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INTRODUÇÃO
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A Lei Federal 11.684 de 2008 alterou o artigo 36 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional(LDB), estabelecendo a obrigatoriedade das disciplinas Sociologia e a Filosofia, em todas as
séries do ensino médio, nas redes públicas e privadas do país. No entanto, em 2017, a reforma do ensino
médio, sancionada pela Lei 13.415, alterou a estrutura desse nível de ensino e, entre outras coisas, retirou
a obrigatoriedade da Sociologia (e também da Filosofia) como disciplina componente de sua grade
curricular.
Neste momento, procura-se apenas suscitar algumas reflexões e possíveis
olhares sobre umas temáticas tão caras e atuais quanto o debate de gênero/raça dentro
das salas de aula, além de destacar o livro didático como uma via de acesso eficaz para
esses objetivos.
Para a análise do Livro Didático de Sociologia recorremos à metodologia da
análise de conteúdo, que pode ser definida como aquela que auxilia na compressão dos
sentidos de determinado texto, estando ele oculto ou mais evidente para a/o
leitora/leitor. Segundo Laurence Bardin (2016), a análise de conteúdo tem, em geral,
três etapas, a primeira é a “pré-análise”, na qual o/a pesquisador/a deve analisar as
características do texto; a etapa da “exploração do material a ser analisado”, na qual se
busca perceber as consequências das mensagens encontradas no texto pesquisado; e, por
fim, a “interpretação propriamente dita”, na qual serão tratadas, as dadas e descritas as
partes relevantes, por meio de codificações apreendidas nas unidades de registro e de
contexto anteriormente formuladas (BARDIN, 2016).
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Atualmente ensino médio.
Não obstante, os investimentos nas publicações pedagógicas, a partir da década
de 30 também se encontravam relacionados aos incentivos e interesses da indústria
editorial, que tinha por finalidade angariar recursos no mercado, promovendo a
nacionalização dos livros adotados no sistema de ensino do Brasil. Segundo Meucci
(2007), a sociologia ganha espaço para as primeiras produções didáticas condicionada
por um lado pela consolidação da disciplina no sistema regular de ensino e por outro
pelo surgimento de um mercado editorial, sobretudo voltado à reprodução de obras
sobre o Brasil e ao investimento na área pedagógica.
Com o ingresso da sociologia como componente curricular obrigatório no
Ensino Médio em 2008, abrisse um novo leque de possibilidades para esta disciplina.
Mas, é apenas em 2012 que passará a integrar o Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) foram avaliados e distribuídos livros didáticos de sociologia pensados para essa
modalidade de ensino. Nesse contexto, Meucci (2014), nos chama a refletir sobre a
importância do PNDL e da participação inédita da sociologia, pois nos coloca diante de
uma produção livros em todo o país no período de 2009 a 2010, ou seja, no período que
marca a reintrodução da sociologia no Ensino Médio.
A inserção da sociologia no PNDL 2012 vem para contribuir com o processo de
legitimação da disciplina e com a produção didática voltada a atender e suprir as
exigências referentes ao ensino médio. Segundo Meucci (2013), o acesso ao
pensamento social brasileiro não é algo exclusivo da sociologia, outras disciplinas como
história, geografia e literatura também são importantes veículos de rotinização do
pensamento social e sociológico. Contudo, a recente institucionalização da sociologia
no nível médio e a atual produção didática, incentivada, sobretudo pelo PNLD, nos
colocam diante de um novo momento no qual se faz necessário investigar e
compreenderas condições atuais de circulação deste conhecimento.
No entanto, “O avanço da consolidação de nossa disciplina como componente
curricular em todas as escolas de ensino médio no Brasil se traduziu nesta segunda
edição do PNLD 2015 na aprovação de seis livros didáticos de Sociologia.” (BRASIL,
2014 p.07). Tal fato pode ser considerado um grande avanço tanto no que diz respeito à
quantidade de livros disponibilizados para análise e como na “diversidade maior de
títulos com abordagens de temas pouco – ou não – contemplados nas obras apresentadas
no PNLD 2012”. (TAVARES, 2014, p. 07). Ampliando, assim, o debate referente à
necessidade de se reconstruir conteúdos, temas, linguagens, metodologias e objetos de
estudos das ciências sociais que sejam capazes de contribuir com a formação do jovem
aluno do ensino médio.
Assim, o material didático, não só para a sociologia, mas para as diferentes
disciplinas encontra-se como um dos recursos mais utilizados no ambiente escolar, pois
cabe a este determinar os conteúdos e condicionar as estratégias de ensino, assumindo
assim, o papel de um currículo escrito. Ao mesmo tempo, que passa a ser um
instrumento legitimador das propostas e discursos oficiais, tornando-se um mecanismo
possuidor de poder no ambiente escolar. Os livros didáticos muito têm a nos revelar a
respeito da sociologia de hoje, e parte disso se dá justamente pelo que eles não dizem,
ou seja, pelo que é pressuposto em seus textos. Daí a relevância de investigar esse
recurso didático.
Nos últimos anos entende-se como Movimento Negro as mais diversas formas
de organização e articulação das negras e dos negros politicamente posicionados na luta
contra o racismo e que visam à superação desse perverso fenômeno na sociedade. São
muitas e ricas as ações ao combate ao racismo que vimos desenvolvendo. Alguns
escritos estimularam o pensamento crítico, com excelência em alguns campos que tem
resultado em avanços reais a questão racial. Como nos alerta Maria Aparecida da Silva
a educação é uma das áreas em que figura o maior número de experiências concretas e
produção teórica nos escopos de trabalhos realizados pelo Movimento Negro e o
pensamento pós-colonial na contemporaneidade. (CARNEIRO, 2002).
O Livro didático é de um recurso extrema importância para o acesso á cultura e
o desenvolvimento da Educação e em muitas circunstâncias o livro didático é o único
contato e foram nos Livros Didáticos onde houve as primeiras denunciações a
sedimentação de papéis sociais subalternos protagonizados por personagens negros e a
retificação de estereótipos racistas. Grupos políticos, acadêmicos, culturais, religiosos e
artísticos com o objetivo explícito de superação do racismo e da discriminação racial, da
valorização e afirmação das histórias e da cultura negra no Brasil de rompimento das
barreiras racistas impostas aos negros e às negras na ocupação dos diferentes espaços e
lugares na sociedade como as instituições escolares. (GOMES, 2017, p.25).
Para tentar compreender que representações sobre as mulheres negras estão
presentes nos Livros Didáticos de Sociologia, construiu-se um percurso metodológico
de análise de dados. Assim, é como aporte desses olhares que nos lançamos sobre a obra
selecionada: o livro didático “Sociologia para jovens do século XXI”.
De acordo com o Guia do PNLD 2018, essa obra se caracteriza por uma
abordagem temática, em torno da qual são apresentados os autores clássicos e
contemporâneos das Ciências Sociais. Uma característica marcante da obra é a
valorização de situações familiares aos jovens para a abordagem dos temas
sociológicos. Nele, a Sociologia é apresentada a partir de fatos do cotidiano,
privilegiando os conhecimentos prévios dos estudantes e problematizando os mais
variados fenômenos da realidade em suas dimensões social, política, econômica e
cultural. Essa característica da obra pode ser observada nos títulos dos capítulos que
fazem alusão a frases, jargões letras de música ou acontecimentos da realidade, por
meio dos quais os principais conteúdos da Sociologia, Antropologia e Ciência Política
serão abordadas.
O livro do estudante, com 400 páginas, é estruturado em torno de três unidades,
cada qual com oito capítulos, somando 24 capítulos compostos por seções e subseções.
A unidade 1, “Sociedade e conhecimento sociológico”, propõem uma introdução ao
pensamento social e tem como objetivo apresentar os principais conceitos das Ciências
Sociais por meio de seus autores e debates clássicos; a unidade 2, “Trabalho, Política e
Sociedade”, destaca a constituição do capitalismo e sua manifestação concreta nos
processos de globalização e neoliberalismo; por fim, a unidade 3, intitulada “Relações
sociais contemporâneas”, oferece uma coletânea de temas atuais que se desenvolvem
em oito capítulos que tratam: 1) da questão urbana e 2) da terra no Brasil, 3) violência e
desigualdades sociais, 4) religiosidade e juventude, 5) racismo e o dilema racial
brasileiro, 6) gênero e dominação masculina, 7) diversidade sexual e de gênero,
e,finalmente, 8) da questão indígena – sendo esses dois últimos temas, trabalhados em
capítulos exclusivos, as novidades dessa edição.
Como anunciado na introdução desse trabalho, os esforços serão voltados para
analisar, ainda que em caráter preliminar, os capítulos destinados à temática de
gênero/raça. No entanto, vale ressaltar que, para uma análise mais apurada da
abordagem do tema na obra, faz-se necessária a leitura atenta e pormenorizada de todo o
volume, a fim de identificar e problematizar as interfaces com as perspectivas de gênero
e o modo como são realizadas, além das mudanças e permanências em relação às
edições anteriores, entre outros.
De acordo com Limoeiro (2016), a obra “Sociologia para jovens do século
XXI”, em sua edição do PNLD de 2015, mobiliza autores majoritariamente do eixo
ocidental de produção acadêmica, dentre os quais destaca Deborah Blum, Joan Scott,
Simone de Beauvoir, Alfred Kinsey, Michel Foucault, Luiz Mott, Miriam Abramovay,
Mary Garcia Castro e Lorene Bernardete da Silva. Ressalta, assim, pelas ausências e
presenças, privilégios epistêmicos e hierarquia de saberes. Já na edição de 2018, a
crítica do feminismo negro e decolonial são incorporadas ao conteúdo do capítulo 22
enriquecendo o debate. Segundo os autores,
As críticas trazidas por algumas feministas dessa terceira onda […] vêm no
sentido de mostrar que o discurso universal é excludente; excludente porque
as opressões atingem as mulheres de modos diferentes, seria necessário
discutir gênero com recorte de classe e raça, levar em conta as
especificidades das mulheres. Por exemplo, trabalhar fora sem a autorização
do marido jamais foi uma reivindicação das mulheres negras/pobres, assim
como a universalização da categoria “mulheres” tendo em vista a
representação política, foi feita tendo como base a mulher branca de classe
média. Além disso, propõe, como era feito até então, a desconstrução das
teorias feministas e representações que pensam a categoria de gênero de
modo binário, masculino/feminino (PEREIRA, 2018 apud OLIVEIRA;
COSTA, 2016, p. 346).
O Livro Didático “Sociologia para jovens do século XXI”, traz reflexões na qual
o olhar sociológico diante das diversidades, questões de gênero, raça, classe às questões
raciais, se fazem presentes ao ponto de suscita reflexões interessantes, e diante das
mesmas possa possibilitar os avanços diante dos desafios enfrentados pelas populações
que fogem do olhar colonizador, e das normas impostas pelo patriarcado
heteronormativo, apresentando as contribuições para as Ciências Sociais, e sobretudo,
tomar a educação como prática de liberdade instigando os estudantes a se pensarem
como participantes desses processos sociais e os ensinando a transgredir.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
_____. Pensamento social brasileiro nos livros didáticos de Sociologia; balanço. XVI
Congresso Brasileiro de Sociologia, Salvador (BA), 2013.
_____. Notas sobre o pensamento social brasileiro nos livros didáticos de Sociologia.In:
Revista brasileira de Sociologia, vol. 02, nº 03, jan/jun 2014.
OLIVEIRA, L. F.; COSTA, R.C.R. Sociologia para jovens do século XXI. 3° edição.
Riode Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2013.
______. Sociologia para jovens do século XXI. 4° edição. Rio de Janeiro: Imperial
Novo Milênio, 2016.
RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? 1ª ed. – São Paulo:
Companhia de Letras, 2018.