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História Antiga:

Mundo Greco-Romano
Material Teórico
Algumas questões historiográficas

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Andrea Borelli

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Algumas questões historiográficas

·· Os historiadores e o mundo antigo

O objetivo desta unidade é discutir a produção historiográfica de diferentes


épocas sobre a História Antiga.

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

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Unidade: Algumas questões historiográficas

Contextualização

Analise a seguinte assertiva:


“Os historiadores são recordadores profissionais daquilo que os cidadãos
querem esquecer” (Eric Hobsbawm).
O estudo da História Antiga faz parte de nosso repertório cultural e, até hoje, ajuda a forjar
nossa identidade.
Assim, inspirados pelo pensamento de Eric Hobsbawm acima reproduzido, conheceremos
alguns historiadores que marcaram essa trajetória!

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Os historiadores e o mundo antigo

Os homens do mundo antigo cativam nossa atenção sejam os faraós e suas pirâmides, as
tribos africanas ou senadores romanos. O estudo da História Antiga faz parte de nosso repertório
cultural e, até hoje, ajuda a forjar nossa identidade.
Vamos conhecer alguns historiadores que marcaram essa trajetória!
Figura 1 – Heródoto.
Deve-se observar que não se trata de uma análise historiográfica extensa
e outros autores poderiam ser agregados ao grupo aqui apresentado.
Heródoto (484-425/413 a.C.) foi chamado pelo romano Cícero
de o “pai da História”, mesmo que atualmente seus escritos sejam
considerados “invenções”, ou seja, com pouca base documental.
Ao contrário de outros escritores antigos, como Homero ou Virgílio,
Heródoto não dizia que seu trabalho era uma narrativa divina, nem
que tivera assistência das “musas” na sua escrita, mas anunciava
claramente que seus escritos eram frutos de seu próprio trabalho. Sua
Fonte: Giovanni Dall’Orto /
Wikimedia Commons obra continua a ser apreciada até hoje, como uma fonte primária de
informação sobre o mundo antigo que observou e descreveu.
Figura 2 – Políbio.
Políbio(200-118 a.C.) teve como principal obra uma detalhada
descrição das guerras entre Roma e Cartago – as Guerras Púnicas.
É, sem dúvida, uma das melhores fontes antigas sobre o assunto.

Sua escrita é interessante por causa de sua metodologia e seu


foco sobre a questão do “acaso” como um elemento importante do
mundo concreto.

Considera que os romanos atingiram a condição de “super poder”


do mundo antigo por causa de sua capacidade em prever e/ou se
Fonte: Gryffindor / Wikimedia
adaptar aos “caprichos do destino”. Commons

Figura 3 – Tucídides. Tucídides(460-395 a.C.) é conhecido por seu livro,A história


da Guerra do Peloponeso, que detalha a guerra entre Esparta e
Atenas no século V a.C.
Tal como acontecia com muitos autores da época, grande parte
das informações que temos sobre esse pensador vem desses escritos,
através dos quais conhecemos um pouco de sua personalidade e
seus pensamentos sobre os líderes de Atenas.
Foi o primeiro historiador a estabelecer normas rígidas para a
coleta e análise de evidências, o que significa que queria saber
o porquê dos acontecimentos. Por meio de entrevistas e registros
escritos, Tucídides agregou às opiniões de testemunhas oculares
sua própria visão sobre os eventos da Guerra, fornecendo um
Fonte: Wikimedia Commons
olhar perspicaz de ambos os lados envolvidos no conflito.

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Unidade: Algumas questões historiográficas

Plutarco(46-120d.C.) à sua época era imensamente popular por Figura 4 – Plutarco.


sua capacidade de explicar discussões filosóficas aos leitores comuns,
fossem gregos ou romanos.

Ficou conhecido pelo livro Vidas paralelas, uma série de biografias de


figuras importantes do mundo greco-romano, desenvolvidas em pares
para iluminar as suas virtudes e vícios comuns a ambos os biografados.

Temos 23 pares de biografias preservadas, cada uma analisando a


vida de um grego e de um romano, bem como quatro biografias
individuais. Seu trabalho, criterioso e comumente divertido,foi capaz
Fonte: Ricardo André Frantz /
de aprofundar nossa compreensão da cultura grega e romana. Wikimedia Commons

Figura 5 – Gaius Tacitus


Gaius Tacitus (56-117 d.C.) escreveu duas grandes obras:
Annais e Histories.

Examinou os reinados dos imperadores romanos Tibério, Cláudio


e Nero, mais os acontecimentos de 69, que foi chamado de o “ano
dos quatro imperadores”. Essas duas obras analisam, basicamente,
a história do Império Romano a partir da morte de Augusto. Há
grandes lacunas nos textos sobreviventes, Figura 6 – Xenofonte

incluindo a falta de quatro livros dos Annais.


Fonte: Pe-Jo/Wikimedia Commons

Xenofonte(430-354 a.C.) foi aluno de Sócrates – tal qual Platão –,


mas ficou conhecido como historiador e não como filósofo. Era um
soldado e a maior parte de suas obras é dedicada a descrever a história
de seu tempo e suas impressões sobre lugares e pessoas.

Escreveu vários trabalhos, entre os quais um dos mais importantes foi


o Anábasis, em que descreve suas experiências com os persas. Fonte: Wikimedia Commons

Figura 7 – Edward Gibbon


Edward Gibbon(1737-1794) foi um historiador e estudioso
Inglês que ficou conhecido pela monumental obra A história do declínio
e queda do Império Romano, publicada entre 1776 e 1788.
Em 1764 Gibbon visitou Roma e começou a escrever uma
história da cidade do tempo de Marco Aurélio até o ano de
1453, quando a cidade foi dominada pelos bárbaros. O primeiro
volume foi publicado em 1776 e foi alvo de críticas devido ao
tratamento irônico dado à ascensão do cristianismo e as ações dos
responsáveis pelo surgimento da igreja primitiva.
Gibbon considerava a religião como um fenômeno social e,
em sua opinião, o cristianismo teve um papel central na queda
do Império Romano. Seu trabalho analisa mais de treze séculos
Henry Walton (1746–1813)/Wikimedia
Commons de história: o primeiro volume começa com um levantamento do
Império Romano na época dos Antoninos, concluindo com os
capítulos sobre o cristianismo. Nos volumes seguintes, Gibbon examinou a invasão das tribos
germânicas, a divisão do Império e o surgimento do Islã.
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O Império Romano é visto por esse autor como uma entidade única e sua queda seria o
resultado de sua decadência moral.
Devido a sua narrativa fluida e argumentos persuasivos, o trabalho que publicou é um dos
grandes clássicos sobre o mundo antigo.

Explore
Todos os volumes da obra A história do declínio e queda do Império Romano estão
disponíveis na língua inglesa em:
»» http://www.gutenberg.org/files/25717/25717-h/25717-h.htm

Figura 8 – Fustel de
Coulanges.
Fustel de Coulanges (1830-1889) foi um historiador e estudioso
francês que ficou conhecido pelo livro A cidade antiga, que foi publicado
em 1864. Essa obra é considerada pioneira por explorar a importância
da religião no mundo antigo. Aborda diversos temas, como a morte e a
importância dos ritos funerários como elementos que apontam à relevância
da religião à vida cotidiana. Desse ponto, através da análise da religião
doméstica, Coulanges apresenta as características da família, centrada
na linhagem masculina. Explora também como essas características
influenciaram a formação da cidade e das leis. Fonte: Wikimedia
Commons

Explore
O livro em língua portuguesa pode ser acessado em:
»» http://goo.gl/InjwxI

Figura 9 – Michael Rostovtzeff


Michael Rostovtzeff (1870-1952) nasceu em Kiev, mas sua carreira
se desenvolveu na Inglaterra e nos EUA, especialmente na Universidade de
Yale, onde lecionou de 1925 até sua aposentadoria, em 1944.

Rostovtzeff publicou diversas obras, nas quais mostrava profundo


interessse nas questões econômicas e culturais. Em 1926 publicou A história
social e econômica do Imério Romano, que é considerada uma importante
contribuição à historiografia sobre os romanos.

Atribuiu o colapso do Império Romano a uma aliança entre o


proletariado rural e os militares, no terceiro século. Deve-se observar que
Ward Briggs/Wikimedia
Commons boa parte de suas ideias são rejeitadas pelos analistas contemporaneos.

Contudo, a amplidão de sua obra e o cuidado com os procedimentos de pesquisa são relevantes.

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Unidade: Algumas questões historiográficas

Geoffrey de St. Croix(1910-2000)foi um historiador marxista Figura 10 – Geoffrey de St.


inglês, cuja erudição e estilo apaixonado conquistaram a admiração
da maioria de seus colegas, mesmo quando discordavam de suas
conclusões.
Em 1972 publicou As origens da Guerra do Peloponeso, que desafiava
a visão de que a Guerra foi provocada por Atenas, ao passo que elogiava a
democracia ateniense por oferecer maior liberdade à população mais pobre.
Em 1981 publicou sua obra mais conhecida: A luta de classes no
mundo antigo: da época arcaica para as conquistas árabes.Trata-se
de uma obra que varria a civilização greco-romana, identificando a
escravidão e a opressão como fraquezas centrais desses grupos. Fonte: papasotiriou.gr

Na sua opinião, a História da Antiguidade pode ser vista como uma luta de classes entre os
trabalhadores, principalmente os escravos e seus proprietários.
Figura 11 – Michael
Rostovtzeff Moses I. Finley(1912-1986) foi um dos mais importantes
historiadores do mundo antigo. Finley se destacava tanto por sua
ênfase na esfera social e econômica, como por sua interlocução com
modelos teóricos de outras disciplinas.

Os escritos de Finley sobre a sociedade, a economia e as formas


políticas na Grécia Antiga tiveram grande impacto nos estudiosos da
área e no público em geral.

Em sua formação teve contato com as ideias de estudiosos como Marc


Bloch, Henri Pirenne e a associação que teve com a Escola de Frankfurt
Fonte: timesonline.typepad.com reforçou seu interesse pela linha de pensamento de Max Weber.
Finley insistia na necessidade de considerar a sociedade como um todo, apontando que as
instituições deviam ser avaliadas dentro de seu próprio contexto social e que as comparações
anacrônicas sempre devem ser evitadas

Michael Grant(1914-2004)foi um estudioso inglês que fez Figura 12 – Michael Grant


pesquisas inovadoras sobre a cunhagem de moedas em Roma.
Escreveu mais de cinquenta livros, começando, em 1946, com a sua
tese sobre as moedas romanas.

Seu trabalho também incluiu biografias de figuras como Júlio César,


Nero, Herodes, Cleópatra, São Paulo, São Pedro e Jesus.

Alguns críticos apontam que os livros de Grant carecem de mais


profundidade analítica.Contudo, esse mesmo estilo leve e coloquial,
é elogiado por trazer o Mediterrâneo à vida e fornecer uma grande
quantidade de informações de forma agradável ao leitor. Fonte: vridar.org

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Figura 13 – Jean Pierre
Vernan Jean Pierre Vernant (1914-2007) foi um historiador e
antropólogo francês, especialista na Grécia Antiga.
Em várias de suas obras buscou compreender como se construíam
as concepções sobre temas como trabalho, valor, tempo, espaço,
memória, a vontade e a pessoa, a imaginação e o sacrifício, ou a
diferença entre nós, gregos e bárbaros. Em 1962 publicou As origens
do pensamento grego, em que apresenta as raízes políticas da
racionalidade grega, apontando que o aparecimento da polis foi
fundamental para o desenvolvimento da forma de pensar dos gregos.
Suas obras posteriores se concentravam no lugar da religião na
Fonte: tempsreel.nouvelobs.com
sociedade grega e as evidências da literatura e da arte às formas sociais
gregas.

Explore
Você poderá ler uma entrevista de Vernant sobre a questão da racionalidade grega,
da polis e do mito na Revista História Social, disponível em:<
»» http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/view/482/388

Pierre Vidal-Naquet(1930-2006) foi um estudioso francês Figura 14 – Michael Grant


especialista em Grécia Antiga, que esteve envolvido na Guerra de
Independência da Argélia e foi responsável por várias denúncias contra
as práticas do exército francês.

Seus trabalhos versaram sobre as origens da democracia grega, a


escravidão dessa civilização e o que os mitos gregos revelam acerca das
estruturas dessa sociedade antiga.

Seus estudos mais significativos são sobre o uso moderno do mito da


democracia antiga da Revolução Francesa à atualidade; era fascinado
pela relação entre a verdade, a memória e a história. Fonte: aplg.pagesperso-orange.fr
Figura 15 – Jean Pierre
Vernan Edward Said(1935-2003) era ativista político e crítico literário
que examinava a literatura à luz das políticas sociais e culturais.Além
disso, foi um defensor dos direitos políticos do povo palestino e lutou
pela criação de um Estado palestino independente.

Em 1978 publicou O orientalismo, sua obra mais conhecida e


um dos livros mais influentes do século XX. Nesse, Said examina a
produção ocidental do “Oriente”, especificamente sobre o mundo
islâmico árabe. Seu argumento central no livro é que esses pensadores
projetaram uma visão falsa e estereotipada do mundo islâmico, o que
auxiliou a implantação de uma política colonial ocidental.
Fonte: Wikimedia Commons

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Unidade: Algumas questões historiográficas

Martin Bernal(1937-2013) era um estudioso da China. Figura 16 – Michael Grant

Contudo, foi seu trabalho sobre a civilização grega que o tornou


conhecido.Afirmava que as raízes culturais da civilização grega
não vinham somente dos indo-europeus, mas em grande parte
do Egito, das cidades fenícias do Mediterrâneo, especialmente
na África, e do Oeste da Ásia. Segundo sua tese, autores como
Platão, Heródoto e Ésquilo reconheciam essa origem, contudo,
o racismo e o colonialismo da Europa do século XIX levaram os
historiadores a expurgarem esse legado e tornar os precursores
dos gregos e, portanto, europeu, um grupo essencialmente
formado por brancos vindos do Norte.
A trilogia em que apresentou esse argumento tem por título
Atena negra: as origens afro-asiáticas da civilização clássica, obra
que provocou grande controvérsia acadêmica. Fonte: asorblog.org

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Assista ao documentário Black Athena: the fabrication of Ancient Greece, em inglês e
disponível em: http://youtu.be/u1_jrZj-Kyc

Figura 17 – Jean Pierre


Vernan Perry Anderson(1938) é um historiador britânico e ensaísta político.

Em 1974 publicou duas obras muito importantes: Passagens da


Antiguidade ao Feudalismo, que centra-se na criação e desenvolvimento
das sociedades feudais a partir das sociedades escravistas do mundo
antigo; e Linhagens do Estado absolutista, que examina o absolutismo
monárquico.

Fonte: Tor Erik H. Mathiesen/


Wikimedia Common

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Material Complementar

Seguem algumas sugestões para aprofundar seus estudos:

Explore
Documentários da série Diálogos sem fronteira, da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), especialmente o intitulado História Antiga e
nosso cotidiano, por Renata Senna Garraffoni e disponível em: http://youtu.be/
buzbrdjJGfc?list=UUuZzOiV_7XDkKisvgDBsZTQ.
Ademais, leia o dossiê O mundo antigo em perspectiva: aspectos culturais
e políticos da Antiguidade Clássica, publicado na Mneme – Revista de
Humanidades, v. 12, n. 30, 2011 e disponível em: http://ufrn.emnuvens.com.br/
mneme/issue/view/115.

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Unidade: Algumas questões historiográficas

Referências

GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013.

LAZZAROTTO, Danilo. História Antiga. Ijuí, RS: Unijuí, 1999.

PINSKY, Jaime. 100 textos de História Antiga. São Paulo: Contexto, 1998.

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Anotações

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