfil do responsável pela Criança em Situação de Rua ..................................................... 56
5.4 Tempo e vivências em Situação de Rua ............................................................................. 57
5.5 Ciclos geracionais de Trabalho Infantil e Situações de Vulnerabilidade Socioeconômica dos
responsáveis das Crianças em Situação de Rua ....................................................................... 66
5.6 Mobilidade e Vivência na Rua ............................................................................................ 70
5.7 Riscos Sociais ...................................................................................................................... 75
5.8 Perfil dos Riscos Sociais ...................................................................................................... 85
5.8.1 Perfil dos riscos em que estão expostas as CASR de 7 a 17 anos ............................... 85
5.8.2 Perfil dos riscos em que estão expostas as crianças de 0 a 6 anos, a partir das
atividades realizadas pelos responsáveis ............................................................................ 94
5.9 Violências Sofridas.............................................................................................................. 98
5.10 Vínculos Comunitários e Familiares ............................................................................... 102
5.11 Relação e Avaliação das Instituições .............................................................................. 106
5.12 Pergunta Final ................................................................................................................ 114
6. RESULTADOS DOS GRUPOS FOCAIS ............................................................................. 120
6. 1 Mudanças dos Riscos Sociais ao longo do tempo............................................................ 121
6.2 Condições de Trabalho ..................................................................................................... 123
6.3 Trabalho em Rede ............................................................................................................ 126
7. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................................ 130
8. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 141

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1. APRESENTAÇÃO

O presente relatório se refere à divulgação dos resultados da Pesquisa Censitária de


Identificação do Perfil de Risco Social das Crianças e Adolescentes em Situação de Rua na
cidade de São Paulo 2022, proposta pela Prefeitura Municipal de São Paulo, através da
Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social - SMADS e da Coordenação do
Observatório da Vigilância Socioassistencial – COVS e executada pela Painel Pesquisas e
Consultoria entre os meses de dezembro de 2021 a outubro de 2022.
A pesquisa foi composta por três macro etapas: a primeira, denominada pesquisa
com informantes, teve como objetivo mapear os pontos de presença de crianças e
adolescentes em situação de rua em todos os distritos da cidade, nos diversos períodos do
dia, em diálogo com os munícipes. Na segunda etapa, denominada pesquisa censitária, foi
possível recensear o público realizando a cobertura de território de todo o município,
indicada no quadro de referência, construído na etapa da pesquisa com os informantes. Na
etapa final foi realizada, por pesquisa amostral, a identificação das situações que levam as
crianças e adolescentes (CAs) às ruas, quais os riscos eles (as) correm e quais são as situações
que causam a permanência das CAs nas ruas. Nesta etapa foi possível identificar também,
por meio de grupos focais, a percepção de pesquisadores e profissionais, que estudam e
atuam no Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA), sobre os
riscos sociais que crianças e adolescentes estão expostos ao longo do tempo e quais as
facilidades e dificuldades de trabalharem em rede.
O objetivo deste documento, conforme determinado no Termo de Referência, é
apresentar os principais dados coletados nas etapas censitária (2) e amostral (3) de perfil de
risco social de crianças e adolescentes em situação de rua (CASR), que investigaram aspectos
quantitativos e qualitativos sobre esta população. Ainda que tivesse metodologia de
pesquisa distinta, foi possível traçar comparativos com a única pesquisa anterior voltada
para o mesmo público, realizada pela FIPE (FIPE/SMADS,2007), e no presente momento,
divulgar os dados relativos a crianças e adolescentes em situação de rua para
acompanhamento de órgãos públicos, atores do Sistema de Garantia de Direitos,
movimentos sociais e sociedade civil.

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2. INTRODUÇÃO
A discussão plural de infância e criança é destacada por Marcos Souza de Freitas
(2021, p. 9) como um processo: “(...) criança e infância, palavras que estão em permanente
estado de reapropriação e que são muitas e muitas vezes, tomadas equivocadamente como
se fossem sinônimas”. A apresentação do autor em torno das palavras é: “A infância é um
tempo social, a criança é agente, protagonista nas tramas do cotidiano” (idem).
Nesse sentido, em que a infância está vinculada às considerações também de tempo
social no Ocidente, nos termos de Clarice Cohn (2005, p. 18), “(...) modo particular, e não
universal, de pensar a criança”, considera-se também a referência de Freitas sobre tramas
na concepção de Criança como uma ponte possível de seu entendimento também a contar
de trama institucional como aquela em que “supõe uma gama de instituições e atores, mas
cuja trama, por sua vez, também revela a existência de conflitos (...)” (GREGORI, 2000, p.
165). A atividade censitária faz encontro com esse borrar de fronteiras atentados por Freitas
e Gregori no sentido ainda que em torno desses âmbitos é que estão também os debates
sobre risco social da criança.
Clarice Cohn (2005) atenta a um cuidado necessário em torno da compreensão da
construção histórica da infância nomeada pela autora como Sentimento da Infância. Para
a autora, este não deve ser entendido:

“(...) como uma sensibilidade maior à infância, como um sentimento que nasce
onde era ausente, mas como uma formulação sobre a particularidade da infância
em relação ao mundo dos adultos, como o estabelecimento de uma cisão entre
essas duas experiências sociais. Portanto, contemporaneamente, os direitos das
crianças e a própria ideia de menoridade não podem ser entendidos senão a partir
dessa formação de um sentimento e de uma concepção de infância” (Cohn, 2005,
p. 18).

David Le Breton (2017, p. 19) também empreende uma abordagem de construção


social e histórica quanto à adolescência ao caracterizá-la não como um acontecimento, e sim
“uma questão que atravessa o tempo e o espaço das sociedades humanas”. Em sua
abordagem, a adolescência como período intermediário entre infância e maturidade social
pode ser difusa ou precisa, bem como a depender das situações: “a não ser que se estabeleça
um registro civil arbitrário, tanto a adolescência quanto o momento de sua entrada e de sua
saída suscitam interrogações sem fim” (LE BRETON, 2017, p. 19). Ao tratar do sentimento da

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diferença das idades entre meios privilegiados, Le Breton (2017) também localiza que a
noção de adolescência, em primeiro momento esteve vinculada à medicina e à psicologia.
Quanto à juventude, Le Breton ressalta que essa noção empreende a dependência
de um laço social e menciona a distinção em termos de especialidades, que distinguia
psicologia e sociologia a contar da dupla adolescência-juventude; a psicologia estaria com
a construção e atenção à adolescência e a sociologia estaria com a construção e atenção
à juventude. De acordo com Le Breton, “(...) a adolescência será o período que dá acesso
à juventude, mas, nos mundos contemporâneos que coexistem hoje, uma tal cronologia
das idades não é muito pertinente, mesmo que a escolarização obrigatória imponha uma
longa moratória” (LE BRETON, 2017, p. 20/21).
A partir da educação como um fator institucional vinculado à infância, na abordagem
de Ariès, é importante relacioná-la desde já ao que Demerval Saviani (2008, p. 149), no
modelo apresentado sobre regimes de educação nacional, definiu como “ponto de partida
da história das instituições escolares brasileiras”, a contar do período de 1549-1759
“dominado pelos jesuítas” (idem). Ainda nos termos de Marisa Bittar e Amarilio Ferreira
Junior: “educação jesuítica e colonização são processos históricos que nasceram juntos”
(2001, p.137). Quanto aos colégios jesuíticos, os autores destacam que no século XVIII
“mantidos pelas fazendas, basicamente, só recebiam crianças filhas da aristocracia agrária”
(BITTAR; FERREIRA JR, 2001, p. 142).
Como apontamento por meio de circunscrição e contexto de vinculação entre
instituição e infância em território brasileiro, a contar da Lei do Ventre Livre (1871), a história
da infância e juventude no Brasil perpassa, de partida, pelo período colonial e escravização.
Maria Rosilene Barbosa Alvim e Licia do Prado Valladares (1988, p. 3) recordam que a análise
da infância foi um tema presente a contar do século XIX, tanto no Brasil quanto no exterior
“com texto de médicos, juristas, políticos, cronistas, jornalistas e escritores em geral,
preocupados com o exame e as possíveis intervenções sobre a chamada "questão social". O
vínculo deste tema com as instituições também é analisado pelas autoras: “são inúmeras as
referências às múltiplas ações e propostas provenientes do Estado” (idem).
A autora Gláucia Helena Araújo Russo (2021, p. 68) destaca no índice de abandono e
mortalidade infantil no Brasil colonial e imperial as continuidades desse processo: “A
mortalidade infantil estava associada, principalmente: a escravidão, pelas péssimas

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condições de higiene e castigos corporais a que as crianças negras eram submetidas nas
senzalas; ao infanticídio dos filhos ilegítimos” (RUSSO, 2012, p. 68).
O uso da categoria “Criança” na etapa censitária e amostral de crianças e
adolescentes que, dentre outros indicadores, buscou identificar o perfil de risco social das
crianças e adolescentes em situação de rua, em 2022, concerne a uma discussão em torno
de tais categorias. A contextualização tem como intuito apresentar a temática de direitos
de crianças e adolescentes ao longo do tempo, a contar de marcos históricos vinculados
ao “desenvolvimento da noção de cidadania” (IAMAMOTO, 2006, p. 89).
No que se refere aos enquadramentos de marcos legais que conferem um
entendimento social e histórico vinculado aos direitos, cabe atentar ao que José Roberto
Rus Perez e Eric Ferdinando Passone (2010, p. 650) consideraram, antes da Constituição
Federal de 1988, como “três momentos mais significativos de transformação institucional
e de produção legal”: o Estado Novo (1930-1945); a ditadura militar (1964 a 1985) e a
redemocratização, a partir de 1985.
Quanto ao entendimento dessas categorias como construtos sociais e históricos, no
caso brasileiro, seu delineamento se configurou por processos iniciados no período
colonial. Mesmo que essa compreensão frente às relações de colonialidade seja anterior
aos anos 1970, essa década ocupa cronologicamente o campo temporal de encontro entre
muitos temas que perpassam o referido Censo. Além de bibliograficamente tal década ser
ligada aos processos urbanos, tal período também é um solo comum a movimentos sociais
concernentes à diversidade de temas relacionados à desigualdade social que é
determinada, na maioria dos casos, pela questão racial.
A estrutura colonial brasileira se constituía em: latifúndio, escravidão e
monocultura. Neste período, nossa organização social era composta por relações de poder
violentas e muito autoritárias, no qual, os direitos sociais eram direcionados a pouca
parcela da população (ADORNO, 1990). A população negra era tratada como mercadoria
e “a criança só era vista como um elemento posto a serviço do poder paterno” (ADORNO,
1990). Logo, os cuidados coloniais juntos aos filhos limitavam-se a práticas higienistas,
disciplinares e comportamentais.
Antes das primeiras Leis de proteção e concessão de direitos à crianças e
adolescentes, esses sujeitos eram moldados sob a imagem do adulto, a partir de uma
conduta exemplar, para tal, pais, responsáveis e Estado lançavam mão de práticas

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autoritárias em busca de uma conduta exemplar que não contrariasse os interesses
privados (PASSETTI, 2011):

“Nos lares, nas escolas, nos orfanatos, enfim, na fábrica, a criança estava disposta
para seguir o que dela se esperava, educada pelo castigo, restando-lhe nos
entrecruzamentos descontínuos de espaços disciplinares, as ruas, os bandos, à
noite, as fugas, o exercício de uma liberdade ameaçadora aos outros e a si”.
(PASSETTI, 2011, p. 43)

Nas primeiras décadas do Brasil Império, a legislação que pautava questões da


infância preocupava-se apenas com o recolhimento de crianças órfãs e expostas. Com a
Proclamação da República, as elites políticas, intelectuais e filantrópicas começaram a
discutir a temática da criança. Neste período é possível verificar uma oscilação entre os
pensamentos relativos aos jovens e às crianças. Por um lado, era presente a preocupação
com a defesa da criança, mas também havia o interesse relativo à defesa da sociedade contra
estas mesmas crianças e jovens, que constituíam uma ameaça à ordem pública (SOARES,
2003; FOUCAULT, 2015). Os discursos proferidos pelas autoridades estatais versavam sobre
a prevenção e a regeneração dos sujeitos em escolas de reforma e casas de correção:

“Esse bando que vive da rapina se compõe, pelo que se sabe, de um número superior
a cem crianças das mais diversas idades, indo desde os 8 aos 16 anos. Crianças que,
naturalmente devido ao desprezo dado à sua educação por pais pouco servidos de
sentimentos cristãos, se entregaram no verdor dos anos a uma vida criminosa. São
chamados de "Capitães da Areia" porque o cais é o seu quartel-general (...) O que se
faz necessário é uma urgente providência da polícia e do juizado de menores no
sentido da extinção desse bando e para que recolham esses precoces criminosos,
que já não deixam a cidade dormir em paz o seu sono tão merecido, aos Institutos
de reforma de crianças ou às prisões”. (Reportagem publicada no Jornal da Tarde, na
página de Fatos Policiais.) (AMADO, 2008, p.13/14).

Um dispositivo biopolítico importante do Estado brasileiro para controle das crianças


e adolescentes nas cidades foi o movimento higienista, que tomou corpo no país em fins do
século XIX até meados da década de 1950. A criança “abandonada”, legado da aplicação da
Lei do Ventre Livre, era preocupação dos sanitaristas na medida em que fazia das ruas e
espaços públicos sua morada. Para os médicos e demais atores sociais pertencentes a elite,
o método para controlar a criança pobre era confiná-la em espaços disciplinares,
preenchendo sua rotina com atividades profissionalizantes visando sua inserção no mercado
de trabalho (FOUCAULT, 1992).
O sistema de proteção e assistência proposto pelo primeiro Código de Menores
(1927) submetia qualquer criança, por sua simples condição de pobreza, à ação da Justiça e

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da Assistência no sentido apenas de destinar um local de habitação. A esfera jurídica foi a
protagonista nessa questão, por meio da ação jurídico-social dos Juízes de Menores, até a
promulgação da Constituição de 1937, reflexo das lutas pelos direitos humanos que
emergiram naquele período. Com isso, a conotação jurídica implícita na caracterização do
problema dos “menores” concedeu espaço para uma caracterização de cunho social da
infância e da juventude (ALVAREZ, 1989; SOARES, 2003).
O avanço mais expressivo e recente em benefício dos jovens iniciou-se no período de
redemocratização do país com a elaboração da Constituição de 1988, que incorporou as
discussões da Convenção das Nações Unidas de Direitos da Criança, lançada no ano seguinte.
Destarte, a ideia do “menor em situação irregular” passou a ser desmembrada levando em
consideração a peculiaridade de cada caso envolvendo os jovens em situação de rua nas
políticas públicas do Brasil (BRASIL, 1988; ALVAREZ, 1989; SOARES, 2003).
As discussões que emergiram no período de redemocratização abriram caminho para
a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990). Em sua proposta de ruptura
com o passado, o ECA tenta garantir direitos fundamentais a crianças e adolescentes,
especialmente as CASR que estão expostos às mais diferentes formas de violência em seu
cotidiano. O ECA materializou e regulamentou a Doutrina da Proteção Integral, trazendo
profundas alterações políticas, culturais e jurídicas quanto à questão da criança e do
adolescente no Brasil, tentando promover uma transformação paradigmática (LIMA, 2006;
ECA, 1990).
Com a mudança, crianças e adolescentes passam de objeto tutelado pelo Estado para
cidadãos portadores de direitos, no qual a sociedade, Estado e todos a sua volta passam a
ser responsáveis por sua integridade física e moral. O sujeito que era mero objeto do
processo é elevado à condição de sujeito de direitos, caracterizado, no art. 2o 45, do Estatuto
da Criança e do Adolescente, como criança ou adolescente, reconhecendo-se sua condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento (ECA, 1990; SOARES, 2003). Para cumprimento
pleno do ECA em relação das crianças e adolescentes em situação de rua é importante
compreendermos as necessidades deste público e as necessidades dos atores que interagem
no Sistema de Garantias dos Direitos das Crianças e Adolescentes (SGDCA) e executam suas
atividades de acordo com as diretrizes legais que regem o sistema.

17
3. METODOLOGIA
Para a realização da Pesquisa Censitária de Identificação do Perfil de Risco Social das
Crianças e Adolescentes em Situação de Rua na cidade de São Paulo 2022, a equipe de
execução utilizou-se de métodos quantitativos e qualitativos. Para a primeira etapa da
pesquisa censitária, com o propósito de mapear os pontos pré-existentes de permanências
das crianças e adolescentes em situação de rua, a equipe técnica da Painel Pesquisas e
Consultoria elaborou um sistema de referência para o levantamento censitário a partir das
seguintes ações: a interlocução entre a equipe da Painel Pesquisas, a equipe da Coordenação
do Observatório da Vigilância Socioassistencial da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
e Assistência Social (COVS/SMADS), as organizações sociais e os conselhos que promovem
ações para a população de crianças e adolescentes em situação de rua.
O processo de elaboração do sistema de referência foi constituído em quatro fases:
a primeira fase consistiu na disponibilização, pela COVS-SMADS, do acesso ao banco de
dados do Sistema de Informação da Situação de Rua (SISRua), que permite a inserção,
atualização e controle dos dados dos usuários da rede socioassistencial em situação de rua
abordados. Na segunda fase foi possível a interlocução com os profissionais do Serviço
Especializado de Abordagem Social (SEAS), com a presença de gestores das equipes, técnicos
e, em sua maioria, orientadores socioeducativos; na ocasião, realizou-se o levantamento e
identificação dos pontos de concentração de crianças e adolescentes em situação de rua em
cada território coberto pela rede. Na terceira fase, a equipe técnica da Painel Pesquisas
elaborou um questionário, encaminhado por e-mail aos profissionais que atuam nos
Conselhos de Direitos e para os profissionais que atuam nos equipamentos da rede que
compõe o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescentes (SGDCA), para que
também indicassem pontos de concentração das CASR. Todas as informações coletadas nas
três fases foram sistematizadas e analisadas cuidadosamente para o planejamento e
elaboração do quadro de referência que serviu de base para a organização logística e para a
construção dos itinerários de campo para a primeira etapa do censo, denominada “Etapa
dos Informantes”.
Por fim, na quarta fase foram realizadas as entrevistas com os informantes, para a
qual foi elaborado um instrumental a ser aplicado com as pessoas que interagem ou
observam as crianças e adolescentes em situação de rua nos territórios, tais como:

18
comerciantes, trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), agentes de
limpeza urbana, agentes da segurança pública, profissionais da saúde e da educação,
moradores, entre outros atores que dinamizam as atividades nos territórios.
O processo de construção do instrumental de informantes iniciou-se, em um primeiro
momento, após as discussões com membros da rede de interlocução da pesquisa censitária,
a observação da primeira reunião do Comitê de Acompanhamento do Censo (promovido
pela SMADS), bem como após vínculo teórico com a discussão dos riscos sociais do conceito
de criança e adolescente em situação de rua estabelecido pelo CONANDA e do conceito de
população em situação de rua. A primeira versão do instrumental foi apresentada na
segunda reunião do Comitê e o debate propiciou a segunda versão do instrumental de coleta
em duas direções: modificações e pedidos específicos em torno da coleta de informações
das instituições, a saber: Conselho Tutelar, Unidades Educacionais, Unidades de Saúde e
Unidades de Segurança Pública.
Durante o mapeamento de pontos nas ruas da cidade de São Paulo, foram abordadas
3.979 pessoas para serem entrevistadas, destas, 3.181 responderam à pesquisa e 798
(20,1%) recusaram-se a responder. As pessoas que responderam são caracterizadas como
informantes ou respondentes, pois prestaram informações sobre os pontos nos quais
identificaram a presença de CASR e sobre suas percepções em relação à dinâmica vivida por
estas CASR. Para esta etapa, buscou-se uma ampla cobertura territorial, e para a
dinamização das atividades em campo, de acordo com as características de cada território,
foram criados setores censitários a partir dos dados de notificação e concentração de CASR.
Assim, os setores censitários foram planejados respeitando os limites dos distritos e
desenhados de acordo com a malha de rodovias do município de São Paulo, com uma área
de aproximadamente 1km². Tal estratégia permitiu que o informante pudesse notificar
outros pontos da cidade, além daquele onde estava no momento da entrevista.
Vale destacar que a pesquisa com os informantes trouxe dados relacionados aos dias
da semana e horários da presença de CASR no território e parte do instrumental também
previu o registro de “notificação de ponto” a ser feito pelo pesquisador quando encontrasse
CASR na região explorada. Outras informações territoriais também foram levantadas, tais
como: endereço, ponto de referência, distrito, além de indicar as coordenadas geográficas
do local onde estava sendo aplicado o questionário. Essas informações foram fundamentais
para o planejamento e a execução da segunda fase da pesquisa, a fase censitária.

19
Figura 1: Mapa com os pontos de concentração de CASR e dos riscos sociais identificados na etapa da
pesquisa dos informantes

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022

20
Para a execução da segunda fase, a censitária, foram definidos 96 distritos que se
encontram numa área total de 1.521 km², sendo 949,611 km² de áreas urbanas. São 17
distritos distribuídos na zona Norte, 23 distritos na zona Sul, 34 distritos na zona Leste, 15
distritos na zona Oeste e 7 na zona Central (SÃO PAULO, 2022). A metodologia para incursão
nas áreas censitárias a serem cobertas foi baseada na divisão administrativa dos 96 distritos
da cidade de São Paulo. Tal metodologia foi utilizada por organizações e empresas de
pesquisa para realização de censo sobre população em situação de rua (QUALITEST, 2019).
Os distritos censitários foram agrupados em três grandes áreas:
1). Residenciais e periféricos:

I. Zona Sul: Cidade Dutra, Grajaú, Marsilac, Parelheiros, Socorro, Campo Limpo, Capão
Redondo, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Vila Andrade, Campo Belo, Campo Grande,
Pedreira, Santo Amaro, Cursino, Cidade Ademar, Jabaquara, Sacomã.
II. Zona Norte: Jaçanã, Tremembé, Tucuruvi, Vila Medeiros, Brasilândia, Cachoeirinha,
Mandaqui, Pirituba, Anhanguera, Jaraguá, Perus, São Domingos.
III. Zona Oeste: Jaguará, Jaguaré, Vila Leopoldina, Butantã, Morumbi, Raposo Tavares, Rio
Pequeno, Vila Sônia.
IV. Zona Leste: Carrão, Vila Formosa, Cidade Líder, Artur Alvim, Cangaíba, Penha, Ponte
Rasa, Vila Matilde, Ermelino Matarazzo, São Miguel, Vila Jacuí, Iguatemi, São Rafael, São
Mateus, São Lucas, Sapopemba, Vila Prudente, Itaquera, José Bonifácio, Parque do
Carmo, Itaim Paulista, Jardim Helena, Vila Curuçá, Cidade Tiradentes, Guaianases,
Lajeado.

2) Centro Expandido:

I. Zona Leste: Água Rasa, Mooca, Tatuapé;


II. Zona Oeste: Alto de Pinheiros, Barra Funda, Perdizes, Itaim Bibi, Lapa, Pinheiros;
III. Zona Norte: Casa Verde, Freguesia do Ó, Vila Guilherme, Vila Maria, Santana,
Limão;
IV. Zona Sul: Ipiranga, Moema, Jardim Paulista, Vila Mariana, Saúde.

3) Centro Histórico:

Centro: Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Brás, Pari, Sé, República, Cambuci, Liberdade,
Santa Cecília, Consolação.

21
Para as definições do que são centros residenciais e periféricos, centro expandido e
centro histórico, utilizamos o marco zero da cidade de São Paulo, a Praça da Sé, como
referência. Portanto, considerando isso, o centro histórico é a região mais central da cidade
de São Paulo, que possui distritos com construções históricas e movimentações
características. No centro expandido estão considerados os distritos que circundam o centro
histórico e que possuem uma circulação financeira relevante para a cidade pela característica
de sua população e comércios, bem como sua característica arquitetônica com prédios
modernos e de classe média. Nas regiões residenciais e periféricas estão os distritos mais
distantes, geograficamente e economicamente, do marco zero da cidade (São Paulo, 2010)
e que, por característica arquitetônica, são territórios de construções residenciais simples e
de classe economicamente desfavorecida.
Segundo o mapa racial elaborado pelo geógrafo Gusmão (2016), a partir dos dados
censitários do IBGE (2010), fica evidente que as regiões mais próximas aos centros
econômicos da cidade, como a região central e o centro expandido, possuem uma população
majoritariamente branca, enquanto as regiões mais afastadas e em direção aos limites da
cidade, possuem uma composição racial mais diversificada entre a população parda e preta.
Lembrando que, as regiões mais afastadas dos centros econômicos são regiões mais
populosas e compostas por comunidades, elucidando a segregação territorial da cidade.

22
Figura 3: Mapa Racial da População de São Paulo/SP –
Figura 2: Mapa Racial da População de São Paulo/SP Destaque Raça/Cor Branca

Figura 4: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Figura 5: Mapa Racial da População de São Paulo/SP –
Raça/Cor Parda Destaque Raça/Cor Preta

Fizeram parte da metodologia supramencionada, a demarcação dos pontos nos


mapas onde foi identificada a presença de CASR. Isso com base no quadro de referência,
formulado a partir das informações do SISRUA, dos procedimentos adotados pelas equipes
do SEAS, e dos resultados da 1a etapa da pesquisa com informantes realizada pela Painel
Pesquisas e Consultoria. Portanto, a partir das 3 grandes áreas: Residenciais e periféricos,
Centro expandido e Centro histórico, para a realização da cobertura territorial, São Paulo foi
subdividida em 5 regiões censitárias, a considerar:

23
Quadro 1: Agrupamento dos Distritos para a pesquisa censitária de CASR
Região Censitário Distritos pertencentes
Anhanguera, Brasilândia, Cachoeirinha, Jaçanã, Jaguara, Jaguaré, Jaraguá, Mandaqui,
Região 1
Perus, Pirituba, São Domingos, Tremembé, Tucuruvi, Vila Leopoldina, Vila Medeiros
Aricanduva, Artur Alvim, Cangaíba, Carrão, Cidade Lider, Cidade Tiradentes, Ermelino
Matarazzo, Guaianases, Iguatemi, Itaim Paulista, Itaquera, Jardim Helena, José
Região 2 Bonifácio, Lajeado, Parque do Carmo, Penha, Ponte Rasa, São Lucas, São Mateus, São
Miguel, São Rafael, Sapopemba, Vila Curuçá, Vila Formosa, Vila Jacuí, Vila Matilde e
Vila Prudente
Butantã, Campo Belo, Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar,
Região 3 Cidade Dutra, Cursino, Grajaú, Jabaquara, Jardim Ângela, Morumbi, Raposo Tavares,
Sacomã, Santo Amaro, Socorro, Vila Andrade e Vila Sônia
Água Rasa, Alto de Pinheiros, Barra Funda, Casa Verde, Freguesia do Ó, Ipiranga, Itaim
Região 4 Bibi, Jardim Paulista, Lapa, Limão, Moema, Mooca, Perdizes, Pinheiros, Santana, Saúde,
Tatuapé, Vila Guilherme, Vila Maria e Vila Mariana
Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República,
Região 5
Santa Cecília e Sé
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Figura 6: Divisão territorial dos distritos de São Paulo para a pesquisa censitária de CASR

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

24
Tendo como base os resultados da fase censitária (2ª etapa), apresentados no
capítulo 4 deste relatório, para a realização da pesquisa amostral (3ª etapa), o conceito de
CASR (Conanda/CNAS, 2017) e o Termo de Referência de COVS/SMADS, toda construção
metodológica da 3ª etapa foi conduzida entre as equipes técnicas da empresa Painel
Pesquisas e Consultoria e da Coordenação do Observatório da Vigilância Socioassistencial da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social (COVS/SMADS), tanto na
definição dos parâmetros a serem adotados para execução do plano amostral como na
elaboração conjunta dos instrumentais. Interlocutores internos e externos da SMADS
também foram envolvidos na construção dos instrumentais para aprimoramento e
construção coletiva, promovendo o diálogo e escuta de atores envolvidos na atuação com
crianças e adolescentes.
O primeiro passo para que uma pesquisa traga resultados que retratam a população
de interesse é garantir que a amostragem seja representativa em relação à população. Neste
caso, utilizou-se como universo da pesquisa, para iniciar o plano amostral, os dados
levantados no 2º Censo de Crianças e Adolescentes em Situação de Rua na Cidade de São
Paulo. Portanto, o censo identificou na cidade de São Paulo um total de 3.759 CAs com
trajetória de vida nas ruas, sendo que, destas, 16,2% (609) estão em acolhimento no Serviço
de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA), Centro de Acolhida
Especial (CAE), entre outros, e 83,8% (3.150) estão em situação de rua. Essa constatação de
CAs que tiveram trajetória de rua (609 CA institucionalizadas) apontou uma característica de
diferenciação na população que foi considerada no plano amostral.
Nesse sentido, é de interesse separar o grupo atualmente em situação de rua em dois
tipos: os que dormem pelo menos uma noite da semana na rua (pernoite), e os que estão
nas ruas realizando ao menos uma+ das atividades enquadradas no conceito disposto pelo
CNAS/CONANDA, porém, têm uma moradia e voltam todos os dias para dormir em casa
(outras trajetórias de risco). Essa diferenciação é necessária para o entendimento de que,
ao pernoitar na rua, as CASR podem estar expostas a riscos diferentes daqueles que não
pernoitam. Logo, do total de 3.759 CAs recenseadas, o censo apontou: 16,2% estão em
acolhimento, como já mencionado, e daqueles que estão em situação de rua, 73,1% estão
submetidos a vários riscos predominantemente diurnos, 10,7% estão em situação de rua
expostos a riscos diurnos e noturnos, por isso compõem o tipo pernoite.

25
Não foram considerados na pesquisa os segmentos sociais indicados a seguir:
adolescentes com 16 anos ou mais que trabalham nas ruas e são remunerados por uma
empresa, a saber: office-boys-girls, entregadores de mercadorias, e outros, conforme Termo
de Referência, também crianças e adolescentes que muitas vezes estão circulando ou
brincando nas proximidades da moradia, principalmente nas zonas periféricas, e não
necessariamente estão em situação de rua, embora haja uma linha tênue que divide as CAs
vivendo processos de vulnerabilidades daquelas CAs que se encontram em situação de rua.
Não foi previsto realizar a pesquisa no interior das barracas de feiras, e sim entre as
CAs que circulam pelas feiras para ajudar no carregamento das compras, para pedir doações,
aguardar pelos alimentos que são descartados pelos feirantes e/ou para vender produtos,
assim como não foi previsto realizar o censo em estabelecimentos comerciais (bares,
restaurantes, vendas etc.), ainda que também possam empregar mão-de-obra infantil. A
diferença entre as barracas de feiras e os estabelecimentos comerciais é que estes se
mantêm fixos num mesmo ponto comercial, enquanto os feirantes se deslocam em vários
pontos pela cidade, mas para ambos são estipuladas legislações e regulamentações de
funcionamento.
A partir dos dados levantados na etapa da pesquisa censitária, iniciou-se o
planejamento da pesquisa amostral que compreendeu desde a elaboração metodológica dos
questionários até a elaboração do plano operacional, implicando, portanto, nas estratégias
de execução do campo. Para possibilitar a comparação e sistematização dos dados
recolhidos e, identificar os perfis de risco social, considerando as características de
transitoriedade das CASR e do conceito conforme a Resolução do CONANDA, foi aplicada a
metodologia da amostragem não probabilística, utilizando o método de pesquisa por cotas
junto às estratégias de incursão em que o campo foi planejado.
Um dos aspectos metodológicos definidos e validados com a contratante
(COVS|SMADS) foi a realização da pesquisa direta com crianças e adolescentes de 7 a 17
anos (em situação de rua ou em acolhimento) e o instrumental foi pensado e estruturado
especificamente para este público e, para as crianças de 0 a 6 anos em situação de rua ou
em acolhimento, a pesquisa foi aplicada com os pais ou responsáveis.
A decisão por entrevistar os pais ou responsáveis está pautada pelo fato de os bebês
e crianças menores de 6 anos requererem estratégias de pesquisa diferenciadas das
utilizadas para CAs entre 7 e 17 anos, que consiste na grande maioria do público-alvo, e para

26
os quais pode-se perguntar diretamente, o que fica inviabilizado para os menores de 6 anos.
Outra justificativa para entrevistar os familiares ou responsáveis de bebês e crianças diz
respeito à necessidade de entender quais os motivos que favoreceram para que as famílias
e as crianças estivessem em situação de rua ou em abrigamento. Neste sentido, esta
investigação dialoga com o objetivo do Termo de Referência que baliza o contrato, em saber
quais são as vulnerabilidades e os riscos vividos por essas famílias antes de se encontrarem
em situação de rua.
Com vistas a aprimorar a coleta de dados, para aprofundamento da análise
qualitativa sobre os riscos que as CASR estão expostos, foram realizados grupos focais com
representantes de organizações sociais, movimentos sociais, pesquisadores, trabalhadores
dos Conselhos tutelares, que atuam em todas as regiões da cidade, assim como
trabalhadores do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS). O objetivo dos grupos
focais foi o de coletar dados históricos e atuais a respeito dos riscos sociais que as CASR estão
mais vulneráveis, na perspectiva dos atores da assistência social e dos pesquisadores, assim
como sugestões dos participantes para melhorias nos serviços ofertados pela Prefeitura de
São Paulo. Para a coleta de dados utilizamos como referencial, para a elaboração dos roteiros
e condução dos grupos, a Teoria da Atividade Histórico Cultural (TAHC) (VYGOTSKY, 1978)
com vistas a compreender as contradições históricas por trás dos riscos sociais e seus
impactos na atividade e para a articulação dos atores que atuam no SGDCA.
Os grupos foram coordenados pela equipe de Pesquisadores da Painel Pesquisas e
definidos de acordo com as seguintes características: (i) trabalhadores de organizações,
movimentos sociais e pesquisadores; (ii) trabalhadores do conselho tutelar, (iii)
trabalhadores de SEAS. Os grupos ocorreram na primeira quinzena de outubro de 2022,
contaram com a participação de 10 a 12 participantes, voluntários, nas reuniões estiveram
os pesquisadores da Painel Pesquisas, e no grupo I houve a participação de uma técnica da
COVS-SMADS e uma pesquisadora plena da Painel Pesquisas, bem como a execução do
grupo III, que contou com outra pesquisadora plena da Painel Pesquisas. As reuniões
duraram, em média, duas horas e meia cada uma e os resultados foram apresentados no
capítulo 6 “Resultados dos Grupos Focais”.

27
4. RESULTADOS DA ETAPA CENSITÁRIA
A pesquisa em campo da fase censitária ocorreu nos dias 11, 12, 13, 14, 15 e
16/5/2022. Com o propósito de possibilitar a escuta das crianças e dos adolescentes em
situação de rua, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e
estabelece o Termo de Referência, no qual a deliberação foi que as CAs seriam diretamente
abordadas para serem entrevistados durante a realização do censo, e quando não foi
possível, a pesquisa foi feita por atribuição. No caso das crianças de 0 a 6 anos, a entrevista
foi respondida pelos pais ou responsáveis. A proposta da pesquisa foi explicada para todos
antes do questionário ser aplicado, e foi solicitada autorização para a realização da
entrevista. Do total de CAs recenseados, 59,5% (2.237) foram abordados diretamente para
serem entrevistados e 40,5% (1.522) foram pesquisas feitas por atribuição do pesquisador
dada a impossibilidade de abordar os interlocutores.

4.1 Universo de Crianças e Adolescentes Recenseados

Foram contabilizadas, nas ruas e nas instituições de acolhimento, 3.759 crianças e


adolescentes. Destas, 3.150 (83,8%) crianças e adolescentes estão em situação de rua
(CASR), de modo que, 2.749 (73,1%) CASR estão expostos aos riscos sociais durante o dia e
401 (10,7%) ficam expostos de dia e a noite, pois pernoitam nas ruas com frequência.
Enquanto nas instituições, 609 (16,2%) CAs encontravam-se acolhidos em razão da trajetória
de vida nas ruas, ou seja, em algum momento estiveram em situação de rua.

Figura 7: CAs em situação de rua e CAs em instituições de acolhimento


3.759 (100%)
CAs

2.749 (73,1%)
401 (10,7%) 609 (16,2%)
Outras trajetórias de
Pernoite Acolhidos
risco

288 (47,3) 321 (52,7%)


SAICA Instituições com adulto

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

28
Na Tabela 1 constam os totais de CAs segundo os locais nos quais foram encontrados,
rua e instituição, conforme as faixas etárias. Nota-se um maior contingente (1.585) de
adolescentes, de 12 a 17 anos, tanto nas pesquisas feitas na rua (1.335) quanto na instituição
de acolhimento (250). O segundo percentual mais relevante de CAs concentra-se na faixa
etária entre 0 e 6 anos (1.151), sendo 918 em situação de rua e 233 em situação de
acolhimento. Em terceiro lugar (1.017) encontram-se as CAs na faixa etária entre 7 e 11 anos,
dos quais 892 foram em situação de rua e 125 em situação de acolhimento.

Tabela 1:Faixa etária de CAs entrevistados


Faixa etária

Tipo de Pesquisa Até 6 anos De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos Não informado Total

Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%)
Criança e adolescente
em situação de rua 918 79,8% 892 87,7% 1.335 84,2% 5 83,3% 3150 83,8%
(CASR)
Criança ou
adolescente (CA) na
233 20,2% 125 12,3% 250 15,8% 1 16,7% 609 16,2%
instituição de
acolhimento
Total Geral 1.151 100% 1.017 100% 1.585 100% 6 100% 3.759 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

4.2 Caracterização de CAs identificados na pesquisa censitária

4.2.1 Perfil das CAs

Com relação ao perfil das CAs recenseados, constata-se predomínio da raça/cor


parda (1.615, 43,0%) e preta (1.074, 28,5%), que somadas chegam a 2.689 (71,6%) de CAs
negros e negras. A raça/cor branca aparece em terceiro lugar com maior representação
(811, 21,6%). No que diz respeito ao sexo biológico, há um predomínio de crianças e
adolescentes do sexo masculino, com um total de 2.227 (59,2%) em comparação com o sexo
feminino que corresponde a um total de 1.453 (38,7%), e 79 (2,1%) não quiseram informar.
Na faixa etária de 12 a 17 anos concentram-se a maioria do público (1.585, 42,2%). As faixas
etárias de 0 a 6 anos e de 7 a 11 anos apresentam totais muito próximos, 1.151 e 1.017,
respectivamente e quando os indicadores são somados totalizam 2.168 crianças,
ultrapassando o total de adolescentes.

29
Durante as abordagens1, foi realizada uma pergunta sobre identidade de gênero para
respondentes a partir dos 7 anos de idade quando a própria CA respondia à pergunta. Para
as crianças com idade de 7 a 11 anos foi perguntado como elas se sentem em relação à
identidade de gênero: “se se sente menino” ou “se se sente menina”. Assim, dentre as
crianças de 7 a 11 anos que responderam à pesquisa, 337 (55,7%) declararam se sentir
menino, 235 (38,8%) declararam se sentir menina, 33 (5,5%) não souberam ou não quiseram
informar e 8 (1,3%) não se reconhecem com o mesmo sexo biológico.
Para os adolescentes de 12 a 17 anos, perguntou-se qual era a identidade de gênero
que se identificava, quando não souberam responder, as alternativas eram lidas e explicadas
para os entrevistados. Assim, predominam as declarações de menino cisgênero (583, 64,7%),
menina cisgênero (267, 29,6%), e 3,7% não responderam ou não souberam informar. Com
relação às demais identidades de gênero, se somadas, correspondem à 2,0% dos
adolescentes que responderam à pesquisa, conforme detalhado na tabela 2.
Tabela 2: CAs segundo identidade de gênero de 12 a 17 anos
Identidade de gênero Quant. (%)

Menino Cisgênero 583 64,7%


Menina Cisgênero 267 29,6%

Menina transgênero 8 0,9%

Menino transgênero 6 0,7%

Outro 2 0,2%

Pessoa não-binárie 1 0,1%


Travesti 1 0,1%

Não informado 33 3,7%

Total de Adolescentes de 12 a 17 (*) 901 100%


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) nota: A informação referente à identidade de gênero corresponde a pesquisa por abordagem, com adolescentes de 12 a 17 anos

De um modo geral, questões sobre identidade de gênero e sexualidade fazem parte


da vida dos adolescentes, porém “ainda permanecem pouco compreendidas,
principalmente no contexto de vida nas ruas e em instituições de atendimento a essa
população” (PCC, p.50). Discussões e aprofundamento sobre essas questões se revelam

1
Para as pesquisas por atribuição, a pergunta sobre identidade de gênero não foi aplicada, bem como nos
casos em que o profissional da instituição respondeu pelas CAs.

30
necessárias a fim de qualificar e ampliar o conhecimento sobre a temática de identidade de
gênero e orientação sexual. Dessa maneira, busca-se trazê-las para o senso comum da
sociedade em geral com o propósito de combater normas sociais e práticas que discriminam
e marginalizam crianças e adolescentes, prejudicando as chances de terem seus direitos
efetivados e aumentando os riscos de abuso, exploração e violência (UNICEF, 2014).
Com relação à deficiência, a maioria das crianças e adolescentes declarou que não
possui nenhuma deficiência (2.101, 95,3%). Aqueles que revelaram ter algum tipo de
deficiência, correspondem a 4,7% das crianças e adolescentes, sendo: 1,5% com deficiência
física, 1,5% com deficiência intelectual, 0,9% visual, 0,6% auditiva e 0,2% com deficiências
múltiplas.
O acesso e permanência de crianças e adolescentes em situação de rua nas escolas
depende de diversos fatores e um deles muito importante é como conciliar trabalho e
estudos tão precocemente. Com relação à frequência escolar, a pergunta elaborada pela
equipe técnica foi realizada para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, conforme a
obrigatoriedade etária estabelecida na Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que dispõe sobre
as diretrizes e bases da educação nacional e estabelece que a educação básica obrigatória e
gratuita é dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade (BRASIL, 2013).
No total geral, cuja pesquisa foi por abordagem, 80,5% afirmaram frequentar a
escola. Ao analisar por faixa etária, a maior frequência está na faixa etária de 7 a 11 anos,
com 85,5%, seguido da faixa etária de 12 a 17 anos, com 78,1%.

4.2.2 Crianças e Adolescentes acompanhados de algum adulto

As pessoas que estão em situação de rua, muitas vezes, encontram-se nesta situação
como consequência dos processos sociais excludentes. A existência e naturalização de
pessoas nesta situação é reflexo de uma sociedade desigual tendo como principal referência
econômica o neoliberalismo, que determina os que vão estar inseridos nas políticas sociais
e os que permanecerão à margem da sociedade, pois há limites de gastos públicos para com
o cuidado social (MARTINS, 2003).
Nem sempre as crianças e adolescentes em situação de rua estão próximos de seus
familiares e (...) “embora as relações familiares de crianças e adolescentes em situação de
rua sejam permeadas por conflitos, vulnerabilidades e dificuldades, inclusive no campo

31
psicossocial e afetivo, a família permanece sendo uma importante rede de pertencimento
para esses sujeitos. Seus vínculos resistem, ainda que fragmentados e permeados por
ambivalências” (RIZZINI, 2019, p. 110). No que diz respeito às crianças e adolescentes
acompanhados de algum adulto, em todas as faixas etárias, 58,5% estavam nesta situação.
Essa análise considerou as crianças e adolescentes que estavam na rua e, no momento da
pesquisa, estavam na companhia de algum adulto.

Tabela 3: CAs acompanhados de algum adulto

Respostas Quant. (%)

Sim 1.842 58,5%

1.308 41,5%
Não
Totais 3.150 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

32
4.3. Distribuição de CASR no território

Na Tabela 4, as informações sobre CAs recenseados estão distribuídas em três


segmentos para abarcar todas as situações vividas por CAs que conferem ao conceito de
situação de rua de referência determinado pelo CONANDA: CAs que estavam em serviço de
acolhimento, CAs que pernoitam na rua e CAs que passam o dia ou parte do dia na rua.
Lembrando que esses 2 últimos segmentos agravam ainda mais a situação e aumentam os
riscos sociais.
Considerando os 10 primeiros distritos com maior concentração de CAs para cada
uma das 3 situações, temos para aquelas CAs que estão acolhidos a predominância nos
distritos: Belém (11,2%), Pari (9%), Santa Cecília (7,4%), República (6,4%), Santo Amaro
(5,1%), Penha (3,8%), Ermelino Matarazzo (3,3%), Bom Retiro (3,1%), Bela Vista (3,0%) e Sé
(2,3%).
Quanto àquelas CAs que pernoitam, os 10 distritos com maior participação deste
segmento são: Tatuapé (14,2%), Sé (13,7%), Santana (11,7%), República (8,7%), Santa Cecília
(6,7%), Bom Retiro (5,2%), Bela Vista (4,2%), Pari (4,0%), Itaim Bibi (3,7%) e Vila Mariana
(2,5%). Com relação às CAs expostas a outras trajetórias de risco, que não seja o pernoitar,
as maiores concentrações apresentam-se nos distritos: República (8,5%), Pinheiros (5,3%),
Sé (4,8%), Santa Cecília (4,5%), Tatuapé (3,6%), Lapa (3,3%), Moema (3,2%), Santana (3,1%),
Bela Vista (3,1%) e Barra Funda (2,9%).
Em síntese, dentre as maiores concentrações de CAs que pernoitam e de CAs com
outras trajetórias de risco, os distritos reincidentes nas duas categorias são: Bela Vista,
República, Santana, Santa Cecília, Sé, Tatuapé.

33
Tabela 4: CAs segundo distrito e categorias de CAs

Outras trajetórias de
Acolhidos Pernoite Total
Distrito risco
Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%)

Água Rasa 0,0% 0,0% 25 0,9% 25 0,7%


Alto de Pinheiros 2 0,3% 2 0,5% 30 1,1% 34 0,9%
Anhanguera 0,0% 0,0% 5 0,2% 5 0,1%

Aricanduva 0,0% 0,0% 11 0,4% 11 0,3%


Artur Alvim 1 0,2% 0,0% 2 0,1% 3 0,1%

Barra Funda 12 2,0% 1 0,2% 81 2,9% 94 2,5%

Bela Vista 18 3,0% 17 4,2% 86 3,1% 121 3,2%


Belém 68 11,2% 0,0% 23 0,8% 91 2,4%

Bom Retiro 19 3,1% 21 5,2% 47 1,7% 87 2,3%


Brás 1 0,2% 4 1,0% 57 2,1% 62 1,6%

Brasilândia 0,0% 0,0% 20 0,7% 20 0,5%

Butantã 6 1,0% 2 0,5% 7 0,3% 15 0,4%


Cachoeirinha 0,0% 1 0,2% 45 1,6% 46 1,2%

Cambuci 0,0% 5 1,2% 27 1,0% 32 0,9%

Campo Belo 0,0% 6 1,5% 15 0,5% 21 0,6%

Campo Grande 10 1,6% 0,0% 8 0,3% 18 0,5%

Campo Limpo 2 0,3% 0,0% 6 0,2% 8 0,2%

Cangaíba 0,0% 0,0% 1 0,0% 1 0,0%

Capão Redondo 1 0,2% 0,0% 1 0,0% 2 0,1%

Carrão 5 0,8% 0,0% 22 0,8% 27 0,7%


Casa Verde 7 1,1% 4 1,0% 24 0,9% 35 0,9%

Cidade Ademar 8 1,3% 0,0% 5 0,2% 13 0,3%


Cidade Dutra 9 1,5% 0,0% 11 0,4% 20 0,5%

Cidade Líder 0,0% 0,0% 39 1,4% 39 1,0%

Cidade Tiradentes 2 0,3% 0,0% 11 0,4% 13 0,3%


Consolação 0,0% 2 0,5% 50 1,8% 52 1,4%

Cursino 0,0% 1 0,2% 5 0,2% 6 0,2%

Ermelino Matarazzo 20 3,3% 0,0% 24 0,9% 44 1,2%


Freguesia do Ó 10 1,6% 0,0% 28 1,0% 38 1,0%

Grajaú 0,0% 0,0% 5 0,2% 5 0,1%

Guaianases 12 2,0% 1 0,2% 20 0,7% 33 0,9%

34
Iguatemi 0,0% 0,0% 50 1,8% 50 1,3%

Ipiranga 6 1,0% 1 0,2% 24 0,9% 31 0,8%

Itaim Bibi 0,0% 15 3,7% 72 2,6% 87 2,3%

Itaim Paulista 4 0,7% 0,0% 33 1,2% 37 1,0%


Itaquera 7 1,1% 0,0% 8 0,3% 15 0,4%

Jabaquara 9 1,5% 0,0% 24 0,9% 33 0,9%


Jaçanã 0,0% 0,0% 21 0,8% 21 0,6%
Jaguara 0,0% 0,0% 10 0,4% 10 0,3%

Jaguaré 0,0% 2 0,5% 3 0,1% 5 0,1%


Jaraguá 4 0,7% 1 0,2% 16 0,6% 21 0,6%

Jardim Ângela 1 0,2% 1 0,2% 29 1,1% 31 0,8%

Jardim Helena 0,0% 0,0% 8 0,3% 8 0,2%

Jardim Paulista 0,0% 8 2,0% 68 2,5% 76 2,0%

Jardim São Luís 3 0,5% 0,0% 0,0% 3 0,1%

José Bonifácio 0,0% 2 0,5% 11 0,4% 13 0,3%

Lajeado 9 1,5% 2 0,5% 15 0,5% 26 0,7%

Lapa 9 1,5% 3 0,7% 91 3,3% 103 2,7%


Liberdade 9 1,5% 5 1,2% 21 0,8% 35 0,9%

Limão 0,0% 1 0,2% 17 0,6% 18 0,5%


Mandaqui 0,0% 1 0,2% 15 0,5% 16 0,4%

Moema 1 0,2% 9 2,2% 87 3,2% 97 2,6%

Moóca 3 0,5% 4 1,0% 18 0,7% 25 0,7%

Morumbi 0,0% 2 0,5% 24 0,9% 26 0,7%


Parelheiros 7 1,1% 0,0% 0,0% 7 0,2%

Pari 55 9,0% 16 4,0% 26 0,9% 97 2,6%

Parque do Carmo 9 1,5% 0,0% 2 0,1% 11 0,3%

Penha 23 3,8% 4 1,0% 2 0,1% 29 0,8%

Perdizes 0,0% 0,0% 12 0,4% 12 0,3%


Perus 2 0,3% 0,0% 5 0,2% 7 0,2%

Pinheiros 0,0% 6 1,5% 146 5,3% 152 4,0%

Pirituba 0,0% 1 0,2% 14 0,5% 15 0,4%


Ponte Rasa 9 1,5% 0,0% 1 0,0% 10 0,3%

Raposo Tavares 0,0% 0,0% 1 0,0% 1 0,0%


República 39 6,4% 35 8,7% 235 8,5% 309 8,2%

35
Sacomã 2 0,3% 0,0% 6 0,2% 8 0,2%

Santa Cecília 45 7,4% 27 6,7% 124 4,5% 196 5,2%

Santana 8 1,3% 47 11,7% 85 3,1% 140 3,7%

Santo Amaro 31 5,1% 1 0,2% 12 0,4% 44 1,2%


São Domingos 2 0,3% 0,0% 4 0,1% 6 0,2%

São Lucas 7 1,1% 0,0% 9 0,3% 16 0,4%


São Mateus 10 1,6% 0,0% 24 0,9% 34 0,9%
São Miguel 13 2,1% 3 0,7% 25 0,9% 41 1,1%

São Rafael 0,0% 0,0% 7 0,3% 7 0,2%


Sapopemba 9 1,5% 0,0% 5 0,2% 14 0,4%

Saúde 4 0,7% 2 0,5% 75 2,7% 81 2,2%

Sé 14 2,3% 55 13,7% 133 4,8% 202 5,4%

Socorro 0,0% 0,0% 1 0,0% 1 0,0%

Tatuapé 5 0,8% 57 14,2% 99 3,6% 161 4,3%

Tremembé 3 0,5% 0,0% 12 0,4% 15 0,4%

Tucuruvi 7 1,1% 0,0% 11 0,4% 18 0,5%

Vila Andrade 1 0,2% 1 0,2% 10 0,4% 12 0,3%


Vila Curuçá 2 0,3% 0,0% 10 0,4% 12 0,3%

Vila Formosa 0,0% 0,0% 4 0,1% 4 0,1%


Vila Guilherme 0,0% 1 0,2% 29 1,1% 30 0,8%

Vila Jacuí 3 0,5% 0,0% 31 1,1% 34 0,9%

Vila Leopoldina 0,0% 6 1,5% 30 1,1% 36 1,0%

Vila Maria 0,0% 0,0% 60 2,2% 60 1,6%


Vila Mariana 2 0,3% 10 2,5% 61 2,2% 73 1,9%

Vila Matilde 7 1,1% 0,0% 5 0,2% 12 0,3%

Vila Medeiros 2 0,3% 0,0% 5 0,2% 7 0,2%

Vila Prudente 10 1,6% 3 0,7% 12 0,4% 25 0,7%

Vila Sônia 0,0% 2 0,5% 10 0,4% 12 0,3%

Total 609 100% 401 100% 2749 100% 3759 100%


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

36
4.4. Comparativo do perfil de CASR entre os censos de 2007 e 2022

Quanto às taxas de crescimento, em 15 anos a taxa de crescimento de CASR e CAs


com trajetória de rua nas instituições foi de 4,42% ao ano, e a variação percentual entre os
números é de 91,2%. Já a taxa anual de crescimento de crianças e adolescentes que estavam
nas ruas foi de 3,62% ao ano, e a variação percentual é de 71%.

Tabela 5: Variação percentual entre os dois anos, Tabela 6: Variação percentual entre os dois anos,
considerando as CAs acolhidos considerando apenas as CASR
CASR (incluindo as CAs acolhidos) CASR (excluindo os acolhidos)

Ano Quant. Ano Quant.


2007 1.966 2007 1.842
2022 3.759 2022 3.150
Variação Percentual 91,2% Variação Percentual 71,0%
Fonte: FIPE, 2007 e Painel Pesquisas, 2022 Fonte: FIPE, 2007 e Painel Pesquisas, 2022.

Gráfico 1:Variação percentual entre os dois anos, Gráfico 2: Variação percentual entre os dois,
considerando as CAs acolhidos considerando apenas as CASR

CASR (incluindo os acolhidos) CASR (excluindo os acolhidos)

3759 3150

1842
1966

2007 2022 2007 2022

Fonte: FIPE, 2007 e Painel Pesquisas, 2022. Fonte: FIPE, 2007 e Painel Pesquisas, 2022.

Com referência à faixa etária, houve um aumento quantitativo de CASR nas 3 faixas
etárias, com destaque para crianças de 0 a 6 anos, o que pode indicar a presença de mais
famílias em situação de rua, uma vez que bebês e crianças dessa faixa estão acompanhados
de pessoas adultas.

37
Tabela 7: Faixa etária de CASR no Censo de 2007 Tabela 8: Faixa etária de CASR no Censo de 2022
CENSO CASR 2007 CENSO CASR 2022
Faixa etária Quant. (%) Faixa etária Quant. (%)
Até 6 anos 271 14,7% Até 6 anos 918 29,1%
De 7 a 11 anos 524 28,4% De 7 a 11 anos 892 28,3%
De 12 a 17 anos 1.006 54,6% De 12 a 17 anos 1.335 42,4%
Sem identificação 23 1,2% Não informado 5 0,2%
Total 1.824 100,0% Total 3.150 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas, 2022. Fonte: FIPE, 2007.

A quantidade de crianças e adolescentes em situação de rua do sexo feminino


também aumentou, em 2007 representava 27%, subiu 10% em 2022, chegando a 37%, tanto
em percentuais quanto em números absolutos. Já o sexo masculino, diminuiu 9,9%, mas
aumentou em números absolutos. Quanto à raça/cor também houve mudança, aumentando
as cores parda e branca, tanto em números absolutos como em percentuais, e reduzindo em
termos proporcionais as crianças e adolescentes da cor preta.

38
4.5 Riscos Sociais identificados na etapa censitária

Encontrar-se em situação de rua já é uma violação de direito, pois as CAs não estão
recebendo a devida e necessária Proteção Integral, prescrita no artigo 227 da Constituição
Federal, que determina:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (BRASIL, 1988).

As CASR estão desprotegidos, expostos aos riscos pessoais e sociais, ou seja, expostos
a fatores de risco que incidem em violências de naturezas diferentes oriundas das ruas. As
situações especificadas pelo conceito de CASR Conanda/CNAS (2016) e outras decorrentes
do viver nas ruas, identificadas nos resultados do censo, apontam para essa complexidade,
envolvendo vários tipos de riscos e as circunstâncias em que ocorrem os riscos. As CASR e
suas respectivas famílias vêm de um processo histórico de exclusão e de ausência dos
direitos básicos.
De fato, as violações de direitos estão inter-relacionadas, uma leva à outra, por
exemplo, se uma criança necessita de um determinado tratamento de saúde e este não é
ofertado pela dificuldade de acesso que se apresenta à criança, os efeitos dessa falta de
cuidado afetarão o desenvolvimento integral da criança, o desenvolvimento biopsicossocial,
traduzindo-se em várias violações de direitos. Note-se que as atividades do brincar,
atividades de estar na rua (parado, sentado, andando ou dormindo) podem num primeiro
momento não incidir em perigo para CAs em geral. Entretanto, por serem realizadas sob o
contexto da rua, sozinhos ou acompanhados de pessoas adultas ou de outras CASR,
alternando entre a mendicância e o trabalho, estão expostos a riscos e ao agravamento da
vulnerabilidade em que se encontram, intensificando ainda mais as violações de direitos.
Neste sentido, várias foram as atividades e/ou situações vividas pelas CASR
identificadas durante a realização do censo, que decorrem dessa vivência na rua, das
atividades praticadas por eles, para os quais foram geradas 4 categorias: atividades
geradoras de renda, atividades geradoras de renda gravíssimas, atividades não geradoras de
renda e outras atividades.

39
Figura 8:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos 2

Atividade Atividade não


geradora de geradora de
renda renda
1.953 CASR 1.493 CASR
(62,0%) (47,4%)
Total de Atividade
3.150 CASR geradora de renda
gravíssima
(100%)
147 CASR
(4,7%)
Outras
atividades
569 CASR
(18,1%)

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Os riscos referem-se às condições fragilizadas da vida sendo vivida na rua: risco pela
desproteção física e emocional (sem acesso à alimentação, à proteção da moradia, à higiene;
por se encontrar só e se sentir desprotegido), risco de vida pela violência praticada por
grupos criminosos e muitas vezes pela própria polícia, risco de saúde, risco de acidente no
trânsito, risco de realizar atividades impróprias para a idade, risco de exploração sexual e
comercial, risco de abusos, risco de usar drogas ou de aumentar seu consumo, entre outros.
Os riscos advêm de fatores externos e relacionam-se às condições adversas ao ambiente da
rua, afetando intensamente a vida destas CAs, nas dimensões pessoais e sociais, podendo
gerar graus diferentes de impacto sobre a pessoa. Embora os riscos façam referência a um
evento futuro, dependendo dos acontecimentos que os permeiam, vários riscos já se
concretizaram na vida das CASR.
Dentre as atividades desenvolvidas pelas CASR, destacam-se as atividades geradoras
de renda (trabalho infantil) realizados por 64,60%. Trata-se das vendas de produtos lícitos
(pano de prato, doces, balas, etc.) e mendicância realizadas para obtenção de renda. Há
também os serviços de coleta de reciclagem, malabares, flanelinha/guardador de carro,
rodinho, entrega de panfletos, engraxate e as atividades gravíssimas geradoras de renda
(venda de substâncias psicoativas, furto/roubo e a exploração sexual e comercial).

2
A mesma CASR pode realizar mais de uma atividade. Porcentagem em relação ao total de 3.150 CASR (pernoitando nas ruas e outras
trajetórias de risco)

40
Tabela 9: CASR - Atividades informadas pelo entrevistado e observadas pelo pesquisador
Atividade que realiza quando está na rua Quant. (%)
Categoria
Trabalho infantil/geração de renda
Venda de produtos lícitos (pano de prato, balas, doces, chocolate,
1.022 32,4%
isqueiro, etc.)
Pedir coisas (mendicância – dinheiro, comida, roupa, doações, etc.) 901 28,6%
Atividade Coleta de Reciclagem 116 3,7%
geradora de Malabares 62 2,0%
renda Flanelinha/Guardador de carro 63 2,0%
Entregar panfletos 45 1,4%
Rodinho 56 1,8%
Engraxate 14 0,4%
Atividade Venda de produtos ilícitos (drogas) 103 3,3%
geradora de Roubo/furto 35 1,1%
renda
gravíssima Exploração sexual comercial 13 0,4%
Subtotal das citações (*) 2.430 -
Demais atividades
Brincando 1.001 31,8%
Atividade não Andando
338 10,7%
geradora de
renda Parado, sentado 221 7,0%
Dormindo 75 2,4%
Situações de CASR acompanhando adultos sem realizar atividade de
Outras 465 14,8%
trabalho
atividades
Consumindo álcool e outras drogas (cenas de uso) 104 3,3%
Subtotal das citações (*) 2.204 -
Total de citações (*) 4.305 -
(**) Total de CASR em situação de trabalho infantil (Atividade
2.036 64,6%
geradora + Atividade geradora gravíssima)
Total de CASR 3.150 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: Uma CASR pode exercer mais de uma atividade e pode estar submetido a mais de um risco, por essa razão o total de citações é
maior que o total de CASR.
(**) Nota: No trabalho infantil a mesma CASR pode realizar atividade geradora de renda e atividade geradora de renda gravíssima, no
entanto, para se chegar no percentual acima (64,6%), a CASR foi contabilizada apenas uma vez.

Contudo, o trabalho realizado nas ruas e logradouros públicos por CAs constitui uma
das piores formas de trabalho infantil, de acordo com o Decreto nº 6481 de 12 de junho de
2008 instituindo a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil – TIP (Lista TIP), conforme
artigos da Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho – OIT (BRASIL, 2008).
Nessa lista são indicados, além dos tipos de trabalho, os prováveis riscos ocupacionais e as
prováveis repercussões à saúde, de modo que os trabalhos praticados pelas CASR descritos
anteriormente fazem parte desses trabalhos listados nas piores formas de trabalho infantil,
visto que são realizados em ruas e logradouros públicos e incluem o “comércio ambulante,

41
guardador de carros, guardas mirins, guias turísticos, transporte de pessoas ou animais,
entre outros”, conforme quadro a seguir (BRASIL, 2008).
O Poder Judiciário trata o trabalho de CAs no narcotráfico como uma prática de ato
infracional, de acordo com o ECA, sem dar a devida atenção para o fato de que se trata de
uma das piores formas de trabalho infantil, segundo convenções internacionais (FÁVERO,
2022). Vale lembrar que a Lista TIP caracteriza o trabalho infantil no tráfico de drogas como
uma das piores formas de trabalho: “essa forma de trabalho desprotegida ou incompatível
com a idade de quem o exerce deixa traumas e sequelas físicas e emocionais, que anulam
completamente qualquer potencial pedagógico” (SILVEIRA, 2019).
A exploração sexual e comercial de CAs também faz parte da Lista TIP. Trata-se de uma
situação em que a criança ou o adolescente está sendo explorado por uma pessoa adulta, o
que configura uma violação de direito, mas não uma escolha da CA. A exploração sexual e
comercial expõe as CAs a vários riscos, desenvolvendo doenças físicas e psicológicas, desde
a gravidez indesejada às doenças sexualmente transmissíveis, danos à saúde mental, evasão
escolar, entre outros. Assim, o trabalho infantil, qualquer que seja, além de sequestrar a
infância, mantém o futuro adulto refém de um ciclo vicioso. Quanto mais tempo a criança se
dedica ao trabalho, menores são suas notas. Conforme já comentado acima, o tempo gasto
com o trabalho a deixa cansada, sem poder assimilar os conhecimentos e desenvolver suas
habilidades e competências. Essa situação a desestimula e compromete sua carreira
profissional, pois não consegue ter um rendimento suficiente na escola para quebrar esse
círculo vicioso (FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, 2022). Importa destacar que a responsabilidade
pelos riscos a que estão expostos, quaisquer que sejam, não incide sobre as CASR. Ao
contrário, são as situações vividas nas ruas que revelam maus tratos e negligência por parte
da sociedade e do estado, visto que CAs são sujeitos em desenvolvimento que requerem
proteção e cuidado, direitos garantidos pela Constituição Federal/1988 e ECA/1990.
É primordial considerar que na etapa amostral os riscos sociais foram aprofundados,
de modo que no processo investigativo da pesquisa foi possível construir um vínculo maior
do pesquisador com o entrevistado, compreendendo a trajetória de vida da pessoa
entrevistada, cujas atividades foram esquadrinhadas e a frequência em que as praticam
identificadas, ampliando assim o percentual de crianças e adolescentes em relação aos riscos
sociais apresentados na etapa censitária, conforme será apresentado no capítulo “5.
Resultados da etapa amostral”.

42
Ao observar os riscos sociais por faixa etária, entre as crianças e adolescentes de 7 a
17 anos, 71% realizam alguma atividade geradora de renda e 6,6% das CAs desta faixa etária
realizam atividade geradora de renda gravíssima. Já na faixa etária de 0 a 6 anos, 56,7% das
crianças em situação de rua realizam alguma atividade não geradora de renda e 43,6% outras
atividades, sendo que nesta categoria a maioria encontra-se em situação de acompanhar
algum adulto em situação de rua, sem realizar atividade de trabalho.
É de extrema relevância compreender no critério de categorização das atividades,
neste caso, dando destaque ao trabalho infantil, que a CASR foi contabilizada em situação
de trabalho infantil se ela realiza pelo menos uma atividade geradora de renda ou atividade
geradora de renda gravíssima, de modo que se a mesma pessoa realiza mais de uma
atividade, ela foi contabilizada uma vez. Portanto, o total de citação das atividades é maior
que o total de CASR. Na tabela a seguir o percentual é calculado em relação ao total de CASR
por faixa etária.
Tabela 10: CASR – Riscos sociais segundo faixa etária

Faixa etária
Riscos Sociais De 0 a 6 anos De 7 a 17 anos Total
Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%)
Atividades geradoras de renda 371 40,4% 1580 70,9% 1.953 62,0%
Atividades geradoras de renda
1 0,1% 146 6,6% 147 4,7%
gravíssimas
Total de CASR exposta a situação de
372 40,5% 1.662 74,6% 2.036 64,6%
trabalho infantil
Atividades não geradoras de renda 520 56,6% 969 43,5% 1.493 47,4%
Outras atividades 401 43,7% 167 7,5% 569 18,1%
Citações 1293 - 2862 - 4.162 -
Total de CASR* 918 100% 2227 100% 3.150 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*No trabalho infantil a mesma CASR pode realizar atividade geradora de renda e atividade geradora de renda gravíssima, no
entanto, para se chegar no percentual acima (64,6%), a atividade realizada foi contabilizada apenas uma vez, quando foi realizada pela
mesma CASR. Tiveram 5 CASR em que a faixa etária não foi identificada, mas foi contabilizada no total por tipo de risco/atividade (7
citações).

43
5. RESULTADOS DA ETAPA AMOSTRAL

A seguir serão apresentados os principais resultados da etapa amostral. Os dados


foram agrupados de acordo com os blocos do questionário e foram expostos de acordo com
os dois grupos etários (0 a 6 anos e 7 a 17 anos) e por situação: acolhimento, outras
trajetórias de risco e pernoite. Para facilitar a leitura dos dados, todas as informações do
grupo etário de 0 a 6 anos foram formatadas no degradê da cor vinho e o grupo de 7 a 17
anos no degradê da cor azul:

0 a 6 anos 7 a 17 anos

Com relação ao plano amostral, foi utilizado a metodologia da amostragem não


probabilística, haja vista que a amostragem não-probabilística é utilizada quando o universo
de pesquisa pode mudar, ou quando não se garante que todos os indivíduos da população
terão a mesma chance de participarem da amostra. Além desta característica, a amostragem
não-probabilística permite a definição da unidade amostral pelo pesquisador, ou seja, o
pesquisador, diante de alguns critérios pré-definidos, decide se o indivíduo pertence ou não
a determinada população. Portanto, fica evidente que critérios probabilísticos não são
possíveis de serem atendidos na sua totalidade, sendo assim, a amostragem para a pesquisa
da população de CASR foi a não-probabilística. Reforçando os motivos técnicos:
● A transitoriedade das CASR, ou seja, hoje elas estão na rua, amanhã elas podem não
estar, ou ainda, elas estão alguns dias na rua, mas no momento da pesquisa não estão. São
essas as situações que não garantem aleatoriedade e a mesma chance de participação na
amostra, haja visto que será entrevistado quem estiver na rua no momento da pesquisa;
● O conceito de CASR que define o segmento social que está associado à situação de rua,
formulado de forma técnica na Resolução no.1 CONANDA/CNAS, 2016. Ou seja, uma CA que
está em situação de rua pode não ter este entendimento, pois dorme todos os dias em casa
e vai para a rua apenas para vender algo, por exemplo. Desta maneira, a caracterização de
situação de rua é dada pelo instrumental de pesquisa, a partir de perguntas filtros que

44
caracterizam o perfil da CASR, em convergência com o entendimento da Resolução do
CONANDA/CNAS.
● No Censo a qualificação entre os grupos de pernoite e outras trajetórias não foi
aprofundado, haja visto que o objetivo desta etapa era realizar o levantamento quantitativo
espacial de CASR e o levantamento inicial dos riscos sociais que as crianças e os adolescentes
estavam expostos. Na etapa amostral, buscou-se o detalhadamente e aprofundamento das
questões que permeiam a vida da CASR, o que pode mudar para mais ou para menos a
representatividade dos grupos dentro da amostra.
A figura 9 trata-se da caracterização geral e os quantitativos nos dois grupos de
pesquisa, seguindo a proporcionalidade do Censo de CASR em cada grupo de situação de rua
e em conformidade com o perfil da população.

Figura 9:Amostragem não-probabilística por cotas, dividida em dois grupos

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Todavia, conforme já mencionado anteriormente, considerando a característica de


transitoriedade do público-alvo da pesquisa, e que o método estatístico utilizado foi a
amostragem não probabilística, na proporcionalidade das cotas pode haver alterações para
mais ou para menos.

5.1 Perfil das CAs e dos responsáveis de crianças de 0 a 6 anos

A pesquisa abordou em campo um total de 741 CASR, sendo 41% do sexo feminino e
58% do sexo masculino, um padrão da maioria do sexo masculino já percebida no Censo.
Consolidando estes dados nos dois grupos de faixas etárias, é percebida a seguinte

45
distribuição do sexo biológico: 53,2% do sexo feminino na faixa etária de 0 a 6 anos e 63,7%
do sexo masculino na faixa etária de 7 a 17 anos.

Gráfico 3:Sexo dos CASR por faixa etária

0 a 6 anos 7 a 17 anos Total

63,7%
58,7%
53,2%
46,8%
41,3%
36,3%

Feminino Masculino

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Ao analisar por grupo, 63,3% dos que estão expostos à situação do pernoite, são do
sexo feminino. Apesar de visualmente o percentual ser maior, esse perfil de sexo biológico
dentro dos grupos de Situação de Rua (SR) não apresentou uma diferença significativa (Teste
Ꭓ2 p-valor = 0,48), ou seja, não se pode concluir que um grupo em situação de rua tem mais
ou menos crianças do sexo feminino que outro grupo. Para acolhimento, encontramos 51,1%
de perfis do sexo feminino e 48,9% do sexo masculino e, em outras trajetórias de risco, 51,7%
feminino e 48,3% masculino.

Tabela 11:Sexo na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação


Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Sexo risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Feminino 23 51,1% 75 51,7% 19 63,3% 117 53,2%
Masculino 22 48,9% 70 48,3% 11 36,7% 103 46,8%
Total Geral 45 100% 145 100% 30 100% 220 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Já no grupo de crianças acima de 7 anos e adolescentes até 17 anos, o sexo masculino


é predominante e representou 63,7% do total. Quando analisado por grupo, este mesmo
gênero aponta 61,3% dos perfis encontrados no acolhimento, enquanto 68% estão inseridos

46
em outras trajetórias de risco. Na situação de pernoite observamos o mesmo contingente
para ambos os sexos.
Tabela 12: Sexo na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação

Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Sexo risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Feminino 31 38,8% 111 32,0% 47 50,0% 189 36,3%
Masculino 49 61,3% 236 68,0% 47 50,0% 332 63,7%
Total Geral 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Em relação à raça/cor, a amostra total dos 741 respondentes apresentou 44,4% da


raça/cor parda, 33,9% da raça/cor preta, 20% da branca e o restante de outras
categorizações. Ao observar a faixa etária de 0 a 6 anos, 71,9% são da raça/cor preta e parda.
Entre a faixa etária de 7 a 17 anos, o percentual da raça/cor preta e parda ultrapassam 80%
e prevalece em todos os grupos, tendo como destaque para os que estão na situação de rua
expostos a outras trajetórias de risco, com 83% dos casos. Destacou-se na faixa etária de
0 a 6 anos a raça/cor branca, com 26,4% dos entrevistados, enquanto na outra faixa etária,
de 7 a 17, teve-se 17,3%. Se comparar o percentual de crianças brancas na faixa etária de
0 a 6 anos em relação às CAs brancas de 7 a 17 anos percebe-se uma diminuição,
diferentemente das CAs negras que há um aumento entre os grupos etários, o que pode
indicar que a maioria das CAs brancas vivenciam a situação de rua quando crianças, já as CAs
negras permanecem mais tempo nesta situação.
Nas tabelas 13 e 14, serão observadas as informações sobre a identidade de gênero
e orientação sexual. Vale atentar para o fato de que neste bloco houve perguntas com uma
formulação para crianças e outra para adolescentes, seguindo a mesma metodologia
aplicada na etapa censitária. Ainda na etapa amostral, tiveram alguns casos de perguntas
que foram feitas apenas para o público adolescente. Sobre o sexo biológico, a resposta foi
atribuída pelo pesquisador no início do questionário, e não perguntado diretamente às CASR,
entendendo que era necessário colocar essa informação dentre as perguntas filtro para
melhor organização da padronização posterior e então priorizar a observância sobre a
identidade de gênero a partir de resposta direta de crianças e adolescente, pois neste caso,
trata-se de um entendimento pessoal construído a partir de suas subjetividades e processos
de socialização:

47
“Os corpos ganham sentido socialmente. A inscrição dos gêneros — feminino ou masculino
— nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada cultura e, portanto, com as
marcas dessa cultura. As possibilidades da sexualidade — das formas de expressar os
desejos e prazeres — também são sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As
identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas por relações sociais,
elas são moldadas pelas redes de poder de uma sociedade” (LOURO, 2000, p.6).

A começar pelas crianças para quem a pergunta narrada foi: “Você se sente menino
ou menina? ”. Para identificar a identidade de gênero, entre o público infantil masculino
todos se identificam com o gênero atribuído ao sexo biológico. Entre as crianças do sexo
feminino, 3 delas deram respostas diferentes: 1 se sente em ambas as categorias, outra se
sente menino e a terceira não soube informar como se sente.

Tabela 13: Como se sente na faixa etária de 7 a 11 anos por sexo


Feminino Masculino Total
Como se sente
Quant. % Quant. % Quant. %
Ambos 1 1,0% 0,0% 1 0,4%
Menina 96 97,0% 0,0% 96 43,0%
Menino 1 1,0% 124 100,0% 125 56,1%
Não soube informar 1 1,0% 0,0% 1 0,4%
Total Geral 99 100,0% 124 100,0% 223 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Entre os adolescentes a pergunta foi objetivamente sobre a identidade de gênero,


inferindo que esta faixa etária já possui mais ferramentas para entender o termo e se
ocorresse de alguém não saber, os pesquisadores estavam aptos a explicar. Os dois modelos
de pergunta (para crianças e para adolescentes) seguiram o padrão realizado no questionário
da etapa censitária, como já mencionado. Além das opções destacadas na tabela a seguir,
havia a identidade de gênero “travesti” disponível na entrevista e também um campo aberto
“outro, qual?”, que não tiveram representantes nesta etapa. Todas as outras identidades
aparecem em pelo menos uma resposta, indicando uma porcentagem de pelo menos 2,6%
de adolescentes que não afirmaram a identidade de gênero como cisgênero, em situação de
rua. Número que deve ser ressaltado por se tratar de pessoas que já estão com seus direitos
violados, afinal estão ou estiveram em situação de rua e ainda provam de outra
vulnerabilidade sobreposta que é viver em um país onde os números de crimes cometidos
por LGBTfobia cresceram ainda mais este ano (CNJ, 2022).

48
Tabela 14: Identidade de gênero na faixa etária de 12 a 17 anos por situação
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Identidade de gênero risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Menina cisgênero 20 39,2% 46 24,2% 26 45,6% 92 30,9%
Menina transgênero 2 3,9% 1 0,5% 1 1,8% 4 1,3%
Menino cisgênero 28 54,9% 139 73,2% 30 52,6% 197 66,1%
Menino transgênero 0,0% 2 1,1% 0,0% 2 0,7%
Pessoa não-binárie 0,0% 1 0,5% 0,0% 1 0,3%
Não quero responder 1 2,0% 0,0% 0,0% 1 0,3%
Não sei 0,0% 1 0,5% 0,0% 1 0,3%
Total Geral 51 100,0% 190 100,0% 57 100,0% 298 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Quanto mais velhos, maior é a predominância de CA do sexo masculino em situação


de rua, dos 7 aos 11 anos de idade eles são 55,6% e dos 12 aos 17 anos são 69,8%. Tal
diferença na presença de CA, sob o recorte do sexo pode se dar devido a aspectos da cultura
predominante, que influenciam o imaginário social de crianças e adolescentes
indiscriminadamente, acerca da construção dos papéis de gênero, assim, às mulheres são
reservadas as dinâmicas de cuidado, e relações com o espaço doméstico, aos homens por
sua vez, o estímulo é na direção da conquista do espaço público já que devem se colocar no
mercado de trabalho (GONTIJO; MEDEIROS, 2009). Com isso, ainda que crianças do sexo
feminino sejam a maioria no recorte de 0 a 6, observa-se que na trajetória de rua as relações
de gênero acabam por afetar menos as do sexo feminino ao longo dos anos, conforme consta
na tabela a seguir, que revela que na medida que a faixa etária vai aumentando o percentual
de CASR do sexo feminino vai diminuindo.

Tabela 15: Sexo por faixa etária das CASR de 7 a 17 anos


De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos Total
Faixa etária
Quant. % Quant. % Quant. %
Masculino 124 55,6% 208 69,8% 332 63,7%
Feminino 99 44,4% 90 30,2% 189 36,3%
Respondentes 223 100,00% 298 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

É na adolescência que se iniciam as experiências e o interesse sexual-afetivo por


outra pessoa, dessa maneira a pergunta sobre orientação sexual foi feita apenas para
aqueles com 12 a 17 anos. E mais uma vez, sobreleva-se a porcentagem sobre os totais, pois

49
apesar de serem uma minoria de 15,1% de adolescentes os que não se afirmam
heterossexuais, é importante notar que são o dobro do número percebido no censo de
população em situação de rua adulta (8,3%) (QUALITEST, 2022), o que indica uma crescente
neste recorte da população e devem receber devida assistência. Na comparação às respostas
da mesma pergunta anterior, por sexo, pode-se entender que as adolescentes do sexo
feminino (77,8%) são as que proporcionalmente menos se identificam como heterossexuais.
Ao analisarmos os indicadores sobre a cidade natal das crianças e adolescentes, cerca
de 76%, de ambos os grupos (de 0 a 6 e de 7 a 17 anos), nasceram na cidade de São Paulo.
Para os nascidos em outra cidade ou país, foram identificadas 23,2% das crianças no grupo
de 0 a 6 anos, e 24,2% no grupo de 7 a 17 anos.
Em situação de acolhimento institucional, na faixa etária de 0 a 6 anos, observa-se
que 48,9% das crianças não são do município de São Paulo e, se observarmos os responsáveis
das crianças que estão em acolhimento, este percentual é ainda maior, de 64,4%, ou seja,
apenas 35,6% dos responsáveis que estão em situação de acolhimento nasceram na capital
paulista. O tipo "outras trajetórias de risco" é o que mais inclui crianças nascidas em São
Paulo (86,2%). Na situação de pernoite, 70,0% das crianças de 0 a 6 anos nasceram na cidade
de São Paulo em comparação com o local de nascimento dos responsáveis, que
correspondeu a 56,7%.

Gráfico 4: Percentual de CASR que nasceram em São Paulo na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
Crianças de 0 a 6 anos que nasceram em São Paulo
Respondentes que nasceram em São Paulo

86,2%
73,1% 76,8%
70,0%
56,7% 59,5%
51,1%
35,6%

Acolhimento Outras trajetórias de Pernoite Total


risco

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

No caso dos entrevistados na faixa etária de 7 a 17 anos, tanto na situação de


“pernoite”, quanto em “outras trajetórias de risco”, a maioria das CASR são paulistanos
(aproximadamente 80%). Para as CAs de 7 a 17 anos em acolhimento, a predominância

50
também é a naturalidade de São Paulo, todavia, com uma proporção menor que as demais
situações (52,5%).

Gráfico 5: Local de nascimento das CASR na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação

São Paulo Estado de SP Outra cidade, estado ou país

11,8% 12,8% 15,2%


32,5% 8,4% 6,4% 9,0%
15,0%
79,8% 80,9% 75,8%
52,5%

Acolhimento Outras trajetórias de Pernoite Total


risco

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Detalhando o local de nascimento do grupo de 7 a 17 anos, surpreende o percentual


de CASR de outro país. Se considerarmos o total da amostra (521 respondentes) o percentual
de outros países é de 3,1%. (16 entrevistados). A origem destes são: Venezuela (8); Bolívia
(3); Haiti (2); Congo (1) , Equador (1) e Afeganistão (1).

5.2 Escolaridade

Dando um panorama do atendimento da educação às CASR, o gráfico a seguir resume


a situação de matrícula dos dois grupos etários, sendo que 58,6% das crianças de 0 a 6 anos
estão matriculadas e 79,1% das crianças de 7 a 17 anos.

Gráfico 6: Situação da matrícula por faixa etária

0 a 6 anos 7 a 17 anos

79,1%
58,6%

35,5%
18,2%
5,9% 2,7%

Sim Não Nunca foi a escola

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

51
No grupo de 0 a 6 anos, ao analisar por tipo de situação de risco, encontramos 53,3%
das crianças em acolhimento com vínculo escolar, 61,4% das crianças identificadas em outras
trajetórias de risco e 53,3% das crianças em pernoite. Das crianças que não possuem vínculo
escolar ou nunca foram, contabilizou-se 46,7% em situação de acolhimento, 38,6% em
outras trajetórias de risco e 46,7% em situação de pernoite.

Tabela 16: Situação da matrícula na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Matriculado risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim 24 53,3% 89 61,4% 16 53,3% 129 58,6%
Não 17 37,8% 49 33,8% 12 40,0% 78 35,5%
Nunca foi a escola 4 8,9% 7 4,8% 2 6,7% 13 5,9%
Respondentes 45 100,0% 145 100,0% 30 100,0% 220 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Aprofundando a análise acerca da matrícula escolar entre as crianças de 0 a 6 anos,


seguindo o critério da obrigatoriedade etária estabelecida na Lei nº 12.796, que dispõe sobre
a educação básica e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, entre as
crianças de 4 a 6 anos pesquisadas, 80,2% estão matriculadas (Tabela 17). No entanto,
algumas crianças nesta faixa etária foram encontradas nas ruas acompanhando o
responsável que realizava alguma atividade. Isso se deve, entre outros casos, à situação de
que 35% levam as crianças mais nos finais de semana, 27,3% todos os dias e 13,6% não tem
dia certo. Os que alegaram levar as crianças durante a semana representam 24,1%.

Tabela 17: Situação da matrícula por faixa etária


Faixa etária
Matriculado De 0 a 3 anos De 4 a 6 anos Total
Quant. % Quant. % Quant. %
Sim 40 36,7% 89 80,2% 129 58,6%
Não 57 52,3% 21 18,9% 78 35,5%
Nunca foi a escola 12 11,0% 1 0,9% 13 5,9%
Total Geral 109 100,0% 111 100,0% 220 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Na faixa etária de 7 a 17 anos, temos um total de 20,9% que não estão matriculados
na escola (18,2% não está no momento da pesquisa e 2,7% nunca foi matriculado). Quando
observado por tipo de situação, ao analisar o vínculo escolar, encontramos 82,5% das

52
crianças e adolescentes em situação de acolhimento matriculados, 84,4% em outras
trajetórias de risco e 56,4% em situação de pernoite. Os que não possuem ou nunca tiveram
vínculo escolar, encontramos 17,5% em situação de acolhimento, 15,6% em outras
trajetórias de risco e 43,6% em situação de pernoite. Aplicando o Teste Ꭓ2 a diferença entre
os grupos é significativa, mostrando que a situação do pernoite é o que menos frequenta a
escola. Isso se dá pela transitoriedade cotidiana em que estão inseridos esse público, que
podem dormir cada dia em um lugar diferente e isso reflete na evasão escolar, dentre outros
elementos não captados nesta pesquisa. O modelo escolar brasileiro, excludente e de
controle excessivo, também podem favorecer para os índices de evasão constatados por
essa e demais pesquisas que abordam a temática (SILVA, 2005).

Tabela 18: Situação da matrícula na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
Outras trajetórias
Acolhimento Pernoite Total
Matriculado de risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim 66 82,5% 293 84,4% 53 56,4% 412 79,1%
Não 14 17,5% 51 14,7% 30 31,9% 95 18,2%
Nunca foi 0,0% 3 0,9% 11 11,7% 14 2,7%
Total Geral 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Com relação às crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, ao analisar a escolaridade


daqueles que estão em instituição de acolhimento, 71,3% não estavam matriculados antes
de estar em acolhimento, de modo que posterior ao acolhimento o número de CA
matriculados subiu para 82,5%.

Gráfico 7:Matriculados antes e depois do acolhimento na faixa etária de 7 a 17 anos


82,5%
71,3%

Antes Depois

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

A investigação sobre frequência escolar evidenciou que as CASR de 7 a 17 anos em


situação de acolhimento são os que mais frequentam a escola, sendo que dentre os que

53
frequentam o ambiente escolar todos os dias e os que disseram faltar poucas vezes, somam
mais de 90% dos casos. Quando perguntado os motivos para faltar “às vezes”, os principais
citados foram “Por causa do trabalho, não dá tempo” (17,5%), “Porque fico cansado”
(14,9%), “Problemas de saúde” (14,9%) e “Porque está na rua” (13,2%). Entre aqueles que
afirmaram “Mais falta do que vai para a escola”, os principais motivos citados foram “Porque
não gosta/ não está a fim” (32,1%), “Por causa do trabalho, não dá tempo” (11,3%) e
“Problemas de adaptação (brigas, foi expulso, tem vergonha, falta às aulas)” (11,3%).

Tabela 19: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
Outras trajetórias
Acolhimento Pernoite Total
Frequência na escola de risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim. Todos os dias 27 40,9% 194 66,9% 24 46,2% 245 60,0%
Falto poucas vezes 33 50,0% 63 21,7% 18 34,6% 114 27,9%
Mais falto do que vou 6 9,1% 33 11,4% 10 19,2% 49 12,0%
Respondentes 66 100,0% 290 100,0% 52 100,0% 408 100,0%

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Na relação com a escola na faixa etária de 0 a 6 anos, a pergunta sobre interesse do


responsável pela criança por uma vaga em período integral se deu entendendo que esta
modalidade de ensino pode significar um maior apoio às famílias que necessitam realizar
longa jornada de trabalho, de modo a proteger as crianças da exposição ao trabalho infantil
nas ruas. Neste sentindo, 50,9% gostariam que a criança estivesse com vínculo integral na
escola.

Gráfico 8:Matricularia em tempo integral por situação atual da matrícula as crianças de 0 a 6 anos
Sim, ela já está em tempo integral Sim, eu gostaria em tempo integral
Talvez eu matriculasse em tempo integral Não matricularia em tempo integral

8,5%
1,6% 19,2% 14,1%
1,8%
2,6% 38,5%
33,3%
50,9%

78,2%
56,6% 61,5%
33,2%

Matriculado atualmente Não matriculado Nunca foi a escola Total


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

54
Em campo foi possível ouvir algumas justificativas sobre esses 38,5% que não
possuem interesse em matricular suas crianças em tempo integral, entre aqueles que nunca
foram para a escola. Apesar de não haver uma pergunta que justificasse a escolha, os
pesquisadores estiveram atentos às conversas estabelecidas. De uma maneira geral, as
crianças que nunca foram à escola eram aquelas que ainda não possuíam idade de ingresso
obrigatório, ou seja, menores de 4 anos. Principalmente quando se tratava de bebês, muitas
mães (maioria dos responsáveis como será visto a seguir) alegavam não confiar totalmente
nos cuidados das creches, se preocupavam com o processo de adaptação da criança às
outras pessoas, outro espaço, outra alimentação, portanto preferiam esperar que a criança
crescesse um pouco mais para então procurar uma escola.
Ao considerar as crianças de 0 a 6 anos que estão matriculadas, a frequência diária é
a mais citada entre os respondentes, sendo 87,5% em acolhimento e aproximadamente 74%
em outras trajetórias e pernoite. Menos de 10% alegaram frequentar pouco a escola, em
todas as categorias.

Tabela 20: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Frequência escolar risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Frequenta todos os dias 21 87,5% 65 73,0% 12 75,0% 98 76,0%
Falta/faltava poucas vezes 1 4,2% 15 16,9% 4 25,0% 20 15,5%
Mais falta/faltava do que vai 2 8,3% 8 9,0% 0,0% 10 7,8%
Não respondeu 0,0% 1 1,1% 0,0% 1 0,8%
Total Geral 24 100% 89 100% 16 100% 129 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Em relação as CASR de 7 a 17 anos, fazendo uma análise acerca do impacto da escola


na frequência em que a CA fica exposto à situação de rua, percebe-se a redução, de modo
que quanto maior a frequência da CA na escola, menor tempo ela fica em situação de rua.

Gráfico 9: Frequência de rua x frequência escolar


Menos de 5 dias 5 dias ou mais
93%
63% 67%
51%
49% 54%
46%
37% 33%
7%
Nunca fui para a Não está Mais falto do que Falto poucas vezes Sim. Todos os dias
escola matriculado vou

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

55
5.3 Perfil do responsável pela Criança em Situação de Rua

Na pesquisa realizada com os responsáveis de crianças de 0 a 6 anos foram abordados


alguns temas referentes ao perfil do respondente, para contribuir na análise e percepção da
pesquisa. No que diz respeito ao vínculo do responsável com a criança em situação de rua, a
maioria (91,8%) correspondem aos pais biológicos, de modo que a mãe representa 78,2% e
o pai 13,6%. Outros familiares representam 7,8% e pessoas que não têm vínculo com
parentes biológicos equivalem a 0,5% do total dos entrevistados. Ao analisar por situação,
no acolhimento, todos os responsáveis que tiveram trajetória de rua eram os pais biológicos,
sendo a mãe o equivalente a 88,9%. Nos responsáveis expostos a outras trajetórias de risco,
os pais biológicos representam 89%, outros familiares 10,4% e pessoas sem vínculo
consanguíneo 0,7%.

Tabela 21: O que você é desta criança? Na faixa etária de 0 a 6 anos por situação
Outras trajetórias de
O que você é desta Acolhimento Pernoite Total
risco
criança?
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Mãe biológica 40 88,9% 109 75,2% 23 76,7% 172 78,2%
Pai biológico 5 11,1% 20 13,8% 5 16,7% 30 13,6%
Avó 0,0% 8 5,5% 0,0% 8 3,6%
Irmã/irmão 0,0% 4 2,8% 0,0% 4 1,8%
Padrasto 0,0% 1 0,7% 2 6,7% 3 1,4%
Avô 0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
Primo 0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
Pessoa adulta sem
0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
vínculo de parentesco
Total Geral 45 100,0% 145 100,0% 30 100,0% 220 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Com relação ao sexo do responsável, a maioria era do sexo feminino (80,4%).Na


situação do acolhimento a proporção de mulheres responsáveis é ainda maior, o equivalente
a 88,9%. No que diz respeito à identidade de gênero dos respondentes, teve-se 0,5% que se
identifica como mulher transgênero, estando na situação de outras trajetórias de risco.
A raça ou cor do responsável seguiu a mesma proporcionalidade das crianças, sendo
a predominância da raça negra composta pela população parda (43,2%) e pela população
preta (35,0%), esse perfil se aplica em todas as situações.

56
Ao analisar a escolaridade dos responsáveis, 55% cursaram até o ensino
fundamental, de modo que desses, apenas 12,30% concluíram esta etapa de ensino (Ensino
Fundamental completo - 1º ao 9º ano). Com relação ao ensino médio, 17,7% concluíram esta
etapa de ensino. O ensino superior foi iniciado por 2,7% e concluído por apenas 1,8%.

Tabela 22: Escolaridade do responsável


Outras trajetórias
Acolhimento Pernoite Total
Qual sua escolaridade? de risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
NS ou NR 0,0% 6 4,1% 7 23,3% 13 5,9%
Educação infantil (creche e pré-
escola ou jardim de infância) 0,0% 1 0,7% 3 10,0% 4 1,8%
1º segmento (1º ao 5º ano) do
Ensino Fundamental incompleto 2 4,4% 15 10,3% 0,0% 17 7,7%
1º segmento (1º ao 5ºano) do
Ensino Fundamental completo 1 2,2% 14 9,7% 2 6,7% 17 7,7%
2º segmento (6º ao 9ºano) do
Ensino Fundamental incompleto 7 15,6% 42 29,0% 7 23,3% 56 25,5%
Ensino Fundamental completo (1º
ao 9º ano) 4 8,9% 15 10,3% 8 26,7% 27 12,3%
Ensino Médio incompleto 13 28,9% 24 16,6% 0,0% 37 16,8%
Ensino Médio completo 14 31,1% 23 15,9% 2 6,7% 39 17,7%
Superior Incompleto 2 4,4% 4 2,8% 0,0% 6 2,7%
Superior Completo 2 4,4% 1 0,7% 1 3,3% 4 1,8%
Total Geral 45 100% 145 100% 30 100% 220 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Mais uma vez se observa a baixa escolaridade relacionada à pobreza e suas


consequentes vulnerabilidades, neste caso, nota-se que a baixa escolaridade dos
responsáveis dificulta o acesso de suas crianças a esse direito, pois estas se veem obrigadas
a trabalhar desde muito cedo para auxiliar no sustento da família. Acabam por reproduzir o
padrão familiar, se distanciam também da escola para priorizar a sobrevivência, e por fim
constituem uma realidade intergeracional de pessoas dependentes das ruas, como é possível
averiguar no item a seguir.

5.4 Tempo e vivências em Situação de Rua

Estar em situação de rua, tanto as CAs quanto seus responsáveis, pode estar atrelado
a diversos fatores, e de acordo com a Política Nacional para a inclusão social da população

57
em situação de rua, fatores como: ausência de moradia, inexistência de trabalho, crises
econômicas e sanitárias, dependência química, entre outros, podem estar ligados a esta
situação. Ou seja, trata-se de um fenômeno multifacetado que não pode ser explicado desde
uma perspectiva unívoca e monocausal, pois são múltiplas as causas de ir para a rua (BRASIL,
2009).

Antes de detalhar o tempo de rua, é importante destacar que o cálculo levou em


consideração quando o entrevistado começou a vir para a rua, independente se esta situação
foi contínua ou transitória, durante o intervalo de tempo.

Começando pelo Gráfico 9 que distribui os tempos de rua nos grupos etários, e, com
isso pode-se observar uma redução, ou seja, independentemente da faixa etária as
concentrações de tempo de rua estão em tempos menores. Elas aumentam à medida que a
faixa etária aumenta, mostrando uma situação que pode se estender por alguns anos, mas
que tende a ser uma trajetória de vida para um grupo pequeno. Trazendo perspectivas de
mudança situacional.

Gráfico 10: Tempo de rua por faixa etária


0 a 6 anos 7 a 11 anos 12 a 17 anos

40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
< 1 1 ano 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
ano anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Aprofundando a análise acerca do tempo em que a criança está em situação de rua,


no detalhamento de cada tipo de situação, aos responsáveis das crianças de 0 a 6 anos,
perguntou-se há quanto tempo a criança estava em situação de rua, e praticamente todos
as situações se comportaram com a mesma tendência, destaque para o grupo em situação
de acolhimento, com a maioria das crianças com menos de um ano nesta situação (36,4%).
Ainda refletindo sobre esta questão, a média geral de crianças em situação de rua por menos

58
que dois anos é de 65,9%. Por se tratar de um período importante para o crescimento físico
e intelectual dos bebês e crianças, estar em situação de rua neste período pode afetar seu
desenvolvimento em relação às outras crianças (FREITAS, 2021).

Tabela 23: Há quanto tempo a criança de 0 a 6 anos tipo de situação está em situação de rua

Tempo a criança Outras trajetórias de


Acolhimento Pernoite Total
está em risco
situação de rua Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
< 1 ano 21 46,7% 49 33,8% 10 33,3% 80 36,4%
1 ano 11 24,4% 43 29,7% 11 36,7% 65 29,5%
2 anos 9 20,0% 21 14,5% 3 10,0% 33 15,0%
3 anos 0,0% 15 10,3% 2 6,7% 17 7,7%
4 anos 3 6,7% 9 6,2% 1 3,3% 13 5,9%
5 anos 1 2,2% 3 2,1% 1 3,3% 5 2,3%
6 anos e + 0,0% 5 3,4% 2 6,7% 7 3,2%
Total Geral 45 100,0% 145 100,0% 30 100,0% 220 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Ao analisar a idade que a CA de 7 a 17 anos foi para a rua pela primeira vez em relação
à idade que ela tinha no momento da entrevista, tem-se o período que a CA iniciou sua
trajetória de rua, independente se esta situação é contínua ou transitória, durante o
intervalo de tempo. Nesta perspectiva, 65,8% dos entrevistados estão em situação de rua ou
iniciaram a trajetória de rua em até 4 anos, sendo que 32,2% estão expostos a situação de
rua de 1 a 2 anos. Entre as CAs acolhidos, o percentual de entrevistados que tiveram seu
primeiro contato com a rua entre 1 e 2 anos é de 46,3%.

Tabela 24: Período que a CA de 7 a 17 iniciou a trajetória de rua em relação a idade atual
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Período risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
< 1 ano 6 7,5% 50 14,4% 5 5,3% 61 11,7%
De 1 a 2 anos 37 46,3% 107 30,8% 24 25,5% 168 32,2%
De 3 a 4 anos 13 16,3% 79 22,8% 22 23,4% 114 21,9%
De 5 a 6 anos 14 17,5% 54 15,6% 15 16,0% 83 15,9%
De 7 anos ou mais 10 12,5% 57 16,4% 28 29,8% 95 18,2%
Total Geral 80 100,00% 347 100,00% 94 100,00% 521 100,00%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Um recorte importante na análise do tempo de rua entre as CASR de 7 a 17 anos foi


feito ao quantificar o percentual de crianças por tipo de situação que estão mais de 50% do
seu tempo de vida na rua. Com esta característica teve-se 108 casos, representando o total

59
de 21% dos entrevistados. Entretanto, estatisticamente (Teste Ꭓ2), podemos afirmar que
isso é 2,5 vezes maior nas situações de pernoite (32%), se comparado com aqueles que estão
em acolhimento (13%).

Tabela 25: Respondentes na faixa etária de 7 a 17 anos que estão há mais de 50% da vida em situação de
rua por situação
Outras trajetórias de
Mais que 50% da
Acolhimento risco Pernoite Total
vida em SR
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Não 70 88% 279 80% 64 68% 413 79%
Sim 10 13% 68 20% 30 32% 108 21%
Respondentes 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Ainda no grupo de 7 a 17 anos, em relação ao impacto da pandemia ela foi declarada


pelos respondentes como uma das causas de 26,9% dos casos de as CAs estarem em situação
de rua, sendo bem próxima a distribuição entre os tipos de situações.

Tabela 26: A pandemia da COVID-19 é uma das causas que você fez com que você viesse mais para a rua na
faixa etária de 7 a 17 anos, por tipo de situação
Outras trajetórias de
Pandemia como Acolhimento Pernoite Total
risco
causa da SR
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Não 60 75,0% 250 72,0% 71 75,5% 381 73,1%
Sim 20 25,0% 97 28,0% 23 24,5% 140 26,9%
Respondentes 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Gráfico 11:Pandemia como uma das causas da SR na faixa etária de 7 a 17 anos, por situação

Pandemia NÃO É uma das causa da SR Pandemia É uma das causas da SR

25,0% 28,0% 24,5% 26,9%

75,0% 72,0% 75,5% 73,1%

Acolhimento Outras trajetórias de Pernoite Total


risco

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

60
Quando se cruza o fato de a pandemia ser ou não a causa da SR, com o ano declarado
pelos respondentes da faixa etária de 7 a 17 anos, tem-se que grande parte já estava na rua
antes da pandemia, e o pico da série história antes da pandemia (até 2019), tem o ano de
2017 atingindo 11% do total de SR e 13% em 2019.

Gráfico 12: Cruzamento do ano que veio para a rua com a declaração da pandemia como uma das causas
de estar em SR na faixa etária de 7 a 17 anos por situação

Pandemia NÃO É uma das causa da SR Pandemia É uma das causas da SR Total
25%
22%

20%

15% 14%
13% 13%

10% 11%
10%
7%

5%

0%
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Cruzando o tempo médio de rua com a pandemia como causa, observa-se que o
acolhimento tem uma média de tempo mais convergente com a pandemia que as outras
situações.

Gráfico 13:Cruzamento entre o tempo médio de rua e pandemia por SR na faixa etária de 7 a 17 anos

Pandemia NÃO É uma das causa da SR Pandemia É uma das causas da SR Total

4,9 4,8 4,9


4,0 3,7 4,0 3,7
3,3 3,4 3,6
3,2
2,8

Acolhimento Outras trajetórias de rua Pernoite Total


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

61
Além da idade, entre as CAs de 7 a 17 anos, buscou-se saber sobre a pessoa que os
levou para situação de rua pela primeira vez e, na maior parte nos três grupos foi o pai/mãe,
correspondendo a aproximadamente 50% dos casos. Seguido dos amigos e colegas, nos
casos de “outras trajetórias de rua”. Nos que estão em situação de acolhimento, em segundo
lugar, os respondentes disseram ter estado em situação de rua pela primeira vez sozinhos
(32,5%). Nas situações de pernoite e outras trajetórias também houve destaque a opção
irmãos, o que nos leva a inferir que o fenômeno das pessoas em situação de rua tem ligação
direta com a situação de desigualdade no Brasil.
Um dos principais motivos para o surgimento e manutenção das desigualdades
sociais no Brasil é o racismo. Tendo em vista que o país foi construído a partir de
pressupostos discriminatórios, a população negra foi excluída das possibilidades de acesso à
vários serviços e direitos (UZP, 2021). Esse processo fez com que as pessoas negras fossem
postas à margem da sociedade brasileira, enquanto as pessoas brancas acumulavam
privilégios e alcançavam melhores posições sociais. Todo contexto gerou o chamado racismo
estrutural que é definido pelo Professor Silvio Almeida como: “(...) uma forma sistemática
de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas
conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos
a depender do grupo racial ao qual pertençam” (ALMEIDA, 2019, p. 22), dito de outra forma,
o racismo como sistema que estrutura nossa sociedade.

Tabela 27: Com quem você foi para a rua pela primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos
Outras trajetórias
Com quem você foi para a rua pela Acolhimento de rua
Pernoite Total
primeira vez
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Pai/Mãe 41 51,3% 172 49,6% 48 51,1% 261 50,1%
Amigos/Colegas 7 8,8% 89 25,6% 18 19,1% 114 21,9%
Irmãos 0,0% 81 23,3% 23 24,5% 104 20,0%
Sozinho 26 32,5% 30 8,6% 18 19,1% 74 14,2%
Outros familiares 5 6,3% 36 10,4% 14 14,9% 55 10,6%
Adulto sem grau de parentesco 0,0% 2 0,6% 1 1,1% 3 0,6%
Namorado(a), companheiro(a) ou
1 1,3% 0,0% 1 1,1% 2 0,4%
marido/esposa
Respondentes (*) 80 - 347 - 94 - 521 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes. O
percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.

62
Os problemas econômicos e ausência de renda familiar são alguns dos motivos que
levam as pessoas para situação de rua para desempenharem algum tipo de atividade e “os
riscos que permeiam o trabalho infantil, sobretudo no que tange à violência, a redução das
perspectivas de estudo e os danos provocados ao desenvolvimento biopsicossocial de
crianças e adolescentes fazem parte das preocupações notadas pelos pesquisadores e
gestores públicos” (RIZZINI, 2019 p. 114). De acordo com dados levantados na pesquisa
amostral, 51, 1 % das crianças e adolescentes, de 7 a 17 anos, foram para a rua pela primeira
vez para vender algum produto, seguido da mendicância (43,2%). Nos grupos de
acolhimento o percentual nestes motivos é menor, abrindo espaço para conflitos familiares
(11,3%) e vítimas de violência (12,5%).

Tabela 28: Por que você foi para a rua a primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos
Outras
Por que você foi para a rua a primeira Acolhimento trajetórias de Pernoite Total
vez? rua
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Venda 20 25,0% 208 59,9% 38 40,4% 266 51,1%
Mendicância 16 20,0% 158 45,5% 51 54,3% 225 43,2%
Brincar 2 2,5% 70 20,2% 18 19,1% 90 17,3%
Trabalhar 5 6,3% 17 4,9% 0,0% 22 4,2%
Para consumir droga 7 8,8% 3 0,9% 10 10,6% 20 3,8%
Conflito familiar 9 11,3% 2 0,6% 5 5,3% 16 3,1%
Para ter liberdade, se divertir 4 5,0% 8 2,3% 1 1,1% 13 2,5%
Estar com familiares 0,0% 7 2,0% 4 4,3% 11 2,1%
Vítima de violência 10 12,5% 0,0% 0,0% 10 1,9%
Outro 2 2,5% 4 1,2% 1 1,1% 7 1,3%
Foi despejado, perdeu sua casa 2 2,5% 0,0% 4 4,3% 6 1,2%
Foi expulso de casa 1 1,3% 0,0% 2 2,1% 3 0,6%
Nasceu na rua 0,0% 0,0% 2 2,1% 2 0,4%
Roubar 1 1,3% 0,0% 1 1,1% 2 0,4%
Chegou em SP sem ter onde ficar 1 1,3% 0,0% 0,0% 1 0,2%
Não informado 0,0% 1 0,3% 2 2,1% 3 0,6%
Respondentes (*) 80 - 347 - 94 - 521 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes. O
percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.

63
Para entender um pouco mais sobre a relação atual com a rua, cruzou-se a resposta
da pergunta “com quem foi para a rua pela primeira vez”, e com quem ele dorme
atualmente. Para enfatizar o vínculo familiar com pai/mãe biológico categorizou-se os
grupos que apontaram estes familiares. Percebe-se que aqueles que estão expostos a
situação do pernoite têm o maior percentual de que NÃO foi para a rua com o pai/mãe
biológico e NÃO dorme atualmente com eles (40,4%). No oposto, tem-se o acolhimento com
o maior percentual que foi para a rua com pai/mãe biológico e que dormiam com eles (50%),
quando estavam em situação de rua. Em outras trajetórias, destaca-se o percentual que
dorme com pai/mãe biológico, porém não foi para a rua com eles (38,0%).

Tabela 29: Com quem dorme/mora em casa cruzando com quem foi para a rua, na faixa etária de 7 a 17
anos, por tipo de situação
Com quem você foi para a rua pela primeira vez
Quem dorme com
Situação Mãe/Pai biológico Outros Total
ele
Quant. % Quant. % Quant. %
Mãe/Pai biológico 40 50,0% 14 17,5% 54 67,5%
Sem Mãe/Pai
Acolhimento 1 1,3% 25 31,3% 26 32,5%
biológico
Respondentes 41 51,3% 39 48,8% 80 100,0%

Mãe/Pai biológico 159 45,8% 132 38,0% 291 83,9%

Outras trajetórias de Sem Mãe/Pai


13 3,7% 43 12,4% 56 16,1%
rua biológico
Respondentes 172 49,6% 175 50,4% 347 100,0%
Mãe/Pai biológico 37 39,4% 8 8,5% 45 47,9%

Sem Mãe/Pai
Pernoite 11 11,7% 38 40,4% 49 52,1%
biológico
Respondentes 48 51,1% 46 48,9% 94 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

64
Tabela 30: Por que você foi para a rua a primeira vez por raça/cor
Por que você foi Parda Preta Branca Outras Total
para a rua a
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
primeira vez?
Venda 119 25,0% 91 59,9% 51 56,7% 5 40,4% 266 51,1%
Mendicância 96 20,0% 85 45,5% 41 45,6% 3 54,3% 225 43,2%
Brincar 38 2,5% 40 20,2% 11 12,2% 1 19,1% 90 17,3%
Trabalhar 11 6,3% 10 4,9% 1 1,1% 0,0% 22 4,2%
Para consumir
2 8,8% 8 0,9% 10 11,1% 10,6% 20 3,8%
droga
Conflito familiar 5 11,3% 7 0,6% 4 4,4% 5,3% 16 3,1%
Para ter liberdade,
5 5,0% 7 2,3% 1 1,1% 1,1% 13 2,5%
se divertir
Estar com familiares 4 0,0% 2 2,0% 5 5,6% 4,3% 11 2,1%
Vítima de violência 3 12,5% 5 0,0% 2 2,2% 0,0% 10 1,9%
Outro 3 2,5% 2 1,2% 2 2,2% 1,1% 7 1,3%
Foi despejado,
4 2,5% 2 0,0% 0,0% 4,3% 6 1,2%
perdeu sua casa
Foi expulso de casa 2 1,3% 0,0% 0,0% 1 2,1% 3 0,6%
Não informado 2 0,0% 1 0,0% 0,0% 2,1% 3 0,4%
Nasceu na rua 2 1,3% 0,0% 0,0% 1,1% 2 0,4%
Roubar 1 1,3% 1 0,0% 0,0% 0,0% 2 0,2%
Chegou em SP sem
1 0,0% 0,3% 0,0% 2,1% 1 0,6%
ter onde ficar
Respondentes (*) 229 - 193 - 90 - 9 - 521 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes. O
percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.

65
5.5 Ciclos geracionais de Trabalho Infantil e Situações de Vulnerabilidade Socioeconômica
dos responsáveis das Crianças em Situação de Rua

Com o intuito de compreender o perfil dos responsáveis das crianças de 0 a 6 anos,


bem como identificar se o respondente também esteve em situação de rua quando criança
e/ou foi submetido à realização de trabalho infantil, considerando a dificuldade de muitas
famílias em romper o ciclo intergeracional de pobreza e de múltiplas vulnerabilidades, foi
perguntado se o mesmo realizou alguma atividade de geração de renda, quando era criança.
Neste sentido, 60,5% dos respondentes afirmaram ter trabalhado quando criança.
Quando analisamos o recorte racial, observamos que maioria dos interlocutores,
números absolutos, são da raça negra, ou seja, a maioria trabalha desde criança e isso pode
ser um forte indício de um ciclo vicioso de marginalização da população negra brasileira que
têm acessos às atividades de trabalho mais precárias.

Tabela 31: Realizava alguma atividade de geração de renda quando criança por raça/cor
Parda Preta Branca Outras
Resposta
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Não 34 37,8% 29 38,7% 19 39,6% 5 71,4%
Sim 56 62,2% 46 61,3% 29 60,4% 2 28,6%
Total Geral 90 100,0% 75 100,0% 48 100,0% 7 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad - Contínua), a


população negra no país ultrapassa o índice de 56% - pretos: 9,4%; pardos: 46,8% (IBGE,
2019). Entretanto, os dados do IBGE sobre o mercado de trabalho indicam que 68,6% dos
cargos de chefia nas grandes empresas são destinados a pessoas brancas. Por outro lado, no
mesmo ano, enquanto 34,6% das pessoas ocupadas no trabalho informal eram brancas,
47,3% das pessoas nessas condições eram negras. O dado constata que a maioria das
pessoas negras ou estão na informalidade ou, em sua maioria, não ocupam cargos de
destaque nas empresas.
Dados coletados na etapa amostral, tanto com as CAs quanto com os responsáveis,
convergem com as informações no que diz respeito à ocupação dos respondentes no
mercado de trabalho. Dentre os que realizaram atividades geradoras de renda quando
criança, 39,8% afirmaram realizar algum trabalho informal na rua. Entre o grupo dos

66
responsáveis que estão em outras trajetórias de risco, este percentual é de 47,6%. A segunda
atividade mais citada foi o trabalho realizado em algum comércio ou oficina, o equivalente a
32,3% do total de respondentes que trabalharam quando eram crianças e entre os
responsáveis acolhidos, este percentual foi o mais citado, correspondendo a 60,7% deste
grupo. Outra atividade citada, que especificamente na situação do pernoite foi uma das mais
referidas, foi o trabalho em serviços gerais pedreiro, eletricista, pintor, entre outros, o
equivalente a 33,3%.

Tabela 32: Qual atividade que você exercia quando criança


Outras trajetórias
Qual atividade que você exercia Acolhimento Pernoite Total
de risco
quando criança
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

Realizava algum trabalho na rua


6 21,4% 40 47,6% 7 33,3% 53 39,8%
(venda, pedir, flanelinha, etc)

Trabalhava em algum comércio,


17 60,7% 19 22,6% 7 33,3% 43 32,3%
oficina, etc.
Fazia faxina ou limpeza na casa de
1 3,6% 18 21,4% 1 4,8% 20 15,0%
outras pessoas
Trabalhava em serviços gerais
4 14,3% 6 7,1% 7 33,3% 17 12,8%
(pedreiro, eletricista, pintor, etc)
Cuidava da minha casa (atividade
1 3,6% 11 13,1% 1 4,8% 13 9,8%
doméstica),
Cuidava da minha casa (atividade
1 3,6% 11 13,1% 1 4,8% 13 9,8%
doméstica),
Trabalhava na atividade do campo
2 7,1% 6 7,1% 2 9,5% 10 7,5%
(trabalho rural)
Cuidava de outras crianças ou meus
2 7,1% 4 4,8% 0 0,0% 6 4,5%
irmãos
Motoboy 0 0,0% 2 2,4% 0 0,0% 2 1,5%
Reciclagem 0 0,0% 2 2,4% 0 0,0% 2 1,5%
Manicure 1 3,6% 0 0,0% 0 0,0% 1 0,8%
Outro 1 3,6% 0 0,0% 0 0,0% 1 0,8%
Telemarketing 0 0,0% 1 1,2% 0 0,0% 1 0,8%
Trabalhava na feira 0 0,0% 1 1,2% 0 0,0% 1 0,8%

Trabalhava em restaurante 0 0,0% 1 1,2% 0 0,0% 1 0,8%

Total Geral 28 - 84 - 21 - 133 -


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

67
Complementando a análise acerca do contexto socioeconômico dos responsáveis por
crianças com trajetórias de rua, foram abordados aspectos relacionados à empregabilidade.
Do total de responsáveis que estão em situação de rua com crianças de até 6 anos,
81,8% encontram-se desempregados. Destes, 65% estão há mais de 2 anos, sendo que 48,9%
estão nesta condição há 3 anos ou mais. Ao observar por tipo de situação, entre os
responsáveis acolhidos mais de 50% estão desempregados de 1 mês a 1 anos (52,9%), já
entre aqueles que estão em outras trajetórias de risco, 56,7% estão desempregados há mais
de 3 anos e no pernoite este percentual é de 38,5.

Tabela 33: Há quanto tempo está desempregado?


Outras trajetórias
Há quanto tempo está Acolhimento Pernoite Total
de risco
desempregado?
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

1 a 5 meses 12 35,3% 20 16,7% 3 11,5% 35 19,4%

De 6 a 11 meses 1 2,9% 11 9,2% 4 15,4% 16 8,9%

1 ano 5 14,7% 6 5,0% 1 3,8% 12 6,7%

2 anos 6 17,6% 15 12,5% 8 30,8% 29 16,1%

3 anos ou mais 10 29,4% 68 56,7% 10 38,5% 88 48,9%

Total Geral 34 100,0% 120 100,0% 26 100,0% 180 100,0%


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Dos entrevistados desempregados, 54,4% estão procurando emprego. Ao analisar


por situação, percebe-se uma diferença entre eles, de modo que no acolhimento menos de
50% estão procurando emprego, já no pernoite este percentual é de 76,9% e aqueles que
estão em outras trajetórias de risco o percentual de responsáveis procurando trabalho é de
51,7%.
Tabela 34: Você está procurando emprego
Outras trajetórias
Você está procurando Acolhimento Pernoite Total
de risco
emprego
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim 16 47,1% 62 51,7% 20 76,9% 98 54,4%
Não 18 52,9% 58 48,3% 6 23,1% 82 45,6%
Total Geral 34 100% 120 100% 26 100% 180 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

68
Entre os motivos pelos quais os responsáveis respondentes não estão procurando
emprego, 45,1% alegaram que não teriam com quem deixar os filhos. Vale destacar que
78,2% dos responsáveis respondentes correspondem à mãe biológica. O segundo maior
motivo citado foi a preferência pelo trabalho informal, que representa 18,3%. Entre as
situações, a preferência pelo trabalho informal foi citada nos responsáveis que estão em
outras trajetórias de risco (24,1%) e entre aqueles que pernoitam na rua (16,7%). Entre os
responsáveis acolhidos esta citação não foi mencionada, cujo segundo maior motivo citado
foi o fato de a responsável estar grávida ou de ter recém-saído da maternidade (27,8%).

Tabela 35: Por que não está procurando emprego


Outras trajetórias
Por que não está procurando Acolhimento Pernoite Total
de risco
emprego
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Não tem com quem deixar os
13 72,2% 21 36,2% 3 50,0% 37 45,1%
filhos
Prefere o trabalho informal 0,0% 14 24,1% 1 16,7% 15 18,3%
Está grávida/acabou de sair da
5 27,8% 2 3,4% 0,0% 7 8,5%
maternidade
Não quer 0,0% 5 8,6% 0,0% 5 6,1%
É muito nova 0,0% 4 6,9% 0,0% 4 4,9%
Recebe benefícios 0,0% 3 5,2% 0,0% 3 3,7%
Não possui currículo 0,0% 2 3,4% 0,0% 2 2,4%
Pretende sair do país 0,0% 2 3,4% 0,0% 2 2,4%
Dificuldade por ser cigano 0,0% 1 1,7% 0,0% 1 1,2%
É cigano (a) 0,0% 0,0% 1 16,7% 1 1,2%
Está com depressão 0,0% 1 1,7% 0,0% 1 1,2%
Não sabe ler 0,0% 1 1,7% 0,0% 1 1,2%
Vai voltar para sua cidade natal 0,0% 0,0% 1 16,7% 1 1,2%
Não soube responder 0,0% 2 3,4% 0,0% 2 2,4%
Total Geral 18 100% 58 100% 6 100% 82 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Complementando a análise acerca das características de trabalho dos responsáveis,


52,7% não realizam outra atividade além daquela praticada na rua. Essa variação foi similar
entre os tipos de situação. Dos que realizam outra atividade profissional, a mais citada foi a
diarista, o equivalente a 64,1% e o trabalho informal foi citado por 37,5%. Como o
entrevistado poderia responder mais de uma alternativa, o percentual é superior a 100%.
Entre os responsáveis acolhidos e que realizam outra atividade além daquelas praticadas na
rua, 100% afirmaram realizar outros trabalhos informais.

69
5.6 Mobilidade e Vivência na Rua

Falar sobre mobilidade é abordar o tema do direito à cidade, de forma coletiva,


garantindo o direito de habitar, usar e participar das decisões democráticas e sustentáveis.
Garantir o direito à cidade é evidenciar a garantia dos direitos humanos, expandindo os
direitos sociais, políticos, econômicos e culturais de sua população.
Fazemos parte de uma sociedade onde a propriedade privada e o lucro, muitas vezes,
estão acima de todas as noções de direito. Como menciona HARVEY (2008): “O direito à
cidade está muito longe da liberdade individual de acesso a recursos urbanos: é o direito de
mudar a nós mesmos pela mudança da cidade”. O processo de urbanização sempre fez parte
de projetos políticos das classes dominantes, excluindo, para as margens e extremos da
cidade, os que não fazem parte da produção econômica e estética dessa cidade idealizada.

“O que é ser um cidadão? O que é ser um indivíduo completo, isto é, um indivíduo


forte? (...) O que é ser cidadão neste país? E finalmente, os negros neste país são
cidadãos? Ser cidadão, perdoem-me os que cultuam o direito, é ser como o estado,
é ser um indivíduo dotado de direitos que lhe permitem não só se defrontar com o
estado, mas afrontar o estado. O cidadão seria tão forte quanto o estado. O
indivíduo completo é aquele que tem a capacidade de entender o mundo, a sua
situação no mundo e que se ainda não é cidadão, sabe o que poderiam ser os seus
direitos. É neste sentido que me pergunto se a classe média é formada de cidadãos.
Eu digo que não. Em todo caso, no Brasil não o é, porque não é preocupada com os
direitos, mas com privilégios. O processo de desnaturação da democracia amplia a
prerrogativa da classe média, ao preço de impedir a difusão de direitos
fundamentais para a totalidade da população. E o fato de que a classe média goze
de privilégios, não de direitos, que impede aos outros brasileiros ter direitos. E é por
isso que no Brasil quase não há cidadãos. Há os que não querem ser cidadãos, que
são as classes médias, e há os que não podem ser cidadãos, que são todos os demais,
a começar pelos negros que são cidadãos. Digo-o por ciência própria. Não importa
a festa que me façam aqui ou ali, o cotidiano me indica que não sou cidadão neste
país” (SANTOS, 1997).

A centralidade econômica da cidade de São Paulo, local onde encontramos melhores


ofertas de emprego, faz com que a mobilidade de quem vive nos extremos seja custosa
financeiramente e demorada, pensando no tempo e qualidade de vida de quem mora nas
periferias e utiliza dos transportes coletivos para se locomover.
Nesta mesma centralidade, encontramos grupos de pessoas vivendo e sobrevivendo
em alta complexidade de vulnerabilidade que, buscando por doações ou geração de renda
informal, ocupam o espaço central da cidade ou espaços de grande circulação de pessoas,
como ocorre nas estações de metrô, shoppings e pontos turísticos.

70
Na realização da etapa amostral, encontramos crianças e adolescentes, sozinhas ou
com seus responsáveis, que apontaram outros espaços de permanência e circulação, sendo
as mais citadas: linhas de metrô (Brás, Vila Mariana, Armênia, Consolação, Trianon Masp,
Tatuapé e outras estações das linhas vermelha e azul) e nos shoppings (Itaquera, Tatuapé,
Anália Franco, West Plaza e Santa Cruz).
Tabela 36: Locais mais citados
De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos Total
Locais mais citados
Quant. % Quant. % Quant.
Paulista MASP 5 2,7% 22 11,8% 27
Praça -Sé 7 3,7% 17 9,1% 24
Estações de metrô 7 3,7% 10 5,3% 17
Feiras 11 5,9% 4 2,1% 15
Bares, restaurantes e baladas - Vila Madalena 5 2,7% 9 4,8% 14
Bares, restaurantes e baladas – Pinheiros 7 3,7% 6 3,2% 13
Shopping 6 3,2% 7 3,7% 13
Bares, restaurantes e baladas - Rua Augusta 2 1,1% 9 4,8% 11
Bares, restaurantes e baladas - Itaim Bibi 2 1,1% 7 3,7% 9
Largo da Batata 4 2,1% 5 2,7% 9
Total de citações 78 41,7% 109 58,3% 187
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*A soma das porcentagens não totalizará 100% pois só foram contabilizados os 10 locais mais citados e por ser uma questão de múltiplas
respostas, cada entrevistado poderia citar mais de uma localidade.

Os pontos informados pelos entrevistados, apontam a circulação de territórios nas


regiões do centro, centro expandido, região norte e leste, evidenciando que a escolha do
local de permanência é motivada pela concentração de pessoas e circulação econômica. A
utilização desses espaços como fonte de acesso a doações ou à geração de renda informal,
ocasiona uma nova ordem de sociabilidade e uso da cidade, visto que a população mais
violada de direitos, está excluída da tomada de decisões e segregada das oportunidades
ofertadas.
Quando abordamos o tema das necessidades básicas, tais como tomar banho,
conseguir água ou comida e realização das necessidades fisiológicas, nos deparamos com as
menções dos vínculos com os estabelecimentos comerciais, estações de metrô que dispõem
de banheiros públicos, tendas públicas e outros.

Para os responsáveis de crianças de 0 a 6 anos, os lugares mais mencionados foram:


● Em situação de acolhimento:

71
o Banho: Abrigo ou SAICA (40%), Centro de Acolhida (35,6%), Banheiros
públicos/Tendas (17,8%), Casa da Família (13,3%) e Torneiras
públicas/Chafariz (11,1%).
o Necessidades fisiológicas: Abrigo/SAICA (40%), Centro de Acolhida (24,4%),
Banheiro público/Tenda (17,8%), Estabelecimentos comerciais (15,6%), Ainda
em uso de fraldas (13,3%) e Casa da família (11,1%).
o Alimentação: Abrigo/SAICA (40%), Doações na rua (35,6%), Centro de
Acolhida (31,1%), Eu compro com a renda informal ou em Estabelecimentos
Comerciais (cada um com 11,1%) e Eu compro com os benefícios sociais que
recebo e Casa da família (8,9%) .
o Água: Abrigo/SAICA (40%), Centro de Acolhida (33,3%), Banheiro
público/Tenda e Estabelecimentos comerciais (cada um com 13,3%) e
Doações na rua (11,1%).

● Em outras trajetórias de rua:


o Banho: Casa da Família (93,1%), Banheiros públicos/Tenda (5,5%), Centro de
Acolhida ou Casa de Amigos (cada um com 2,8%) e Igreja/Organização Social,
Estabelecimentos comerciais ou Parques Públicos (cada um com 1,4%).
o Necessidades fisiológicas: Casa de família (60,7%), Estabelecimentos
Comerciais (36,6%), Ainda usa fraldas (19,3%), Banheiros públicos/Tenda
(13,1%) e Na rua (6,9%).
o Alimentação: Casa da família (63,4%), Doações na rua (45,5%), Eu compro
com a renda informal (25,5%), Estabelecimentos comerciais (15,9%), Na rua
(11,7%) e Eu compro com os benefícios sociais que recebo (9%).
o Água: Casa da família (67,6%), Estabelecimentos comerciais (33,8%), Doações
na rua (30,3%), Eu compro com a renda informal (17,2%) e Torneiras
públicas/Chafariz (11,7%).
● Em situação de pernoite:
o Banho: Banheiros públicos/Tendas (36,7%), Casa de Família,
Igreja/Organização Social (cada um com 23,3%), Torneiras públicas (16,7%) e
Rodoviária (10%).

72
o Necessidades fisiológicas: Banheiro público/Tenda (33,3%), Estação de metrô
(23,3%), Estabelecimentos comerciais e Ainda usa fraldas (cada um com 20%)
e Casa de família e Na rua (16,7%).
o Alimentação: Doações na rua (53,3%), Na rua (26,7%), Eu compro com a renda
informal e Estabelecimentos Comerciais (cada um com 23,3%), Eu compro
com os benefícios sociais que recebo e Igreja/Organizações Sociais (cada um
com 20%), Bom Prato (13,3%) e Eu compro com a renda de outro trabalho
que tenho e Casa da família (10%).
o Água: Estabelecimentos comerciais (43,3%), Doações na rua e Torneiras
públicas/Chafariz (cada um com 30,0%), Eu compro com a renda informal e
Banheiros públicos/Tendas (16,7%) e Hotel/Pensão, Eu compro com os
benefícios sociais que recebo, Casa de família e Estações de metrô (10%).

Para crianças e adolescentes de 7 a 17 anos:


● Em situação de acolhimento:
○ Banho: Casa da família (40%), Banheiro público/Tendas (25%), Não faz isso
(13,8%), Torneiras públicas (7,5%) e Abrigo/SAICA (6,3%).
○ Necessidades fisiológicas: Casa da família (36,3%), Banheiros públicos/Tenda
(35%), Estabelecimentos comerciais (30%), Na rua (12,5%) e Estações de
metrô (11,3%).
○ Alimentação: Doações na rua (52,5%), Casa da família (32,5%), Eu compro
(22,5%), Na rua (18,8) e Bom Prato (7,5%).
○ Água: Casa de família (37,5%), Doações na rua (33,8%), Estabelecimentos
comerciais (23,8%), Eu compro (18,8%), Torneiras públicas/Chafariz (15,0%) e
Banheiros públicos/Tenda (8,8%).
● Em outras trajetórias de rua:
○ Banho: Casa da família (95,1%), Banheiro público (3,2%), Casa de amigos
(2,0%) e Centro de Acolhida, Estabelecimentos comerciais e Ocupação (1,2%).
○ Necessidades fisiológicas: Casa da família (76,4%), Estabelecimentos
comerciais (44,1%), Banheiros públicos/Tenda (10,1%), Estações de metrô
(6,6%) e Na rua (4,6%).

73
○ Alimentação: Casa da família (78,7%), Doações na rua (35,4%),
Estabelecimentos comerciais (19,0%), Eu compro (22,5%) e Na rua (10,1%).
○ Água: Casa de Família (76,7%), Estabelecimentos comerciais (36,3%), Doações
na rua (19,6%), Eu compro (14,1%) e Banheiros públicos/Tendas (3,5%).
● Em situação de pernoite:
○ Banho: Banheiros públicos/Tendas (50%), Casa da família (26,6%), Torneiras
públicas/Chafariz (23,4%), Na rua (11,7%), Abrigo/SAICA e Hotel/pensão
(10,6%) e Centro de Acolhida (8,50%).
○ Necessidades fisiológicas: Banheiro público/Tenda (47,9%), Estabelecimentos
comerciais (34,0%), Casa da Família (23,4%), Estações de metrô (17,0%), Na
rua (14,9%) e Abrigo/SAICA (9,6%).
○ Alimentação: Doações na rua (58,5%), Na rua (25,5%), Estabelecimentos
comerciais (23,4%), Casa de família (17,0%), Igreja/Organização Social (16,0%)
e Abrigo/SAICA (9,6%).
○ Água: Estabelecimentos comerciais e Doações na rua (cada um com 42,6%),
Torneiras públicas/Chafariz (27,7%), Casa da família (19,2%), Banheiros
públicos/Tendas (16,0%), Eu compro (12,8%) e Abrigo/SAICA (8,5%).

Entre os grupos abordados durante a etapa amostral, fica evidente o uso dos espaços
públicos, serviços municipais ou a empatia dos estabelecimentos comerciais e pessoas para
que crianças e adolescentes tenham acesso ao básico de sua existência. Políticas públicas
como os equipamentos de acolhimento, banheiros ou tendas públicas e programas de
alimentação como o Bom Prato, são fontes de garantia e acesso à direitos sociais.
Segundo o levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e
Segurança Alimentar Nutricional, a Rede Penssan, em 2022, o Brasil chegou à marca de 33,1
milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar ou em restrição de alimentos,
sendo 65% de lares chefiados por pessoas pretas ou pardas. No ano de 2020, em 9,4% dos
lares com crianças de até 10 anos a fome se fazia presente. No ano de 2022, o número
dobrou para 18,1%. A ausência de alimentação diária e de qualidade ocasiona riscos para o
desenvolvimento cognitivo, físico e mental, impactando o equilíbrio do metabolismo de
crianças e adolescentes e, consequentemente, prejudicando a saúde na vida adulta.

74
5.7 Riscos Sociais

Seguindo a mesma estrutura analítica apresentada na etapa censitária, as atividades


realizadas pelas CASR foram agrupadas em categorias, na perspectiva das atividades
geradoras de renda, que se configuram como trabalho infantil na rua, sendo analisadas
separadamente as atividades gravíssimas, como o tráfico de drogas, exploração sexual
comercial e roubo e furto, e outra categorização compreendeu as atividades não geradoras
de renda, exercidas e declaradas pelas CASR.
Importante ressaltar que na etapa censitária, considerando a característica
metodológica de cobertura territorial, a transitoriedade do público-alvo e a mobilidade das
CASR nos territórios, o objetivo foi identificar o quantitativo de crianças e adolescentes em
situação de rua naquele período, a distribuição espacial e a identificação inicial dos riscos
sociais cujas CASR estavam expostos no momento do censo. Todavia, na etapa amostral, o
objetivo é aprofundar as demandas sociais e qualificar ainda mais as atividades exercidas, o
que certamente aumentou o percentual de crianças que realizam as atividades,
principalmente pelo fato de que nesta etapa foi possível construir um vínculo entre o
pesquisador e o entrevistado, o que possibilitou que a criança ou o adolescente se sentisse
mais à vontade em responder as perguntas abordadas.
Como já contextualizado na etapa censitária, para as crianças e os adolescentes, o fato
de se encontrarem em situação de rua já é uma violação de direito, pois as CAs não estão
recebendo a devida e necessária Proteção Integral, prescrita no artigo 227 da Constituição
Federal. As CASR estão desprotegidos, expostos aos riscos pessoais e sociais, ou seja, a
fatores de risco que incidem em violências de naturezas diferentes oriundas das ruas. As
situações especificadas pelo conceito de CASR Conanda/CNAS (2016) e outras decorrentes
do viver nas ruas, apontam para essa complexidade, envolvendo vários tipos de riscos e as
circunstâncias em que ocorrem os riscos.
O termo “situação” utilizado no conceito de CASR (Conanda/CNAS, 2016) enfatiza o
movimento transitório e efêmero dos perfis desta população, podendo estas CAs mudarem
de uma situação para outra conforme suas necessidades, interesses e adoção de estratégias
de sobrevivência. Transitar entre as várias situações previstas no conceito, ora em trabalho
infantil, ora em mendicância, ora consumindo substâncias psicoativas, ora dormindo na
calçada, os riscos aos quais se encontram submetidos são potencializados.

75
Sendo assim, a figura abaixo representa visualmente o agrupamento das atividades
nas quais as CASR declararam que realizam enquanto estão em situação de rua. Semelhante
à metodologia utilizada na etapa censitária, no tocante à categorização das atividades
realizadas, as CASR se encontram submetidos aos riscos por permanecerem nas ruas,
realizando atividades e vivendo inúmeras situações, quer seja por longos períodos, dias e
noites, quer seja por períodos curtos, algumas horas dos dias ou noites. Vale destacar que
uma criança ou um adolescente pode estar submetido a mais de um risco, ou seja, realizar
mais de uma atividade na rua, o que configura a intersecção entre os riscos na vida destas
CAs.

Figura 10:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos3

Atividade
geradora de Atividade não
renda geradora de
renda
(89,6%)
(56,4%)

Atividade geradora
RISCOS de renda
SOCIAIS gravíssima
(13,8%)

Vivência de Outras
violência atividades
associada à SR
(31,7%)
(64,1%)

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022

A estrutura da pesquisa amostral, conforme já detalhado no capítulo referente à


metodologia, foi dividida entre dois grupos: questionário com crianças e adolescentes de 7
a 17 anos, cuja abordagem foi direta, compreendendo as atividades exercidas e a trajetória
em situação de rua, e outro questionário com as crianças de até 6 anos, que devido às
questões etárias, foi realizado com os responsáveis, de modo a entender o contexto social

3
A mesma CASR pode realizar mais de uma atividade.

76
das pessoas que estão em situação de rua com as crianças. Ambos grupos contemplaram as
crianças e adolescentes acolhidos, conforme a proporcionalidade identificada no censo.
Portanto, as atividades realizadas estão analisadas na seguinte perspectiva:
● Para as crianças de 0 a 6 anos, a atividade é relativa ao que o respondente
(responsável) realizada na rua, cuja criança está o acompanhando;
● Para as crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, referem-se às atividades que os
mesmos realizam enquanto estão em situação de rua.
A categorização dos riscos sociais partiu da análise das atividades declaradas pelo
respondente, conforme demonstra a imagem a seguir:

Figura 11:Critério de análise das atividades relacionadas aos riscos sociais

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Para o grupo de respondentes de 7 a 17 anos, as atividades referem-se àquelas


exercidas pela própria criança ou adolescente. No grupo de 0 a 6 anos, as atividades
correspondem ao que os responsáveis realizam, para entender as características das
atividades realizadas por eles, cuja criança está acompanhando, estando, portanto, exposta
ao risco social.

77
Com relação ao critério de análise das atividades, importante destacar que nas
situações em que o entrevistado realizou mais de uma atividade dentro da mesma categoria,
o mesmo respondente foi contabilizado apenas uma vez, portanto, o total de citações
(atividades realizadas) foram respostas múltiplas, mas não consideradas em sua duplicidade.
A seguir, seguem as atividades realizadas pelas crianças e adolescentes entrevistados
e, posteriormente, a análise das atividades realizadas pelos responsáveis de crianças de 0 a
6 anos.

● Atividades realizadas por CASR de 7 a 17 anos

Como já contextualizado, a mesma criança e adolescente pode realizar mais de uma


atividade, dentro da mesma categoria de risco, como também em outras categorias. Neste
sentido, se a CASR realiza mendicância e venda de produtos lícitos, por exemplo, ela foi
citada nas duas atividades, no entanto, foi contabilizada uma vez no total de CASR que realiza
atividade geradora de renda. Por essa razão, o total de CASR que realiza atividade geradora
de renda é menor que o total de citações das atividades que compõem aquela categoria.
Esta mesma lógica se aplica para os demais grupos de riscos sociais.
Nas atividades geradoras de renda gravíssimas, foram consideradas as declarações
dos respondentes tanto na pesquisa com crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, quanto na
pesquisa com os responsáveis pelas crianças de até 6 anos, que afirmaram realizar atividade
de roubo ou furto e venda de drogas. Exclusivamente no questionário de 7 a 17 investigou-
se a questão da violência sexual e exploração sexual comercial, de modo que a categorização
desta atividade foi a partir da pergunta “Alguém já tocou nas suas partes íntimas ou pediu
para tocar nas partes íntimas dela, sem você querer ou gostar?”, tendo como resposta a
alternativa “Sim” somada a pergunta “Você ganhou algo em troca para fazer isso?”, tendo
também como possibilidade de resposta a alternativa “Sim”. A identificação da violência
sexual foi abordada a partir das perguntas citadas anteriormente, buscando levantar tal
informação de uma maneira menos invasiva.
Ao observar a tabela a seguir, 89,6% das CASR entrevistados realizam alguma atividade
geradora de renda, de modo que a venda de produtos lícitos foi a mais citada, o equivalente
a 66,2%. Nas atividades geradoras de renda gravíssimas, com o aprofundamento da
abordagem, foi identificado que 13,8% das CASR realizam alguma atividade dentro desta

78
categoria, sendo o roubo/furto realizado por 10% das CASR entrevistados, seguida da venda
de produtos ilícitos, com 6,3% e da exploração sexual comercial, representando 2,1% dos
entrevistados.
Foi inserida a análise acerca da exposição à situação de trabalho infantil,
independente, da frequência que a CA realiza tal atividade. Como já explicitado nas notas
metodológicas, na etapa censitária foram identificados os riscos iniciais aos quais a CA estava
exposto, ou seja, as atividades realizadas no momento do censo. Na etapa amostral, teve-se
como objetivo aprofundar a análise acerca dos riscos sociais e as demandas sociais
envolvendo tal público.
No censo, ao analisar o mesmo recorte etário, de crianças e adolescentes de 7 a 17
anos, cujos riscos sociais foram inicialmente identificados (na etapa censitária não foram
abordados os riscos sociais das CA que estavam em acolhimento, sendo esta demanda
aprofundada na etapa amostral), teve-se 2.224 CASR de 7 a 17 anos em situação de rua e
destes, 1.661 estavam realizando alguma atividade geradora de renda (incluindo a geradora
de renda gravíssima), ou seja, de trabalho infantil, o equivalente a 74,7% do total desta faixa
etária. Todavia, é de se esperar que no aprofundamento das demandas sociais, no que tange
a análise acerca das situações vividas pelas crianças e adolescentes enquanto estão expostos
à situação de rua, tais informações tenham maior representatividade, pois buscou-se
levantar em maior profundidade a trajetória de vida das crianças e adolescentes que estão
nesta condição. Um exemplo disso, foram as situações de exploração sexual comercial, que
no censo foi identificado um total de 0,4% (considerando apenas as CASR na faixa etária de
7 a 17 anos) e na amostral este percentual foi de 2,1%.
Portanto, as crianças e os adolescentes que estão em situações de trabalho infantil,
sejam aqueles que realizam alguma atividade geradora de renda todas as vezes que vão para
a rua, até mesmo aqueles que realizam às vezes, foram contabilizadas, resultando em 91,7%
das crianças e adolescentes de 7 a 17 anos entrevistados, em situação de trabalho infantil.
O Art. 7° da Constituição Federal (1988), inciso XXXIII, estabelece a "proibição de trabalho
noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos" (p. 08). O ECA
(1990) reforça o que fora estabelecido pela Constituição Federal e acrescenta, no Capítulo
V, que qualquer trabalho oferecido a adolescentes de 14 a 18 anos - na condição de aprendiz
- deve prever um caráter educativo/pedagógico, com atividades compatíveis ao

79
desenvolvimento do adolescente, em horários flexíveis para que não prejudique a
frequência obrigatório na escola.
Santos (2017) ressalta que as crianças e adolescentes que desenvolvem atividades de
trabalho, encontram-se mais vulneráveis, já que ficam suscetíveis à exploração de pessoas,
violências, a envolver-se em atividades ilícitas e em outras atividades que os coloquem em
risco. Outro dado relevante sobre o tema, foi coletado pela Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Em 2019, havia 1,8 milhão de crianças e adolescentes em situação de trabalho
infantil. Ainda de acordo com o levantamento, 66,4% eram meninos, 66,1% eram da raça/cor
preta ou parda e 86,1% estudavam (2020, p. 02).
A Agenda 2030 da ONU (2015), no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8.7, traz a
urgência de medidas para que o trabalho infantil - em todas as suas formas -, seja erradicado
até 2025.
A invisibilidade relacionada ao trabalho infantil como fator propulsor da ida para as
ruas é bastante comum. A associação que se faz, normalmente, está vinculada a conflitos
familiares, uso de substâncias psicoativas, cometimento de ato infracional, entre outras
situações (SANTOS, 2017). Contudo, assim como revelam os dados desta pesquisa, 100% dos
responsáveis pelas crianças de 0 a 6 anos e 91,7% das CAs de 7 a 17 anos que estão em
situação de rua exercem alguma atividade geradora de renda e destes, 80,2% mantêm certo
vínculo familiar
Quando observadas as atividades não geradoras de renda declaradas pelas CASR
entrevistadas, 54,3% mencionaram que realizam alguma atividade recreativa (brincar ou
outras atividades de lazer) enquanto estão em situação de rua. Como atividades que
realizam quando estão na rua, a liberdade para ter relação sexual foi mencionada por 2,7%
dos entrevistados, assim como “comer” que também foi citado por 2,7% das CASR.
A Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) enfatizava o brincar como um
dos princípios para o bem-estar da criança. A brincadeira faz parte do cotidiano, acontece
de diferentes formas nas diferentes culturas e etapas da vida. O brincar é a forma pela qual
as crianças se desenvolvem, comunicam, se constroem enquanto sujeitos sociais, além de
introjetarem regras, normas, modos de se relacionar e de solucionar problemas; é através
do brincar que acontece uma conexão entre o desenvolvimento psicológico e o
desenvolvimento das práticas sociais (VYGOTSKY, 2007).

80
Os dados levantados indicam que 54,3% das CASR de 7 a 17 anos utilizam-se do
espaço da rua também para brincar. Posto isto, é fundamental recuperar o lúdico no manejo
com CASR, se divertindo e brincando junto, assim como ressalta Martins (2021):

“Seguia crianças nas ruas, imitando-as como forma de aproximação. Inventamos


mapas para nos descobrirem, mandamos bilhetes segurados por um fio até
alcançarem suas cabeças debaixo do viaduto. Desenhamos jogos de amarelinha no
chão e debochamos das crianças - mostrando-se tão adultas. Apostamos corridas,
caçamos assuntos em terrenos baldios em um complexo de acolhimento e, a meu
ver, sentar ali e fazer pipa tornavam o terreno menos baldio e a passagem possível.
Apenas é preciso acrescentar que, para criar brincadeiras, é preciso estar nelas,
divertindo-se com elas. Se o "associar livremente” é uma direção de tratamento no
consultório, “brincar livremente” poderia ser uma direção de tratamento nas ruas
e, muitas vezes, isso foi visto e nomeado como “fazer nada”. Justamente quando
não existe a obrigatoriedade de eficácia” (p. 132).

Por fim, na categoria “outras atividades”, 31,7% citaram se enquadrar nela. De modo que
a utilização de álcool e outras drogas é consumida por 29,8% dos entrevistados. A situação
das CA apenas acompanhando adultos, sem realizar atividade de trabalho, foi
percentualmente menor, em relação ao censo, pois no censo a maioria das crianças que
estavam nesta condição eram as de 0 a 6 anos, cujo responsável havia respondido.
Em pesquisa realizada pelo Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a
Infância (CIESPI), crianças e adolescentes em situação de rua ressaltaram o aspecto lúdico
do uso de álcool e outras drogas. Mais do que a associação do uso a conseguir suportar frio
e fome, por exemplo, eles focam na questão do lazer e da diversão. Outro fator que apareceu
nos relatos, foi a relação da droga à tolerância das iniquidades cotidianas, como forma de
dar conta do medo de agressões e se manter atentos às possíveis violências que possam vir
a sofrer (RIZZINI, 2003).
Em conformidade com a definição de CASR formulada na Resolução Conjunta nº 1
Conanda/CNAS/2017, no inciso 2º, que dispõe sobre as possíveis questões que podem estar
associadas à criança e adolescente estar em situação de rua, é compreendido as violências
intrafamiliares, institucionais ou urbanas. Portanto, nesta etapa, foi aprofundada e inserida
a categoria “vivência de violência” na análise dos riscos sociais, considerando todos aqueles
que já foram vítimas de alguma violência associada à rua, seja pelo motivo que contribuiu a
criança ou o adolescente em irem para a rua, ou das violências sofridas na rua. Tendo em
vista este recorte na análise referente às violências relacionadas à rua, 64,1% sofreram

81
alguma violência na rua ou foram motivados a estar nesta condição em virtude de violências
intrafamiliares sofridas (12,7%). Entre as principais violências sofridas na rua está a violência
psicológica (33,2%), violência física (29,8%) e vítima de roubo ou furto (23,6%). A violência
sexual sofrida na rua foi vivenciada por 5,8% dos entrevistados.

Tabela 37: Atividades realizadas pelas CASR de 7 a 17 anos, por risco social
Atividade geradora de renda

Universo de Total de citação das (%) sob o total


Atividades
respondente CASR da Amostra

Venda de produtos lícitos 521 345 66,2%


Mendicância 521 329 63,1%
Serviços na rua 521 164 31,5%
Subtotal das citações 838 -
Total de CA que realiza atividade geradora
521 467 89,6%
de renda

Atividade geradora de renda gravíssima

Universo de Total de citação das (%) sob o total


Atividades
respondente CASR da Amostra

Venda de produtos ilícitos 521 33 6,3%


Roubo/furto 521 52 10,0%
Exploração sexual e comercial 521 11 2,1%
Subtotal das citações 96 -
Total de CA que realiza atividade geradora
521 72 13,8%
de renda gravíssima
TOTAL DE CA exposto à situação de Trabalho
521 478 91,7%
Infantil

Atividade não geradora de renda

Universo de Total de citação das (%) sob o total


Atividades
respondente CASR da Amostra

Brincar ou outras atividades de lazer 521 283 54,3%


Comer 521 14 2,7%
Liberdade para ter relação sexual 521 14 2,7%
Subtotal das citações 311 -
Total de CAS que realiza atividade não
521 294 56,4%
geradora de renda

82
Outras atividades não geradoras de renda

Universo de Total de citação das (%) sob o total


Atividades
respondente CASR da Amostra

Situação de CA's acompanhando adultos sem


521 10 1,9%
realizar atividade de trabalho
Consumo de álcool ou outras drogas 521 155 29,8%
Subtotal das citações 165 -
Total de CAS que realiza outra atividade 521 165 31,7%

Vivência de violência associada a rua (motivo de estar em SR + violência sofrida na rua)


Universo de Total de citação das (%) sob o total
Violências
respondente CASR da Amostra
Ameaças, insultos, gritos (Violência
521 173 33,2%
psicológica)
Te bateram, entrou em uma briga, surra,
521 155 29,8%
apanhou (Violência física)
Violência sexual 521 30 5,8%
Tentaram fazer vídeos ou fotos suas para
521 52 10,0%
vender?
Vítima de preconceito racial 521 111 21,3%
Vítima de outros tipos de preconceito 521 107 20,5%
Roubaram ou furtaram algo de você 521 123 23,6%
Recolheram seus pertences 521 117 22,5%
Violências que desencadearam a ida para a
521 66 12,7%
rua
Subtotal das citações 521 1.169 -
Total de CA que tiveram alguma vivência de
521 334 64,1%
violência
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

● Atividades realizadas pelos responsáveis de criança de 0 a 6 anos

Para a apresentação das atividades realizadas pelos responsáveis, utilizou-se a


mesma categorização utilizada para as CA de 7 a 17 anos, considerado que, apesar da
atividade não ser realizada diretamente pela criança, por ela estar acompanhando, está
exposta indiretamente.
Neste sentido, 100% dos responsáveis realizam alguma atividade geradora de renda
enquanto estão em situação de rua, sendo a venda de produtos lícitos realizada por 74,5%
dos entrevistados, seguida da mendicância, por 70%.

83
As atividades geradoras de renda gravíssima foram citadas por 6,4%, sendo que 5%
afirmam realizar a venda de produtos ilícitos e 3,2% dos responsáveis afirmam roubar ou
furtar, seja sempre, ou às vezes. Vale observar que, da mesma maneira como detalhado no
tópico anterior (Atividades realizadas por crianças e adolescentes de 7 a 17 anos), o mesmo
respondente pode realizar mais de uma atividade dentro da categoria, todavia, foi
contabilizado uma vez, ou seja, o mesmo respondente pode ter afirmado roubar e furtar e
também vender produtos ilícitos, no entanto, ele foi contabilizado uma vez como realizador
de atividade geradora de renda gravíssima.
E no tocante à utilização de consumo de álcool e outras drogas, independente da
frequência que realiza, foi citada por 45,9% dos respondentes.
Tabela 38: Atividades realizadas pelos responsáveis de CASR de 0 a 6 anos, por risco social
Atividade geradora de renda
Universo de Total de citação (%) sob o total
Atividades
respondente das CASR da Amostra
Venda de produtos lícitos 220 164 74,5%
Mendicância 220 154 70,0%
Serviços na rua 220 81 36,8%
Subtotal das citações 399 -
Total de CASR que realiza atividade geradora de
220 220 100,0%
renda
Atividade geradora de renda gravíssima
Universo de Total de citação (%) sob o total
Atividades
respondente das CASR da Amostra
Venda de produtos ilícitos 220 11 5,0%
Roubo/furto 220 7 3,2%
Subtotal das citações 18 -
Total de CASR que realiza atividade geradora de
220 14 6,4%
renda gravíssima
Outras atividades
Universo de Total de citação (%) sob o total
Atividades
respondente das CASR da Amostra
Consumo de álcool ou outras drogas 220 101 45,9%
Subtotal das citações 101 -

Total de CASR que realiza outra atividade 220 101 45,9%


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

84
5.8 Perfil dos Riscos Sociais

Após apresentar o detalhamento das atividades que compõem cada categoria de


riscos sociais, compreendendo a proporcionalidade de realização do entrevistado, seja entre
as CAs ou os responsáveis de criança de 0 a 6 anos, a seguir será aprofundado o perfil dos
riscos sociais cujas crianças e adolescentes em situação de rua estão expostos.

5.8.1 Perfil dos riscos em que estão expostas as CASR de 7 a 17 anos

Perfil dos riscos sociais das CASR 7 a 17 anos, a partir das atividades realizadas
✔ Nas atividades geradoras de renda e não geradoras de renda, não houve diferença
estatisticamente significativa entre as faixas etárias;
✔ Na atividade geradora de renda gravíssima, os adolescentes estão 3,4 vezes mais em
risco do que as crianças de 7 a 11 anos;
✔ Na venda de produtos ilícitos, os adolescentes estão 7,5 vezes mais em risco do que
as crianças de 7 a 11 anos;
✔ No roubo e no furto, os adolescentes estão 2,8 vezes mais em risco do que as crianças
de 7 a 11 anos;
✔ O consumo de álcool e outras drogas é 22 vezes maior entre os adolescentes em SR
do que entre as crianças de 7 a 11 anos;
✔ A liberdade para ter relação sexual não teve citações suficientes dentro da amostra
para definição de perfil;
✔ Casos de exploração sexual não tiveram citações suficientes dentro da amostra para
definição de perfil.

85
Tabela 39: Diferença da incidência do risco por faixa etária
De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos P-valor
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Atividade geradora de renda 201 90,1% 266 89,3% 0,746 Não significativo
Venda de produtos lícitos 151 67,7% 194 65,1% 0,533 Não significativo
Serviços na rua 68 30,5% 96 32,2% 0,675 Não significativo
Mendicância 144 64,6% 185 62,1% 0,559 Não significativo

Atividade não geradora de renda 121 54,3% 173 58,1% 0,388 Não significativo
Brincar ou outras atividades de lazer 117 52,5% 166 55,7% 0,463 Não significativo
Comer 8 3,6% 6 2,0% 0,272 Não significativo
Liberdade para ter relação sexual 0 0,0% 14 4,7% * *

Atividade geradora de renda gravíssima 13 5,8% 59 19,8% 0,000 3,4


Venda de produtos ilícitos 3 1,3% 30 10,1% 0,000 7,5
Roubo/furto 11 4,9% 41 13,8% 0,001 2,8
Exploração sexual e comercial 0 0,0% 11 3,7% * *

Outras atividades 13 5,8% 152 51,0% 0,000 8,7


CA's acompanhando adultos sem
8 3,6% 2 0,7% * *
realizar atividade de trabalho
Consumo de álcool ou outras drogas 5 2,2% 150 50,3% 0,000 22,4
Respondentes 223 - 298 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

86
Gráfico 14:Incidência do risco por faixa etária
De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos

Atividade geradora de renda 90,1%


89,3%

Venda de produtos lícitos 67,7%


65,1%

Serviços na rua 30,5%


32,2%

Mendicância 64,6%
62,1%

Atividade não geradora de renda 54,3%


58,1%

Brincar ou outras atividades de lazer 52,5%


55,7%

Comer 3,6%
2,0%

Liberdade para ter relação sexual 0,0%


4,7%

Atividade geradora de renda 5,8%


gravíssima 19,8%

Venda de produtos ilícitos 1,3%


10,1%

Roubo/furto 4,9%
13,8%

Exploração sexual e comercial 0,0%


3,7%

Outras atividades 5,8%


51,0%

CA's acompanhando adultos sem 3,6%


realizar atividade de trabalho 0,7%

Consumo de álcool ou outras drogas 2,2%


50,3%

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

87
Perfil sexo biológico do risco das CASR 7 a 17 anos
✔ Ambas as atividades, seja a geradora de renda ou a não geradora de renda,
acontecem mais no sexo masculino;
✔ A realização de serviços na rua acontece 1,6 vezes mais no sexo masculino do que no
sexo feminino;
✔ O consumo de álcool e outras drogas também acontece 1,4 vezes mais no sexo
masculino do que no sexo feminino;
✔ Nas atividades geradoras de renda gravíssimas, não houve diferença estatística entre
os sexos, evidenciando que ambos estão expostos ao risco na mesma incidência.

Tabela 40: Diferença da incidência do risco por sexo biológico


Feminino Masculino P-valor Teste
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Ꭓ2
Atividade geradora de renda 162 85,7% 305 91,9% 0,027 1,1
Venda de produtos lícitos 117 61,9% 228 68,7% 0,116 Não significativo
Serviços na rua 43 22,8% 121 36,4% 0,001 1,6
Mendicância 120 63,5% 209 63,0% 0,902 Não significativo

Atividade não geradora de renda 95 50,3% 199 59,9% 0,032 1,2


Brincar ou outras atividades de lazer 91 48,1% 192 57,8% 0,033 1,2
Comer 6 3,2% 8 2,4% 0,604 Não significativo
Liberdade para ter relação sexual 4 2,1% 10 3,0% * *

Atividade geradora de renda gravíssima 22 11,6% 50 15,1% 0,277 Não significativo


Venda de produtos ilícitos 10 5,3% 23 6,9% 0,461 Não significativo
Roubo/furto 14 7,4% 38 11,4% 0,139 Não significativo
Exploração sexual e comercial 6 3,2% 5 1,5% 0,203 Não significativo

Outras atividades 51 27,0% 114 34,3% 0,083 Não significativo


CA's acompanhando adultos sem realizar
7 3,7% 3 0,9% * *
atividade de trabalho
Consumo de álcool ou outras drogas 44 23,3% 111 33,4% 0,015 1,4
Respondentes 189 - 332 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

88
Gráfico 15:Incidência do risco por sexo

Feminino Masculino

Atividade geradora de renda 85,7%


91,9%

Venda de produtos lícitos 61,9%


68,7%

Serviços na rua 22,8%


36,4%

Mendicância 63,5%
63,0%

Atividade não geradora de renda 50,3%


59,9%

Brincar ou outras atividades de lazer 48,1%


57,8%

Comer 3,2%
2,4%

Liberdade para ter relação sexual 2,1%


3,0%

Atividade geradora de renda 11,6%


gravíssima 15,1%

Venda de produtos ilícitos 5,3%


6,9%

Roubo/furto 7,4%
11,4%

Exploração sexual e comercial 3,2%


1,5%

Outras atividades 27,0%


34,3%

CA's acompanhando adultos sem 3,7%


realizar atividade de trabalho 0,9%

Consumo de álcool ou outras drogas 23,3%


33,4%

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

89
Gráfico 16:Incidência das atividades por raça/cor

Branca Parda Preta

88,9%
Atividade geradora de renda 90,8%
88,1%

67,8%
Venda de produtos lícitos 65,9%
65,3%

26,7%
Serviços na rua 31,9%
33,7%

60,0%
Mendicância 63,8%
62,7%

56,7%
Atividade não geradora de renda 55,5%
57,0%

53,3%
Brincar ou outras atividades de lazer 53,7%
55,4%

2,2%
Comer 2,6%
2,6%

5,6%
Liberdade para ter relação sexual 1,3%
2,6%

Atividade geradora de renda 17,8%


12,7%
gravíssima 13,0%

8,9%
Venda de produtos ilícitos 5,2%
6,7%

13,3%
Roubo/furto 9,6%
8,3%

4,4%
Exploração sexual e comercial 0,9%
2,6%

38,9%
Outras atividades 29,3%
31,6%

CA's acompanhando adultos sem 3,3%


0,9%
realizar atividade de trabalho 2,6%

35,6%
Consumo de álcool ou outras drogas 28,4%
29,0%

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

90
Perfil da região de pesquisa do risco das CASR 7 a 17 anos
✔ Em algumas atividades, não houve citação suficiente dentro da amostra para traçar o perfil regional, é o caso dos riscos “Venda de produtos ilícitos”,
“Roubo/furto”, “Exploração sexual e comercial”, “Situação de CAs acompanhando adultos sem realizar atividade de trabalho” e, “Consumo de álcool
e outras drogas”;
✔ A incidência de “Outras atividades” acontece 5,9 vezes mais na Região 5 (centro) do que na Região 1 (norte) de pesquisa;
✔ As atividades geradoras de renda gravíssimas acontecem aproximadamente 2 vezes mais na Região 5 (centro) do que nas Regiões 1 (norte) e 2 (leste);
✔ A venda de produtos lícitos acontece 1,5 vezes mais na Região 1 (norte) do que na Região 3 (sul);
✔ Os serviços na rua acontecem 1,8 vezes mais na Região 2 (leste) do que na Região 1 (centro);
✔ A mendicância acontece 1,5 vezes mais na Região 4 (centro expandido) do que na Região 1 (norte) de pesquisa.

Tabela 41: Diferença da incidência das atividades por região de pesquisa4


Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Região 5 P-valor
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Atividade geradora de renda 34 100,0% 59 98,3% 27 100,0% 172 93,0% 122 90,4% 0,056 1,1
Venda de produtos lícitos 32 94,1% 45 75,0% 17 63,0% 134 72,4% 91 67,4% 0,025 1,5
Serviços na rua 13 38,2% 30 50,0% 9 33,3% 56 30,3% 38 28,1% 0,036 1,8
Mendicância 16 47,1% 33 55,0% 18 66,7% 132 71,4% 93 68,9% 0,021 1,5
Atividade não geradora de renda 21 61,8% 41 68,3% 15 55,6% 101 54,6% 78 57,8% 0,437 1,3
Brincar ou outras atividades de lazer 20 58,8% 40 66,7% 15 55,6% 98 53,0% 73 54,1% 0,439 1,3
Comer 1 2,9% 1 1,7% 0 0,0% 6 3,2% 4 3,0% * *
Liberdade para ter relação sexual 1 2,9% 0 0,0% 2 7,4% 1 0,5% 6 4,4% * *
Atividade geradora de renda gravíssima 3 8,8% 5 8,3% 4 14,8% 22 11,9% 22 16,3% 0,511 2,0
Venda de produtos ilícitos 0 0,0% 2 3,3% 1 3,7% 10 5,4% 11 8,1% * *
Roubo/furto 3 8,8% 4 6,7% 4 14,8% 14 7,6% 19 14,1% * *
Exploração sexual e comercial 0 0,0% 0 0,0% 2 7,4% 4 2,2% 0 0,0% * *
Outras atividades 2 5,9% 18 30,0% 5 18,5% 56 30,3% 47 34,8% 0,013 5,9
Situação de CA's acompanhando adultos sem realizar
0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 3,0% * *
atividade de trabalho
Consumo de álcool ou outras drogas 2 5,9% 18 30,0% 5 18,5% 56 30,3% 43 31,9% * *
Respondentes 34 - 60 - 27 - 185 - 135 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022. |*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

4
Detalhamento das regiões, vide Quadro 1.

91
Perfil da região de São Paulo do risco das CASR 7 a 17 anos
✔ Venda de produtos lícitos é 1,3 vezes maior na região norte do que nas regiões centro ou sul;
✔ Serviços na rua é 2,3 vezes maior nas regiões leste ou norte do que nas regiões centro ou sul;
✔ Roubo/furto é 3,1 vezes maior na região centro do que na região oeste.
Tabela 42: Diferença da incidência das atividades por região de São Paulo
P-valor Teste
Centro Leste Norte Oeste Sul Análise
Risco Ꭓ2
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim
Atividade geradora de renda 111 87,4% 161 93,1% 67 94,4% 84 88,4% 44 80,0% 0,037 1,2
Venda de produtos lícitos 75 59,1% 123 71,1% 55 77,5% 59 62,1% 33 60,0% 0,034 1,3
Serviços na rua 33 26,0% 65 37,6% 26 36,6% 31 32,6% 9 16,4% 0,021 2,3
Mendicância 90 70,9% 104 60,1% 41 57,7% 61 64,2% 33 60,0% 0,277 Não significante

Atividade não geradora de renda 72 56,7% 98 56,6% 39 54,9% 54 56,8% 31 56,4% 0,999 Não significante

Brincar ou outras atividades de lazer 66 52,0% 97 56,1% 38 53,5% 52 54,7% 30 54,5% 0,971 Não significante
Comer 5 3,9% 1 0,6% 2 2,8% 4 4,2% 2 3,6% * *
Liberdade para ter relação sexual 5 3,9% 3 1,7% 2 2,8% 3 3,2% 1 1,8% * *

Atividade geradora de renda gravíssima 22 17,3% 23 13,3% 8 11,3% 10 10,5% 9 16,4% 0,575 Não significante

Venda de produtos ilícitos 10 7,9% 12 6,9% 1 1,4% 5 5,3% 5 9,1% 0,354 Não significante
Roubo/furto 21 16,5% 13 7,5% 7 9,9% 5 5,3% 6 10,9% 0,047 3,1
Exploração sexual e comercial 0 0,0% 6 3,5% 1 1,4% 2 2,1% 2 3,6% * *

Outras atividades 46 36,2% 54 31,2% 15 21,1% 34 35,8% 16 29,1% 0,215 Não significante

Situação de CA's acompanhando adultos sem


5 3,9% 1 0,6% 1 1,4% 3 3,2% 0 0,0% * *
realizar atividade de trabalho

Consumo de álcool ou outras drogas 41 32,3% 53 30,6% 14 19,7% 31 32,6% 16 29,1% 0,372 Não significante

Violências sofridas na rua 78 61,4% 105 60,7% 44 62,0% 69 72,6% 38 69,1% 0,28628 Não significante
Respondentes 127 - 173 - 71 - 95 - 55 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

92
Gráfico 17:Incidência das atividades por região de São Paulo
Atividade geradora de renda Atividade não geradora de renda Atividade geradora de renda gravíssima Outras atividades
Centro Leste Norte Centro Leste Norte Centro Leste Norte Centro Leste Norte
Oeste Sul Oeste Sul Oeste Sul Oeste Sul

Atividade 17,3%
87,4% 56,7% 13,3% 36,2%
Atividade não 56,6% geradora de
Atividade 93,1% 11,3%
geradora de 54,9% renda 31,2%
geradora de 94,4% 10,5% Outras
renda 56,8% gravíssima 16,4% 21,1%
renda 88,4% atividades
56,4% 35,8%
80,0%
29,1%
7,9%
52,0% Venda de 6,9%
59,1% Brincar ou
Venda de outras 56,1% produtos 1,4%
71,1%
produtos 53,5% ilícitos 5,3%
77,5% atividades de CA's
54,7% 9,1% 3,9%
lícitos 62,1% lazer acompanhan
54,5% 0,6%
60,0%
do adultos
16,5% 1,4%
sem realizar
3,9% 7,5% atividade de 3,2%
26,0% Roubo/furto 9,9%
0,6% trabalho 0,0%
Serviços na 37,6% Comer 5,3%
2,8%
rua 36,6% 4,2% 10,9%
32,6% 3,6%
16,4%
0,0% 32,3%
Exploração 3,5% 30,6%
3,9% Consumo de
70,9% Liberdade sexual e 1,4%
1,7% álcool ou 19,7%
60,1% para ter 2,8% comercial 2,1%
Mendicância 3,6% outras drogas 32,6%
57,7% relação sexual 3,2%
64,2% 1,8% 29,1%
60,0%

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

93
5.8.2 Perfil dos riscos em que estão expostas as crianças de 0 a 6 anos, a partir das atividades realizadas pelos responsáveis

Perfil da região de pesquisa nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua

✔ A venda de algum produto lícito ocorre 2,8 vezes mais na Região 2 do que na Região 1;
✔ Nas atividades: Trabalha para o tráfico (investigar relação com narcotráfico); realiza algum furto ou roubo; usa o seu corpo a pedido de
alguém por dinheiro ou para ganhar algo em troca - não houve citação suficiente dentro da amostra nas regiões para análise;
✔ Nas atividades como malabares, reciclagem etc., pede dinheiro ou comida na rua, houve citações para comparação entre duas regiões (4
e 5), porém só foi significativa as atividades de malabares, na qual pode-se afirmar que ela ocorre quase 2 vezes mais na Região 4 do que
na Região 5 (p-valor < 0,02). Na outra atividade o p-valor do teste comparando as duas regiões foi de 0,07, mostrando uma tendência da
Região 4 apresentar maior incidência deste tipo de atividade do que a Região 5.
Tabela 43: Perfil da região de pesquisa5 nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua
Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Região 5 P-valor
Atividade Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Vende algum produto como bala, pano de prato etc. 2 33,3% 13 92,9% 7 77,8% 63 86,3% 61 84,7% 0,012 2,8
Faz na rua atividades como malabares, reciclagem etc. 3 50,0% 6 42,9% 4 44,4% 31 42,5% 16 22,2% * *
Pede dinheiro ou comida na rua 4 66,7% 10 71,4% 4 44,4% 59 80,8% 47 65,3% * *
Trabalha para o tráfico (investigar relação com narcotráfico) 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 5,6% * *
Realiza algum furto ou roubo 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,4% 3 4,2% * *
Usa o seu corpo, a pedido de alguém por dinheiro ou para ganhar
0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,4% 2 2,8% * *
algo em troca
Respondentes 6 - 14 - 9 - 73 - 72 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

5
Detalhamento das regiões, vide Quadro 1.
94
Perfil da região de São Paulo nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua
✔ A venda de algum produto lícito é realizado pelo respondente do grupo de 0 a 6 anos 3,9 vezes mais na Região Leste do que na
Região Sul ou Norte;
✔ As atividades de serviço na rua são realizadas pelo respondente do grupo de 0 a 6 anos 4,8 vezes mais na Região Leste do que na
Região Norte;
✔ A atividade de pedir dinheiro ou comida na rua é realizado pelo respondente do grupo de 0 a 6 anos 4,7 vezes mais na Região Centro
do que na Região Sul;

Tabela 44: Perfil da região de São Paulo nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua
Centro Leste Norte Oeste Sul P-valor
Atividade Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Vende algum produto como bala, pano de prato etc. 46 61,3% 58 77,3% 17 22,7% 28 37,3% 15 20,0% 0,017 3,9
Faz na rua atividades como malabares, reciclagem, panfletagem,
20 26,7% 29 38,7% 6 8,0% 15 20,0% 11 14,7% 0,055 4,8
rodinho, guardador de carros, carregamento etc.
Pede dinheiro ou comida na rua 56 74,7% 43 57,3% 14 18,7% 28 37,3% 12 16,0% 0,057 4,7
Trabalha para o tráfico (investigar relação com narcotráfico) 6 8,0% 0 0,0% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% * *
Realiza algum furto ou roubo 4 5,3% 2 2,7% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% * *
Usa o seu corpo, a pedido de alguém por dinheiro ou para ganhar
2 2,7% 2 2,7% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% * *
algo em troca? (investigar exploração sexual e comercial)
Respondentes 75 - 71 - 22 - 32 - 19 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

95
Perfil da região de pesquisa nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária

Não foi possível, com o número de citações, observar diferenças estatisticamente significativas em relação à região de pesquisa.
Mesmo focando nas regiões com maior concentração de respostas (4 e 5), elas não apresentam diferenças significativas.

Tabela 45: Perfil da região de pesquisa nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária
Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Região 5 P-valor
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Atividade geradora de renda 6 100,0% 14 100,0% 9 100,0% 73 100,0% 73 100,0% - *
Venda de produtos lícitos 2 33,3% 13 92,9% 7 77,8% 63 86,3% 61 83,6% * *
Serviços na rua 3 50,0% 6 42,9% 4 44,4% 31 42,5% 16 21,9% * *
Mendicância 4 66,7% 10 71,4% 4 44,4% 59 80,8% 48 65,8% * *

Atividade geradora de renda gravíssima 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 2,7% 8 11,0% * *


Venda de produtos ilícitos 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,4% 7 9,6% * *
Roubo/furto 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,4% 3 4,1% * *
Usa o seu corpo por dinheiro ou para ganhar algo em troca 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,4% 2 2,7% * *
5
Outras atividades 3 50,0% 10 71,4% 4 44,4% 50 68,5% 35 47,9% * *
Consumo de álcool ou outras drogas 3 50,0% 7 50,0% 3 33,3% 35 47,9% 28 38,4% * *
Respondentes 6 - 14 - 9 - 73 - 73 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

96
Perfil da região de São Paulo nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária
✔ A atividade geradora de renda foi observada em todos os entrevistados.
✔ A venda de produtos lícitos ocorre entre os respondentes da faixa etária de 0 a 6 anos 1,4 vezes mais na Região Oeste do que na Região Centro;
✔ Os serviços na rua ocorrem entre os respondentes da faixa etária de 0 a 6 anos 2,2 vezes mais na Região Sul do que na Região Centro;
✔ A mendicância ocorre entre os respondentes da faixa etária de 0 a 6 anos, 1,4 vezes mais na Região Oeste do que na Região Leste.

Tabela 46: Perfil da região de São Paulo nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária
Centro Leste Norte Oeste Sul P-valor
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Atividade geradora de renda 75 100,0% 72 100,0% 22 100,0% 32 100,0% 19 100,0% * *
Venda de produtos lícitos 46 61,3% 58 80,6% 17 77,3% 28 87,5% 15 78,9% 0,023 1,4
Serviços na rua 20 26,7% 29 40,3% 6 27,3% 15 46,9% 11 57,9% 0,048 2,2
Mendicância 56 74,7% 44 61,1% 14 63,6% 28 87,5% 12 63,2% 0,061 1,4

Atividade geradora de renda gravíssima 10 13,3% 3 4,2% 1 4,5% 0 0,0% 0 0,0% * *


Venda de produtos ilícitos 9 12,0% 1 1,4% 1 4,5% 0 0,0% 0 0,0% * *
Roubo/furto 4 5,3% 2 2,8% 1 4,5% 0 0,0% 0 0,0% * *
Usa o seu corpo por dinheiro ou para ganhar algo 2 2,7% 2 2,8% 1 4,5% 0 0,0% 0 0,0% * *
5
Outras atividades 49 65,3% 38 52,8% 14 63,6% 25 78,1% 13 68,4% 0,147 1,5
Consumo de álcool ou outras drogas 36 48,0% 26 36,1% 13 59,1% 18 56,3% 8 42,1% 0,203 Não significante
Respondentes 75 - 72 - 22 - 32 - 19 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2

97
5.9 Violências Sofridas

Os resultados da pesquisa apontam para um cotidiano atravessado por violência


e hostilidade. No que concerne às violências, 73,7% narraram já ter sido vítimas. Destes,
41,8% sofreram violência psicológica, 41,7% violência física, 32,2% foram vítimas de
racismo, 31,1 % foram roubados ou furtados e 24,8% tiveram seus pertences subtraídos.
Em suma, destacamos que violência se constitui como um fator de risco,
agravando a desigualdade e vulnerabilizando ainda mais as CASR. Dentro deste cenário,
destaca-se a importância dos educadores de rua, dos profissionais que funcionam como
representantes da humanidade, quebrando com a lógica violenta e perversa de tutelar
CASR. Paulo Freire (1989) salienta que para esses encontros com as CAs o educador
deve:
“Colocar-se como pessoa, como agente, respeitando a individualidade da
criança, seus valores e suas expectativas. Com autenticidade e verdade,
coerência. O importante é saber por quem estamos fazendo opção e aliança.
É o oprimido e não o opressor. Estamos do lado do menino, do explorado, do
oprimido. Há uma identificação com os interesses das classes populares. É
preciso ter cuidado para não invadir o mundo do menor, caso ele não queira
ser abordado. Não ultrapassar o espaço vital do menino, que é real, sem que
o menino queira, sem que ele permita. Seria violentá-lo. Esperar o “momento
mágico” quando o menino se desarmar. Ter paciência histórica para iniciar o
processo, para aguardar a plenitude desse momento - o momento em que se
descobre o mistério existencial do menino” (p.13).

O principal local indicado pelas CASR onde ocorre a violência é a rua, assim como
na faixa etária de 0 a 6 anos, alcançando na situação de pernoite 78,4%. Os acolhidos
indicam o abrigo/SAICA como um local no qual sofreram violência (13,3%).

98
Tabela 47: Locais mais citados pelas CASR de 7 a 17 anos por tipo de situação

Outras trajetórias
Acolhimento Pernoite Total
Locais mais citados de risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Na rua 173 46,1% 528 71,5% 210 78,4% 912 66,0%
Na escola 80 21,3% 131 17,8% 20 7,5% 231 16,7%
Em casa 65 17,3% 72 9,8% 32 11,9% 169 12,2%
No Abrigo/SAICA 50 13,3% 4 0,5% 4 1,5% 58 4,2%
Centro de acolhida 7 1,9% 3 0,4% 2 0,7% 12 0,9%
Citações (*) 375 100,0% 738 100,0% 268 100,0% 1.382 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
Nota (*) Dentre as violências sofridas, foram citados 1.382 locais que ocorreram as violações.

Ao observar a faixa etária, percebe-se que os adolescentes de 12 a 17 sofrem 1,2


vezes mais violência que as crianças de 7 a 11 anos e nesta mesma faixa etária a violência
na rua ocorre 1,3 vezes mais com adolescentes do que com crianças.

Tabela 48: CA que sofreu algum tipo de violência

Resumo da violência De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos P-valor Análise


Teste Ꭓ2
Sim % Sim %
Sofreu algum tipo de violência 144 64,6% 240 80,5% 0,000 1,2

Sofreu alguma violência na rua 120 53,8% 214 71,8% 0,000 1,3

Sofreu alguma violência em casa 42 18,8% 62 20,8% 0,578 Não significativo

Sofreu alguma violência na escola 53 23,8% 81 27,2% 0,378 Não significativo


Sofreu alguma violência no SAICA 14 6,3% 19 6,4% 0,964 Não significativo
Total 223 - 298 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Aprofundando a análise acerca das violências sofridas pelas CAs, ao observar por
tipo de violência, a psicológica e a física foram vividas por cerca de 42% das CAs.

99
Tabela 49: Tipos de violência

Universo de Total de citação das (%) sob o total da


Violências
respondente CASR Amostra
Violência Sexual 521 84 16,1%
Violência psicológica 521 218 41,8%
Violência física 521 217 41,7%

Tentaram fazer vídeos ou fotos suas para


521 64 12,3%
vender

Pediram para vender drogas 521 77 14,8%

Vítima de preconceito racial 521 168 32,2%

Vítima de outros tipos de preconceito 521 134 25,7%

Roubaram ou furtaram algo de você 521 162 31,1%

Recolheram seus pertences 521 129 24,8%

Subtotal das citações 521 1.253 -


Total de CA que sofreu algum tipo de
521 384 73,7%
violência
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Ao analisar por faixa etária e tipo de violação, percebe-se que:


✔ Nos adolescentes de 12 a 17 anos, a violência sexual ocorre 3,4 vezes mais
que contra as crianças de 7 a 11 anos;
✔ Nos adolescentes de 12 a 17 anos, a violência psicológica ocorre 1,4 vezes mais
que contra as crianças de 7 a 11 anos;
✔ Nos adolescentes de 12 a 17 anos, o aliciamento ocorre 10,8 vezes mais que
contra as crianças de 7 a 11 anos
✔ Nos adolescentes de 12 a 17 anos, o preconceito racial ocorre 1,4 vezes mais
que contra as crianças de 7 a 11 anos;
✔ Nos adolescentes de 12 a 17 anos, o recolhimento de pertences ocorre 2 vezes
mais que contra as crianças de 7 a 11 anos.

100
Tabela 50: Diferença da incidência tipos de violência por faixa etária

De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos P-valor


Violências Análise
Teste Ꭓ2
Sim % Sim Sim % Sim
Violência Sexual 15 6,70% 69 23,20% 0 3,4
Violência psicológica 76 34,10% 142 47,70% 0,002 1,4

Violência física 79 35,40% 138 46,30% 0,11 Não significativo

Tentaram fazer vídeos ou fotos


33 14,80% 31 10,40% 0,13 Não significativo
suas para vender

Pediram para vender drogas 5 2,20% 72 24,20% 0 10,8

Vítima de preconceito racial 59 26,50% 109 36,60% 0,014 1,4

Vítima de outros tipos de


48 21,50% 86 28,90% 0,058 Não significativo
preconceito

Roubaram ou furtaram algo de


64 28,70% 98 32,90% 0,307 Não significativo
você

Recolheram seus pertences 35 15,70% 94 31,50% 0 2

Respondentes 223 - 298 - - -


Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

De acordo com o programa de proteção da UNICEF, apesar de ter havido avanços


no que tange a garantia de direitos, ainda assim, crianças e adolescentes são vítimas de
violações cotidianamente. Desse modo, aqueles que são privados de acessos às políticas
públicas e vivem nas linhas das desigualdades sociais, correm o risco de não chegar à
vida adulta.

101
5.10 Vínculos Comunitários e Familiares

Buscou-se identificar se os responsáveis pelas crianças de 0 a 6 anos têm contato


com outros parentes: avós/avôs, tios/tias e primos/primas. Os dados revelaram que os
respondentes com menos vínculos familiares são os que estão acolhidos (58,8%). Nas
outras situações: outras trajetórias de risco e pernoite, cerca de 80% dos responsáveis
disseram que a criança mantém contato frequente com parentes. Na faixa etária de 7 a
17 anos, percebe-se que as CAs acolhidos mantêm o mesmo comportamento: 68,9%
afirmaram não ter contato com outros parentes.

Importante observar que no grupo de 0 a 6 anos, os entrevistados que estão na


situação de acolhimento corresponderam aqueles que estavam em CAEs ou Hotel Social,
ou seja, a criança e o responsável habitam na instituição. Entre o grupo de 7 a 17 anos,
a pesquisa foi realizada nos SAICAs (em que as crianças e adolescentes estão afastados
da família por decisão judicial) e nos CAEs (em que as CAs estão com algum dos
familiares), entretanto nesta pesquisa não foi possível separar a análise deste grupo,
pois seria necessário aplicar outro plano amostral e então analisar a diferenciação entre
as CAs que estão nestas instituições. Sobretudo, seguindo a proporcionalidade do censo,
a maioria das pesquisas realizadas com as CAs de 7 a 17 anos, na situação de
acolhimento, foram feitas em SAICAs, o que implica dizer que estão morando sem a
presença dos pais ou responsáveis.

Gráfico 18:Percentual que mantém contato com familiares por faixa etária e tipo de situação (*)
De 7 a 17 anos De 0 a 6 anos
87,3% 82,8% 86,7%
80,2% 80,5%
68,9% 72,3%
58,8%

Acolhimento Outras trajetórias de risco Pernoite Total

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.


(*) Mantém contato = Soma de diariamente + semanalmente + mensalmente + anualmente

102
Quando as CAs de 7 a 17 anos foram questionadas se costumam ter contato
diário com outras pessoas da sua comunidade, que não morem com eles (amigos,
vizinhos, algum profissional que trabalhe em um serviço já acessado), os seguintes
dados foram obtidos: 31% (acolhimento), 77,5% (outras trajetórias de rua) e 45,7%
(pernoite).

Tabela 51: Costuma ter contato com outras pessoas da sua comunidade na faixa etária de 7 a 17 anos
por situação

Outras
Contato com outras pessoas da Acolhimento trajetórias de Pernoite Total
sua comunidade risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim, diariamente 25 31,3% 269 77,5% 43 45,7% 337 64,7%
Sim, algumas vezes por semana 19 23,8% 45 13,0% 12 12,8% 76 14,6%
Sim, algumas vezes por mês 3 3,8% 5 1,4% 7 7,4% 15 2,9%
Sim, algumas vezes por ano 1 1,3% 4 1,2% 3 3,2% 8 1,5%
Não tem contato com outras
30 37,5% 22 6,3% 28 29,8% 80 15,4%
pessoas
Não respondeu 2 2,5% 2 0,6% 1 1,1% 5 1,0%
Total Geral 80 100% 347 100% 94 100% 521 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

Os respondentes da faixa etária de 0 a 6 anos, quando estimulados a comentar


sobre as pessoas que mantêm contato, têm-se mãe e pai presentes em 48,2% e 31,4%,
respectivamente. Morais et al. (2010) afirmaram que a figura materna, na maior parte
dos casos, é mais presente. A figura paterna, em contrapartida, muitas vezes nem é
conhecida pelas CAs. Os autores discutem sobre a qualidade do vínculo e das relações
familiares, pois apesar de a maior parte das CASR manterem contato e conviverem com
a família, muitas vezes essa relação se dá de modo agressivo, autoritário e negligente.
Os autores desconstroem a ideia que se tem no senso comum de que é por causa das
famílias que as CAs vão viver em situação de rua, pois conflitos familiares também são
vivenciados por CAs de classe média. A diferença é que a condição de vida é totalmente
diferente daquela em que as famílias pobres estão inseridas, não sendo a rua o local
“escolhido” como moradia. A ida para as ruas se dá quando as CAs sentem estar mais

103
privadas de direitos e mais expostas a violências em casa ou no SAICA, do que
propriamente na rua.

Tabela 52: Você (respondente) mantém contato frequentemente com quais pessoas da sua família ou
conhecidos (família extensa) na faixa etária de 0 a 6 anos por grupo

Contato com Outras trajetórias de


Acolhimento Pernoite Total
pessoas da sua risco
família Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Mãe 21 46,7% 71 49,0% 14 46,7% 106 48,2%
Pai 15 33,3% 45 31,0% 9 30,0% 69 31,4%
Outro familiar 13 28,9% 43 29,7% 5 16,7% 61 27,7%
Tio/Tia 12 26,7% 42 29,0% 5 16,7% 59 26,8%
Primos 8 17,8% 34 23,4% 4 13,3% 46 20,9%
Não mantém 14 31,1% 25 17,2% 4 13,3% 43 19,5%
Avó 4 8,9% 25 17,2% 2 6,7% 31 14,1%
Avô 1 2,2% 21 14,5% 1 3,3% 23 10,5%
Esposa (o) 6 13,3% 12 8,3% 5 16,7% 23 10,5%
Amigo 5 11,1% 12 8,3% 0 0,0% 17 7,7%
Vizinho 2 4,4% 10 6,9% 0 0,0% 12 5,5%
Padrasto 0 0,0% 5 3,4% 0 0,0% 5 2,3%
Respondentes(*) 45 - 145 - 30 - 220 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes.
O percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.

Os dados revelam que tanto os responsáveis pelas crianças de 0 a 6 anos, quanto


às crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, em sua maioria, mantêm vínculo familiar.

Quando se observa no cotidiano, o funcionamento familiar transborda a ideia


tradicional do conceito de família, de modo que cada vez mais tem-se estabelecido
diferentes arranjos. Família se constitui a partir das relações de solidariedade, apoio,
sustentação, cuidado, convivência e afinidade. A maior parte das pessoas em situação
de rua, sejam elas crianças, adolescentes ou adultos, nutrem contato com familiares.

Na década de 90 havia uma separação conceitual quando falávamos sobre o


tema. O grupo identificado como "crianças de rua" referia-se àquelas que não possuíam

104
contato com a família, que abandonaram ou foram abandonadas pela família. Já as
"crianças na rua" caracterizavam-se por aquelas que mantinham laços familiares, que
faziam da rua seu espaço de lazer e trabalho, auxiliando o sustento familiar e retornando
diariamente para casa. Entretanto, percebeu-se que essa separação não dava conta de
definir a amplitude de quem são essas crianças e adolescentes, das trajetórias e relações
que estabelecem com a rua. Levando em consideração esse cenário, passamos a utilizar
o conceito de “crianças e adolescentes em situação de rua”, conceito também
empregado nesta pesquisa. (MORAIS et al., 2010).

Esse novo modo de olhar caminha na direção da quebra de estigmas presentes


em nossa sociedade, que tem como “imaginário social da pobreza: a família pobre não
é continente para seus filhos, produzindo meninos de rua hoje, criminosos amanhã;
meninas de rua, prostitutas hoje, e mãe dos meninos de rua amanhã" (ROSEMBERG,
1994, p. 31).
A partir deste entendimento ampliado, sinalizamos também a importância dos
trabalhadores/educadores sociais, que muitas vezes são as pessoas que desempenham
esse papel de apoio e sustentação às CAs. O educador precisa acessar a CA em seu
ambiente, desenvolver vínculos produtivos, se tornar importante na vida dessas CAs,
construir um projeto junto com elas (OLIVEIRA, 2010).

105
5.11 Relação e Avaliação das Instituições

Segundo o Censo do IBGE (2010), a cidade de São Paulo possui 11.253.503


munícipes, com estimativa de 12.396.372 pessoas no ano de 2022, coabitando 96
distritos, administrados por 32 subprefeituras, divididas em cinco regiões: Zona Norte -
2.214.654 moradores, Zona Sul - 3.586.020 moradores, Zona Leste - 3.998.237
moradores, Zona Oeste - 1.023.486 moradores e Centro - 431.106 moradores.
De acordo com o site da Prefeitura de São Paulo (2022), para o atendimento de
seus munícipes, a cidade dispõe de, na área de educação, 13 diretorias de ensino, 1.970
unidades de educação infantil, 556 unidades de ensino fundamental e médio, 28
unidades de educação especial, 02 unidades de educação indígena, 194 unidades de
educação integral, 16 unidades de educação de jovens e adultos e 46 unidades de
centros de educação unificada.
• Unidades Educacionais - Norte: Diretorias de Ensino – 03, CEU – 13, Ed. Infantil – 696,
Ens. Fundamental e Médio – 135, Ed. Integral – 61, Ed. Especial – 07 e EJA – 04.
• Unidades Educacionais – Sul: Diretorias de Ensino – 04, CEU – 19, Ed. Infantil – 04,
Ens. Fundamental e Médio –180, Ed. Indígena – 02, Ed. Integral – 50, Ed. Especial – 13 e
EJA – 05.
• Unidades Educacionais – Leste: Diretorias de Ensino – 05, CEU – 24, Ed. Infantil –
1269, Ens. Fundamental e Médio – 208, Ed. Integral – 66, Ed. Especial – 07, Curso
Profissionalizante – 02 e EJA – 06.
• Unidades Educacionais – Oeste: Diretorias de Ensino – 01, CEU – 02, Ed. Infantil –
01, Ens. Fundamental e Médio – 33, Ed. Integral – 17, Ed. Especial – 01 e EJA – 01.
Das regiões com maior número de unidades educacionais, em todos os seus
ciclos de ensino, encontramos a região leste com 1582 unidades, seguida pela região
norte com 916 unidades, região sul com 273 e região oeste com 55 unidades. As
unidades escolares localizadas na região central de São Paulo estão vinculadas à
diretoria de ensino do distrito do Ipiranga, zona sul, conforme informa o site da
Prefeitura de São Paulo.

106
Dos respondentes da etapa amostral, considerando a região de moradia e o
grupo etário de 7 a 17 anos, apontou que, por vínculos escolares, encontramos 83,6%
da região leste matriculados, seguida da região central com 81,5%, 80,3% da região sul,
71,8% da região norte e 71,4% da região oeste.
Segundo a pesquisadora Silva (2005), devemos repensar a estrutura da escola
para acolher as experiências na rua de crianças e adolescentes, oportunizando a
participação e garantindo espaços de valorização da cultura e as suas necessidades,
tornando a escola um espaço de acolhimento e de interação com a rua. Quem utiliza do
espaço do logradouro público, seja para o trabalho informal ou, na ausência de moradia,
o tem como espaço de pernoite, cria novas normas de sociabilidade, diferente do que é
aceito socialmente.
Na área da cultura, a cidade oferece 135 unidades de bibliotecas municipais,
bosques da leitura ou pontos de leitura, 04 unidades de Centros Culturais, 03 unidades
de Formação Cultural e 08 unidades de Teatro e estão divididas regionalmente em
região Norte – 26, Sul – 41, Leste – 57, Oeste – 13 e Centro – 13.
Sobre a utilização e acesso a equipamentos de cultura, considerando a região de
moradia, a região sul aponta maior índice, correspondendo 50,7% dos respondentes,
seguido pela região leste com 41,1%, região central com 40%, região norte com 38,8% e
região oeste com 35,7% de utilização dos equipamentos culturais da cidade.
Conforme as abordagens realizadas durante a etapa amostral, nenhuma região
apontou utilização de 55% dos equipamentos de cultura, evidenciando que, mesmo
estes oferecendo atividades e formações gratuitas, não contemplam as demandas desse
grupo de alta vulnerabilidade.
Abordar o tema da cultura é garantir o diálogo sobre o direito à cidade, a
mobilidade pelos territórios, bem como a formação cultural de sua população,
respeitando a identidade e cultura local, realizando um olhar mais atento e mais
próximo, respeitando as diferenças e acolhendo as demandas de interesse da
população. A cultura é fundamental para as relações sociais e como ferramenta de

107
fomento à imaginação, expansão de conhecimento, desenvolvimento de habilidades e
aprimoramento do lazer popular.
Conforme o artigo 215 da Constituição Federal de 1988, o Estado deve garantir
o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional. O capítulo
IV do ECA (1990) refere-se ao direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer,
evidenciando no Art. 59 que "os municípios, com apoio dos estados e da União,
estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações
culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude".
Esse é um eixo central quando abordamos o desenvolvimento da criança e do
adolescente. Neste sentido, para o cumprimento desses direitos, é importante que
sejam formuladas políticas públicas integradas no âmbito municipal, estadual e federal.
Na área de assistência social, a cidade dispõe de 467 unidades de CCA, 63
unidades de CEDESP, 39 unidades de CJ e 05 unidades de Circo Social, sendo: região
Norte – 125, Sul – 195, Leste – 190, Oeste – 49 e Centro – 15.
Sobre os dados de utilização dos serviços de convivência e fortalecimento de
vínculos, considerando a região de moradia, a região central apresenta 46,2% dos
respondentes frequentadores, seguida da região oeste com 42,9%, 39,4% na região sul,
37,6% na região norte e 35,3% na região leste, ficando evidente que, na região com
maior concentração populacional, há baixa utilização dos espaços de políticas sociais
para crianças e adolescentes, mesmo sendo a segunda região com maior número de
equipamentos sociais. As regiões oeste e centro possuem os menores números
populacionais e, ainda assim, encontramos maior vínculo com os equipamentos.
Na área de esporte e lazer e sobre a utilização destes serviços, considerando
também a região de moradia da CASR, a região leste aponta o maior índice, com 55,1%,
seguido por 49,3% na região sul, 43,1% na região central, 41,2% na região norte e 35,7%
na região oeste. Das regiões com maior oferta de equipamentos de esporte e lazer,
encontramos as regiões leste e sul com 54 unidades (cada região), região norte com 32
unidades, região oeste com 27 unidades e região central com 15 unidades.

108
Compreender o tema de esporte e lazer é essencial para pensarmos sobre o
desenvolvimento físico, social e emocional das crianças e adolescentes, visto que,
crianças e adolescentes que acessam atividades de esporte e lazer, aprimoram
habilidades de sociabilidade, regras de convivência e a instrução do desenvolvimento do
seu corpo físico.
Para a garantia das políticas de proteção à criança e adolescente, a cidade de São
Paulo conta com 52 unidades de Conselhos Tutelares, sendo 260 conselheiros tutelares
para 841.081 crianças, adolescentes e jovens até 19 anos (2010) e, por região temos:
norte – 11 unidades, sul – 15 unidades, leste – 20 unidades, oeste – 04 e centro – 02.
Dos respondentes de 7 a 17 anos, quando perguntados se já foram abordados
por conselheiros tutelares, informaram: 37,6% abordados na região oeste, seguido por
31,5% na região sul, 31,4% na região leste, 27,1% na região norte e 25,6% na região
central.
Considerando as regiões mais populosas da cidade, as regiões leste e sul
aparecem, respectivamente, como terceiro e segundo lugar no quesito de crianças e
adolescentes já abordados pelo Conselho Tutelar.
O município de São Paulo possui uma rede socioassistencial em seus territórios,
contendo 54 unidades de Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e 30
unidades de Centro de Referência Especializado de Assistência Social, sendo 22 unidades
na região norte, 25 unidades na região sul, 30 unidades na região leste, 05 unidades na
região oeste e 02 unidades na região central. Importante ressaltar que esses números
correspondem à somatória de CRAS e CREAS por região, visto que no questionário da
etapa amostral, essa pergunta se dá de modo conjunto.
Dos respondentes de 7 a 17 anos, que já acessaram o CRAS ou CREAS,
encontramos 41,2% dos que residem na região norte, 38,6% na região leste, 38,5% na
região centro, 36,6% na região sul e 32,1% na região oeste.
As regiões mais populosas da cidade, leste e sul, apontam menos de 40% de
acesso ao CRAS ou CREAS, evidenciando o desconhecimento dos serviços
socioassistenciais que fazem parte das políticas públicas de garantia de direitos.

109
Com a criação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS - Lei 8.742/93), a
assistência social regulamenta o amparo da população por meio da proteção social
básica e a proteção social especial. Isto é, de forma integrada e utilizando de políticas
intersetoriais, o objetivo da assistência social é o enfrentamento à pobreza e garantia
dos direitos sociais básicos.
Os respondentes de 7 a 17 anos, abordados durante a etapa amostral,
apontaram que, apresentados de forma regional, a utilização e acesso aos serviços
oferecidos pelo município correspondem (região de moradia):
● Região Norte: Serviços de Saúde – 81,2% utilizam, Consultório na Rua – 17,6% já
foram abordados, Hospital – 71,8% já utilizaram, SEAS – 14,1% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 52,9% acessam.
● Região Sul: Serviços de Saúde – 81,7% utilizam, Consultório na Rua – 35,2% já
foram abordados, Hospital – 67,6% já utilizaram, SEAS – 25,4% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 56,3% acessam.
● Região Leste: Serviços de Saúde - 86,0% utilizam, Consultório na Rua – 25,1% já
foram abordados, Hospital – 74,4% já utilizaram, SEAS – 25,6% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 73,4% acessam.
● Região Oeste: Serviços de Saúde – 85,7% utilizam, Consultório na Rua – 10,7% já
foram abordados, Hospital – 71,4% já utilizaram, SEAS – 17,9% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 39,3% acessam.
● Região Centro: Serviços de Saúde – 73,8% utilizam, Consultório na Rua – 30,8%
já foram abordados, Hospital - 63,1% já utilizaram, SEAS – 36,9% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 56,9% acessam.
A observação sobre a utilização dos serviços de saúde evidencia que a região
leste (86%) e oeste (85,7%) são as que mais acessam os serviços, seguidas pela região
sul (81,7%), norte (81,2%) e centro (73,8%).

110
Tabela 53: Diferença da incidência dos serviços por região de MORADIA em São Paulo

Centro Leste Norte Oeste Sul P-valor


Área

Atividade Teste Análise


Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim
Ꭓ2
Utilizou algum serviço da UBS/ PS/ AMA 48 73,8% 178 86,0% 69 81,2% 24 85,7% 58 81,7% 0,241 Não significante
Saúde

Foi abordado por algum profissional do Consultório na Rua 20 30,8% 52 25,1% 15 17,6% 3 10,7% 25 35,2% 0,052 1,2
Foi atendido ou utilizou algum serviço de um hospital 41 63,1% 154 74,4% 61 71,8% 20 71,4% 48 67,6% 0,349 Não significante
Foi atendido ou utilizou algum serviço do
CCA/CJ/CEDESP/CCinter/Circo Social (Serviço de convivência e 30 46,2% 73 35,3% 32 37,6% 12 42,9% 28 39,4% 0,548 Não significante
Assistência Social

fortalecimento de vínculos)
Foi atendido ou utilizou algum serviço do CRAS | CREAS (Assistentes
sociais que ajudam a proteger e a prevenir dos riscos - para CADúnico 25 38,5% 80 38,6% 35 41,2% 9 32,1% 26 36,6% 0,938 Não significante
e bolsa família)
Foi abordado por algum profissional do SEAS 24 36,9% 53 25,6% 12 14,1% 5 17,9% 18 25,4% 0,019 2,6
Recebe benefício social 37 56,9% 152 73,4% 45 52,9% 11 39,3% 40 56,3% 0,001 1,9
Foi abordado por algum conselheiro tutelar 21 32,3% 60 29,0% 28 32,9% 6 21,4% 20 28,2% 0,742 Não significante
CT

Foi atendido ou utilizou algum serviço dos Centros culturais (música,


26 40,0% 85 41,1% 33 38,8% 10 35,7% 36 50,7% 0,734 Não significante
dança, grafite etc.)
Outras
áreas

Foi atendido ou utilizou algum serviço dos Centros esportivos (futebol,


28 43,1% 114 55,1% 35 41,2% 10 35,7% 35 49,3% 0,137 Não significante
skate, etc.)
Está matriculado na escola 53 81,5% 173 83,6% 61 71,8% 20 71,4% 57 80,3% 0,166 Não significante
Respondentes (*) 65 - 207 - 85 - 28 - 71 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.

111
Os resultados de alcance dos benefícios sociais revelam ser insuficientes como
medida de proteção social, haja visto que eles não conseguem suprir todos os aspectos
das condições materiais necessárias das CASR, que na sua maioria, estão em situação de
rua para geração de renda. Mesmo com esta constatação, é importante afirmar a
importância do CADÚnico na proteção em relação à educação. Na faixa etária de 7 a 17
anos, dos que declaram estar cadastrados no CADúnico, 15,2% afirmam NÃO estar
matriculados na escola, já os que afirmam NÃO estar cadastrados no CADúnico esse
percentual é de 33,3%, ou seja, duas vezes a mais.

Ao analisar a não utilização dos serviços públicos, na perspectiva das CASR que
estão na situação de pernoite em relação as demais situações, na área da saúde o
atendimento às UBS/PS/AMA e o serviço em hospital apresentam percentuais
superiores de não utilização entre as CASR que estão expostas a condição de pernoite.
Já os consultórios na rua, CAPS infanto juvenil e até mesmo o hospital psiquiátrico o
percentual de não utilização é maior entre as CASR que estão expostas as outros riscos
sociais, que não seja o pernoitar nas ruas, o que indica que as CASR que pernoitam
acabam utilizando mais os serviços voltados as demandas da saúde mental, bem como
o consultório na rua é mais acessado por eles.

Entre os serviços relacionados à assistência social, o CRAS/CREAS foi menos


acessado entre as CASR que não pernoitam nas ruas, bem como o serviço do SEAS, de
modo que entre as CASR que pernoitam o total de entrevistados que nunca foram
abordados foi de 56%, já entre as CASR expostas a outros riscos sociais este percentual
chegou a 75. Entre as demais políticas públicas abordadas (cultura, esporte e educação),
o destaque está na educação, de modo que entre as CASR que pernoitam na rua, a não
utilização corresponde à 32% e, entre as demais situações é de 15%. Nos espaços
esportivos, 55% dos que pernoitam não utilizam e entre as CASR expostas a outros riscos
sociais os que não utilizam correspondeu a 49%.

112
Gráfico 19:Comparação, pernoite e as outras situações (acolhimento e outras trajetórias de risco), do
percentual de CA de 7 a 17 anos que NÃO utilizaram os serviços da rede em São Paulo

Pernoite Outras SR

Serviço da UBS/ PS/ AMA 34%


13%

Serviço de um hospital 32%


26%
Saúde

Consultório de rua 59%


74%

Serviço do CAPS infanto juvenil 69%


81%

Serviço de um hospital psquiatrico 87%


89%

Serviço do CCA/CJ/CEDESP/CCinter/Circo Social 62%


62%
Assistência Social

Serviço do CRAS | CREAS 49%


55%

Abrigo/SAICA 72%
77%

Abordado por algum profissional do SEAS 56%


75%

Abordado por algum conselheiro tutelar 70%


CT

67%

Serviço dos Centros culturais 59%


Outras políticas

56%

Serviço dos Centros esportivos 55%


49%

Matriculado 32%
15%

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022

113
5.12 Pergunta Final

Para o fechamento da pesquisa foi feita uma pergunta do tipo aberta para que
os entrevistados pudessem dizer livremente sobre suas demandas, desejos e até seus
sonhos. Para tanto, a seguinte pergunta foi anunciada: “Se você fosse prefeito/a o que
você faria ou criaria para crianças e adolescentes como você?” As respostas foram
múltiplas, uma pessoa pode citar mais uma ação a ser realizada. Para fins de apuração,
as respostas foram padronizadas e estão apresentadas nas tabelas 59 e 60.

No conjunto das respostas recebidas pelos responsáveis por crianças de 0 a 6


anos, são relatadas ações que já estão no rol de políticas públicas existentes, as quais
deveriam suprir as realidades vividas e minimizar as desigualdades, ou seja, já estão
consolidadas como um direito, porém diante da conjuntura atual se provam
insuficientes. A principal ação a ser feita seria dar casas às pessoas, a necessidade de
acesso à moradia digna foi padrão entre os grupos, em média 27,3%. Seguem algumas
respostas manifestadas:

“Eu ajudaria com casa, comida, roupa, tiraria todo mundo da rua, não aceitaria famílias usando as
crianças para conseguir dinheiro”
“Daria moradia financiada em parcelas baixas para mães"
“Faria casa grande para toda a família, alimentos e escola melhor”
“Casa própria, escola. As crianças não vão pra escola porque elas precisam trabalhar”

Moradia é uma necessidade básica essencial para proteção, dignidade e


desenvolvimento saudável do ser humano, é um dos direitos sociais fundamentais
previstos no artigo 6º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Em segundo e em terceiro
aparecem outros dois direitos sociais assegurados no mesmo supracitado artigo 6º da
Constituição, que conduzem a um processo de fortalecimento em direção maiores
oportunidades e consolidação da autonomia, são eles respectivamente, o desejo em
melhorar o acesso à educação, que ficou com o mesmo percentual de 27,3% e o
emprego, com mais 17,7% dos respondentes informando desempenhar esta ação se
fossem prefeitos da cidade.

114
“Criaria mais creches, mais escolas, mais CCA com atividades como dança, jazz”
“Transformar as fundações Casa em locais de oportunidades de trabalho e profissionalização”
“Mais oportunidades de emprego e estudo”
“Dar uma condição melhor de futuro, emprego pros pais, melhorar a convivência. Melhorar a
educação.”
“Mais locais como CJ e também locais que atendam crianças nos finais semana”
“Eu dava valor aos pobres, porque eles merecem muito mais.”

Tabela 54: Pergunta aberta final para os responsáveis de 0 a 6 anos


Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Resposta risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Daria casas 15 33,3% 36 24,8% 9 30,0% 60 27,3%
Daria acesso à Educação 8 17,8% 39 26,9% 8 26,7% 55 25,0%
Aumentaria a quantidade de empregos 13 28,9% 24 16,6% 2 6,7% 39 17,7%
Ajudariam as pessoas 6 13,3% 18 12,4% 5 16,7% 29 13,2%
Construiria/melhoraria os
abrigos/SAICA's/ Centros de acolhimento 8 17,8% 14 9,7% 2 6,7% 24 10,9%
Melhoraria a alimentação das pessoas 3 6,7% 11 7,6% 3 10,0% 17 7,7%
Melhoraria os benefícios e programas
públicos 1 2,2% 11 7,6% 3 10,0% 15 6,8%
Não soube responder 4 8,9% 9 6,2% 2 6,7% 15 6,8%
Acesso à saúde 1 2,2% 6 4,1% 0,0% 7 3,2%
Baixar o preço dos produtos 0,0% 3 2,1% 0,0% 3 1,4%
Distribuiria roupas 0,0% 1 0,7% 1 3,3% 2 0,9%
Fim às drogas 2 4,4% 0,0% 0,0% 2 0,9%
Melhoraria a segurança pública 0,0% 2 1,4% 0,0% 2 0,9%
Melhoraria o acesso à cultura 1 2,2% 1 0,7% 0,0% 2 0,9%
Tirar todos da rua 0,0% 2 1,4% 0,0% 2 0,9%
Combateria o racismo 1 2,2% 0,0% 0,0% 1 0,5%
Fim da violência policial 0,0% 0,0% 1 3,3% 1 0,5%
Maior acesso a esportes 0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
Mais opções de lazer 0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
Mais vagas para jovem aprendiz 1 2,2% 0,0% 0,0% 1 0,5%
Melhoraria o salário 0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
Não informado 1 2,2% 4 2,8% 1 3,3% 6 2,7%
Respondentes 45 - 145 - 30 - 220 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes.
O percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.

115
Entre as CASR de 7 a 11 anos, a principal ação realizada, se fosse prefeito, seria a
mesma, dar casas às pessoas, sendo padrão entre os tipos de situações, em média
30,9%.
“Ajudava, dava casa, alimentos, tirava da rua”
“Investir em moradia…”
“Não derrubar a casa das pessoas”

Em seguida aparecem outros direitos sociais, bastante pertinentes à idade, como


a melhora na alimentação com mais 23,4% dos respondentes. Em terceiro, a melhoria
de benefícios e programas públicos, citado por 14,2% dos entrevistados. Relacionado a
isso surgiram sugestões de programas de transferência de renda específicos para
adolescentes e bolsas de estudos.

“Daria comida pra todo mundo”


“Distribuir auxílio para as crianças, moradia digna”

“Ajudaria as crianças dando auxílio, como dinheiro, uns 500 reais. Daria cesta básica. Faria um
bazar para dar roupas para as crianças, daria uma sopinha, comida.”

“Melhorar a educação, bolsa auxílio para estudantes”

Tabela 55: Pergunta aberta final de 7 a 17 anos

Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Resposta risco

Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

Daria casas 28 35,0% 104 30,0% 29 30,9% 161 30,9%


Melhoraria a alimentação das pessoas 19 23,8% 81 23,3% 22 23,4% 122 23,4%
Melhoraria os benefícios e programas
12 15,0% 51 14,7% 11 11,7% 74 14,2%
públicos
Daria acesso à Educação 12 15,0% 38 11,0% 5 5,3% 55 10,6%
Ajudariam as pessoas 4 5,0% 34 9,8% 8 8,5% 46 8,8%
Construiria/melhoraria os abrigos 14 17,5% 18 5,2% 9 9,6% 41 7,9%
Baixar o preço dos produtos 3 3,8% 30 8,6% 7 7,4% 40 7,7%
Distribuiria roupas 7 8,8% 23 6,6% 3 3,2% 33 6,3%
Mais vagas para jovem aprendiz 6 7,5% 20 5,8% 6 6,4% 32 6,1%
Mais opções de lazer 5 6,3% 19 5,5% 4 4,3% 28 5,4%
Aumentaria a quantidade de empregos 2 2,5% 13 3,7% 4 4,3% 19 3,6%

116
Tirar todos da rua 1 1,3% 11 3,2% 2 2,1% 14 2,7%
Cuidados com a população em situação de
2 2,5% 9 2,6% 1 1,1% 12 2,3%
rua
Distribuiria brinquedos, celulares,
0,0% 10 2,9% 2 2,1% 12 2,3%
videogames, etc para CA's
Aumento de salário 4 5,0% 5 1,4% 1 1,1% 10 1,9%
Cuidados com pop rua 1 1,3% 6 1,7% 2 2,1% 9 1,7%
Igualdade social 2 2,5% 5 1,4% 1 1,1% 8 1,5%
Acesso à saúde 3 3,8% 2 0,6% 2 2,1% 7 1,3%
Maior acesso a esportes 0,0% 7 2,0% 0,0% 7 1,3%
Cuidado com os animais 0,0% 4 1,2% 1 1,1% 5 1,0%
Fim às drogas 0,0% 5 1,4% 0,0% 5 1,0%
Apoio para famílias 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Benefício para CAs 1 1,3% 3 0,9% 0,0% 4 0,8%
Fim à violência policial 0,0% 4 1,2% 4 4,3% 8 1,5%
Limpeza das ruas 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Oportunidades 1 1,3% 1 0,3% 2 2,1% 4 0,8%
Projetos para CAs 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Transporte gratuito 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Cuidados com dependentes químicos 0,0% 3 0,9% 0,0% 3 0,6%
Descriminalização da maconha 1 1,3% 0,0% 2 2,1% 3 0,6%
Segurança contra abuso sexual 1 1,3% 2 0,6% 0,0% 3 0,6%
Daria camas e cobertas 1 1,3% 1 0,3% 0,0% 2 0,4%
Fim do tráfico e roubo 1 1,3% 1 0,3% 0,0% 2 0,4%
Mais doações 0,0% 1 0,3% 1 1,1% 2 0,4%
Melhoraria o salário 2 2,5% 0,0% 0,0% 2 0,4%
Aumentaria a quantidade de empregos para
0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
pessoas LGBTQIA+
Aumentaria a quantidade de prisões 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Baixar preço dos produtos 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Benefícios para LGTBQIA+ 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Bolsa para estudantes 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Cuidado com imigrantes 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Cuidados para dependentes químicos 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Dar mais liberdade aos CA's 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Daria acesso a Cultura 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Fim à violência 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%

117
Limpeza de córregos 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Mais banheiros 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Melhorar as ruas 1 1,3% 0,0% 0,0% 1 0,2%
Melhorar o mundo 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Melhorar serviços da prefeitura 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Melhorar transporte público 0,0% 1 0,3% 1 1,1% 2 0,4%
Melhoraria a segurança pública 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Melhoraria as políticas públicas 1 1,3% 0,0% 0,0% 1 0,2%
Melhoraria o acesso à cultura 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Políticas de convivência 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Projeto para CAs 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Respeito 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Saneamento básico 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Tirar todos das ruas 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Um lugar para tomar banho 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Não soube responder 8 10,0% 16 4,6% 3 3,2% 27 5,2%
Respondentes(*) 80 - 347 - 94 - 521 -

Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.


(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes.
O percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.

As crianças e adolescentes apresentaram uma gama de preocupações bastante


vasta, que incluem a si, ao outro, os animais, o meio ambiente, as ruas e calçadas e o
transporte público. Desejam melhorias que compreende desde ações para trazer mais
dignidade e acesso às necessidades básicas, como ter o direito de acessar banheiros
limpos, até reflexões mais abrangentes, como ações para transformar o mundo e torná-
lo um lugar melhor para todos viverem. Desejam diversão, parques, passeios, doces,
roupas, brinquedos. Querem o fim da violência, do abuso, do tráfico e do roubo. Sabem
que as famílias é quem precisam de apoio, para que então possam dar o suporte
necessário, e eles apenas desfrutem, cresçam, se desenvolvam física, emocional e
intelectualmente de maneira saudável.

Mais uma vez se pode observar que tudo o que desejam de melhorias está
garantido em lei pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, mas ainda encontra limites

118
para se cumprir, dando continuidade às desigualdades. Seguem outras sugestões, se
fossem prefeito da cidade:

“Lei para melhorar nossos sonhos e que acabasse com o abuso.”

“Criar políticas públicas para adolescentes acolhidos em Saicas após completarem a


maioridade.”
“Doação de alimento, moradias. Entregar cestas básicas na escola e no CCA. Mudar o
mundo pra melhor.”
“Iria ajudar as famílias de crianças que precisam trabalhar.”
“Ajudaria quem não tem casa e o aquecimento global e várias brinquedotecas.”

“Aumentaria o salário, proibiria as drogas, os abusadores deveriam pagar indenização


para as vítimas, ajudaria os moradores de rua construindo abrigo”

“Iria dar cesta básica e conversar em casa”

“Eu ia baixar o gás, e outros alimentos”

“Dava sobremesa de mais qualidade. Aumentava o bolsa família e abaixava o preço das
coisas. Melhorar a qualidade de ensino e educação. Colocar o prefeito nas escolas.”

“Sei dos seus sonhos perdidos nos olhos da mãe do luar


Conheço o amor infinito que deixou por lá
Eu também tive um rio que secou
Também sou guerreiro e sonhador
Eu também sei cantar pra não gritar de dor
Voa menino, voa
pra sua estrela natal
Voa menino, voa
por cima do temporal”

Estrela Natal
Sergio Pererê

119
6. RESULTADOS DOS GRUPOS FOCAIS

Os grupos focais tiveram como objetivo promover a interlocução de diferentes


atores que acompanham em maior ou menor escala o fenômeno e as dinâmicas sobre
crianças e adolescentes em situação de rua. Para tal, criou-se um espaço multivocal para
ouvir diferentes percepções em relação às CASR e viabilizar a troca de informação, na
intenção de trazer mais contexto à pesquisa. Utilizamos como metodologia para a
captação de informações a Teoria da Atividade Histórico Cultural (TAHC) (VYGOTSKY,
1978) visando entender as percepções dos atores, especialmente, sobre os riscos sociais
e como se articulam, ao longo do tempo, profissionais e pesquisadores que atuam no
Sistema de Garantia de Direito da Criança e do Adolescente (SGDCA).
Participaram dos três grupos focais os seguintes atores: representantes dos
serviços de abordagem social (SEAS), profissionais de CREAS, representantes de
organizações e movimentos sociais, conselheiros tutelares e pesquisadores. A inclusão
dos grupos focais como um método analítico no projeto teve a intenção de criar um
espaço de escuta qualificada, promovendo reflexões e encaminhamentos, através de
diferentes olhares e diversas narrativas em torno das situações que atravessam as CASR,
propondo caminhos possíveis para (re) pensar as políticas de proteção social.
Os grupos ocorreram nos dias 05, 06 e 14 de outubro de 2022, no Espaço Público
do Aprender Social - ESPASO. As reuniões duraram, em média, 2 horas e 30 minutos e
contou com dois pesquisadores-mediadores por grupo. No primeiro encontro contamos
com a presença de uma profissional da COVS-SMADS.
O primeiro grupo contou com a participação de 10 integrantes representando
organizações e movimentos sociais, além de pesquisadores atuantes na área; o segundo
grupo contou com 8 participantes que atuam nos conselhos tutelares (Cidade
Tiradentes I, Ipiranga, Grajaú, Rio Pequeno, Penha, Vila Prudente, Santo Amaro e Sé),
três educadores sociais e uma pesquisadora; o grupo três contou com trabalhadores do
SEAS (Guaianazes, Lapa, Penha, M'boi Mirim, Campo Limpo, Vila Mariana, Vila Maria,
Ipiranga e Perus), contou ainda com representantes da gestão de parcerias do CREAS de

120
Itaquera, Jabaquara e Perus, além de um educador social. O convite se estendeu para
outros trabalhadores da assistência social que atuam tanto nas instituições públicas
como nas organizações e movimentos sociais, mas por se tratar de uma participação
voluntária, nem todos os convidados puderam contribuir por conflitos na agenda,
dentre outros motivos. As reuniões foram gravadas com a permissão dos participantes
frente ao compromisso ético em pesquisa de manutenção do anonimato dos relatos.

6. 1 Mudanças dos Riscos Sociais ao longo do tempo

Nos encontros para os grupos focais utilizamos um dado-espelho sobre a


atividade, como primeiro estímulo (VYGOTSKY, 1978), em todos os grupos, com o
objetivo de que os participantes refletissem sobre os riscos sociais que acometem as
CASR. Utilizou-se como primeiro estímulo parte da resolução do CONANDA e do ECA
sobre o conceito de “situação de rua” de crianças e adolescentes: “I - trabalho infantil;
II - mendicância; III - violência sexual; IV - consumo de álcool e outras drogas; V -
violência intrafamiliar, institucional ou urbana; VI - ameaça de morte, sofrimento ou
transtorno mental; VII - LGBTfobia, racismo, sexismo e misoginia;VIII - cumprimento de
medidas socioeducativas ou medidas de proteção de acolhimento” (CNAS/CONANDA,
2016, ECA, 1990).
De acordo com os participantes, o perfil dos riscos no qual crianças e
adolescentes estão sujeitos mudou muito ao longo do tempo, um exemplo posto por
eles foi em relação ao trabalho infantil atrelado as infrações: antigamente pequenos
furtos eram as maiores causas, atualmente as atividades irregulares estão cada vez mais
ligadas ao comércio varejista de entorpecentes, dentre outros mercados ilegais, no qual
circulam mercadorias furtadas e conta com uma complexa rede de trabalhadores que
precisam atuar sigilosamente para não levantarem suspeitas (FELTRAN; FROMM, 2020).
Os participantes trouxeram ainda a percepção de que outro risco latente para
esse grupo é o consumo de drogas ilícitas que mudou a relação das CAs com os

121
territórios: atualmente, a criança ou adolescente já saem da sua região de origem direto
para a cracolândia, por exemplo, local no qual poderá conseguir drogas mais facilmente:
“(...) antes essa CA passava 6 meses até chegar da moradia até a cracolândia, hoje faz
esse trajeto em 2h e em pouco tempo esse sujeito torna-se um dependente químico e
sua vida fica mercê do consumo de drogas e para tal, a mendicância, o roubo ou o furto
são as possibilidades para as CAs manterem seu vício” (relato de trabalhador). Outras
modalidades de cooptação desse público para o mercado ilegal também foram indicadas
pelos participantes: “Em Santo Amaro havia um caso em que um traficante do território
tinha criado uma espécie de “centro de acolhimento” para os meninos, tipo uma
república. Ele ia para a porta dos Saicas da região fazer o aliciamento dos meninos,
oferecia casa, dinheiro, comida e liberdade. Inclusive tentaram [trabalhadores da
assistência] fazer uma reunião de rede com o traficante” (relato de um trabalhador).
A configuração territorial sempre foi um elemento importante quando
pensamos em riscos para as CASR. Um destaque importante relativo às questões
territoriais, foi sobre as distinções encontradas nas regiões: cada território tem um
modo de funcionamento, com normas, regras e dinâmicas distintas. Esse olhar serve
como uma importante ferramenta para a capacitação dos profissionais/educadores
sociais, apropriando-os de métodos mais amparados na realidade sócio-histórica das
crianças e adolescentes atendidos. Uma das percepções que um educador social
compartilhou no grupo foi que “os espaços periféricos acabam se tornando invisíveis
por conta do centro demandar mais atenção e ser mais visível, mas as regiões periféricas
traçam um paralelo sobre o que é estar em situação de rua ser uma condição muito
confusa nestes locais, ao conversar com o pessoal das comunidades, essas pessoas
falavam que na própria região não havia crianças em situação de rua” (relato de
educador).
Dessa maneira, a partir das percepções trazidas pelos participantes dos grupos
reforça-se a importância de estar constantemente dialogando com os atores sociais que
atuam direta ou indiretamente no atendimento de crianças e adolescentes em situação
de rua, no que tange os riscos sociais que este público está exposto, para que as

122
estratégias de atendimento estejam de acordo com a realidade social vivida pelas CASR,
bem como e em conformidade com as características vivenciadas nos respectivos
territórios do município de São Paulo. Para a elaboração de estratégias cada vez mais
assertivas, as novas modalidades de “riscos”, como o trabalho informal, precisam ser
enfrentadas pelos gestores públicos na perspectiva da inserção desse público em outras
atividades.

6.2 Condições de Trabalho

Durante os encontros, os trabalhadores de diferentes esferas da área social


afirmaram que as dinâmicas de trabalho também influenciam na execução da atividade
e nem sempre positivamente. Os participantes mencionaram que o desmonte dos
serviços e algumas questões burocráticas, as metas de atendimento, muitas vezes, se
sobrepõem àquilo que objetiva o trabalho com abordagem socioeducativa para uma
construção coletiva, dificultando também um plano individual de atendimento pautado
nas múltiplas singularidades, dentre outras tarefas. Sobre as metas de atendimento, os
trabalhadores mencionaram que são muito difíceis de serem cumpridas e que “a
preocupação [para o cumprimento das metas] é somente com número, quantidade de
crianças e adolescentes abordados” (relato de trabalhador). Os participantes
mencionaram ainda que são poucos os territórios que atingem a meta e é uma questão
que precisa ser revista, pois não atingir a referida meta não significa que não houve
trabalho no território.
A precarização do trabalho ao longo do tempo foi um ponto discutido em todos
os grupos. De acordo com relatos dos participantes, desde 2016 há um desmonte
afetando as políticas públicas para CASR e os profissionais se encontram cada vez mais
sobrecarregados (demanda alta e poucos trabalhadores para a execução da atividade).
Com isso, os trabalhadores percebem sua saúde comprometida, acarretando cada vez
mais em afastamentos, especialmente por conta de questões graves que afetam a saúde
mental, por exemplo, “Uma luta para não adoecer mentalmente, é preciso se colocar

123
enquanto seres humanos” (relato de trabalhador). De acordo com os relatos, baixa
remuneração, salários atrasados e desinvestimento em educação continuada também
dificultam a execução plena da atividade.
A precarização da atividade intensificou-se com o fenômeno da terceirização dos
serviços e de acordo com um dos relatos, “tira um pouco nossa autonomia” (relato de
trabalhador). Quando se observa a equipe terceirizada, vê-se muita gente adoecida e a
equipe não se identifica com o trabalho por muito tempo, principalmente porque não
são formados ou não têm experiência para atuarem na área, com isso muitos
trabalhadores atuam apenas para obterem uma remuneração: “as pessoas vão apenas
porque precisam de um trabalho e não pelo perfil, o trabalho não é apenas atendimento
e encaminhamento para centro de acolhida. Enquanto profissionais terceirizados eles
não têm o mínimo de garantias, tem que lidar com salários atrasados, não tem plano de
saúde nem vale refeição, portanto, como motivar o trabalhador para trabalhar em uma
escala 6/1 na rua para reconhecer seu território, sendo que não necessariamente tem
recurso para disponibilizar o kit higiene, material de educação sexual e o kit lanche?”
(relato de trabalhador). A “terceirização”, ou seja, subcontratação de trabalhadores, foi
concebida em um contexto pós-recessão econômica depois da segunda guerra mundial.
Os tempos mudaram e a terceirização permanece precarizando os vínculos laborais
tornando os trabalhadores meros “cumpridores de metas”. A consequência é o
adoecimento dos trabalhadores, tanto físico, como mental (SELIGMANN-SILVA, 2011).
De acordo com um dos trabalhadores: “munícipes denunciaram os orientadores
que estavam parados jogando damas com uma CASR... ele foi até o CREAS reclamar que
o profissional não estava trabalhando em seu expediente” (relato de trabalhador). O
que deveria ser feito, de acordo com o profissional, era uma conversa com essa
munícipe para explicar o que é a atividade, porém existem casos em que os profissionais,
por estarem sobrecarregados, acabam não falando sobre os motivos da abordagem,
parecendo mais fácil só acolher ao invés de explicar: “Isto é método, precisa desta
compreensão, e isso foi se perdendo com o tempo” (relato de trabalhador). Um dos
participantes reforçou a necessidade de esclarecimento a respeito da importância de

124
aplicar métodos lúdicos quando se trata de criança e adolescentes em situação de rua:
“. Se não pode sentar na calçada, como vão aplicar uma metodologia mais lúdica para
estabelecimento e ou manutenção do vínculo?” (relatos de trabalhadores).
Outra discussão trazida foi o fato de não haver treinamento para a execução
plena da atividade. Com isso, como demonstra a literatura, os profissionais atuam a
partir daquilo que intuem ser o melhor modo, gerando, após algum tempo,
desmotivação, sobrecarga e desgaste mental (SELIGMANN-SILVA, 2011). A ausência de
um quadro funcional robusto, que supra as necessidades das CAs, foi apontado como
um problema em todos os grupos focais. De acordo com participantes do grupo I: “não
existem mais CREAS com a equipe completa de profissionais como já ocorrera no Núcleo
de Proteção Jurídico Social e Apoio Psicológico (NPJ), quando foi aprovado pelo Dr.
Floriano Pesaro, e posteriormente passou a funcionar, inclusive com concursos, e agora
já são cerca de sete anos sem concursos para a área” (relato de trabalhador). A ausência
de uma formação continuada aliada a disseminação de conceitos norteadores ou
pressupostos metodológicos que qualifiquem suas intervenções para lidarem com as
CASR também foi mencionado como dificuldades para a execução das tarefas, com isso
cada gerente, cada equipe técnica constroem uma maneira de trabalhar de acordo com
a demanda que ela conhece, de acordo com o território que atua, em alguns momentos
com o apoio do CREAS e a SEAS que conhecem o território, pois “às vezes a capacitação
é realizada por um profissional que não possui perfil nem conhecimento técnico e
operacional para realizar tal função” (relato de um trabalhador).
Martins (2021) ressalta a importância de tornar as relações mais abertas e
intensas, o que contraria a lógica da eficiência: cumprimento de metas irreais,
atribuições rígidas e cristalizadas. Muitas vezes estar disponível para o outro é lido como
"fazer nada", sendo assim, a pesquisadora desenvolve a lógica de "fazer nada como um
dispositivo clínico e político nos territórios". Essa questão foi trazida pelos educadores,
que evidenciaram ser cobrados de certos protocolos e fluxos institucionais que
caminham em descompasso com o fundamental para que qualquer intervenção

125
aconteça: o vínculo. Se não há possibilidade de "perder tempo" com esse outro, como
o vínculo é desenvolvido?
Nesta perspectiva, de acordo com os relatos, diversos assuntos foram trazidos
no que concerne à condição de trabalho, tais como: incremento no quadro funcional
com a contratação de mais profissionais para a diminuição da sobrecarga de trabalho, a
necessidade de qualificar e oportunizar capacitações continuadas para a equipe técnica
que atua diretamente com o público infanto juvenil, em especial as CASR e adequar os
métodos de abordagem deixando evidente para os demais atores e sociedade, que o
atendimento as CASR carece de estratégias diferenciadas e abordagens lúdicas para o
alcance de resultados esperados: maior efetividade na construção dos vínculos e na
execução da política pública em prol da garantia de direitos humanos das crianças e
adolescentes.

6.3 Trabalho em Rede

O ECA reconhece que a manutenção dos vínculos familiares e comunitários são


muito importantes para o desenvolvimento das CAs (ECA, 1990). Em se tratando dos
serviços socioassistenciais, uma das premissas é de que os trabalhadores que atuam
junto às CASAR também se vinculem a eles para que os resultados esperados sejam
alcançados. De acordo com os participantes dos grupos focais, a construção de vínculos
tem sido cada vez mais difícil, tanto pelas condições de trabalho insatisfatórias, quanto
pela mudança de perfil das CASR, que estão cada vez mais atuando no mercado varejista
de drogas ilícitas e demais circuitos criminalizados, no qual é importante “manter-se
operando em sigilo” (FELTRAN; FROMM, 2020 p. 130)
De acordo com os participantes, há algum tempo os pesquisadores de campo da
área da infância e adolescência já não querem mais trabalhar com as categorias de
vulnerabilidade e risco social, pois após 30 anos da sanção do ECA a doutrina da
proteção integral ainda não foi implementada como deveria ser, com isso,
vulnerabilidade e risco social enquanto categoria não contempla tamanho sofrimento

126
da população em situação de rua, “risco é uma questão de momento” (relato de um
trabalhador). A mudança conceitual foi apontada como um fator importante e que
reverbera na prática dos serviços.
De acordo com um dos relatos, a atualização conceitual em conformidade com a
RESOLUÇÃO Conjunta nº1 de 07 de junho de 2017 que dispõe sobre as diretrizes
políticas e metodológicas para o atendimento de Crianças e Adolescentes em Situação
de Rua no âmbito da Política de Assistência Social e a mudança metodológica de
abordagem junto ao público, podem ajudar com avanços na pauta: “os observatórios
não vão para frente porque ficam presos a determinadas categorias que não condizem
com a realidade, há uma necessidade de atualização desse olhar, porque se ficar apenas
sob este olhar de vulnerabilidade e risco social deixa para o sujeito a condição dele ficar
a vida inteira assim” (relato de trabalhador).
Toda a discussão conceitual trouxe à tona outras questões que dificultam a
articulação da rede para a execução das tarefas como prevê a legislação. Relatos
afirmaram que há uma grande dificuldade na articulação dos dados, por exemplo. Além
de reverberar sobre a definição de cada serviço, sem um conceito de CASR atualizado e
disseminado para todos os atores do SGDCA, acaba parecendo que a missão dos serviços
é de “apagar incêndio ou enxugar gelo" (relato de trabalhador). De acordo com um
conselheiro tutelar a impressão é “que aquele atendimento não deveria estar ali no CT,
aquele atendimento deveria estar sendo feito pelos serviços que realmente deveriam
estar funcionando, se chegou ao CT, algum erro tem”... “Aí pega uma criança que
precisaria de um atendimento técnico e coloca na mão de um conselheiro, que não
exerce a função de técnico e ele utiliza do conhecimento empírico de vida e acaba
tomando decisões equivocadas, meramente para apagar o fogo” (relato de
trabalhador).
Ainda assim, os profissionais afirmaram que tentam, individualmente, criar
dinâmicas mais funcionais, “porém o fluxo de trabalho em campo é tão enlouquecido
que acaba surgindo essas tensões com os diferentes serviços que estão trabalhando com

127
essa demanda, isso que nos adoece enquanto profissionais, além de fragilizar a
perspectiva do trabalho em rede” (relato de trabalhador).
A ausência de um conceito consolidado sobre a situação das CASR dificulta a
articulação da rede aliado a cada vez menos trabalhadores atuando, muitas vezes, sem
a formação adequada para lidar com um público tão complexo que demanda atenção e
afetividade. De acordo com um dos relatos: “não dá para abrir uma eleição de CT se as
pessoas que tiverem interesse não participarem de um curso anterior, para um
nivelamento metodológico e conceitual, e depois da pessoa ver que tem interesse ou
afinidade, abre-se o processo, e então se aprovada a documentação, tudo certo, parte
para um outro curso apenas para discutir e qualificar dois conceitos: conselho tutelar e
conselho de direitos, apenas depois disso elas partem para o processo eleitoral. E ao se
elegerem partem para um outro curso antes de assumirem o cargo, curso de direitos e
obrigações e como o estado vai dar condições de trabalho para cada um, e só então
começam a trabalhar” (relato de trabalhador). Fica evidente que há desconhecimento
sobre as atribuições do Conselho Tutelar e isso impacta no funcionamento da rede de
garantia de direitos. Do outro lado, existe uma não leitura social sobre as situações em
que a criança está inserida.
O diálogo com outros atores da rede também foi mencionado. De acordo com a
impressão de alguns trabalhadores, há uma dificuldade em atuar com profissionais da
saúde: “a saúde sempre vai ser muito difícil, porque existe essa coisa sobreposta da
saúde ter um saber que a assistência não sabe, inclusive existe uma discrepância salarial
gigantesca” (relato de trabalhador). Ainda sobre a saúde, os participantes mencionaram
uma experiência interessante: “a saúde é terceirizada, mas houve um movimento de
trabalhadores do Consultório na Rua que impulsionou o SEAS, no que diz respeito à
necessidade de se discutir a população em situação de rua na base. Foi criado um grupo
de trabalho de População em Situação de Rua, no qual realizaram formação sobre saúde
mental com os trabalhadores de todos os níveis, além de realizarem um fórum
intersetorial sobre drogas e direitos humanos na zona norte, no bairro Zaki Narchi,
potencializando consideravelmente o espaço e reunindo pessoas de diferentes áreas:

128
da proteção básica, da saúde, educação e cultura, esse grupo fez tanto barulho que
algumas pessoas foram mandadas embora, e no ano de 2022 esse fórum retornou”
(relato de trabalhador).
Segundo relato dos trabalhadores, outro ponto que afeta a articulação em rede
é que existem leis que não são trazidas à tona, ou seja, não são implementadas de fato.
A exemplo da Lei 13.431 de 04 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia
de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, que poderia
favorecer nos trabalhos caso fosse aplicada, bem como a necessidade de deixar claro os
fluxos e atribuições de cada ator que atua e compõe a rede de atendimento e proteção.
Os participantes dos grupos focais apontaram diversas mudanças ao longo do
tempo que impactam no fluxo do trabalho da rede: desde a reestruturação produtiva,
aprofundada nos anos 90 e 2000, até a não aplicação de Leis que trazem diretrizes
importantes e podem favorecer na disseminação de novos conceitos e serem
experimentados pelos atores da rede socioassistencial.
Sendo assim, nesta temática ficou evidente, a partir da perspectiva dos
participantes, a inevitabilidade de reforçar o conceito de CASR para todos os atores
sociais que atuam com o público referido, estabelecer metas de implantação e
cumprimento de fluxos de acordo com a lei e em conjunto com os profissionais, para
que haja maior efetividade das ações. Reforçou-se ainda, a importância de evidenciar os
papéis sociais de cada ator que compõe a rede de atendimento do SGDCA para que os
fluxos e encaminhamentos possam ser aplicados em conformidade com as
competências e responsabilidades de cada um.

129
7. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

O último censo de crianças e adolescentes em situação de rua foi realizado há


quinze anos, em 2007. Obter dados e informações acerca dessa população é uma forma
de conhecer a realidade e, a partir dela, formular políticas públicas, melhorar os serviços
já existentes e capacitar os profissionais que atuam com abordagem social de rua.
Destacamos que os resultados aqui expostos são, em sua maioria, de natureza
quantitativa, auxiliando-nos a conhecer a realidade das crianças e adolescentes em
situação de rua de São Paulo a partir de um cenário apresentado no tempo de realização
das respectivas etapas. Entretanto, é importante ressaltar que o cotidiano é dinâmico e
apresenta complexidades, sobretudo na compreensão das singularidades das crianças e
adolescentes. Faz-se necessário, então, que pesquisas qualitativas sejam elaboradas e
que tragam aprofundamentos nas dimensões relacionadas aos conteúdos
apresentados, trazendo contexto aos dados.
Levando em conta a realidade em que estão inseridas as CASR, somos
convocados diretamente a abordar o tema da exclusão/inclusão social perversa e sua
repercussão na subjetividade dos que experienciam esta situação, usando o conceito
de sofrimento ético-político. Ele se refere “a dor mediada pelas injustiças sociais. É o
sofrimento de estar submetido à fome e à opressão, e pode não ser sentido como dor
de todos” (SAWAIA, 2001, p. 102). Caracteriza-se pela “dor social de ser tratado como
inferior, subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade” (p. 104), é a consequência
de todo processo de inclusão perversa que se repete nas relações sociais.
Desse modo, tal qual reflete Sawaia (2003), as necessidades dos que são
atravessados pelo sofrimento ético-político não se resumem às necessidades básicas - e
fundamentais - de se alimentar, ter casa e acesso à escola (no caso das CAs). Eles
precisam de carinho, atenção, necessitam ser vistos e reconhecidos, têm fome de
dignidade. Desse modo, a autora considera o afeto - baseado em uma política da
afetividade (Spinoza, 2013) -, como estratégia pedagógica. Os afetos são os responsáveis
por aumentar ou diminuir a nossa capacidade de agir e são gerados nos encontros com

130
o outro, na coletividade. Em suma, quando há maus encontros, a potência de agir
diminui; em contrapartida, quando há bons encontros, a potência de agir em favor da
autonomia, aumenta.
“Não se pode exigir que o educador e a educadora sejam super-
homens ou super-mulheres. Deve-se antes considerar que eles
também estão em situação de sofrimento, não apenas por
compreenderem os problemas, mas também por sua condição social.
Mesmo assim, eles podem fazer muito para desbloquear na criança as
disposições afetivas que favoreçam seu processo de desenvolvimento
e de emancipação. Pode-se dizer, talvez, que assim como o professor
alfabetiza, ele afetiviza. Trabalhar os afetos é agir sobre os poderosos
processos que determinam os sujeitos como livres ou servis de
qualquer forma de poder, inclusive o criminoso” (SAWAIA, 2003, p.
61).

A efetividade no trabalho implica condições mínimas, tanto estruturais como


remuneratória, para que o presenteísmo e, consequentemente, o adoecimento mental
não permeiam o cotidiano de trabalho e afetem as relações entre trabalhadores e CAs
(SELIGMANN- SILVA, 2012). Posto isto, é extremamente relevante o papel
desempenhado pelos profissionais/educadores sociais de rua. Estes devem possibilitar
às CASR a formação de novos laços afetivos, valorizar seus saberes e histórias, sem fazer
julgamento sobre lícito e ilícito, conduzindo-os a espaços de cuidado e proteção,
assegurando e garantindo seus direitos (ANDRADE, 2019). Devem funcionar como um
lugar de pouso, abrigo, referência positiva, escutando as ancoragens, ou seja, os fios
invisíveis que os amarram à vida (BROIDE, 2019).
Morais et al. (2010) afirmaram que a figura materna, na maior parte dos casos,
é mais presente. A figura paterna, em contrapartida, muitas vezes nem é conhecida
pelas CAs. Os autores discutem sobre a qualidade do vínculo e das relações familiares,
pois apesar de a maior parte das CASR manterem contato e conviverem com a família,
muitas vezes essa relação se dá de modo agressivo, autoritário e negligente. Os autores
desconstroem a ideia que se tem no senso comum de que é por causa das famílias que
as CAs vão viver em situação de rua, pois conflitos familiares também são vivenciados
por CAs de classe média. A diferença é que a condição de vida é totalmente diferente

131
daquela em que as famílias pobres estão inseridas, não sendo a rua o local “escolhido”
como moradia. A ida para as ruas se dá quando as CAs sentem estar mais privadas de
direitos e mais expostas a violências em casa ou no SAICA, do que propriamente na
rua.
Os resultados da etapa amostral do Censo trazem indícios das necessidades e
dos riscos que permeiam as vivências das CASR. Trata-se de dados importantes que
poderão subsidiar ações para efetivar prevenção e acolhimento, visando o
desenvolvimento integral destas CAs.
Dentre os resultados aqui expostos, às atividades de trabalho praticadas pelas
crianças e adolescentes ganham relevância, pois impacta diretamente nos fatores de
risco, assim como na ausência deste público em espaços escolares, de cultura, esportes
e lazer. As informações referentes a essas atividades foram colhidas por abordagem
direta com os adolescentes ou responsáveis por crianças de 0 a 6 anos, de acordo com
as cotas selecionadas. Das várias atividades desempenhadas na rua pelas CASR, as
atividades geradoras de renda através do trabalho aparecem em maior número de
vezes, assim como a mendicância que apareceu com frequência nos dois grupos.
Portanto, os adolescentes e responsáveis encontram-se na rua principalmente para
gerar renda e se alimentarem.
Os dados revelaram também a relação de CASR e os serviços ofertados pela
Prefeitura de São Paulo, que são utilizados pela maior parte do público, especialmente
os serviços de saúde e assistência social. Sobre os equipamentos de cultura, lazer e
esportes, observa-se pouca utilização, mas os que declararam utilizar estes serviços,
avaliaram positivamente.
Por seu turno, a realização dos grupos focais foi muito importante para a
promoção da multivocalidade que possibilitou dar voz a alguns profissionais que atuam
no SGDCA ou em organizações sociais, além de pesquisadores renomados que
contribuíram com reflexões e sugestões importantes para a execução plena desta
atividade. A noção de jovens que vivenciam as altas complexidades é histórica, sendo
repassadas, vivenciadas e violadas por gerações. Propriamente, os trabalhadores da

132
rede de garantia de direitos, bem como os movimentos sociais entram em conflitos a
partir de suas dores e seus sofrimentos. Nos últimos 30 anos, o tema de proteção de CA
entrou em voga, mas sem ter abandonado a perspectiva filantrópica, do assistencialismo
ou, propriamente, da marginalização da pobreza e dos grupos periféricos (RIZZINI,
2004).
Abaixo enfatiza-se alguns resultados apresentados no decorrer da análise:
● No momento da pesquisa desenhou-se um perfil amostral no qual teve-se mais
sexo masculino do que feminino, o que também se encontrou no momento
censitário. O que se ressalta em relação ao sexo biológico é prevalência do sexo
masculino, principalmente no caso de 7 a 17 anos, e em outras trajetórias de
risco. O perfil deste tipo de situação (outras trajetórias de risco) está diretamente
associado à geração de renda, sendo este o principal motivo para estarem em
situação de rua. Dessa maneira, pode-se indicar que as CASR do sexo masculino
estão expostos precocemente a situações de trabalho infantil na rua para
complementação e contribuição da renda familiar.
● Sobre a cor/raça, prevalece a raça negra (pardos e pretos), sendo a mais
frequente em todos as situações e, no grupo de 0 a 6 anos no qual a raça/cor
branca e preta se distribuem na mesma proporção, porém no grupo de 7 a 11
anos a preta está duas vezes mais presente do que a branca, isso nos leva a inferir
que CAs de pele negra costumam estar mais tempo nesta situação, logo, a
formulação e implementação de políticas afirmativas, em diversas esferas,
como: universidades, empresas, dentre outros espaços importantes sociais, para
os responsáveis que são em sua maioria pessoas negras, podem auxiliar, a longo
prazo, na diminuição deste índice;
● No grupo de 7 a 17 anos percebe-se uma tendência maior na concentração de
adolescentes, porém a maior parte com trajetórias em anos de rua menor, ou
seja, quando se observa o comportamento da curva de tempo de rua na faixa
etária, ela tende a ser menor em tempos mais elevados de permanência (10 anos
ou mais). Esse comportamento, é vivenciado também nas outras faixas etárias,

133
ou seja, nas faixas etárias de 7 a 11 anos também tem poucos casos com mais de
7 anos de vivência na rua; e de 0 a 6 anos o mesmo comportamento –
enfatizando a transitoriedade, mas apontando os casos que se consolidam;
● Sobre a transitoriedade, a pesquisa apontou cerca de 10% de CASR que não
moram em São Paulo (SP) indicando essa mobilidade intermunicipal, e ainda a
grande variedade de dias em que permanecem na rua – às vezes uma única vez,
ou duas vezes se sobressaindo em grandes percentuais entre o acolhimento e as
outras trajetórias, ou ainda todos os dias na semana, percentual mais relevante
entre as CASR do pernoite;
● Outro ponto que traz a questão de transitoriedade é a análise do período, o qual
não teve um destaque entre a situação de acolhimento e pernoite; já nas CASR
com outras trajetórias de risco, o período da tarde se destacou com maior
frequência;
● Na faixa etária de 0 a 6 anos percebe-se sempre uma desproporcionalidade entre
a cidade natal do responsável e a cidade natal da criança em situação de rua,
esta última sempre em percentuais maiores natos na capital paulista;
● No acolhimento, independentemente da faixa etária, destaca-se o perfil não
nato da cidade de São Paulo, podendo indicar um serviço mais de passagem do
que de acolhimento aos usuários locais – sugere-se uma abordagem qualitativa
para entender o motivo dessa grande diferença;
● Enfatizando essas diferenças de cidade natal, surpreendeu a representatividade
de outros países, identificadas na etapa da pesquisa amostral, se destacando nos
dois grupos (de 0 a 6 anos e de 7 a 17 anos) como 2º ou 3º mais frequente se
comparado com naturais de outros estados brasileiros. Os países indicados como
origem são países relativamente pequenos se comparados com o Brasil, mas que
se tornam significativos comparados a população total em situação de rua – este
público específico merece um olhar diferenciado pois as motivações podem ser
distintas;

134
● A questão de mobilidade, tirando um retrato do momento da pesquisa, mostra
que em ambas as faixas etárias os respondentes estavam na sua maior parte na
mesma região que moram quando responderam à pesquisa, e ambas mostraram
que a menor mobilidade neste sentido apresentou na Região do Centro e maior
na Região Sul, ou seja, os moradores do Centro preferem ficar em SR no Centro
e os moradores da Região Sul tendem a se deslocar, principalmente para o
Centro e para a Região Oeste;
● A geração de renda é o motivo mais alegado nas situações de risco como fator
para estar na rua, principalmente entre as outras trajetórias e o pernoite,
independentemente se a CA de 7 a 17 anos ou o respondente do grupo de 0 a 6
anos, com isso, sugere-se uma articulação entre as políticas de emprego, para os
responsáveis, assim como o programa para inserção de adolescentes em
estágios e programas correlatos, e a assistência social, com vistas a inserção
destas pessoas no mercado de trabalho. Para tal, programas de formação
profissional voltadas exclusivamente para os responsáveis por crianças e para
adolescentes podem favorecer a obtenção de emprego;
● Os casos em SR são na maior parte da Região Leste, e se identificam perfis
diferentes da região de moradia entre as situações, como exemplo: moradores
da Região Leste na situação de outras trajetórias de risco é 1,3 vezes que o da
Região Sul na mesma situação; e, moradores da Região Oeste na situação de
acolhimento são 3 vezes maiores que os da Região Leste na mesma situação;
● Na questão de vínculo familiar é perceptível que o vínculo está fragilizado no
acolhimento, e que até a situação do pernoite acaba tendo mais contato com
familiares do que os acolhidos. Este ponto impacta diretamente na violação do
direito à convivência familiar e comunitárias das crianças – na situação do
pernoite, o vínculo existe e acaba sendo de forma mais esporádica que na
situação de outras trajetórias;

135
● Sobre os locais que dormem os que estão em situação de acolhimento não
apresentaram tendência em nenhum dos grupos etários, e os de pernoite, nos
dois casos a barraca foi o local mais indicado;
● Em relação às atividades exercidas, na faixa etária de 7 a 11 anos, os
interlocutores declararam mais vezes que os respondentes de 0 a 6 estarem
envolvidos com a venda de produtos ilícitos e com o roubo e furto. Deve-se ter
cuidado ao analisar este dado, pois sabe-se que um adulto pode omitir situações,
enquanto a CA tem maior espontaneidade para contar sobre o seu dia a dia.
● Mais do que as atividades exercidas, a rua oferece risco, e quando olhado este
ponto situações de violação de direto são enfatizadas, as que mais se destacam
são que 91,7% das CASR da faixa etária de 7 a 17 estão expostos a trabalho
infantil e 73,7% sofreram pelo menos um tipo de violência;
● Nos grupos focais, os trabalhadores e pesquisadores apontaram a ausência de
um calendário formativo para qualificação dos profissionais. De acordo com os
relatos, no geral, as vagas são anunciadas e não pedem formação acadêmica,
apenas escolarização de nível médio;
● Outro ponto abordado pelos participantes dos grupos focais foi em relação à
presença de alguns gestores a frente dos serviços, sendo que nem todos partem
de um compromisso coletivo e trazem no discurso questões religiosas e morais
que impactam no resultado do trabalho na medida em que a prática passa a ser
condicionada a ações conservadoras e preconceituosas;
● Outras questões que impactam nos resultados são as condições de trabalho. De
acordo com os participantes, os salários não correspondem com as dinâmicas de
trabalho e, ainda assim, em alguns momentos são pagos com atraso;
● Os profissionais afirmaram que são cobrados por metas inalcançáveis que pouco
favorecem para um atendimento qualificado que possibilite a construção de
vínculos e que as OSCs têm mensurado o trabalho com referência apenas na
quantidade de abordagens;

136
O perfil dos riscos sociais traz algumas situações que devem ser evidenciadas
para elaboração de políticas públicas:

● Os adolescentes (19,8%) têm 3,4 vezes mais chance de estar expostos a


atividades de renda gravíssima do que as crianças (5,8%) de 7 a 11 anos;
● o sexo masculino (57,8%) na faixa etária de 7 a 17 anos brincam 1,2 vezes mais
na rua do que o sexo feminino (48,1%);
● o sexo masculino (33,4%) na faixa etária de 7 a 17 anos está 1,4 vezes mais
exposto a situações de consumir álcool e drogas na rua do que o sexo feminino
(23,3%);
● A Região 26 da pesquisa concentra no caso de CASR de 7 a 11 anos realizando
atividades de serviço na rua e, no caso dos responsáveis de 0 a 6 anos a vendendo
algum produto como bala, pano de prato etc.;
● No grupo de 7 a 17 anos, a Região 17 (94,1%) apresenta 1,5 vezes mais a venda
de produtos lícitos que a Região 3 8(63%)
● No grupo de 7 a 17 anos, a Região do Centro (16,5%) apresenta 3,1 vezes mais a
prática de roubo/furto do que a Região Oeste (5,3%);
● A Região 3 e Região 59 apresentaram maiores incidências de atividades
geradoras de renda gravíssima na faixa etária de 7 a 17 anos;

6
Região 2: Aricanduva, Artur Alvim, Cangaíba, Carrão, Cidade Lider, Cidade Tiradentes, Ermelino
Matarazzo, Guaianases, Iguatemi, Itaim Paulista, Itaquera, Jardim Helena, José Bonifácio, Lajeado,
Parque do Carmo, Penha, Ponte Rasa, São Lucas, São Mateus, São Miguel, São Rafael, Sapopemba, Vila
Curuçá, Vila Formosa, Vila Jacuí, Vila Matilde e Vila Prudente
7
Região 1: Anhanguera, Brasilândia, Cachoeirinha, Jaçanã, Jaguara, Jaguaré, Jaraguá, Mandaqui, Perus,
Pirituba, São Domingos, Tremembé, Tucuruvi, Vila Leopoldina, Vila Medeiros
8
Região 3: Butantã, Campo Belo, Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar,
Cidade Dutra, Cursino, Grajaú, Jabaquara, Jardim Ângela, Morumbi, Raposo Tavares, Sacomã, Santo
Amaro, Socorro, Vila Andrade e Vila Sônia
9
Região 5: Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República, Santa
Cecília e Sé

137
● A Região Oeste teve o maior percentual de responsáveis por crianças de 0 a 6
anos que realizam a mendicância (87,5%). Já na faixa etária de 7 a 17 anos o
maior percentual de mendicância está entre as CASR da Região do Centro
(70,9%).
● A Região Sul não se destaca em qualquer risco na faixa etária de 7 a 17 anos, mas
se destaca entre os respondentes de 0 a 6 anos no risco da realização de serviços
na rua;
● Quando observada as atividades desenvolvidas na rua, o grupo de acolhimento
se destaca com um perfil de não realizar atividade de trabalho em relação às
outras situações (pernoite e outras trajetórias de riscos) na faixa etária de 7 a 17
anos, considerando que nos SAICAs as crianças e adolescentes estão protegidos
para não realizarem atividades de trabalho infantil. Além do que, entre os
entrevistados que estavam acolhidos, 73% afirmaram que preferem estar em
acolhimento a estar na rua.

Os participantes dos grupos focais indicaram algumas possibilidades que


também podem favorecer no aperfeiçoamento das políticas públicas voltadas para as
CASR e, consequentemente, incidir positivamente para o controle dos riscos sociais:

● Uma sugestão indicada pelos participantes nos grupos focais, para todos os
serviços do SGDCA, seria uma formação obrigatória para todos os trabalhadores
que adentrarem nos serviços, além de programas de formação continuada. Visto
que, com as mudanças de legislação e, propriamente, a sociedade que está em
constante mudança e modernização, compreender o que é ser criança e
adolescentes na atualidade deve contribuir para as abordagens mais
humanizadas e a garantia dos direitos sociais;
● O treinamento e uma posição laica dos gestores pode favorecer situações de
constrangimento moral, especialmente dentro dos serviços e acolhimento;

138
● Rever o objetivo de metas que condiciona a atividade dos trabalhadores pode
ser conveniente e favorecer para uma abordagem mais afetiva e o alcance dos
resultados esperados;
● Alguns participantes sugeriram a concepção de um plano anual do conselho de
direito, pois apesar de estar na Lei o Plano não é elaborado;
● A elaboração e implementação de canais de comunicação entre os atores da
rede de garantia de direitos das crianças e adolescentes também foi
mencionado;
● A metodologia de aproximação e busca ativa é muito importante, de acordo com
relatos foi posto que houveram experiências no SEAS e no consultório na rua que
atendiam crianças e adolescentes, e em algumas situações eles não iam
uniformizados; com o tempo, as próprias crianças ficaram surpresas ao saber
que eram as mesmas pessoas do “colete verde”. Se começa a propor coisas na
rua cotidianamente no mesmo horário e território, seguindo uma metodologia
mais atrativa, não precisa sair correndo, “pois às vezes dá a impressão de que o
SEAS precisa apenas bater meta ou higienizar as ruas” (relato de trabalhador).

Por fim, nesses tempos de desmantelamento de políticas públicas e dos direitos


conquistados, coloca-se como desafio aos governos municipais a efetivação da Proteção
Integral planejada em articulação permanente com o Sistema de Garantia de Direitos da
Criança e do Adolescente (SGDCA), que por sua vez requer na operacionalização da
política pública a intersetorialidade e interinstitucionalidade. Para tanto, defende-se
uma Política Municipal de Atendimento à Criança e Adolescente em Situação de Rua,
cuja formulação de programas e políticas considerem medidas de prevenção para
impedir a continuidade de ida para as ruas de CAs, assim como garantir atendimento
àquelas CAs que já estão e têm permanecido em situação de rua.
Para que a formulação destes programas e políticas sejam bem-sucedidas, de
acordo com Rizzini (2003) é necessário que “as crianças e adolescentes tenham voz ativa
na construção de programas e políticas públicas que dizem respeito ao seu futuro” (p.

139
09). A autora salienta que grande parte dessas políticas acabam por atender mais às
demandas adultas do que propriamente às demandas infantis.
Em suma, é só a partir do olhar e da perspectiva da criança e do adolescente,
levando em consideração suas vivências, dificuldades, alegrias, desejos; que modos de
saber e fazer concretos e potentes podem ser desenvolvidos. Que essa pesquisa seja
ponto de partida para outras que virão e que sirva como base para transformar as
políticas e serviços voltados às CASR em espaços de bons encontros.

140
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