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LICENCIATURA EM HISTÓRIA

HISTÓRIA DA IDADE MÉDIA OCIDENTAL


LUIZ MAIA DA SILVA

RYAN PEDRO BARROS MATOS

A IDADE MÉDIA EXPLICADA AOS MEUS FILHOS


E
A IDADE MÉDIA, NASCIMENTO DO OCIDENTE

IMPERATRIZ-MA
2023
Texto I

LE GOFF, JACQUES. A IDADE MÉDIA explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2007.

Para um entendimento da história mais simples são feitas divisões no passado em


períodos, sendo assim mais fácil explicá-los pois esses eventos estavam reunidos em volta de
um fator comum que no caso é o modo de produção da época. A Idade Média tem o
Feudalismo como seu modo de produção, que se caracteriza por uma política descentralizada
onde os feudos eram autônomos, uma economia rural e em uma sociedade estamental. Para os
pesquisadores que têm esse período como seu objeto de estudo existem dois pontos de debates
onde não existe acordo, o primeiro é a sua duração, e o segundo e o próprio olhar voltado para
a Idade Média uns mais favoráveis a esse período, enquanto o outro vai ser desfavorável a
ele.
O evento histórico que representa a ruptura da Idade Antiga para a Idade Média é a
queda do Império Romano, mas foi resultado de um processo que teve seu início no século III
d.C. com uma crise econômica, corrupção, imperadores assassinados e por fim invasões
“bárbaras”. Então no ano de 476 d.C. o último imperador romano Rômulo Augusto é expulso
de Roma, e então Odoacro assume, que era um rei germanico. Porém, para que houvesse uma
mudança como essa, tão nítida no modo de vida, uma transformação em todo modo de
produção, foram-se necessários séculos de transformação da vida cotidiana, com invasões
violentas, mas também pacíficas na forma de comerciantes e “imigrantes” que se deslocavam
para o sul. A junção disso tudo propiciou a mudança do modo de vida das pessoas na época.
No campo religioso, com a conversão dos imperadores e a transformação do
cristianismo em religião oficial, vão sendo substituídos os deuses romanos pelo monoteísmo
bíblico. A religião cristã consegue alcançar até mesmo os bárbaros, os levando a batizar-se, o
que os tornam cristãos convertidos, como exemplo é possível citar o do rei Clóvis, que devido
com poucos documentos sobre o fato, não é possível afirmar com certeza as narrativas
referentes ao ocorrido onde se é criado todo um enredo sobre sua cristianização. Entra em
uma questão quase que mitológica onde se era bom a narrativa que os primeiros líderes dos
territórios franceses já eram cristãos, é a história a serviço da ideologia, para o bem de
poucos.
A idade média tem vários pontos que não são consenso entre os estudiosos, e um deles
é justamente seu fim, enquanto alguns apontam que seu fim se dá em meados de 1500 com o
início do renascimento. Já outros pesquisadores defendem que o término do período só
acontece no final do século XVIII, argumentando que apenas com as mudanças ocorridas
nessa época, foi-se possível transformar a vida dos contemporâneos e transacionar do modo
de produção feudal, com modificações nas formas de produção da vida material e na vida
política com revoluções a começar pela Revolução Francesa que faz mudanças em todo o
mundo.
O termo “Idade Média” foi dado ao período perto do seu próprio término, ao ser
observado que os séculos passados eram uma transição que representavam um retrocesso em
relação à Antiguidade (que era uma época superestimada e idealizada). Os iluministas que
discorreram sobre a Idade Média nitidamente demonstraram seu desprezo pelo homem e a
sociedade construída nesse momento, o que fez predominar uma imagem de uma Idade das
Trevas. A contraponto, os românticos voltaram-se para a arte produzida na fase para defender
a ideia de uma Idade Média dourada, onde as grandes construções góticas principalmente as
catedrais são alvo de admiração, levando a um enaltecimento da era.
Realmente, existem fatos que corroboram para ambas as afirmações. Para uma Idade
das Trevas, existiam senhores feudais exploravam seus servos os submetendo a várias
obrigações servis, a Igreja era responsável por perseguições e mortes em nome de Deus,
coisas que ainda podem ser observadas na nossa sociedade contemporânea (de uma forma
mais sutil, mas com os mesmos objetivos). E sobre uma Idade Média dourada é possível falar
sobre a sua importância na beleza que a medievalidade traz ao imaginário, com suas
construções, seus cavaleiros, vitrais, reis e rainhas. O período não era homogeneamente nem
de todo bom ou de todo ruim, mas sim foi a mescla disso que construiu o que entendemos
hoje como Idade Média.
O continente europeu é formado no decorrer da Idade Média, o Império Romano só
ocupava a porção sul do continente, próximos ao Mar Mediterraneo com o passar do tempo,
povos que viviam mais ao norte começam a interagir politicamente e a compartilhar suas
aspectos religiosos, construído assim a Europa dos dias atuais. As civilizações que viviam
mais ao norte e não haviam sido dominadas pelo Império Romano preservaram mais as suas
línguas originais, mas ainda sofreram modificações provenientes do Latim, e o próprio Latim
sofreu transformações que deram origem às chamadas ” línguas latinas”.
No texto o autor quebra as definições errôneas que alguns ainda podem ter em relação
a esse período, que foi de suma importância para o desenvolvimento da sociedade ocidental,
ao menos da forma como a conhecemos. Ele faz uma escrita de forma imparcial, sem tentar
julgar as ações dos contemporâneos, apenas expondo os fatos, tanto os bons quanto os ruins.
Das vezes que ele expõe sua opinião, ele apoia-se em argumentos para defender suas ideias e
explica também as ideias que não concorda, dando opção ao leitor de usar a que mais lhe
agrada. O texto é uma boa introdução para os estudos medievais, uma vez que o autor é uma
das maiores autoridades em relação ao período, e essa sua obra em específico foi feita de
forma a ser de fácil compreensão.

Texto II

FRANCO, Hilário. A IDADE MÉDIA, NASCIMENTO DO OCIDENTE. São Paulo:


brasiliense, 2001. 22 p.

Para iniciar o texto o autor explica a intencionalidade do termo “Idade Média” e como
sua própria construção é para uma exaltação da era clássica e ao renascimento (momento em
que o termo foi criado), mostrando como esses períodos eram superiores. A própria divisão do
tempo não faz sentido quando se fala do período contemporâneo, para os que viviam na época
o termo não significava nada, nós dividimos o tempo para facilitar a compreensão dos fatos já
estabelecidos. mas elas não são tangíveis, já na introdução Hilário mostra que na sua
concepção de Idade Média, seu fim é dado com o início do renascimento em meados do
século XVI, o que difere de Le Goff.
No texto, mesmo apresentando quase que os mesmos tópicos de Le Goff, aqui o autor
usa de mais linhas para discorrer dos mesmos assuntos, indo mais fundo e dando mais atenção
aos detalhes. Hilário ao falar da concepção do que é Idade Média para os iluministas e os
renascentistas, informa ao leitor as primeiras aparições do termo (ou de algo aproximado) que
é feita por um bispo em 1469 usando o termo media tempestas que significa tempo médio, ou
como já em 1374 se foi usado tenebrae para se referir ao período dando início a ideia de um
tempo obscuro, acreditada por alguns até os dias atuai e como o termo fica popular e por que é
usado até os dias atuais. O que representaria a Idade Média para os seguidores dessas linhas
de pensamento? para esse intervalo de tempo o homem teve seu progresso interrompido, o
que havia sido começado com os gregos e romanos, fora interrompido e só com o
renascimento tem seu retorno. nesse tempo a barbárie, a ignorância, o medo, a insegurança, a
superstição etc. reinaram, impedindo os homens de prosperar.
Ao se distanciar dos valores, dos costumes, da arte e da cultura greco-romanos o
desprezo por esse período se intensifica tais aspectos são supervalorizados na sociedade
ocidental que suas produções são chamadas de góticas que é um sinônimo para bárbaro, por
não estar de acordo com a arte clássica. Muitos grupos tinham críticas pessoais a Idade Média
e a forma como ela se organizou, tais como os protestantes, devido a supremacia esmagadora
da igreja católica; os burgueses em razão das dificuldades de se fazer comércio na época; os
reis em função de seu poder fragmentado; os intelectuais por a cultura está muito ligada a
espiritualidade em declínio da racionalidade.
Muitos dos pensadores citados julgam a Igreja como culpada de todas as desgraças do
período, sobre isso Denis Diderot (1713-1784) afirmava que “sem religião seríamos um pouco
mais felizes”. É impossível não constatar a força que a Igreja tinha sobre a vida das pessoas
na Idade Média sendo ela responsável em unir os cidadão sobre uma mesma bandeira já que
ainda não existia a ideia de uma identidade nacional, ela que regulava o cotidiano dos
habitantes estabelecia regras e normas que mantiveram a ordem mas que de certa forma
também impedia o desenvolvimento.
Com o Romantismo se é dado um novo olhar para a Idade Média, iniciada a partir da
expansão Napoleônica com a necessidade de se despertar as especificidades de cada região e
exaltar essas diferenças e as transformam em características nacionalizantes, instigou a
pesquisa do período de forma a mostrar a já existência desses sentimentos nacionais. O
cientificismo outrora supervalorizado agora dá espaço para obras que valorizam os
sentimentos e o lado belo do tempo medieval, com romances históricos ambientados em
grandes construções góticas, essas escritas eram também carregadas de preconceitos que não
conseguiam expor de forma satisfatória o período como um todo, a medievalidade para eles
era um tempo de esplendor que deveria ser replicado, o que os leva a dar novos significados e
fazer mudanças na história a fim de construir uma Idade Média que sirva para seus propósitos,
não representando ela mas a montando a sua própria vontade. Até mesmo na Historiografia
houveram obras que enalteceram o período, segundo Thomas Carlyle que afirmava que a
civilização feudal era “a coisa mais elevada “ que a Europa havia produzido. Só no século
XX que os estudiosos começam a debruçar-se sobre a Idade Média segundo a ótica dos
próprios contemporâneos, postura que é devido muito à própria compreensão do papel do
historiador, que é o de entender o passado não de julgá-lo, o estudo do medieval se tornou
uma das principais áreas dentro da história, sendo algum de seus estudiosos responsáveis por
desenvolverem novas formas de se estudar a história. Entretanto, não significa que os autores
conseguiram reconstruir com exatidão o que foi a Idade Média, afinal isso seria impossível, o
historiador está encharcado de sua contemporaneidade. Mas mesmo não sendo uma literal
construção da realidade do passado, essa nova forma de olhar e descrever a era medieval é
menos limpa e sem estereótipos e preconceitos como as obras anteriores.
Mesmo com essas novas produções mais neutras, ainda é possível observar indivíduos
que relacionam o medieval a um obscurantismo, mesmo entre os mais cultos, fato que é
atribuído pelo autor as ideias difundidas ainda no século XVI, mostrando que a sua influência
na compreensão da Idade Média é vigente até os dias atuais. e houveram sim movimentos que
pretenderam renovar essas ideais e substituí-las por uma visão menos julgadora e mais
dissertativa dos acontecimentos.
Para as pessoas que viviam na idade média, a própria concepção de tempo era definida
de duas formas, segundo as crenças da própria religião, em primeiro o tempo é visto como um
tempo cíclico onde as coisas tendem a se repetirem, onde o cronológico estava a mercê da
biologia, sem o interesse de transformar fatos em história, essa visão está muito ligada ao
cotidiano das pessoas “comuns” da época. E a segunda interpretação é a do clero que
necessitava dessa noção das datas, para a realização de suas liturgias, que eram de suma
importância para a manutenção da fé das pessoas, ao passo que lembrava-as das celebrações
que existiam dentro da Igreja, como o nascimento de Jesus, sua morte etc.
O autor aborda diferentes óticas do mundo medieval que juntas falam uma parte da
história da História, suscitando diferentes Teorias filosóficas que alteraram a narração dos
fatos levando a diferentes conclusões do que foi a Idade Média, concepções que são válidas
em seus tempos, não expondo a verdadeira mentalidade dos habitantes da época, já que isso é
impossível. Temos fontes que nos aproximam daquela realidade, e teorias e métodos que nos
lpermitem especular sobre as idéias que predominavam, produzindo um maior entendimento
desse período de importância imensurável para a humanidade

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