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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
SÃO PAULO
2018
1
NOTA PRÉVIA: Relatório científico de Pesquisa de Iniciação Científica
aprovada pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da PUC-SP, subsidiado pelo
PIBIC-CEPE e desenvolvido no período de agosto de 2017 a julho de 2018.
RESUMO
O Brasil é um dos países com maior nível de desigualdade social e regional
do mundo. As disparidades são marcantes entre as diferentes partes do país que,
por ter um território extenso, conta com uma enorme pluralidade regional e
econômica-social. Essa pluralidade pode ser observada a partir de diferentes
aspectos, tais como nível de urbanização, de escolaridade e renda. A pesquisa
analisou as disparidades regionais no mercado de trabalho a partir de estudos sobre
as diferenças na produtividade, distribuição de mão-de-obra e mobilidade do
trabalho. Com base nos dados da PNAD-IBGE e DIEESE foi intento compreender a
variação no nível salarial, relacionando esses fatores à desigualdade de renda,
qualificação e custo de vida entre nordeste e sudeste. Pretendeu-se mensurar o
desequilíbrio espacial junto com a evolução do mercado de trabalho. Os resultados
obtidos indicam que as disparidades encontradas não compõem uma disfunção do
sistema, mas fazem parte do modelo de desenvolvimento capitalista vigente no país
e que impacta diretamente o processo de acumulação de maneira plural e diversa
nas diversas regiões, apesar do país haver mantido crescimento similar de 2016
para 2017. Como se procura demonstrar, de acordo com o índice de Gini o sudeste
sofreu queda de renda, enquanto o nordeste manteve a enorme concentração de
renda. Também o PIB nordestino mostrou aumento das desigualdades, indicando
terem sido poucos os que se beneficiaram das melhorias e avanços tecnológicos
representados por outros indicadores.
2
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 06
2. DESENVOLVIMENTO ..................................................................................... 08
2.1. Desigualdades regionais e globalização ..................................................... 08
2.2. Crescimento demográfico e industrialização .............................................. 15
2.3. Superação do atraso...................................................................................... 21
2.4. Produto Nacional ........................................................................................... 29
2.5. Concentração de renda ................................................................................. 31
2.6. Qualificação da mão de obra e remuneração .............................................. 32
2.7. Remuneração ................................................................................................. 37
2.8. Custo de vida ................................................................................................. 41
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 45
4. BIBLIOGRAFIA................................................................................................46
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Valor Bruto da Produção – Informação e Comunicação Valor a
Preços Correntes .................................................................................................... 13
Tabela 2: Consumo Intermediário – Informação e Comunicação Valor a Preços
Correntes ................................................................................................................. 14
Tabela 3: Participação do Sudeste e Nordeste no PIB -1995-2012, em % .......... 29
Tabela 4: PIB por região a preços constantes ...................................................... 30
Tabela 5: Número de indivíduos extremamente pobres no Nordeste – 1976-
2013 .......................................................................................................................... 31
Tabela 6: Índice de Gini da distribuição do rendimento mensal das pessoas de
15 anos ou mais de idade, com rendimento – (2016/2017) .................................. 32
Tabela 7: Valor Bruto da Produção Educação e Saúde Privada – Valor a preço
corrente .................................................................................................................... 33
Tabela 8: Consumo Intermediário Educação e Saúde Privadas – Valor a preço
corrente .................................................................................................................... 34
Tabela 9: População Economicamente Ativa Sem instrução ou menos de 1 ano
.................................................................................................................................. 34
Tabela 10: População Economicamente 15 anos ou mais (2001-2010) .............. 35
Tabela 11: Taxa de Analfabetismo das pessoas com 10 anos ou mais de idade,
por Grandes Regiões – (2015) ................................................................................ 37
Tabela 12: Rendimento Médio Real Habitual (em reais) segundo posição na
ocupação.................................................................................................................. 38
Tabela 13: Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos Custo e variação
da cesta básica em 20 capitais Brasil - março de 2018........................................ 44
3
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Domicílios com Microcomputadores e Tablets segundo Grandes
Regiões (%) .......................................................................................... 11
Gráfico 2: Domicílios com utilização de Internet, segundo as grandes regiões
(%)......................................................................................................... 12
Gráfico 3: Densidade Demográfica Nordeste/Sudeste (1972-2010)- hab./km².. 18
Gráfico 4: População Total – Nordeste/ Sudeste – (1950 -2010) ......................... 18
Gráfico 5: População Urbana – Nordeste/ Sudeste –(1950-2010). ...................... 19
Gráfico 6: População Rural -Nordeste/Sudeste – (1950 -2010). .......................... 19
Gráfico 7: Sudeste População total em milhares de pessoas (2012 – 2017)..... 20
Gráfico 8: Nordeste População total em milhares de pessoas (2012 – 2017) .... 21
Gráfico 9:Consumo de Energia Elétrica Industrial 1961 – 2004 .......................... 24
Gráfico 10: Valor adicionado bruto a preços correntes da indústria (Mil Reais),
2002 – 2015 .......................................................................................... 25
Gráfico 11: Nordeste - Pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na
semana de referência no grupamento de atividade Indústria Geral
(em milhares de pessoas) .................................................................. 26
Gráfico 12:Sudeste - Pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na
semana de referência no grupamento de atividade Indústria Geral
(em milhares de pessoa) .................................................................... 27
Gráfico 13: Nordeste - Pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na
semana de referência no grupamento de atividade Agricultura,
pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (em milhares de
pessoas) ............................................................................................... 28
Gráfico 14: Sudeste - Pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na
semana de referência no grupamento de atividade Agricultura,
pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (em milhares de
pessoas) ............................................................................................... 28
Gráfico 15: Produto Interno Bruto a preços correntes (Mil Reais), 2002 - 2015 30
Gráfico 16: População Economicamente Ativa Sem instrução ou menos de 1
ano (2001-2010) ................................................................................... 35
Gráfico 17: População Economicamente ativa 15 anos ou mais (2001-2010).... 36
4
Gráfico 18: Taxa de Analfabetismo de pessoas de 5 anos ou mais (2001-2015)
.............................................................................................................. 37
Gráfico 19: Rendimento médio do trabalhador principal (pessoas de 10 anos ou
mais), março 2002 -novembro 2015 ................................................... 39
Gráfico 20: Nordeste Rendimento médio de todos os trabalhos, habitualmente
recebido por mês, pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade,
ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho
(em R$) ................................................................................................. 40
Gráfico 21: Sudeste - Rendimento médio de todos os trabalhos, habitualmente
recebido por mês, pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade,
ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho
(em R$) ................................................................................................. 40
Gráfico 22: Cesta de Consumo Total São Paulo e Recife 2000-2017 ................. 42
Gráfico 23: Preço dos Itens da Cesta de Consumo–Recife/São Paulo
(dez/2017) ............................................................................................. 43
5
1. INTRODUÇÃO
A desigualdade de renda existente entre as regiões brasileiras está presente
constantemente em discussões acadêmicas e é tema de diversas propostas de
políticas governamentais. De acordo com Luciano Coutinho (1973, p. 1), o
economista Gunnar Myrdal foi um dos primeiros autores a ressaltar a natureza auto
cumulativa das desigualdades regionais, processo dificilmente reversível face aos
mecanismos de causação circular.
A teoria de causação circular de Gunnar Myrdal encontra-se expressa em sua
obra Economia e subdesenvolvimento regional (1960) tendo como explicação os
efeitos dinâmicos que impulsionaram os polos de crescimento para frente, e efeitos
de atraso que contribuíram para o afastamento e a deterioração das áreas
atrasadas. Para Myrdal, as nações ricas seriam sempre mais desenvolvidas,
garantindo o aumento de seus lucros por meio de ganhos em escala em suas
produções e na expansão e aprimoramento industrial e tecnológico, enquanto as
pobres estavam condicionadas a produzir bens de baixo valor agregado. A forma de
superação do conflito envolvendo as áreas subdesenvolvidas seria a expansão de
suas economias, mas isso só poderia ocorrer se houvesse uma igualdade de
oportunidades junto com um aprofundamento das condições democráticas.
(OLIVEIRA, M. E. 2009). Esta teoria será contestada pela CEPAL, de acordo com o
economista David R. Fusfeld, a partir de uma análise estruturalista que questionava
o pensamento lógico-dedutivo e a-histórico predominante na época e que se
propunha a estudar os fatores internos das economias nacionais e a forma como
eles condicionavam a inserção das mesmas em escala internacional. (FUSFELD,
2003, p. 291).
Celso Furtado em Teoria e política do desenvolvimento econômico destaca
que desenvolvimento e subdesenvolvimento não estão relacionados com processo
de acumulação de capital, mas sim, são representações e consequências das
próprias estruturas sociais distintas somadas as questões históricas que diferem
entre as regiões. Para ele, o capitalismo age como difusor desigual do processo
técnico “desenvolvimento no mundo todo tende a criar desigualdades. É uma lei
universal inerente ao processo de crescimento: a lei da concentração”. (FURTADO,
10. e. 2002, p.30).
6
Anita Kon, no artigo “Padrões de distribuição das remunerações do trabalho
no Brasil”, aponta a natureza concentradora e centralizadora de capital que ocorre
nos diferentes espaços geográficos, como consequência do processo de
desenvolvimento capitalista, resultante em uma distribuição desigual de recursos
materiais e naturais, como uma das causas de atraso do país. De acordo com a
autora, esta diferença impacta diretamente na estrutura ocupacional de cada área e
cadeias produtivas, e define o perfil de força de trabalho exigido e concentrado em
cada espaço, fatores que justificariam as variações na remuneração dos
trabalhadores. (KON, 2000, p. 3).
A força de trabalho é considerada pela autora, uma variável heterogênea,
uma vez que indivíduos apresentam diferenças entre suas habilidades e as
exigências do próprio mercado de trabalho, que não é homogêneo. Ainda, segundo
Anita Kon, o capital humano é formado pela junção de capacidades mentais e físicas
dos trabalhadores com o nível de escolaridade adquirida. (Ibidem. Ibidem, p. 6). As
diferenças em habilidades e qualificações são fatores que permitem explicar as
causas de diferenças de renda entre indivíduos e o comportamento do demandante
e do ofertante de trabalho, perante as condições estruturais e conjunturais
disponíveis no mercado de trabalho especifico em cada espaço. Ou seja,
características associadas à localização, estrutura produtiva e intensidade
tecnológica da indústria regional instalada. (Ibidem, Ibidem, p. 3).
David Harvey defende em seu livro, Enigma do Capital a as Crises do
Capitalismo (2011), a tese de que é fundamental compreender o fluxo de capital
como um processo, seus caminhos e sua lógica, para entender as condições em
que vivemos. É necessário inserir este processo no contexto atual, em um mundo
conectado por redes, em que a tecnologia assume um papel fundamental e o
desenvolvimento está amplamente ligado a ela.
Milton Santos, em Território – Globalização e Fragmentação, afirma que as
disparidades regionais observadas no século XX são herança das divisões do
trabalho do passado, que evoluíram e se perpetuaram. (SANTOS, 1994, p. 15).
Alexandre de Freitas Barbosa, em seu artigo Mercado de Trabalho e Desigualdades
Regionais no Brasil, faz referência ao geógrafo Yves Lacoste (1966), afirmando que
o espaço ao ser influenciado pela história e por outros determinantes estruturais
tende a se afirmar como cenário privilegiado para o processo de amplificação das
7
desigualdades econômicas e sociais e, portanto, a geografia apresenta-se como
resultado e prolongamento da própria história de cada país. (BARBOSA, 2008, p. 6).
As disparidades econômicas não compõem uma disfunção do sistema, mas
sim fazem parte do desenvolvimento capitalista e são derivadas das diferenças na
composição orgânica de capitais, que impactam diretamente o processo de
acumulação de maneira plural e diversa nas regiões. (MANDEL, 1983, p.35-45).
Santos, por sua vez, afirma em A Urbanização Brasileira que o Brasil foi durante
muitos séculos um grande arquipélago formado por subespaços [regionais] que
evoluíram segundo lógicas próprias ditadas em grande parte por suas relações com
o mundo exterior. (SANTOS, 1993, p. 29).
Mesmo buscando no passado justificativas para o presente, é necessário
observar que a atual conjuntura contribui para perpetuar e até agravar essas
estruturas desiguais. Se antes já havia disparidades regionais e zonas periféricas,
hoje há mais e mais espaços economicamente na marginalidade e esquecidos.
Enquanto algumas poucas regiões avançam no mundo tecnológico recebendo
capital, mão de obra e infraestrutura, outras ficam impossibilitadas de se inserirem
nessa nova dinâmica de escala global e nacional de produção.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Desigualdades regionais e globalização
Para Anita Kon, o processo de globalização econômica teve fortes impactos
nas vantagens comparativas de cada país e de cada região. Segundo a autora, as
mudanças requeridas pelo novo contexto socioeconômico são extremamente
rápidas, abrangentes e profundas, exigindo alteração no perfil da força de trabalho e,
consequentemente, impactando os padrões espaciais de remuneração da mão de-
obra e a distribuição de rendimentos entre diferentes categorias de ocupações,
De acordo com a possibilidade de ajustamento da força de trabalho e
da economia de cada região aos novos requisitos da demanda por
trabalho pelas empresas e às possibilidades de auto-emprego ou
trabalho por conta própria, fora de empresas. (KON. Ibidem, p. 2).
Em Por uma geografia nova, Milton Santos define o conceito de espaço como
consequência de relações sociais do passado e do presente junto às transformações
sociais feitas pelos homens. “O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja
formação é desigual. Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta de
igual forma em todos os lugares”. (SANTOS, 1986, p.122). Para ele, a ocupação do
espaço surge da junção do desenvolvimento das forças produtivas, junto com as
relações de produção e as necessidades de circulação e distribuição. Assim sendo,
as diferentes regiões não são autônomas, mas consequência de uma série de
determinantes passadas e presentes que compõem sua estrutura. A urbanização,
por exemplo, é resultado de tais processos historicamente determinados, como
localização geográfica seletiva das forças produtivas e das instâncias sociais. As
diferenças hoje notadas no território seriam diferenças, sobretudo sociais e não mais
naturais. (Idem, Idem, p. 49). Em outro trabalho (Por uma outra globalização, 2000),
Milton Santos explora o novo contexto mundial e as implicações econômicas,
políticas e sociais desse novo contexto, sobretudo no que diz respeito ao aumento
da competitividade não só nas esferas privadas (empresas) mas também entre
governos, nações e até regiões.
9
Para Ricardo M. Ruiz e Edson Paulo Domingues (2008, p. 702), a
industrialização, desde sua origem, explora vantagens de escala da concentração
espacial. Alexandre de Freitas Barbosa faz referência a John Friedmann (1975), que
afirma serem os polos de crescimento “centros concentrados geograficamente que
sediam o processo de criação e difusão de inovações não apenas técnicas e
econômicas, mas também organizacionais, sócio-políticas e culturais”.
(FRIEDMANN. Apud BARBOSA, Ibidem, p. 7).
Uma análise histórica do desenvolvimento paulista indica que a agricultura
cafeeira capitalista a partir da década de 1880 teve papel fundamental e desde os
anos 1920 já se fortalecia como um centro polarizador da economia brasileira,
contando com uma produção alta e intensa, atraindo grandes volumes de capital que
trouxeram desenvolvimento para a região, em detrimento das demais áreas do país.
A expansão da produção cafeeira financiou o desenvolvimento de infraestrutura
(transporte, energia e setor financeiro) do estado, infraestrutura esta que foi o
principal pilar na implementação da indústria da região. (CAPUTO; MELO. 2009, p.
518).
Como demonstra Paul Singer (1968), em Desenvolvimento e Crise, essa
desigualdade se aprofundaria a partir da legislação cambial de 1937 do governo
Vargas, privilegiando importações de máquinas e equipamentos para o eixo Rio-São
Paulo, com câmbio subsidiado, em relação às demais regiões do país. Desta forma,
a expansão urbano-industrial se daria focada em alguns locais, aprofundando as
disparidades regionais e criando vazios demográficos que afetavam diretamente a
distribuição de riqueza e renda no território. Por outro lado, de acordo com Milton
Santos, a mecanização do território pelo avanço do meio técnico-cientifico tende a
se sobrepor de modo desigual em todos os lugares. (SANTOS, Idem, 1994, p.38).
O Nordeste brasileiro, segundo Jan Bitoun, tem em suas raízes sociais e
políticas a concentração de poderes na mão de poucos. A consequência, é que os
interesses particulares deste pequeno grupo se sobressaiam com relação aos
interesses coletivos e fazendo com que:
Amplos setores da população não consigam participar da elaboração
de estratégias coletivas de desenvolvimento [...] o paradigma da
competição leva à adoção de políticas que, em vez de tratar do
território na sua diversidade, tendem a ampliar as desigualdades
entre lugares [...]. Em suma, a tendência seria de fortalecer quem já
é forte e relegar ao abandono, temperado por algumas
10
compensações de ordem social, quem ainda é fraco. (BITOUN,
2002).
11
Gráfico 1: Domicílios com Microcomputadores e Tablets, segundo Grandes Regiões
(%)
Microcomputador Tablet
54,2
45,3
29,9
18,2
15,1
9,3
76,7
69,3
56,3
12
telecomunicações e a informática, denominadas como Tecnologia da Informação e
Comunicação - TIC. (IBGE, 2014).
A tecnologia assume importância crescente como agente central capaz de
criar redes de conexão econômicas, sociais e políticas em escala regional, nacional
e global. No entanto, a disseminação dessas modernizações não ocorre de maneira
homogênea e generalizada. Nesse contexto, aquelas regiões que possuem menor
acesso a estas mudanças acabam tendo desvantagens competitivas por estarem
menos “conectados” com o restante do país.
Isso pode ser observado através da publicação dos relatórios das contas
regionais do IBGE - 2010-2014, em que o valor bruto de produção e o consumo
intermediário de informação e comunicação são muito superiores na região sudeste.
Os dados são confirmados pelo levantamento das contas nacionais, como pode ser
observado na tabela 1 abaixo.
Sudeste Nordeste
2010 185.433 19.195
2011 204.844 21.277
2012 221.975 23.249
2013 239.169 25.342
2014 242.467 29.235
Sudeste Nordeste
2010 92.825 9.954
2011 103.973 11.166
2012 111.317 12.902
2013 123.562 13.704
2014 123.541 15.981
Fonte: IBGE, Contas Nacionais, Ibidem.
14
de desenvolvimento: focos de inovação, com um mercado consumidor amplo,
mercado de trabalho dinâmico e produtividade elevada, aproveitando-se de maneira
eficaz dos recursos produtivos disponíveis através de alterações estruturais.
15
produção fabril se concentra em áreas específicas do território nacional, para obter,
entre outras coisas, ganhos de escala. A consolidação do complexo agroexportador,
no estado de São Paulo, foi feita de maneira aglomerada, principalmente no próprio
municio de São Paulo que concentrava a maior parte do nosso parque industrial.
Essa aglomeração acabou influenciando, nas décadas posteriores, o próprio
crescimento e distribuição do mercado interno nacional e uma redefinição, em
escala nacional, de que regiões ficariam com quais atividades produtivas.
(CARVALHO et al., 2007, p. 378).
De acordo com Milton Santos, a região Sudeste, área mais dinâmica do país,
concentrava a produção, circulação e consumo de bens, serviços, capitais e
mercadorias, principalmente em seus limites e em sua periferia, enquanto produção
e circularidade no restante do território eram pouco fluidas. Esta onda, porém,
acabou agravando o “esquecimento” das regiões norte e nordeste, esvaziadas em
termos populacionais, econômicos e financeiros. (SANTOS, 1990, Idem, p. 47). Para
Francisco Baqueiro Vidal, o país apresenta disparidades nos ritmos de crescimento
regionais, causando grandes desníveis de renda e bem-estar, acentuados ainda
mais no Nordeste, por suas características estruturais de maior concentração de
renda e menor massa de empregos gerados na economia. (VIDAL. Ibidem, p. 140).
Milton Santos (1986) define São Paulo como o lugar com mais força e
capacidade de atrair pessoas. A grande metrópole torna-se o lugar de todos os
capitais e de todos os trabalhos afirma. (Idem. Idem, p. 10). A criação e o aumento
das indústrias ampliam a procura de emprego nas cidades, onde a natalidade é
pequena e a mortalidade mais elevada que na zona rural. O êxodo das zonas rurais
é grande responsável pela renovação e expansão das populações urbanas.
Lúcia Gaspar em O Nordeste do Brasil, da Fundação Joaquim Nabuco (2013),
defende que os fatores e aspectos políticos, econômicos e sociais que envolvem as
condições de vida precárias de grande parte da população nordestina são muito
mais importantes para justificar seu movimento migratório do que questões
climáticas atreladas à seca. Ou seja, os nordestinos migram em busca melhores
condições de vida e empregos mais bem remunerados.
Também Camarano & Beltrão em Distribuição espacial da população
brasileira: mudanças na segunda metade deste século apontam que, em 1996, 78%
da população brasileira estava concentrada em áreas urbanas e 17% vivia na cidade
16
de São Paulo ou na cidade do Rio de Janeiro. “A região Nordeste vem mantendo,
desde os anos 50, o seu papel tradicional de provedor de população para a região
Sudeste”. (CAMARANO; BELTRÃO, Ibidem, p. 3).
Mesmo com taxas de crescimento vegetativo acima da média nacional, a
região nordeste possui uma baixa densidade demográfica. Sua participação relativa
caiu de 35% para 28,5% entre 1940 e 1996. Queda essa justificada pela
movimentação de sua população para outras regiões brasileiras, principalmente para
núcleos urbanos e produtivos centrais como São Paulo. (Ibidem, Ibidem, p. 9).
A densidade demográfica é um dos métodos mais utilizados para analisar a
concentração populacional. Ela indica quanto uma determinada região é povoada e
é calculada pela divisão do número de habitantes por quilômetro quadrado de uma
determinada área. Segundo dados do Censo Demográfico do IBGE (série 1950-
2010) esta disparidade em relação à concentração da população na região sudeste
continuou a crescer nas décadas seguintes, em proporções cada vez maiores.
Destaque para São Paulo que em 2010 teve registrado uma densidade demográfica
de 166,25 hab/km², indicando que a proporção entre habitantes e quilômetros
quadrados era superior a 1, enquanto no Piauí este mesmo índice teve como
resultado 12,40 hab/km².
Além da densidade demográfica, a população em números absolutos é
historicamente maior no sudeste e a diferença entre as regiões aumentou nos
últimos anos conforme aponta o gráfico abaixo. Em 1950 a população total do
nordeste era de 17 milhões de pessoas enquanto no sudeste esse número era igual
a 22,5 milhões. Já em 2010, a população nordestina era de 53 milhões e o sudeste
avançou para 80,3 milhões de habitantes.
O censo demográfico de 2010 (gráficos 3 a 6) mostra que a população do
sudeste é maior em números absolutos e possui uma densidade demográfica
historicamente superior, mas outro ponto relevante é a forma como esta população
se distribui no território. A maior parcela da população do sudeste está concentrada
nas áreas urbanas, enquanto na região nordeste o número de habitantes em zonas
rurais se destaca por ser superior em números absolutos. Esses valores contribuem
para a argumentação de que se desenvolveram duas regiões com características
distintas em solo brasileiro, onde o sudeste se desenvolveu como polo industrial
atrativo de força de trabalho industriais e ondas migratórias graças a investimentos
17
em infraestrutura e urbanização que criaram um mercado produtor e consumidor,
enquanto o sudeste herdou uma estrutura social e econômica atrasada, focada no
latifúndio e na terra.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Densidade Demográfica
2,99 3,86 4,34 7,24 9,29 11,57 14,43 18,45 22,79 27,33 30,69 34,15
Nordeste
Densidade Demográfica
4,34 6,6 8,46 14,77 19,84 24,39 33,6 43,62 56,87 67,77 78,2 86,92
Sudeste
Nordeste
Sudeste
18
Gráfico 5: População Urbana – Nordeste/ Sudeste –(1950-2010)
Nordeste
Sudeste
Nordeste
Sudeste
19
menor, porém entre 1960 e 1990 o nordeste teve um crescimento da população rural
enquanto o sudeste teve uma queda marcante.
Os gráficos 7 e 8 foram extraídos da PNAD Contínua 2017 (IBGE, 2017) e
mostram que a diferença marcante entre as populações das regiões se manteve nos
últimos anos. Essas diferenças na população total impactam diretamente o mercado
de trabalho e a disponibilidade de mão de obra. A taxa de crescimento de ambas
nesse intervalo de tempo foi muito próxima, 4% para o sudeste e 3,7% para o
nordeste o que mostra que a diferença entre a população total do sudeste e do
nordeste não está diminuindo significativamente ao longo dos últimos anos.
87.163
87.021
86.876
86.731
86.584
88.000
86.436
86.286
86.135
85.982
85.829
85.673
85.517
87.000
85.359
85.199
85.039
84.877
84.713
84.548
86.000
84.382
84.215
84.046
83.875
83.704
83.531
85.000
84.000
83.000
82.000
81.000
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
20
Gráfico 8: Nordeste - População total em milhares de pessoas (2012–2017)
57.235
57.153
57.070
56.985
56.900
56.814
56.727
56.638
57.500
56.549
56.458
56.367
56.274
56.180
56.085
57.000
55.990
55.893
55.794
55.695
55.595
56.500
55.493
55.391
55.287
55.182
55.076
56.000
55.500
55.000
54.500
54.000
53.500
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD), 2017.
23
dependência financeira ou tecnológica com relação à países mais desenvolvidos
(RIBEIRO, 2010, p. 24). Disso advém o conceito de desigualdade furtadiana, uma
vez que “aumentos de produtividade e assimilação de novas técnicas não conduzem
à homogeneização social, ainda que causem a elevação no nível de vida médio da
população.” (FURTADO, 1992, Idem, p. 39-40).
O gráfico 9, abaixo, mostra o consumo de energia elétrica industrial em Mwh
entre 1961 e 2004 no nordeste e no sudeste. A diferença entre as duas regiões é
bem significativa e pode ser capaz de ilustrar as disparidades recentes na
industrialização das duas áreas.
90.000.000,0
80.000.000,0
70.000.000,0
60.000.000,0
50.000.000,0
Região Nordeste
40.000.000,0
Região Sudeste
30.000.000,0
20.000.000,0
10.000.000,0
0,0
1967
1988
1961
1964
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1991
1994
1998
2001
2004
24
publicados pelo IBGE/SUFRAMA (2015). Enquanto o sudeste teve um crescimento
acelerado desse valor nos últimos anos, os números do nordeste, porém com taxas
expressivamente menores o que contribuiu para um aumento na distância no valor
adicionando bruto industrial das regiões. O comportamento e a evolução distinta
dessas curvas mostram diferenças em suas produções e em sua escala produtiva.
Além disso, percebe-se que enquanto o sudeste cresce cada vez mais e gera mais
valor na indústria, o nordeste fica para trás. Isso impacta diretamente a forma com
que as regiões se inserem no mercado nacional e internacional e sua capacidade
competitiva, como se depreende do gráfico 10.
Gráfico 10: Valor adicionado bruto a preços correntes da indústria (Mil Reais).
2002 – 2014
800.000.000,00
700.000.000,00
600.000.000,00
500.000.000,00
400.000.000,00 Nordeste
300.000.000,00 Sudeste
200.000.000,00
100.000.000,00
0,00
2012
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2013
2014
2015
Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo
e Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, 2015.
2.313
2.267
2.260
2.249
2.237
2.213
2.204
2.187
2.184
2.166
2.163
2.151
2.132
2.124
2.122
2.102
2.500
2.005
2.003
1.987
1.980
1.951
1.941
1.933
1.899
2.000
1.500
1.000
500
0
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
jul-ago-set
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
26
Gráfico 12: Sudeste - Pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de
referência no grupamento de atividade Indústria Geral (em milhares de pessoa)
6.676
6.654
6.591
6.528
6.475
6.454
6.453
6.444
6.415
6.399
6.361
6.350
6.346
8.000
6.317
6.309
6.001
5.817
5.675
5.647
5.638
5.624
5.603
5.484
5.411
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
jan-fev-mar
jan-fev-mar
jul-ago-set
jan-fev-mar
jul-ago-set
jan-fev-mar
jul-ago-set
jan-fev-mar
jul-ago-set
jan-fev-mar
jul-ago-set
jul-ago-set
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
abr-mai-jun
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
out-nov-dez
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio Contínua (PNAD), 2017.
27
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
0
500
0
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
jan-fev-mar 2.431
abr-mai-jun 2.639 jan-fev-mar 4.257
2012
jul-ago-set 2.626 abr-mai-jun 4.122
2012
out-nov-dez 2.491 jul-ago-set 4.054
jan-fev-mar 2.452 out-nov-dez 3.916
abr-mai-jun 2.664 jan-fev-mar 3.758
2013
jul-ago-set 2.638 abr-mai-jun 3.906
2013
out-nov-dez 2.470 jul-ago-set 3.909
jan-fev-mar 2.200 out-nov-dez 4.140
abr-mai-jun 2.343 jan-fev-mar 3.881
2014
jul-ago-set 2.216 abr-mai-jun 3.934
2014
out-nov-dez 2.158 jul-ago-set 3.850
jan-fev-mar 2.141 out-nov-dez 3.753
abr-mai-jun 2.297 jan-fev-mar 3.843
2015
jul-ago-set 2.240 abr-mai-jun 3.763
2015
out-nov-dez 2.177 jul-ago-set 3.677
jan-fev-mar 2.136 out-nov-dez 3.509
abr-mai-jun 2.270 jan-fev-mar 3.558
2016
jul-ago-set 2.182 abr-mai-jun 3.479
2016
2017
jul-ago-set 2.218 abr-mai-jun 2.924
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio Contínua (PNAD), 2017.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio Contínua (PNAD), 2017.
2017
2.819
referência no grupamento de atividade Agricultura, pecuária, produção florestal,
28
2.4. Produto Nacional
Segundo o artigo publicado pela Fundação Joaquim Nabuco Traços gerais do
desenvolvimento recente do Nordeste, de João Policarpo R. Lima (2018), o Nordeste
sempre apresentou uma baixa participação no PIB nacional. Em 1998, a região
concentrava 30% da população e, mesmo assim, era responsável por menos de
15% do produto interno do país, tendo também uma má distribuição de renda com
índice Gini pior do que a média brasileira.
No entanto, a economia nordestina apresentou nas últimas décadas
crescimento, de forma lenta e gradual, que possibilitou melhoras nas condições
sociais da sua população.
Sérgio Ricardo Ribeiro Lima e Ricardo Candéa Sá Barreto em seu artigo O
comportamento socioeconômico da região nordeste: do meio século XX ao século
XXI, constataram que o processo de industrialização e urbanização passou por
grande ampliação no Nordeste nas últimas décadas. Como consequência, a região
passou a representar parcelas maiores no PIB (Valor Bruto Agregado) e no VAB
(Valor Agregado Bruto) do país. (LIMA; BARRETO, 2015, p. 278).
A tabela 3 permite ilustrar a constatação dos autores.
29
Gráfico 15: Produto Interno Bruto a preços correntes (Mil Reais), 2002 – 2015
3.500.000.000,00
3.000.000.000,00
2.500.000.000,00
2.000.000.000,00
1.500.000.000,00
1.000.000.000,00
500.000.000,00
0,00
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Nordeste Sudeste
Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo
e Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA 2015
30
Ricardo Ribeiro Lima e Ricardo Candéa Sá Barreto (2015) este resultado foi devido
à ampliação do Programa Bolsa Família, conforme dados do IPEA (2015),
observáveis na tabela 5.
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2017, consolidado de primeiras
entrevistas.
Sudeste Nordeste
2010 103.396 21.035
2011 113.683 23.540
2012 132.526 28.495
2013 151.138 34.004
2014 181.947 40.237
Fonte: IBGE, Contas regionais (2010-2014)
Sudeste Nordeste
2010 43.812 9.325
2011 46.036 9.950
2012 50.159 11.241
2013 55.144 12.489
2014 65.877 15.414
Fonte: IBGE, Contas regionais (2010-2014)
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Nordeste 13,4 12,7 12,2 11,8 11,4 10,4 9,5 9,6 8,7 9,52
Sudeste 3,6 3,4 3,1 3,0 2,9 2,7 2,7 2,8 2,7 3,2
Fonte: IBGE, 2010b.
34
Gráfico 16: População Economicamente Ativa Sem instrução ou menos de 1 ano
(2001-2010)
16
14
12
10
8 Nordeste
Sudeste
6
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Nordeste 2,1 2,2 2,3 2,5 2,5 2,8 2,9 3,3 3,6 4,0
Sudeste 5,3 5,6 5,8 5,9 6,2 6,7 6,9 7,1 7,8 8,4
35
Gráfico 17: População Economicamente ativa 15 anos ou mais (2001-2010)
9
8
7
6
5
Nordeste
4
Sudeste
3
2
1
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011
36
Gráfico 18: Taxa de Analfabetismo de pessoas de 5 anos ou mais (2001-2015)
30
25
20
15
10
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
Sudeste 9,53 9,33 8,78 8,62 8,49 7,82 7,28 7,19 7 5,96 6 5,87 5,76 5,4
Nordeste 25,92 24,99 24,65 24,23 23,47 22,08 21,24 20,31 19,52 17,38 17,93 17,42 17,12 16,52
Tabela 11: Taxa de Analfabetismo das pessoas com 10 anos ou mais de idade, por
Grandes Regiões – (2015)
2.7. Remuneração
Segundo dados extraídos da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio
(PNAD) de 2016 (IBGE, 2016), o 1% dos trabalhadores brasileiros com os maiores
37
rendimentos recebem em média R$ 27.085,00 (vinte e sete mil e oitenta e cinco
reais), 36,3 vezes mais do que recebe a metade com os menores rendimentos (R$
747,00), seja, setecentos e quarenta e sete reais (2015).
Considerando-se a escolaridade da população ocupada, os trabalhadores
com ensino superior completo obtiveram rendimento médio mensal de R$ 5.189,00,
de acordo com levantamento feito pela PNAD Contínua 2016 (IBGE, 2016), cerca de
três vezes mais do que aqueles com somente o ensino médio completo (R$
1.716,00), e cerca de seis vezes acima daqueles sem instrução (R$ 884,00). Assim
também, o rendimento médio dos trabalhadores sem instrução (R$ 884,00) era
36,67% menor do que o daqueles com ensino fundamental completo (R$ 1.395,00).
Mesmo com a melhoria nos índices sociais, o site Love Mondays, plataforma
online onde usuários cadastram seus salários, elaborou uma pesquisa, entre maio
de 2015 e abril de 2017, com mais de 90.000 profissionais, para analisar as
variações nas remunerações entre as diferentes regiões do Brasil. Esta pesquisa
apontou que a região sudeste é a que possui maior média salarial, em 7 das 10
categorias pesquisadas. De acordo com Milton Santos, também,
A capacidade de demanda de uma população e de oferta de uma
cidade depende não apenas das virtualidades da cidade, isto é, de
sua capacidade potencial em termos da criação de bens e serviços,
mas, igualmente, do poder de compra da população de sua
propensão a adquirir. (SANTOS. 1980, Idem, p. 26).
Tabela 12: Rendimento Médio Real Habitual (em reais) segundo posição na ocupação
(out-nov-dez/2017)
Nordeste Sudeste
Pessoas Ocupadas (todos os trabalhos) 1485 2462
Empregado no setor privado com carteira assinada 1547 2333
Empregado no setor privado sem carteira assinada 749 1480
Trabalhador Doméstico 566 970
Empregado no Setor Público 2654 3519
Fonte: IBGE, 2017.
38
Segundo dados levantados pela PNAD Contínua 2016 (IBGE, Ibidem), a
massa de rendimento efetivo mensal de todos os trabalhos das pessoas ocupadas
foi em 2016 de R$ 191 bilhões de reais, com um rendimento médio de R$ 2.149,00
para o país. O sudeste concentrou 53,0% da massa total, com rendimento médio de
R$ 2.536,00. Já a concentração do nordeste (15,6%) teve média salarial equivalente
a R$ 1.427,00 apenas. A massa de rendimento real habitual em milhões de reais no
último trimestre de 2017, segundo a PNAD Contínua (IBGE, 2016) foi de R$
99.495,00 para a região sudeste e de R$ 30.948,00 para o nordeste.
O gráfico 19, abaixo, indica a diferença na remuneração média paga em
Recife e em São Paulo, evidenciando que as disparidades nos salários entre as
regiões ocorrem. Em fevereiro de 2016, o rendimento médio de um trabalhador em
São Paulo era de R$ 2.393,74, enquanto que em Recife este valor era R$ 1.726,00,
segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE, 2016).
3.000,00
2.500,00
2.000,00
1.500,00
São Paulo
1.000,00 Recife
500,00
0,00
set/07
jul/09
fev/03
ago/08
mar/13
jun/10
mar/02
nov/05
fev/14
out/06
mai/11
jan/04
jan/15
dez/04
abr/12
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
1.000
1.200
1.400
1.600
0
0
jan-fev-mar 1.622 2.297 jan-fev-mar 968 1.388
abr-mai-jun 1.648 2.310 abr-mai-jun 995 1.405
2012
2012
jul-ago-set 1.672 2.325 jul-ago-set 999 1.397
out-nov-dez 1.694 2.319 out-nov-dez 1.014 1.389
jan-fev-mar 1.761 2.358 jan-fev-mar 1.064 1.420
abr-mai-jun 1.819 2.402 abr-mai-jun 1.105 1.452
2013
2013
jul-ago-set 1.837 2.412 jul-ago-set 1.122 1.471
out-nov-dez 1.846 2.389 out-nov-dez 1.129 1.463
jan-fev-mar 1.953 2.466 jan-fev-mar 1.188 1.507
abr-mai-jun 1.939 2.406 abr-mai-jun 1.195 1.482
2014
2014
jul-ago-set 1.967 2.424 jul-ago-set 1.188 1.466
out-nov-dez 2.011 2.442 out-nov-dez 1.221 1.485
jan-fev-mar 2.116 2.485 jan-fev-mar 1.251 1.478
2015
2015
jul-ago-set 2.189 2.465 jul-ago-set 1.284 1.452
out-nov-dez 2.212 2.433 out-nov-dez 1.274 1.411
jan-fev-mar 2.299 2.455 jan-fev-mar 1.323 1.411
abr-mai-jun 2.279 2.391 abr-mai-jun 1.334 1.399
2016
2016
2017
2017
Real
Nominal
Nominal
Gráfico 20: Nordeste Rendimento médio de todos os trabalhos, habitualmente
40
Real
Pesquisa sobre “Custo de vida, amenidades e salários nas regiões
metropolitanas brasileiras”, publicada por Maria Cristina Galvão et al., na Revista
Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos (RBERU), IPEA 2016, faz uma análise
da evolução da renda domiciliar per capita das regiões brasileiras no período de
1985 a 2014. Segundo o artigo, as regiões sul e sudeste mantiveram certa
estabilidade ao longo dos anos, enquanto as regiões norte e nordeste, mesmo
apresentando crescimento positivo da renda domiciliar per capita, ao final do período
ainda tinham um nível de renda bastante abaixo das demais regiões, além de
diferenças do nível de custo de vida bastante significativas. (GALVÃO et al., 2016, p.
200).
41
entre as cidades. O gráfico 22, abaixo, permite observar que ambas as curvas
seguem as mesmas oscilações de aumentos e quedas de preço em proporções
parecidas, porém a distância entre as duas permanece quase inalterada ao longo
dos anos.
Gráfico 22: Cesta de Consumo Total São Paulo e Recife 2000-2017
500,00
450,00
400,00
350,00
300,00
250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
09-2004
12-2015 (1)
01-2000
09-2000
05-2001
01-2002
09-2002
05-2003
01-2004
05-2005
01-2006
09-2006
05-2007
01-2008
09-2008
05-2009
01-2010
09-2010
05-2011
01-2012
09-2012
05-2013
01-2014
09-2014
05-2015
08-2016
04-2017
12-2017
Total da Cesta Sâo Paulo Total da Cesta Recife
O gráfico mostra que em dezembro de 2017, para quase todos os itens que
compõem a cesta, os preços de São Paulo são maiores do que os de Recife, com
exceção da farinha. A cesta total custava R$ 332,15 no Recife, 21,7% menos do que
em São Paulo, onde foi calculado que ela custaria R$ 424,36 no mesmo mês
(Gráfico 23).
42
Gráfico 23: Preço dos Itens da Cesta de Consumo – Recife/São Paulo
(dez/2017)
Recife
São Paulo
43
De acordo com o Dieese, embora dotado por lei estadual, de salário mínimo
maior do que aquele pago no Brasil, em março de 2018, um trabalhador de São
Paulo, cuja remuneração equivale ao salário mínimo, necessitou cumprir jornada de
trabalho de 100 horas e 58 minutos, 7 minutos a mais do que em fevereiro, quando o
tempo era de 100 horas e 51 minutos, em março de 2017, a jornada era de 102
horas e 13 minutos e o custo desta cesta comprometeu 49,86% de seu salário
líquido. Já um trabalhador de Recife gastou 78h58m de trabalho remunerado, de
acordo como salário mínimo nacional, para comprar sua cesta, que consumiu
39,02% de seu rendimento. Ainda, de acordo com a pesquisa, da qual se extraiu a
tabela 13, abaixo, a cesta de consumo de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Vitória e
de Porto Alegre, principais cidades do sudeste, tiveram variações positivas, ou seja,
aumentaram com relação aos meses anteriores. Paralelamente, São Luís, João
Pessoa, Natal, Recife, Aracaju e Salvador tiveram redução no preço dos itens da
cesta, aumentando ainda mais as diferenças entre os custos de vida das regiões.
Tabela 13: Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos Custo e variação da cesta
básica em 20 capitais Brasil - março de 2018
44
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como afirma Celso Furtado, “A disparidade de níveis de renda existente entre
o Nordeste e o Centro-Sul do País constitui, sem lugar a dúvida, o mais grave
problema a enfrentar na etapa presente do desenvolvimento econômico nacional.”
(FURTADO, Idem, 1981, p. 13).
As disparidades hoje observadas no território brasileiro são, em grande parte,
explicadas por seu passado histórico, responsável por desenvolvimentos desiguais
entre as regiões que impactaram diretamente a formação de estruturas políticas,
econômicas e sociais distintas. O sudeste foi privilegiado e se tornou o grande polo
industrial do país, concentrando e atraindo investimentos, mão de obra, tecnologia e
produção. Os avanços produtivos somados pela vinda de trabalhadores
especializados e/ou mais capacitados para a região, e pelo alto investimento em
educação, que tinha como retorno uma população com maior nível de escolaridade,
acabaram fazendo com que a remuneração salarial no sudeste superasse a
remuneração do restante do país. O aumento na remuneração média dos
trabalhadores do sudeste garantiria uma melhor qualidade de vida para a população
trabalhadora, o que acabou atraindo cada vez mais pessoas, migrantes, para a
região, fator que explica sua alta densidade populacional.
Foi observado que existe uma diferença no custo de vida das regiões
brasileiras que poderia justificar a variação na remuneração média entre elas. No
entanto, analisando dados referentes a dezembro de 2017, o salário médio
nordestino era de R$ 1.485,00, e a cesta básica para o Recife era calculada em R$
332,00. Com isso, sobraria em média para as famílias R$ 1.153,00 para os demais
gastos mensais. No mesmo mês referência, uma família do sudeste ganhava, em
média, R$ 2.462,00, 39% a mais do que uma família do nordeste, e gastava, em
média, R$ 424,00 com a cesta básica, sobrando assim R$ 2.038,00. Ou seja, esta
família, mesmo tendo um maior custo com alimentação, ainda teria R$ 885,00 a
mais para gastar.
As variações nos rendimentos médio dos trabalhadores entre as regiões do
Brasil são causadas, principalmente, por questões sociais e disparidades históricas,
que perpetuam as disparidades econômicas existentes. Há variações no custo de
vida, porém, conforme visto, elas impactam em um grau muito menor do que as
demais variáveis.
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