Você está na página 1de 13

O esquecimento de um livro

Tentativa de reconstituição de uma


tradição intelectual no campo educacional

Zaia Brandão
Ana Waleska P.C. Mendonça
Vera Maria Henriques
Libânia Nassif Xavier
Carlos Otávio Fiúza Moreira
Maria Paula S.C. dos Santos
Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Sobre o livro Educação e desenvolvimento no Brasil pare-


ce ter passado desapercebido por várias gerações de
educadores desde que foi publicado. Com uma úni-
O livro de João Roberto Moreira, Educação e
ca edição de mil exemplares, quase não é lembra-
desenvolvimento no Brasil, escrito na década de 50,
do pela literatura especializada. O grupo de pesqui-
sempre me provocou uma sensação de diferença em
sa localizou apenas duas referências ao Educação
relação ao modo de analisar a educação no Brasil,
e desenvolvimento no Brasil, ambas de Luiz Anto-
comumente encontrado na literatura especializada até
nio Cunha (1971 e 1980). Em que pese a ampla
a década de 60. [...] A necessidade de entender o que
produção do autor, o conjunto da obra de João Ro-
produz esse sentimento de diferença, de ineditismo,
berto Moreira é praticamente desconhecido entre
ruptura e peculiaridade, a respeito do Educação e de-
os educadores formados a partir da década de 50.
senvolvimento no Brasil, motivou-me a tomar este
Esse livro, entretanto, para além da obra do
texto como objeto de estudo, no objetivo de compreen-
educador, expressou um projeto coletivo e uma tra-
der um campo (o da Sociologia da Educação), um seg-
dição de pesquisa no campo da educação que, apa-
mento da intelectualidade (os educadores), um autor
rentemente, perdeu-se.1 Arriscaríamos mesmo supor
(J.R. Moreira) e um tempo (as décadas de 50/60)
(Brandão, 1993).
1 Luiz Antonio Cunha, em trabalho apresentado no
Este artigo apresenta uma síntese dos resulta-
dos da pesquisa Do texto à história de uma disci- XV Encontro Anual da ANPOCS, indica claramente a im-
portância dessa “tradição” quando, ao comentar que já se
plina: a sociologia da educação que se pode ler no
teria feito “mais sociologia da educação do que hoje”,
Educação e desenvolvimento no Brasil de J.R. Mo- faz uma referência explícita ao trabalho desenvolvido pelo
reira, desenvolvida no Departamento de Educação Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE): “De
da PUC do Rio de Janeiro de 1993 a 1995. fato, nada temos que se compare à inspiração de um Aní-

18 Set/Out/Nov/Dez 1996 N º 3
O esquecimento de um livro

que, no núcleo dessa tradição, estaria um processo Ao longo do texto, o autor fundamenta sua
de construção da identidade epistemológica da edu- análise no estudo da formação histórico-cultural da
cação e dos educadores, interrompido quer pelo fe- sociedade brasileira, com base na produção socio-
chamento do Centro Brasileiro de Pesquisas Educa- lógica, historiográfica e antropológica mais signi-
cionais (CBPE), quer pela institucionalização e ex- ficativa da época. Autores fundadores desses cam-
pansão acelerada da pós-graduação em educação.2 pos disciplinares emprestam força teórica ao enten-
dimento do contexto social, político, econômico e
A sociologia da educação cultural da educação no Brasil, desde os tempos
que se pode ler no Educação coloniais. Por outro lado, estudos sobre questões
e desenvolvimento no Brasil relativas a estratificação e mobilidade social, famí-
lia e urbanização, educação e escolarização, entre
Educação e desenvolvimento no Brasil pode, outros, vão fornecendo a base empírica sobre a qual
a nosso ver, ser considerado um marco no proces- o autor irá articular as relações entre a formação
so de constituição da disciplina sociologia da edu- histórico-cultural e a evolução educacional do país.
cação. Esse livro de J. R. Moreira situa-se no hori- Dessa forma, o núcleo da obra vai sendo formado
zonte de um projeto que buscava a abertura do cam- a partir de certas opções teóricas ancoradas em da-
po educacional para as ciências sociais, evidencian- dos estatísticos e demográficos e em estudos econô-
do a intenção do autor de trazer para aquele cam- micos, mas tendo sempre como ponto de chegada
po as discussões desenvolvidas em áreas disciplina- a interpretação de questões ligadas ao ensino, à es-
res como a sociologia, a história, a economia e a an- cola e à educação em seu sentido mais amplo.
tropologia: “Anísio tentou montar uma grande má- Educação e desenvolvimento no Brasil está
quina de ciências sociais, de intelectuais tratando da inscrito em um programa de pesquisa e divulgação
problemática da educação, [...] nunca houve pro- bastante abrangente, aprovado em 1958 pelo Co-
grama tão amplo na área de ciências sociais, [...] o mitê Diretor do Centro Latino-Americano de Pes-
que as pesquisas pretendiam era ver o que a antro- quisas em Ciências Sociais, que incluía estudos so-
pologia, o que a sociologia podiam dizer ao edu- bre o desenvolvimento econômico e social em paí-
cador” (Darcy Ribeiro, em entrevista a Maria Cla- ses da América Latina. Nas palavras do autor, o
ra Mariani, em 5/9/1978). livro pretendia oferecer “uma contribuição indis-
Observando-se a estrutura do livro, pode-se pensável ao conhecimento científico das inter-rela-
perceber que cada capítulo (ou grupos destes) cons- ções entre educação e sociedade no Brasil” (Morei-
titui uma demonstração do caráter interdisciplinar ra, 1960, Prefácio). Dessa perspectiva, o livro en-
da análise educacional, na medida em que o autor contra-se marcado pela positividade que o desen-
faz uso de diferentes áreas de saber das ciências so- volvimentismo característico das décadas de 50/60
ciais para interpretar as questões emergentes do desencadeou, enquadrando-se dentro do idioma ge-
campo educacional. ral de uma época (Darnton, 1992) expresso na te-
mática educação/planejamento/desenvolvimento.
Nessa direção, o simples título do livro já é um in-
dicativo da centralidade dessas questões na obra.
sio Teixeira no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
A estrutura do livro é bastante desigual. No
— INEP —, que, através do Centro Brasileiro e dos Cen-
tros Regionais de Pesquisas Educacionais, criou condições que diz respeito à maneira pela qual se encontra
para uma importante produção sociológia sobre a educa- organizado, percebe-se que os quatro primeiros ca-
ção” (Cunha, 1991). pítulos possuem uma certa unidade. Partindo da
2 Ver uma hipótese inicial sobre essa questão no tex- análise das condições fisiográficas e demográficas
to “Teoria como hipótese” (Brandão, 1992a). do país, Moreira apresenta uma visão geral do de-

Revista Brasileira de Educação 19


Z. Brandão, A.W.P.C. Mendonça, V.M. Henriques, L.N. Xavier, C.O.F. Moreira, M.P.S.C. dos Santos

senrolar da história da educação no Brasil, desde o reram no Brasil. Ao esboçar o perfil racial-étnico do
período colonial até a fase republicana, momento país, o texto vai indicando também alguns reflexos
no qual se inicia, segundo o autor, a preparação desse perfil no funcionamento da escola brasileira.
para o desenvolvimento sócio-econômico e cultu- Ao tematizar as imigrações européia e asiáti-
ral do país. Nos Capítulos V e VI, o autor desen- ca a partir do século XIX, o texto aponta para a
volve a análise sociológica de questões relacionadas possibilidade de esses imigrantes terem contribuí-
à mobilidade e estratificação sociais e à família e do para o surto de desenvolvimento econômico que
religião no Brasil (questões caras à tradição da es- ora ocorria no país, como se eles possuíssem uma
cola de Chicago). No Capítulo VII, retoma-se o fio consciência tecnológica, algo importante em um
da história, a partir de 1945 (o pós-guerra), e abor- período em que planejamento e desenvolvimento
da-se diretamente a questão central do livro, ou seja, eram temas centrais, além de metas de governo.
a relação entre educação e desenvolvimento econô- De uma forma geral, ao descrever o Brasil co-
mico, título, aliás, desse capítulo. Importa ressaltar mo uma vasta extensão territorial com grandes va-
que é nesse núcleo da obra Educação e desenvolvi- riações fisiográficas, Moreira nos traz, como impli-
mento no Brasil que se dá, de forma mais intensa, cação de tal característica, a dificuldade de uma
a interlocução com as referências teóricas centrais administração centralizada.
selecionadas pelo autor. O Capítulo II, de acentuado cunho sócio-cul-
Os três capítulos finais constituem ensaios à tural, tem por base as idéias de dois autores: Bastide
parte anexados ao corpo da obra e tratam de temá- e Freyre. Ambos servem de subsídio para a análise
ticas diversas. da sociedade brasileira em formação, durante o pe-
Para montar a base que dá sustentação teóri- ríodo colonial: Bastide, no que se refere à diversi-
ca ao seu livro, J.R. Moreira se apóia em autores dade dos aspectos históricos, sociais e econômicos,
como Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Roger Bas- e Freyre, fundamentando as características culturais
tide, Antonio Candido e Victor Nunes Leal. Recor- próprias dessa sociedade. A relação entre educação
rendo às obras clássicas desses autores, Moreira e formação histórica do país aparece ligada aos pou-
promove um tipo particular de apropriação, bus- cos acertos e aos muitos equívocos das formas de
cando, sempre que possível, articular idéias que gra- ocupação do território brasileiro, associados às ten-
vitam em torno da tensão entre a racionalidade do tativas de colonização. Assim, em meio à cateque-
planejamento e a tradição patrimonialista e conser- se, ao aprisionamento indígena, à exploração de
vadora das nossas elites e instituições, em contras- riquezas e às poucas perspectivas da população li-
te com o caráter poliforme de nossa formação ét- gada à pesca, à caça e ao serviço militar, Moreira
nico-racial. assinala que, nesse contexto, a educação escolar
Nessa linha, o autor abre o Capítulo I tema- tinha pouca ou nenhuma expressão .
tizando a terra, o povo e suas relações gerais com Nessa direção, a sociedade colonial brasileira
a educação. Traça então uma fisiografia, uma geo- vai se caracterizando por uma fraca organização
grafia física da educação. Mas o que chama a aten- social, vivendo ao sabor dos ciclos econômicos e —
ção é o fato de que as descrições, seja do território sem planejamento e/ou organização — mostrando-
e do clima, seja da constituição racial do Brasil, se incapaz de criar uma consciência cultural que a
estão sempre acompanhadas de reflexões sobre as colocasse à frente de empreendimentos educacionais
relações entre as características analisadas e os pro- satisfatórios.
cessos educativos. No Capítulo III, o autor trata do problema da
Ao se apropriar de Oliveira Vianna (1956), o formação econômica e política do Brasil indepen-
autor tematiza o processo de miscigenação, especi- dente, com base em dados empíricos extraídos de
ficando alguns tipos de misturas raciais que ocor- obras de Caio Prado Júnior (1957) e de Celso Fur-

20 Set/Out/Nov/Dez 1996 N º 3
O esquecimento de um livro

tado (1959), entendendo que, se a vinda da família do capítulo, Moreira lamenta o retrocesso ocorrido
real para o Brasil, em 1808, preparou a Indepen- no desenvolvimento cultural do país e a paralisação
dência, o Império foi um longo preparo para o ca- da luta pela renovação qualitativa de nosso siste-
pitalismo e a República, que, por sua vez, preparam ma educacional, em decorrência do golpe de 1937.
a industrialização e o desenvolvimento econômico. O Capítulo V parte de uma síntese dos capí-
Assinala, porém, que, no quadro de dependência em tulos anteriores para, em seguida, traçar um qua-
relação à Inglaterra, a situação econômico-social do dro das relações entre educação, estratificação e
povo permaneceria a mesma e que o trinômio es- mobilidade sociais no Brasil desde o final do século
cravidão/latifúndio/monocultura manteria o predo- passado. Nesse capítulo, Moreira chama atenção
mínio de uma pequena elite formada por bacharéis para a desigualdade do processo de mobilidade so-
e barões eleitos por uma minoria de votantes diri- cial no Brasil tendo em vista a coexistência de um
gida por chefes locais da aristocracia rural. país arcaico e de um país moderno. No entanto,
Ao caracterizar a situação econômica do país considera que, a partir de 1930, a mobilidade so-
nos anos finais do Império (1879/1889), o autor cial se intensifica e se reflete no comportamento das
destaca a liderança do café nas exportações brasi- matrículas escolares. Esse capítulo é o que contém
leiras, o desenvolvimento da indústria têxtil, a aber- o maior número de referências ancoradas em estu-
tura de estradas de ferro, o desenvolvimento das dos empíricos, entre os quais figuram vários traba-
linhas fluviais de tráfego, as linhas telegráficas e lhos do próprio J.R. Moreira.
demais evidências do processo de modernização em O Capítulo VI trata das relações entre educa-
curso no Brasil. Mas, apesar de tudo, conclui ao ção, família e outras instituições no Brasil. Inicial-
final que o quadro demográfico caracterizava ain- mente, o autor procura delinear o caráter da famí-
da um país de feitio rural. lia brasileira, desde sua formação até o advento da
Na intenção de traçar o quadro educacional do urbanização no século XX, época em que ocorrem
Império, Moreira reitera a interpretação de que o transformações estruturais na família brasileira,
governo imperial tentou por vários meios organizar que tem o seu tamanho reduzido e, aos poucos, vai
um sistema educacional popular e gratuito, o que não deixando para trás o seu caráter patriarcal para se
se conseguiu por falta de condições (falta de recur- adaptar às necessidades da vida urbana.
sos, inexistência de pessoal docente, falta de interesse Suas análises se apóiam em três autores bási-
do povo pela instrução). Encerra o capítulo dizen- cos que, associados, dão consistência à idéia-força
do que, no momento da Proclamação da Repúbli- do capítulo. De cada um dos autores, Moreira toma
ca, a 15 de novembro de 1889, o Brasil era ainda um uma tese específica, utilizando-a em favor da idéia
país extremamente inculto e subdesenvolvido. acima descrita.
Recheado de dados estatísticos, fontes legais Assim, com Antonio Candido (1951) ele ana-
e estudos econômicos, o Capítulo IV se propõe a lisa a situação do reino português na época da co-
analisar o período que vai da Primeira República lonização do Brasil e o caráter da empresa colonial
ao final do Estado Novo, caracterizando tal perío- aqui instalada, endossando a tese de que esta cor-
do como de preparação para o desenvolvimento respondeu à velha estrutura feudal ainda predomi-
econômico e cultural. A tese central do capítulo é nante em Portugal, da qual o conservadorismo da
de que a proclamação da República no Brasil foi um família patriarcal brasileira foi um reflexo.
fator de amadurecimento político e social do povo Com Sérgio Buarque de Holanda (1955) Mo-
brasileiro, apesar de ter sido promovida pelas eli- reira ressalta a tese do primitivismo agrícola, liga-
tes políticas liberais, pois o advento da República do à tradição semi-feudal do reino português. Daí
tornou inadiável a criação de um sistema educaci- o caráter da colonização portuguesa, fundado no
onal e de inúmeras instituições culturais. Ao final tripé latifúndio/monocultura/escravidão, sobre o

Revista Brasileira de Educação 21


Z. Brandão, A.W.P.C. Mendonça, V.M. Henriques, L.N. Xavier, C.O.F. Moreira, M.P.S.C. dos Santos

qual se constituiu, no Brasil, a família patriarcal. obra e que se remete à tensão entre a racionalidade
Esta, por estar condicionada a um primitivismo agrí- do planejamento e a tradição patrimonial da socie-
cola, também ficou limitada a uma cultura mate- dade brasileira.
rial pouco desenvolvida e, por conseguinte, a uma No Capítulo VII, Moreira, partindo de uma
educacão primitiva, sobretudo em função do papel análise do desempenho da economia brasileira nas
secundário da mulher. décadas de 1940 e 1950 e fundamentando-se em da-
De Gilberto Freyre (1933 e 1936) Moreira ex- dos estatísticos fornecidos pelo IBGE, FGV e alguns
trai elementos para analisar o cotidiano dessa fa- estudos empíricos — inclusive surveys da UNESCO
mília e descrever as mudanças ocorridas na sua es- e da Embaixada Brasileira em Washington —, ten-
trutura com o advento da urbanização. Associadas, ta relacionar as questões de economia com a educa-
essas três primeiras referências sedimentam o qua- ção. O autor estabelece um interessante entrecruza-
dro de pobreza econômica e cultural da família pa- mento entre as características sócio-culturais da tra-
triarcal brasileira na época da colônia e do Império. dição educacional brasileira e as condições necessá-
A abordagem antropológica fundamentada na rias para o desenvolvimento sócio-econômico. Por
obra de R. Bastide (1951) introduz no texto ques- um lado, o peso da tradição teórica e bacharelesca,
tões relativas às diferentes formas de transmissão por outro, as demandas de um país que se industri-
dos padrões culturais portugueses e de apropriação alizava e requeria, cada vez mais, uma mão-de-obra
desses padrões pela população colonial, destacan- treinada e com características técnicas próprias para
do o caráter menos rígido, mais livre e popular do a expansão do desenvolvimento.
catolicismo que os colonizadores trouxeram para A partir do Capítulo VIII, como afirmamos
o Brasil e que foi também propagado pelos cape- anteriormente, a obra apresenta um outro tipo de
lões dos engenhos e casas grandes. Essa apropria- recorte, como se existisse um segundo livro agrega-
ção das idéias de Bastide revela a preocupação de do ao primeiro. Nesse capítulo são abordadas ques-
Moreira em desenvolver uma análise da estrutura tões contemporâneas relativas à administração da
social da família brasileira a partir da compreensão educação brasileira com base em fontes legais e em
de sua formação cultural. estudos realizados pelo próprio autor.
Ao abordar as transformações ocorridas na O Capítulo IX deixa-nos a impressão de ter sido
base econômica e política do país e suas repercus- escrito com a intenção de revelar ao leitor estrangeiro
sões na organização da família brasileira, Moreira as características da escola primária brasileira, in-
analisa as características das primeiras famílias ur- clusive do ponto de vista legal. Ressalte-se ainda que,
banas e destaca o fato de que não só estas diminu- subjacente às críticas sobre a inadequação da esco-
íram de tamanho, como tiveram reduzidas as suas la primária brasileira, encontra-se a idéia de que só
funções sociais (incluindo a função educacional). o planejamento educacional fundamentado no co-
Com a base empírica fornecida por J.V.D. Sounders nhecimento da realidade empírica permitiria a me-
(1958), o autor faz referência ao estudo dos dados lhoria do estado insatisfatório do sistema escolar.
do censo relativo ao estado de São Paulo, a fim de O capítulo X constitui um ensaio que fora ori-
reafirmar a tese da redução do tamanho da família ginalmente escrito para a Revista Brasileira de Es-
urbana brasileira. tudos Políticos da Universidade Federal de Minas
Ao fazer referência a Victor Nunes Leal (s/d), Gerais. Nele o autor faz uma análise do Projeto de
Moreira cita um clássico da história política do mun- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em
do rural brasileiro para demonstrar a predominân- vias de aprovação no Congresso, procurando eviden-
cia do coronelismo na estrutura social brasileira e sua ciar as ideologias subjacentes ao debate em torno do
influência nas instituições escolares. Mais uma vez Projeto, confrontando-as com a realidade do desen-
fica clara a temática que perpassa todo o corpo da volvimento educacional. Utilizando-se da conceitua-

22 Set/Out/Nov/Dez 1996 N º 3
O esquecimento de um livro

ção marxista de ideologia, o autor afirma que as cor- Sobre o planejamento, da perspectiva acima
rentes ideológicas que se confrontam refletem a con- descrita, escreveu — quando ainda estava no Chi-
tradição dos fatos econômico-sociais e político-cultu- le, atendendo à missão da UNESCO — os artigos:
rais do Brasil, tais como descritos por Lambert, que “Alguns aspectos do planejamento e financiamen-
mais uma vez é a referência para a análise de Moreira. to da educação no Brasil”, “A pesquisa e o plane-
jamento em educação” e “A educação elementar em
Planejamento educacional face do planejamento econômico”, todos eles pu-
segundo J.R. Moreira blicados posteriormente na Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos do INEP.
No Educação e desenvolvimento no Brasil, Mo- Mas o que entendia Moreira por planejamen-
reira explicita de forma direta e objetiva sua perspec- to? Ao elaborar diferentes definições científicas do
tiva da necessidade da adequação do planejamento “fato educacional”, ele caracterizou o planejamento
educacional brasileiro às reais condições sócio-eco- dentro de uma cadeia de relações. Dizia Moreira:
nômicas e culturais do país, expressando uma preo- enquanto o estudo objetivo, buscando conhecer as
cupação que esteve presente na sua vida em diver- relações entre os fatos, diz o que é a educação, e o
sos momentos e sob vários aspectos. A idéia do pla- estudo filosófico diz o que deveria ser a educação,
nejamento marcou seu itinerário profissional e in- “o planejamento procura combinar o conhecimento
telectual. Técnico da Divisão de Aperfeiçoamento do do que a educação necessita ser, com o conhecimen-
Serviço Público (DASP), de 1944 a 1946, chefiou a to do que é possível ser”.
Seção de Planejamento da Divisão de Seleção e Aper-
feiçoamento de Pessoal e lecionou na Escola do Ser- Sobre a tradição esquecida
viço Público. Junto com Charles Wagley, foi respon-
sável pela implementação do projeto do Centro Bra- A aproximação entre a educação
sileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), durante e as ciências sociais
a gestão de Anísio Teixeira no Instituto Nacional de
Estudos Pedagógicos (INEP). No CBPE, enquanto As afinidades entre o livro e o projeto do CBPE
chefe do Setor de Planejamento, enfatizou que a apli- foram se tornando cada vez mais evidentes, na me-
cação das ciências sociais ao campo da educação ofe- dida em que avançávamos na investigação do livro
receria importantes subsídios científicos ao planeja- e da posição de Moreira no campo da educação, a
mento da educação nacional. partir da década de 50. A relação entre a inserção
A familiaridade de Moreira com as questões institucional de Moreira no CBPE, sua ida aos EUA
do planejamento foi reconhecida pela UNESCO, ao e o recorte e abordagem do Educação e desenvol-
nomeá-lo para chefiar o Executivo Regional da vimento no Brasil foram gradativamente explicitan-
América Latina, coordenando o Programa Princi- do laços mais fortes entre esta obra e o projeto de
pal do Ensino Primário. Nesse cargo, lecionou nos institucionalização da pesquisa educacional, numa
Cursos de Formação de Especialistas em Planeja- direção que superasse o atrelamento desta à tradi-
mento Educacional. Inserido no cerne dos debates ção psico-pedagógica.
sobre o planejamento na América Latina e no Bra- Segundo Moreira (1942), “não é possível de-
sil, Moreira fazia parte da intelligentsia que julga- terminar os fins da educação pela simples interpre-
va que a solução dos problemas educacionais bra- tação finalista dos resultados a que chegam a Bio-
sileiros passaria necessariamente pela análise cien- logia e a Psicologia, [...] o papel delas como ciên-
tífica das reais condições sociais e culturais do país. cias que podem, por seus resultados, contribuir para
Educação e desenvolvimento no Brasil é uma cla- a solução dos problemas educacionais ou é exage-
ra expressão dessa convicção. rado ou não é devidamente compreendido”.

Revista Brasileira de Educação 23


Z. Brandão, A.W.P.C. Mendonça, V.M. Henriques, L.N. Xavier, C.O.F. Moreira, M.P.S.C. dos Santos

O cotejo da obra de Moreira com o Documen- Procurava-se dar um sentido novo à área da educa-
to Klineberg,3 que estava nas origens da criação do ção, que era muito isolada. Pretendia-se chegar a um
CBPE, deixou claro o objetivo de investir em um quadro que não tivesse caráter apenas pedagógico ou
conhecimento mais aprofundado das relações en- psicológico. Porque até então a educação estava liga-
tre as características culturais, econômicas e polí- da apenas à psicologia. No INEP, principalmente, por-
ticas do desenvolvimento histórico brasileiro e as que Lourenço Filho era psicólogo e toda a ênfase da
condições do desenvolvimento da educação. Além sua administração foi em educação e psicologia, toda
dessa perspectiva mais genérica de pesquisar as con- a pesquisa feita foi de caráter psicológico ou pedagó-
dições da educação e desenvolvimento do país, há gico. Anísio Teixeira veio com uma concepção mais
um investimento intenso em recortes empíricos mais ampla. [...] Queria unir educação e ciência social (Ma-
definidos que contribuam para uma visão mais con- riani, 1982, p. 174-175, 180).
creta das relações entre educação e escolaridade, das
Com a fundação do CBPE, criou-se o clima
características das instituições sociais, como famí-
institucional favorável à ruptura com um enfoque
lia e religião, e suas relações com os processos de
restrito da pesquisa que dominara no cenário do
socialização, das condições da estratificação e mo-
campo da educação até meados da década de 50.
bilidade social, da estrutura do Estado brasileiro e
A aproximação da educação com as ciências sociais
do sistema educacional em todos os seus níveis.
visava romper com essa tradição de pesquisa, que
Anísio Teixeira, responsável direto pela con-
se desdobrava inclusive na área da chamada socio-
cepção e organização do CBPE quando era diretor
logia educacional, como assinalou Antonio Candi-
do INEP, desde a década de 30, com o projeto da
do no I Congresso Brasileiro de Sociologia, realiza-
Universidade do Distrito Federal, mostrava-se em-
do em São Paulo em 1955. Esse autor, analisando
penhado em buscar as condições de formação de
em termos gerais o desenvolvimento da sociologia
uma intelligentsia4 na área da educação que, fun-
da educação, identificou na área três tendências —
damentada em pesquisas empíricas consistentes,
a filosófico-sociológica, a pedagógico-sociológica e
pudesse intervir no processo de planejamento do
a propriamente sociológica.
sistema de ensino de forma a superar os problemas
Na primeira se situariam tradições, como as
do fracasso no atendimento adequado da popula-
de Durkheim e Dewey, que procuravam fundamen-
ção que recorria ao sistema público.
tar, do ângulo social, teorias gerais da educação. Em
O quadro de funcionários do INEP não tinha que pese a profunda diferença entre esses dois sis-
condições de cumprir essa nova tarefa. Nos últimos temas de pensamento, o que Antonio Candido de-
anos, sua ampliação se fizera em detrimento da qua- seja assinalar é o caráter mais teórico e genérico das
lidade, e muitas pessoas entraram como interinos e, explicações dadas para as relações educação/socie-
sem ao menos o já ineficiente curso de pedagogia, ti- dade por essas perspectivas. Essa tendência, que evi-
nham sido efetivadas, impedindo a contratação atra- dentemente não fica restrita a essas duas tradições,
vés de concurso de técnicos melhor qualificados. [...] caracteriza-se por funcionar como uma espécie de
“chave-mestra” para explicar as situações particula-
res, relacionando-as aos esquemas interpretativos
3
Esse documento ficou conhecido pelo nome de seu mais genéricos (as teorias gerais).5
autor, técnico da UNESCO, que sintetizou as sugestões ela-
boradas por membros da equipe de Anísio Teixeira para a 5 Representariam essa tendência hoje, no campo da
criação de um Centro de Altos Estudos Educacionais que educação no Brasil, entre outras, perspectivas como as aná-
daria origem ao CBPE. lises de Dermeval Saviani, sobre o “escolanovismo”, ou Gau-
4 Empregamos o termo para enfatizar o caráter de inter- dêncio Frigotto, com a análise sobre as relações entre edu-
locução permanente desse grupo de intelectuais com a política. cação e trabalho da perspectiva da escola capitalista.

24 Set/Out/Nov/Dez 1996 N º 3
O esquecimento de um livro

Na segunda tendência, o estudo dos aspectos quívoca o caráter da colaboração a que eram cha-
sociais da educação está sempre relacionado com madas as ciências sociais na formação do campo
o melhor funcionamento da escola. Nessa tendên- educacional no momento de criação do CBPE.
cia, o foco prioritário está sobre as “relações esco-
la/comunidade”. Antonio Candido vê essa tendên- A influência da escola de Chicago
cia como profundamente ligada a uma certa tradi-
ção americana na qual a sociologia é invocada so- Essa aproximação entre a educação e as ciên-
bretudo como componente da pedagogia e da ad- cias sociais pelo grupo que se articulou em torno de
ministração escolar. Para o autor, esse atrelamento Anísio Teixeira propunha uma reorientação da so-
explicaria “a relativa debilidade teórica dos seus ciologia educacional no sentido de enfatizar a pes-
produtos, a ausência de pesquisa realmente cientí- quisa empírica, com uma clara inspiração na esco-
fica — explicando o fato de a sociologia educacio- la de Chicago. Essa escola representou uma das re-
nal norte-americana ser principalmente um conjun- ferências mais importantes da sociologia america-
to de manuais e compêndios, singularmente redun- na na primeira metade deste século, e indiscutivel-
dantes quando tomados uns em relação aos outros” mente foi a influência mais importante do projeto
(Candido, 1955, p. 9). do CBPE. Anísio Teixeira, que fizera sua pós-gra-
A terceira tendência se deveu, segundo Anto- duação em Columbia, junto a John Dewey,6 trou-
nio Candido, a sociólogos ou educadores de orien- xe, dessa experiência acadêmica norte-americana,
tação sociológica mais definida e trouxe consigo “a o entusiasmo pela prática de pesquisa e, muito es-
preocupação com a função social da educação e pecialmente, pelo tipo de pesquisa que se ancora-
com a solução dos problemas educacionais”. Essa va na tradição da escola de Chicago. “O pragma-
é, de certa forma, a linha que consubstancia a pro- tismo americano (Pierce, Dewey, James) pressiona
posta do CBPE, resultante da crítica à “sociologia os sociólogos a abandonarem a tradição especula-
educacional”, à tendência pedagógico-sociológica tiva dos construtores de grandes sistemas teóricos
e à filosófico-sociológica. em proveito da elaboração de conhecimentos real-
Anísio Teixeira, em seu discurso de posse à mente ‘positivos’, [...] baseados na pesquisa empí-
frente do INEP, assinala sua visão das relações en- rica indutiva, permitindo aplicações sociais imedia-
tre a ciência e a educação: “A ciência não nos vai tas” (Cuin e Gresle, 1994, p. 187).
fornecer receitas para soluções dos nossos proble- A ligação de Anísio Teixeira com os intelec-
mas, mas o itinerário de um caminho penoso e di- tuais da escola de Chicago se estendeu também ao
fícil, com idas e vindas” (Teixeira, 1956, p. 16). convívio com Donald Pierson, aquele que através
Em reunião de agosto de 1955, na qual esta- de seus trabalhos no Brasil, e em especial na Esco-
vam presentes educadores e cientistas sociais, pen-
sando as diretrizes de trabalho dos Centros Regio-
nais e do CBPE, ficou estabelecido como um dos 6 John Dewey ficou de 1894 a 1904 na Universidade
itens de proposta para os estatutos que: “A pesquisa de Chicago, no período em que se constituía a tradição so-
em ciências sociais realizada dentro do Centro deve ciológica da qual nasceria a escola de Chicago. Para Dewey,
subordinar-se, em princípio, aos interesses e obje- bem como para os pragmatistas, a solução dos problemas
tivos da ação educacional” (idem, p. 52). sociais deveria passar pelo recurso aos métodos científicos
de pensamento: “Os líderes da escola de Chicago do início
O livro Educação e desenvolvimento no Bra-
do século XX fizeram do ‘pragmatismo a filosofia social da
sil expressa claramente a produção de um conhe-
democracia’. Sua influência mais espetacular ocorreu no
cimento articulado a questões que emergem e se desenvolvimento democrático da educação e de maneira
dirigem à educação enquanto prática pedagógica e mais geral, no da justiça social e da ação municipal” (Cou-
social. Desse ponto de vista, indica de forma ine- lon, 1995, p. 18).

Revista Brasileira de Educação 25


Z. Brandão, A.W.P.C. Mendonça, V.M. Henriques, L.N. Xavier, C.O.F. Moreira, M.P.S.C. dos Santos

la Livre de Sociologia e Política (São Paulo) nas dé- tes empíricos e forma de apropriação das fontes na
cadas de 30/40, constituiu-se como expressivo re- construção de um pano de fundo à análise das ques-
presentante dessa linha sociológica norte-america- tões sócio-histórico-educacionais, o livro de Moreira
na entre nós. Pierson defendia a idéia de que na é um trabalho exemplar dessa tentativa de constru-
pesquisa empírica estaria a garantia de cientificidade ção entre nós de uma tradição de pesquisa voltada
da sociologia, criando portanto na área uma tradi- para o conhecimento dos problemas a serem enfren-
ção de pesquisa de campo como trabalho sistemá- tados na perspectiva de planejar a mudança social.
tico. Foi com a ajuda de Anísio Teixeira que Pierson Esse tipo de produção expressou nova forma de
esteve na Bahia realizando entre 1935/1937 pesqui- leitura dos problemas educacionais, que procura-
sa sobre a população negra ali existente, como parte va tanto superar a tradição de produzir compêndi-
da sua tese de doutoramento defendida na Univer- os de sociologia da educação como um glossário de
sidade de Chicago (Lippi Oliveira,1995). teorias e doutrinas aplicáveis à educação quanto
romper com a doxa diletante que sempre dominou
boa parte do discurso educacional.
CBPE: uma tradição esquecida?
Esse esforço, caracterizado por Luiz Pereira
(1967) como sociologização do campo, significou,
Nunca será suficientemente salientado que o tra-
entretanto, muito mais do que a hegemonização
balho do Centro não é apenas uma série de projetos
sociológica do pensamento educacional. Foi, como
de pesquisas sem relação entre si — embora possam
estamos tentando caracterizar, um esforço de am-
ser interessantes e significativos — mas que tal traba-
pliação das referências disciplinares na análise dos
lho exige integração e coordenação. Isto nem sempre
fenômenos educativos — utilizando subsídios da
é fácil de se conseguir, uma vez que atividades liga-
sociologia, antropologia, economia, geografia, de-
das simultaneamente a várias disciplinas apresentem
mografia, história etc. — com ênfase em investiga-
problemas não ainda completamente solucionados.
ções empíricas que sustentassem substancialmente
Além disso, os pesquisadores têm como que uma tra-
os diagnósticos e projetos da educação brasileira.
dição de atividade individual e independente que não
Da pesquisa do livro à percepção da dinâmi-
se presta à coordenação com as atividades de outros
ca do campo, nas décadas de 50/60, foi possível
(Documento Klineberg).
reconstituir também um dos eixos temáticos (pro-
É indiscutível a filiação do esforço do CBPE à vavelmente, o principal) que sintetizavam as preo-
tradição da escola de Chicago no que se refere à cupações dos educadores nessas décadas: educação,
tendência de voltar-se para o trabalho de campo e planejamento e desenvolvimento. Entretanto, é nos-
para a tentativa de resolução de problemas através sa hipótese que a interpretação que nas décadas de
da ação apoiada em uma orientação multidiscipli- 70 e 80 se fez dessas questões nem sempre foi ca-
nar, que também caracterizou aquela escola (Cou- paz de captar a complexidade das formulações dos
lon, 1995). Também no Brasil foram implantadas educadores que coletivamente discutiam o papel da
as “cidades-laboratórios” como projetos-piloto pa- educação, da pesquisa e do planejamento, na cria-
ra se pensar políticas de intervenção social e se pro- ção de condições mais favoráveis ao desenvolvimen-
curou uma abordagem pluralista das questões so- to da sociedade brasileira.
ciais na direção interdisciplinar, que abriu o cam- Durante as décadas de 50 e 60, dentro de um
po da educação para uma reordenação na hierar- quadro de insatisfação em relação às condições só-
quia das referências da área — antes nucleada ba- cio-educacionais brasileiras, e da ótica do planeja-
sicamente na filosofia, na psicologia e numa peda- mento, os educadores nucleados no CBPE procu-
gogia no mais das vezes abstrata e prescritiva. raram imprimir uma orientação pragmática à pes-
Por sua estrutura, referências nucleares, recor- quisa que, a nosso ver, exprimia um entendimento

26 Set/Out/Nov/Dez 1996 N º 3
O esquecimento de um livro

muito próprio sobre a especificidade do campo da Referências bibliográficas


educação, no sentido de uma interpretação da iden-
tidade epistemológica da área. BASTIDE, Roger, (1951). Religion and the church in Brasil.
Se nas décadas de 20 e 30 a aproximação en- In: SMITH, T. Lynn, MARCHANT, Alexander (orgs.).
Brazil, portrait of a half continent. New York: The Dry-
tre a educação e as ciências sociais se inseria em um
den Press.
projeto mais amplo de procura de um estatuto ci-
BRANDÃO, Zaia, (1992a). A teoria como hipótese. Teo-
entífico para os estudos superiores em educação
ria e Educação, 5, p. 161-169.
(Universidade do Distrito Federal/Universidade de
__________, (1992b). A intelligentsia educacional: um per-
São Paulo), em 50 e 60 o que parecia mover essa
curso com Paschoal Lemme por entre as memórias e as
reaproximação era a necessidade de uma base mais
histórias da Escola Nova no Brasil. Tese de doutorado.
segura — científica — para as propostas de inter- Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Ca-
venção nos sistemas educacionais da perspectiva do tólica do Rio de Janeiro.
planejamento educacional. __________, (1993). Do texto à história de uma disciplina:
As mudanças de orientação da pesquisa em a sociologia da educação que se pode ler no Educação e
educação com a criação da pós-graduação e a am- desenvolvimento no Brasil de J.R. Moreira. Projeto de
pliação do mercado editorial especializado nessas pesquisa encaminhado ao CNPq.
últimas décadas podem estar entre as razões do es- CANDIDO, Antonio, (1951). The Brazilian family. In:
quecimento do Educação e desenvolvimento no SMITH, T. Lynn, MARCHANT, Alexander (orgs.).
Brasil, portrait of half a continent. New York: The Dry-
Brasil e da tradição de pesquisa do CBPE. Mas essas
den Press.
são questões que estamos trabalhando em uma nova
__________, (1972). Tendências no desenvolvimento da
pesquisa, apoiada pelo CNPq, intitulada A constru-
sociologia da educação. In: PEREIRA, Luís, FORA-
ção de uma tradição intelectual: a pesquisa no cam-
CCHI, Maria Alice. Educação e sociedade. São Paulo:
po da educação — o caso do Rio de Janeiro. Cia. Editora Nacional.
COULON, Alain, (1995). A escola de Chicago. São Paulo:
Papirus.
ZAIA BRANDÃO é professora do Departamento de CUIN, Chahrles-Henry, GRESLE, François, (1994). História
Educação da PUC-Rio, Doutora em Educação. Trabalha com da sociologia. São Paulo: Ensaio.
Sociologia e História da Educação. Tem obras publicadas nas
CUNHA, Luiz Antônio, (1971). Sobre o Educação e desen-
áreas de Democratização do Ensino e Educação Brasileira.
volvimento no Brasil: crítica da crítica e autocrítica. Edu-
ANA WALESKA P.C. MENDONÇA é professora do cação & Sociedade, no 10, set.
Departamento de Educação da PUC-Rio, Doutora em Edu-
__________, (1992). A educação na sociologia: um objeto
cação. Trabalha com História da Educação e Educação Bra-
rejeitado. Caderno CEDES, nº 27: Campinas: Papirus.
sileira. Autora de vários artigos nas áreas de História da Edu-
cação e Formação da Professores. Atualmente é Diretora do __________, (1980). Educação e sociedade no Brasil. In:
Departamento de Educação da PUC-Rio. BIBS. São Paulo: Cortez/ANPOCS.

VERA MARIA HENRIQUES é aluna do Programa de DARNTON, Robert, (1988). O grande massacre de gatos
Pós-Graduação do Departamento de Educação da PUC-Rio. e outros episódios da história cultural francesa. 2a ed. Rio
de Janeiro: Graal.
LIBÂNIA NASSIF XAVIER é aluna do Programa de
Pós-Graduação do Departamento de Educação da PUC-Rio. __________, (1992). História intelectual e cultural. O bei-
jo de Camourette: mídia, cultura e revolução. São Pau-
CARLOS OTÁVIO FIÚZA MOREIRA é aluno do
lo: Companhia das Letras.
Programa de Pós-Graduação do Departamento de Educa-
ção da PUC-Rio. ECO, Umberto, (1993). Interpretação e superinterpretação.
São Paulo: Martins Fontes.
MARIA PAULA S.C. DOS SANTOS é aluna do Pro-
grama de Pós-Graduação do Departamento de Educação da FREYRE, Gilberto, (1933). Casa-grande e senzala. Rio de
PUC-Rio. Janeiro: José Olympio.

Revista Brasileira de Educação 27


Z. Brandão, A.W.P.C. Mendonça, V.M. Henriques, L.N. Xavier, C.O.F. Moreira, M.P.S.C. dos Santos

__________, (1936). Sobrados e mocambos. Rio de Janei- Anexo


ro: Companhia Editora Nacional.
FURTADO, Celso, (1959). Formação econômica do Bra- Bibliografia completa de
sil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. Educação e desenvolvimento no Brasil7
HOLANDA, Sergio Buarque de, (1955). Raízes do Brasil.
3a ed. Rio de Janeiro: José Olympio. ÁVILA, Fernando Bastos de S.J., (1956). L’immigration au
LEAL, Victor Nunes, (s/d). Coronelismo, enxada e voto. Rio Brésil. Rio de Janeiro: Agir (p. 20)
de Janeiro: Forense. BASTIDE, Roger, (1957). Brésil, terre des contrastes. Paris:
LIPPI OLIVEIRA, Lúcia, (1995). A sociologia do guerrei- Hachette. (p. 17, 27, 79)
ro. Rio de Janeiro: UFRJ. __________, (1951). Religion and the church in Brazil. In:
MARIANI, Maria Clara, (1982). Educação e ciências so- SMITH, T. Lynn, MARCHANT, Alexander (orgs.). Bra-
ciais. In: SCHWARTZMAN, Simon (org.). Universidade zil, portrait of half a continent. New York: The Dryden
e instituições científicas no Rio de Janeiro. Brasília: CNPq. Press. (p. 150, 152)

MENDONÇA, Ana Waleska P.C., (1993). Universidade e BORGES, Pompeu Accioli, (1958). Estratificação e mobi-
formação de professores: uma perspectiva integradora: lidade social no Brasil. Conjuntura & Desenvolvimen-
a “Universidade de Educação” de Anísio Teixeira. Tese to, ano II, no 10, CNI. (p. 121)
de doutorado. Departamento de Educação, Pontifícia BRASIL, (1958). Survey of the brazilian economy. Washing-
Universidade Católica do Rio de janeiro. ton, D.C.: Brazilian Embassy. (p. 179, 186)
MOREIRA, J. Roberto, (1960). Educação e desenvolvimen- __________, (1942). Quadros estatísticos do Ministério da
to no Brasil. Rio de Janeiro: Centro Latino-Americano Fazenda (1933 - 1942).
de Pesquisas em Ciências Sociais.
CANDIDO, Antonio, (1951). The brazilian family. In:
__________, (1963). A pesquisa e o planejamento no Bra- SMITH, T. Lynn, MARCHANT, Alexander (orgs.). Bra-
sil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 39, no zil, portrait of half a continent. New York: The Dryden
90, abr./jun. Press. (p. 129, 134)
PEREIRA, Luiz, (1976). Nota crítica sobre o pensamento CARREIRO, L. de Castro, (1889). História financeira do
pedagógico brasileiro. Apêndice. In: __________. A es- Império no Brasil. Rio de Janeiro: s/editor. (p. 103)
cola numa área metropolitana. 2a ed. São Paulo: Pioneira.
CAVALCANTI, A., (1890). Resenha financeira do ex-Im-
PRADO JR., Caio, (1957). História econômica do Brasil: pério do Brasil. Rio de Janeiro: s/editor. (p. 103)
1500 a 1820. São Paulo: Companhia. Editora Nacional.
COUTY, Louis, (1881). L’esclavage au Brésil. Paris: s/edi-
SOUNDERS, J.V.D., (1958). Differential fertility in Brasil. tor. (p. 103)
Gainesville: University of Florida Press.
FRANCO, Afonso Arinos de Mello, (1958). Síntese da his-
TEIXEIRA, Anísio, (1952). Discurso de posse do Professor tória econômica do Brasil. Salvador: Universidade da
Anísio Teixeira no INEP. Revista Brasileira de Estudos Bahia. (p. 100, 101)
Pedagógicos, v. 17, no 46, abr./jun.
__________, (1956). Centro Brasileiro de Estudos Pedagó-
gicos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 25,
7 Esta bibliografia foi elaborada por Carlos Otávio
nº 61, jan./mar.
Fiúza Moreira. Como assinalamos no relatório parcial en-
VIANNA, Oliveira, (1956). Evolução do povo brasileiro.
caminhado ao CNPq em fevereiro de 1995, Educação e de-
Rio de Janeiro: José Olimpyo.
senvolvimento no Brasil não contém uma bibliografia ao
final da obra; as referências do autor, em notas de rodapé
ou no texto, foram reconstituídas e complementadas, sem-
pre que possível, e reorganizadas, procurando-se utilizar as
edições mais próximas da data de publicação do livro. Os
números das páginas, ao final de cada item da bibliografia,
indicam as páginas do Educação e desenvolvimento no Bra-
sil em que aquela referência aparece.

28 Set/Out/Nov/Dez 1996 N º 3
O esquecimento de um livro

__________, (s/d). Desenvolvimento da civilização material KANDEL, I.L., (1960). Uma nova era em educação. s/ref.
no Brasil. s/ref. (p. 101, 103) (p. 274)
FREYRE, Gilberto, (1933). Casa-grande e senzala. Rio de KESSEL, Moyses, (1954). A evasão escolar no ensino pri-
Janeiro: José Olympio. (p. 32, 78, 102) mário. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, no 56,
out./dez. (p. 236, 238)
__________, (1936). Sobrados e mocambos. São Paulo: Com-
panhia Editora Nacional, 1936. (p. 45, 78, 104, 138) LAMBERT, Jacques, (1959). Os dois Brasis. Rio de Janei-
ro: CBPE. (p. 13, 265)
FURTADO, Celso, (1959). Formação econômica do Bra-
sil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. (p. 42, 103) __________, (1953). Le Brésil — Structure sociale et inti-
tutions politiques. Paris: Colin.
GOUVEIA, Aparecida Joly, (1957). A escola e o professor
na opinião dos pais. Educação e Ciências Sociais, v. 2, LEAL,Vitor Nunes, (s/d). Coronelismo, enxada e voto. Rio
no 5, ago. (p. 233, 262) de Janeiro: Forense. (p. 158)
__________, (1957). Aspirações em relação ao futuro dos LOURENÇO FILHO, M.B., (s/d). Professional studies in
filhos. Educação e Ciências Sociais, v. 2, no 6, nov. (p. the universities and the special professional schools —
182) Brazil. The Yearbook of Education, London: Evan
Bros. (p. 194)
__________, (1958). Um estudo sobre a filosofia educacio-
nal dos pais. Educação e Ciências Sociais, v. 3, no 7, abr. __________, (1926). A educação pública em São Paulo. Es-
(p. 234) tado de São Paulo. (p. 73)
GRIFFING, John B., (1940). Natural eugenics in Brazil. The __________, (s/d). Introdução ao estudo da escola nova. São
Journal of Heredity, XXX, 1, jan. (p. 156) Paulo: Melhoramentos. (p. 87)
HOLANDA, Sérgio Buarque de, (1955). Raízes do Brasil. __________, (1940). Tendências da educação brasileira. São
Rio de Janeiro: José Olympio. (p. 130, 132) Paulo: Melhoramentos. (p. 101)
HAMUY, Eduardo et al., (1959). El problema educacional MOACYR, Primitivo, (1939). A instrução e as províncias
de Chile (então no prelo). (p. 112) (subsídios para a história da educação no Brasil). Col.
Brasiliana, v. 1 e 2. São Paulo: Companhia Editora Na-
HAVIGHURST, Robert J., (1957). Educação, mobilidade
cional. (p. 54)
social e mudança social em quatro sociedades. Educação
e Ciências Sociais, ano II, v. 2, no 6, nov. (p. 112, 115) __________, (1940). A instrução e as províncias (subsídios
__________, NEUGARTEN. Society and education. Boston: para a história da educação no Brasil). Col. Brasiliana,
v. 3. São Paulo: Companhia Editora Nacional. (p. 54)
Allyn and Bacon. (p. 123, 132)
HUTCHINSON, Bertran, (1956). Origem sócio-econômi- MORAIS, Evaristo de, (1933). A escravidão africana no
Brasil (das origens à extinção). São Paulo: Nacional, 1933.
ca dos estudantes universitários de São Paulo. Educação
(p. 17)
e Ciências Socaias, ano I, no 3, dez. (p. 112, 115)
MOREIRA, J. Roberto, (1957). A escola primária brasileira.
__________, (1958). Analfabetismo em São Paulo. Educa-
ção e Ciências Sociais, v. 3, no 7, abr. (p. 123) Educação e Ciências Sociais, v. 2, no 6, nov. (p. 233, 240)

__________, (1957). Aspectos da educação universitária e __________, (1955). A escola elementar e a formação do
status social em São Paulo. Educação e Ciências Sociais, professor primário no Rio Grande do Sul. INEP/MEC.
ano II, v. 2, no 4, mar. (p. 123) (p. 143, 233, 261)

IBGE, (1938). Anuário estatístico do Brasil, v. 4. (p. 82) __________, (1958). World survey of education II, primary
education. UNESCO. (p. 130, 185)
__________, (1939-1940). Anuário estatístico do Brasil, v.
__________, (1960). Introdução ao estudo social da escola
5. (p. 84)
primária (então no prelo). (p. 261)
__________, (1941-1945). Anuário estatístico do Brasil, v.
__________, (s/d). A educação em Santa Catarina. INEP/
6. (p. 84)
MEC. (p. 143, 247)
__________, (1958). Anuário estatístico do Brasil, v. 19. (p.
__________, (1956). Aspectos culturais da área do Recife.
151, 154, 171, 173, 178.)
Educação e Ciências Sociais, ano I, v. 1, no 2, ago. (p.
117)

Revista Brasileira de Educação 29


Z. Brandão, A.W.P.C. Mendonça, V.M. Henriques, L.N. Xavier, C.O.F. Moreira, M.P.S.C. dos Santos

NERY, M.F.J. Santa-Anna, (1889). Le Brésil en 1889. Pa- WILLEMS, Emílio, (1955). Protestantism as a factor of cul-
ris: Librarie Charles Delegrave. (p. 57, 103) ture change in Brazil. Economic Development and Cul-
tural Change, v. 3, no 4, The University of Chicago, jul.
NIENOF, John, (1703). Voyages and travels into Brasil and
(p. 154, 155)
West Indies. Londres: s/editor. (p. 133)
__________, (1943). Linguist changes in german-brazilian
PEARSE, Andrew, (1957). Integração social das famílias de
favelados. Educação e Ciências Sociais, ano II, v. 2, no communities. Acta Americana, v. 1, no 4. (p. 109)
6, nov. (p. 142)
PIERSON, Donald, (1945). Brancos e pretos na Bahia. São
Paulo: Companhia Editora Nacional. (p. 17)
PINTO, L.A. Costa, (1953). O negro no Rio de Janeiro. São
Paulo: Companhia Editora Nacional. (p. 17)
PRADO JR., Caio, (1957). História econômica do Brasil:
1500 a 1820. São Paulo: Companhia Editora Nacional.
(p. 41, 61, 66, 101, 102)
RAMOS, Arthur, (1942). A aculturação negra no Brasil. São
Paulo: Companhia Editora. Nacional. (p. 17)
RIBEIRO, Darcy, (1957). Cultura e línguas indígenas no
Brasil. Educação e Ciências Sociais, v. 2, no 6, nov. (p.
16)
RODRIGUES, Nina, (1932). Os africanos no Brasil. São
Paulo: Companhia Editora Nacional. (p. 17)
SEGUIN, Roger, (s/d). Promoção e aprendizagem na esco-
la primária. Rio de Janeiro: CBPE. (p. 237)
SIEGEL, Bernard J., (1957). The role of perception in urban-
rural change — a brazilian case study. Economic Deve-
lopment and Cultural Change, v. 5, no 3, The University
of Chicago, abr. (p. 118)
SIMONSEN, Roberto, (1957). História econômica do Bra-
sil. São Paulo: Companhia Editora Nacional. (p. 41, 103,
120)
SODRÉ, Nelson Werneck, (1958). Introdução à revolução
brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio. (p. 103)
SOUNDERS, J.V.D., (1958). Differential fertility in Brazil.
Gainesville: University of Florida Press. (p. 144, 146, 155)
SPIEGEL, Henry William, (1949). The brazilian economy,
chronic inflation and sporadic industrialization. Phila-
delphia/ Toronto: Blakston. (p. 66)
TEIXEIRA, Anísio, (1932). Educação progressiva. São Pau-
lo: Companhia Editora Nacional. (p. 91)
__________, (1928). Relatório da Diretoria de Instrução
Pública do Governo do Estado. Salvador. (p. 90)
VIANNA, Oliveira, (1956). Evolução do povo brasileiro.
Rio de Janeiro: José Olympio. (p. 16)
WAIBEL, Leo, (1950). European colonisation in Southern
Brasil. The Geografical Review, v. XL, out. (p. 21)

30 Set/Out/Nov/Dez 1996 N º 3

Você também pode gostar