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Tópicos ***(estudar tudo, mas dar mais importância a estes)

• Historiografia mítica
o ciclo pré-fundacional
o ciclo fundacional
o lendas do domínio histórico

• Modelos historiográficos de T. Lívio e Salústio (prefácios)

• Características teóricas dos géneros biografia e historiografia

Mitologia Romana
Podemos afirmar que a mitologia romana tem origem indo-europeia,
englobando relatos similares aos presentes no mundo helénico, acádico, entre outros.
Inicialmente, as divindades romanas surgem como figuras vagas, sem narrativas e
desprovidas de qualquer conteúdo mitológico. Contudo, seriam posteriormente
influenciadas pela cultura grega. Alguns deuses não tinham uma representação
pictórica. As ninfas, por exemplo, ligadas a uma natureza essencialmente agrária,
possuíam uma grande importância para a cultura romana. Encontramos,
frequentemente, lendas etiológicas, que explicam a origem das coisas.

Ao longo do tempo, os mitos romanos foram sendo dessacralizados.


Consequentemente, foram perdendo os seus valores religiosos e adquirindo uma
conotação puramente literária. De facto, para os romanos, a fronteira entre a história
e as lendas era muito ténue, não conseguindo separá-las desde os primórdios da
literatura e historiografia romanas (relativamente, inclusive, à fundação de Roma pelos
descendentes de Eneias).

Mitos da Criação e Evolução***


No mundo helénico eram produzidas narrativas de caráter mitológico
relativamente à criação e evolução, nomeadamente quanto à conceção do cosmos, dos
homens e dos deuses. Porém, os romanos não criam mitos, mas lendas que dizem
respeito, quase exclusivamente, à fundação de Roma, da sua civilização e da sua
cultura. De facto, estas lendas remetem tanto a um período anterior à fundação de
Roma, como ao presente em que são criadas (contudo, ao longo dos anos, são-lhes
acrescentadas outras versões, levando à conclusão de que muita da historiografia a que
temos hoje acesso não é verídica). Estas lendas são agrupadas por grupos relacionados
com marcos históricos ou temas gerais.

Existem três grupos de narrativas: ciclo pré-fundacional, ciclo fundacional e lendas


do domínio histórico.
O ciclo pré-fundacional corresponde às lendas prévias à fundação, anteriores à
lenda de Rómulo e Remo. Estas tendem a centrar-se no facto de que os povos que
habitavam o espaço onde Roma viria a nascer descendem dos gregos, reforçando a ideia
de que Roma surge num espaço já civilizado.

O ciclo fundacional, por sua vez, encontra-se relacionado com Eneias, o herói que
representa o início da formação do povo Romano. Este estabelece uma linhagem que
culmina em Rómulo, o fundador de Roma. O salvamento do pai, dos filhos e dos Penates,
faz de Eneias o modelo do cumprimento dos valores romanos (pietas e mos maiorum).

O mito da fundação de Roma conta a história dos gémeos Rómulo e Remo, que são
abandonados junto ao rio Tibre. Estes viriam a ser abrigados e amamentados por uma
loba, chamada Luperca, no Monte Palatino, até serem resgatados por um pastor, cuja
mulher os cria. Já adultos, colocam Numitor no trono da cidade de Alba Longa e fundam,
como colónia desta, outra cidade, na margem do Tibre onde foram criados pela loba,
aclamando-se reis. Segundo a tradição romana, a cidade de Roma é, então, fundada
pelos gémeos em 753 a.C., vindo a florescer e a expandir o seu território. A lenda conta
que, devido a disputas sobre o lugar onde se iria fundar a cidade, Rómulo mata Remo,
tornando-se o primeiro rei de Roma (em 754 a.C.).

Esta narrativa representa, no fundo, uma cosmogonia, tendo em conta o


egocentrismo romano que tomava a sua civilização como o centro da Antiguidade
Clássica. Enquadra-se, assim, numa mitologia política e ideológica, que legitima o
estatuto da cidade. Também as lendas do domínio histórico, resultantes do discurso
historiográfico, ajudariam a cimentar esta ideia.

Historiografia Romana (6)***


• A historiografia romana é caracterizada por uma grande abertura (os
historiadores fazem as suas interpretações e decidem os seus modelos).
• Retira da retórica (género demonstrativo) muitos dos seus elementos e bases
discursivas. Os acontecimentos são narrados numa perspetiva de louvor ou
censura (historiografia de perspetiva).
• Estabelece paradigmas, modelos a imitar (é moralista) e baseia-se no
romanocentrismo (perspetiva romana sobre os factos). São representadas
figuras como paradigmas dos valores e virtudes romanas (como a fidelidade, o
amor pela pátria…). Roma é vista, na generalidade, como o baluarte da
civilização, o centro civilizado e civilizador.
• Possui um grande teor teológico (considerando a fervorosa religiosidade
romana) e teleológico (procura explicar as causas e a finalidade dos seres).
As fontes apresentadas, apesar de relativamente fidedignas, devem ser
questionadas. Este tipo de historiografia viria a dominar o pensamento
historiográfico romano e a legitimar as suas ações, devido à sua superioridade
civilizacional.

Para Cícero, as características do discurso historiográfico devem ser (seis):

• Não dizer nada de falso e ousar dizer tudo o que é verdade;


• Evitar a parcialidade favorecida pelo ódio ou pelo favor;
• Respeitar a cronologia;
• Apresentar as causas e consequências das matérias analisadas;
• Reproduzir os factos e as ações, a vida e o caráter dos homens memoráveis,
sempre em estilo elevado e eloquente;
• A historiografia deve estar subordinada à fides (finalidade dos acontecimentos).

História da Historiografia

A historiografia da época arcaica aborda a história de Roma desde a sua origem


até ao fim das Guerras Púnicas (a lenda de Dido procura justificar este acontecimento).
A obra de Fábio Pictor trata, precisamente, da fundação da cidade. Catão, por sua vez,
escreve uma obra intitulada de “Origenes” acerca da origem mítica da Roma,
enquadrando-a num quadro mais amplo (reconhecendo o peso dos demais povos na
emergência do Mundo Romano). Catão opõe-se à ordem distributiva da historiografia
analista, agrupando os assuntos sem lhes alterar a ordem cronológica. Énio escreve a
história em verso.

A partir do século II, observa-se uma mudança nos temas da historiografia


(coincidindo com a crise da República), cujos assuntos se vão centrar no presente, que
oferecerá um modelo intelectual para interpretar o passado. A historiografia abandona,
desta forma, o modelo centrado nas origens e louvor de Roma. Calpúrnio Pisão mostra
a evolução de uma sociedade compreendida pelas disputas e tensões entre grupos
sociais.

No período imperial, a historiografia perde relevância, na medida em que a


biografia se torna mais popular. A evolução do passado para o presente passa a ser um
elemento estruturante do pensamento historiográfico. Tácito privilegia a interpretação
política, seguindo esta ideia de continuidade.
Salústio (séc. I a.C.)***
Salústio inova a historiografia, rompendo com a tradição analítica. Faz
monografias, obras que estudam um determinado tema. Escreve a Conjuração de
Catilina. Defende o dualismo entre corpo e alma - a alma, sendo aquilo que nos
distingue dos animais, deve ser conservada, ao contrário do corpo, aquilo que nos
aproxima. Rompe, igualmente, com o pressuposto romano de que fazer história se
sobrepõe a escrevê-la, tendo em consideração que esta última implica o primado da
inteligência e uma grande capacidade de reflexão.

Salústio defende que os historiadores devem refletir sobre o presente de forma


a construir uma imagem edificante, que instrua as pessoas. Portanto, a sua
historiografia apresenta-nos uma reflexão sobre a crise política e social de Roma e as
suas desigualdades (que atribui à corrupção moral dos aristocratas). Interpreta a crise
como uma incapacidade de conciliação entre a nobreza e os homens novos (plebeus
que conseguem ascender socialmente e se tornam membros das instituições e governo
romano).

A historiografia de Salústio revela, assim, um caráter moral, trágico e pessimista,


pois transmite a ideia de uma evolução negativa face às qualidades que considera
inerentes ao ser humano (ganância, egoísmo…). Vai, assim, apresentando contrastes
entre vícios e virtudes, tal como entre o passado e o presente (entre a história de Roma
elevada no passado, por causa das qualidades morais dos seus governantes, e
degradada no presente, pois estes convertem-se à corrupção).

Tito Lívio (séc. I a.C.)***


Escreveu a obra Ab Urbe Condita com a intenção de nos dar uma história global
de Roma, desde a sua fundação ao presente. Tito Lívio é o expoente máximo da história
paradigmática, teológica, moral e romanocêntrica, encarando a história de Roma como
uma evolução eufórica desde a sua fundação até ao presente. Esta seria constituída por
uma série de acontecimentos que justificam a sua grandeza perante os outros povos,
eventos protagonizados pelos grandes agentes que corporizam os valores romanos. Diz-
nos que a história evolui em direção ao maior império porque os agentes políticos
possuem estes valores, estas qualidades morais.
Tácito (séc. I-II d.C.)
Escreve duas obras, recuperando o método analítico. Escreve a obra Germânia
que possui referências completas sobre as tradições, hábitos e costumes de outros
povos, constatando que eles são tão humanos quanto os Romanos. A
historiografia deve ser imparcial, sem favorecer nem censurar. Revela-se o primeiro
historiador a enunciar que não envolve as suas crenças pessoais na elaboração do relato
histórico. É uma historiografia política, que pretendia orientar a ação e o
comportamento civil. Desta forma, incidia nos centros de poder e nos conflitos em torno
deste (nomeadamente, nos conflitos entre o imperador, o senado, o exército e,
esporadicamente, o povo).

Em suma, apresenta-nos um tipo de história que explora, essencialmente, os


acontecimentos no âmbito da política, equacionando as guerras. Tácito demonstra uma
visão moralista da história, centrando-se nos agentes políticos em termos morais. Não
manifesta um particular interesse pela vida civil nem administrativa.

Biografia
O género biográfico romano constitui uma extensão das características do próprio
imperador e visa louvar (os bons imperadores) ou censurar (os maus imperadores).
Enquanto as biografias encomiásticas se encarregam de louvar e elevar uma
personalidade, as vituperativas insultam e condenam. A biografia revela-se ineficaz para
o tratamento da história, estando os acontecimentos históricos subordinados ao
biografado, à sua narrativa individual. Assume uma relação estreita com a retórica, pois
manifesta a intenção de louvar ou censurar.

No esquema de ordenação discursiva constam, pela respetiva ordem, as


circunstâncias externas, os atributos físicos (fisiognomonia) e, por fim, vitia e virtutes
(per speccies). Neste último, a cronologia desaparece, o texto é organizado por rúbricas
e os elementos são usados em função dos objetivos que se pretendem atingir. A
biografia utiliza, ainda, rumores, anedotas e o discurso pejorativo, integrando-os na
narrativa historiográfica. Explora e transmite escândalos, intrigas palacianas e a vida
privada dos que são retratados. O género biográfico revela-se pro-senatorial, pois as
biografias eram frequentemente redigidas por indivíduos instruídos do senado que
defendiam os seus interesses. O grau de subjetividade depende do biógrafo.

As Vidas dos Doze Césares (Suetónio, o grande modelo do género biográfico) e a


História Augusta (autor anónimo) são exemplos de biografias imperiais.

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