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UNIDADE 2
NA ERA PRÉ-INDUSTRIAL:
NA ANTIGUIDADE,
NA IDADE MÉDIA
E NO RENASCIMENTO
Objetivo
• Estudar os princípios fundamentais que nortearam o
processo de escrita da História, destacando seus métodos
e relações com o tempo em que foram produzidos, ao
longo dos seguintes períodos: Antiguidade Clássica
(Grécia e Roma), Idade Média no Ocidente europeu e
Renascimento europeu entre os séculos 15 e 16.
Conteúdos
• A Escrita da História na Antiguidade.
ATENÇÃO!
1
Lembre-se de que a organização
de um horário de estudo é útil
para estabelecer hábitos e,
INTRODUÇÃO
assim, possibilitar que você
utilize o máximo de seu tempo e Na unidade anterior, vimos alguns conceitos gerais sobre a metodologia da
de sua energia. Pense nisso...
Não se esqueça de consultar as História e algumas implicações envolvidas na produção da memória de uma época, ou
informações contidas no Guia seja, os cuidados que devem ser tomados ao se rememorar e reconstituir o passado.
de disciplina e na página inicial
desta disciplina.
Nesta unidade, discutiremos como foi escrita a História ao longo da Antiguidade
Clássica (Grécia e em Roma), na Idade Média (Europa Ocidental) e, por fim, no período
da Renascença europeia.
Nosso objetivo será, portanto, perceber como, durante um período tão extenso,
a escrita da História foi se transformando e qual papel exerceu no contexto cultural do
período em estudo.
Logo, é nesse contexto e com esse papel que surge a História. Segundo Fontana
(1998, p. 18), “da fusão de revolução política e mudanças religiosas surgiu a interpretação
histórica da idade clássica: uma interpretação aristocrática, porém favorável à democracia
e hostil aos velhos mitos em que se assentava a sociedade da realeza e da oligarquia” .
Os “pais” da História
Heródoto de Halicarnasso (c. 485 – c. 424 a.C.) era um historiador por intenção.
Isso ele deixa claro já na inauguração de sua obra sobre as Guerras Médicas (490-479),
em que diz que escrevia para “impedir que caíssem no esquecimento as grandes façanhas
realizadas pelos Gregos e os Bárbaros” (CARBONELL, 19987, p. 16).
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Outro homem grego importante para a História é Tucídides (c. 460 – c. 400 a.C.),
que se estabelece como historiador fazendo justamente uma crítica radical a Heródoto.
Figura 1 Busto de Tucídides. Afirma Carbonell (1987, p. 17) que: “com a História da Guerra do Peloponeso,
de Tucídides, nascem simultaneamente o método e a inteligência do historiador: a crítica
das fontes e a procura racional do encadeamento causal”.
Já que as fontes seriam apenas o que pudesse ser observado, era tirada do
historiador qualquer possibilidade de analisar aquilo que estivesse distante de seu tempo
de vida. O saber histórico em Tucídides é, exclusivamente, o observado.
3
irmãs, chamadas “as cantoras
CLIO CRISTÃ: HISTORIOGRAFIA NA ERA MEDIEVAL divinas”, habitava o monte
Hélicon.
Segundo a mitologia, reunindo-
O conturbado fim do Império Romano do Ocidente e o crescimento cada vez maior se sob a assistência de Apolo,
junto à fonte Hipocrene, as
da igreja cristã é o cenário da emergência de um novo tipo de escrita da História. musas presidem as artes e
as ciências. Clio tem o dom
Fontana (1998, p. 28) afirma a existência de “uma historiografia cristã que, de inspirar os governantes
e restabelecer a paz entre
ainda que escrita em latim, não surge da romana clássica por um processo de evolução ou os homens, e a essa função
degeneração, mas antes responde a uma nova concepção da sociedade – à necessidade é especialmente devotada.
Além disso, ela é a musa da
de justificar um novo sistema de relações entre os homens”. História e da criatividade, aquela
que divulgava e celebrava
Esse novo sistema de relações entre os homens se dará em vista dos seguintes realizações. Ela preside a
eloquência, sendo a fiadora das
fatores: relações políticas entre homens
e nações. É representada
• Crise generalizada do fim do Império Romano do Ocidente. como uma jovem coroada de
louros, trazendo, na mão direita,
• Processo de invasões dos povos germânicos do norte da Europa. uma trombeta e, na esquerda,
um livro intitulado Thucydide.
• Ruralização profunda pela qual passou o Ocidente europeu entre os séculos Outras representações suas
3º e 8º da era cristã. apresentam-na segurando
um rolo de pergaminho e uma
pena, atributos que, às vezes,
Nesse cenário, houve uma instituição que veio se consolidando no período final
também acompanham Calíope.
do Império Romano, a qual sobreviveu à crise e conseguiu tornar-se o centro fundamental Clio é considerada a inventora
das referências culturais da sociedade europeia ocidental. Essa instituição é a Igreja da guitarra, de forma que, em
algumas de suas estátuas, ela
(ANDERSON, 1994). traz esse instrumento em uma
das mãos e, na outra, um plectro
(palheta).
Dentro da Igreja, começaram a emergir os pensadores, inclusive historiadores,
que passaram a justificar o novo modelo social que surgiu como resultado dessa lenta
transição da chamada Antiguidade Clássica para a denominada Idade Média.
ATENÇÃO!
Assim, um novo sistema social, o feudalismo, apareceu como a solução para Portanto, podemos concluir
dessa afirmação que mudanças
a intensa ruralização que a sociedade da Europa ocidental sofreu ao longo da crise de na sociedade serão refletidas no
transição. Surge, dessa forma, a historiografia cristã. modo como a História é escrita.
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Essa forma de observar a História surge com Santo Agostinho, que, no século
5º, estabelece uma filosofia da História fundamentada na visão cristã.
Foi um modo de produção regido pela terra e por uma economia natural, na
qual nem o trabalho nem os produtos do trabalho eram bens. O produtor
imediato – o camponês – estava unido ao meio de produção – o solo – por
uma específica relação social. A fórmula literal deste relacionamento era
proporcionada pela definição legal de servidão: os servos juridicamente
tinham mobilidade restrita. Os camponeses que ocupavam e cultivavam a
terra não eram seus proprietários. A propriedade agrícola era controlada
privadamente por uma classe de senhores feudais, que extraía um
excedente de produção dos camponeses através de uma relação político-
legal de coação.
Dessa forma, a Igreja, que, segundo Fontana (1998), sem essa justificativa
histórica teria sua posição social colocada em perigo, veio em socorro do sistema feudal,
criando a chamada “teoria das três ordens”, de maneira que a mais famosa é a do bispo
Adalberon de Laon, realizada provavelmente entre 1025 e 1027. Segundo esse bispo:
vez, têm outra condição. Esta raça de infelizes não tem nada sem sofrimento.
Fornecer a todos alimentos e vestimenta: eis a função do servos. A casa de
Deus, que parece uma, é portanto tripla: uns rezam, outros combatem e outros
trabalham. Todos os três formam um conjunto e não se separam: a obra de uns
permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos
outros (JUNIOR, 1986, p. 72).
Surgia, então, a teoria das três ordens: o clero, a nobreza feudal guerreira e
os servos camponeses. Nesse sentido, Fontana (1998, p. 34) lembra que “a Igreja reagia
assim contra sua marginalização na nova ordem feudal, oferecendo-lhe uma legitimação,
ao mesmo tempo que a defendia e se defendia contra um inimigo comum: a heresia
popular igualitária”.
É importante ressaltar que o grande historiador dessa fase foi Joaquim de Fiori
(c.1132-1202).
Abade da Calábria, Joaquim de Fiori articulou em seus textos a visão das três
ordens com alguns discursos proféticos, algo que lhe causou reprovações no Concílio de
Latrão, apesar do tom geral de elogios a sua obra. As mesmas críticas sofreu a obra de
Frei Dolcino, que levou a discussão profética para a construção de uma sociedade mais
justa, influenciando, decisivamente, os movimentos de reforma dentro da Igreja e as
heresias populares.
Já no século 14, a Idade Média assistia à decadência do modelo das três ordens
com o chamado renascimento comercial e das cidades. Nesse período, uma grave crise
atingiu em cheio o mundo feudal. As revoltas camponesas, a peste e a fome espalharam-
se pela Europa ocidental, ocasionando transformações cada vez mais radicais no sistema.
Novamente, Fontana (1998, p. 38) esclarece as relações entre as transformações sociais
e a escrita da História:
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• A crítica documental.
• A chegada de novos instrumentos de pesquisa.
• A difusão das produções em texto escrito.
Ainda que a suspeita de que se tratava de uma fraude havia sido já exposta
por diversos autores, foi o humanista Lorenzo Valla, a serviço de Alfonso,
o Magnânimo, de Nápoles, e obrigado a defender o seu soberano contra as
pretensões políticas do papado, quem fez uma crítica demolidora do documento
e pôs em evidência os anacronismos, erros de linguagem e inexatidões de toda
a ordem que continha.
Figura 4 A Escola de Atenas, afresco de Rafael (Raffaelo Sanzio). Roma, Stanza della Segnatura,
Palácio do Vaticano.
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Para Pasquier, o historiador deveria fazer uma crítica profunda às fontes e definir
rumos em que pudesse explicar, logicamente, a sociedade com não menos eficácia do que
as equações matemáticas.
Por fim, Bodin, que divide a História em três ramos: o natural, o sagrado e o
humano, defende que o historiador deve se ocupar do ramo humano, buscando construir
uma ciência que dê conta de explicar racionalmente a ascensão e queda dos impérios e
civilizações (CARBONELL, 1987).
No século 17, contudo, essa corrente histórica foi varrida da França para o
surgimento de outra que defendia a Igreja e o Absolutismo, uma espécie de Renascimento
da História Cristã medieval, mas com características da sua época, destacando-se a defesa
do absolutismo.
Dessa forma, não é possível construir uma ponte imediata entre o Renascimento
italiano e a Ilustração francesa ou o liberalismo inglês (temas da próxima unidade). Fica
claro, pois, que o período do século 15 ao 18, trata-se de uma fase de transição, em
que estruturas da antiga sociedade feudal coexistem com estruturas da nova sociedade
capitalista. Esse fenômeno manifesta-se na produção histórica, impossibilitando a
elaboração de uma síntese da forma em que se escreveu a História na chamada Idade
Moderna.
5 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, procuramos analisar o surgimento do pensamento histórico,
desde a Antiguidade até o período da modernidade.
6 E-REFERÊNCIAS
Chamada numérica
Lista de figuras
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, P. Passagens da Antigüidade ao Feudalismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense,
1994.
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Anotações