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EAD

Modos de Educar Segundo


Desmembramentos do
Pensamento Clássico:

3
Sociologia e
Educação no Brasil

1. OBJETIVO
• Abordar aspectos do pensamento sociológico brasileiro
que apontem estreitamento da relação entre Sociologia
e educação.

2. CONTEÚDOS
• Alguns registros sobre a Sociologia no Brasil.
• Sociologia brasileira como uma forma de pensar a edu-
cação.

3. ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Na verdade, o que se propõe aqui talvez caracterize mais um
esclarecimento do que uma orientação para o estudo desta unida-
de, que está voltada para algumas reflexões em torno da Sociolo-
gia e da educação no Brasil.
80 © Sociologia da Educação

A ideia é chamar a atenção para o recorte dado ao conteú-


do proposto, que leva em consideração o fato de que não é fácil
delimitar com precisão e indicar de uma vez por todas o que estu-
dar na Sociologia da Educação. Essa dificuldade existe porque há
inúmeros assuntos que podem ser por ela analisados: das teorias
clássicas ao namoro, passando pelo insucesso escolar ou pela di-
versidade cultural, muitos fenômenos sociais podem ser alvo de
investigação no campo educacional.
Além da extensão, quantidade e variedade de temas de in-
vestigação sociológica, temos de contar, também, com a possibi-
lidade do desaparecimento de alguns deles, assim como com o
surgimento de outros novos, em virtude de mudanças ocorridas
na sociedade. Por exemplo: há alguns anos, a influência dos celu-
lares nas interações sociais era um tema sociológico impossível de
ser pesquisado porque ainda não existiam celulares.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A organização do pensamento sociológico é fruto de um
processo que se fundamenta nas condições históricas, políticas,
econômicas e sociais do capitalismo, que tem início na Europa do
século 14 e é implantado no século 19, quando o pensamento so-
cial passou a ser elaborado cientificamente. Nesse momento, a so-
ciedade torna-se objeto de pesquisa.
Por ser a Sociologia uma ciência social que se pensa o tempo
todo, que se questiona continuamente à medida que se desenvol-
ve e se modifica, ela apresenta peculiaridades ao se organizar no
Brasil.
Diante da questão básica da Sociologia, que é continuamen-
te buscar resposta para a pergunta "o que torna possível a orga-
nização social das relações entre os seres humanos?", constata-
mos que as três respostas clássicas para essa pergunta (a de Émile
Durkheim, a de Max Weber e a de Karl Marx) tiveram diferentes
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Educação no Brasil 81

repercussões no pensamento sociológico brasileiro, que também


acompanhou as condições de desenvolvimento do capitalismo e
da inserção do país na ordem capitalista mundial.
A produção sociológica brasileira não deixou de refletir as
relações coloniais com a Europa e o avanço do capitalismo depen-
dente, bem como acompanhou a transição de uma sociedade de
base agrária para uma sociedade na qual a burguesia industrial
adquire primazia.
Primazia essa no sentido de conduzir as direções econômi-
cas, políticas e culturais, segundo as quais se organizam as intera-
ções sociais na cidade e no campo, na agricultura e no comércio,
no governo e na educação e que vai sendo adquirida do século 19
em diante.

5. ALGUNS REGISTROS SOBRE A SOCIOLOGIA NO


BRASIL
No final do século 19 e início do século 20, a modernização
do Brasil passou a ser importante para a burguesia emergente,
uma vez que ela necessitava de um saber mais pragmático, que
não estivesse vinculado à herança colonial. Por essa razão, orga-
nizou-se um movimento para modificar a sociedade e a cultura e
orientou-se o pensamento social para as mudanças sociais. Nes-
sa orientação, também estava presente a ideia da importância da
educação para a compreensão das mudanças sociais em curso.
Nesse contexto, surgem estudos históricos, críticas literárias
e análises com caráter sociológico, como Os Sertões, de Euclides
da Cunha. Um painel das mudanças intelectuais desse período
apresentado por Fernando de Azevedo registra que se trata de:
[...] um período em que as ciências matemáticas tomam novo im-
pulso com Otto Alencar, entra em atividade o Museu Paraense fun-
dado por Emilio Goeldi, em 1855. Hermann von Ihering é chamado
a dirigir o Museu Paulista em 1893 e lhe dá alto cunho científico;
Barbosa Rodrigues reorganiza o Jardim Botânico e Nina Rodrigues

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empreende na Bahia pela primeira vez um estudo rigorosamente


científico de parte considerável de nossa população constituída
pelo elemento afro-americano. Além do Museu Nacional que passa
por grande transformação sob a impulsão de Batista Lacerda (AZE-
VEDO, 1950, p. 25).

Mas quais seriam as mudanças sociais em processo pelas


quais o Brasil deveria passar e que acarretariam sua moderniza-
ção?
Para Florestan Fernandes, seria o projeto de industrialização
maciça e a urbanização que passam a ter uma importância maior
para a industrialização. É do seu livro A condição de sociólogo que
extraímos algumas ideias que complementam essa resposta:
O sistema de produção, que começa a se diferenciar já na última
década do século XIX desencadeando um processo de industria-
lização incipiente, encontra na década de 20 um florescimento e
é exatamente a partir da pressão de círculos mais ligados com o
mercado interno e com a produção para o mercado interno, que se
delineia uma filosofia política favorável à industrialização maciça.
[...] Redefine-se [...] a relação entre urbanização e industrialização
(FERNANDES, 1978, p. 42-43).

O florescimento da década de 1920 ao qual se refere Flo-


restan Fernandes resultará em alterações que se refletem a partir
da década de 1930 e propiciam à educação o mesmo grau que os
problemas sanitários haviam alcançado junto ao processo de in-
dustrialização e urbanização.
Nesse processo, ocorre a chegada da Sociologia no Brasil
entre 1925 e 1928, quando ela passa a integrar os currículos do
ensino secundário, a começar pelo Colégio Pedro II, no Rio de Ja-
neiro, em seguida pela Escola Normal do Recife, criada por Gilber-
to Freyre, e, depois, em São Paulo, introduzida por Fernando de
Azevedo – é o que menciona a professora Débora Mazza (2004, p.
98), que considera essas "informações curiosas e elucidativas, pois
sugerem que foi por intermédio dos currículos escolares do Ensino
Médio, da escola normal e dos professores" que a Sociologia che-
gou ao nível universitário.
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Educação no Brasil 83

A explicação de Octávio Ianni (1989) para essas circunstân-


cias é que, antes da década de 1930, o pensamento social brasilei-
ro estava pautado por estudos, escritos de historiadores, cronistas,
políticos, juristas, economistas, escritores, críticos de literatura de
cunho sociológico com contribuições de interesse para a Sociolo-
gia. Daí Fernando de Azevedo, por exemplo, mencionar Sílvio Ro-
mero, Pontes de Miranda e Delgado de Carvalho como "pionei-
ros da Sociologia no Brasil", possivelmente por entender que eles
teriam "preparado o terreno" para a fecundação da Sociologia,
propriamente dita. Isso sem desconhecer as contribuições de Nina
Rodrigues, Euclides da Cunha, Oliveira Lima e Manoel Bonfim.
Esses e outros nomes da história da Sociologia e do pensa-
mento brasileiro mantiveram um diálogo com autores franceses,
alemães, ingleses, estadunidenses e de outros países, o que torna
parte do espírito da Sociologia brasileira tributário das correntes
de pensamento da Sociologia mundial. Contudo, segundo Ianni
(1989, p. 86), o que diferencia o lugar da Sociologia até o final da
década de 1920 e os rumos que ela tomaria na década de 1930 é
que, até então:
[...], a tônica era dada por formas de pensar relativamente pouco
comprometidas com a consistência lógica da análise científica, com
as exigências metodológicas da pesquisa de campo ou reconstru-
ção histórica.

Ao acompanharmos o incremento da industrialização, ve-


mos que é a partir da década de 1930 (e nas seguintes, em escala
cada vez mais acentuada) que a Sociologia brasileira ganha novo
impulso e se estrutura como um sistema significativo, como uma
forma criadora e nova de refletir sobre as questões sociais. A fun-
dação da Escola Livre de Sociologia e Política em São Paulo no ano
de 1933 e, depois, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo-USP são os marcos que atribuem à So-
ciologia o status de conhecimento sistemático, a partir dos quais
ela se transforma em uma disciplina capaz de elaborar novas expli-
cações sobre a realidade brasileira, de refletir sobre os problemas
e de produzir explicações.

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84 © Sociologia da Educação

Nesse contexto, despontam os intelectuais da "geração


de 1930": Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de
Hollanda e Fernando de Azevedo, que teve um papel importante
na concretização da relação entre Sociologia e educação.
Tanto a Escola Livre de Sociologia como a USP convidaram
professores do exterior para formar profissionais de ciências so-
ciais. Dentre eles, vieram: Donald Pierson, Radcliffe-Brown, Lévi-
Strauss, Georges Gurvitch, Roger Bastide, Paul Arbousse-Bastide
e Fernand Braudel. Dadas essas condições, formou-se o primeiro
grupo de sociólogos que desenvolveu pesquisa a partir da década
de 1950: Florestan Fernandes, Maria Isaura Pereira de Queiroz e
Antonio Candido de Mello e Souza.
A década de 1950 foi marcada pelo pensamento sociológi-
co de Florestan Fernandes e Celso Furtado, responsáveis por duas
correntes de pensamento social de repercussões muito consisten-
tes nas pesquisas sociais brasileiras. Temos, também, nessa mes-
ma década, a participação de Darcy Ribeiro, que, como os demais
intelectuais de sua época, procurou unir a teoria à prática, adap-
tando modelos científicos à realidade brasileira.
A seguir, observe um trecho da obra A condição de sociólogo
(1978), de Florestan Fernandes, em que ele descreve como iniciou
os seus estudos:

Florestan Fernandes (1920-1995) por ele mesmo–––––––––––


[...] eu seria, como figura humana, aquilo que os
historiadores, os antropólogos e os sociólogos cha-
mam de personalidade desenraizada. Eu sou um
desenraizado. Eu sou descendente de uma família
de imigrantes portugueses que se deslocaram do
Minho para o Brasil, pessoas rústicas. E, inclusive
para poder estudar, tive que enfrentar um conflito
com minha mãe. Precisei dizer-lhe: "a partir desse
momento, ou fico em casa e vou estudar, ou saio de
casa para estudar e a senhora perde o filho". Nessa
ocasião eu já tinha dezessete anos, tinha feito parte
do ensino primário, tinha lido muitos livros. Por sorte,
Figura 1 Florestan Fernandes.
encontrei pessoas com as quais eu podia conversar;
fui formando a minha biblioteca e tinha uma pseudo-
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Educação no Brasil 85

-erudição em várias áreas. Mas eu era um desenraizado e não me vinculara a


nenhum grupo intelectual em São Paulo. A primeira vinculação que eu adquiri
coincide com meu curso de madureza (FERNANDES, 1978, p. 30).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Florestan Fernandes (1978) conta que, em 1944, foi convi-
dado por Fernando de Azevedo para ser assistente da cadeira de
Sociologia II e que levou para o ensino as suas preocupações, pon-
do os estudantes em contato com as ideias do que deveria ser a
Sociologia. São perspectivas que nos oferecem uma dimensão dos
caminhos que o pensamento sociológico trilhou e trilha no Brasil,
considerando-se que muitas dessas ideias continuam circulando
entre nós, como, por exemplo, agora, no texto desta unidade.
O estudante conta com condições precárias para montar sua vida
intelectual. [...]. Por causa disso, fui levado a pensar sobre o ensino
em termos instrumentais e procurei estabelecer uma ligação entre
o que o estudante aprendia e o que ele deveria aprender. [...]
Confesso que na realização dessa tarefa crítica – impessoal e insti-
tucional – tive uma relativa sorte, pois o companheiro Antonio Can-
dido estava enfrentando reflexões análogas. [...]. Começamos a tra-
balhar no sentido de simplificar os programas, de torná-los menos
gerais e de introduzir matérias que os estudantes não aprendiam.
De outro lado procuramos, no ensino do primeiro ano, compen-
sar mais aquilo que o estudante não aprende na escoa secundária.
O estudante vinha com uma bagagem muito pobre. Ele precisava
aprender saturar falhas que são do sistema escolar (FERNANDES,
1978, p. 20).

Nesse trecho, é interessante destacar que, nos relatos do


professor Florestan Fernandes, há um contexto que oferece opor-
tunidade para percebermos a presença da dimensão político-pe-
dagógica à qual se refere o educador Paulo Freire, traduzida pela
ideia de que todo ato educativo é um ato político e sobre a qual a
continuidade do pensamento não deixa dúvidas.
Apesar de estar envolvido no plano político com o movimento mar-
xista, eu não impugnava nem os outros métodos nem as outras
teorias. Eu compreendia Marx e Engels em termos da contribui-
ção que eles davam às ciências sociais e não tentando confundir o
socialismo com a minha atividade docente. De qualquer maneira,
quando comecei a ensinar eu induzi os estudantes a participar de
minhas preocupações. Penso que em termos pedagógicos a minha

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orientação foi construtiva, já que os levei a ler muitos autores que


eram ignorados ou mal conhecidos (FERNANDES, 1978, p. 18-19).

Entre a década de 1940 e 1960, a Sociologia brasileira produ-


ziu pesquisas denunciando as desigualdades sociais e as relações
de domínio e opressão, tanto internas quanto externas, com bases
na Sociologia crítica, até que ocorreram as mudanças do contexto
histórico em 1964.
Esse período envolveu três etapas da evolução da Sociologia
brasileira brotadas da experiência paulista, como propõe Florestan
Fernandes (1980, p. 16):
• Em um dado momento fazer ciência, implantar a sociologia e a
investigação sociológica segundo os cânones mais rigorosos do
raciocínio científico foi essencial.
• A ciência e a investigação sociológica exigiam reflexão crítica, e
reflexão crítica metódica, sistemática, o que exigia submeter a
sociedade brasileira a um novo crivo crítico, centrado, como pen-
samento crítico e negador, na análise da sociedade de classes do
capitalismo periférico, dependente e subdesenvolvido;
• Abateu-se sobre o Brasil a vitória da reação e contra-revolução
e todos os que estavam ligados a essa sociologia foram repudia-
dos. Nessa instância a sociologia passa de autoconsciência crítica
à condição de arma de combate.

Em dezembro de 1968, com a decretação do Ato Institucional


número 5 – AI-5, os principais nomes da Sociologia no Brasil foram
sumariamente aposentados ou exilados e impedidos de publicar
seus trabalhos no Brasil, estando entre eles Florestan Fernandes e
Celso Furtado, além de Octávio Ianni, Fernando Henrique Cardoso
e Paul Singer. Nesse momento, a Sociologia depara-se com a ne-
cessidade de uma reformulação por tratar-se de um período em
que não bastava ao pensamento sociológico apenas "conhecer a
sociedade"; era preciso ir além e associar-se ao enfrentamento das
forças sociais que manipulavam a crise para detê-la ou transformá-
-la (FERNANDES, 1980).
A partir de 1980, com o início da abertura política, as ci-
ências sociais, de modo amplo, foram retomadas com um novo
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Educação no Brasil 87

empenho, e a Sociologia, de modo específico, pôde enveredar-se


por novos rumos, tornando-se cada vez mais interdisciplinar e plu-
ral, multiplicando seus objetos de estudo em função da própria
realidade, cada vez mais diversificada e globalizada. Nesse novo
contexto, a Sociologia brasileira passou a pesquisar temas como
redefinição do conceito de dependência, divisão internacional do
trabalho e globalização. Diante dessa temática, dois respeitados
nomes fazem-se presentes: o professor Milton Santos e o profes-
sor Octavio Ianni.

6. SOCIOLOGIA BRASILEIRA COMO UMA FORMA DE


PENSAR A EDUCAÇÃO
A Sociologia foi introduzida como disciplina, inicialmente,
em cursos de formação de professores na Escola Normal do Recife
e no tradicional Colégio Pedro II do Rio de Janeiro.
A partir da Reforma Francisco Campos (1931-1932), o ensi-
no secundário passou a ser dividido entre o ciclo fundamental e
complementar; a Sociologia compôs o currículo do segundo ciclo.
Somente após esse período, houve a inserção dessa disciplina nos
currículos de Ensino Superior: primeiro, na Escola Livre de Sociolo-
gia e Política de São Paulo e, depois, na Universidade de São Paulo
– USP.
Então, a Sociologia passou a atender a algumas exigências,
entre as quais estavam:
• estudar o Brasil por meio de uma perspectiva nossa, ou
seja, de forma nacional, deixando de lado padrões produ-
zidos unicamente pelos europeus;
• incentivar o nacionalismo, unindo as camadas sociais em
torno de um projeto político, econômico e social brasilei-
ro;
• explicar a realidade nacional com os olhares voltados para
a modernização do país.

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88 © Sociologia da Educação

Desse modo, a Sociologia vai consolidando-se mediante o


posicionamento intelectual de uma nova geração de sociólogos
que, procurando independência das ideias europeias, passa a
analisar os diferentes problemas sociais brasileiros a partir de sua
própria realidade. Entre os problemas em pauta, está a educação,
que passa a constituir objeto de pesquisa da Sociologia Brasileira
na forma de discussões sobre o seu papel na mudança social e no
desenvolvimento econômico do país, entendendo-se a educação
como fator de transformação social.
Nesse contexto, houve alguns movimentos muito importan-
tes em favor da educação nacional, tais como o entusiasmo pela
educação e o otimismo pedagógico, os quais acabaram influen-
ciando um grupo de educadores nacionais em prol do movimento
conhecido como Escola Nova; entre eles, citamos Lourenço Filho,
Arthur Ramos, Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo.
A seguir, observe como Nelson Piletti (1994) descreve o edu-
cador Fernando de Azevedo:

Um perfil do mestre Fernando de Azevedo traçado por


Nelson Piletti–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Hoje, tomado de perplexidade ante a situação na-
cional, em particular no campo educacional, em to-
dos os seus níveis e modalidades, volto a Fernando
de Azevedo, quiçá em busca de alguma luz que ilu-
mine nossos caminhos, e me pergunto: com base
em minhas limitadas investigações e reflexões,
que perfil poderia traçar de Fernando de Azevedo?
Quem foi o homem Fernando de Azevedo?
Fernando de Azevedo foi, acima de tudo, um ho-
mem íntegro, um humanista na verdadeira acepção
da palavra. Por isso, um homem permanentemen-
te atormentado, "de espírito inquieto e insatisfeito
Figura 2 Fernando de Azevedo. consigo mesmo e com quase tudo que vê à volta
de si", como reconheceu em seu discurso de posse
na Academia Brasileira de Letras, em 1968. Por isso, um homem que lutou pelo
desenvolvimento do humanismo, o qual, em suas palavras, "não está na matéria
que ensinamos (seja qual for, letras ou ciências), mas no espírito que nos anima
no ensino de qualquer disciplina e na maneira de ensiná-la". Por isso, que o di-
gam Florestan Fernandes, Antonio Cândido e Maria Isaura Pereira de Queiroz,
seus assistentes na USP, o seu apoio àqueles que com ele trabalharam, a sua
solidariedade ativa para com os colegas, levando-o a comparecer espontanea-
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Educação no Brasil 89

mente, apesar de aposentado, para acompanhar de perto os depoimentos dos


professores convocados para depor em inquérito policial militar, em 1964 (adap-
tado de PILETTI, 1994).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Anísio Teixeira, assim como Fernando de Azevedo, fazia par-
te do grupo de educadores que, na década de 1930, organizavam
suas obras com fundamentações metodológicas e que inspiraram
a renovação educacional da Escola Nova, um movimento que de-
fendia o ensino público como a única forma de se alcançar uma
sociedade mais justa e democrática mediante a existência de uma
escola gratuita para todos, leiga e organizada pelo Estado. O méri-
to que podemos creditar ao movimento é que ele trouxe um avan-
ço nas discussões sobre a educação no Brasil e direcionou para o
centro do debate a educação enquanto uma questão social.

Anísio Teixeira: expressão de um pensamento radical–––––––


Nos anos de 1960, [...] sua trajetória foi novamen-
te colocada à prova. A ditadura militar constrangeu a
Universidade de Brasília e quebrou, como dizia Darcy
Ribeiro, uma das coisas mais importantes que Anísio
fizera no país: o centro brasileiro e os centros regionais
de pesquisa. De novo se frustrava a tentativa de tor-
nar a educação uma área de investigação acadêmica.
O Inep foi desativado como agência de produção da
pesquisa educacional, tornando-se, primeiramente, um
órgão burocrático e depois uma agência financiadora
de estudos e pesquisas na área. Algumas das suas
publicações como Educação e Ciências Sociais foram
suspensas e outras, como a Revista Brasileira de Estu-
Figura 3 Anísio Teixeira.
dos Pedagógicos, passaram a ter edição irregular. Os
acervos documentais e bibliográficos, laboriosamente organizados pelo Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais, foram dilapidados.
Banido, suspeito, excluído. Respondeu à violência com o seu trabalho, o traba-
lho possível, como professor visitante em universidades estrangeiras, tradutor,
conferencista, membro integrante do Conselho Nacional de Educação, ideali-
zador do Instituto de Estudos Avançados em Educação (IESAE) no Rio de Ja-
neiro. Numa carta que Anísio Teixeira escreve a Monteiro Lobato em janeiro de
1947, ele afirma: "[...] Os sonhos não se realizam sem que primeiro se armem
os andaimes. E uma construção em andaimes pede imaginação e amor para ser
compreendida" (VIANNA; FRAIZ, 1986, p. 104). [...] Uma escola que construa um
solidário destino humano, histórico e social foi o grande sonho de Anísio Teixeira,
para o qual procurou construir os andaimes (adaptado de NUNES, 2001).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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90 © Sociologia da Educação

Em 1932, foi publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educa-


ção Nova, encabeçado por Fernando de Azevedo e assinado por
outros 26 educadores. Trata-se de um documento do qual extraí-
mos um trecho que tem especificidades na área da Sociologia, mas
que, ao ser lido e compreendido na íntegra, deixa transparecer
sua atualidade para reflexões e debates. Ressaltamos que uma das
vertentes de um debate pode ter como base os conflitos que ocor-
reram entre os católicos e os pioneiros da educação nova. Leia, a
seguir, esse trecho:

O papel da escola na vida e a sua função social––––––––––––


Mas, ao mesmo tempo que os progressos da psicologia aplicada à criança co-
meçaram a dar à educação bases científicas, os estudos sociológicos, definindo
a posição da escola em face da vida, nos trouxeram uma consciência mais nítida
da sua função social e da estreiteza relativa de seu círculo de ação. Compreen-
de-se, à luz desses estudos, que a escola, campo específico de educação, não é
um elemento estranho à sociedade humana, um elemento separado, mas "uma
instituição social", um órgão feliz e vivo, no conjunto das instituições necessárias
à vida, o lugar onde vivem a criança, a adolescência e a mocidade, de conformi-
dade com os interesses e as alegrias profundas de sua natureza. A educação,
porém, não se faz somente pela escola, cuja ação é favorecida ou contrariada,
ampliada ou reduzida pelo jogo de forças inumeráveis que concorrem ao mo-
vimento das sociedades modernas. Numerosas e variadíssimas são, de fato,
as influências que formam o homem através da existência. "Há a herança que
a escola da espécie, como já se escreveu; a família que é a escola dos pais; o
ambiente social que é a escola da comunidade, e a maior de todas as escolas,
a vida, com todos os seus imponderáveis e forças incalculáveis". Compreender,
então, para empregar a imagem de C. Bouglé, que, na sociedade, a "zona lumi-
nosa é singularmente mais estreita que a zona de sombra; os pequenos focos
de ação consciente que são as escolas não são senão pontos na noite, e a noite
que as cerca não é vazia, mas cheia e tanto mais inquietante; não é o silêncio e
a imobilidade do deserto, mas o frêmito de uma floresta povoada" (PEDAGOGIA
EM FOCO, 2010).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Em meados do século 20, o término do período da ditadura
Vargas coincidiu com muitas mudanças que marcaram o cenário
nacional e mundial com as consequências do pós-Segunda Guerra
Mundial. Nesse contexto, o Brasil passou por transformações que
se refletiram nos enfoques estudados pela Sociologia: constituição
de uma sociedade mais justa e democrática.
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Educação no Brasil 91

Foi nesse contexto político em que se lutava para firmar não


apenas um país, mas um mundo democrático que as pressões por
melhorias das condições de vida e o acesso às políticas públicas
se tornaram mais visíveis. Temas como o da mobilidade social e o
da exclusão social passaram a fazer parte das agendas políticas de
diversos grupos e movimentos sociais; nessas pautas, incluía-se a
precariedade da oferta de educação.
Trata-se de um contexto que propiciou a confluência da So-
ciologia com o campo educacional mediante o conteúdo intelectu-
al e a legitimidade acadêmica, a qual procurou atender aos apelos
populares que exigiam a sua participação tanto pela intervenção
de intelectuais na política, quanto pela criação de instituições es-
pecializadas de pesquisa.
No encontro entre Sociologia e educação, conduzindo pes-
quisas sociológicas sobre os problemas brasileiros, estão Anísio
Teixeira, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes e Oracy Nogueira.
Contudo, é importante frisar que não apenas eles se envolveram;
vários segmentos da sociedade civil organizaram-se na luta pela
educação popular e pelo aumento na oferta de ensino às classes
até então excluídas desse processo.
Em uma das passagens do livro A condição de sociólogo, Flo-
restan Fernandes (1978, p. 54-55) conta que:
[...] a sociedade se transformou e nesta transformação, movimen-
tos que antes eram impossíveis adquiriram condições de aparecer
e com certa ressonância ocorreu, então, um casamento entre mo-
vimentos sociais que tinham pouca base de massa mas muito senti-
do fermentativo – eles acabaram fascinando a inteligência inquieta
não só do estudante jovem, de jornalistas, de técnicos.

Um movimento importante foi o Movimento de Defesa da


Escola Pública, que ocorreu a partir do avanço do "setor radical" e
da reação do "setor conservador", que se sentiu ameaçado, sendo
compelido a tomar posição de confronto.
Esse movimento foi uma resposta à interferência conserva-
dora no processo político-legal, em que se discutia a Lei de Diretri-
zes e Bases, mas que:

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92 © Sociologia da Educação

[...] se radicalizou bastante porque o intelectual, posto em confron-


to com diversos auditórios: líderes sindicais, estudantes e jovens in-
conformistas, espíritas, maçons, protestantes, católicos dissidentes
da posição oficial da igreja, gente com politização de esquerda – do
partido trabalhista ao partido comunista e do partido socialista –
descobriu um meio de conhecimento da realidade brasileira e um
meio de intervenção na realidade (FERNANDES, 1978, p. 56).

Nesse sentido, compartilhamos a seguinte pergunta de Ma-


rília Pontes Espósito (1986, p. 57): "por que o povo luta pela esco-
la?". Segundo a autora, o povo, quando luta pela possibilidade de
ir à escola, luta "contra as injustiças que estão na base da socie-
dade". Mais do que isso, quando luta pela escola, "o povo afirma
seu direito de sonhar, de ter seus planos, ainda que carregados de
ilusões. Mas a ilusão sempre acena com a esperança e esta conduz
à ação" – ação essa empenhada pela garantia, na prática, de um
direito garantido na lei.
Ao transformar um sonho em projeto, a participação no mo-
vimento social ensina ao povo, mas ensinaria a um intelectual liga-
do à Sociologia como Florestan Fernandes?
É claro. Primeiro como intelectual na medida em que saí do isola-
mento. Para mim foi uma possibilidade de descobrir as verdadeiras
dimensões do papel que eu tinha ou poderia ter na sociedade bra-
sileira – fato que não percebera antes tão bem como agora. Era um
participante do grupo e discutia em termos de participante para
participante.
Como intelectual aproveitei muito e, principalmente, descobri que
a Sociologia precisa responder às expectativas que não devem nas-
cer dos donos do poder, mas sim de critérios racionais de refor-
ma, que levam em conta as necessidades da Nação como um todo,
ou das pressões históricas de grupos inconformistas (FERNANDES,
1978, p. 61).

A perspectiva sociológica desse movimento apresentada por


Florestan Fernandes dá uma dimensão das lutas sociais no Brasil,
tema caro para a Sociologia da Educação contemporânea como
recurso para evidenciar que certas conquistas essenciais, em ter-
mos de direitos, têm suas raízes nas demandas das classes traba-
lhadoras e nas formas de articulação que as expressam. Daí ser a
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Educação no Brasil 93

temática de movimentos sociais a educação como um objeto de


estudos permanentes de professores e pesquisadores como Maria
da Glória Gohn, Marília Pontes Spósito, Ilse Scherer-Warren, José
de Souza Martins e Lúcio Kowarick.
Com relação ao papel da educação na construção de uma
nova realidade social, temos no sociólogo Florestan Fernandes um
dos pensadores que tentaram compreendê-lo pelo viés de estu-
dos específicos sobre a cultura brasileira. No momento em que
se questionava "o mito da democracia racial", ele sustentou como
resultado de suas pesquisas, ao lado de Oracy Nogueira, que exis-
tia no Brasil muita discriminação e exclusão social em relação aos
negros, diferentemente de Gilberto Freyre, que trabalhava com a
possibilidade de uma "harmonia entre as raças".
As pesquisas de Florestan Fernandes e de Oracy Nogueira
explicitaram diversos aspectos das relações entre negros e bran-
cos no Brasil, alguns dos quais percebemos como evidentes hoje,
mas que, na época, não o eram. Seus resultados contrariaram e
continuam contrariando o senso comum nacional, que postulava
e postula a igualdade entre etnias. Demonstraram que "raça" se
referia à herança biológica e não era uma categoria universalmen-
te reconhecida e, também, que, no Brasil, a ausência da violência
física contra negros, como aquela encontrada nos Estados Unidos,
era compensada por uma extrema brutalidade na repressão aos
pobres, fossem eles brancos ou negros.
Essas são questões sociais que permanecem e que no âm-
bito específico da Sociologia da Educação entraram na pauta de
estudos e pesquisas sistematizadas a partir da inserção da diver-
sidade cultural como um dos temas transversais dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997).
Com relação à educação no Brasil, o ponto de vista de Flo-
restan Fernandes era o de que ela excluía os trabalhadores e os
pobres e que, portanto, era preciso modificar essa injusta realida-
de com a criação de políticas públicas. Para ele, a escola, do modo

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94 © Sociologia da Educação

como estava organizada, servia para convencer a sociedade, mas


não para transformar a realidade. Ele defendia a necessidade de
mudança dos rumos da educação para que ela pudesse oferecer
situações que contribuiriam na construção de uma realidade social
mais justa e democrática.
Nesta altura de nossa reflexão, a pergunta que se faz é: que
outros caminhos tem trilhado a Sociologia brasileira em suas for-
mas de pensar a educação?
No processo de evolução da Sociologia brasileira, há um es-
forço para garantir a diversidade não só temática, mas também
geográfica, na tentativa de oferecer um panorama fundamental
da pesquisa na Sociologia da Educação e das diferenças regionais;
sendo assim, houve um deslocamento da produção intelectual de
São Paulo para vários outros Estados brasileiros.
Com relação às análises de fenômenos educacionais, man-
têm-se a tradição iniciada por Florestan Fernandes e a sua crítica
ao excessivo recorte da própria Sociologia em várias especialida-
des como base para uma Sociologia da Educação que está atenta
para o fato de que dentro da escola estão configuradas tensões,
pressões e contradições sociais muito mais amplas que seus pró-
prios muros.
No entanto, ampliam-se as análises no campo das desigual-
dades educacionais abordado em suas diversas instâncias, desde o
acesso à educação infantil até o acesso ao Ensino Superior; nesse
caso, é comum referir-se aos alunos e às alunas provenientes de
escolas públicas, de setores populares.
Há linhas de pesquisa que contestam os indicadores edu-
cacionais que apontam a diminuição das desigualdades durante
o Ensino Fundamental e Médio, assim como a diminuição da de-
fasagem idade/série. Esses estudos remetem a trabalhos sobre a
escassa e tensa capacidade de absorção por parte do mercado de
trabalho dessa população escolarizada.
© U3 - Modos de Educar Segundo Desmembramentos do Pensamento Clássico: Sociologia e
Educação no Brasil 95

Existem, ainda, grupos que examinam as desigualdades edu-


cacionais com base nas desigualdades de gênero e, nesse campo,
muitas vezes, também está presente o tema do fenômeno educa-
cional do fracasso escolar, quando pautado por critérios que dis-
tinguem meninos e meninas, garotos e garotas. A reflexão sobre
as desigualdades educacionais ocorre, em algumas circunstâncias,
partindo da análise sobre o processo de socialização, tema clássico
na Sociologia da Educação. Como exemplo, temos estudos volta-
dos para o sentimento de professoras e professores diante da tare-
fa que a sociedade parece lhes reservar: a socialização de crianças
e de jovens, ou ainda a disparidade entre escolas públicas e priva-
das quanto à relação estabelecida entre a socialização atribuída às
famílias e à escola.
Ao lado de temas diversos, como desigualdades educacio-
nais, fracasso escolar, relações de gênero, formação docente e re-
ligião, há outros articulados pela Sociologia da Educação que tra-
tam da juventude nas suas formas de ser jovem e no conjunto de
relações entre jovens e adultos, bem como da conjuntura histórica
que os define: valores juvenis relacionados à família, à sexualida-
de, às relações amorosas e conjugais e à escola.
Enfim, como o professor Octavio Ianni expressou no prefá-
cio de seu livro Sociologia da sociologia: o pensamento sociológico
brasileiro (1989), também entendemos que, ao se preocupar em
reconstituir sistematicamente as interações sociais que existem
na prática cotidiana entre as ações que têm por objetivo educar
e as estruturas da vida social, a Sociologia da Educação mantém a
singularidade que lhe é inerente: ela se pensa o tempo todo. No
ensino, na pesquisa, somos obrigados a nos defrontar com con-
trovérsias sobre a problemática da pesquisa e as teorias explicati-
vas. À medida que resultados de estudos, pesquisas e análises são
produzidos, a Sociologia toma e retoma as controvérsias sobre as
perspectivas teóricas, as possibilidades de explicação. O próprio
objeto reitera-se e renova-se nesse contexto. Talvez mais do que
em outras ciências sociais, essa é uma disciplina que se questiona
continuamente, à medida que se desenvolve e se modifica.

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96 © Sociologia da Educação

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A fim de avaliar a sua aprendizagem sobre o conteúdo desta
unidade, tente responder para si mesmo as questões a seguir:
1) Qual é o tema proposto pelo texto desta unidade?

2) Quais são os autores citados no texto? Que conhecimentos você tem sobre
eles?

3) Já havia lido, ouvido ou escrito algo sobre o conteúdo proposto nesta unida-
de? Em que circunstâncias isso ocorreu?

8. CONSIDERAÇÕES
Os clássicos da Sociologia permitem que nos apropriemos
de instrumentos para análises do papel da educação na sociedade
capitalista do final do século 20 e início do 21, compreendendo
quais os novos elementos que estão sendo produzidos na educa-
ção, em especial na escola, que contribuem para a reprodução das
relações sociais em seu caráter mais amplo, ao mesmo tempo em
que identificam quais os elementos que estão sendo reproduzidos
para garantir as novas formas produzidas pelo capital para garantir
seu poder de dominação.
Em contrapartida, o pensamento clássico também gera avan-
ços nas reflexões, dando origem a novas linhas de pensamento que
contribuem para a identificação dos novos elementos produzidos
na educação, na luta pelas transformações das relações sociais de
produção capitalista e pelo reconhecimento dos próprios elemen-
tos que são reproduzidos na educação e na escola como formas de
resistência à exploração imposta pelo capital.
Nesse sentido, o Brasil não é uma exceção, uma vez que os
pensadores da Sociologia brasileira e da educação tomaram as
"descobertas" dos clássicos e mudaram o modo de pensar, indagar
e escrever. Os resultados dos estudos, das pesquisas e das análises
indicam que a incorporação de contribuições de novas teorias al-
© U3 - Modos de Educar Segundo Desmembramentos do Pensamento Clássico: Sociologia e
Educação no Brasil 97

terou a maneira como os estudiosos da sociedade, da cultura e da


história concebem e exercem seus ofícios. Com isso, a Sociologia
da Educação constituiu um legado que não pode ser ignorado e
que apenas terá sua continuidade garantida se aplicarmos e tes-
tarmos os "seus achados", a fim de que novos objetos de pesquisa
sejam produzidos.
Nesta unidade, defendemos a tese de que, para melhor com-
preendermos as transformações ocorridas atualmente na educa-
ção, na formação de professoras e professores e no papel que a
escola cumpre no processo de globalização da economia e da im-
plementação da política neoliberal, é necessário acompanharmos
a evolução da teoria clássica e de seus reflexos na Sociologia da
Educação no Brasil não como ecletismo teórico, mas como refe-
rencial teórico-metodológico, incorporando contribuições valiosas
do pensamento clássico como elementos subordinados ao refe-
rencial teórico-metodológico por nós escolhido.
O debate entre as teorias é característico da Sociologia. Ele
amplia e diversifica a nossa compreensão da sociedade. Com base
nos conceitos sociológicos, tanto daqueles que vimos nesta uni-
dade, quanto de outros que estão elaborados nas inúmeras obras
dos autores citados, podemos observar diferentes dimensões dos
fenômenos sociais da vida cotidiana e, assim, abordá-los de uma
nova maneira.

9. E-REFERÊNCIAS

Lista de Figuras
Figura 1 Florestan Fernandes. Disponível em: <http://www4.usp.br/index.php/
sociedade/8952>. Acesso em: 17 set. de 2010.
Figura 2 Fernando de Azevedo. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S0103-40141994000300016&script=sci_arttext&tlng=en>. Acesso em: 22 set.
2010.
Figura 3 Anísio Teixeira. Disponível em: <http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/modules/
conteudo/conteudo.php?conteudo=20>. Acesso em: 22 set. 2010.

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Site pesquisado
PEDAGOGIA EM FOCO. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Disponível em:
<http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb07a.htm>. Acesso em: 19 set. 2010.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AZEVEDO, F. A cultura brasileira. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1950.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
pluralidade cultural e orientação sexual. Brasília: MEC/SEF, 1997. v. 10.
FERNANDES, F. A condição de sociólogo. São Paulo: Hucitec, 1978.
______. A natureza sociológica da sociologia. São Paulo: Ática, 1980.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 2002.
IANNI, O. Sociologia da sociologia: o pensamento sociológico brasileiro. 3. ed. rev. ampl.
São Paulo: Ática, 1989.
MAZZA, D. A história da Sociologia no Brasil contada pela ótica da Sociologia da Educação.
In: TURA, M. L. R. (Org.). Sociologia para educadores. 3. ed. Rio de Janeiro: Quartet,
2004.
NUNES, C. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Revista Brasileira de Educação, Campinas, n.
16, jan./abr. 2001.
PILETTI, N. Fernando de Azevedo. Estudos Avançados, São Paulo, v. 8, n. 22, set./dez.
1994.
SPÓSITO, M. P. Luta popular por educação: projeto de uma nova escola. Cadernos do
Cedi, São Paulo, v. 15, 1986.

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