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13/04/2024, 14:47 História da Filosofia Medieval

Disciplina: História da Filosofia Medieval

Aula 1: História da Filosofia medieval: Conceitos e preconceitos

Introdução
Nesta aula, apresentaremos o período medieval, entre os séculos V ao XV. Buscaremos
desconstruir a noção de que a Idade Média foi um período obscuro, reconhecido por
elementos negativos, especialmente no campo do conhecimento. Descreveremos uma
concepção de Idade Média ampliada, na qual a tradição bizantina e a tradição islâmica são
incluídas.

Discutiremos sobre a distinção entre Filosofia e Teologia. Esse ponto é relevante para a
História da Filosofia Medieval, já que foi uma época marcada pela hegemonia da ideologia
cristã e pela expansão do poderio da Igreja católica, com o conhecimento produzido dentro
do âmbito sagrado.

Objetivos
Reconhecer os marcos cronológicos que marcaram o período medieval como
organizações didáticas construídas pelos historiadores;
Identificar as distinções e semelhanças entre Filosofia e Teologia, que aparecem de
forma imbricada durante o período medieval;
Descrever preconceitos em relação ao período medieval, estudando sua rica produção
cultural.

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A divisão do tempo
Como todo recorte histórico, a Idade Média é uma abstração, realizada pelos
estudiosos para oferecer uma divisão do tempo em períodos históricos, com
características próprias que facilitariam o estudo e a compreensão pelos estudantes.

Contudo, sabemos que nenhum homem que viveu nos séculos IX ou XII se entendeu
como medieval, pois eles eram contemporâneos de seu tempo.

Então, como surgiu tal recorte que divide a História


da humanidade em Antiga, Medieval, Moderna e
Contemporânea?

Esta última é a mais fácil de explicar, pois comporta o período atual, do qual somos
contemporâneos e, em virtude disso, não poderia receber outro nome, já que o
tempo ainda não operou o distanciamento necessário para que isso ocorra.

Resta explicar a nomenclatura dos outros três períodos e entra aí o significado da


construção de Idade Média. Na realidade, a noção de uma idade do meio começou a
ser forjada durante o Renascimento, quando homens como Petrarca e, pouco depois,
Leonardo Bruni e Vasari buscaram valorizar as descobertas e a produção intelectual
e artística do momento que estavam vivendo.

Para dar ênfase, procuraram se contrapor ao período anterior, que era retratado
como obscuro e intelectualmente pouco interessante. Ao mesmo tempo, os primeiros
humanistas se identificavam com a Antiguidade clássica greco-romana, que era
alçada à época de ouro da humanidade.

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 Construção da Idade Média


Ao longo da Era Moderna, começou a ser construída a divisão tripartida da história,
em que os séculos XIV e XV surgiram como um Renascimento da humanidade, que
durante tantos séculos havia ficado adormecida.

Essa perspectiva ganhou força durante o Iluminismo. Para os filósofos do século


XVIII, a Idade Média representava as principais características contra as quais
buscavam se opor:

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• Criticavam o predomínio da fé e da concepção religiosa sobre

o conhecimento baseado na razão;

• A razão humana seria a maior potência do homem, com a

qual ele podia refletir sobre as coisas do mundo e se livrar de

um conhecimento baseado apenas na fé e no livro;

• Reprovavam uma concepção de economia controlada pelo

Estado, herança do mercantilismo;

• Condenavam a concepção de sociedade com baixíssima

perspectiva de mobilidade, assentada na posse da terra.

A Idade Média seria o modelo contra o qual buscavam se opor e, em virtude disso,
aparecia como o antiexemplo.


Durante o Iluminismo, a perspectiva negativa sobre o período medieval ganhou
força.


A partir do século XVIII, noções como obscurantismo, trevas ou declínio foram
associadas à Idade Média.


Esta associação foi tão eficaz e duradoura que é comum até os dias atuais a Idade
Média ser vista como um momento de decadência da história humana.

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Entender que essa perspectiva faz parte de uma construção, que pode ser explicada
do ponto de vista da História é fundamental para desconstruirmos tal visão. A Idade
Média, como todos os demais períodos da História, foi rica em construções
intelectuais, sociais, culturais e políticas.

A formação da Idade Média


Quando falamos sobre Idade Média, estamos nos referindo a um período de quase
mil anos de História, que contém mudanças e contradições próprias das
transformações ao longo do tempo.


Século V

IDADE MÉDIA

De acordo com uma cronologia convencional, a Idade Média se


iniciaria no século V e se estenderia até o século XV. Desse

modo, seu início seria com o processo de desagregação do

Império romano e seu fim com o Renascimento do ocidente e a

conquista de Constantinopla do lado oriental.


Século XV

Essa perspectiva é questionada por certos historiadores que alegam que o período
das migrações é bastante longo e que usar a data da tomada de Roma como marco
inicial apagaria as contradições próprias de um mundo que sequer deu tanta
importância à conquista da cidade eterna, visto que as transformações sociais
vinham ocorrendo já há bastante tempo.

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A fundação de Constantinopla 1 no século IV poderia ser entendida como um


símbolo do início do Império Bizantino, que se estende por toda a Idade Média
oriental, como defende o historiador Steven Runciman, de modo que, a Idade Média
no oriente teria iniciado antes do século V.

Se a controversa para o marco inicial gerou alguma polêmica, a data que marcaria o
final da Idade Média é muito discutida. Historiadores que seguem a perspectiva de
Longa Idade Média apresentada por Jacques Le Goff defendem que o período pode
se estender até o século XVIII.

Segundo Alain Guerreau, seria com a dupla fratura do período iluminista que
questionava os pilares do mundo medieval, a ideologia cristã e o senhorio baseado
na concepção de poder ligado à terra, que a Idade Média teria de fato implodido,
dando lugar a uma nova forma de organização social.

Os historiadores ligados a esta perspectiva defendem que o século XIV ou XV não


representou uma ruptura definitiva com a estrutura da sociedade medieva e, por
conta disso, é possível estender até o século XVIII uma estrutura ideológica, social,
econômica e de poder que tem suas bases no mundo feudal. Seja como for, para fins
didáticos, utilizaremos a cronologia convencional, sem perder de vista essa
perspectiva mais ampliada e complexa do recorte cronológico.

Países onde viviam o povo ameríndio

É preciso definir o recorte geográfico da Idade Média, já que, embora seja um


período de tempo, é pouco usual aplicar esse nome às sociedades ameríndias ou aos
povos da África subsaariana, que viveram entre os séculos V e XV.

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Regiões do ocidente e do oriente europeu

É comum relacionar o período medieval aos acontecimentos e transformações da


Europa ocidental. Contudo, a Idade Média abrange também o que conhecemos hoje
como Oriente Médio e, assim, inclui o chamado Império Bizantino e o Império
Islâmico, a partir do século VII.

Trajeto de migração dos bárbaros pela Europa

O início da Idade Média foi marcado pelas migrações dos povos vindos do Norte.
Durante muito tempo, foi comum chamar esse fenômeno de Invasões Bárbaras,
identificando os povos como invasores e, especialmente, como bárbaros.

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É preciso observar que esses povos conviveram durante longo período na fronteira
romana, o chamado Limes 2, onde ocorriam não apenas trocas comerciais, mas
também culturais entre os povos germânicos e os romanos. Houve um primeiro
momento de contato que não foi marcado pela violência ou invasão, e os que
entravam no Império tinham consentimento das autoridades romanas. Inclusive, foi
comum a entrada de guerreiros germânicos nas legiões do exército romano.


Saiba Mais

O termo bárbaro também sofreu críticas porque partiu da perspectiva romana,


da visão dos cronistas que relatavam a falta de cultura e de civilidade dos povos
não romanos. Bárbaro era aquele que não falava o latim, que balbuciava um
idioma incompreensível.

Essa perspectiva assumia um ponto de vista parcial e fazia julgamento sobre todo
um povo e sua cultura, bem como revelava o desconhecimento das sociedades
germânicas, de suas práticas e organização política e econômica, tomando como
referência o povo romano 3.

Atualmente, a historiografia prefere utilizar migrações germânicas, buscando não


assumir o ponto de vista romano, além de relativizar a perspectiva de que existiram
apenas invasões violentas, introduzindo a contradição e historicidade dos
acontecimentos.

Cristianismo medieval

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 Cristianismo na Era Medieval. Fonte: AmazonAWS.com


<//s3.amazonaws.com/s3.timetoast.com/public/uploads/photos/10334531/cristianismo_medieval.jpg?
1501801267> .

Marcos importantes na transformação do Império romano, deslocando o eixo de


gravidade em direção ao Oriente:

Migrações dos povos do Norte (século III);


Divisão entre Império romano do Ocidente e Império romano do Oriente (século
III);
Conversão de Constantino ao Cristianismo em 312;
Fundação da cidade de Constantinopla - atual Istambul, Turquia;
Édito de Milão em 313, permitindo a liberdade de culto aos cristãos dentro do
Império;
Tranformações na Europa (séculos IV e V).

A religião cristã não se transformou imediatamente na maior força política do


império, mas, lentamente, passou a ser uma religião de Estado, difundida em um
esforço político, militar e administrativo, que durou alguns séculos para alcançar
uma posição de destaque. O Cristianismo se difundiu tanto no lado oriental quanto
no lado ocidental do Império.

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Ocidente

Os francos foram grandes patrocinadores do Cristianismo, a partir de uma


aliança com a Igreja romana, iniciada com a conversão de Clóvis, rei da
dinastia Merovíngia. Estabelecer uma aliança com a Igreja foi uma forma de
legitimar o poderio franco na região da Gália, ao passo que para Roma
representava uma espécie de apoio político e militar necessários para sua
sobrevivência. No natal de 800, Carlos Magno, da dinastia Carolíngia, que
sucedeu os Merovíngios no controle do povo franco, foi coroado pelo Papa em
Roma, fortalecendo os vínculos da Igreja romana com o poder imperial.
Certamente, a difusão do Cristianismo e a intensa participação da Igreja na
vida política e cultural do Ocidente europeu determinaram a História da Filosofia
Medieval, ligando o pensamento e a reflexão intelectual à doutrina cristã.

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Oriente

A História trilhou caminhos distintos. O Império romano com sede em


Constantinopla 4, apesar das dificuldades advindas com a migração dos povos
germânicos no Ocidente e da pressão dos persas, se organizou em torno do
imperador romano, da religião cristã e da cultura helênica. Embora tenha
conhecido uma estrutura menos fragmentada do que aquela que se estabeleceu
no Ocidente, o Império foi arrumado com a aliança entre o imperador e o
Cristianismo; a vida cultural era ligada à doutrina cristã e às disputas
cristológicas no interior do Império.

5
No século VII, no Oriente, o Islamismo surgiu e se difundiu rapidamente.
Com origem na península arábica, o Império Islâmico, em pouco mais de um
século, se difundiu por boa parte do oriente médio, do norte da África até o sul
da península Ibérica. Nos territórios conquistados pelos povos muçulmanos, a
religião islâmica influenciou significativamente a reflexão filosófica.

O pensamento medieval esteve profundamente ligado ao contexto histórico no


qual as religiões, particularmente o Cristianismo e o islamismo, se difundiram e
organizaram a vida cultural. O poder religioso se consolidou como força política
hegemônica, passando a controlar a produção e a difusão do conhecimento
medieval. Assim, os diversos saberes como os científicos, matemáticos,
políticos, astronômicos, filosóficos, medicinais não ficaram de fora.

Filosofia x Teologia
O tema da distinção (ou não) entre Filosofia e Teologia deve ser abordado quando
buscamos entender a produção filosófica durante a Idade Média. Segundo Étienne
Gilson, o termo Filosofia apresentava para os estudiosos e padres da Igreja a noção
de Filosofia pagã. Essa concepção perdurou ao longo de toda a Idade Média e,
mesmo nos séculos XII e XIII, a distinção entre filósofos e teólogos marcou a
diferenciação entre aqueles que produziram sua reflexão privados da verdadeira luz
da revelação e os santos Padres da Igreja, iluminados pela fé em Cristo.

Essa atitude não significou que a Filosofia antiga, grega e romana foi desconhecida
ou desconsiderada pelos sábios da Idade Média. Os filósofos antigos se tornaram,
em alguns casos, a base de reflexão do mundo medieval.

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Desse modo, a influência das doutrinas platônicas da produção do conhecimento


durante a Alta Idade Média, especialmente na obra de Santo Agostinho, foi
reconhecida.

As obras do romano Marco Túlio Cícero se tornaram referência para os estudos de


História, política e língua latina.

Aristóteles teve sua obra redescoberta na Baixa Idade Média 6 e se tornou uma
referência para os estudos realizados no contexto da escolástica.


Os pensadores antigos eram vistos como filósofos pagãos e, em virtude disso, suas
ideias e reflexões precisavam ser iluminadas pelo conhecimento verdadeiro. Assim,
os autores cristãos liam os antigos com cuidado, era preciso jogar luz, cristianizar a
Filosofia pagã.


Apesar da influência greco-romana no pensamento medieval, a Filosofia pagã foi
vista com alguma desconfiança. O conhecimento verdadeiro viria dos santos Padres
da Igreja, que produziam conhecimento a partir da verdadeira doutrina.

Segundo Gilson (1995), deve-se distinguir Filosofia e religião, pois “o Cristianismo se


refere ao homem, para aliviá-lo de sua miséria, mostrando-lhe qual a sua causa e
oferecendo-lhe remédio para ela. É uma doutrina da salvação, e é por isso que é
uma religião. A Filosofia é um saber que se dirige à inteligência e lhe diz como são
as coisas; a religião se dirige ao homem e lhe fala de seu destino seja para que se
submeta a ele, como no caso da religião grega, seja para que o faça, como no caso
da religião cristã.”

O monopólio do conhecimento

Na Europa ocidental, após o período de desagregação do Império romano, os povos


germânicos se organizaram em reinos, a partir da fusão entre a cultura latina e a
cultura das populações recém-imigradas.

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A Igreja buscou selar uma aliança com o reino franco, que havia se estabelecido na
região da Gália, do antigo Império romano 7. O primeiro a se converter foi Clóvis,
rei da dinastia Merovíngia, inaugurando uma tradição de aproximação entre os
francos e a Igreja de Roma.

Havia interesse por parte da Igreja em obter apoio e auxílio militar e político na
Península itálica. As relações com os francos foram fortalecidas com a coroação de
Carlos Magno pelo Papa em Roma.

O apoio franco vinha sendo fundamental para a Igreja, ameaçada pelos Lombardos
que tinham se estabelecido na península desde fins do século VI. Além disso, o
Cristianismo oferecia ao rei franco uma ferramenta de dominação ideológica que
permitia construir uma unidade e uma identidade ao império Carolíngio.

Durante os primeiros séculos da Idade Média, o Cristianismo foi difundido e


aumentou sua área de influência na Europa a partir a ação do Estado franco. Igrejas
e mosteiros foram erguidos pelo Ocidente medieval e, a partir deles, a fé e a
doutrina cristã foram propagadas até as mais remotas vilas e castelos, em um
profundo esforço pedagógico de conversão e produção de conhecimento.

A maioria da população durante o período medieval não sabia ler, nem escrever, e o
acesso aos livros era bastante restrito, especialmente até o século XII. De acordo
com os estudos de Zumthor (1993), o conhecimento popular era transmitido pela
oralidade. As pessoas contavam e escutavam as histórias e, muitas vezes,
aprendiam de memória obras inteiras.

 Sabedoria. Fonte: RicardoCosta.com


<//www.ricardocosta.com/sites/default/files/imagens/sabedoria/sabedo1.jpg
.

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O teatro, os autos religiosos, os sermões e as pregações eram instrumentos por


excelência da transmissão do conhecimento medieval. Observa-se a importância da
memória e sua função social em um mundo que praticamente não tinha acesso à
escrita e aos livros de modo geral.

A cultura erudita, no entanto, se difundia especialmente no ambiente da Igreja. Era


ela quem possuía recursos para produzir e reproduzir um manuscrito, fabricado a
partir do tratamento da pele de certos animais.

Fabricar um livro era muito caro durante esse


período porque, além do suporte material, era
preciso ter acesso às tintas. As iluminuras, que
enfeitavam os manuscritos mais valiosos, continham
ouro na composição da tinta dourada, tornando o
livro uma espécie de tesouro durante o período
medieval. Em virtude disso, o acesso ao livro não
fazia parte da vida do homem comum. O
conhecimento erudito foi produzido e reproduzido no
interior das igrejas.

A transmissão do conhecimento ocorreu em língua latina, embora as línguas


vulgares, advindas da influência dos povos germânicos, estivessem cada vez mais
difundidas entre homens e mulheres na Idade Média. O latim se conservou como o
idioma erudito, no qual eram proferidas as missas, além de toda a produção
intelectual do período medieval. O idioma latino se tornou, ao longo dos primeiros
séculos da Idade Média, cada vez mais restrito ao ambiente eclesiástico e a
população foi perdendo a capacidade de compreendê-lo. Ele ganhou o lugar de
língua da Igreja, utilizado pelos clérigos e de língua sagrada, a partir do qual se lia e
se transmitia a Bíblia.

A habilidade de ler e, especialmente, de escrever também se tornou domínio da


Igreja. Como a maioria da população não sabia ler ou escrever e, mesmo que
soubesse, não tinha acesso aos livros, os monges assumiam, cada vez mais, a
função de copistas e transmissores do conhecimento.

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A escrita passou por uma reforma durante o período Carolíngio com a intenção de
uniformizar e regulamentar os caracteres e as normas gramaticais. Era preciso
desenvolver uma escrita de melhor qualidade e, para isso, os clérigos estabeleceram
a minúscula carolina, uma espécie de letra menor e mais elegante que as utilizadas
nos séculos anteriores, facilitando o trabalho da escrita e da leitura.

Os mosteiros contavam com um Scriptorium 8, onde eram realizadas as cópias


manuscritas, única forma de preservar e difundir uma obra escrita. Os copistas
trabalhavam durante meses em uma mesma obra, fazendo cópias ou traduções que
seriam guardadas nas bibliotecas dos mosteiros e serviriam de instrumentos para a
formação dos monges e clérigos cristãos.

Os estudos tanto de autores pagãos quanto dos teólogos cristãos eram realizados
por religiosos, que detinham praticamente o monopólio sobre a escrita e a
transmissão da doutrina cristã. Segundo Jérôme Baschet, durante a Alta Idade Média
essa situação parece tão difundida que a oposição entre letrados (litterati) e
iletrados (illitterati) recortava a divisão entre clérigos e laicos.

A partir do século XI e, especialmente, XII e XIII a escrita foi difundida e


diversificada. Se ainda é verdade que a maior parte da população não sabia ler nem
escrever, observava-se nos meios aristocráticos maior circulação de livros,
particularmente os chamados livros de horas 9 e os romances de cavalaria.

Com um lento desenvolvimento da capacidade de leitura e escrita apareceram


setores de uma camada média urbana que se dedicou a frequentar as universidades
na Idade Média. Essas instituições surgiram ligadas à Igreja e seus mestres e
membros faziam parte do corpo clerical. Os conhecimentos de Filosofia e Teologia
produzidos e difundidos pelas universidades refletem como a produção do
conhecimento permaneceu ligada ao seio da Igreja ao mesmo tempo que seus
conteúdos e saberes, até o período do Renascimento.

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Página de um livro litúrgico escrito em minúscula carolina

Scriptorium Medieval

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Livro das Horas

Atividades
1. Indique os marcos cronológicos que definem o período medieval, justificando
a nomenclatura de uma “Idade do meio”, utilizada a partir de determinado
período histórico.

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2. (Uepb 2014) Quanto aos povos germânicos que vieram dar origem aos
reinos no ocidente europeu medieval, pode-se afirmar corretamente:

a) No território do antigo Império Romano, um dos reinos que mais se


destacaram no século VII da Era cristã foi o dos Hicsos.
b) A presença dos germânicos no Império Romano foi um processo que
ocorreu gradualmente, iniciado muito antes das “invasões”, à medida que eles
penetravam nos territórios do Império e passavam a ser utilizados em trabalhos
agrícolas, bem como a integrar o exército.
c) O renascimento Carolíngio inibiu o desenvolvimento científico e proibiu a
recuperação de obras clássicas.
d) Com as invasões germânicas foi abolido totalmente o direito
consuetudinário devido à adoção do Direito Romano.
e) Não há registros históricos que apontem a contratação de bárbaros como
mercenários para lutar no exército romano.

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3. (Uepb 2014) (Enem 2014)

“Sou uma pobre e velha mulher,


Muito ignorante, que nem sabe ler.
Mostraram-me na Igreja da minha terra
Um Paraíso com harpas pintado
E o Inferno onde fervem almas danadas,
Um enche-me de júbilo, o outro me aterra.”

(VILLON. F. In: GOMBRICH, E. História da arte. Lisboa: LTC. 1999).

Os versos do poeta francês François Villon fazem referência às imagens


presentes nos templos católicos medievais. Nesse contexto, as imagens eram
usadas com o objetivo de

a) Refinar o gosto dos cristãos.


b) Incorporar ideais heréticos.
c) Educar os fiéis através do olhar.
d) Divulgar a genialidade dos artistas católicos.
e) Valorizar esteticamente os templos religiosos.

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4. (Uepb 2014) Quanto aos povos germânicos que vieram dar origem aos
reinos no ocidente europeu medieval, pode-se afirmar corretamente:

a) No território do antigo Império Romano, um dos reinos que mais se


destacaram no século VII da Era cristã foi o dos Hicsos.
b) A presença dos germânicos no Império Romano foi um processo que
ocorreu gradualmente, iniciado muito antes das “invasões”, à medida que eles
penetravam nos territórios do Império e passavam a ser utilizados em trabalhos
agrícolas, bem como a integrar o exército.
c) O renascimento Carolíngio inibiu o desenvolvimento científico e proibiu a
recuperação de obras clássicas.
d) Com as invasões germânicas foi abolido totalmente o direito
consuetudinário devido à adoção do Direito Romano.
e) Não há registros históricos que apontem a contratação de bárbaros como
mercenários para lutar no exército romano.

5. Por que é possível afirmar que a Igreja detinha o monopólio do saber na


Idade Média?

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Notas

1
Constantinopla

Constantinopla foi fundada pelo imperador romano Constantino, em 330, com o


nome de Nova Roma. Contudo, acabou se tornando conhecida pelo nome de seu
fundador, como uma homenagem ao primeiro imperador a se converter ao
cristianismo. A cidade atualmente se chama Istambul, localizada na Turquia, entre
o corno de ouro e o Mar de Mármara. Estrategicamente localizada no encontro
entre a Europa e a Ásia.

2
Limes

O termo assume um duplo significado: como um limite, uma barreira de defesa


militar do interior do Império romano; e significava também um caminho, acesso
ao interior dos territórios conquistados.

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Povo romano 3

O cronista romano Amiano Marcelino descreveu a destruição de uma cidade por


estrangeiros, considerados indignos, bárbaros: “Mas, mal a passagem estava
aberta e sem nossos homens à vista, os bárbaros aprisionados, em desordem e
sem obstáculos, espalharam devastação sobre todas as vastas planícies da Trácia,
começando com as várias regiões onde flui o Danúbio, enchendo todo esse
território com a maior confusão de roubos, assassinatos, derramamento de sangue,
fogos e uma vergonhosa violação dos corpos de homens livres” (AMIANO
MARCELINO, Hist., XXXI, 8,6).

4
O Império romano com sede em Constantinopla

O Império romano do Oriente irá se constituir como o Império Bizantino, com sede
em Constantinopla. Herdeira das tradições romanas, a História bizantina trilha seu
próprio caminho a partir da desagregação do império romano do Ocidente.

5
Islamismo

Maomé começa a pregar a partir de sua visão do Anjo Gabriel, em um monte nos
arredores de Meca. Para os islâmicos, a religião foi fundada em 622, com a saída
dos fiéis de Meca para Medina. Em 632, o profeta Maomé faleceu sem deixar
estabelecido o herdeiro ao trono de um importante poderio político, que já
dominava praticamente toda a península arábica.

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6
Baixa Idade Média

Período final da Idade Média, costuma-se fazer o recorte a partir do século XI ou


XII até os séculos XIV ou XV.

7
Antigo Império Romano

Antiga província do império romano que, atualmente, abrange a França e uma


parte da Alemanha do lado oriental e da Espanha, em direção ao Ocidente.

8
Scriptorium

Esses “quartos para escrever” como pode ser traduzida a palavra Scriptorium se
localizavam nas abadias mais poderosas e ricas; nas menores, o trabalho era
realizado em alguma parte da biblioteca ou mesmo nas dependências e habitações
dos monges.

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9
Livros de horas

Eram livros para devoção particular, continham as datas sagradas de santos e


festas do Cristianismo, as horas da Virgem, da cruz, do Espírito Santo, dos mortos,
as orações comuns e os salmos. Eram utilizados pela nobreza para suas orações e
devoções pessoais. Esse tipo de livro era, em diversos casos, ricamente adornados
e iluminados, tornando-os um rico tesouro, muitas vezes mencionado nos
testamentos como herança.

Referências

LE GOFF, Jacques; SCHIMITT, Jean-Claude. Dicionário temático do ocidente


medieval. São Paulo: Edusc, 2002;

GILSON, Étienne. A Filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1995;

ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Próximos Passos

Formação do mundo bizantino;


Cristianismo no oriente - Teorias cristológicas;
Filosofia bizantina medieval.

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13/04/2024, 14:47 História da Filosofia Medieval

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Marcos cronológicos da História Medieval;

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