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Como um movimento herético que marcou a história do cristianismo dos primeiros séculos se

tornou o principal estopim para a elaboração da primeira auto-biografia da história.

Texto autoral de: Nivaldo Aparecido Dias Muniz. 26/10/2021.

O ato de escrever sobre a vida de pessoas famosas não é exatamente algo novo,
principalmente quando ditas pessoas têm suas vidas de alguma forma entrelaçadas aos
eventos marcantes para a constituição da história e identidade de um povo, ou se sobre eles
contribuíram de modo determinante, tanto “para bem”, quanto “para mal”; Nesse sentido, há
inclusive quem diga que as histórias de vida, e os relatos dos feitos, dos grandes “vilões” da
história são mais demandados pelo grande público que as suas contrapartes dos grandes
“heróis”, explicando, por exemplo, o porquê de um Hitler ser muito mais biografado que um
Goethe (...).

Dessa forma, podemos afirmar com toda certeza que é pelo menos desde a antiguidade
clássica que importantes cronistas e historiadores vêm se dedicando a contar em detalhes os
eventos das vidas de pessoas ilustres; dente eles destacam-se nomes como:

Plutarco, que viveu no século I da nossa era e foi responsável, dentre outras coisas, pela
elaboração da mais extensa, detalhista e bem conservada biografia de Alexandre III da
macedônia (hoje conhecido como “Alexandre o Grande”) que nos chegou até os dias de hoje;

Xenofonte, discípulo de Sócrates, grande general (strategos), estadista e historiador ateniense


do século IV a.C., que escreveu uma famosa e muito popular biografia do imperador Ciro I da
Pérsia (*), um verdadeiro “best seller” da época, que hoje sabemos ser de caráter semi-
ficcional;

(*) Ciro I da Pérsia, também chamado de “Ciro o Grande”, ou “Ciro o Aquemênida”, foi um dos
grandes gênios militares da antiguidade, comparável a Alexandre III da macedônia, mas ao
contrário deste, que era dado a ataques de fúria e bebedeira, Ciro era famoso por sua
tolerância e misericórdia para com os vencidos, sendo muito elogiado na bíblia como o
libertador judeus de seu exílio na Babilônia, sendo inclusive chamado de “Messias” por estes,
ao contrário de seu homólogo grego, muito criticado por seus “impulsos civilizadores” dos
quais, dentre outras coisas, resultou o famoso “levante dos Macabeus”.

Diógenes Laércio, grande escritor, historiador e comentador de filosofia grego do século II da


nossa era, ele foi o responsável pela redação da mais completa “vida dos filósofos” de toda a
antiguidade, graças a ele (e em parte a Aristóteles), nomes e ideias de importantes filósofos
pré-socráticos chegaram até os nossos dias e;
Suetônio, único historiador latino até agora citado, mas que por sua obra prima, “Vidas dos 12
césares” datada de meados do século II d.C. (época em que o mesmo viveu), merece todo
destaque e atenção, nesta vale ressaltar as insólitas biografias de Nero e Calígula, carregadas
de relatos chocantes, escalofriantes e muitas vezes repugnantes, que dão a obra um certo
“quê” de tablóide de fofocas da Roma antiga.

Como podemos perceber, pela quantidade e principalmente pela qualidade dos nomes
citados, era muito comum na antiguidade, quase indispensável eu diria (*), centrar a narrativa
histórica em torno de certos dados biográficos, de modo que, mesmo quando o historiador em
questão não queria necessariamente escrever sobre a vida dos personagens ilustres, pelo
menos não como escopo principal de sua obra, estas acabavam tomando o protagonismo de
uma forma ou de outra, a exemplo disso temos Tito Lívio (grande historiador romano do
século I a. C.), com sua famosa “Ab Urbe Condicta”, na qual o mesmo se propôs a escrever
uma história de Roma, dede sua fundação em 753 a.C., até o governo de Augusto, que na
época já entrava pelo primeiro século da nossa era.

(*) Essa prerrogativa se dá em função do estado rudimentar dos métodos e técnicas de


pesquisa histórica que vigoravam na época, hoje há uma menor dependência desta em função
do aprimoramento do rigor científico.

Em sua longa jornada de mais de 750 anos, Tito Lívio foi praticamente forçado a escrever a
biografia completa de todos os grandes nomes da política romana até àquele momento, a
começar por todos os sete reis de Roma; com especial destaque para as vidas de Rômulo, que
como todos sabem foi o semi-lendário fundador da urbe e Tarquínio III, também chamado de
Tarquínio “o soberbo”, rei de origem etrusca que pôs fim a primeira fase da história da cidade;
e para além destes, todos os grandes nomes do período republicano, como Cícero, grande
orador da república e inimigo político de César; Cipião apelidado de “africano”, grande herói
militar da terceira guerra púnica e Catão o velho, famoso censor e cônsul romano, que assim
como Cincinato, era célebre por seu patriotismo, conservadorismo e parcimônia para com os
bens públicos (*).

(*) A Catão, personagem que assim como Cipião viveu as duas últimas guerras púnicas, é
atribuída a famosa frase (que depois se tornou célebre em toda a oratória latina posterior)
“Delenda est Carthago”, ou seja, “Cartago deve ser destruída”, trata-se da contração da frase:
“Ceterum censeo Carthaginem delendam est”, que significa: “além do mais considero que
Cartago deve ser destruída”. Com essa frase Catão encerrou todos os discursos que fez ao
senado romano durante mais de dois anos, após ter visitado Cartago na qualidade de Censor
da república, para verificar se os termos do tratado que pôs fim a segunda guerra púnica
estavam efetivamente sendo cumpridos, sendo, portanto, um dos elementos fortes que
convenceram os romanos a propagar a primeira “guerra total” de que se tem notícia na
história, a terceira guerra púnica.
Como podemos perceber nosso bravo cronista do século I se dispôs em sua obra a fazer o
esforço hercúleo de transcrever todos os eventos que impactaram sua cidade, desde a
fundação da mesma, esforço que mesmo sem querer acabou resultando na mais ampla
coletânea de biografias de toda a história romana.

Outro escritor a fazer algo semelhante foi o historiador e sacerdote egípcio Manetão, que
viveu na Alexandria do século III a.C., ou seja, quase 400 anos antes de Tito Lívio, ele escreveu
a mando do ex-general e então faraó Ptolomeu I – também chamado de “Ptolomeu Sóter”, em
discriminação a seu filho, Chamado de “Ptolomeu Filadelfo” – uma história completa do Egito,
desde sua unificação, atribuída ao semi-lendário rei Menés (*), até o momento em que o
próprio Ptolomeu, como herdeiro autoproclamado de Alexandre, iniciou sua própria dinastia
como faraó do Egito.

(*) Menés é segundo a tradição egípcia o primeiro “rei histórico” do Egito, ou seja, o primeiro
governante a reinar após a era dos mitos, hoje comumente costumamos associar a sua
imagem com a do comprovadamente histórico Narmer, que governou o Alto Egito e por meio
de uma exitosa campanha militar conquistou o Baixo Egito, unificando as coroas se
proclamando “senhor das duas terras”, todavia, não podemos afirmar com certeza se era
realmente dele a quem Manetão se referia ao citar o nome Menés, como o primeiro faraó da
primeira dinastia; sobre essa questão, sabe-se, por exemplo, que a história da Mesopotâmia,
escrita por Berose (Bel Ussur) por encomenda de Antíoco IV Epifânio, é bem mais confiável
nesse sentido.

Esse livro de Manetão, que quando finalizado contava com mais de 8 volumes, foi chamado de
“Egiptíaca”, e assim como Tito Lívio, Manetão em vários momentos precisou discorrer sobre
detalhes biográficos de personagens marcantes para preencher as lacunas da colossal história
egípcia, como os faraós Ramsés II da XIX dinastia; Khufu da IV dinastia (chamado depois de
Queóps pelos gregos); Djoser da III dinastia (também chamado Sóser, o construtor da pirâmide
de degraus de Saqqara) e o próprio Menés, já citado, isso para não falar de outras figuras,
tanto da realeza – como a famosa princesa Nitócris, filha do faraó Pepi II e o legendário
príncipe Khaemwese, filho do poderosíssimo Ramsés II – quanto da alta administração estatal,
como o Vizir Imhotep, que viveu durante o reinado de Sóser e depois foi elevado ao status de
“deus da medicina”, como o Asclépio grego; isso apenas para citar alguns exemplos (*).

(*) Embora pareça mais fatigante a tarefa de Manetão foi bem mais fácil que a de Tito Lívio,
dado que era costume de todo grande templo egípcio manter vastos arquivos com as crônicas
reais, e as listas genealógicas e dinásticas dos principais governantes do país, coisa que na
Roma de Tito Lívio praticamente não existia, pelo menos não com a magnitude e riqueza de
detalhes encontradas no Egito de Manetão.

Além dos fatos anteriormente expostos, há de se salientar que o “universo literário” da


antiguidade, pelo menos àquele com o qual tivemos mais contato, ou seja, principalmente o
da antiguidade clássica – embora hajam importantes casos também na antiguidade oriental, a
contar a famosa “aventura de Sinuhe”, ou a “viagem de Unamôn” – está repleto de relatos
pessoais de viagens, como as descritas por Estrabão em seu livro “Geografia” e por Heródoto
em seu livro “História”; batalhas, como as do famoso livro “De bello gallico”, escrito em
conjunto por Aulo Hírcio e Júlio César (*) e; catástrofes naturais, como as descritas nas cartas
de Plínio o jovem, em que este narra em detalhes os Eventos ligados a erupção do Vesúvio no
ano 79 d.C., que entre outras coisas, destruiu Pompéia e matou tragicamente o seu brilhante
tio-avô, Plínio o velho; pelos quais seus escritores passaram, estes hoje seriam tranquilamente
classificados dentro da modalidade literária “memórias”, pois tratam de narrativas pessoais,
muitas delas escritas em primeira pessoa (como no caso de César), cujo conteúdo é de
profundo interesse biográfico!

(*) De bello gallico, que para o nosso idioma bem poderia ser traduzido como “Das guerras
gálicas” é um dos mais antigos e importantes livros de “literatura militar” da história,
competindo diretamente com o “história da guerra no Peloponeso” de Tucídides como o mais
célebre a chegar intacto aos nossos dias, isso graças a identidade de um dos seus escritores, o
famigerado Caio Júlio César (100 a.C. – 40 a.C.); com seu caráter semi-jornalístico e, ao mesmo
tempo, semi-etnográfico o livro, além de apresentar a descrição detalhada das principais
batalhas de conquista da Gália, descreve também os costumes, crenças e diferentes modos de
vida de seus habitantes, assim como, as principais impressões, sensações e reações do cônsul e
general romano Júlio César ante elas. Além de tudo isso, outro mérito importante do livro é
fornecer-nos a mais antiga biografia de um chefe bárbaro da história, dando-lhe inclusive voz,
coisa que era muito rara na época, tal “biografia” indica que o próprio César, grande general e
homem de “alta cultura”, nutria grande admiração por alguns princípios éticos e certas
qualidades guerreiras de Vercingetórix.

Mas, embora esse tipo de relato existisse e fosse bem popular, ele estava muito longe de ser
considerado como uma “auto-biografia”, propriamente dita, isso porque geralmente o
objetivo desses escritos era dar ênfase a um fato ocorrido e presenciado, pouco importando
questões cronológicas da vida do observador, ou prováveis impactos futuros que este teria
sobre o desenrolar da vida do mesmo; por incrível que pareça a primeira auto-biografia
legítima da história data do século IV da nossa era! Trata-se da auto-biografia de Santo
Agostinho, contida nas primeiras partes de seu livro “Confissões”.

Ante todas essas informações que até agora foram expostas (algumas muito curiosas, aliás) é
natural que todos nós nos perguntemos: Como é possível que numa sociedade que praticam
“idolatrava” a biografia como fonte da memória tenha demorado tanto para produzir legítimas
auto-biografias como temos hoje?

Existem várias respostas para essa pergunta, uma das mais importantes é que na antiguidade
quase ninguém era considerado célebre e, portanto, “biografável” enquanto ainda vivo, outra
muito importante a se considerar é que escrever cronologicamente sobre a própria vida era
considerado um ato de extrema arrogância, uma prova de soberba e prepotência, que
ninguém, ou quase ninguém, estava disposto a passar, por mais importante que fosse, exceto
Agostinho, mas aí somos forçados a fazer outra pergunta: Porquê o então bispo de Hipona,
depois considerado santo pela Igreja católica, resolveu escrever sobre si mesmo dessa forma?

Para responder a essa pergunta teremos que mergulhar no contexto em que Agostinho
escreveu, e este nos é apresentado com muita vivacidade e precisão por Lorenzo Mammí, no
prefácio das Confissões, publicada no Brasil pela editora Penguin Companhia; nele Mammí
aponta como a mais forte das motivações o fato de que logo após ter sido ordenado bispo,
Agostinho teve que enfrentar uma grande disputa teológica, doutrinária e política com a seita
dos donatistas; no caso específico de Agostinho essa disputa durou pouco mais de uma
década, culminando na organização de um grande debate público em Cartago, então capital da
província da África, no qual o bispo de Hipona, com sua já conhecida e admirada habilidade
oratória, juntamente com os católicos, saiu vencedor.

Lá pelo final do século IV da nossa era – quando os primeiros livros das Confissões foram
escritos – o império romano do ocidente vivia um momento de grande instabilidade política e
aguda crise econômica, os povos germânicos (francos, godos, vândalos, suevos, etc.), então
chamados de “bárbaros”, penetravam cada vez mais fundo dentro de suas fronteiras e de
forma cada vez mais violenta; as cidades eram saqueadas, campos eram queimados, crianças e
idosos trucidados, mulheres eram violadas, enfim o caos começava a se instaurar dentro da
antiga ordem estabelecida, a começar pelas províncias setentrionais, avançando cada vez mais
para perto dos grandes centros urbanos, localizados as margens do mediterrâneo.

Nesse contexto, acabaram surgindo grupos religiosos que contestavam a autoridade do poder
estabelecido, centrada na figura do imperador e, ao mesmo tempo, culpabilizavam a igreja
católica, centrada na figura dos bispos, como a principal responsável pelo “castigo divino” que
se abatia sobre o império; muitos desses movimentos eram pequenos e profundamente
irrelevantes (historicamente falando), mas alguns deles acabaram se destacando, como foi o
caso dos donatistas (...).

Os donatistas; cujo nome advém de Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia (região do norte
da África), que incorreu em apostasia e posteriormente deu início a um culto cismático;
protagonizaram uma intensa disputa pela hegemonia político-religiosa com a igreja católica
entre os séculos IV e VII da nossa era, o centro nevrálgico dessa disputa foram as cidades
mediterrâneas do norte da África onde, por proximidade ao seu primeiro pólo de difusão, os
donatistas começavam a se tornar abundantes; desse modo, quando Agostinho, cuja vida
religiosa ascendeu muito rápido, diga-se de passagem, é ordenado bispo na já citada cidade de
Hipona, esta era uma cidade predominantemente donatista e em pé de guerra com os
Católicos!

Dito isso, é preciso explicar qual era o principal “ponto de atrito” entre as partes:
Os seguidores do bispo Donato, tinham por principal argumento a ideia de que os sacramentos
ministrados pela igreja católica (batismos, casamentos, extremas-unções, etc.), não eram
válidos e, portanto, não poderiam conduzir as almas dos fiéis a salvação!

A base dessa afirmação residia no fato de que muitos sacerdotes católicos estavam em pecado
(os mais comuns atribuídos eram abjuração, nicolaísmo e simonia), ou haviam sido ordenados
por outros sacerdotes que pecaram contra as leis das sagradas escrituras, por infelicidade o
próprio Agostinho se encaixava numa dessas definições, pois ele havia sido ordenado
sacerdote e depois bispo por um certo Valério, bispo de Targaste (cidade natal de Agostinho) e
este, por sua vez, havia sido batizado por um sacerdote que embora não tenha sido nominado,
fora acusado de ter abjurado da fé durante a grande perseguição aos cristãos promovida por
Deocleciano (...).

Além dessa acusação, pensavam contra Agostinho o fato deste ter ascendido muito rápido na
hierarquia eclesiástica e o fato de que em sua vida pregressa este haver sido famoso por sua
conduta pecaminosa (cheia de ganância, luxúria e bebedeiras) e por sua postura claramente
anti-cristã (vide as rusgas que o mesmo teve com Ambrósio o então bispo de Milão), o que
levava não apenas os donatistas, mas também muitos católicos a duvidarem de sua fé,
creditando sua suposta conversão a busca de prestígio e poder político.

Nesse quadro, profundamente desfavorável e onde os acontecimentos de sua vida até o


momento eram decisivos para a vitória, ou derrota na discussão, Agostinho tomou duas
posições-chave na luta contra os donatistas:

Primeiramente, ele definiu uma das doutrinas até hoje em voga na igreja, em que se afirma
que os sacramentos são ministrados diretamente por Deus, através da fé e da ação do Espírito
Santo, nesse sentido os sacerdotes apenas oficiam os mesmos em nome dele, como um
mestre de cerimônias que recebe os convidados em nome do Anfitrião, assim caberia a igreja,
enquanto instituição, apenas assistir os sacramentos como testemunha, não intervindo neles
para validá-los ou revogá-los. Desse modo, os eventuais pecados cometidos pelos sacerdotes,
ou por seus superiores hierárquicos, não influenciaram em nada na pureza dos sacramentos,
ou na salvação dos sacramentados, que sendo tomados de boa fé tem plena validade (*).

(*) Para exemplificar esse caso basta citar que se uma pessoa for batizada, ou fizer a
comunhão, com um padre que por ventura pratique nicolaísmo, ou seja, que mantenha uma
mulher como esposa (casamento civil), ou em regime de concubinato (amasiamento), o
batismo e/ou a comunhão dessa pessoa em questão, não deixam de ser válidos em função do
pecado desse sacerdote, pois eles são concedidos por Deus e apenas oficiados por este. Esse
mesmo princípio permite que um “não sacerdote”, como um capelão, ou um monge leigo
possam oficiar os sacramentos em casos de grande necessidade e urgência, ou no caso de não
haver nenhum sacerdote por perto, como nas guerras, por exemplo.
Depois de definir a questão relativa aos procedimentos doutrinais, Agostinho resolveu,
acertadamente, fazer uso de um movimento retórico muito eficaz em caso de “ataque a
pessoa”, ele se defendeu atacando, ou seja, uma vez que ele próprio não podia negar os
pecados que havia cometido no passado, já que os mesmos eram de conhecimento comum,
assim como era forçado a admitir que em muitos aspectos os seus acusadores, tanto
donatistas, quanto católicos, tiveram vidas “mais santas”, por assim dizer, e delas não haviam
aberto mão, seguindo princípios de penitência, parcimônia, humildade e oração, restou apenas
a Agostinho confessar seus pecados, os expondo de forma aberta e os abominando ainda mais
que seus detratores!

Para tanto, assim como para provar que pelo menos em intensão este havia mudado seu
ímpeto e comportamento, era necessário fazer consigo e com sua vida o mesmo que os
grandes cronistas do passado haviam feito com os personagens ilustres da história, desse
modo, a auto-biografia de Santo Agostinho era uma forma clara de desvincular seu passado
dos dogmas e doutrinas da igreja e “de quebra” ainda acusava os donatistas de “confiarem nos
homens e não em Deus” (...).

É muito interessante pararmos para pensar que as auto-biografias de hoje são em sua grande
maioria centradas no fato de que a pessoa que se auto biografa crê-se de alguma forma
importante, isso pelo menos ao ponto de sua vida merecer ser contada, no caso de Agostinho
não, ao que tudo indica muito de seus atos da juventude eram realmente motivos de vergonha
para ele (isso acreditando-se ou não na honestidade de sua conversão), sendo expostos
apenas por se tratarem de base argumentativa para as ideias que ele propôs defender, que
segundo suas concepções ele tomava como importantes.

Fontes:

Agostinho (Santo) - Confissões - Penguin Classics Companhia. 2. Ed. 2017.

Cézar Zama - Os três grandes capitães da antiguidade: Alexandre - Bibliex. 4. Ed. 1987.

Cézar Zama - Os três grandes capitães da antiguidade: Aníbal e César- Bibliex. 4. Ed. 1987.

David Coimbra - Uma história do mundo - LPM pocket. 4. Ed. 2014.

Derek Adie Flower - Biblioteca de Alexandria: A história da maior biblioteca da antiguidade -


Nova Alexandria. 1. Ed. 2010.
Heródoto - História: o relato clássico da guerra entre Gregos e Persas - Prestígio. 2. Ed. 2001.

Indro Montanelli - História de Roma - IBRASA S.A. 2. Ed. 1966.

Indro Montanelli - História dos Gregos - IBRASA S.A. 2. Ed. 1966.

W. Carroll Bark - Origens da Idade Média - Zahar. 1. Ed. 1962.

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