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ESTUDO SOBRE A ANTIGUIDADE TARDIA E O FIM DO IMPÉRIO

ROMANO POR Carlos Augusto Ribeiro Machado


 Autor: Carlos Augusto Ribeiro Machado
 Título: A ANTIGUIDADE TARDIA, A QUEDA
DO IMPÉRIO ROMANO E O DEBATE SOBRE
O "FIM DO MUNDO ANTIGO"
 Formato: Artigo para a Revista de História (SP)
 Ano: 2015
 Referência: MACHADO, C. A. R. A antiguidade tardia,
a queda do Império romano e o debate sobre o "fim do
mundo antigo". Revista de História, [S. l.], n. 173, p. 81-
114, 2015. DOI: 10.11606/issn.2316-
9141.rh.2015.105844.
 Citação: (MACHADO, 2015)
 Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2316-
9141.rh.2015.105844

O autor Carlos Augusto Ribeiro Machado inicia seu artigo expondo a “queda do
império romano” como um conceito e acontecimento divisor de águas na historiografia
moderna. Houve, pelos antigos, consenso de que no ano de 476 d.C. Roma caiu e a
escuridão ascendeu ao mundo. Mudaram as motivações e a “escuridão” tomou várias
versões e justificativas, sendo, na primeira metade do século XX idealizada como ponto
de surgimento das nações europeias. Entretanto, foi apenas na década de 60 que, pós
esforços de Arnaldo Momigliano, a queda romana perde parte de sua importância entre
os acadêmicos, passando a ser apenas uma mera data de divisão histórica.

“Momigliano assistiria à implosão desse consenso, à negação dessa verdade histórica e à redução desse
fato, até então de proporções épicas, a uma mera data nas cronologias que normalmente fecham os livros
sobre esse período - isso quando o próprio fato não era negado.” (MACHADO, 2015)

Em síntese, o autor destaca a mudança de perspectiva acerca da Antiguidade Tardia


como, segundo suas palavras, uma revolução historiográfica. Contudo, nas últimas
décadas, sobretudo com a publicação dos livros "A queda do Império romano", de Peter
Heather, e "A queda de Roma e o fim da civilização", de Bryan Ward-Perkins, o debate
historiográfico retorna, para além do mundo acadêmico.

Augusto Ribeiro dá continuidade ao trabalho, agora dissecando a origem do conceito


“antiguidade tardia”. Muito embora o conceito tradicional esteja entrelaçado com a
simplória ideia de fins da idade antiga, a reinvenção moderna surgiu no Die Spätantike
Kunstindustrie(1901), a obra magna do historiador da arte Alois Riegl. Nela o
pesquisador debruça-se sobre a arte no período, a descrevendo como, segundo
MACHADO (2015): “poderia ser comparado aos movimentos artísticos de finais do
século XIX e início do XX, livres do peso do classicismo”
Outro historiador, Santo Mazzarino, ressalta as peculiaridades políticas e
sociais particulares da época, trazendo a ideia de um momento distante da antiguidade e
da idade média. Ao passo que um dos principais nomes dessa visão, Henri Marou,
reconhece as mesmas particularidades ao analisar a vida e o contexto do Bispo de
Hipona, Agostín.

Foi, contudo, a obra de Peter Brown (The world of late


Antiquity: from Marcus Aurelius to Muhammad) que definiu o
principal cerne da Antiguidade Tardia. Brown afirma que o
período vai de Marcus Aurélio (séc.II-III) até o século seguinte do
surgimento Islã (séc.IX), e o define como algo além de um
momento com características políticas e sociais próprias, mas que
traz consigo uma continuidade dos valores e da própria cultura.

A grau de importância, o estudioso cita ainda a obra The later Roman Empire,
do historiador A.H.M Jones, que dentre muitas coisas, revolucionou os estudos acerca
do citado império, por nela (obra) conter uma vasta gama de referências econômicas,
políticas e militares. O próprio Brown o enaltece como "uma usina siderúrgica em uma
região que havia sido, até há pouco, entregue a indústrias leves".

Machado traz à tona uma pergunta que norteia seu e demais estudos: Quando
encerrou a idade antiga? E mais ainda, seria a antiguidade tardia um período histórico
específico? Para responder a essas perguntas, o historiador cita uma série de outros
colegas, cada qual com sua visão. Nos manuais de história (Cambridge Ancient history
e Cambridge Medieval history), teria acabado com Constantino, o Grande. Andrea
Carandini acredita ter acabado no século II d.C., ressaltando ainda que “a Europa
medieval não nascera da ‘raiz viva do Império, mas do seu parque arqueológico’”.
Klavs Randsborg sugere um tempo mais longínquo, afirmando que as mudanças
materiais apenas tornaram-se drásticas pós séc.XI (ano 1000).

Em todos os casos, as teorias baseiam-se numa negação em comum: a de que o


mundo antigo caiu por terra com a deposição de Rômulo, o jovem, em 476, tão
irrelevante acontecimento que pode ser comparado a um “raio sem trovão”.

“Nem mesmo o mais empedernido historiador da política insistiria hoje na deposição do último
imperador do Ocidente, o jovem Rômulo, em 476, como um limite cronológico adequado - foi uma
"queda sem ruído", como observou Momigliano.” (MACHADO, 2015)

Peter Brown e Averil Cameron


defendem uma “longa Antiguidade tardia”, que
em suma, inicia-se no século II (Marcos Aurélio) e
limita-se ao século VIII (surgimento do Islã). À
luz dos historiadores – que voltam seus olhos para o
mediterrâneo oriental – o Império Bizantino e a
Síria possuem em si uma larga continuidade em
cultura e estabilidade, o que não ocorreu no ocidente em favor das várias dinâmicas
conturbadas. Em poucas letras, o oriente mediterrâneo preservou por mais tempo sua
arte, literatura, religião e economia, algo que permite aos pesquisadores estudarem o
período com mais certeza.
“Seja porque menos afetadas por invasões e guerras civis ou graças a sua maior pujança
econômica, as províncias orientais do Império demonstram grande vitalidade tanto na vida rural (como no
caso das aldeias camponesas da Síria) quanto urbana, até pelo menos o final do século VI e o início do
VII, quando a peste e as guerras bizantino-persas e, mais tarde, a expansão do Islã representaram uma
ruptura mais séria” (MACHADO, 2015)

A ideia de crise é rejeitada por esses e demais autores que defendem essa
divisão. A posição de que uma crise no ocidente romano seria motivo o suficiente para
dividir dois períodos históricos parece absurda à tais olhos.
Norberto Guarinello disserta sobre uma “forma” de se
estudar a idade antiga e a Antiguidade tardia, e que tal
forma é amplamente usada por quase todos os novos
estudiosos. A crítica se baseia na tomada do
mediterrâneo entre os séc. VIII a.C. e V d.C. como uma
referência absoluta. Sendo assim, Norberto afirma que a
antiguidade clássica muitas vezes é vista como única antiguidade, botando em
questionamento se outros povos como os nativos-americanos, germânicos e leste-
asiáticos também poderiam ter tido sua própria idade antiga e, consequentemente,
Antiguidade tardia.

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