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CAPELANIA MILITAR

E POLICIAL

Autoria: Eduardo Augusto de Santana

1ª Edição
Indaial - 2022
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2022


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

S232c

Santana, Eduardo Augusto de

Capelania militar e policial. / Eduardo Augusto de Santana –


Indaial: UNIASSELVI, 2022.

134 p.; il.

ISBN 978-65-5646-362-9
ISBN Digital 978-65-5646-360-5
1. Capelania militar. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da
Vinci.

CDD 210

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
O Processo De Conceituação, Consolidação
E Evolução Da Capelania Militar E Policial............................... 7

CAPÍTULO 2
A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura.................... 55

CAPÍTULO 3
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério Pastoral
Mantém Com A Ética E Com A Religião....................................... 97
APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo à disciplina de Capelania Militar e Policial. Ao longo do texto
você compreenderá como se deu o surgimento, a evolução e a consolidação da
Capelania Militar dentro da estrutura das forças militares, desde os tempos remo-
tos até os dias atuais. Também perceberá como a figura do capelão estava pre-
sente desde o início do processo de colonização do Brasil, e como a sua relação
com os conquistadores foi crucial para o sucesso da colonização e manutenção
da ordem social estabelecida ao longo de séculos no Brasil colonial e Imperial.

Neste sentido, ao longo de toda a disciplina, você terá a oportunidadede es-


tudar a respeito da origem do Capelão Militar e Policial, de como se instituciona-
lizou a inserção dentro dos quadros das forças militares, no Brasil Imperial e ao
longo período republicano por meio do estudo da legislação pertinente ao tema.
Sobretudo, terá a oportunidade de conhecer a respeito dos critérios de seleção,
do perfil, da postura ética e o que se espera desse profissional.

Logo, faz-se necessário e indispensável que você se dedique e estude todo


conteúdo deste livro, como também realize todas as atividades propostas nadis-
ciplina, de modo a tornar-se um esmero conhecedor nos assuntos apresentados.

Desejamos a você bons estudos e sucesso!

Prof. Eduardo Augusto de Santana


C APÍTULO 1
O Processo De Conceituação,
Consolidação E Evolução Da
Capelania Militar E Policial
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� Compreender como surgiu a figura do capelão militar e suas variações ao longo


da história.
� Compreender o cenário da assistência religiosa dentro das forças de seguran-
ça do Brasil.
� Analisar as conjunturas que deram origem a toda uma legislação de relaciona-
da ao exercício da capelania dentro das forças de segurança do Brasil.
� Discutir o conceito de capelania.
� Entender as razões pelas quais se instituiu o patrono da assistência religiosa
do exército brasileiro e compreender o sentido deste termo e dos fatores histó-
ricos que legitimaram a instituição desse patrono dentro das forças armadas do
Brasil.
Capelania Militar e Policial

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Este capítulo tratará a respeito das circunstâncias históricas e sociais nas
quais a capelania militar surgiu e se consolidou dentro das forças militares ao
longo do tempo. Trata-se, desta maneira, de elencar acontecimentos e conjuntu-
ras que marcaram a atuação do capelão em momentos de conflito e desamparo
emocional. Sendo assim, a capelania desponta como um importante elemento de
capitalização das angustias, ansiedade, medos e desamparo que afligiam e afli-
gem os homens de armas ao longo dos séculos.

Outra questão que será apresentada diz respeito a como a presença de re-
ligiosos nas frentes militares, desde o início da formação que viria a ser o Brasil,
se faz senti ainda no início da colonização da América portuguesa. Assim, como a
sua atuação no processo de conversão dos povos nativos e dos africanos escravi-
zados introduzidos no território ao longo de mais de três séculos. Como se pode,
constatar a sua presença é um dos elementos chaves no processo de construção
de uma ordem social implantada pelos colonizadores portugueses.

Ao longo dessa discussão, será possível compreender como a capelania mi-


litar foi se consolidando, enquanto elemento indissociável da vida militar, dentro
das forças armadas e forças auxiliares do Brasil. Assim, ela foi associada de ma-
neira tal que nos dias atuais ela está perfeitamente integrada institucional e legal-
mente dentro da estrutura militar. Havendo, todavia, toda uma normatização para
o acesso e exercício das capelania dentro daquelas forças.

2 INTRODUÇÃO À CAPELANIA
MILITAR E POLICIAL
Neste tópico serão abordadas a abrangência e a dimensão histórica da rela-
ção entre religião e militarismo. É necessário dizer que o capelão esteve presente
desde o império romano entre as forças militares. A origem do termo capelania
aconteceu na história de Martinho de Tours, soldado romano que viveu no século
IV d.C., contemporâneo de Constantino. A esse respeito fala-se da experiência de
Martinho e como surgiu o nome da capelania e demais termos derivados (VIEIRA,
2009, p. 41 e 42).

Outra versão a respeito do tema diz o seguinte:

Conta-se que era uma noite muito fria, “frio de rachar”, no inver-
no de 338, Martinho cavalgava para sua casa quando avistou

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Capelania Militar e Policial

um mendigo. Motivado de compaixão, rasgou sua capa em duas


partes e deu a metade para aquele homem que parecia não su-
portar mais a baixa temperatura. Naquela mesma noite, teve
um sonho. No sonho, Jesus Cristo aparecia com a metade da
capa que dera ao mendigo. Quando contou o sonho para outras
pessoas, ele chamou à metade daquela capa de capa pequena
ou “capela”. Essa capa foi preservada, e no sétimo século foi
guardada em um oratório que, por isso, passou a chamar-se
“cappella”. Com o passar do tempo esse termo passou a desig-
nar qualquer oratório e o encarregado por estes passou a ser
chamado cappellanus – capelão. Em torno do século XIV a pa-
lavra cappella passou a designar generalizadamente qualquer
pequenotemplo destinado a acolher o Cristo no acolhimento dos
irmãos mais necessitados (NOBRE, 2013, p. 1-3).

Na França medieval, por exemplo, costumava-se levar uma relíquia de ca-


pela ou oratório de São Martin de Tours, preservada pelo Rei da França, para o
acampamento militar, em tempos de guerra. A referida relíquia religiosa era colo-
cada dentro de uma tenda especial que levava o nome de capela. Dentro da ten-
da um sacerdote estava sempre de prontidão para realizar o ofício religioso e dar
aconselhamento pastoral para aqueles que assim o queriam.

A partir daí, o uso do padre capelão passou a ser requerida também em tem-
pos de paz. Passando, assim, o reino a ter um sacerdote que também era o con-
selheiro. Esse costume também era observado em Roma, sede do Papado. Já
em 1789, esse ofício foi abolido na França como um dos desdobramentos da Re-
volução francesa, mas foi restabelecido em 1857, peloPapa Pio IX. A esta altura, o
sacerdote que tomava conta da capela, que era chamado Capelão, passava a ser
o líder espiritual do Soberano Rei e de seus representantes (FERREIRA, 2017, p.
41-42). O serviço de capelania, com o tempo, passou a estender-se a outras insti-
tuições sociais, como o: Parlamento, Colégios, Cemitérios e Prisões.

De acordo com Pereira (2016. p. 20), a capelania também está presente em


muitos outros campos e lugares da sociedade, apesar de ser mais conhecida no
meio hospitalar, policial e militar. Existe, desta maneira, uma grande diversidade
de áreas de atuação da capelania, tais como: prisional, social, ecológica e escolar
dentre outras. Ela se configura, na atualidade, como uma assistência religiosa e
social prestada a serviços civis e militares. A sua missão visa garantir uma presta-
ção de serviço social e, principalmente, espiritual, enfocando a fé em Jesus Cristo
e não apenas de um seguimento religioso específico. Buscando levar fé e espe-
rança para aqueles que necessitam.

O movimento moderno e mais definido de capelania, com tendências à insti-


tucionalização das suas atividades, começou a surgir, de fato, no final do Século
XIX, através de uma acirrada discussão sobre psicologia pastoral, nos Estados
Unidos e na Inglaterra. O pastor Washington Gladdenera, da igreja congregacio-

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

nal de Columbus, nos Estados Unidos, era um sacerdote cristão que defendia que
os líderes religiosos e os médicos deveriam trabalhar em conjunto na busca de
garantir o pleno bem-estar das pessoas, estabelecendo um vínculo entre a saúde
mental e a saúde física.

Mas foi na virada do Século XIX para o Século XX que eclodiu uma forte
discussão sobre experiência religiosa. Naquela ocasião, juntaram-se psicólogos,
teólogos, clérigos, médicos e psicoterapeutas. O tema do encontro principal era:
“cura para todos” e tinham por objetivo buscar saúde para “o homem inteiro”. Já
na Inglaterra, alguns anos mais tarde, Leslie criou seminários de debates, en-
volvendo psicologia, medicina e psicanálise. Esse engajamento acabou trazendo
contribuições imprescindíveis para consolidar, sobretudo, as atividades de cape-
lania hospitalar daquele tempo. Insta-se dizer que, naquela altura, o trabalho de
capelania estava vinculado à psicologia, principalmente a emergente disciplina
denominada “psicologia pastoral”.

2.1 A CAPELANIA NOS PRIMEIROS


TEMPOS DO BRASIL
A presença do capelão no Brasil tem início com a chegada dos portugueses
em 22 de abril de 1500, pois, junto com Pedro Álvares Cabral vieram os padres
representantes para abençoar a viagem, bem como as futuras terras que seriam to-
madas em nome da Coroa portuguesa e transformadas em colonia de exploração.

A missa oficial em terras brasileiras se deu no dia 1° de maio do mesmo ano.


Tendo sido esse o primeiro ato oficial realizado, nestas terras, pelos portugueses.
Sendo esse um ato de grande relevância simbólica e política na medida em que
a missa se destinava a entregar as terras a Deus, tendo sido ela realizada por ofi-
ciantes católicos que eram usualmente levados nas expedições daquele período
(TUFANO, 1999).

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Capelania Militar e Policial

IMAGEM 1 – CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA MISSA NO


BRASIL – OBRA DE VICTOR MEIRELES

FONTE: <https://www.museus.gov.br/a-primeira-missa-no-brasil-de-victor-
meirelles-chega-a-brasilia-para-exposicao/>. Acesso em: 29 maio 2021.

IMAGEM 2 – CRUZEIRO MARCANDO O LOCAL ONDE TERIA SIDO


CELEBRADA A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL EM 1500

FONTE: <http://www.diocesedeamparo.org.br/index.php/2017/04/26/primeira-
missa-no-brasil-completa-517-anos/>. Acesso em: 29 maio 2021.

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

É Importante destacar que, em decorrência da imensidão do território, da


chamada América portugesa, foi necessário organizar forças militares com vistas
à proteção dos interesses da Coroa portuguesa e dos grupos que investiam os
seus capitais neste terrítório. Buscando, desta maneira, evitar que os territórios
que já haviam sido tomados dos povos nativos e, posteriormente, colonizados,
caissem sob o julgo de outras potencias euroepias daquele período.

Desta maneira, ainda na primeira metade do século XVII, em razão do desen-


volvimento econômico das áreas litorâneas em decorrência dos lucros gerados
pela indústria do açúcar, sobretudo em Capitanias como Pernambuco e Bahia,
nas quais houve uma arregimentação de tropas regulares e voluntárias para dar
combate aos invasores holandeses que haviam, a príncipio, tomado alguns terri-
tórios da Capitania de Bahia de Todoso os Santos e, após expulsos, se organza-
ram e tomaram sob o seu domínio boa parte das áreas produtoras de açúcar da
Capitania de Pernambuco. Neste cenário, de grande tensão bélica, pela primeira
vez se mobilizou grandes efetivos nos domínios portugueses na América, dando,
supostamente, início a um certo sentimento de defesa de pretensa identidade cul-
tural comum, na qual o catolicismo se configurava como força motriz deste pro-
cesso frente aos invasores chamados de hereges por cristãos da Igreja Cristão
Reforma, hoje em dia, genericamente chamados de evangélicos ou protestantes.

A primeira Batalha de Guararapes (19 de abril de 1648) marca o início da


organização do exército como força genuinamente brasileira e, no decorrer da
história, as forças de defesas foram apoiadas pela Igreja Católica (ROLIM, 2020,
p. 12-17). Direito esse garantido pelo regime de padroado que garantia a alianças
entre a Coroa Portuguesa e a Santa Sé. A esse respeito, Andrade (2011, p. 273)
comenta o seguinte:

O Estado, com sua jurisdição, enraizou-se (constituindo-se)


nas práticas costumeiras de poder dos coloniais e nas institui-
ções basilares das comunidades, como as capelanias, estrei-
tando os laços de dependência entre a administração régia, a
proeminência senhorial e as jurisdições eclesiásticas.

A partir da análise, percebe-se o quanto a aliança firmada entre Estado e a


Igreja, na América portuguesa, foram cruciais para a consolidação da colonização,
uma vez que atuavam em conjunto com vistas a impor um modelo de ordenamen-
to moral, social e ideológico. Desta maneira, a ação dos missionários e capelães
foram essenciais para o alcance desses objetivos. E, se, por um lado essa aliança
favorecia, de certa maneira, a inserção do nativo e do africano escravizado dentro
do sistema colonial, por outro lado, era utilizada para legitmar as desigualdades
ali implementadas pelo invasor e colonizador português.

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Capelania Militar e Policial

IMAGEM 3 – BATISMO DE ESCRAVIZADOS CHEGADOS À COSTA BRASILEIRA

FONTE: <https://observatorio3setor.org.br/noticias/escravos-da-religiao-
os-escravizados-pela-igreja-no-brasil/>. Acesso em: 26 maio 2021.

É possível aprofundar a discussão do papel dos padres e minis-


tros protestantes na escrivização negra através da obra cinematográ-
fica: Amistad cujo enredo é baseado em fatos reais.

Naquele cenário, o discurso religioso era utilzado para demonizar a cultura


e a religiosidade dos grupos étnicos subjulgados. Além de contribuir significativa-
mente para forjar um modelo de sociedade onde as hierarquias sociais ali imple-
mentadas fossem mais facilmente aceitas pelos grupos sociais desfavorecidos.
Sendo assim, fossem africanos escravizados, indios escravizados ou livres, ou
mesmo um pobre livre estava condicionado por meio do discurso religioso a aten-
der aos interesses da empresa colonial nas terras brasileiras.

A propósito, no período escravagista, o escravizado pela Igreja quer fossem


pessoas negras ou nativas, eram chamadas de “escravos da religião”. Aqueles
escravizados que eram mantidos em mosteiros e conventos também eram obri-
gadas a professar a fé católica, participando de missas, momentos de orações
e recebendo os sacramentos. Não raro, aqueles que ousavam resistir à conver-

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

são forçada costumavam ser punidos com castigos cruéis “de forma exemplar”. A
esse respeito, eram três as principais ordens religiosas escravistas do Brasil: os
jesuítas, os beneditinos e os carmelitas dos pés descalços. E mesmo em menor
número, também os franciscanos mantiveram a posse de escravizados em suas
instituições (BBC Brasil, 2021).

IMAGEM 4 – ALDEAMENTO INDÍGENA CONTROLADO PELOS


JESUÍTAS NA REGIÃO DAS SETE MISSÕES

FONTE: <http://www.portaldasmissoes.com.br/site/view/id/1694/gravatai-
a-mais-longinqua-reducao.html>. Acesso em: 28 maio 2021.

Em Minas Gerais setecentista, no auge da produção aurífera do Brasil, o ser-


viço do capelão militar envolvia a elaboração de toda uma articulação política,
econômica e religiosa que demonstra a importância daquele ofício para a socie-
dade da época, na qual a necessidade de um o recém-presbítero, querendo ser
capelão, contasse com a existência ou a instituição de algum benefício eclesiásti-
co de capelania. Em síntese, o exercício do ofício que requeria a posse de certos
recursos financeiros para o clérigo que se lança ao seu exercício, demontrando,
assim, que ele não era acessível a qualquer cidadão, mesmo branco e livre, pois
se fazia necessário deter a posse de recursos financeiros e relações famíliares
que lhe permitissem ser impossado neste ofício.

Ao longo do Brasil colonial, as capelas se configuravam em polos da vida so-


cial, tanto nas zonas urbanas, quanto nas áreas ruraris. Era nas que capelas que
se faziam os procedimentos legais relacionados à justiça civil ou à eclesiástica;
quando os sacerdotes, na ocasião dos ofícios litúrgicos, divulgavam suas ações,
convocavam testemunhos ou fixavam editais nas portas das capelas.

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Capelania Militar e Policial

Desta forma, não era por acaso que os conflitos políticos sujeitos à represen-
tação pública costumavam acontecer durante as atividades religiosas, dentro ou
no entorno daqueles templos religiosos. No período, quando ocorriam alguns con-
litos, era comum que se buscasse a sua resolução durante as reuniões nas ca-
pelas ou na matriz do arraial durante as missas, ofícios dos sacramentos e festivi-
dades. Além disso, os escravizados, por saber da ocorrência de tais ajuntamentos
de pessoas nas capelas durante os rituais do calendário católico, em festividades
como a celebração da Páscoa, Natal, Corpus Christ, festividades de Santos, entre
outros; elegiam essas ocasiões como o momento mais adequado para dar início
a revoltas e subjugar senhores, famílias e moradores de uma só vez (ANDRADE,
2009, p. 277-279).

IMAGEM 5 – CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO


DOS OUTEIROS DE IPOJUCA, DATADA DE FINAIS DO SÉCULO
XVIII, LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE IPOJUCA –PE

FONTE: Laboratório de Arqueologia da UFRPE (2014)

Ao longo do período colonial, em decorrência das guerras de


resistência contra os holandeses e contra o Quilombo dos Palmares,
teve início o processo de consolidação de uma organização institu-
cional militar em terras brasileiras. Portanto, o seu processo de ma-

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

turamento institucional e cultural terá início ao longo do processo de


construção de uma identidade sociocultural que, hoje, é comumente
chamado como identidade brasileira, passando pela época do im-
perio até o tempo presente no qual, na atualidade, pode-se observar
uma estrutura muito bem organizada em todas as áreas.

Nos dias atuais, o capelão dentro das forças armadas e poli-


ciais no Brasil é uma figura indissociável das instituições militares no
Brasil, pois, além do auxilio prestado no campo religioso e social, o
capelão é um homem que tem a capacidade de fomentar amizades
e de influenciar a irmandade dentro das Forças Armadas e Policiais.

2.2 O CAPELÃO E OS PRIMEIROS


TEMPOS DA COLONIZAÇÃO DO
BRASIL
O termo capelão tem origem do latim capellanus. Já na Idade Moderna,
usualmente o termo se referia a um tipo de ministro religioso que servia nas for-
ças armadas com o objetivo primário de orientação espiritual aos homens. Além
de ser conselheiro religioso, o capelão é responsável pela vida religiosa de todos
aqueles que estão debaixo de seu comando. Ainda de acordo com o autor, com
o crescimento e desenvolvimento de vários tipos de capelas, o ofício de capelão
também cresceu e se fortaleceu, tornando-se um grande líder com poderes ecle-
siásticos (CRIVELARI, 2008, p. 17).

No mundo do açúcar, o padre capelão era peça-chave para garantir a manu-


tenção da ideologia dominante imposta pelos grupos sociais que se serviam dos
índios e negros escravizados para fazer funcionar as lavouras de cana e engenhos
açúcareiros. Importa esclarecer que a indústria do açúcar, ao menos nos dois pri-
meiros séculos, foi a força motriz da colonização na qual todas as demais ativida-
des econômicas dependiam direta ou indiretamente desta atividade. Desta forma,
pode-se dizer que, dentro dos engenhos e vilas açúcareiras, o capelão ajudava nas
estruturas ideológicas que sustentavam aquele modelo de sociedade, legitimando,
por meio de sua prática religiosa, a situação de penúria que era imposta a negros e
indígios pelos colonizadores europeus (SANTANA, 2021, p. 88-96).

No cenário produzido pelas plantações de cana e engenhos de açúcar, as


capelas, construções religiosas dirigidas pelos padres capelães, foram os tipos

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Capelania Militar e Policial

construtivos que se sobressaíram naquela paisagem. Segundo Fátima Quintas


(2007, p. 89-122), embora fossem elas pequenas, simples e rusticamente cons-
truídas, a capela se sobressaiu dentro do mundo dos engenhos, justamente por
fazer parte do dia a dia de todos que estavam inseridos naquela paisagem. Aque-
les templos, até certa medida, eram cruciais para a legitimação das diferenças
e privilégios que alguns grupos sociais e/ou étnicos obtiam sobre outros menos
favorecidos dentro daquele modelo de sociedade.

 A propósito, tomando de empréstimo algumas reflexões do sociólogo Pierre


Bourdieu (2011, p. 9-16), o historiador Eduardo Santana comenta que a impor-
tância simbólica das capelas de engenho era tão contumaz que, “na ocasião da
botada – primeiro dia da moagem da cana – lá se postava o padre para que tudo
corresse conforme o esperado no eito, ou seja, para que os trabalhos ocorres-
sem sem qualquer anormalidade e a produção gerasse um bom lucro ao senhor”.
Nada se fazia sem antes de sacralizar o profano. O mundo, pensava-se, estava
cheio de maus-olhados. Segundo a cultura religiosa da época, com o Deus cristão
como patrono, o trabalho tinha garantias de sucesso. Garantido, assim, largos ca-
bedais financistas deste empreendimento (SANTANA, 2014, p. 132-135).

IMAGEM 6 – ENGENHO AÇUCAREIRO COM CAPELA NO CANTO


SUPERIOR ESQUERDO – FRANZ POST – ENGENHO, SEM DATA

FONTE: Santana (2014, p. 127)

Ainda de acordo com o historiador Eduardo Santana (2014), que buscou em


suas pesquisas levantar dados que pudessem vir a esclarecer a relação entre

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

esse tipo construtivo (a Capela) e a teoria de dominação formulada pelo Bourdieu


– e se utilizando da fala do próprio autor – esclarece que os chamados “sistemas
simbólicos”, enquanto instrumentos de conhecimento e dominação só exercem o
seu poder na medida em que são estruturados. Eles são inteligíveis aqueles que
comungam circulam dentro de um mesmo sistema cultural em que dado poder se
faz representar. Assim sendo, “o poder simbólico é um poder de construção da
realidade que tende a estabelecer uma ordem, se configurando como instrumento
de dominação estruturante” (BOURDIEU, 2011, p. 13-15). Ou seja, ele confere
uma hierarquia de sentidos para o mundo, mas que dialogue com a ordem es-
tabelecida e não a contrarie. E é justamente por isso que o autor defende que o
poder simbólico oferta um sentido imediato de mundo social.

 Desta forma, o motivo pelo qual as capelas eram geralmente instaladas na


mesma topografia de uma casa-grande, sinalizava que esses templos eram tam-
bém responsáveis pelo ordenamento social, através da legitimação da ordem es-
tabelecida por meio do discurso religioso que agia de acordo os interesses dos
grupos dominantes. Portanto, “juntamente com a casa-grande, a capela de enge-
nho era crucial para a configuração, legitimação e estabelecimento dos poderes
políticos e religiosos que se associavam no espaço físico dessas unidades produ-
toras” (SANTANA, 2014).

IMAGEM 7: CAPELA DE SÃO COSME E DAMIÃO – DATADA DO SÉCULO XVIII


– SITUADA NO ENGENHO TAPERA NO MUNICÍPIO DE IPOJUCA – PE

FONTE: Laboratório de Arqueologia da UFRPE (2014)

A personificação simbólica desse tipo construtivo se mostrava de maneira tão


incisiva naqueles espaços que, entre as pessoas contratadas para o serviço do
engenho, o capelão era, talvez, o mais importante dos colabores livres a serviço
do senhor de engenho. Antonil (1982, p. 81) comenta que:
 
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Capelania Militar e Policial

A que se há encomendar o ensino de tudo o que pertence a


vida cristã, para desta sorte satisfazer à maior das obrigações
que tem, a qual é doutrinar ou mandar doutrinar a família e
escravos [...] entenda que este será o melhor dinheiro que se
dará em boas mãos.

Até a segunda metade do século XVIII, os capelães eram contratados para


servir a nobres e interesses da realeza. No entanto, em finais do século XVIII
também passam a servir em quartéis, hospitais, prisões e instituições de ensino.
Entretanto, é o ofício do capelão em hospitais bastante requerido. Ubiratan Cri-
velari, ao se referir ao trabalho em instituições de ensino, afirmar que no serviço
de capelão em instituições de ensino fazem parte deste trabalho ministros evan-
gélicos, rabinos ou padres católicos romanos, que tomam conta de uma capela
centralizada dentro do campo da instituição de ensino comandada pela sua de-
nominação religiosa. Mais adiante, o autor comenta que a sociedade moderna
gerou um outro tipo de capelão, aquele que trabalha em indústrias. Sobretudo, na
França, os sacerdotes operários da França servem de exemplo desse conceito,
os quais tinha a missão de ministrar palavra enquanto trabalhavam, mantendo
alguma posição de respeito na indústria onde serviam (CRIVELARI, 2008, p. 17).

Já no meio empresarial brasileiro, há uma outra versão desse modelo de


capelania industrial encontrado na França. No Brasil, a capelania Empresarial tido
pelos empresários como um serviço proativo de apoio, trato da espiritualidade e
aconselhamento e é voltado ao que se julgar ser mais importante em uma empre-
sa, ou seja, as pessoas que nela trabalham.

As empresas que estão associadas, que aderem a esta prática, recebem o


apoio de capelães que visitam o local de trabalho regularmente e buscam ajudar
seus funcionários e familiares em assuntos relacionados ao dia a dia e a crises
eventuais, tão próprias da existência humana que possam lhes acometer. Bus-
cando, a partir de uma preocupação estritamente religiosa cristã, levar conforto
espiritual aos que precisam.

FIGURA 1 – CAPELANIA EMPRESARIAL NO BRASIL (+1)

FONTE: <http://www.capelaniaempresarial.com.br/faq/>. Acesso em: 1 jun. 2021.

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

Importa dizer que a expressão “+1”, incorporada ao nome “Capelania Em-


presarial”, remete à ideia de ‘soma de esforços no sentido de laborar junto’, bus-
cando, assim, integrar a equipe que trabalha em uma empresa determinada. Esse
termo também se aplica ao que é chamado de Capelania Institucional, ou Capela-
nia Corporativa, que é o serviço espiritual que se propõe a oferecer vista atender
aos servidores das empresas onde está implantada. Buscando, assim, implemen-
tar e manter um ambiente de trabalho salubre e acolhedor para todos. Alguns
frutos possíveis poderão ser: maior sentimento de lealdade para com a empresa
e mais compromisso com suas metas, melhor avaliação dos funcionários em re-
lação à supervisão, sentimentos crescentes de team, uma melhora significativa
na produtividade geral pela redução do absenteísmo e turnover com consequente
diminuição dos custos de treinamento e manutenção.

2.3 O CAPELÃO E AS FORÇAS


ARMADAS
O Exército Brasileiro é regido por uma hierarquia, isto é, um cadeia de coman-
do que se pode chamar de coluna vertebral. Cada posto tem suas prerrogativas,
atividades e objetivos, sejam eles burocráticos ou não. A força do Exército Brasileiro
e toda sua estrutura está na força de comando (CRIVELARI, 2008, p. 18).

A hierarquia militar é a base da organização das Forças Arma-


das e compõe a cadeia de comando a ser seguida por todos
os integrantes das forças em sua estrutura organizacional. No
Brasil, a constituição preve que o Presidente da República é o
posto mais alto da hierarquia das forças armadas. A hierarquia
se divide entre os postos, denominação dada às diversas ca-
tegorias de oficiais, e as graduações, como são chamadas as
categorias de praças.

Segundo esclarece Crivelari (2008, p. 19), o Exército Brasileiro vive em paz


com seus vizinhos de fronteiras há mais de 120 (cento e vinte anos). O esta-
do brasileiro é, sob esta perspectiva, uma nação pacífica a qual não vislumbra a
possiblitadade de qualquer conflito armado, ao menos a curto e a médio prazo.
Dando, desta maneira, aos seus habitantes, pelo menos neste aspecto, uma sen-
sação de tranquilidade onde todos os se sentem seguros quanto a isso. Além do
mais, as forças armadas estão presentes em toda extensão do território nacional,
visando, assim, garantir a segurança do seu povo e a soberania naconal frente a
qualquer ameaça externa.

É importante mencionar que nas instituições militares existem as capelanias


evangélicas e católicas, as quais desenvolvem suas atividades buscando prestar

21
Capelania Militar e Policial

assistência espiritual aos integrantes daquelas forças nas mais diversas situações
da vida. Segundo a Arquidiocese Militar do Brasil, o capelão militar é, antes de
mais nada, um ministro religioso encarregado de prestar assistência religiosa a
uma corporação militar (Marinha, Exército, Aeronáutica, Polícias Militares e Cor-
pos de Bombeiros Militares).

De acordo com a Arquidioce Militar do Brasil, o capelães militares gozam dos


mesmo poderes que são dados aos párocos, conforme o Art. 7º daConstituição
Apostólica Spirituali Militum Cura.

Em referência à função do Capelão Militar, o Estatuto prevê a ordem do pres-


biterato, dado que a função do Capelão se equipara a de Pároco, que é privativa
de presbítero.

O art. 15 do Estatuto do Ordinariado Militar do Brasil (2018) assim prevê:

Art. 15
§1. Serão destinados para o serviço religioso no Ordinariato
Militar sacerdotes do clero secular e do clero religioso, forman-
do um só Presbitério. Os sacerdotes do clero secular poderão
ser incardinados no mesmo Ordinariato, segundo as normas
do Código de Direito Canônico. Os sacerdotes incardinados
no Ordinariato Militar, uma vez completado o serviço nas For-
ças Armadas, poderão regressar às suas circunscrições ecle-
siásticas de origem, observadas, porém, as normas do Direito.
Pelo contrário, os candidatos promovidos ao Diaconato para
prestarem serviço no Ordinariato Militar, permanecem neste
incardinados.

§2. Os sacerdotes designados estavelmente para o serviço


das Forças Armadas são denominados “Capelães Militares”,
gozando dos mesmos direitos e deveres canônicos análogos
aos Párocos. Os direitos e deveres devem ser entendidos
cumulativamente com os do Pároco local, em conformidade
com os artigos IV e VII da Constituição Apostólica Spirituali Mi-
litum Curae.

A capelania, dentro das instituições militares, é também conhecida como ca-


pelania castrense, todavia, é importante destacar que para se tornar capelão, o
candidato deve ser um ministro religioso já consagrado – Padre, Pastor, Presbí-
tero, entre outros, possuir experiência comprovada no campo pastoral e conduta
moral irrepreensível. Além do mais, o religioso deve ser aprovado em concurso
público de provas e títulos. Desta forma, após os tramites, após a aprovação no
concurso, o candidato é obrigatoriamente matriculado em um curso militar especí-
fico de estágio e Adaptação de Oficial Capelão. Havendo, portanto, que vivenciar
todo um processo burocrático até que, efetivamente, assuma a função de capelão
militar dentro da instituição.

22
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

A assistência religiosa nas entidades civis e militares é, inclusive, dispositivo


previsto na Constituição Brasileira de 1988, na qual o tema é tratado nos seguin-
tes termos:

Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liber-
dade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

I - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos


termos desta Constituição;
II- Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei;
III- Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu-
mano ou degradante;
IV- É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato;
V- É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
VI- É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas litur-
gias;
VII- É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assis-
tência religiosa nas entidades civis e militares de internação
coletiva;
VIII- Ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as in-
vocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recu-
sar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX- É livre a expressão da atividade intelectual, artística, cien-
tífica e de comunicação, independentemente de censura ou
licença;

Art. 6o: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição.

Art. 203: A assistência social será prestada a quem dela neces-


sitar, independentemente de contribuição à seguridade social,
e tem por objetivos:
I- A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescên-
cia e à velhice;
II- O amparo às crianças e adolescentes carentes;
III- A promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV- A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de de-
ficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária
(BRASIL, 1998).

Portanto, como bem demonstra o dispositivo transcrito, a Constituição brasi-


leira de 1988 buscou assegurar a liberdade de exercício da crença religiosa, sem
condicionamentos, e protege os locais de culto e suas liturgias na forma da lei.
23
Capelania Militar e Policial

A lei visa garantir e assegurar a formação integral do ser humano, oferecen-


do oportunidades de amparo, proteção, conhecimento, reflexão, desenvolvimento
e aplicação dos valores e princípios que lhe foram conferidosdentro da sua crença
para o exercício saudável da cidadania. Ao tomar posse de suas funções, dentro
da instituição militar, o capelão precisa estar ciente da legislação e das obrigações
que permeiam a sua prática profissional e sacerdotal. Entendendo que todas as
suas ações devem ser desenvolvidas com transparência e organização.

No dia a dia da vida em sociedade, é recomendável que o capelão se porte


com discrição, absoluto respeito e dignidade cristã. A recomendação é que bus-
que ter e manter uma conduta moral irrepreensível perante a sociedade. Deve
demonstrar ainda ser possuidor de um senso patriótico e contribuir para que todos
aqueles que o cercam, amem a pátria e observem as suas leis. Além do mais, ele
deve zelar pelo bom nome dos seus colegas de farda e profissão, não permitindo
que, em qualquer situação, haja comentários desabonadores a respeito dos mes-
mos. Defendendo também a instituição a qual representa. Fazendo, assim, tudo
o quanto estiver ao seu alcance para evitar que, quem quer que seja, faça uso de
propaganda negativa contra os capelães cristãos, seja através de imprensa escri-
ta, falada, televisiva ou pelas redes sociais.

Dessa maneira, a formação que se oferta pelas instituições militares aos


aprovados no concurso para capelão visa prepará-lo para lidar com situações do
dia a dia, quando do exercício de suas funções, oportunizando as condições ne-
cessárias para ele se desenvolver emocional e espiritualmente para atender a
todos que buscarem o seu auxílio.

IMAGEM 9 – POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS CELEBRA À


PADROEIRA NOSSA SENHORA AUXILIADORA, COM MISSA NA
CAPELA DO BATALHÃO NO BAIRRO DE PETRÓPOLIS

FONTE: <https://uniasselvi.me/336BHuL>. Acesso em: 4 jun. 2021.

24
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

Para o exercício da capelania, o capelão certamente irá observar, ao longo


de sua jornada, alguns requisitos basilares que o acompanharão durante toda sua
caminhada:

• Ser humano, sensível e solidário. O capelão, acima de tudo, precisa


ser gente, possuidor de personalidade de escutar e acolher as vozes dos
necessitados, de compreender e de servir (cuidar). Deve ser alguém que
seja uma presença significativa, e procure defender a dignidade da pes-
soa humana, seus valores de fé, liberdade e visão de mundo;

• Ser vocacionado (carisma e fé). O capelão sente-se chamado por


Deus a partir da realidade do sofrimento para gerar vida e saúde, procura
ouvir os apelos de Deus no coração da vida: do nascimento à morte. É
continuador da ação misericordiosa e libertadora de Cristo para com os
necessitados, no hoje de nossa história, a exemplo do bom Samaritano
(Lucas 10:29-37);

• Agente de transformação. É alguém que nutre uma indignação ética


frente ao descaso em relação à vida humana. Sua missão se constitui de:
o denúncia ao que contradiz o projeto de vida de Jesus;
o anúncio de uma nova realidade na perspectiva do Reino;
o vivência dessa novidade no seu dia a dia (presença questionante). É
defensor de políticas de humanização que coloquem o necessitado
como razão de ser e existir da humanidade; pessoas são mais impor-
tantes que objetos e coisas afins;
o profissional com formação específica e permanente. O capelão pro-
cura integrar conhecimento das ciências humanas (psicologia, socio-
logia e biológicas etc.) com a formação teológico-pastoral. Atualiza-
-se constantemente frente ao novo. É um profundo conhecedor dos
problemas de bioética levantados pelo progresso técnico-científico na
área de sua atuação. Sempre deve ser dedicado e, procurar conhecer
a estrutura de funcionamento da capelania que irá exercer.

• Espiritualidade Pascal. É a presença evangélica geradora de vida e


esperança em meio à dor, sofrimento, cuidados e morte. É alguém que
ora a partir do necessitado e com o necessitado. Cultiva uma dimensão
orante da vida a partir da experiência do sofrimento humano, numa pers-
pectiva de ressurreição. Tem sensibilidade para resgatar a dimensão ce-
lebrativa da vida (liturgia), levando o necessitado a Cristo, e Cristo ao
necessitado, bem como procura ajudar os profissionais que atuam em
conjunto com ele a resgatarem o sentido humano e o sentido da vida;

• Educador, Comunicador e Evangelizador. O capelão desenvolve no-


vas lideranças na área da saúde, na dimensão humana e ética: agen-
tes de Pastoral e profissionais da saúde que promovam a vida, desde
25
Capelania Militar e Policial

seu início até o momento da morte. É um entusiasta anunciador da Boa


Nova do Reino, para que “todos tenham vida e a tenham em abundância”
(João 10:10). No seu modo de ser, agir e falar comunica ternura, espe-
rança, fé, alegria e um sentido de vida;

• Líder e Inovador. É alguém que coordena, dinamiza, anima e une, hu-


maniza e evangelicamente, a forças vivas presentes na instituição que
o mesmo tem se dedicado. Estimula iniciativasvoluntárias que testemu-
nham gratuidade, humanização e solidariedade;

• Ecumênico. Num contexto pluralista, onde se encontram diferentes vi-


sões de é, o capelão hospitalar é capaz e dialogar, cooperando no objetivo
comum de servir ao necessitado, preservando a própria identidade de fé;

• Participante. O capelão é alguém capaz de trabalhar em equipe, bus-


cando assessoria competente nas áreas afins (interdisciplinaridade), e
também colabora no encaminhamento de soluções a problemas que
atingem sua área específica (fé e moral). Deve ser capaz de delegar res-
ponsabilidade e também assessoria – se de um Conselho Pastoral;

• Inserido na conjuntura eclesial. O capelão deve estar integrado na


Pastoral de conjunto com conhecimentos teológicos atualizados. Sensi-
biliza a comunidade para se compromete solidariedade com seus mem-
bros necessitados.

Além do mais, o capelão, quando no exercício de suas funções, é também


o responsável pelo treinamento das pessoas que integram a sua equipe de tra-
balho. Essa formação tem por meta garantir que todos sigam as mesmas diretri-
zes institucionais e atender de forma a humanizar o atendimento a todos os que
buscam o serviço da capelania militar, evitando, assim, ruídos nos discursos e no
exercício de suas funções no serviço da Capelania.

É importante que o padre, pastor ou presbítero capelão compreenda que em


seu encontro com o necessitado, cada gesto seu, cada movimento, cada postura,
cada palavra e a própria entonação de sua voz tem um efeito enorme sobre aque-
les que buscam a sua orientação. A sua postura e ações devem ser norteadas
pela humanização do seu exercício vocacional diante do aflito e do necessitado.
Entre as suas várias atribuições, o capelão e a sua equipe de auxiliares buscarão
desenvolver e participar ativamente de projetos sociais voltados para o amparo
e assistência aos militares e a seus familiares que precisam de apoio religioso.
Percebe-se, então, que o atendimento humanizado está intimamente relacionado
a sua prática profissional.

26
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

3 O PATRONO DA ASSISTÊNCIA
RELIGIOSA DO EXÉRCITO
BRASILEIRO
Um ano após a criação da Força Expedicionária Brasileira, em 1944, o então
presidente da República, Getúlio Vargas, criou o Serviço de Assistência Religiosa;
esse serviço permitia a participação de capelães voluntários para atuarem junto à
Força Expedicionária Brasileira na Campanha da Itália, durante a Segunda Guer-
ra Mundial.

Naquele contexto, participaram do corpo de capelães enviados para a Euro-


pa, 25 padres católicos e dois pastores protestantes. Em meio aos combates e ao
flagelo causado pela guerra, a relação dos combatentes com a religião que pro-
fessavam era reforçada, ainda mais em meio aos combates na Itália. Em solo ita-
liano, os capelães realizavam cerimônias religiosas, sepultamentos e buscavam
levar conforto espiritual aos soldados febianos em meio à angústia e às incertezas
que a guerra cravava em seus corações e almas. Desta maneira, esses padres e
pastores capelães se tornavam peça importantes instrumentos para o apazigua-
mento espiritual dos combatentes.

O capelão João Filson Soren, foi um capelão militar protestante que alcançou
muito respeito entre os seus companheiros de armas. Esse capelão, mesmo antes
da guerra, já possuía notável importância no meio batista, tendo sido presidente
da Convenção Batista Brasileira, da Convenção Batista Federal e, já na década
de 1960, da Aliança Batista Mundial. Pelos seus serviços prestados no campo
de batalha, o capelão João Soren foi reconhecido por sua bravura e sua atuação
próximo à linha de frente da Força Expedicionária Brasileira, particularmente em
Monte Castelo, onde correu riscos para localizar e ajudar a resgatar os corpos de
soldados mortos em combate. Alguns dos perigos enfrentados pelo capelão e as
relações de amizade, companheirismo e fraternidade compartilhados por ele e
seus companheiros durante a Segunda Guerra Mundial estão presentes em seu
artigo de maio de 1945, intitulado: “Prismas da Guerra na Itália”.

27
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 10 – CAPELÃO JOÃO FILSON SOREN

FONTE: <http://www.portalfeb.com.br/joao-filson-soren-o-capelao-protestante-da-feb/>.
Acesso em: 18 maio 2021.

Entretanto, o título de Patrono da capelania militar no exército brasileiro,


coube ao sacerdote católico Frei Orlando. O futuro sacerdote teria nascido em um
povoado do interior de Minas Gerais, que fica situada à margem do Rio São Fran-
cisco, de nome Morada Nova, em 13 de fevereiro de 1913. Seu nome de batismo
foi Antonio Álvares da Silva. Desde a infância tinha prazer pela fé católica, tendo
um apreço acima do normal pelas coisas relativas às pràticas religiosas da Igreja
e de atenção especial voltada para as pessoas mais carentes de sua comunidade
(CREVELA, 2008, p. 20).

A esse respeito, Palhares (1982, p. 11) comenta o seguinte:

Frequentava assiduamente o catecismo, ao qual – afirmam


seus irmãos – comparecia sob intenso fervor religioso, voca-
ção que lhe era inerente. Às vezes, ao ser procurado pelo pai,
era encontrando no alto da torre da Igreja Matriz de Abaeté
para, dizia ele, aprender a repicar e dobrar os sinos. É que, à
medida que ia tomando idade, notavam todos, também ia-se-
-lhe desabrochando uma visível inclinação para as coisas da
Igreja, acentuado pendor para a vida clerical, lampejos para
um destino que seria, mais tarde, concretizado.

Frei Orlando iniciou seus estudos em Divinópolis (MG), depois seguiu para
Holanda e de lá foi enviado para se estabelecer em sua nova ordenação como

28
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

sacerdote. Diante dessa mudança radical, deixa de ser recohecido como Antonio
Álvares da Silva e passa a incorporar a imagem simbólica do Frei Orlando. Ao
entorno dos seus 24 anos de idade teria se mudado para São João Del Rei, onde
lecionou no Colégio de Santo Antônio, estabelecimento dirigido pela Ordem dos
Franciscanos Menores. E, por aquela ocasião, teria instituido a “Sopa dos Po-
bres” (CRIVELARI, 2008. p. 20-21). Desenvolveu trabalho social de grande impor-
tância para aqueles que não tinham o que comer. Era uma desafio e tanto, pois
tinha que garantir, ao menos, a alimentação de pelo menos quinhentos famintos
que lhe batiam à porta, sendo que as doações e recursos que conseguia de ou-
tros meios garantia apenas a alimentação de uma média de trezentas pessoas.

Foi em meio a esse estado de desalento e penúria que o Frei Orlando pas-
sou a receber o apoio de militares integrantes do 11º Regimento de Infantaria (11º
RI) após uma conversa com o comandante deste regimento.

Os efeitos catastróficos da segunda grande guerra trouxe efeitos fora e


dentro do Brasil. Em costas brasileiras, embarcações foram afundadas pelos
alemães. Diante do cenário que se desenhava diante de si, Frei Orlando passou
a se preocupar com a situação beligerante, deixando de lado, até certo ponto,
a ação social que se desenvolvia com a chamada “Sopa dos Pobres”. A con-
juntura histórica daquele momento fez com que a população local ficasse em
polvorosa, sobretudo em razão dos exercícios militares que eram realizados nos
arrredos da cidade.

Em meio a essa conjunta histórica e social, o Frei Orlando não se sentia à


vontade em permanecer impassível ante a situação de uma guerra que atingiria
também o povo brasileiro. Conta-se a esse respeito que após ele receber um con-
vite do Comandante do 11º RI para integrar-se na Expedição Brasileira, logo tra-
tou de providenciar as autorizações necessárias dos seus superiores para seguir
em missão com o exércto brasileiro. Passou a integrar a FEB no posto de 1º Te-
nente consoante, pelo Decreto-lei nº 6.535, de 26 de maio de 1944, e sua primeira
missa foi realizada na Catedral de Pisa para os pracinhas brasileiros.

Buscando atuar na frente de batalha, onde certamente haveria mais almas


atomentadas pela perspectiva iminente da morte. A situação apresentada exigia
que se colocasse à frente de batalha, uma vez que era lá que os seus compahei-
ros morimbundos ou apavorados com a batalha requeriam de sua presença e
orientação espiritual.

Com relação a este cenário, Palhares (1982, p. 131-132) diz o seguinte: “Fa-
zia questão de ver de perto as nossas posições avançadas e o estado moral dos
soldados, animando-os com o seu idealismo sempre posto à prova”.

29
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 11 – FREI ORLANDO

FONTE: <https://uniasselvi.me/3HV2hpp>. Acesso em: 16 maio 2021.


Segundo os seus companheiros de armas, que juntamente com ele estavam


na frente de batalha, o Frei Orlando não se acovardara diante de tanto horror,
fosse pela frieza da guerra e sua gélida arte de matar, como pela temperatura no
campo de batalha, companheiros aliadas que lutavam contra os pracinhas, ne-
cessitados de um conforto espiritual de alguém com quem pudesse expor as suas
dores e mágoas.

Em sua última carta enviada a sua mãe, relatou sobre a visita feita em Roma,
da vista que teria feito ao Sumo Pontífice, um terço bento que ganhara do Santo
Padre e a bênção que recebera da maior autoridade da Igreja Católica. Teria fala-
do a respeito das visitas que fez ao lugar da prisão de São Pedro, às catacumbas
de São Sebastião e à Igreja de Santa Inês. Naquela mesma correspondência, o
agora Capitão Frei Orlando havia feito promessas de levar a mãe, em um momen-
to mais oportuno, para conhecer Roma (CRIVELARI, 2008, p. 21-22) .

No entanto, em razão de um lamentável insidente, durante uma visita feita na


linha de frente, Frei Orlando foi vítima de um tiro acidental de um partisam (mem-
bro da Resistência italiana ao nazifascismo). Já a carta que havia enviado a sua
mãe, teria chegado as suas mãos no mesmo dia em que o seu filho estava sendo
sepultado em solo italiano. O boletim n° 52, do 11º RI, de 22 de fevereiro de 1945,
impresso em Docce, na Itália, registrou o passamento do capelão:

Foi recebida, com dolorosa surpresa, a notícia do falecimento


do capelão capitão Antônio Álvares da Silva (Frei Orlando), ví-

30
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

tima de um tiro, quando se dirigia de Docce para Bombiana, a


fim de levar sua assistência espiritual aos homens em posição,
no dia 20, quando do ataque ao Monte Castelo. O sacerdote,
que desapareceu da face da Terra após ter servido com a sua
pureza de sentimento à religião e à Pátria, deixa imensa sau-
dade no seio da organização católica a que pertencia. [...] No
11o Regimento de Infantaria, como chefe da Capelania, con-
quistou a todos pelas qualidades apostolares. Convidado por
este Comando para prestar serviços religiosos nessa Unidade,
quando ainda em São João del-Rei, não demorou a acompa-
nhá-lo para a guerra, e uma vez no teatro de operações, nos
dias de maiores atividades bélicas, jamais deixou de levar o
seu conforto espiritual ou o santo sacrifício da missa em qual-
quer circunstância, mostrando-se, além de religioso, um forte,
um bravo, um verdadeiro soldado da Cruz de Cristo (PALHA-
RES, 1982, p. 171-172).

O panteão de heróis do exercíto brasileiro, cuja galeria de personalidades


reverencia a todos aqueles que se destacam ao longo de sua história, também
homenageia Frei Orlando em razão dos serviços prestados à instituição durante
a segunda grande guerra. Uma vez que perdeu a sua própria vida quando bus-
cava cumpria o seu papel sacerdotal no campo de batalha. E suas preocupa-
ções, nesta existência, estavam direcionadas a atender, ainda que minimamente,
as necessidades dos seus semelhantes. Tendo dedicado a sua vida, que viveu
segundo a sua fé cristã, a serviço do conforto daqueles que estavam em aflição.
Demonstrando, em razão de suas práticas religiosas, um profunda fé na pessoa
de Jesus Cristo. Tendo sido um homem conforme relatou o General-de-Divisão
Octávio Pereira:

não apenas por estar completando a galeria dos Patronos do


Exército, mas porque a vida de um homem simples e puro,
como a de Antonio Álvares da Silva, é fonte permanente de
edificação. Poderá servir-nos, a todos nós – e aos que virão
depois de nós – pois a vida consagrada a um ideal, a uma cau-
sa, a uma fé, amar e servir a Deus ao próximo é uma vida que
vale a pena ser vivida (CRIVELARI, 2008, p. 18).

Importa esclarecer que o Decreto N° 20.680, de 28 de janeiro de 1946, con-


cedeu a Frei Orlando, o título de Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do
Exército, em razão de sua morte em plena guerra e pelos serviços inestimáveis
prestados à Força Expedicionária Brasileira, nas fileiras do regimento Tiradentes.
Já em 22 de dezembro de 1960, o Patrono do SAREx e seus restos mortais foram
trasladados e depositados, sob honras militares, no monumento aos Mortos na
Segunda Guerra Mundial, na cidade do Rio de Janeiro (Dia do Serviço de Assis-
tência Religiosa do Exército (SAREX), dia 13 de maio.

31
Capelania Militar e Policial

4 A ASSITÊNCIA RELIGIOSA DENTRO


DA HISTÓRIA DO EXÉRCITO
BRASILEIRO E DA POLÍCIA MILITAR
Com a sua institucionalização, o exército brasileiro, após o Brasil se tornar
uma nação soberana em 1822, tratou de construir os regimentos internos e de
elencar princípios políticos, sociais, militares e religiosos que lhes eram caros e
legitimavam a sua constituição. Importa dizer, ainda, que a antiga relação de pa-
droado entre Estado e Igreja foi mantida pela monarquia dos Bragança no Brasil,
ao longo de todo o período monárquico.

IMAGEM 12 – BRASÃO IMPERIAL BRASILEIRO NA CATEDRAL DE


NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE GUARULHOS, SÃO PAULO

FONTE: <https://uniasselvi.me/34EqMsQ>. Acesso em: 21 maio 2021.

Dessa forma, manteve-se o catolicismo como uma religião de Estado. O ca-


tolicismo configurou-se como a religião oficial da nova nação que se constituiu em
1822. Dessa forma, o clero católico continuava a ser mantido, ou seja, a receber
uma pensão do Estado brasileiro. Além do mais, essa boa vontade do novo gover-
no se justificava, entre outras coisas, pelo fato de que o discurso religioso católico
acabava por se configurar em um importante instrumento de controle e apazigua-
mento social. Discurso esse que esteve a serviço do governo imperial do Brasil
até o fim da monarquia em 1889 (SOUZA, 2013, p. 1-18).

Portanto, não era de se entranhar que, mesmo após a independência política,


as elites brasileiras continuassem a ver com bons olhos essa relação de proximida-

32
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

de entre o poder central e o clero católico no Brasil. É importante destacar que as


Santas Casas de Misericórdia, instituição que remontavam ao período colonial, de-
senvolviam importantes trabalhos de assistência social aos doentes. Além do que,
era comum que membros das famílias das elites e da classe média urbana aden-
trassem na vida religiosa, seja como freiras ou padres. Configurando isso em um
importante símbolo de distinção social para os grupos dominantes de então.

4.1 A ASSISTÊNCIA RELIGIOSA


DENTRO DAS FORÇAS ARMADAS DO
BRASIL
O tema deste título remete aos anos de 1850, mais precisamente ao dia 24
de dezembro, quando, através do decreto imperial n° 747, o Governo Imperial do
Imperador D. Pedro II aprovou o Regulamento da Repartição Eclesiástica do Exér-
cito. Através daquele ato político foram efetivadas quatro classes de capelães:
os da Ativa, os Agregados, os Avulsos e os Reformados (CRIEVELARI, 2008, p.
25-26). Logo em seguida, após a promulgação do decreto, os capelães militares
tiveram os seus serviços requeridos ao longo da Guerra do Paraguai, onde tive-
ram uma improtante atuação de destaque naquele conflito. Entre os religiosos que
se destacaram, há as figuras dos capelães Frei Fidelis D´Avola, Frei Salvador de
Nápoles entre outros.

A respeito da atuação desses religiosos (CRIVELARI, 2011, p. 25) comenta


que o Visconde de Taunay em suas “Memórias” sobre a atuação dos capelães na
Guerra do Paraguai, como no caso do Frei Fidelis D´Avola diz o seguinte:

[...] tinha grande coragem e sangue frio e ar eminentemente


caridoso e abnegado. Digno de grande respeito, distinguia-se
pelo espírito cristão e sacerdotal, quer no campo de ação, que
na prática da dedicação hospitalar. E com ele, se apontavam
diversos [...] ( PALHARES, 1982, p.193).

Sobre eles, Duque de Caxias quando deixou o comando das Armas Brasilei-
ras, na ordem do dia, n° 272, externou sua gratidão ao trabalho executado daque-
les religiosos; naquela ocasião o militar enalteceu a fibra e o caráter, bem como o
amor à pátria no cumprimento da missão quando os mesmos se abnegaram, não
dando a importância da preservaão da própria vida nos hospitais e até mesmo no
campo de batalha (CRIVELARI, 2008, p. 26-27).

Ainda a esse respeito, após o fim da Guerra do Paraguai, o serviço religioso


que operava dentro do exército brasileiro passou a ser chamado de Corpo Eclési-

33
Capelania Militar e Policial

ástico do Exército. Sendo ele composto por um capelão-mor com a graduação de


coronel, um capelão tenente-coronel, um capelão major, dezesseis capelães capi-
tães e sessenta capelães tenentes (FERREIRA, 2017, p. 44). Além dos trabalhos
dentro do Exército, aqueles oficiais tinham a missão de promover a catequização
de índios, de presidiários e dos militares que trabalhavam nas fronteiras. De acor-
do com a regulamentação trazida pelo Decreto nº 5.679, os capelães passaram a
ter suas promoções efetuadas de duas formas: metade por merecimento e meta-
de por tempo de serviço.

Após o golpe que tirou a monarquia do poder, em 1889, e a consequente


proclamação da República, houve a separação entre a Igreja do Estado e auto-
maticamente veio a extinção do Corpo Eclesiástico do Exército (Revista Âmbito
Jurídico, 28 de fevereiro de 2018). Acabando, após séculos, com o regime de
Padroado no Brasil. Diante disso, temerosos quanto à impossibilidade de se man-
ter a unidade religiosa, na primeira década do Século XX, um grupo de cadetes
católicos, na Escola Militar do Realengo, liderados por Juarez Távora, Francisco
José Pinto e outros, fundaram a Conferência Vicentina de São Maurício. Naque-
la ocasião, aqueles militares devotos contaram com o apoio do Padre Miguel de
Santa Maria Mouchon (CRIVELARI, 2008, p. 26-27).

Mais adiante, já promovidos a patente de oficiais, aqueles militares patroci-


naram a fundação da União Católica dos Militares. Eles foram, em certo sentido,
pioneiros, pois decidiram abraçar e defender a sua fé em período histórico, na
qual a ciência caminhava a passos largos e o liberalismo se mostrava como força
motriz capaz de libertar o homem do obscurantismo religioso.

Não seria demais dizer que o atual Serviço de Assistência Reli-


giosa nas Forças Armadas nasceu da fé inerente daqueles ab-
negados e corajosos cadetes que, em meio ao espírito liberal
da época, souberam guardar, incólume, a formação religiosa
que lhes fora plasmada n´alma (CRIVELARI, 2008, p. 28).

Apesar da abordagem um tanto quanto apelativa do autor, onde claramente


expõe as suas predileções religiosas, há um significativo valor histórico em sua
fala, à medida em que se refere a um período em que a aversão à interferência da
religão em assuntos ou instituições de Estado estava a flor da pele em segmentos
sociais que tinham relevante influência no novo sistema de governo que havia
sido instituido no pós-golpe que retirou as monarquia do poder. Naquele período,
os republicanos positivistas tiveram um papel bastante signficativo no processo
de desvinculamento que, segundo eles, deveria haver entre a Igreja Católica e o
Estado. Não entramos no mérito da atução dos positivistas ou dos militares para
buscar restabelecer a presença religiosa dentro das forças armadas. Importa di-
zer que foi um momento bastante emblemático da história do Brasil em que a Ca-
pelania militar, por pouco, não foi extirpada das forças militares do Brasil.

34
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

Por sua vez, a Obra “Efemérides da briosa: História da PMPE” de autoria do


historiador e escritor, o Cel. Reformado da PMPE, Carlos Bezerra Cavalcanti, pu-
blicado em 2015, traz em seu escopo, ao longo de suas 209 páginas, referências
preciosas acerca da Capelania Militar da PMPE, bem como a biografia do Cônego
Antonio Alves de Souza, com sua fotografias fardado de Capitão PM e de Cape-
lão, com a batina (CAVALCANTI, 2015, p. 105-106).

4.2 ASSISTÊNCIA RELIGIOSA


DENTRO DA POLÍCIA MILITAR
A atuação do capelão dentro da estrutura da policia militar, de acordo com a
região ou estado da Federação em que se aborda a referida temática, traz inúme-
ros versões sobre o fato. De acordo com o Cel. Cícero Laurindo de Sá, intitulado:
A Capelania da PMPE – publicado no livro: “Lembrai-vos Companheiros”, da Jor-
nalista Maria de Lourdes Lins Falcão pelos idos de 1992, nas páginas 367 e 368.
Ainda, segundo ele, na PMPE a assistência Religiosa foi criada inicialmente pelo
artigo 178, da Constituição de 1947, que estabelecia, entre outras coisas, que
poderão ser, na forma que a Lei estabelecer, capelães ou ministros para presta-
ção de assistência religiosa a Polícia Militar de Pernambuco. Desta maneira, com
base neste dispositivo constitucional, foram admitidos os dois primeiros capelães
da Policia Militar de Pernambuco.

Ainda com relação ao tema, destacado acima, o 1º Capelão da PMPE foi


Dom Ricardo Ramos de Castro Vilela, bispo renunciante da Diocese de Nazaré da
Mata-PE, nomeado pelo ato nº 11.290, de 05/11/1947, e incluído no círculo de Ofi-
ciais Superiores com direitos ao posto de Major, pelo ato nº 1653 de 02/12/1947
(ALMANAQUE DOS OFICIAIS DE 1950, p. 65). Na época, Dom Ricardo tinha 60
anos e já apresentava, de maneira bastante precoce, sinais de senilidade, limitan-
do-se a celebrar poucas missas e tomar parte em alguns eventos. Naquele perío-
do, afastou-se de suas funções sacerdotais oficialmente em 26/07/1952, pelo Ato
1831, do Governo do Estado.

O 2º Capelão da PMPE foi o padre Juarez Galvão Freire, nomeado pelo


Ato nº 248, 25/01/1956, sem ônus para o Estado e através do Ato nº 1609, de
14/06/1956, nomeado Capitão-Capelão, com ônus, em comissão e finalmente
efetivado no posto de Capitão Capelão pelo ato nº 925, de 26/03/1958 (ALMA-
NAQUE DOS OFICIAIS DE 1960, p. 75). Não teve boa atuação na Capelania da
PMPE e continuou exercendo as funções administrativas no âmbito da Arquidio-
cese, sendo demitido em 30 de março de 1962.

35
Capelania Militar e Policial

O cônego Antonio Alves de Souza, por sua vez, foi o 3º sacerdote a ocupar
as funções de Capelão da PMPE, natural de Camaragibe-PE, nascido em 31 de
maio de 1915, tinha 47 anos quando pelo Ato nº 2478, de 28/08/1962, foi nome-
ado Capelão (em comissão) (idem almanaque dos Oficiais da PMPE de 1963, p.
103), foi efetivado dois anos depois pelo Ato nº 4258, de 15/07/1964, no posto de
Capitão. E em 21 de abril de 1975, pelo Ato nº 1155 (passou seis anos) esse mi-
nistro religioso foi promovido por incapacidade física definitiva (cardiopatia grave)
fazendo jus aos proventos do posto de Tenente-Coronel. No entanto, diante des-
ses infortúnios o sacerdote continuou, à medida de suas possibilidades, à frente
da assistência espiritual da Corporação Policial a que ele sempre demonstrou ter
maior carinho e zelo. De acordo com os seus biógrafos, o Cônego Antonio Alves,
à frente da Capelania Militar da PMPE, conseguiu não apenas resgatar o espírito
e religiosidade que existia na PM, mas, principalmente, ampliá-la e aperfeiçoá-la.

Segundo o Tenente-Coronel, Capelão-Chefe do Serviço de Assistência Religio-


sa da PMDF, Gisleno Gomes de Faria Alves, ele teria iniciado na função em 2009
após se interessar pela possibilidade de unificar a vida profissional com a ministe-
rial. Segundo Gisleno, a capelania possui uma função social bastante estratégica
nas Corporações Militares e de Segurança Pública, haja vista que está relacionada
com uma área da vida que interfere diretamente em todas as esferas da vida do mi-
litar e seus familiares, sobretudo no que se refere a valores, ao sentido da vida e do
trabalho, à motivação para agir e superar os desafios, entre outros aspectos.

Tudo isso traz resultados cientificamente comprovados de qua-


lidade de vida, melhoria do clima organizacional e maior efetivi-
dade no serviço, deixando claro, com isso, o interesse público
em relação à capelania. Esse é um aspecto a ser mais explo-
rado nas Corporações e nas igrejas (NOTICIAS, 2018, on-line).

O Tenente-Coronel também chamou atenção para o que ele chamou de des-
pertamento das igrejas para esse tipo de ministério. Além do mais, segundo ele,
além das atribuições administrativas do oficialato, a lei determina que o capelão
também presta serviço tanto na assistência religiosa e espiritual, quanto na forma-
ção moral do efetivo na perspectiva de poder ofertar e contribuir para a manuten-
ção da saúde integral dos integrantes da corporação.

Na atualidade, no caso específico da PMDF, os capelães militares podem ser


sacerdotes de qualquer religião praticada por integrantes da Policia Militar. Entre-
tanto, como o número de capelães é pequeno e, em razão disso, não é possível
atender a todas as religiões, a lei estabelece o preenchimento de vagas pelo cri-
tério da proporcionalidade entre o número de capelães e o número de praticantes
de cada religião na Corporação, de acordo com o censo. Atualmente, a PMDF
possui em seu quadro de capelães um tenente-coronel pastor e um capitão padre.
No momento da reportagem, datada de 06/03/2018, estava em curso um proces-

36
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

so seletivo para o provimento para capelão padre. Além de outras duas vagas que
seriam criadas para uma nova seleção. Como sinal dos novos tempos, a cape-
lania da PMDF está desenvolvendo um cadastro de líderes de religiões que não
possuem capelães para atender a eventuais demandas de outros credos.

Dados apresentados por Valdimario Cavalcante (2018) revelam um alto grau


de influência das ações da capelania na melhoria da qualidade de vida familiar, qua-
lidade do serviço prestado, entre outros fatores. De acordo com os dados levanta-
dos na pesquisa, 92,42% dos militares entrevistados afirmaram que os cursos reali-
zados na capelania têm um grande potencial para evitar que os policiais militares ou
seus familiares venham a cometer suicídio; já 97,22% dos entrevistados afirmaram
que poderia ajudar a evitar a violência doméstica praticada por policial e 99,37%
defendem que as atividades, desenvolvidas pelos cursos, contribuíram para que
passassem a valorizar e respeitar os Direitos Humanos. Em entrevista concedida
ao G1, no ano de 2010, e atualizada em 2018, a jornalista Marta Cavallini conver-
sou com o padre Alberto Gonzaga de Almeida, de 41 anos, que comentou que é
capelão militar católico da PM do Rio desde 2002. Ele defende a permanência da
capelania nas forças de segurança com o argumento de que o Estado é laico, mas
as pessoas são religiosas e é necessário prestar assistência espiritual a quem pre-
cisa. “O Estado deve oferecer essa assistência”, diz o sacerdote.

Segundo afirma padre Almeida, entrevistado nesta reportagem, ele nunca


havia cogitado a possibilidade de entrar para a vida militar quando foi convidado
pelo bispo auxiliar daquela época. “Ele me falou sobre a necessidade de ter a
presença da Igreja no meio militar, especialmente na PM do Rio, e achei esse tra-
balho de grande importância”, diz. Além de atuar como capelão, naquela época,
o padre Almeida também atuava como pároco na Paróquia de Santa Edwiges, no
Rio de Janeiro. Na PMRJ, o padre tem a incumbência de celebrar a inauguração
de companhias, aniversários de batalhões, casamentos comunitários, funerais,
missas, além de prestar orientação espiritual aos policiais que o procuram.

Ainda de acordo com ele, no exercício de suas atribuições na corporação, é


necessário que haja uma postura agregadora e plural. A esse respeito ele (o pa-
dre) diz o seguinte:

Tem que ter uma postura ecumênica, os padres e pastores tra-


balham num quadro só, um respeita a doutrina do outro, tudo é
feito dentro da postura ecumênica de diálogo”, explica Távora.
“Quando é casamento evangélico é com pastor, quando é cul-
to ecumênico pode ser com os dois [padre e pastor], quando
morre algum sacerdote católico ou familiar dele, quem faz a
bênção é o padre, quando a família não é de nenhuma das
duas religiões não escala ninguém (G1, 2010, on-line).

37
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 13 – CULTO E MISSA DE AÇÃO DE GRAÇAS DA POLÍCIA MILITAR –


EVENTO ALUSIVO AO 165º ANIVERSÁRIO DA POLÍCIA MILITA DO PARANÁ

FONTE: <https://cruzeirodooeste.portaldacidade.com/noticias/politica/culto-e-
missa-de-acao-de-gracas-da-policia-militar-0248>. Acesso em: 19 maio 2021.

O evento o qual a imagem acima faz menção, refere-se à missa que foi re-
alizada na noite de sábado (10/08/2019) e ao culto que foi realizado na noite de
quinta-feira (15/08/2019). As celebrações contaram com a presença de militares
estaduais e seus familiares e também dos fiéis da comunidade, além de visitan-
tes de outras denominações religiosas que foram recepcionados pelo Frei Luiz
Fernando Alflen e pelo Pastor evangélico Evandro Tomazini, que realizaram todo
o esforço possível para deixar uma mensagem de fé e respeito às diferenças.
Corroborando, assim, com a fala do padre Almeida, da PMRJ, ao defender uma
postura ecumênica dos capelães militares sejam eles católicos ou protestantes.

Como de praxe, todos os anos a Polícia Militar do Paraná realiza uma série
de eventos e atrações para comemorar seu aniversário, sempre incluindo a par-
ticipação da família dos policiais militares e da comunidade paranaense e, neste
ano, não está sendo diferente. Nesse evento, em razão da profunda religiosida-
de dos integrantes da corporação, além da tradicional relação que a corporação
mantém das práticas religiosas cristãs, sempre se fazem presente os capelães
militares da instituição onde, na oportunidade, são realizadas missas e cultos
evangélicos para celebrar a data festiva. O cronograma de celebrações do 7º Ba-
talhão alcança o seu ápice com a chamada Turnê Noroeste da Banda da Polícia
Militar, que vem da capital Curitiba/PR, e se apresentará no Centro Cultural Cesar
de Souza Rego.

38
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

A partir de agora, vamos discorrer a respeito das mudanças implementadas


dentro da segurança do Brasil, a partir de 1939, no que diz respeito à assistência
religiosa e a sua função social dentro daquelas corporações. Sendo, para tanto,
imperativo que se busque compreender como se deu e em que contextos essas
mudanças operaram.

5 A ASSISTÊNCIA RELIGIOSA
DENTRO DA HISTÓRIA DO EXÉRCITO
BRASILEIRO A PARTIR DE 1939
Diante da eclosão da Segunda Guerra Mundial e diante das implicações polí-
ticas, econômicas, sociais e bélicas que o seu alastramento representavam para o
Estado brasileiro, durante o então governo de Getulio Várgas, o governo brasileiro
passou a sofrer grande pressão para se posicionar a respeito do seu apoio a um
dos lados envolvidos no conflitos. Sendo assim, após negociações com os Esta-
dos Unidos, o Brasil, mediante a cessão de algumas contrapartidas econômicas
dos norte-americanos, passou a apoiar abertamente os aliados (EUA, Inglaterra,
França, entre outros) contra os Países do Eixo, ora capitaneados pela Alemanhã
Nazista de Adolf Hitler.

IMAGEM 14 – NOTÍCIA DO JORNAL “O GLOBO” SOBRE O AFUNDAMENTO


DE MAIS UM NAVIO BRASILEIRO POR SUBMARINOS ALEMÃES

FONTE: <https://chicomiranda.wordpress.com/2012/03/14/os-navios-
brasileiros-torpedeados/>. Acesso em: 19 maio 2021.

39
Capelania Militar e Policial

Além do mais, como atestam as fontes inseridas acima, após os


alemães terem supostamente torpedeado trinta e um navios da marinha
Mercante brasileira, com a perda de 971 vidas, houve uma pressão inter-
na muito grande para que o Brasil declasse guerra aos nazistas. Naquele
cenário histórico, em razão das mais diversas conjunturas, a guerra trans-
formou-se numa guerra total. Diante disso, a Alemanha e os seus aliados,
que estavam dispostos a interceptar remessas de alimentos e matérias-pri-
mas para a Inglaterra e os Estados Unidos e sem nenhuma declaração
formal de guerra, empreenderam uma campanha submarina no Atlântico,
na qual atacaram, de 15 a 17 de agosto de 1942, cinco navios brasileiros
(Baependi, Itajiba, Araraquara, Aníbal Benévolo e Araras). Aquela ação,
por sua vez, representava um ato de guerra e uma afronta à soberania na-
cional. Assim, a partir desse acontecimento, o Brasil rompeu relações com
a Alemanha, o Japão e a Itália. Na sequência, o ato de guerra declarado
contra as três nações elencadas veio com o decreto nº 10.358 de 31 de
agosto de 1942.

IMAGEM 15 – O SOLDADO BRASILEIRO DURANTE A 2ª GUERRA MUNDIAL

FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/segundaguerrabr/>. Acesso em: 19 maio 2021.

O Estado brasileiro, que desde o início do conflito havia optado pela neutra-
lidade em razão dos seus múltiplos interesses políticos e econômicos, não teve
outra alternativa diante do ato de guerra cometido pelos Alemães, pois aquele

40
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

ataque trouxe também significativos prejuízos econômicos. Nasceu, assim, em 9


de agosto de 1943, a FEB – a Força Expedicionária Brasileira.

Para celebrar a ida dos combatentes brasileiros para lutar na guerra, foi
organizado um desfile na cidade do Rio de Janeiro, onde, na presença de uma
multidão, os soldados desfilaram encerrando com as enfermeiras. Na ocasião, no
palanque das autoridades, o então presidente Getúlio Vargas saudou os militares.
Sobre aquele momento reza a tradição que, ao interpelar o Arcebispo do Rio de
Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara, que estivera ao seu lado, gostou do des-
file, o presidente ouviu dele que faltavam os capelães. Diante disso, já no dia se-
guinte, em 25 de maio de 1944, foi criado o Corpo de Capelães, tendo em mente
o que disse Rui Barbosa em um de seus discursos: “Não pode haver disciplina na
terra sem a do céu (CRIVELARI, 2008, p. 27-28).

IMAGEM 16 – DESFILE NO RIO DE JANEIRO DOS SOLDADOS


EM SERIAM ENVIADOS PARA O CAMPO DE BATALHA

FONTE: <https://especiais.gazetadopovo.com.br/pracinhas-
na-segunda-guerra/>. Acesso em: 13 maio 2021.

Desta maneira, a assistência religiosa foi de tamanha relevância, para o alto


comando das forças armadas brasileiras, que terminada a guerra foi assinado o
Decreto-lei nº 8.921, de 26 de janeiro de 1946, estendendo a Assistência Religio-
sa à Marinha e à Força Aérea (CRIVELARI, 1998, p. 27).

41
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 17 – DESEMBARQUE DOS SOLDADOS BRASILEIROS NA ITÁLIA

FONTE: <https://especiais.gazetadopovo.com.br/pracinhas-
na-segunda-guerra/>. Acesso em: 13 maio 2021.

Para tanto, visando garantir que o quadro de assistência religiosa pudesse


ter um efeetivo corpo de serviço Militar, fez-se necessário estabelecer uma escala
hierárquica que pudesse garantir uma base sob a qual seriam estabelecidos os
princípios que norteariam a atuação desses corpo de capelães militares. Também
para que ajudasse a implementar um código de conduta ética e moral a ser obser-
vado pelos integrantes desse corpo específico de militares.

Todas essas questões, por sua vez, foram regulamentadas com a promul-
gação da Lei nº 6.923 de junho de 1981. Com essa legislação, o Serviço Re-
ligioso determinava: 1 Coronel Capelão-Chefe, 6 Tenentes-Coronéis Capelães
para as subchefias dos Comandos de Exércitos e Militares de Área, 7 Majores
Capelães, 16 Capitães Capelães e 1º e 2º Tenentes Capelães – 20 (CRIVELA-
RI, 2008, p. 27).

Em finais do século XIX, por meio de acordos diplomáticos, foi criado o Ordi-
nariado Militar do Brasil, que tinha por meta organizar e coordenar os serviços de
todas as capelanias militares católicas do Brasil. Além disso, esse corpo também
recebeu a incumbência de prestar assessoria ao Ministério da Defesa em ques-
tões relativas à assistência religiosa dentro das Forças Armadas e Auxiliares.

42
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

Dentro da estrutura hierárquica do exército brasileiro, o Arcebispo possui a


patente de um Oficial-General de três estrelas. No entanto, a sua prática profissio-
nal deve ser voltada para o serviço religioso dentro da instituição conforme o que
a sua função sacerdotal assim determina.

Não é uma questão de prestigio pessoal, nem mesmo de hon-


ras militares. Poder dialogar de igual para igual com os coman-
dantes me permite perceber a realidade das Forças, sentir as
necessidades. Isso fortalece a capelania à medida que a troca
de informações nos dá a visão de como podemos servir melhor
às Forças Armadas e Auxiliares (AGÊNCIA FORÇA AÉREA
BRASILEIRA, 2015, on-line).

A esse respeito, segundo o Arcebispo Militar do Brasil, Dom Fernando falou


em meados de 2015 que garantir a prestação de auxilio espirituais, de modo es-
tável e permanente aos militares das formas armadas, sempre foi o principal obje-
tivo das Capelania militares ao longo da história do Brasil. Ainda, de acordo com
o sacerdote católico, não há dúvidas de que a assistência religiosa é de grande
relevância para a preservação dos valores éticos e morais que norteiam a ação
das forças armadas brasileiras.

IMAGEM 18 – CULTO COM CELEBRAÇÃO DA SANTA CEIA


PARA OS/AS MILITARES DA AERONÁUTICA

FONTE: <https://www.expositorcristao.com.br/capelania-militar-
conheca-quais-sao-os-desafios>. Acesso em: 14 maio 2021.

43
Capelania Militar e Policial

Entre as principais atividades executadas pelo Capelão Militar, ou policial,


estão a proposição, a elaboração e a realização de cursos; momentos com Deus;
reflexões em liberações de policiamento e formatura; aconselhamento; visitação
domiciliar, prisional e carcerária; apoio em situações de crise e falecimento; cele-
brações especiais de aniversário ou criação de Batalhões; passagem de policiais
para a reserva; atuação em programas de prevenção ao suicídio, à violência do-
méstica, dependência química, entre outros.

O Capitão Capelão da Força Aérea Brasileira (FAB), Cláunei Crístian Delga-


do Dutra, em entrevista concedida a jornalista Sara de Paula, comenta que o seu
trabalho com a capelania militar teve em início pelos idos de 2008 após uma crise
eclesial.

Me interessei porque senti despertado por Deus para olhar


com mais atenção para essa área, depois que vivi uma crise
pessoal no ministério da igreja civil. Ao conhecer melhor a ca-
pelania militar, descobri que se encaixava perfeitamente com a
visão missionária que possuía desde o meu chamado ao minis-
tério pastoral (EXPOSITOR CRISTÃO, 2018, on-line).

De acordo com o oficial, existe uma carência muito grande nessa área de
capelania, pois segundo diz:

As necessidades espirituais dos/as militares é desconhecida


pela maior parte da igreja civil. Acredito que por muito tempo
a igreja civil não esteve interessada e preocupada com essas
necessidades dos/as militares. Mas agora, essa realidade vem
mudando aos poucos, mas ainda é muito carente diante do
universo a ser atendido e dos recursos disponíveis. A neces-
sidade existe e vem sendo cada vez mais reconhecida pelas
Forças, mas é uma área que vem se expandindo lentamente
se colocada diante do vasto campo de atendimento e suas ne-
cessidades (EXPOSITOR CRISTÃO, 2018, on-line).

Segundo o Capelão Cristian, não há meios de mensurar exatamente uma


quantidade de atendimentos por mês, porque isso varia de acordo com a época
e com a circunstância em que o/a militar estiver envolvido/a. De acordo com ele:

É possível dizer apenas a quantidade de militares que estão


sob a ação assistencial do/a capelão/ã. No meu caso, sou o
único capelão pastor da FAB no Rio de Janeiro. O efetivo evan-
gélico nessa área se aproxima de 10 mil militares. Se conside-
rarmos o atendimento indireto a adeptos/as de outros grupos
religiosos e aos/às familiares dos/as militares, que também é
competência do/a capelão/ã, esse número pode passar de 50
mil pessoas. Cada capelão/ã tem uma área de atuação e pode
acontecer que padres e pastores/as tenham áreas sobrepos-
tas, mas que ofereçam assistência direta a uns/as e indireta a
outros/as (EXPOSITOR CRISTÃO, 2018, on-line).

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

A capelania moderna, dentro das forças de segurança, tem um compromisso


muito profundo com o desenvolvimento de técnicas e mecanismos capazes de
propiciar o bem estar do sujeito. E a partir desta perspectiva de abordagem o
sacerdote, além de zeloso praticamente de sua fé, deve estar à pá das discus-
sões mais atualizadas a respeito das metodologias empregadas para a resolução
de conflitos, para o desenvolvimento e apaziguamento socioemocional do sujeito,
qualidade de vida entre outros entendimentos que dizem respeito à relação entre
corpo, alma e mente. Buscando, assim, assistir o sujeito em todos os aspectos de
sua existência neste mundo.

IMAGEM 19 – MILITARES EVANGÉLICOS DAS FORÇAS ARMADAS DURANTE


A CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA EM IGREJA BATISTA, EM RECIFE.

FONTE: <https://uniasselvi.me/3HV5sNR>. Acesso em: 14 maio 2021.

Por meio do esforço em garantir o bem-estar, não só físico e mental, como


também espiritual dos seus efetivos, as forças militares e auxiliares do Brasil vêm
fazendo uso do ministério religioso do capelão militar já há bastante tempo. A ideia
é que além de receber treinamento, formação profissional, disciplina, o militar
também possa ter o seu direito de crença garantido e fomentado dentro da própria
instituição na qual está servindo. Segundo o Arcebispo Militar do Brasil, Dom Fer-
nando José Monteiro Guimarães,

Não há dúvidas que a assistência religiosa é importante. Os


valores constitutivos do ideal das nossas Forças são valores
que encontram apoio e fundamentos também nos valores re-
ligiosos. As Forças Armadas são chamadas, muitas vezes, a

45
Capelania Militar e Policial

viver uma dura realidade e várias tensões humanas e profis-


sionais. E, independente da confissão religiosa, a assistência
é importante como apoio, até mesmo psicológico (AGÊNCIA
FORÇA AÉREA BRASILEIRA, 2015, on-line).

A esse respeito, de acordo com o Chefe do Serviço de Assistência Religiosa


da Aeronáutica, Coronel Capelão Francisco Maria de Castro Moreira, trazer para
dentro dos quartéis o apoio religioso é fundamental. Dentro da rígida estrutura das
forças armadas, existe toda uma rotina de trabalho e atividades que são bastante
intensas e que, por esta razão, deixa os militares sobrecarregados. Elas conso-
mem o dia a dia daqueles profissionais em razão da dura rotina; e geralmente não
dispõem de tempo para se dedicar ao seu credo religioso. Desta maneira, poder
contar a com a presença de capelães, dentro das Forças Armadas do Brasil, aju-
da a aproximar as pessoas de sua fé.

LEITURA COMPLEMENTAR

CAPELANIA

Cb QPM 2-0 Rogério Luís Victório,


Capelão/Terapeuta - DP7/SAS.

Sd QPM 1-0 Jonathan Lebedieff dos Santos,


Capelão – DP7/SAS.

A história da origem da Capelania segue diferentes caminhos. A


Encyclopedia Britânica, registra o que resumimos a seguir: Na França
costumava-se levar umarelíquia de capela ou oratório de São Martin
de Tours, preservada pelo Rei da França, para o acampamento militar,
em tempos de guerra. A relíquia era posta numa tendaespecial que
levava o nome de capela. Um sacerdote era mantido para o ofíciore-
ligioso e aconselhamento. A ideia progrediu e mesmo em tempo de
paz, a capelacontinuava no reino sempre com um sacerdote que era
o conselheiro. O costumepassou a ser observado também em Roma.

Em 1789, esse ofício foi abolido na França, mas restabelecido em


1857, peloPapa Pio IX. O sacerdote que tomava conta da capela, que
erachamado Capelão, passava a ser o líder espiritual do Soberano Rei
e de seusrepresentantes. O serviço costumava estender-se também a
outras instituições:Parlamento, Colégios, Cemitérios e Prisões.

46
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

Mas o movimento moderno e mais definido de capelania, com


tendências àinstitucionalização da atividade, começou a surgir no fi-
nal do Século XIX, com umaacirrada discussão sobre psicologia pas-
toral, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Oprincipal protagonista da
ideia foi um pastor congregacional de Columbus, no Estadode Ohio,
Estados Unidos, Washington Gladden, que insistia na necessidade
decooperação entre o clero (líderes religiosos) e a classe médica,
Christian Pastor (Opastor cristão), evidenciou os vínculos entre a
saúde mental e a saúde física.

Por este tempo, principalmente na virada do Século XIX para o


Século XX, eclodiu uma forte discussão sobre experiência religiosa.
Nesta discussão, juntavam-se psicólogos, teólogos, clérigos, médi-
cos e psicoterapeutas. O tema principal era: “cura para todos”, e o
objetivo maior era buscar saúde para “o homem inteiro”.

De volta à Inglaterra, alguns anos depois, Leslie criou seminá-


rios de debatesenvolvendo psicologia, medicina e psicanálise. Todo
o trabalho de Leslie, que foimuito intenso, contribuiu para firmar as
atividades de capelania hospitalar daqueletempo. É bom lembrar a
esta altura, que o trabalho de capelania estava muito ligado àpsico-
logia, principalmente a emergente disciplina denominada “psicolo-
gia pastoral”.

No Brasil, o ofício de capelania começou também na área mili-


tar, em 1858,com o nome de Repartição Eclesiástica, evidentemente
só com a Igreja Católica. O serviço foi abolido em 1899. Durante a
Segunda Grande Guerra Mundial, em 1944, o serviço foi restabele-
cido com o nome de Assistência Religiosa das Forças Armadas. Na
mesma época foi criada também a Capelania Evangélica.

O grande Capelão Evangélico que marcou época durante a Se-


gunda GuerraMundial, foi o Pastor João FilsenSoren. Capelania é dar
assistência espiritual a Regimentos Militares, Escolas, Hospitais, Pre-
sídios, Asilos, Favelas, enfim, a carentes de tal ministério. Não com
fins proselitistas, ou seja, fomentação de sectarismo, mas simples-
mente levar fé; esperança e amor. Capelania é levar fé as pessoas.

Em 27 de outubro de 1964, foi previsto por meio de decreto


16.316, o serviçode Capelania/Assistência Religiosa na PMPR, liga-
do diretamente ao Serviço de AçãoSocial, pertencente à Diretoria de
Pessoal, tendo nova resolução em Decreto, em 22de janeiro de 1970.

47
Capelania Militar e Policial

Sendo atualmente operacionalizado junto à DP7/SAS (Serviço


de Ação Social), e, somente por militares deste Setor. De maneira
interdisciplinar, Capelania, Serviço Social e Psicologia, trabalham vi-
sando o bem-estar biopsicosocioespiritual dos militares e seus de-
pendentes.

A palavra capelão quer dizer ministro ordenado, ou seja, é uma


autoridadeeclesiásticaque

Provê Assistência Espiritual a Regimentos Militares, Escolas,


Hospitais, Presídios e Irmandade. Sem entrar em aspectos históri-
cos, assim define a palavra capela: “Antigamente, igreja ou oratório
sem qualificação paroquial… compartimento reservado ao culto, um
local privado”. E daí, a palavra capelão, segundo a mesmaenciclo-
pédia, quer dizer: “Sacerdote encarregado do serviço religioso em
uma igrejanão paroquial, uma capela de comunidade religiosa, um
hospital, colégio, liceu, exército, prisão etc.”. O costume vem de tem-
pos remotos, quando senhores contratavam um pároco para rezar
missas em suas capelas particulares.

“O trabalho de capelania deve ser desenvolvido sem


qualquer conotaçãosectária, com estrito respeito à fé
de cada indivíduo e de cada militar nocontexto da sua
instituição. Deve limitar-se à assistência espiritual, sem
olhar ocredo da pessoa atendida.” (Isaías: 45).

Capelania – SAS

Atividades desenvolvidas:

Acolhimentos a militares e ou familiares em situações de luto;

Acolhimentos a militares e ou familiares em situações de doença


familiar;

Acolhimentos a militares e ou familiares em situações de luto;

Visitas domiciliares;

Atendimento, acolhimento e acompanhamento de militares e de-


pendentes internados em Unidades Hospitalares;

Atendimento, acolhimento e acompanhamento em de militares


em Unidades Prisionais;

48
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

Atendimentos diversos na área da Capelania para militares e/ou


familiares;

Acompanhamento do “Grupo de Luto”.

Capelania – Centro Terapêutico

Espiritualidade, na esfera terapêutica, objetiva criar um ambien-


te ecumênico eoferecer os instrumentos para que o indivíduo tenha
a oportunidade e a liberdadenecessária para procurar sua própria
origem e responder de maneira adequada a suaprópria dimensão
espiritual. Nesse sentido, através da Espiritualidade, o pacientecom-
preende a sua importância para o preenchimento do sentimento de
vazio provocadopelo uso de drogas. O indivíduo é capaz de resgatar
o sentido da vida, e se torna maisconfiante para traçar objetivos e
voltar a viver dignamente no seu meio social.

Atividades desenvolvidas:

Triagem para pacientes em Clínica-Dia para Dependência Quí-


mica e Transtorno Mental;

Triagem para pacientes em Internamento para Dependência


Química e Transtorno Mental;

Visitas domiciliares e à Unidades Militares para sensibilizar mili-


tares e ou familiares ao tratamento/internamento;

Acolhimentos a militares e/ou familiares em situações de surtos


psicóticos;

Atividades de espiritualidade e terapia em Dependência Quími-


ca para pacientes da Clínica-Dia;

Atendimentos diversos na área da Capelania para militares e/ou


familiares;

Acompanhamentos/visitas/ acolhimentos para militares e/ou fami-


liares internadosem outros Hospitais em tratamento de saúde mental.

Fonte: http://www.pmpr.pr.gov.br/sites/default/arquivos_
restritos/files/documento/2019-08/capelania.pdf.

49
Capelania Militar e Policial

ATIVIDADES DE ESTUDO

1 A partir dos estudos a respeito da importância do padre capelão


dentro do processo de colonização da América Portuguesa, hoje
entendida como Brasil, percebe-se o quanto as suas atividades
evangelizadoras foram cruciais para o estabelecimento de um
modelo de sociedade que atendia aos interesses dos conquista-
dores. Sobre o papel sociopolítico que os capelães detinham du-
rante o período, classifiqueV para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) A importância dos religiosos, durante o processo de coloniza-


ção, se deve ao fato a proteção que deram aos grupos nativos e
escravizados. Evitando, assim, a revolta dos grupos subalternos
contra os colonizadores.
( ) Um dos papeis mais importante que cabia aos padres capelães
era a evangelização e conversão dos povos indígenas. Facilitan-
do, assim, a sua dominação pelos invasores portugueses.
( ) Dentro dos engenhos de açúcar, por exemplo, os padres cape-
lães foram essenciais para a legitimação ideológica das desigual-
dades e violências perpetradas pelos senhores contra os escra-
vizados.
( ) Os padres capelães se destacaram, no período colonial, por não
aceitarem realizar o batismo forçado de índios e negros ou por
defender que continuassem a praticar livremente as suas crenças
religiosas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( )V-F-V-V
b) ( )V-F-F-V
c) ( )F-V-V-V
d) ( )F-V-V-F

2 De acordo com os estudos feitos, o capelão foi uma figura bastan-


te atuante em diversos momentos de nossa história, onde atuou,
por exemplo, junto ao corpo expedicionário brasileiro durante a 2ª
Guerra Mundial. A esse respeito, analise as proposições abaixo e
marque aquela que julgar CORRETA:

a) ( ) O corpo expedicionário brasileiro conto com a presença de


Capelães Islâmicos, Católicos, Judeus e Protestantes.
50
O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

b) ( ) O corpo expedicionário brasileiro conto com a participação de


capelães Católicos e Protestantes.
c) ( ) O corpo expedicionário brasileiro, em razão da tradicional rela-
ção entre os militares e a igreja Católica, jamais admitiu a presen-
ça de Capelães evangélicos dentro de suas fileiras.
d) ( ) A presença dos Capelães, dentro da força expedicionária bra-
sileira, foi apenas simbólica, uma vez que eles não tiveram au-
torização para atuar junto aos soldados que estavam no front da
batalha.

3 Segundo os nossos estudos, a presença do capelão dentro das for-


ças militares remonta ao império romano. Com o passar do tempo
ele acabou sendo figura sempre presente em expedições conquis-
tas, nos campos e no front de diversas batalhas ao longo dos sécu-
los, na Europa e no Brasil. Observe os momentos da história onde é
feita referência à presença do Capelão em conflitos militares:

I- Durante a 2ª Guerra Mundial onde atuou junto ao Corpo Expedicio-


nário Brasileiro na Itália.
II- Durante a Guerra do Paraguai.
III- Durante conflitos armados na França XVIII.
IV- A 1ª Missa realizada em terras que viriam a forma o Brasil em abril
de 1500.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I - II - III - IV
b) ( ) III - I - IV - II
c) ( ) IV - II - I - III
d) ( ) IV - III - II - I

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Capelania Militar e Policial

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O Processo De Conceituação, Consolidação E
Capítulo 1 Evolução Da Capelania Militar E Policial

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Religião da Universidade Metodista de São Paulo / Faculdade de Humanidades e
Direitos, 2009.

53
Capelania Militar e Policial

54
C APÍTULO 2
A Capelania Militar e Policial e a
Sua Estrutura
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a respeito da estrutura e diferenciações entre a Capelania Militar e


Policial.
� Acessar a legislação que regulamenta a profissão de capelão dentro das forças
armadas e das forças auxiliares.
� Analisar o processo de seleção e as etapas formativas para o exercício da ca-
pelania dentro das instituições militares.
� Demonstrar a hierarquia nas forças Armadas e Forças Auxiliares, o Plano de
Carreira e em como é feito o concurso para o exercício da função.
Capelania Militar e Policial

56
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Ao longo do texto você compreenderá como foi se construindo toda uma le-
gislação com o propósito de favorecer e garantir o livre exercício das práticas
religiosas cristãs dentro das instituições militares brasileiras. Irá perceber, dessa
maneira, que desde o início de nossa construção identitária, a assistência religio-
sa sempre esteve presente nas instituições militares que operaram neste territó-
rio. Mais adiante entenderemos os percursos trilhados para que tanto a capelania
católica, quanto a capelania evangélica se consolidassem nas forças armadas
brasileiras e nas forças auxiliares como sistema religioso dominante.

No decorrer do texto você terá a oportunidade compreender como ocorre o


processo de seleção dos capelães militares e as etapas que compõem este pro-
cesso. Nesse ínterim, poderá notar que, apesar da forte presença masculina des-
de tempos remotos na capelania militar, alguns seguimentos da capelania evan-
gélica têm dado oportunidade para que a mulher também possa se fazer presente
nesse espaço.

Além do mais, é importante entender um pouco mais a respeito dos critérios


de distribuição de vagas, por critério de seguimento religioso dentro das forças mi-
litar. Também terá a oportunidade de refletir acerca da necessária imparcialidade
religiosa com que o capelão militar deve conduzir o seu ministério.

2 CAPELANIA MILITAR E POLICIAL


A relação que a capelania militar e policial vem estabelecendo com o objetivo
de atender aos militares e aos seus familitares. Desta maneria, este trabalho irá
mostrar a relação que foi sendo estabelecida entre o capelão e as instituições milita-
res, e a abrangência social e religiosa que a sua prática deve possuir. Assim, norte-
ar a construção da personalidade do militar e orientar a sua conduta moral dentro e
fora das instituições militares é um dos principais desafios deste sacerdote.

O capelão é, antes de tudo, um clérigo que cuja missão é prestar socorro


espiritual e amparo institucional integrantes das corporações as quais serve, quer
sejam as Forças Armas, quer sejam as policias militares do Estados ou do Distrito
Federal. Esse sacerdote deverá pautar a sua ação em assistir aos seus irmãos de
farda e a toda comunidade expandida das corporações militares, incluindo seus
familiares. Nas instituições militares, é possível encontrar capelanias evangélicas
e católicas, as quais independentemente da orientação religiosa do seu público
deve atender a todos nas mais diversas situações da vida.

57
Capelania Militar e Policial

Além do mais, para que possa prestar concurso e praticar o seu sacerdócio
dentro da esferar militar e policial militar, o capelão deve comprovar possuir expe-
riênca pastoral. E sendo aprovado em cursos público de provas e títulos, deverá,
ainda, ser matriculado em curso militar de estágio e adpatação de oficial capelão.
Visando, assim, desenvolver as habilidades necessárias para que a sua prática
profissional esteja alinhada com a instituição onde atua.

2.1 A LEGISLAÇÃO
Ao longo do tempo, os entes públicos, dentro de suas atribuições legais, bus-
caram dar ao exercício da capelania das forças armadas e das policiais militares o
raspaldo legal para a regularização da profissional. Assim, não apenas na esfera
federal, mas também no âmbito dos governos estaduais se buscou a implantação
de dispositivos que garantissem o reconhecimento da importância do incentivo a
práticas religiosas dentro dos muros dos quartéis. Haja vista que o exercício religio-
so era tido como um fator que contribuia para a formação do caráter, legitimação da
hierarquia dentro da corporação e para o apaziguamento espiritual do militar.

Sendo assim, no final da primeira metade do século XX, o então interventor


do Estado de São Paulo, por meio do Decreto Lei Nº 16.347, de 26 de novembro
de 1946, cria na Policia Militar do Estado de São Paulo: uma Capelania Militar,
como órgão anexo ao Quartel General, com o fim de proporcionar assistência reli-
giosa, moral e material aos elementos da corporação e respectivas famílias.

Assim, foi sob essa perspectiva sociointeracionista que a Lei Nº 6.923 de junho
de 1981 foi sancionada pelo então presidente militar João Batista Figueiredo. O
texto dispunha sobre o serviço de assitencia militar dentro das forças armadas e em
seu Art. 3º determinava que o serviço de assitencia religiosa deveria funcionar em:

I- em tempo de paz: nas unidades, navios, bases, hospitais


e outras organizações militares em que, pela localização ou
situação especial, seja recomendada a assistência religiosa;
II- em tempo de guerra: junto às Forças em operações, e na
forma prescrita no inciso anterior (BRASIL, 1981).

No entanto, em seu Art. 4º deixava claro que tipo de prática religiosa o texto
da lei se referia ao definir o seguinte:

Art. 4º O Serviço de Assistência Religiosa será constituído de Ca-


pelães Militares, selecionados entre sacerdotes, ministros religio-
sos ou pastores, pertencentes a qualquer religião que não atente
contra a disciplina, a moral e as leis em vigor (BRASIL, 1981).

Diante do exposto, fica evidente o incentivo e a proteção que se buscava
58
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

garantir para as práticas religiosas cristãs, mas, em contrapartida, não fazia ne-
nhuma referência a outras manifestações religiosas largamente praticadas no ter-
ritório brasileiro.

Foi por meio do Decreto Estadual Nº 3.292 de 10 de junho de 1947 que o Go-
verno do Estado de Alagoas inseriu no quadro de oficiais da Polícia Militar de Ala-
goas, o cargo de 1º Tenente auxiliar dos Serviços Religiosos da Corporação. Essa
determinação se deu após a implantação da Capela de São Jorge, Patrono da
Assistência Religiosa da PMAL. O centro de suas atividades religiosas foi implan-
tado entre os prédios do Quartel do Comando-Geral e do Centro Médico da PM.

Entre as atribuições do Capelão da corporação estão a celebração de missas,


batizados, casamentos, funerais e demais ritos católicos. Tradicionalmente, há mais
de seis décadas é realizada uma procissão até a Catedral de Maceió para celebrar
o dia do padroeiro São Jorge, comemorado em 23 de abril. E mais recente o serviço
de assistência religiosa também passou a abranger os seguidores cristãos evangé-
licos. Os fiéis da corporação ganharam uma Capela Evangélica Militar, que foi con-
sagrada e entregue em 6 de julho de 2017, mas há décadas os policiais militares
evangélicos e seus familiares recebem acompanhamento pastoral.

Mais adiante, através da Lei Nº 5.411, de 3 de dezembro de 1987, o Governo


do Estado do Pará criou o Serviço de Assistência Religiosa da Polícia Militar do
Pará – SARPMPA. Entre outras justificativas, a lei buscava garantir que os poli-
ciais militares pudessem ter o seu direito de culto assegurado pela corporação
da qual fazia parte. Nesta mesma lei, dava-se espaço para que capelães cristãos
evangélicos também pudessem integrar o quadro de capelães militares da Policia
Militar do Pará.

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-


za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: é assegurada,
nos termos da lei, a prestação de assistência nas entidades civis
e militares de internação coletiva (BRASIL, 1998).

59
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 1 – CELEBRAÇÃO DE MISSA EM QUARTEL DO EXÉRCITO

Fonte:<https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_
publisher/MjaG93KcunQI/content/id/10220705>. Acesso em: 1 jul. 2021.

A chamada Constituição Cidadã (Constituição Federal de 1988) defende exis-


tência e assegura a prestação do Serviço de Assistência Religiosa dentro das for-
ças armadas. A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 5º, inciso VII que:

é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência


religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
A partir desta legislação temos definido que:
1) O Serviço de Assistência Religiosa tem por finalidade pres-
tar assistência religiosa e espiritual aos militares, aos civis das
organizações militares e às suas famílias, bem como atender a
encargos relacionados com as atividades de educação moral
realizadas nas Forças Armadas (BRASIL, 1988).

Mais adiante, é delineado como o perfil dos religiosos que devem ser selecio-
nados para o exercício da capelania dentro da instituição:

O Serviço de Assistência Religiosa será constituído de Cape-


lães Militares, selecionados entre sacerdotes, ministros reli-
giosos ou pastores, pertencentes a qualquer religião que não
atente contra a disciplina, a moral e as leis em vigor (CRIVE-
LARI, 2008, p. 29-30).

Entende-se que tanto a nível federal, quanto estadual buscou-se conferir a ati-
vidade de capelão devido ao amparo legal. Dando, assim, as condições necessá-
rias para inserir e praticar o seu ministério pastoral nas mais diversas esferas das
60
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

forças militares e de segurança desta nação. E mesmo em períodos mais recuados


no tempo, em diversas situações autoridades políticas usaram de sua posição para
garantir o livre exercício religioso cristão. É necessário dizer, a esse respeito, que a
mesma liberdade de culto, dentro das corporações militares, jamais foi ofertada aos
praticantes dos cultos de matriz africana, islâmica ou mesmo judaica.

2.2 A CAPELANIA MILITAR CATÓLICA


Nos anos após a invasão portuguesa e ao início do processo de coloniza-
ção, diversas irmandades religiosas vindas de Portugual, como os franciscanos,
beneditinos, carmelitas dos pés descalços, jesuitas, entre outros, foram enviados
para ajudar com assistência religiosas às tropas portuguesas e para dar início ao
processo de catequização dos povos nativos. Era um trabalho de grandes propor-
ções que exigia preparo fiísco e uma grande bagagem intelectual, uma vez que
a população nativa estava dispersa em um território imenso. Além disso, tinha-se
que elaboar estratégias para ganhar a confiança deles e convencê-los a abando-
nar as suas antigas práticas religiosas e culturais.

Diversos padres, inseridos nas aldeias dos nativos, ganharam notoriedade


pelos serviços prestados ao projeto colonizador e aos interesses da igreja católica
no Novo Mundo. Como exemplo disso, tem-se os Jesuítas também chamados de
os homens-de-preto. Eles pertenciam a ordem fundada por Inácio de Loyola, que
também era chamado de o Papa negro em razão de suas vestimentadas negras e
do poder que desfrutou dentro da Santa Sé (GUMIEIRO, 2013, p. 65-68).

IMAGEM 2 – REPRESENTAÇÃO ALUSIVA À MISSA


REALIZADA NA ALDEIA DE PIRATININGA

FONTE: <https://www.al.sp.gov.br/noticia/impressao/?id=264235&ver_imp=true>.
Acesso em: 5 jul. 2021.

61
Capelania Militar e Policial

Ainda com relação aos integrantes da Companhia de Jesus, os mais famo-


sos clérigos do seu quadro foram o Padré Manoel de Anchieta, o Padre Manoel
da Nóbrega e o Padre Aspicuelta Navarro. Além desses, houve ainda as figuras
de Antônio Rodrigues, um ex-soldado mestre nos idiomas nativos, e Pêro Correia,
um ricaço que se decidira pelo hábito talar (CRIVELARI, 2008, p. 34).

Aqueles missionários em razão da intíma relação existente entre a Santa Sé


e a coroa portuguesa, em decorrência do regime de padroado, tinha a incubência
de ajudar no processo de apaziguamento de conflitos que, por ventura, pudes-
se ocorroer entre colonos e nativos. Eles também se interessavam por estudar e
apropriar-se alguns traços da cultura daqueles povos com vistas a facilitar o pro-
cesso de conversão, dominação e aculturamento do rebanho. Facilitando, desta
maneira, o processo de integração econômica e social daqueles povos ao novo
sistema dominante.

IMAGEM 3 – O PADROADO E A IGREJA SUBMISSA AO REI

FONTE: <https://ocatequista.com.br/historia-da-igreja/item/18187-o-
padroado-e-a-igreja-submissa-ao-rei>. Acesso em: 18 jul. 2021.

Por outro lado, o empenho do clero católico e seus missionários à medida


que a colonização avançava foram instituindo capelas, santuários, conventos e
igrejas em todos os territórios tomados dos nativos. Em algumas situações, como
ocorrreu em Olinda, Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, junto àquelas
construções foras erguidas escolas e outras instituições de ensino que foram sur-
gindo (BARZIN, 1956).

Assim, à medida em que o território se desenvolvida e crescia, mais e mais


padres das mais diversas ordens religiosas foram enviados ao Brasil. A ideia era
fomentar a doutrinação religiosa e dissolver previamente qualquer traço de resis-
tência à empresa colonial por parte dos nativos.

62
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

IMAGEM 4 – VISTA DE OLINDA. ÓLEO SOBRE TELA DE FRANS POST. A IGREJA


DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, E O COLÉGIO DOS JESUÍTAS ANEXO

FONTE: <http://maturicomunicacao.com/testes/job/brasil-holandes/
seminario-de-olinda-convento-dos-jesuitas/>. Acesso em: 14 jun. 2021.

IMAGEM 5 – ANTIGO COLÉGIO DOS JESUÍTAS, IGREJA DO


ESPÍRITO SANTO E PRAÇA 17 (RECIFE-PE, 1904)

FONTE: <https://www.facebook.com/recantigo>. Acesso em: 6 jul. 2021.

Mais adiante, já no século XIX, a Constituição Civil Imperial (1824) confirmou


o catolicismo como a religião de Estado, passando a deter um caráter legal e ofi-
cial. A esse respeito, o seu Art. 5 dizia o seguinte: “A Religião Católica Apostólica

63
Capelania Militar e Policial

Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão


permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas,
sem forma alguma exterior de templo” (SOUZA, 2013, p. 129).

Conforme mencionado, o texto constitucional de 1824 apenas legalizou e


deu andamento a um processo histórico iniciado no limiar do século XVI com a in-
vasão, conquista e evangelização dos povos nativos da América portuguesa. Uma
vez que, como dito em capítulo anterior, a vida social da colonial tinha o seu com-
passo intimamente ligado à prática religiosa do catolicismo barroco. Naquela at-
mosfera cultural se tencionava pautar todas as esferas da vida pública ou privada
segundo o entendimento moral da religião e do clero católico radicado na colônia.

Nas áreas urbanas e rurais, do território conquistado, as festas e comemo-


rações, mesmo as cívicas, acabavam assumindo uma feição religiosa. Além do
mais, por estarem imersos em uma cultura religiosa barroca de tradição ibérica,
não se concebia a realidade concreta sem se estabelecer uma relação ao trans-
cendente e a cosmovisão de mundo da Igreja católica. Naquela atmosfera cultu-
ral, a igreja acabava por se configurar em uma representação concreta do divino
e de sua vontade. Desta maneira, os religiosos gozaram de grande poder e pres-
tígios naquela sociedade.

Curiosamente, no tipo de cristandade implantado na América portuguesa,


as esferas civis eclesiásticas se justapunham e colaboraram intimamente entre
si com vistas a garantir o modelo de sociedade ideal que atendesse aos interes-
ses de grupos sociais dominantes. Havia, desta forma, uma sacralização tanto
das estruturas socioeconômicas, quanto políticas. E foi naquele cenário onde a
figura do padre capelão passou a atuar nas frentes colonizadoras, nas guerras de
conquistas e reconquistas, nos engenhos açúcareiros e nas reduções indígenas
(SANTANA, 2014, p. 78-112).

Na atualidade, a Capelania Militar Católica no Brasil é garantida por força do


acordo diplomático celebrado entre o Brasil e a Santa Sé, assinado no dia 23 de
outubro de 1989. Segue transcrito apenas o Artigo 1º do Estatuto do Ordinariado
Militar do Brasil, que menciona o acordo feito entre a Santa Sé e a República Fe-
derativa do Brasil:

Art. 1 - O Vicariato Castrense no Brasil, ereto canonicamente,


em 6 de novembro de 1950 e que, por força da Constituição
Apostólica “Spirituali Militum Curae” de 21 de Abril de 1986,
passou a ser Ordinariado Militar, depois do Acordo entre a San-
ta Sé e a República Federativa do Brasil, assinado em 23 de
outubro de 1989, recebeu nova estrutura homologada pelo De-
creto “Cum Apostolicam Sedem”, de 2 de Janeiro de 1990, da
Congregação dos Bispos (CRIVELARI, 2008, p. 30).

64
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

Em atenção ao acordo firmado no âmbito internacional, o Plenário da Câ-


mara dos Deputados, em agosto de 2009, aprovou o Estatuto Jurídico da Igreja
Católica no Brasil, originando o Projeto de Decreto Legislativo nº 1.736/09 que
endossa o tratado internacional firmado entre o Estado brasileiro e aSanta Sé de
Roma outrora assinado na na Cidade-Estado do Vaticano, em 13 de novembro de
2008 (REIS, 2009, p. 24-25).

Por meio do acordo, instituiu-se um Ordinário Militar para dar amparo e as-
sistência religiosa aos integrantes das forças armadas do Brasil de confissão ca-
tólica. Esse alto signatário militar cuja nomeação cabe exclusivamente a Roma
tem os seus proventos pagos pelo estado brasileiro. A sede da Arquidiocese e sua
Cúria está localizada na capital do país, em uma repartição do Estado Maior das
Forças Armadas. E importante que se diga que o Ordinariado Militar é assimilado
canonicamente nas dioceses. Esse sacedote, além da sua patente militar, usuflui
dos direitos e também tem os deveres característicos de um bispo diocesano.

Entre as exigências para a posse deste cargo, está a de que ele deve ser
ocupado por brasileiros natos, gozar de respeitabilidade e se portar com a digni-
dade tipica de Arcebispo. Além do mais, é muito importante que esteja administra-
tivamente ligado ao Estado-Maior das Forças Armadas. Todavia, para que exerça
as suas funções, o Ordinário Militar precisa ser nomeado pela Santa Sé após feita
a devida cosulta consulta ao Governo brasleiro.

IMAGEM 6 – CRUZ LATINA – SIMBOLO DA CAPELANIA MILITAR CATÓLICA

FONTE:<https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Capel%C3%A3o_
Militar_Cat%C3%B3lico.png>. Acesso em: 27 jun. 2021.

O cargo é ocupado por um arcebispo nomeado pelo Santo Padré de Roma


que, segundo o acordo feito, dá ao papa jurisdição sobre todo trabalho das Ca-
pelanias militares em território nacional, sejam elas vinculadas às FFAA (Forças
Armadas) ou às Forças Auxiliares, independentemente de serem Capelanias ca-
tólicas ou evangélicas.

65
Capelania Militar e Policial

Sendo assim, nota-se a importância que o fomento as práticas religiosas, so-


ciais e legalmente consentidas, detiveram ao longo do tempo ante as autoridades
militares, políticas e religiosas no Brasil.

2.3 A CAPELANIA MILITAR EVANGÉLICA


A história da capelania, em solo brasileiro, também contou com a presença
de protestantes. Em razão da profunda tradição católica dos coloniadores por-
tugueses e da aliança entre o Papado de Roma e a coroa portuguesa, houve o
favorecimento da inserção do clero católico nas mais divesas instituições implen-
tadas no Brasil. Todavia, outras nações europeias que aportaram por essas terras
também traziam representantes de sua fé junto com os seus exércitos, a exemplo
dos holandeses que durante 21 anos detiveram o domínio de parte do territórios
nordestino pelos idos do século XVII (BOXER, 2004).

A esse respeito Carlos Haag, comenta o seguinte:

[...] durante a dominação comercial e militar dos holandeses,


entre 1630 e 1644, em Pernambuco, onde reinou um ambien-
te inédito de tolerância religiosa, em especial para judeus. “A
capital pernambucana era uma verdadeira ‘Jerusalém colonial’
por causa da utopia da reconstrução do mundo judaico da di-
áspora. Era uma Babel cultural. Recife, por certo tempo, foi a
única cidade do mundo que reunia pessoas das três crenças
(judeus sefarditas, católicos e calvinistas) em um único am-
biente de tolerância religiosa”, afirma o historiador Ronaldo
Vainfas (HAAG, 2011, s.p.).

Durante os primeiros séculos de colonização da América portuguesa, hou-


ve diversas tentativas, por parte dos holandeses e franceses, de implementar e
fazer do protestantismo a religião dominante no Brasil colonial. Essas incursões
se deram em diferentes momentos. Entretanto, em razão do forte enraizamento
da cultura ibérica e do catolicismo na terra, havia sempre resistência por parte
dos locais que rechaçaram a ideia. O primeiro episódio se deu com os franceses
calvinistas (huguenotes), que fugindo das guerras religiosas da Europa, tentaram
fundar uma Igreja Reformada no Rio de Janeiro que perdurou entre 1557 a 1558;
o segundo episódio se deu com os Batavos ou Holandeses que se estabeleceram
na Bahia entre 1624 e 1625 (SILVA, 2001, p. 1-13).

Naquela terceira tentativa, os holandeses protestantes sob o comando da


empresa holandesa conhecida como Companhia das Índias Ocidentais – WIC,
que patrocinou a invasão e a ocupação de Pernambuco, que na época se configu-
rava como a mais rica zona açucareira da América portuguesa, conseguiram esta-
belecer um longo período na capitania. Essa ocupação se estendeu por 21 anos
e, durante o período, os holandeses tentaram viabilizar a implantação e consoli-

66
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

dação da Igreja Calvinista enquanto sistema religioso na colonial (MELLO, 1987).


Apesar de tolerar a prática religiosa católica dos residentes locais e dar espaço
para que os judeus praticassem a sua fé, eles buscaram promover a religião pro-
testante nos territórios por eles dominados nestas terras (SILVA, 2001, p. 2).

IMAGEM 7 – IGREJA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO 1642 – O TEMPO CRIADO PELOS


HOLANDESES ERA UMA IGREJA CALVINISTA ATÉ A SUA EXPULSÃO EM 1654

FONTE: <https://sanctuaria.art/2016/05/06/igreja-do-divino-espirito-
santo-recife-pernambuco/>. Acesso em: 4 jul. 2021.

IMAGEM 8 – A IGREJA POTIGUAR VÍTIMA DO “BEELDENSTORM”


CALVINISTA. A ANTIGA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO,
EM 1633 FOI TRANSFORMADA EM UMA IGREJA CALVINISTA PELOS
MILITARES HOLANDESES - NATAL, RIO GRANDE DO NORTE

FONTE: <https://www.facebook.com/BrasilisRegnum>. Acesso em: 3 jul. 2021.

67
Capelania Militar e Policial

Desta maneira, enquanto a inserção da Igreja Católica se deu de imediato


com a chagada dos invasores portugueses em 1500, “no momento em que colo-
caram os pés em uma terra desconhecida logo batizada de Ilha de Vera Cruz com
a celebração, em 26 de abril de 1500, de uma missa como ato de posse da nova
terra” (CRIVELARI, 2008, p. 35). Entretanto, a inserção da prática cristã relaciona-
da ao protestantismo se deu a conta-gotas, uma vez que o que estava em pauta
era o medo de que a Igreja Católica perdesse a sua primazia no estabelecimento
de costumes e práticas sociais na colônia. Fato que traria grande instabilidade
política, social e até econômica, e poderia fazer ruir todo o sistema de dominação
implantados pelos colonizadores em parceria com o clero católico no Brasil (SAN-
TANA, 2021, p. 88-96).

IMAGEM 9 – CEMITÉRIO DOS INGLESES EM RECIFE, DATADO DE 1814

FONTE: <fhttps://bit.ly/3rcP7gK>. Acesso em: 20 jun. 2021.

Já pelos idos do século XIX, no Brasil Imperial houve debates calorosos em


torno da questão da liberdade religiosa, uma vez que o Brasil, nação recém-ins-
tituída, precisava estabelecer ou manter relações comerciais e políticas com na-
ções que professavam o protestantismo como religião dominante. É o caso, por
exemplo, dos Estados Unidos e da Inglaterra, a maior potência bélica e econô-
mica do mundo naquele momento. Assim, ainda durante os trabalhos da Consti-
tuinte de 1823 se resolveu tolerar a prática protestante no Brasil, dando liberdade
de culto, incluindo construção de seus templos e de ter lugar apropriado para o
sepultamento de seus mortos (SOUZA, 2013, p.127-131).

Todavia, a primeira menção que se tem notícia da presença de um pastor


protestante que tenha servido junto a militares brasileiro é o de Friedrich Christian

68
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

Klingelhöffer, um imigrante alemão que também era pastor luterano. O episódio


em que Friedrich participou de atividades militares tem relação com a sua adesão
à Revolta dos Farrapos, ocorrida durante o Período Regencial em 1837, que teve
início com a abdição de D.Pedro I e se encerrou com a Coroação de seu filho D.
Pedro II. Sendo assim, o texto diz o seguinte (CRIVELARI, 2018, p. 37-38):

Por ocasião da Revolução Farroupilha o Pastor Klingelhöffer


aderiu ao movimento ao lado dos revoltosos, por achá-la van-
tajosa aos protestantes. O projeto de constituição farroupilha
previa igualdade e liberdade religiosa, ao contrário do Governo
Imperial que prometia liberdade religiosa aos evangélicos, mas
a constituição determinava que a religião oficial era a católi-
ca-romana. Por isso ficou conhecido como “o Pastor farrapo”.
O Governo Imperial ao tomar conhecimento do seu apoio aos
farrapos suspendeu o pagamento dos seus subsídios.

IMAGEM 10 – PASTOR DR. JOÃO FILSON SOREN, CAPELÃO MILITAR


EVANGÉLICO DO REGIMENTO SAMPAIO EXPEDICIONÁRIO

FONTE: <https://www.pastorjoaosoren.com/>. Acesso em: 18 jun. 2021.

Os primeiros capelães evangélicos do Brasil que atuaram na Força Expedi-


cionária Brasileira (FEB) foram os pastores metodista Juvenal Ernesto da Silva
e o batista João Filson Soren. Esses religiosos, entre os anos de 1944 e 1945,
tiveram uma atuação bastante ativista na prestração de seus serviços religiosos
no front de batalha. A inserção dos combatentes capelães, durante a 2ª Guerra
Mundial, foi concretizado graças a intermediação feita pela extinta Confederação

69
Capelania Militar e Policial

Evangélica do Brasil, que teria pressionado o governo do então presidente Getúlio


Vargas para que permitissem que os militares protestantes pudessem ser assisti-
dos por ministros religiosos próprios de sua fé.

Ainda sobre o tema, em solo italiano, os cultos cristãos, católico ou protes-


tante, eram realizados, a depender das circunstâncias, quase diariamente. Já aos
domingos, as cerimônias eram realizadas pelos capelães dos regimentos. A im-
portância dada à realização de atividades religiosas entre a soldadesca se ba-
seava na tese de que a “preparação e instrução militar era crucial que o militar
podesse ter sucesso no campo de batalha. Desta forma, cria-se que “a instrução
religiosa, seja ela católica ou protestante, tem um valor inestimável na preparação
psicológica e emocional do soldado”. Assim, a “presença do Capelão, assistindo
suas ovelhas, cria e desenvolve nelas a coragem e a força para se chegar à vitó-
ria” (CRIVELARI, 2008, p. 41-42). Sob essa perspectiva, a instrução militar só es-
taria completa e consolidada através da orientação moral e espiritual do capelão
dentro e fora do campo de batalha.

IMAGEM 11 – LIVRO ABERTO COM UM FACHO EM CHAMAS


- SÍMBOLO DA CAPELANIA MILITAR EVANGÉLICA

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Capel%C3%A3o>. Acesso em: 3 jun. 2021.

3 O PROCESSO SELETIVO DO
CAPELÃO
O acesso do capelão militar tanto das forças armadas, quanto nas forças au-
xiliares, dar-se através de concurso público de provas e títulos. Em edital recente,
lançado pela Marinha do Brasil, estabelecia que o militar deveria ter “mais de 30
anos e menos de 41 até 1º de janeiro do ano do curso”. Além de ter concluído o
curso de teologia a nível superior e ter o diploma reconhecido pelo MEC e pela
autoridade eclesiástica, entre outros pré-requisitos. O certame inclui ainda teste
de aptidão física, avaliação psicológica, avaliação médica, verificação de dados
biográficos (VDB), ou seja, é analisada a condição da saúde física, a conduta
ética, moral e o bem-estar psíquico do candidato. Na situação do concurso, exem-

70
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

plificado neste texto, as vagas ofertadas eram para sacerdotes da Igreja Católica
Apostólica Romana e Pastores das Igrejas evangélicas Assembleia de Deus e
Batista (MARINHA BRASIL, 2021).

É necessário dizer que o concurso para capelães militares católicos, via de


regra, é destinado apenas para candidatos do gênero masculino. Isso se justifica,
ainda nos dias de hoje, pelo fato de que dentro da tradição católica apenas os
homens podem ser ordenados sacerdotes. Assim, apenas os padres ordenados
podem concorrer à vaga.

Entretanto, para os processos seletivos voltados para os capelães evangé-


licos, a depender da corporação, podem se candidatar candidatos de ambos os
gêneros, como é o caso do Exército. As forças armadas de um modo geral limitam
a idade mínima para concorrer ao concurso de capelão.

Apesar de haver algumas variações entre as instituições, no processo seleti-


vo para capelão militar é importante deixar claro que os requisitos para concorrer
à função de Capelão variam entre as corporações, contudo, em todas elas se
exige que o capelão, antes de adentrar na força, já seja padre ordenado ou pastor
consagrado, que tenham formação superior em teologia e pelo menos três anos
de atividades como sacerdote. Além do mais, cada religioso só pode preencher
vagas na sua própria doutrina.

Para ser capelão militar evangélico, o candidato deve ser pas-


tor protestante ou evangélico de denominações batista, presbiteria-
na, metodista, luterana, pentecostal, entre outras, segundo Silva. A
esse respeito é muito comum o Edital trazer o nome da denomina-
ção evangélica / protestante à qual o candidato deve estar atrelado
para que assim possa se candidatar à vaga. Por vezes, o Edital não
traz essa exigência, mas deixa claro que o candidato deve ser pastor
evangélico. A depender da instituição para a qual o candidato irá se
candidatar, faz-se necessário ter um olhar bastante atento às espe-
cificidades do Edital, haja vista que poderá existir variações nas exi-
gências para o ingresso nessas instituições.

Sendo assim, a depender da corporação, a seleção para ingresso do capelão


poderá ser composta de testes físicos, prova de múltipla escolha e dissertativas,

71
Capelania Militar e Policial

investigação de vida pregressa, prova de títulos, avaliação psicológica, inúmeros


exames médicos para atestar se o candidato goza de boa saúde ou não. Ou seja,
são inúmeras etapas que deverão ser transpostas até que os aprovados assu-
mam efetivamente as suas funções de capelão militar.

Na polícia militar do Rio de Janeiro, por exemplo, após a aprovação no con-


curso, é necessário fazer um estágio obrigatório de seis meses, visando à adap-
tação do candidato a vida militar. O referido estágio, no entanto, é divido em dois
blocos; na primeira etapa o candidato passa três meses realizando apenas ativi-
dades relacionadas à vida militar; nos três meses seguintes realiza atividades re-
lacionadas às atividades pastorais do capelão, como visitar presídios e hospitais,
fazendo assistência religiosa.

Além disso, no caso das Forças Armadas do Brasil, após ingressar na insti-
tuição e passar por todas as etapas relativas aos cursos de formação, o capelão
poderá ser designado para exercer as suas atividades em qualquer parte do terri-
tório brasileiro e poderá ser designado para atuar em missões no exterior.

No quadro abaixo, que toma como referência o ano de 2010, é possível ana-
lisar como, naquele período, funcionavam os concursos para capelães militares
nas três Forças Armadas:

QUADRO 1 – SISTEMA DE SELEÇÃO PARA CAPELÃES


DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRA
Exército Marinha Aeronáutica
- Ser do sexo masculino - Podem concorrer so- - Ser do sexo masculino
para sacerdote católico ro- mente candidatos do sexo - Ter idade entre 30 e 40 anos
mano e ambos os sexos masculino. - Ter concluído, com apro-
para pastor evangélico. - Ter curso de formação veitamento, curso superior
- Completar, até 31 de de- teológica regular de nível de formação teológica, re-
zembro do ano da matrícula universitário, reconhecido conhecido pela autoridade
no curso de formação, no pela autoridade eclesiásti- eclesiástica da religião cató-
mínimo 30 anos e, no máxi- ca de sua religião. lica apostólica romana ou da
mo, 40 anos de idade. - Possuir pelo menos 3 religião evangélica.
Requisito
- Ter concluído, com apro- anos no exercício de ati- - Ter sido ordenado sacerdo-
veitamento, curso de for- vidades pastorais, como te católico romano ou consa-
mação teológica regular, de sacerdote ou pastor. grado pastor evangélico.
nível superior, reconhecido - Ter no mínimo 30 anos - Ter o consentimento ex-
pela autoridade eclesiástica e no máximo 40 anos de presso da autoridade eclesi-
de sua religião. idade no primeiro dia do ástica da respectiva religião
- Ter sido ordenado sacerdote mês de janeiro do ano de para exercer atividade pasto-
católico romano ou consagra- início do curso. ral na Aeronáutica.
do como pastor evangélico.
72
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

- Possuir pelo menos 3 anos - Ter consentimento ex- - Possuir, pelo menos, três
de atividades pastorais, presso da autoridade anos de atividades pastorais
comprovadas por documen- eclesiástica, a qual está como sacerdote apostólico
to expedido pela autoridade subordinada da respectiva romano ou pastor evangé-
eclesiástica. religião, para inscrever- lico, após a ordenação ou
- Ter, no mínimo, 1,60m de -se no processo seletivo consagração (investidura),
altura, se for do sexo mas- e para prestar assistência respectivamente.
culino, ou 1,55m de altura, religiosa, espiritual e moral. - Não será aceito diploma de
se for do sexo feminino. tecnólogo para a comprova-
ção da formação profissional,
em nenhuma especialidade.
O Estágio de Instrução e O curso de formação de O Estágio de Instrução e
Adaptação para Capelães oficiais e o estágio de Adaptação de Capelães é
Militares tem duração de 32 aplicação serão no Centro realizado no Centro de Ins-
semanas: 12 na Academia de Instrução Almirante trução e Adaptação da Aero-
Militar das Agulhas Negras, Wandenkolk, no Rio de náutica, em Belo Horizonte,
Local do em Resende (RJ); 4 na Janeiro, com duração e tem duração aproximada
curso de Escola de Sargentos das de 39 semanas. O posto de 13 semanas, abrangendo
formação Armas, em Três Corações inicial após o curso é de 1º instruções nos campos ge-
(MG); e as demais semanas tenente. ral, militar e técnico-especia-
na guarnição onde o lizado. O posto inicial após o
capelão será classificado. O curso é de 2º tenente.
posto inicial após o curso é
de 2º tenente.
Salário
R$ 8.245,00 R$ 11 mil R$ 10 mil
inicial
Prova escrita de conheci- Exame de escolaridade,
Exame intelectual; inspeção
mentos profissionais; pro- exame de conhecimentos
de saúde; exame de apti-
Etapas do va de expressão escrita; especializados, inspeção de
dão física e revisão médica
processo seleção psicofísica; teste saúde, exame de aptidão
e comprovação dos requisi-
seletivo de suficiência física; veri- psicológica e teste de ava-
tos biográficos exigidos dos
ficação de dados biográ- liação do condicionamento
candidatos.
ficos e exame psicológico físico.
FONTE: <https://www.esfcex.eb.mil.br/>. Acesso em: 30 jun. 2021.

Recentemente, em maio de 2021, a Marinha do Brasil lançou edital de con-


curso público de provas e títulos para Capelão Militar daquela instituição. O certa-
mente tinha as suas etapas assim descritas:

1) Prova objetiva com 50 questões de Conhecimentos Profis-


sionais e Redação (eliminatórias e classificatórias);
2) Eventos Complementares constituídos de:
a) Verificação de Dados Biográficos (VDB);

73
Capelania Militar e Policial

b) Inspeção de Saúde (IS);


c) Teste de Aptidão Física (TAF) - Natação e Corrida;
d) Prova de Títulos (PT);
e) Verificação de Documentos (VD); e
f) Avaliação Psicológica (AP).
3) Curso de Formação de Oficiais (CFO), composto de:
a) Período de Adaptação (eliminatório e classificatório); e
b) Curso de Formação propriamente dito (eliminatório e classi-
ficatório) (MARINHA BRASIL, 2021, on-line).

Já em sua prova escrita, o candidato deveria demonstrar profundo consegui-


mento nos seguintes temas:

Prova escrita terá duração de quatro horas, com total de 50 questões confor-
me as disciplinas abaixo:

• A Sagrada Escritura
• Teologia Fundamental – Metodologia Teológica, Teologia Fundamental
• Teologia Dogmática – Deus Uno e Trino
• Teologia da Criação
• Antropologia Teológica
• Cristologia
• Pneumatologia
• Eclesiologia
• Mariologia
• Escatologia
• Teologia Moral
• Direito Canônico
• História da Igreja

A Aeronáutica também abre edital aberto para seleção de capelão. Nesse


edital específico, as vagas são direcionadas para sacerdotes católicos. Sendo o
concurso composto das seguintes etapas:

• Avaliação do Ordinariado Militar do Brasil


• Provas Escritas
• Verificação de Dados Biográficos e Profissionais (VDBP)
• Parecer da Comissão de Promoções de Oficiais (CPO), para candidatos
militares da Aeronáutica
• Inspeção de Saúde (INSPSAU)
• Exame de Aptidão Psicológica (EAP)
• Teste de Avaliação do Condicionamento Físico (TACF)
•  Procedimento de Heteroidentificação Complementar (PHC)
• Validação Documental
 

74
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

Já a Marinha do Brasil lançou edital para a seleção de capelães navais do


corpo de auxiliares da Marinha. No referido edital são delineadas, entre outras
coisas, os pré-requisitos para se candidatar ao cargo:

a) ser brasileiro nato, do sexo masculino, nos termos do art. 12,


I, da CRFB/1988;
b) ter entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade, nos ter-
mos da Lei nº 6.923, de 29 junho de 1981;
c) possuir, pelo menos, 3 (três) anos no exercício de atividades
pastorais, na Igreja Católica Apostólica Romana (de acordo
com o Art. 18, inciso V, da Lei 6.923/1981);
d) possuir idoneidade moral, a ser apurado por intermédio de
averiguação da vida pregressa do candidato, por meio da Ve-
rificação de Dados Biográficos (VDB). Se militar, membro da
Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros Militar em atividade,
apresentar, na data prevista para entrega de documentos para
a realização da Verificação de Documentos VD, conforme pre-
visto no calendário de eventos, atestado de idoneidade moral e
bons antecedentes de conduta emitido pela autoridade a quem
estiver subordinado, conforme modelo constante no anexo VIII;
e) estar em dia com as obrigações do Serviço Militar e da Jus-
tiça Eleitoral;
f) estar autorizado pela respectiva Força Armada ou Força Au-
xiliar, em se tratando de militar ou membro da Polícia Militar e
do Corpo de Bombeiros Militar em atividade, conforme modelo
constante no anexo IX. Se militar da Marinha do Brasil (MB), o
candidato deverá cumprir os procedimentos de comunicação
da inscrição em CP;
g) não estar na condição de réu em ação penal;
h) não ter sido, nos últimos cinco anos, na forma da legislação
vigente:
I) responsabilizado por ato lesivo ao patrimônio público de
qualquer esfera de governo, em processo disciplinar adminis-
trativo do qual não caiba mais recurso, contado o prazo a partir
da data do cumprimento da sanção; ou
II) condenado em processo criminal com sentença transitada
em julgado, contado o prazo a partir da data do término do
cumprimento da pena [...] (MARINHA BRASIL, on-line).

Em outro trecho são delineadas as etapas do certamente na passagem abaixo:

a) Prova Escrita Objetiva (PO) de Conhecimentos Profissionais;


b) Redação; e
c) Eventos Complementares (EVC) constituídos de:
I) Verificação de Dados Biográficos (VDB)
II) Inspeção de Saúde (IS);
III) Teste de Aptidão Física de Ingresso (TAF-i);
IV) Avaliação Psicológica (AP);
V) Verificação de Documentos (VD); e
VI) Prova de Títulos (PT).
e) Resultado Final da Seleção (RF) (MARINHA BRASIL, on-line).

Como é possível perceber no Exército e na Aeronáutica, há toda uma dinâ-


mica e normatização a qual o candidato deve atender para que possa concorrer à
vaga de capelão dentro da força.

75
Capelania Militar e Policial

3.1 O QUE É O SAREX, O SARM,


SARA E QUAIS AS SUAS FINALIDADES?
O SAREx é o Serviço de Assistência Religiosa do Exército, esse departa-
mento do Exército tem a incubência de dar amparo espiritual aos seus integran-
tes, sejam militares ou civis, que estejam servindo nas organizações militares.
A assistência espiritual também alcança os familiares dos integrantes daquelas
forças, uma vez que se entende que há uma relação direta entre o bem-estar
do servidor e a harmonia de sua vida familiar. Busca-se oferecer uma atenção
global ao sujeito. Desta maneira, a orientação espiritual, o amparo emocional e a
orientação são são os pilares sobre os quais o serviço de capelania dentro dessas
forças se assenta.

IMAGEM 12 – SIMBOLO DO SAREX – A CRUZ E A BÍBLIA

FONTE: http://www.dphcex.eb.mil.br/noticias/583-dia-do-servico-de-
assistencia-religiosa-do-exercito. Acesso em: 5 jun. 2021.

Insta recordar que a assistência religiosa dentro das Forças Armadas foi cria-
da no período imperial durante o reinado do imperador D. Pedro II, por meio do
Decreto nº 747, de 24 de dezembro de 1850. No entanto, o Exército Brasileiro
só veio a instituir uma data representativa para homenagear o capelão militar na
segunda metade do século XX. Na ocasião, foi instituído o dia 13 de fevereiro
como o Dia do Serviço de Assistência Religiosa, essa data faz referência ao dia
do nascimento do ex-combatente e capelão militar durante a 2ª guerra mundial
Frei Orlando, que é o Patrono da Capelania Militar do Exército brasileiro.

76
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

IMAGEM 13 – CERIMÔNIA RELIGIOSA EM HOMENAGEM AO DIA DO SERVIÇO


DE ASSISTÊNCIA RELIGIOSA DO EXÉRCITO BRASILEIRO (SAREX)

FONTE: <https://arquidiocesemilitar.org.br/cerimonias-marcam-
comemoracoes-do-sarex.html>. Acesso em: 29 jun. 2021.

Ao pleitear a presença dos capelães na força expediocionária brasileira, as


forças armadas buscavam garantir que além dos armamentos, das vestimentas,
da alimentação e do abrigo, o soldado também pode contar com a assistência
religiosa durante a sua missão. Desta maneira, os soldados enviados para lutar
na Itália podem contar tanto com o amparo do Estado brasileiro, quanto com o
conforto de religioso trazidos por aqueles ministros católicos ou protestantes.

A Marinha Brasileira, assim como as demais forças, tem as suas datas come-
morativas e o seu próprio padroeiro da capelania militar. O Serviço de Assistência
Religiosa da Marinha (SARM), cujo serviço é subordinado ao Almirante de Esqua-
dra, que exerce a função de Direitor Geral do Pessoal da Marinha (DGPM), tem a
seguinte diretriz:

O Serviço de Assistência Religiosa da Marinha (SARM) tem


por finalidade prestar Assistência Religiosa e Espiritual aos
Militares, Servidores Civis das Organizações Militares (OM) e
às suas famílias, colaborando com as atividades de educação
moral realizadas na MB. O SARM será constituído de Cape-
lães Navais, selecionados entre sacerdotes e pastores, per-
tencentes a religiões que não atentem contra as normas, disci-
plina, moral e leis em vigor (DGPM-502 – 3ª Rev.) (MARINHA
BRASIL, 202?, on-line).

É importante que se diga que o seviço religioso da Marinha do Brasil, além


das atividades litúrgicas, oferece palestras, serviço de aconselhamento de casais,
visita e apoio religioso a pessoas hospitalizadas e presos, apoio aos familaires
dos militares embarcados e preparação dos capelães que embarcam nas mis-

77
Capelania Militar e Policial

sões. Sendo assim, tal como ocorre nas outras forças, é um serviço busca abar-
car os mais variados aspectos da vida militar. Sem, contudo, deixar de assistir aos
seus familiares.

A Força Áerea Brasileira também possui o seu próprio Patrono, assim como
uma data comemorativa para homenageá-lo. O dia 24 de março é a data escolhi-
da para a celebração, uma vez que, em 24 de março de 2004, restos morais do
Padre Bartolomeu de Gusmão, Patrono da Áeronautica, foram transladados do
Mosteiro de São Bento para a Catedral da Sé na Capital de paulista.

O Serviço de Assistência Religiosa da Áeronautica (SARA) é o orgão respon-


sável para organizar a assistência religiosa dentro daquela força. O SARA, cuja
chefia é de um Coronel Capelão, tem por atribuição “ofertar assistência religiosa,
espiritual, moral e social aos militares, servidores civis e seus familiares nas diver-
sas organizações militares da Aeronáutica. Ele foi criado em 29 de junho de 1981”
(AGÊNCIA FORÇA AÉREA, 2020, on-line).

IMAGEM 14 – RELIGIOSA EM HOMENAGEM AO DIA DE


ASSISTÊNCIA RELIGIOSA DA AERONÁUTICA (SARA)

FONTE: <https://bit.ly/33q09qK>. Acesso em: 27 jun. 2021.

Um dos principais pilares da assistência religiosa da Aeronáutica é a promo-


ção de atividades que contribuam para o bem-estar físico, mental e espiritual dos
integrantes daquela força. A sua perspectiva de interação se assenta no incentivo
a práticas culturais, atividades sociais e amparo humanitário aos necessitados.
Buscando, desta maneira, fomentar a empatia, a irmandade e a solidariedade en-
tre os integrantes e seus familiares.

78
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

No período da 2ª Guerra Mundial, foi escrita a Canção do Ex-


pedicionário, que se tornou simbolo da campanha brasileira na luta
contra o nazifascismo na Europa. A observação atenta e a análise
crítica de alguns trecho desta canção permite mensurar a profunda
religiosidade da sociedade brasileira da época. Ou seja, demonstra o
quanto o cristianismo estava diluido na vida social e nas instituições
brasileiras. Essa canção chamada de “Canção do Expedicionário” foi
escrita para incentivar e levantar o moral dos soldados que integra-
vam a Força Expedicionária Brasileira durante a 2ª Guerra Mundial.
Ainda a esse respeito, o próprio SAREx tem o seu próprio Hino que
homenageia os seus capelães militares.

Canção do SAREx
Letra: Cel. Cpl. Euclides José da Silva e 1º Tem. Cpl. Cláudio J. Kirst

Música: Cap. Mús. R/1 Benigno Parreira


I
Ide por toda a parte, aos homens ensinai,
Pelo Evangelho, meu rebanho congregai.
É a voz do Mestre e Senhor no caminho,
Aos pastores d’almas na caserna ordenando.
Estribilho de, junto aos soldados,
Minha mensagem salvífica levai.
Aos militares e famílias, Minha palavra anunciai.
II
Orlando, o Frei, concretizou o mando
Com sua vida pelos outros derramada
Destemido foi ao Mestre respondendo
Exemplo lídimo aos capelães legando.
III
Capelães militares, Integrantes do SAREx,
Dos pátrios rincões distantes vem servir.
Eis na nossa Força a meta traçada,
Dedicação total, graças por Deus doada.

Fonte: https://bit.ly/3tjbiEN

Segundo Ubiratan Crivelari (2018. p. 49), a história do SAREx é construida a


partir dos seguintes decretos:
79
Capelania Militar e Policial

A Lei nº 5.711, de 08 out 71 reestrutura o Serviço de Assistên-


cia Religiosa nas Forças Armadas (SARFA). A Portaria Ministe-
rial nº 995, de 09 out 72 cria o Serviço de Assistência Religiosa
do Exército (SAREx). Finalmente, a Lei nº 6.923, de 29 de ju-
nho de 1981, dispõe sobre o Serviço de Assistência Religiosa
nas Forças Armadas.

Em razão da tradição religiosa cristã da sociedade brasileira, dentro das For-


ças Armadas e Forças Auxiliares, a questão da capelania é tratada com bastante
seriedade e respeito. A atuação do capelão nessas forças é voltada, antes de
mais nada, para a promoção do bem-estar físico, mental e espiritual do outro.
Desta maneira, o acolhimento, o aconselhamento e a promoção da dignidade da
pessoa humana são valores que norteiam os trabalhos desses clérigos.

3.2 SOBRE A INSTRUÇÃO RELIGIOSA


Demonstrou-se em diversas passagens do texto que o capelão ao longo de
sua preparação para o exercício de seu ministério é orientado para seguir dire-
trizes alinhadas com os princípios cristãos e religiosos militares e dependentes.
Além de ser orientado para lidar com respeito e tolerância para com os outros
credos religiosos. Para tanto, foi estabelecido, de acordo com a tabela abaixo,
alguns parâmetros com vistas a nortear a conduta com que o capelão deve se
portar diante das outras pessoas. Dentre essas, a postura ética pastoral, demons-
trar respeito aos colegas de ordens diferentes, o respeito a hierarquias e aos seus
superiores, bem como o respeito e o contrato para os seus subalternos.

A esse respeito, Ubiratan Crivelari (2008, p. 50) traz os dados abaixo:

QUADRO 2 – CONDUTA A SER ADOTADA PELO CAPELÃO

De acordo com as determinações contidas nas IG 10-50 “Instruções Gerais para o Funcionamento
do Serviço de Assistência Religiosa do Exército”, aprovadas pela Port. nº 211–EME, de 03 Maio
2001, nas “Diretrizes Gerais para Prestação da Assistência Religiosa nas Capelanias do Exército”
e na regulamentação da “Admissão de Candidatos ao Quadro de Capelães Militares da Reserva
do Exército”, aprovadas pela Port. nº 075–DGP, de 24 Jun. 2002, os seguintes temas gerais serão
utilizados para as atividades de instrução religiosa:
a. Deus – a importância da crença e da fé;
b. Jesus Cristo – sob o enfoque ecumênico, apresentar a importância vital do conhecimento da
pessoa e da doutrina do Mestre para os cristãos;
c. família – levar o militar a conscientizar-se sobre a responsabilidade de bem se preparar para que
a família seja solidamente constituída; mostrar que a educação mais conveniente é a da família, e
a sua melhor escola, a casa materna; ensinar a cultivar, na família, a afeição, a convivência feliz, a
união, o respeito, o bom relacionamento e a responsabilidade recíproca entre pais, mães e filhos
na manutenção da integridade do lar;
80
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

d. relacionamento humano – expor aos militares os vários ângulos do relacionamento humano que
levam à maturidade psicológica, à convivência harmônica e à sadia camaradagem;
e. vocação e trabalho – explicar aos militares como também é vital ter uma habilitação, um trabalho
e(ou) uma profissão que se ajustem ao indivíduo e permitam uma boa remuneração para a sua
subsistência e para o estabelecimento de uma família bem estruturada;
f. fé cristã e a vida militar – sob enfoque ecumênico, explicar aos militares que não há oposição
entre ser um bom militar e um bom cristão;
g. o militar e a religião nos dias atuais – esclarecer os militares, com enfoque ecumênico, sobre a
importância da prática religiosa como fator atenuante das tensões do mundo moderno;
h. virtudes militares e virtudes cristãs – sob um prisma ecumênico, apresentar aos militares como
muitas das virtudes militares que enobrecem a carreira militar encontram correspondência nas
virtudes cristãs; e
e. drogas lícitas e ilícitas – conscientizar os militares sobre os grandes malefícios que elas trazem
para a saúde física e mental e, também, que elas se constituem numa das maiores causas de
desajustes familiares; mostrar os princípios religiosos que as condenam e a força da fé para
combater e afastar os vícios.
FONTE: Crivelari (2008, p. 50)

Ordinários militares das Forças Armadas do Brasil:

• Dom Fernando Guimarães: 2014 - Atual.


• Dom Osvino José Both: 2006 - 2014.
• José Francisco Falcão de Barros: 2011 - Bispo Auxiliar.

O Arcebispo Ordinário Militar do Brasil detém, dentro das Forças Armadas


do Brasil, o status de General de Divisão, tendo, por esta razão, passagem livre
em qualquer organização militar do país e as mesmas honras militares que um
Oficial General. Já o Bispo Auxiliar tem o status de General de Brigada, sendo-lhe
atribuídas as mesmas honras militares que são dirigidas ao oficial que detém esta
patente dentro das Forças Armadas brasileiras.

A capelania militar brasileira também possui os seus Santos de


Invocação, ou melhor dizendo, Santos Padroeiros conforme referen-
dados abaixo:

São João de Capistrano (1386-1456) – padroeiro dos capelães militares.


São Lourenço de Brindisi (1559-1619) – foi capelão militar.

81
Capelania Militar e Policial

3.3 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL


DO SAREX
Por uma questão de ordem dentro das forças armadas brasileiras, o trabalho
exercido pelos capelães, católicos ou evangélicos, dentro do Exército sob a coor-
denação do SAREx, está amparado por uma estrutura sólida, articulada entre si
e com uma dinâmica eficiente para garantir a manutenção do axulio pastoral dos
Capelães, mesmo em tempos de crise, a todas as ordens militares. Dessa manei-
ra, a rígida estrutura tomada de empréstimo do militarismo ajuda a garantir com
que a assistência religiosa funcione e chegue a todos os que dela necessitam de
maneira justa e igualitária. Segue abaixo um quadro resumido da Estrutura do
SAREx, demonstrando sua coluna vertebral e suas ramificações até as Ordens
Militares (OM) (SAREx, 2008).

O SAREx é constituído de:


I- Chefia;
II- Subchefias; e
III- Capelanias Militares.

A Chefia é o órgão de Direção do SAREx, subordinada à Diretoria de Assis-


tência ao Pessoal (DAP), exercida por um Coronel Capelão, tendo por auxiliar um
Capelão-Adjunto do posto de Capitão ou Major.

As Subchefias, denominadas “Subchefias de Assistência Religiosa”, são ór-


gãos de coordenação das atividades do SAREx, exercidas por Tenentes-Coronéis
Capelães ou Major Capelães, subordinadas aos Comandos Militares de Área, sob
a supervisão e a orientação técnicas da Chefia do SAREx.

As Capelanias Militares são órgãos de execução das atividades do SAREx,


criadas pelo Estado-Maior do Exército (EME), mediante proposta do DGP, e su-
bordinadas aos Grandes Comandos e Grandes Unidades, bem como a outras OM
a critério do Chefe do EME. As Capelanias Militares prestarão assistência religio-
sa a todas as OM subordinadas aos Grandes Comandos e Grandes Unidades a
que pertencem.

Nos Grandes Comandos, Grandes Unidades e outras OM, não assistidos por
Capelães Militares, será autorizado o apoio religioso-pastoral da Capelania Militar
mais próxima, após entendimento direto entre os Comandantes interessados.

Nas guarnições desses Comandos, se necessário, será autorizada a utilização,


sem ônus para o Exército, dos serviços de assistência religiosas de sacerdotes, mi-
nistros religiosos ou pastores da localidade, por proposta dos Comandantes, através
dos canais de comando, e aprovação do Comandante Militar de Área (Cmt Mil A).

82
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

Como se pode constatar, há toda uma estrutura organizacional que dar am-
paro ao serviço de capelão dentro das forças armadas brasileiras. Desta forma,
no exercício de suas práticas profissionais, juntamente com os seus auxiliares, o
capelão tem acesso a uma vasta rede de apio que endossa e viabiliza o seu mi-
nistério pastoral. Esse apoio, inclusive, lhe permite atender o seu rebanho.

Mais abaixo, é apresentado o organograma do Exército, pelo qual é possível


entender como um importante orgão das forças armadas brasileiras se organiza
com vistas a atender a sua missão institucional. Garantindo, desta forma, que os
capelãoes foram exercer as suas atividades de maneira eficaz e serena.

IMAGEM 15 – O TENENTE-CORONEL CAPELÃO NORBERTO E O


CAPITÃO CAPELÃO JOÃO BATISTA ALVES DE ALMEIDA JÚNIOR,
PRESTANDO SERVIÇO RELIGIOSO NO HAITI EM 2010

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Capel%C3%A3o>. Acesso em: 14 jun. 2021.

IMAGEM 16 – PASTRORES DA POLICIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Capel%C3%A3o>. Acesso em: 14 jun. 2021.

83
Capelania Militar e Policial

É importante que se diga que a estrutura organizacional do SAREx se com-


põe, na atualidade, pelo órgão de direção, que corresponde à chefia; é composto
ainda pelo pelos órgãos de coordenação, que correspondem às subchefias; e, por
fim, pelos órgãos de execução, que correspondem às capelanias militares. A sua
direção é ocupada por um Coronel Capelão e, por sua vez, está subordinada à
Diretoria de Assistência ao Pessoal. Para auxiliá-lo em suas funções, o chefe do
SAREx conta também com um auxiliar: Capelão-Adjunto que o posto de Capitão
ou Major (REIS, 2009, p. 32).

O organograma do SAREx, datado de 2009, chama a atenção a respeito


da topografia da estrutura organizacional do SAREx. Assim como, demonstra a
abrangência e a sua distribuição por todo o território nacional que se dava, naque-
le momento da pesquisa, através do apoio e liderança dos Comandos Militares e
seus respectivos subchefes (REIS, 2009, p. 32):

1- Comando do Leste (CML): Ten. Cel. Capelão Lindenberg


Freitas Muniz; 2-Comando do Sudeste (CMSE), Ten. Cel. Van-
derlei Valentin da Silva; 3- Comando do Sul (CMS), Ten. Cel.
Capelão Estevão Rosa do Espírito Santo; 4-Comando do Nor-
dente (CMNE), Ten. Cel. Capelão José Eudes da Cunha; 5-Co-
mando da Amazônia(CMA), Ten. Cel. Capelão Celso Boerger
Rohling; 6-Comando do Oeste (CMO), Cap.Capelão Gilberto
Álvaro; e, por fim, 7-Comando do Planalto, Ten. Cel. Capelão
WalterPereira Mello.

IMAGEM 17 – ORGANOGRAMA DO SAREx

FONTE: <https://bit.ly/339dDri>. Acesso em: 4 jul. 2021.


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Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

Além do mais, a distribuição das Capelanias Militares é feita por meio da Por-
taria n º 036 do Departamento-Geral do Pessoal, de 28 de julho de 1999, que re-
gulamenta a ação dos capelães. Dessa maneira, no quadro de pessoal sob a co-
ordenação do SAREx existe a relação de 53 (cinquenta e três) capelães militares
de um total previsto, por força da Lei nº 7.672, de 23 de setembro de 1988, de 67
(sessenta e sete) capelães. Por outro lado, chama a atenção que de um total de
53 (cinquenta e três) capelães, apenas 10 (dez) deles são evangélicos, especifi-
camente pastores evangélicos. Inexistindo, naquela amostra, a presença feminina
do quadro de capelães evangélicos. Sendo assim, de um total de 53 (cinquenta e
três) capelães, 43 (quarenta e três) deles são padres católicos.

Isso se deve ao fato de que o Brasil está passando por uma mudança de
hegemonia entre os seus dois principais seguimentos do cristianismo, a saber,
cristãos (católicos e evangélicos). Além disso, há um crescimento substancial da
pluralidade religiosa, uma vez que cresce e diversifica a proporção das filiações
não derivadas do cristianismo. Necessário, no entanto, esclarecer que esse fenô-
meno está ocorrendo em todo o território nacional, porem em ritmos diferentes na
escala espacial e social.

4 UM PROCESSO ESTATÍSTICO
Atualmente, as Forças Armadas brasileiras têm buscado realizar concurso
para atender a demanda no campo da capelania. No entanto, no passado, entre
os anos de 1994 e 2006, nos seus editais havia uma demanda maior por capelães
evangélicos do que para capelães católicos. Para cada 1 (uma) vaga ofertada
aos capelães católicos, 2 (duas) eram ofertadas para os sacerdotes evangélicos.
Havendo, de acordo com essa perspectiva, uma inversão no processo de seleção
usualmente adotado pelas forças, na qual a “média sempre é de três para um, isto
é, para cada vaga aberta para um pastor evangélico abrem-se três vagas para
padres” (CRIVELARI, 2008, p. 54).

TABELA 1 – CENSO RELIGIOSO MILITAR


TOTAL DO EFETIVO 143.787 100%
RECENSEADO
CATÓLICOS 98.301 68,37%
EVANGÉLICOS 33.387 23,22%
ESPÍRITAS 5.674 3,95%
ORTODOXOS 126 0,09%
IGREJAS BRASILEIRAS 191 0,13%
IGREJAS LIVRES 527 0,37%
AFRO-BRASILEIRAS 567 0,39%

85
Capelania Militar e Policial

OUTRAS RELIGIÕES 719 0,50%


ATEUS 1.491 1,04%
SEM RELIGIÃO 2.804 1,95%
FONTE: Crivelari (2009, p. 55)

A informação trazida pelo quadro acima está desatualizada, uma vez que o
número de cristãos evangélicos vem aumentado exponencialmente no Brasil e
certamente dentro das forças de segurança desde a realização do referido senso.
Todavia, de acordo com o demográfo José Eustáquio Alves, o número de brasi-
leiros adeptos da religião evangélica cresce em média 0,8% ao ano desde 2010,
enquanto a quantidade de católicos diminui 1,2% no mesmo período.

É necessário frisar que, com o intuito de fomentar a prática da assistência


religiosa nas Forças Armadas, a Portaria nº 211, de 3 de maio de 2011, determina
o seguinte:

Art. 2º - Na escolha das religiões a se representarem no SA-


REx serão consideradas as praticadas no País e que não aten-
tem contra a disciplina, a hierarquia, a moral e as leis em vigor,
bem como à tradição e aos costumes do Exército Brasileiro
(REIS, 2009, p.33-34).

Segundo a portaria acima, as práticas religosas que sejam consideradas


subversivas e que de alguma maneira possam ser afrontosas com a tradição e
aos costumes, ou seja, que se afastem dos príncipios cristãos, não terão os seus
clérigos inseridos na capelania militar. Desta maneira, percebe-se que há uma
predileção pela prática religiosa cristã católica e protestante dentro as instituições
militares. É algo que encontra justificativa na antiga relaçã entre o clero católico,
desde o período colonial, com os seguimento militares. E, posteriomente, com
a inserção do capelão evangélico dentro das forças armadas no período da 2ª
Guerra Mundial.

Segue gráfico que ilustra o aumento do número de cidadãos evangélicos no


Brasil e sua projeção:

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Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO DOS EVANGÉLICOS NO BRASIL

FONTE: IBGE

GRÁFICO 2 – CENSO 2000 / 2010 – PERCENTUAL DA POPULAÇÃO


RESIDENTE, SEGUNDO OS GRUPOS RELIGIOSOS

FONTE: IBGE
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Capelania Militar e Policial

MAPA 1 – DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO CATÓLICA


PELO TERRITÓRIO BRASILEIRO

FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/7785?lang=pt>. Acesso em: 1 jul. 2021.

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Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

MAPA 2 – DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO EVANGÉLICO


PELO TERRITÓRIO BRASILEIRO

FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/7785?lang=pt>. Acesso em: 1 jul. 2021.

A partir da leitura dos mapas acima, é possível estabelecer que o catolicismo


ainda é predominante no Nordeste brasileiro e em áreas onde a base econômica
é a agricultura. Todavia, nos grandes centros urbanos o catolicismo vem perdendo
espaço ano a ano e hoje corresponde apenas a dois terços da população local.
No Rio de Janeiro, por exemplo, corresponde apenas a 50%, ou seja, metade da
população. Outro dado que pode ser retirado dos mapas acima é que em 2010, o
Catolicismo Romano seguido pelas diversas denominações evangélicas compõe
o grupo de religiões majoritárias, ou seja, dominantes do Brasil.

Por outro lado, os dados trazidos ao longo do texto têm indicado o cresci-
mento exponencial do seguimento evangélico e um encolhimento daqueles que
se declaram católicos. Ainda de acordo com o especialista José Eustáquio Alves,
conforme referência inserida a seguir;

89
Capelania Militar e Policial

GRÁFICO 3 – PERSPECTIVA DE CRESCIMENTO DOS EVANGÉLICOS ATÉ 2032

FONTE: <https://bit.ly/3Gmswor>. Acesso em: 27 jun. 2021.

De acordo com o pesquisador, “Estamos vivendo uma transição religiosa nos


últimos anos”. Segundo as projeções, ainda em 2022, pela primeira vez os católicos
devem respondem por menos de 50% da população brasileira. O resultado das últi-
mas eleições gerais, de 2018, confirma a tendência de crescimento do seguimento
evangélico nos mais variados campos da sociedade. Nesse caso específico, é o
expressivo crescimento da bancada evangélica dentro do Congresso Nacional.

GRÁFICO 4 – PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO EVANGÉLICO


E DIMINUIÇÃO DE CATÓLICOS ATÉ 2050

FONTE: IBGE
90
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

As informações trazidas deixam evidente o expressivo crescimento que o se-


guimento evangélico tem alcançado no Brasil. Certamente isso acaba refletindo
na composição religiosa das Forçar Armadas e Policias Militares do Brasil. Além
do mais, essa questão faz surgir a necessidade de criação de mais postos de
capelania para serem preenchidos pelos pastores evangélicos. Desta maneira,
os novos concursos devem ser pensados para atender as novas demandas, do
seguimento protestante, dentro dessas instituilções. Dessa maneira, os concursos
públicos, as leis e as normas estabelecidas e, sobretudo, a estrutura do SAREx
para a manutenção e ampliação do serviço prestado pela capenia dentro das For-
ças Armadas do Brasil.

LEITURA COMPLEMENTAR

CAPELANIA E HIERARQUIA MILITAR

Lenildo Medeiros

A ministra Maria Elizabeth Rocha, do Superior Tribunal Militar,


foi voto vencido pela absolvição de um padre, capitão e capelão da
Aeronáutica, “condenado a três anos de reclusão por peculato, acu-
sado de se apropriar de R$ 371 mil doados por fiéis à capela Nossa
Senhora de Loretto, na Base Aérea de Fortaleza, entre 1997 e 2005”.

Mas a leitura de seus argumentos pode ajudar aqueles interes-


sados no tema da capelania militar a refletir, de forma geral, sobre
as relações deste tipo de trabalho de um capelão com o Estado, a
hierarquia militar, a legislação e a ética social.

Alguns destaques dentre as afirmações da Ministra, extraídos


de um resumo de seu voto, publicado na revista Consultor Jurídico,
desta segunda-feira, 4 de abril:
 
Sobre a atividade clerical dos capelães não se submeter à hie-
rarquia militar: “Tal tutela poderia ser interpretada como um tratamen-
to oficial diferenciado a determinada religião, o que equivaleria a uma
declaração pública de intolerância civil”;
 
Sobre a diferença entre capelão e a Capelania: “Entendo ser
constitucionalmente inaceitável que as Capelanias Militares — não
os capelães por serem oficiais — mantenham vínculos de subordina-

91
Capelania Militar e Policial

ção com as Forças singulares de maneira que estas as controlem ou


ditem-lhe o funcionamento”;
 
Sobre o fato de a Constituição estabelecer um Estado laico sem
ser avesso à religião: “A Carta Política invoca em seu preâmbulo a
proteção de Deus. É importante admitir o simbolismo da invocação
confessional do ato constituinte que ao fundar a República invocou a
legitimidade sagrada e não a popular.” Porém, ela lembrou que, “se
por um lado o constituinte invocou a existência de Deus e admitiu a
cooperação entre instituições religiosas e o governo, por outro, rejei-
tou a confessionalização”.

Fonte: https://www.soma.org.br/capelania-militar/4017-capelania-e-hierarquia-militar

1 A partir dos estudos a respeito do crescimento do seguimento


evangélico em todo o território nacional, os dados e mapas trazi-
dos ao longo do texto trazem outras informações muito preciosas
acerca das práticas religiosas da população brasileira nos últimos
anos. A esse respeito, analise as proposições abaixo e classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A amostragem dos gráficos indica que há uma significativo au-


mento de brasileiros que se declaram sem religião definida.
( ) A amostra mostra claramente que há uma tendência para de
crescimento do catolicismo na região Nordeste.
( ) A amostragem demonstra que nas grandes cidades brasileiras,
apesar de ainda ser predominante, o catolicismo vem perdendo
espaço para as igrejas evangélicas.
( ) A amostragem traz a informação de que até 2050 o catolicismo
deixará de existir no Brasil.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( )V-F-V-V
b) ( )V-F-F-V
c) ( )V-F-V-F
d) ( )V-V-V-V

92
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

2 A legislação brasileira, ao longo do tempo, se aperfeiçoou para


dar o devido amparo legal à prática da capelania militar dentro
das Forças Armadas e Forças Auxiliares. A esse respeito, analise
as proposições abaixo e marque a alternativa CORRETA:

a) ( ) A Lei nº 5.711, de 8 out. 1971, teve por finalidade reestruturar o


serviço de assistência religiosa dentro das Forças Armadas.
b) ( ) A Portaria nº 036 do Departamento-Geral do Pessoal, de 28
de julho de 1999, visava indicar quais os credos religiosos cujas
práticas seriam toleradas dentro das Forças Armadas brasileiras.
c) ( ) A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 5º, inciso
VII, que o serviço de capelania militar, na ausência de candidatos
consagrados, poderá ser exercida por leigos.
d) ( ) A Portaria nº 075-DGP, de 24 jun. 2002, indica o tripé sobre o
qual o trabalho do capelão militar deverá estar fundamentado, a
saber: Deus, Pátria, Família.

3 Desde o início da formação identitária do Brasil, o cristianismo


desponta como o credo religioso predominante neste território. A
esse respeito, observe as passagens retiradas do texto e marque
aquela que atesta a presença do cristianismo desde a formação
do território que deu origem ao Estado brasileiro. Sendo assim,
marque a alternativa CORRETA:

a) ( ) Em dezembro de 1987, o Governo do Estado do Pará criou o


Serviço de Assistência Religiosa da Polícia Militar do Pará.
b) ( ) O ato Oficial de posse de nossa terra para a Coroa Portuguesa
foi a missa do dia 1º de maio de 1500.
c) ( ) À medida que a colonização avançava foram construídas ca-
pelas, santuários, conventos e igrejas em todos territórios toma-
dos dos nativos.
d) ( ) A assistência religiosa dentro das Forças Armadas foi criada,
em período imperial, durante o reinado do imperador D. Pedro II
por meio do Decreto nº 747, de 24 de dezembro de 1850.

93
Capelania Militar e Policial

REFERÊNCIAS
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SANTANA, E. A. de. Cultura material para além da pedra e cal: os lugares de


poder e distinção social, do mundo açucareiro, representados através do modo
de implantação e aspectos arquitetônicos da capela de Nossa Senhora da

94
Capítulo 2 A Capelania Militar e Policial e a Sua Estrutura

Conceição dos Outeiros de Ipojuca. In: GONÇALVES, N.; PINTO, H.; ZARBATO,
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95
Capelania Militar e Policial

96
C APÍTULO 3
O Capelão e a Relação Que o Seu
Ministério Pastoral
Mantém Com A Ética E Com A
Religião
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a respeito da conduta moral que o capelão precisará manter dentro e


fora do seu ministério pastora.
� O papel do capelão diante da dependência química de militares ou de seus de-
pendentes.
� Entender que a Capelania deve manter estrita observância com relação ao res-
peito à diversidade e à defesa da cidadania.
� Desenvolver o entendimento ao respeito do ethos e o habitus do Capelão, rela-
cionando-os ao perfil ético e profissional do capelão.
Capelania Militar e Policial

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O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Ao longo do texto, iremos estudar a respeito da conduta ética e moral que
deve nortear o ministério pastoral do capelão. Além disso, você entenderá que
a sua prática religiosa busca levar conforto, alento, tranquilidade e confiança a
todos aqueles que o buscam e que se dispõem a prestar assistência espiritual.
Assim, compreenderá que a sua prática sacerdotal é norteada pelo respeito e
compaixão para com o próximo.

Buscando, assim, favorecer e garantir a acolhida dos aflitos dos militares e


seus familiares dentro das instituições militares brasileiras. Favorecendo, desta
maneira, a consolidação de um sentimento de irmandade dentro das corporações
e, por extensão, no conjunto da família desses militares.

No decorrer do texto, você ainda terá a oportunidade compreender como se


deu o processo de abordagem de questões relacionadas a drogas e alcoolismo,
relações interpessoais, conflitos familiares, enfermidade, luto, sexualidade, o trato
com outros credos religiosos e a postura do capelão diante dessas e outros situa-
ções relacionadas ao nosso dia a dia.

Além do mais, serão apresentados os meios utilizados pelo capelão para


praticar o cuidado consigo mesmo, evitando, assim, que o trabalho o adoeça e
traga prejuízos ao seu ministério pastoral. Assim, você a oportunidade refletir a
respeito da prática da Capelania militar e policial dentro de uma perspectiva so-
cioemocional e tratativas contingenciais do dia a dia que afeta a todos os seres
humanos sob a perspectiva do trabalho do capelão militar.

2 ALGUMAS NOTAS SOBRE O


MODELO DE CAPELÃO
No Capítulo 3 abordaremos a postura que o capelão militar e policial possuir
ao longo de sua vida. Buscando, demontrar zelo, lisura de caratér e probridade
em suas ações. Desta forma, fazer da sua vida pessoal e profissional uma exten-
são do seu ministério pastoral, primando por estabelecer uma imagem de serieda-
de e uma conduta moral irrepreensível dentro da instituição e a sociedade.

Assim, a sua vida é tida como exemplo de fé, de amor à pátria e cidada-
nia diante dos seus superiores, seus comandados, os integrantes da corporação,
seus familiares e amigos norteando, desta maneira, a sua vida a partir de sua
prática e vivências religiosas. Sendo ele um ministro religioso encarregado de

99
Capelania Militar e Policial

prestar assistência religiosa para a instituição que representa, das forças armadas
ou policiais militares do Brasil, o capelão durante a sua prática sacerdotal irá se
deparar com os mais diversos conflitos e infortúnios com os quais deverá saber
lidar. Desta maneira, você irá estudar a respeito das abordagens que o capelão
precisará desenvolver para prestar orientação e auxílio em situações que envol-
vam situações de crise.

Nestes estudos será possível refletir a sobre a conduta ética e moral que
o capelão militar e policial deve observar no seu dia a dia. Indicando, assim, ao
longo do texto a necessidade de que o capelão pratique uma ação embasada em
príncipios cristãos, visando garantir a credibilidade e o fomento do seu ministério
pastoral dentro das instituições militares e policial.

3 O CAPELÃO COMO MODELO


Inicialmente propomos conceituar o termo modelo para que com isso possa
compreender como o trabalho do capelão se desenrola mediante a sua prática
diária. Colocando em evidência o quanto o seu discurso e a sua prática precisam
estar alinhados com vistas a contribuir significativamente para a formação moral
da tropa. Sendo, antes de tudo, um exemplo de fé e caráter a ser seguindo dentro
da corporação.

Sendo assim, conforme o dicionário on-line de português, o significado do


termo modelo é:

Aquilo no qual alguém se pauta para construir outra coisa


idêntica: construíram o carro de acordo com o modelo. [Figura-
do] Próprio para ser imitado: minha mãe sempre foi meu mode-
lo de bondade. [Figurado] Algo ou alguém que pode servir de
norma ou regra comportamental: minhas avós sempre foram
meu maior modelo.Variedade particular e específica de um
produto: modelo de celular.[Artes] Algo ou alguém que serve
como fonte de inspiração ao artista ou para ser imitado.Modo
de representação em dimensões normais: modelo vivo. [Ar-
tes] Pessoa ou coisa sobre a qual trabalham os artistas. Apa-
relho ou conjunto de aparelhos que permitem a reprodução de
determinada peça por processos usados em fundição para o
preparo de objetos de metal; molde.Figura em argila ou ou-
tro material destinada a ser reproduzida em bronze, mármore
etc.Impresso usado para colher informações dos mais varia-
dos tipos; formulário. [Física] Reunião de hipóteses, teoremas,
ideias que, num sistema físico, serve para explicar as proprie-
dades de um sistema.[Informática] Modo simplificado de repre-
sentar um fenômeno, servindo como base de referência para
um estudo analítico.Peça original de uma coleção de costura
ou de chapéus.substantivo masculino e feminino Profissional

100
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

da moda que desfila com as roupas que devem ser exibidas à


clientela.ExpressãoModelo matemático. Representação mate-
mática de um fenômeno físico humano etc., feita para que se
possa melhor estudar o original. Modelo reduzido. Reprodução
em pequena escala de um aparelho ou de um conjunto. Mode-
lo vivo. Pessoa que se presta a ser copiada por artista e pelos
estudantes de belas-artes. Etimologia (origem da palavra mo-
delo). A palavra modelo deriva do italiano modello, pelo latim
vulgar modellum, i, forma diminutiva de modus, i, com o sentido
de “medida que não pode ser ultrapassada” (DICIONÁRIO ON-
LINE DE PORTUGUÊS, 2021, on-line).

O capelão se ver na obrigação de assumir um padrão de comportamento


que seja socialmente aceito e moralmente condizente com o exercício do seu sa-
cerdócio. Sendo assim, esteja dentro ou fora dos muros da institiução, o capelão
precisa manter uma postura ética e moral condizente a dignidade da Capelania
militar e policial. Uma vez que a sua conduta deve estar atrelada ao seu minitério.
Tendo a compreensão de que as suas ações irão servir de inspiração para os
seus congregados, sendo, assim, um fator de atração das pessoas com vistas ao
desenvolvimento das suas virtudes e potencialidades espirituais e pessoas dentro
e fora da corporação.

Com vistas a uma maior problematização do tema do conceito de modelo o


trecho abaixo diz o seguinte:

O indivíduo não é modelado como uma coisa passiva, inerte.


Aocontrário, ele é formado no curso de uma prolongada con-
versação (uma dialética, na acepção literal da palavra) em que
ele é participante. Ou seja, o mundo social (com suas institui-
ções, papéis e identidades apropriados) não é passivamente
absorvido pelo indivíduo, e sim apropriado ativamente por ele
(BERGER, 2004, p. 31).

Diversos capelães militares listados ao longo deste livro foram, ao seu tem-
po, pessoas que em razão de sua conduta serviram de modelo para o quadro de
capelãoes militares da forças armadas e policiais. São exemplos disso, o Frei Or-
lando como o Pastor Soren que em razão de seus feitos, quando do cumprimento
do seu dever para com a nação e o exercício de seu ministério pastoral em situa-
çãoes adversas se tornaram inspirações para os seus irmãos de farda e para as
gerações de capelões que se vieram depois deles. Essas pessoas, durante o seu
ministério, mantiveram uma conduta ética, moral, o senso de dever e o exemplo
de vida se configuraram como virtudes indispensáveis aqueles que são investidos
no ofício da Capelania dentro das forças (CRIVELARI, 2008, p. 73-74).

Além do mais, tendo em vista que a empatia se configura a identificação


emocional que um indíviduo pode estabelecer com relação ao seu próximo, sendo
sincero e humilde em suas resoluções. Mostrando-se, também, capaz de se colo-

101
Capelania Militar e Policial

car no lugar do outros e saber lidar com as adversidades da vida. Em sua prática
de aconselhamento, resignação e irmandades indicar caminhos para que o outro
possa encotrar saída ou conforto para a situação que está vivenciando, enten-
dendo que a sua missão é indicar meios que ajudem no fortalecimento socioe-
mocional e espiritual do seu paciente. Ajudando-o a se manter firme e resoluto
diante das dificuldades que a vida interpor em sua vida. Podendo, assim, agir com
autonomia e imprimir mudanças significativas em sua personalidade. Eliminando
traços que o favoreciam.

Desenvolvendo, desta maneira, um bom relacionamento interpessoal e le-


veza no tratamento para com todos. Evitando tomar decisões e posicionamentos
que possam vir a se caracterizar em uma conduta soberba e altiva. Sendo essas
posturas que não devem fazer parte de sua personalidade. Sabendo, inclusive,
lidar com as diferenças de personalidade, de pensamento, de orientação política e
ideológica e de credo religioso. Tendo plena consciência de que não é o portador
da verdade absoluta, mas primando pelo diálogo, o respeito e a troca de saberes
e vivências. Assim, tendo em vista que a interação e as trocas sociais tendem a
contribuir para o amadurecimento e o entendimento de mundo do sujeito, o ca-
pelão configura-se, até certo ponto, em um interlocutor da tolerância e o respeito
entre as diferenças.

IMAGEM 1 – REALIZAÇÃO DE MISSA EM BASE ÁEREA DA FAB – PRIMEIRO


COMANDO AÉREO REGIONAL (I COMAR), EM BELÉM (PA)

FONTE: <https://www.fab.mil.br/noticias/mostra/21845/P%C3%81SCOA%20
-%20A%20f%C3%A9%20fardada>. Acesso em: 28 jul. 2021.

102
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Fazendo, assim, do respeito e apreço à igualdade de tratamento uma prá-


tica cotidiana no seu ministério pastoral e nas suas relações pessoais. Ao agir
de tal forma será capaz de transitar nos mais diversos espaços e de estabelecer
relações de amistosas e de amizade com entidades, instituições e pessoas de
diversos nichos da sociedade e das mais variadas origens sociais, econômicas,
culturais e religiosas.

Ainda a esse respeito, Ubiratan Crivelari (2009. p. 59) tece o seguinte co-
mentário:

No que diz respeito aos relacionamentos, sabe-se que as di-


ferenças existem, sejam elas de cunho cultural, normas e re-
ligiosas. Como o capelão tratará com vários militares de con-
fissões diferenciadas é necessário que o faça sem acepção ou
diferença. O bom relacionamento dos capelães de confissões
diferentes trará estabilidade tanto a tropa como a eles mes-
mos. Com a troca de experiências e as diferenças de cada um
os capelães aprendem e crescem.

Entende-se, desta forma, a necessidade que o capelão tem de estabelecer


um ambiente acolhedor que possa transmitir confiança e segurança no trabalho
que exerce. Sendo muito importante que saiba ligar e dialogar com as diferen-
ças e, para tanto, seja capaz de agir com empatia e respeito para com todos
independentemente de seus posicionamentos pessoais sobre derminados temas.
Demonstrando, desta maneira, ser um imitador do exemplo de Cristo por meio
através de suas ações. Sendo um exemplo de vida para os que estão a sua volta.

Fica latente, ao longo deste texto, que a Capelania se configura em uma ati-
vidade profissional que goza de grande prestígio dentro das corporações militares
e policiais em todo o Brasil. Em razão disso, é muito importante que, ao assumir
a função de capelão, busque relacionar-se harmoniosamente com todos, indepe-
dentemente de credo, cor de pele, etnia, condição social ou patente militar daque-
le com quem se relaciona. Fazendo da transparência, da ética e da justiça valores
indispensáveis à sua prática de vida. Mostrando através de sua prática cotidiana,
a sua vocação religiiosa e sua liderança espiritual diante dos seus companheiros.

103
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 2 – VISITA AOS ENFERMOS

FONTE: <https://www.expositorcristao.com.br/Capelania-
institucional-para-que-serve>. Acesso em: 28 jul. 2021.

Aliás, diante dos desafios postos as práticas religiosas, sobretudo em razão


da modernização do pensamento e das ideias ocasionadas pelo advento da era
digital, o capelão busca se manter firme em seus princípios, em lidar com sereni-
dade com as mudanças advindas da Pós-modernidade.

Sober isso, Bergue (2004, p. 149) comenta o seguinte:

A crise de credibilidade na religião demonstra o quanto ela se


secularizou. O homem por natureza não costuma ser seguro em
questões religiosas. Assediado por vários conceitos religiosos
gerou- se o fenômeno da pluralidade e com isso a seculariza-
ção. O palco original da secularização é o econômico. A crise
da teologia na situação religiosa contemporânea tem base na
pluralidade. A religião tradicional tem sido questionada por pes-
soas sem nenhum conhecimento de teologia. A crise da teologia
cresce na mesmaproporção que o pluralismo e a secularização.

Tendo em vista a constatação feita, indica-se que o papel de mediação exer-


cido pelo capelão se faz de grande relevância para o fomento e fortalecimento da
fé daqueles que perderam o sentido da sua própria existência. Diante desse cená-
rio de desamparo espiritual e insconstância emocional, tão típico da Pós-moder-
nidade, o papel desse sacerdote se faz cada vez mais necessário na vida dos in-
tegrantes das forças militares, policial e bombeiros militares. Sobretudo, em razão
do estresse cotidiano que as atividades acabam impondo a esses profissionais.

Em razão da áurea quase mística que envolve a prática da Capelania, há


uma espécie de deificação da figura desse sacerdote. Isso, todavia, é um engano,
pois como qualquer outro ser humano ele tem as suas limitações e fraquezas.

104
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Sendo, no entanto, fortalecido pela vontade em dar o melhor de si a sua missão.


Doando-se ao seu ministério e buscando, dentro de suas limitações humanas,
servir de inspiração a todos aqueles que estão a sua volta.

IMAGEM 3 – CAPELANIA MILITAR DA PM ENTREGA CESTA BÁSICAS


AOS ACOLHIDOS PELA ARQUIDIOCESE DE TERESINA - PI

FONTE: <https://bit.ly/3FqqP8f>. Acesso em: 19 jul. 2021.

A ação social realizada durante a campanha do Natal Solidário 2020, coorde-


nada pela Capelania da Polícia Militar do Piauí, a qual por meio da arrecadação
de alimentos, brinquedos e vestuários nas unidades de todo o Estado, a PMPI
entregou todos os produtos arrecados para a Arquidiocese de Teresina-PI. De-
monstrando, para além do mero discurso, a importância de se praticar o cuidado
e o amor ao próximo. Sobretudo da necessidade do discurso religioso ser acom-
panhado pela prática. Mostrando, desta maneira, que o capelão precisa fazer com
que o seu ministério extrapole os muros das corporações a que serve. E, por meio
de sua prática, inspirando outros a demonstrarem através de suas ações a neces-
sidade de acolher e amparar aos mais necessitados.

105
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 4 – MISSA NA CAPELANIA MILITAR SÃO SEBASTIÃO, PROMOVIDO


PELA CAPELANIA DA PMPI, COMO PARTE DA AÇÃO NATAL SOLIDÁRIO

FONTE: <https://bit.ly/3FqqP8f>. Acesso em: 19 jul. 2021.

Na sequência, a PMPI realizou, em 18 de dezembro, uma missa em ação de


graças aos resultados obtidos pela campanha do Natal Solidário em sua capela.
Na oportunidade, a celebração da missa foi celebrada pelo padre Carlos Sales,
capelão da paróquia militar, com as presenças do comandante geral da PMPI,
Lindomar Castilho e do Arcebispo Dom Jacinto Brito Flalrreta Alves.

De acordo com Calvino (2003, p. 32), em referência a maneira acertada de


como o capelão deve lidar com os seus semelhantes, independentemente de ori-
gem e orientação religiosa, comenta o seguinte:

Ademais, nós que formamos parte da família da fé, somos os


que mais podemos apreciar a imagem de Deus [...] De modo
que se alguém aparece diante de vocês necessitando de seus
amáveis serviços, não há razão alguma em recusar-lhes tal aju-
da. Suponhamos que seja um estranho que necessita de nossa
ajuda; mesmo por ser estranho, o Senhor tem posto nele Seu
próprio selo e lhe tem feito como alguém de tua própria família;
portanto, te proíbe de desprezar tua própria carne e sangue.

O capelão, através de sua prática cristã, amparada na tolerância e no res-


peito ao próximo, deverá ser capaz de conduzir o seu ministério no proposito de
transmitir confiança e respeitabilidade. Induzindo as pessoas a se chegarem para
as obras de caridade fomentadas pela Capelania.

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O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Sendo assim, ao se colocar a serviço do seu próximo, estará o capelão pres-


tando um trabalho valioso ao seu ministério. Apresentando-se como modelo e mo-
delador de vidas. Mostrando, assim, a sua vocação religiosa e, acima de tudo,
a partir de seu exemplo de vida, levar a paz e conforto da fé para aqueles que o
procuram em busca de auxílio.

Entretanto, há o outro lado da moeda. Em razão do acesso à Capelania mili-


tar e policial, sobretudo nas forças armadas, por meio de concurso público existe
aqueles que vêm o exercício dessa função como um mero cargo de carreira. Ou
seja, como uma função de mercado e não como uma atividade cujo exercício
requer vocação. Importa dizer que os capelães continuam, porém como oficiais,
com a função de sacerdócio nas fileiras. Apesar de serem oficiais, não tiram ser-
viço de guarda, não utilizam armamentos, dedicam-se ao trabalho eclesiástico em
determinada unidade da Marinha, Exército ou Força Aérea. Isso acaba se configu-
rando em um problema que cada vez mais as instituições militares tem que lidar
para evitar que o exercício desta importante função, dentro das forças armadas
e policiais, seja feito por pessoas que não reúnam as condições morais, éticas,
intelectuais e a vocação necessária para a sua execução.

A esse respeito, Merval Rosa (1979, p. 211) em referência ao estudioso Hen-


lee H. Barnette, defende que a Capelania é uma atividade estritamente religiosa e
que, em razão deste entendimento, ela deve ser exercitada por pessoas vocacio-
nadas para tal. Ainda sobre isso, ele diz o seguinte:

Uma vocação cristã é aquela em que se presta genuíno serviço


à humanidade. [...] A vocação cristã é aquela que atende a uma
real necessidade da sociedade. [...] A vocação cristã é aquela
que está em harmonia com o amor e a justiça humana. É a
vocação que exigedo homem o senso de integridade, criativi-
dade, imaginação e utilidade social. Finalmente, uma vocação
cristã é aquela em que há um senso de propósito naquele que
a pratica ou segue.

A vocação, para o execício deste ministério, segundo o prisma do autor, pres-


supõe que a Capelania seja restrita a pessoas que tenham uma base cristã bas-
tante sólida, comprometida com os ensinamentos de Cristo e sensível às ações
sociais. Sendo ele, o capelão, alguém que venha a reunir as condições necessá-
rias para conduzir o seu trabalho com amor e empatia. Sendo, antes de tudo, um
genuíno imitador de Cristo. Sendo isso primordial para o pleno exercício da cape-
lania, segundo os preceitos do cristianismo, pois, do contrário, o seu ocupante se-
ria apenas um ocupante de um cargo público, mediante aprovação em concurso
público, em uma instituição federal.

107
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 5 – PÁSCOA MILITAR 2019 – MISSA NA CATEDRAL DE DOUTORADOS

FONTE: <http://www.radiocoracao.org/multimidia/fotos-videos/pascoa-militar-
2019-missa-na-catedral-de-dourados>. Acesso em: 23 jul. 2021.

Dessa maneira, é parte indissociável do perfil do capelão as seguintes carac-


téristicas:

Ter tido uma experiência pessoal de conversão;


Ser vocacionado para o ministério;
Ter conhecimento bíblico;
Ser humilde e entender que não é melhor do que ninguém;
Ter um alvo – não ficar perdido, sem objetivo no que vai fazer;
Ser paciente;
Ter autocontrole emocional;
Não ficar impressionado com aspecto físico do paciente, seja
qual for;
Ter boa saúde física e psicológica;
Ter humor estável;
Ter tato e profundo respeito a outras opiniões religiosas;
Ter facilidade em cumprir ordens;
Ser perseverante e abundante na obra, no trabalho que abra-
çou;
Ser habilidoso e ter discernimento na conversação;
Não se irritar facilmente;
Saber controlar a língua, usando-a para curar e nãoferir;
Saber guardar confidências;
Saber cuidar da aparência pessoal;
Dar tempo e atenção à pessoa visitada;
Ser “SERVO”;
Possuir o dom da misericórdia;
Ser empático;
Ter amor pelos perdidos;
Ser sensível e discreto no ambiente onde está;
Saber aproveitar as oportunidades;
Ser sábio para evitar as intimidades;
Saber “ouvir” para depois “falar”;
Saber evangelizar (aprender evangelismo pessoal);
Não ser preconceituoso;

108
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Saber ter defesas pessoais;


Ser conselheiro e acompanhante, com interesse espiritual na
vida daqueles que se convertem;
Ser pessoa de oração,“orar sem cessar”, conforme ensina a
Bíblia (BRIGADA CRISTÃ DE CAPELANIA, 2021, on-line).

O exercício desta atividade, dentro das forças de segurança, apesar de se


dar por meio de concurso público, requer a escolha de pessoas engajadas na mi-
nistração da palavra e na promoção da justiça social. As suas ações precisam ser
pautadas em príncipios éticos e morais cristãos. Além de um profundo sentimento
lealdade para com a instituição militar ou policial a qual está vinculado.

3.1 A ESCUTA
Sendo um capeão um modelo a ser seguido em seu ministério, é muito impor-
tante que se proponha a práticar a arte da escuta, ou seja, deve estar disposto a
realizar a ouvida do “pasciente” e, a partir daí, formular estratégias de intervenção
que possam trazer algum benefício ao necessitado de ajuda. Em relação à impor-
tância da escuta, o “Manual da Capelania” traz a seguinte orientação: “Escutar é
uma arte que pode ser desenvolvida. Os princípios abaixo relacionados se postos
em prática, ajudarão você a crescer na arte de escutar e, consequentemente, na
habilidade de ajudar a outras pessoas” (CCEBD, 2021, on-line).

Desta forma, é recomendável que o capelão quando da escuta intima de al-


guém que analise a atitude íntima da “paciente”, repare o seu tom de voz, desen-
volva a capacidade de avaliar as emoções, reflita a respeito das emoções que
está percebendo, evite a passividade e a timidez exagerada, busque entender a
necessidade do seu interlocutor ao invés de tentar estabelecer uma impressão
favorável ao seu respeito. Além disso, não deve concordar com tudo o que o outro
diz, mas deve analisar e se colocar, caso seja necessário, para aquele momento
durante a fala do outro.

De acordo com o “Manual da Capelania”, em referência à escuta, requer-se


uma indetificação com a pessoa com quem se fala. Ou seja, requer a prática da
empatia para que se possa, de fato, ajudar na resolução do problema ou levar
consolo ao que necessita de seus cuidados.

A pessoa está apresentando um problema que lhe parece in-


solúvel. Aceite seu estado de confusão e ajude-a observar os
diferentes aspectos do problema: sua origem, quem está en-
volvido nele, possível soluções etc.
• Demonstre amizade e interesse. O problema é grande. Leve
a carga coma pessoa até que ela possa levá-la sozinha.
• Às vezes, a pessoa tenta diminuir o problema. Isto pode revelar
falta de confiança em sua ajuda ou ausência de autoestima. Às

109
Capelania Militar e Policial

vezes, o problema não nos parece sério, mas devemos reco-


nhecer que ele é sério para a pessoa que está sofrendo com ele.
• Procure dividir o problema em várias partes para atacá-las
separadamente.
• Dê oportunidade para a pessoa esclarecer sua posição. Isto
facilitará a compreensão dos problemas e como solucioná-los.
• Se descobrir contradições na conversa, revele-as à pessoa.
Isto a ajudará a se sentir menos confusa e ansiosa.
• Pergunte se ela já enfrentou um problema semelhante no
passado. Ela vai recordar que tem habilidade para superar a
situação como já aconteceu.
• Discuta as várias alternativas para resolver o problema. Evi-
te conselhos estereotipados. Anime a pessoa a restabelecer
relações com pessoas de importância em sua vida (parente,
amigos, pastor).
• Evite fazer perguntas com respostas predeterminadas. São
mais válidas as perguntas que despertam o sentido do rela-
cionamento.
• Dê ênfase ao tempo presente e objetivo da entrevista. Veja se
tem possibilidade de ajudar essa pessoa nessa circunstância,
ou encaminhe-a a outra pessoa.
• Não se deve alimentar esperanças infundadas. Evite dizer:
“Não se preocupe, está tudo bem”.
• Termine a conversa apresentando objetivamente o que de-
verá ser feito. Deixe a pessoa tomar a decisão adequada e
assumir a responsabilidade.
• Admita suas capacidades e limitações, você é humano e finito. Dei-
xe Deus agir onde você não é suficiente (CCEBD, 2021, on-line).

Assim, a escuta é um exercício dinâmico que requer preparo emocional, sen-


sibilidade e tato. Sendo a escuta uma das virtudes mais significativas que esse
profisional precisará desenvolver e praticar ao longo de sua vivência. Entende-se,
desta maneira, a importância de que o capelão seja de fato alguém que seja voca-
cionado e tenha uma vida pautada nos príncipios do cristianismo.

4 O PSICOTERAPEUTA VERDE-OLIVA
O capelão é um profissional que apesar de não ser um profissional da área
de saúde ou do campos das ciências sociais aplicadas, atua muito próximo a es-
ses campos de conhecimento na condução do seu ministério pastoral. No seu dia
a dia presta assistência aos seus companheiros de farda e seus familiares. Desta
maneira, o aconselhamento é parte indissociável do seu ministério pastoral. Em
sua prática, desenvolve suas atividades a partir do princípio de que a orientação
espirtual deverá contribuir para a mudança de postura, de comportamento e fo-
mentar ações reflexivas daqueles que o procuram. Dando direcionamentos, seja
por meio de uma palavras de aconselhamento para que haja um ajustamento de
conduta em seus “pacientes”. Ofertando, assim, os meios necessários para que
se produza uma reestruturação emocional a nível pessoal e no convívio em socie-
dade de seu “paciente”.

110
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Em alusão à presença do capelão dentro das forças armadas do Brasil, pode-


-se afirmar que a sua missão é de grande relevância à medida em que se configu-
ra como peça-chave para o apaziguamento dos espiritos dos recém-incorporados,
pois a sua ação facilita a adaptação desses soldados a rotina da vida militar. Servin-
do, assim, como orientador e apaziguador dessas pessoas dentro das corporações.

Entende-se, desta forma, os motivos pelos quais se associa o capelão a prá-


tica da psociterapia. Justificando, assim, ser chamado de psicoterapeuta verde-
-oliva. Uma vez que ele deve mostrar possuir qualidades como empatia, saber
escutar, oferecer aconselhamento em sintonia com a situação que se apresenta
diante dele. Sendo, portanto, um profissional em constante sintonia com as atri-
buições próprias da Capelania militar e policial.

Sob essa perspectiva, na qual a sua prática profissional é enquadrada, o


capelão militar ou policia, ou melhor dizendo, o psicoterapeuta verde-oliva deve
compreender que quando um dos seus companheiros de farda ou seus familiares
o procuram para expor uma determina situação que o estão afligindo, a pessoa
abre-se no seu mais profundo íntimo. Ficando, de certa forma, vulnerável e ex-
posta, mas faz isso na confiança da pessoa do capelão.

O aflito que o procura está em busca de orientação, seja para conseguir li-
dar com algma situação que esta vivenciando naquele momento ou em busca de
crescimento pessoal. Ajudando-o, muitas vezes, a modificar traços de sua perso-
nalidade, aprender a tomar decisões assertivas para a sua vida. Em síntese, ele
ou ela busca o capelão na esperança de obter conforto e orientação de alguém a
quem respeita e confia. Sendo esse um dos motivos pelos quais o capelão de ter
uma vida regrada e uma conduta moral e irrepreensível.

IMAGEM 6 – INTEGRANTES DA CAPELANIA DA POLICIAL MILITAR


DO DISTRITO FEDERAL RECEBEM MENÇÃO DE LOUVOR
DA CAMERA LEGISLATIVA DO DISTRIO FEDERAL

FONTE: <https://uniasselvi.me/3tqAFoh>. Acesso em: 19 jul. 2021.

111
Capelania Militar e Policial

Além do mais, tendo em vista que há pessoas que tem uma maior dificuldade
de se colocar, ou seja, em se abrir, faz-se necessário que o capelão tenha uma
sensibilidade mais apurada e que o ajude a interpretar e a identificar, por meio de
certas evidências como: ansiedade latente, voz trêmula ou embargada, semblante
abatido, tremores, ombros abaixados, entre outras pistas, situações de desconfor-
to e angústia das pessoas que o buscam. Entende-se que, em muitas situações, o
capelão será o profissional que primeiro irá detectar a presença de um mal maior
na vida de um soldado, como, por exemplo, um quadro de depressão ou alcoolis-
mo, sendo ele a pessoa responsável pelo seu encaminhamento a um profissional
especializado na patologia.

4.1 AS DROGAS E A DEPENDÊNCIA


QUÍMICA
O alcolismo e o uso de drogas ilícitas é um problema de saúde pública que
traz grandes prejuízos à pessoa do alcoólatra e a sua família. Sendo, portanto, um
problema que deve ser tratado em várias frentes, pois, muitas vezes por traz de
uma situação de alcolismo está um quadro de ansiedade generalizada ou problema
emocional que deve ser tratado para que o tratamento tenha resultados efetivos.
Dentro das forças armadas, como na policia militar, assim como em qualquer outro
campo da sociedade o uso do alcolismo e outros intorpecentes ilicitos, também é
um problema a ser combatido. A rotina de estresse do policial militar, por exemplo,
é um fator catalizador que contribui para que muitos deles busquem no uso abusivo
do álcool e de drogas um escape de uma rotina de trabalho exaustiva.

O uso de drogas, dentro dos quartéis, é um problema antigo que, além dos
danos que causa na saúde do usuário, traz muitos problemas ao pleno exercício
de suas atividades dentro da corporação. Sendo, desta maneira, um problema
que não deve ser negligenciado pela instituição militar a qual está servindo. A esse
respeito, tendo em vista, por exemplo, o alto número de policiais militares portan-
do armas em serviços e que faziam uso abusivo de álcool em serviço em 2018,
passou a tramitar na Câmara dos Deputados Federais Projeto de Lei 9221/17.

Situações como a apresentada tem o potencial de levar ao descrédito do


trabalho da própria polícia junto à comunidade, pois o cidadão passa a associar
a má conduta do policial a instituição a qual representa. De modo geral, a polícia
passa a ser estereotipada como agressiva e desrespeitosa para com a população.
Essa leitura da população, por sua vez, pode vim a favorecer a prática de delitos
e a uma maior identificação de jovens, sobretudo de comunidades carentes, com
a criminalidade. Haja vista que, já que “não se pode confiar na polícia”, a única

112
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

saída é fazer a própria justiça, associar ou tolerar a criminalidade local para obter
alguma proteção.

Desta maneira, o trabalho do capelão no aconselhamento e orientação de


militares que fazem o uso abusivo de álcool é essencial para a preservação da
vida, da estrutura familiar do policial e a imagem da instituição perante a socieda-
de. Uma vez que, o policial, o bombeiro militar ou militar das forças armadas que
se tornar um dependente químico do álcool se torna um perigo para si mesmo e a
própria sociedade, pois são pessoas que geralmente tem acesso a armamentos e
isso pode vir a se tornar um grande problema que coloca em risco a segurança da
própria população.

Segundo diz Taísa Felippe, em seu trablaho de dissertação de mestrado intitu-


lado: “O uso abusivo de álcool: em servidores militares contribuição para a ciencia
do cuidado” chama a atenção para o uso abusivo de bébidas álcoolicas por mili-
tares da Marinha brasileira. O tinha por objetivo identificar o quanto os servidores
militares estavam mais sucetiveis a fazer uso abusivo de bebidas álcoolicas. Para
tanto, fora elaboradas diversas entrevistas, onde por meio das escutas poderam
mensurar as consequências que a dependencia química trazia para a sua vida pro-
fissional, familiar e o convívio na sociedade. Sendo os resultados, daí obtidos, bas-
tante alarmantes, pois havia um grande número deles que tinham sério problemas
em decorrência do uso constante de bebidas álcoolicas (FELIPPE, 2015, p. 5).

Ainda sobre essa problema a autora acima traz a seguinte informação:

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014, p.5),


no Brasil, o consumo de álcool total estimado é equivalente a
8,7L por pessoa, quantidade superior á média mundial. Com-
pleta ainda que as bebidas destiladas correspondem ao tipo de
bebida mais consumido no mundo (50%), seguindo da cerveja
(35%), já as bebidas do tipo vinho correspondem a 8%. E no
Brasil a cerveja é o tipo mais consumido (55%), seguido dos
destilados (32,6%) e do vinho (11,7%). Ou seja, o consumo de
bebida alcoólica faz parte da cultura da sociedade brasileira
como fato não só aceito, mais frequentemente reforçado pela
mídia estimulando o consumo. Por outro lado, o consumo do
álcool é um dos maiores fatores de adoecimento e que também
contribui para situações de risco para a população brasileira
(FELIPPE, 2015, p. 16).

Dessa forma, como se pode notar, o álcool, por ser um droga lícita ampla-
mente inserida na cultura brasileira, acaba fazendo diversas vítimas. O seu uso
abusivo, além dos problemas que acarreta à saúde do dependente químico,
como, por exemplo, a Cirrose hepática, que causa desagregação famíliar, ações
imprudentes e irrefletidas, problemas comportamentais, insubordinação e inúme-
ros problemas dentro da esfera militar. Sendo o mal a ser combatido por meio de

113
Capelania Militar e Policial

ações que a própria institução deve fomentar, sobretudo através da Capelania


militar e policial.

Entendendo, pois, o diálogo, a escuta e o aconselhamento é uma das manei-


ras mais eficaz para se chegar ao âmago do problema. Podendo o capelão ser a
pessoa que terá mais chances de fazer com que o militar, que encontra nesta situ-
ação, exponha a sua condição dependência quimica. Viabilizando, assim, o abor-
dagem mais acertiva e com maiores chances de êxito no trato dessa problemática.

IMAGEM 7 – CAMPANHA REFORÇA DEBATE SOBRE


PREJUÍZOS DO ÁLCOOL E DROGAS

FONTE: <https://noticias.adventistas.org/pt/noticia/projetos-sociais/campanha-
reforca-debate-sobre-prejuizos-do-alcool-e-drogas/>. Acesso em: 19 jul. 2021.

Ainda sobre o tema, a pesquisadora Taísa Felippe chama a atenção para a


seguinte problemática:

E ao se tornar cada vez mais progressivo o alcoolismo tem um


efeito negativo quando presente na esfera do trabalho, quando
o trabalhador se depara com a impossibilidade de executar suas
atividades laborativas devido ao uso abusivo do álcool que ao
longo do uso apresenta perdas cognitivas por ser um depressor
do Sistema Nervoso Central, ele se depara com confrontos e
insatisfações, por estar rompendo seu ritual de tarefas e víncu-
los. Com a redução cognitiva, o empregador entende como um
trabalhador não produtivo, acarretando em suspensões e mais
agravantes demissões, pode assim, ser considerada a maior
perda social na vida do trabalhador, sobretudo porque outras
perdas estão associadas ao trabalho, tais como, a redução sa-
larial, a restrição do núcleo social e a ociosidade, gerando um

114
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

meio mais propício ao alcoolismo. Estas consequências foram


referidas por França (2008), o que fazer da vida sem o trabalho
e a utilização da administração do tempo disponível são desa-
fios para as pessoas que se dedicam por muitas horas sua vida
ao trabalho. Podendo favorecer o dependência a dependência
alcoólica (FELIPPE, 2015, p. 18).

Sendo assim, como bem demonstra a autora, o alcoolismo é um problema


social e certamente o seu agravamento se deve ao fato de que, assim como o
tabagismo, é uma droga legalizada e amplamente tolerada pela sociedade. Con-
tudo, assim como o cigarro acarreta danos severos à saúde do usuário, desta
forma, dentro das corporações deve haver um constante trabalho de conscienti-
zação da relação entre o alcoolismo e os diversos problemas que ele pode trazer
para a vida do militar. Sendo o capelão a pessoal mais indicada para fazer essa
abordagem e auxiliar o dependente químico a realizar uma mudança de atitude
diante da bebida.

Com relação ao uso de drogas ilícitas por militares e policiais, chama-se a


atenção ao artigo publicado por Luciano Moreira Gorrilhas, intitulado: “A incidên-
cia do uso de drogas ilícitas nos quartéis das Forçar Armadas. A publicação data-
da de 2011 chama a atenção para:

[...] investigação registrou 174 casos envolvendo drogas (ma-


conha e cocaína) em poder de militares da Marinha, Exército
e Aeronáutica, sujeitos ativos das condutas descritas no artigo
290 do Código Penal Militar, cuja rubrica marginal assinala:
tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito
similar (GORRILHAS, 2011, p. 11).

Na ocasião se constatou que militares das três forças e lotados em vários


pontos do território nacional foram flagrados utilizando drogas ilícitas ou pratican-
do o tráfico desses entorpecentes. De acordo com o referido artigo, na própria
página do Ministério Público Militar havia a presença de inúmeros dados que ates-
tam a participação de militares com o tráfico ou o com o consumo de entorpecen-
tes. Sendo, portanto, um problema sério que as instituições têm buscado comba-
ter. Uma vez que, além da ilegalidade do ato, mancha a instituição e põe em risco
a própria segurança da instituição, pois são pessoas que têm acesso a armas de
guerra cujo uso indevido pode vir trazer danos à imagem das instituições e coloca
em risco a segurança da sociedade.

O consumo de drogas no interior dos quartéis das Forças Ar-


madas, principalmente por militares de serviço que portam ar-
mas de alto potencial lesivo, é extremamente preocupante, na
medida em que, além de colocar a segurança da caserna em
potencial risco, facilita ações de organizações criminosas que,
vez por outra, invadem organizações militares com propósito
de subtrair armamentos (GORRILHAS, 2011).

115
Capelania Militar e Policial

Sendo isso, um problema social cujas medidas de contenção devem ser ob-
jetivo de discussão dentro e fora das forças armadas. E, assim como na depen-
dência química ocasionada pelo álcool, deve ser tratada na esfera da Capelania
militar e por profissionais especializados no tema. Assim, não se resolve o proble-
ma simplesmente excluindo o militar da corporação ou levando-o para a prisão.
Salvo em situações mais graves, a ideia é que o militar possa ter a oportunidade
de tratar a sua doença, pois o vício em si é uma doença, e ter a oportunidade de
se reintegrar a vida militar, familiar e na própria sociedade.

Na Classificação Internacional das Doenças (CID), a depen-


dência de álcool e de todas as substâncias psicoativas está
na categoria “transtornos mentais de comportamento”, sendo
considerada uma doença crônica e recidivante (o doente tem
recaídas), caracterizada pela busca e consumo compulsivo de
drogas (AGÊNCIA SENADO, 2021, on-line).

Conforme o texto acima, a dependência química é uma doença e como tal


deve ser tratada a fim de que o indivíduo possa ser resgatado e tenha condições
continua a prover o sustento de sua família, cumprir com o seu dever para com
a sua pátria e dar o melhor de si para a sociedade que, através de seus impos-
tos, garante o pagamento de seus proventos. Sendo assim, dada a dimensão do
problema das drogas, a missão do capelão se torna bastante árdua e importante
para o desenvolvimento de estratégias e ações que possam identificar o problema
dentro da corporação e dar os devidos encaminhamentos para a ajudar na recu-
peração do dependente químico.

Em pesquisa realizada em 2013 por cientístas do Centro Latino Americano


de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli, da Escola Nacional de Saúde Pú-
blica Sergio Arouca e da Fundação Oswaldo Cruz a respeito do uso de substãn-
cias lícitas e ilícitas por policiais cívis e militares da cidade do Rio de Janeiro,
trouxeram dados alarmantes sobre o problema dentro das corporações da policia
militar e das delegacias da cidade do Rio de Janeiro. Na referida pesquisa, che-
gou-se a seguinte conclusão:

[...] os resultados mostram maiores frequências de consumo re-


gular de tabaco (23,3% dos civis versus 19,1% dos militares), de
uso diário de bebida alcoólica (12% dos civis versus 11% dos
militares) e de tranquilizantes no último ano (13,3% dos civis e
10,1% dos militares). O consumo de maconha envolveu 0,1%
dos policiais civis e 1,1% dos militares, e o uso de cocaína entre
os militares foi de 1,1%. O consumo de álcool apresentou-se
intenso e acarretando problemas no trabalho e nas relações so-
ciais e familiares destes policiais. Ressalta-se a necessidade de
políticas públicas preventivas às adicções e a possível subesti-
mação das informações sobre as substâncias ilícitas (REVISTA
CIÊNCIA E SAÚDE COLETIVA, 2013, on-line).

116
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Conforme demonstra os dados apresentados acima a situação dos quarteis


da policia militar do Rio deJaneiro não diferiam muito, há alguns anos atrás, da-
quela encontra nos quarteis das forçar armadas. Sendo isso, um problema sério
que deve ser combatido, não só pela corporação, mas por toda a sociedade. Haja
vista que não se pode conceber que a polícia responsável pelo policiamento os-
tensivo da cidade, que tem um dos maiores índices de criminalidades e homocí-
dios decorrentes do tráfico de drogas, estava rececheada de agentes da lei que
fazem uso recorrente de entorpecentes e, até mesmo, possam vir a colaborar
com a prática do tráfico de drogas.

A imagem abaixo se configura em claro exemplo dos problemas acarretados


pelo uso abusivo de álcool, pois com o tempo ele leva o dependente químico a
perda de discernimento e de bom senso. Neste caso específico, policiais militares
fardados e portando armas se embriagavam em pleno horário de serviço. Uma si-
tuação que, certamente, dadas as conjunturas apresentadas, poderia resultar em
tragédia, colocadno a população em risco.

IMAGEM 8 – POLÍCIAIS FARDADOS SÃO FLAGRADOS


ALCOOLIZADOS EM BAR NO PARANOÁ

FONTE: <https://uniasselvi.me/3fmgfVd>. Acesso em: 1 ago. 2021.

A pesquisa ainda traz a seguinte revelação:

Alguns estudiosos consideram o uso de drogas, lícitas ou ilíci-


tas, como resultante de problemas de autoestima, autoconfian-
ça, falta de habilidades para enfrentar situações adversas, e
sofrimento psíquico. Mas, também há os que defendem a exis-

117
Capelania Militar e Policial

tência de uma prévia sensibilidade à ansiedade, assim como


indicam que as distintas formas de uso da droga, o gênero, a
idade de início do consumo e do transtorno, dentre outras va-
riáveis, devem ser considerados nas análises de associações
entre uso de substâncias e transtornos emocionais (REVISTA
CIÊNCIA E SAÚDE COLETIVA, 2013, on-line)

A revelação dos fatores que podem vir a desencadear o uso de drogas é um


indicativo de que a abordagem para o seu tratamento requer a escuta, a empatia,
sensibilidade e o interesse sincero em fazer a diferença na vida do outro. Assim,
o compromisso assumido pelo capelão vocacionado se configura em elemento
decisivo para o eficácia da abordagem do problema junto ao usuário. Desta ma-
neira, além dos atributos mencionado acima, o capelão deve buscar estudar caso
a caso e, assim, ter meios de mais efetivamente o “paciente”

4.2 ENFERMIDADES
O organismo humano é tão vulnerável e sensível como qualquer outro orga-
nismo vivo. Desta maneira, além das fraguezas e vulnerábilidades prórprias do
organismo, com o tempo e o envehecimento, irreversívelmente ele se prepara
para a morte. Transformando-se em porta de entrada de diversas enfermidades.


IMAGEM 9 – ORIENTAÇÕES DE VISITAS AOS DOENTES
PARA O AGENTE DE PASTORAL

FONTE: <https://paroquias.com.br/orientacoes-de-visitas-aos-doentes-
para-o-agente-de-pastoral/>. Acesso em: 23 jul. 2021.

118
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Assim, o adoecimento do corpo é parte indelével da condição humana, pois


até o momento a medicina não encontrou um meio para evitar o adoecimento do
corpo, bem como o seu envelhecimento. Fazendo parte, da condição humana, o
adoecer, o envelhecer e o morrer.

A visita aos enfermos é uma parte muito importante do ministério pastoral do


capelão. Dessa maneira, a sua presença ao lado dos seus irmãos é peça funda-
mental da sua prática e que corrobora para relevância do seu trabalho dentros
das insituições militares. A esse respeito, sobretudo com relação à visitação a pa-
cientes terminais Crivelari (2008, p. 67) faz a seguinte colocação:

Com relação ao paciente terminal a impotência contra a enfermi-


dade bem como a importância do capelão dentro do hospital as-
sistindo o enfermo objetivando auxílio para a alma em muito enri-
quece o trabalho do capelão. A enfermidade seja ela causada por
um acidente ou por qualquer alteração do estado físico da pessoa
sempre provoca e provocará no ser humano uma surpresa desa-
gradável, perturbadora, desanimadora que extrai do homem suas
forças com poder imenso de mudar os planos e sonhos.

Sendo assim, a sua palavras de consolo e apaziguamento pode contribuir


para que o enfermo tenha maiores chances de recuperação ou mesmo que tenha
uma partida serena e tranquila. Uma vez que na sua abordagem, o entendimento
da carga simbólica que aquele momento traz consigo e a capacidade de se ver no
lugar do outro são condições para que se possa fazer uma abordagem que leve
acalanto e conforto para o enfermo.

Nessa vivência, o capelão se verá diante de situações em que muitas vezes


terá que levar a sua palavra de fé e conforto ao leito de morte do seu “paciente”. Si-
tuações essas em que terá que se dirigir a um hospital, a um local de acidente ou à
casa do enfermo. Assim, terá que estar disposto a realizar essas intervenções com
vistas a não permitir que o seu semelhantes faça a sua passagem para a eternidade
sem o devido preparo espirtual e emocional que as suas palavras podem conferir
aquele momento tão singular. Buscando, desta maneira, estabelecer uma relação
com o enfermo que contribua para a escuta, o desabafo, a confissão e, inclusive, o
arrependimento daqueles que assim desejarem realizar esse ato de reflexão.

Com relação às visitas domiliciar e hospitar de pessoas enfermas, o manual


do agente pastoral tece as recomendações que se seguem abaixo:

Dicas para visita domiciliar


Primeiramente, mapeie os doentes por setores e nomeie os
responsáveis; estabeleça previamente um horário de visitas;
Convide o doente e familiares para a missa da saúde;
Mantenha bom relacionamento com a família;
Prepare o doente para receber os sacramentos quando solicitado;
Divulgue o trabalho nas comunidades;
Guarde sigilo da intimidade da família;

119
Capelania Militar e Policial

Se necessário e se possível, transporte o doente até a igreja e


depois leve-o de volta para casa. Solicite autorização à admi-
nistração do hospital;
Dicas para visita hospitalar
Solicite autorização à administração do hospital; logo após, co-
nheça e respeite as normas do hospital; estabeleça horário de
visitas e respeite-o;
Mantenha um cadastro atualizado dos Agentes visitadores à
Instituição;
Faça visitas organizadas por setores;
Verifique se já existe um serviço religioso de apoio ao paciente
na Instituição;
Respeite o trabalho religioso de outras religiões (ecumenismo);
Use crachás de identificação;
Conheça a família do doente;
Faça a oração sem querer doutrinar o doente e acompanhante;
Leia um trecho curto do evangelho, se solicitado, e que trans-
mita esperança;
Trate o doente pelo nome;
Seja breve nas visitas, porém sem demonstrar uma preocupa-
ção com horário;
Seja compromissado com os horários e datas das visitas;
Não leve crianças para as visitas aos doentes;
Nunca empreste o seu crachá, somente você é o responsável
por ele. REVISTA PARÓQUIAS, 2021, on-line).

Não é apenas ir até onde está o enfermo, mas da necessidade de que haja
todo um preparo cujo objetivo é favorecer aquela visitação. Não causar nenhum
tipo de infortúnio, mal-estar ou sofrimento psíquico para aquele se encontra no lei-
to. Ou seja, há toda uma normatização e orientação para que a visita possa trazer
benefícios ao covalescente e que, em hipotese alguma, possa se configurar em
fator que possa trazer qualquer tipo de prejuízo ao doente.

IMAGEM 10 – O SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS ENFERMOS

FONTE: <https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/o-que-e-uncao-
dos-enfermos-e-quando-deve-ser-concedida/>. Acesso em: 14 jul. 2021.
120
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

Este sacramento, por sua vez, deve ser ministrado em doentes que estejam
em risco de morte e que irão passar por alguma cirúrgia delicada; a ideia é que
essas pessoas não partam para a eternidade sem terem a chance de se reconci-
liar com Deus. Como parte integrante do rito:

O óleo deve ser de oliveira ou extraído de plantas onde há


dificuldades para encontrar essa matéria. Normalmente, o sa-
cerdote leva consigo um recipiente com o óleo, para que, caso
haja necessidade, faça uso dele. A unção é feita na fronte, nas
mãos ou, se não for possível nesses locais, é feita numa outra
parte (CANÇÃO NOVA, 2021, on-line).

O sacramento, portanto, é algo muito sério e sua execução deve ser feita
pelo capelão em ocasiões que essa necessidade se apresentar. Segundo afirma
o padre Márcio do Padro, com relação ao seu tempo de sacerdócio, ele já viu:
“Deus curar e restaurar a saúde de muitos e, também, já O vi fortalecer pessoas
na hora da morte, dando-lhes uma morte tranquila e em paz, porque foram perdo-
adas e ungidas”. O sacramento de unção dos enfermos é parte indissociável do
trabalho do capelão. Devendo, desta maneira, ser tratado com respeito, resigna-
ção, reverência e na confiança no poder de Deus.

Além do enferno, é necessário também prestar assistência à família do doen-


te que vive a angústia de lidar com a enfermidade e/ou a partida de um ente
querido. É um momento muito tenso em que as pessoas estão bastante fragiliza-
das e ansiosas com a situação que se apresenta. Nesse cenário, a presença e a
orientação do capelão é de grande importância para que o equilibrio seja mantido
ou restaurado. Assim, o seu aconselhamento e presença ajudam tanto o paciente
quanto a sua família a lidar com a situação.

Existe toda uma orientação acerca da maneira como o capelão deve agir em
situações de vistas a pacientes terminais e/ou cuja recuperação seja incerta. A
esse respeito, em uma de suas passagem, o manual recomenda o seguinte:

ORAÇÃO NA VISITA HOSPITALAR No caso de visitação a


enfermos, principalmente hospitalizados, a oração, em vez de
ajudar, pode atrapalhar se não atentarmos para certos deta-
lhes. Aprendamos então: 1. Uma só pessoa – não é aconselhá-
vel uma reunião de oração dentro do hospital, exceto na cape-
la ou em outra sala. Mesmo assim, apenas uma pessoa deve
orar. Um período longo de muitas orações, cada um de um jeito
e em tons diferentes de voz, pode criar problemas emocionais
no enfermo. Se só houver duas pessoas na visita, apenas uma
deve orar e as outras concordam. 2. Voz suave – não se deve
fazer aquela oração gritada, com exaltação de voz. Oração é
conversa com Deus, logo, o que fará efeito é a fé e não o fei-
to psicológico de palavras fortes. 3. Sem encenações – não
precisa fazer encenações, movimento de mãos, não provoque
expectativas e nem curiosidades, não precisa dramatizar a ora-

121
Capelania Militar e Policial

ção. Qualquer alteração nas emoções do paciente pode ser


prejudicial, pra ele e pra o capelão. 4. O pedido – ponha a pes-
soa nas mãos de Deus e peça-lhe que realize a vontade dele.
Não insinue na oração que Deus tem que curar. Se este for o
tempo da partida da pessoa, ela irá acontecer pela soberania
de Deus. 5. E se o enfermo for crente, está lúcido e quiser
orar? – deixe-o, mas sob vigilância. Se ele se emocionar e cho-
rar, continue a oração você mesmo, e encerra-a imediatamente
(BRIGADA CRISTÃ DE CAPELANIA, 2021, on-line).

Portanto, não é simplemeste adentrar em uma enfermaria ou na unidade de


terapia intensiva e fazer o que dar na telha sem a necessidade de seguir qualquer
procedimento. Há a necessidade de se observar uma série de normas do próprio
hospital.

4.3 MORTE E O LUTO


De acordo com o Dicionário On-line da língua portuguesa (2021), morte de-
fine-se como:

Óbito ou falecimento; cessação completa da vida, da existên-


cia. Extinção; falta de existência ou ausência definitiva de algu-
ma coisa: morte de uma espécie; morte da esperança; morte
de uma planta.

Morte é um conceito amplo, mas que na prática significa deixar de existir nes-
te plano, ou seja, a não existência. Sendo, certamente, o tema que mais assom-
bra a espécie humana ao longo do tempo. Ela é a realidade que está à espreita de
cada ser vivo deste planeta. E, portanto, ela é inevitável. Sendo a única certeza
de todo ser vivente, inclusive o ser humano.

Qualquer pessoa que tenha tido a experiência de encarar a realidade da mor-


te de um amigo ou familiar sabe o quanto esse momento é doloroso e desesta-
bilizador. Contudo, entende que esta é uma realidade tangível que a seu tempo
se apresentará a cada um. Outras pessoas, no entanto, ao se depararem com a
realidade da morte optam por ignorá-la na patética tentativa de tentar obliterar a
sua existência. No entanto, seja qual for a postura adotada diante da morte, ela é
real e tentar ignorá-la não irá aliviar o sofrimento do moribundo ou evitará a sua
partida. Tampouco evitará a morte.

A morte de um líder pode comover toda uma nação trazendo


um sentimento de pesar, mas será totalmente diferente expe-
rimentada por uma viúva ou pela perda de um filho. A dor será
maior se ela chegar inesperadamente, isto é, de forma súbita
(acidente, uma bala perdida e etc.) o que difere se a pessoa for

122
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

idosa e se estiver num leito, doente há muito tempo. O desen-


volvimento da medicina não alterou a realidade da morte, ape-
nas tenta prolongar a vida, estabilizar o quadro clínico do pa-
ciente. Para o moribundo esse prolongar é imprescindível por
dois motivos: primeiro por causa do medo que a morte produz
a todos e segundo o medo que o doente tem nas conseqüên-
cias de sua morte, isto é, da instabilidade seja ela financeira
ou emocional que sua família passará. A morte mata, é algoz;
neste momento azado que a presença do capelão verde-oliva
fará diferença. A morte é feroz, mas o acompanhamento do
capelão trará à família e ao enfermo certa tranqüilidade que
todos necessitam (CRIVELARI, 2008, p. 78).

A atuação do capelão no trato da questão da morte será de significativa rele-


vância para os enlutados. A sua serenidade, o conhecimento do evangelho e sua
postura ajudará as pessoas envoltas neste momento de partida e de dor, a lidar
melhor com a situação. Sabe-se que a partida repentina, ou mesmo a já espera-
da, de alguém que se ama, causa grande instabilidade emocional que pode re-
verberá em vários campos da vida do enlutado. Desestabilizando, assim, famílias
inteiras. Entretanto, a abordagem do capelão irá se configurar como um grande
divisor de águas.

No meio militar onde o combatente ou policial militar é preparado para rece-


ber ordens e combater o inimigo, colocando em risco a sua própria vida, a morte
se torna uma realidade bastante tangível. Desta forma, por mais treinamento e
orientação psicológica que tenha, nenhum soldado ou policial militar está prepa-
rado para lidar com a morte iminente, sobretudo com a sua própria morte. “As
pessoas realmente morrem, e não mais uma a uma, porém muitas, frequentemen-
te dezenas de milhares, num único dia. E a morte não é mais um acontecimento
fortuito” (KNIJNIK, 2012, p. 34).

É necessária a realização de formação com profissionalis especializados por


meio do intermédio da Capelania militar, que aborda esta temática junto aos mili-
tares e policiais. Fazendo com que essa discussão deixe de ser tabu e possa ser
tratada com a mesma naturalidade com que se discute, guardadas as devidas
proporções, a promoção de um soldado. Como bem colocou Crivelari (2008. p.
73): “Se o exército não é capaz de persuadir um homem a se preparar para a mor-
te, que série de imagináveis circunstâncias poderia fazê-lo?”.

Infelizmente as guerras ocorrem e muitas delas não têm como


evitar. Ela por natureza é desanimadora e ao mesmo tempo
desafiadora para os soldados. Tratando-se de religião sempre
se questiona até que ponto a guerra é válida ou como deve se
portar um soldado entre matar ou morrer. A guerra em determi-
nados casos deve ser declarada especialmente quando ela for
justa (CRIVELARI, 2008, p. 74).

123
Capelania Militar e Policial

Falar sobre a existência da morte deve deixar de ser um tabu e passar a


ser discutido com a seriedade que a questão exige. Ainda como exemplo dessa
realidade tangível e da importância da presença da Capelania dentro das forças
armadas, pode-se usar como exemplo a participação dos capelãoes Frei Orlando
e do Pastor João Filson Soren nos campos de batalha da Itália durante a Segunda
Guerra Mundial, histórias vistas nos capítulos anteriores.

4.4 O CUIDADO CONSIGO MESMO


Conforme tem sido elencado, as atividades que integram o ministério pas-
toral do capelão são muitas. Além disso, requer-se um preparo físico, emocional
e espiritual bastante forte. Desta maneira, as suas atribuições requerem a sua
dedicação exclusiva.

O trabalho dos capelães é gigantesco. Em visita aos quartéis


(unidades militares) os mesmos precisam passar a “instrução
religiosa”, isto é, não podem falar das doutrinas de sua confis-
são. Tal permissão só ocorre quando ocorrem as missas (Igreja
Católica) onde os sacramentos são ministrados e da mesma
forma nos cultos (evangélicos) quando a assistência é ofere-
cida diretamente a eles. No geral o capelão em tais visitas dá
assistência, conversa com os soldados e toda essa rotina traz
um desgaste muito grande. De acordo com o Pastor Walter Pe-
reira de Mello Tenente Coronel Capelão do Exército Brasileiro
lotado em Brasília-DF em entrevista dada a este mestrando o
mesmo revelou que “a maior dificuldade é o pequeno número
de capelães para atender a um rebanho tão grande (CRIVELA-
RI, 2008, p. 75).

Assim como se pode notar, esses profissionais tem uma rotina de trabaho
bastante intensa e, para que possam continuar a prestar um serviço espiritual e
assistencial á altura dos desafios que se apresentam, ele deve ter um autocuida-
do para que essa rotina não traga prejuízos a sua saúde física e mental. Neste
contexto, cuidar de si é também um ato de amor ao próximo, pois só estará apto a
realizar um trabalho de qualidade e que realmente impacte positivamente na vida
das pessoas se estiver bem consigo mesmo.

124
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

IMAGEM 11 – CAPELÃES PERCORREM VILAS MILITARES E PRESTAM


ATENDIMENTO RELIGIOSO – PASTOR CAPELÃO REALIZANDO ORAÇÃO

FONTE: <https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_
publisher/MjaG93KcunQI/content/id/11598592>. Acesso em: 17 jul. 2021.

O trabalho do capelão não se restringe ao muros dos quartéis e batalhões.


Ele tem a missão de promover formações, dar andamento à assistência social,
visitando enfermos, realizando funerais, fazendo campanhas de arrecação de ali-
mentos e donativos para pessoas ou comunidades em situação de insegurança
alimentar, visitando famílias enlutadas, ajudando no tratamento de dependentes
químicos de drogas lícitas e ilicitas, ministrando a palavra ao aflito, ou seja, inú-
meras atribuições que requerem a presença de um ministro vocacionado e cons-
ciente da importância do seu trabalho à frente da Capelania. Inclusive, nas áreas
mais isoladas deste país, ainda tem a missão de vistar comunidades isoladas e
provê-los de remédios, alimentos, roupas, a ministração de sacramentos e entre
outras ações próprias do seu ministério.

125
Capelania Militar e Policial

IMAGEM 12 – PADRE CAPELÃO REALIZANDO ORAÇÃO DURANTE


SUA VISITA A UMA DAS RESIDÊNCIAS DA VILA MILITAR

FONTE: <https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_
publisher/MjaG93KcunQI/content/id/11598592>. Acesso em: 17 jul. 2021.

Essa carga horária e o desejo de realizar os trabalhos somados


aos problemas existentes nos quartéis e questões individuais
podem levar o capelão a um stress muito grande. O número
reduzido desses capelães leva-os a uma jornada maior, por isso
é necessário que os mesmos tenham cuidado com a saúde. No
ensejo de cuidar da saúde espiritual dos militares e de suas fa-
mílias, presos e outros ele mesmo pode acabar tendo um des-
gaste físico, mental e até espiritual (CRIVELARI, 2008, p. 81).

Desta maneira, é uma rotina pesada na qual o capelão tem a necessidade


de cuidar de si mesmo, pois o trabalho excessivo pode trazer consequências bas-
tante adversas que colocam em risco a sua saúde, a sua própria comunhão com
Deus e o exercício de suas atividades profissionais. São muitos os desafios cuja
resolução extrapolam as atribuições e independem da vontade deste sacerdote.

Imagine-se então o nível de ansiedade e estresse ao qual um capelão se ex-


põe ao lidar com situações se somam e o levam a um nível de desgaste bastante
significativo. Trazendo, certamente, prejuízos ao seu desempenho profissional.

O stress intenso rouba energia do córtex cerebral, energia


esta que será usada nos órgãos da economia do corpo, por
exemplo, a musculatura. O resultado desse roubo de energia é

126
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

um cansaço físico exagerado e inexplicável. Grande parte das


pessoas [...] ou que tem trabalho intelectual intensivo vive essa
sintomatologia. Porpensarem e se estressarem muito estão
sempre roubando energiado cérebro, por isso estão continua-
mente fatigadas e não sabem o motivo. [...] Quando a fadiga é
intensa, gera-se uma sonolência, que é um recurso de defesa
cerebral, pois dormindo repomos a energia biopsíquica (CRI-
VELARI, 2008, p. 81).

Diante do exposto, pode-se inferir ainda que o número reduzido de capelães


dentro das Forças Armadas brasileiras, assim como nas policiais militares, seja
um dos fatores que levam ao desgate do profissional, trazendo, como consequên-
cias negativas para a sua saúde fisica e mental, assim como para o seu trabalho.
Sendo, assim, é necessário que haja um maior empenho por parte do Ministério
da Defesa do Brasil, dos Comandos Militares e dos Comandos das Polícias Mili-
tares na implementação de uma política constante de seleção e contratação de
capelães militares verdadeiramente vocacionados.

5 A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA E DA
RELIGIÃO
No serviço da Capelania, é necessário dizer que o capelão lida com pessoas
das mais diversas origens e orientações políticas, ideológicas e religiosas. Além
do mais, são pessoas que trazem consigo as mais diversas vivências e problemá-
ticas. Dessa maneira, ele precisa tratar cada caso individualmente, sobretudo no
campo da espiritualidade. Assim, nos quartéis ou batalhões policiais, o capelão
precisar saber com lidar com o seu rebanho e estudar, caso a caso, a melhor ma-
neira de intervir de acordo com a situação apresentada.

Deve ainda guardar para si toda e qualquer informação ou situação cujo se-
gredo lhe for confiado. Assim, além de ganhar a credibilidade dos seus “pacien-
tes”, não incorrerá no erro de expor a vida pessoal dos seus companheiros de
farda. No seu ministério pastoral, é importante que conduza o seu trabalho com a
discrição e o zelo que se espera de alguém na sua posição.

A Capelania é um trabalho que requer devoção e comprometimento em aju-


dar aos seus semelhantes na busca da paz interior e na mudança de atitude dian-
te de situações que estejam sendo vividas naquele momento.

127
Capelania Militar e Policial

5.1 ÉTICA
A palavra Ética se origina do termo grego ethos e significa ca-
ráter, comportamento. O seu estudo, por sua vez, está centra-
do na análise da sociedade e do comportamento humano. ´É
importante, frisar ainda que as reflexões acerca do seu emara-
nhado de sentidos e abstrações tiveram origem na antiguidade
clássica. Tendo ainda, dentro os seus maiores estudiosos do
tema, os filósofos Demócrito e Aristóteles. Para esses pensa-
dores ter uma postura ou prática a ética era uma forma de al-
cançar a felicidade. No entanto, com a introdução do cristianis-
mo e todo o seu arcabouço moral e cosmo visão de mundo, no
mundo ocidental clássico, a ética passou a ser balizada a partir
dos mandamentos presentes na palavra revelada, ou seja, da
bíblia cristã católica (CÓDIGO DE ÉTICA, 2021, on-line).

É necessário dizer que o pensamento ético busca, através de seu sistema de


valores, analisar e rotular o comportamento e ações humanas sob a perspectiva
dos princípios que regem o pensamento ético, as escolhas feitas pelo ser humano
podem levá-lo a um caminho de harmonia, serenidade, virtudes e relações huma-
nas justas e afetuosas.

Entretanto, é necessário dizer que o pensamento ético tem uma função so-
ciopolítica muito importante que é o seu compromisso com a manutenção da or-
dem social estabelecida, uma vez que tem intimação relação com os com os prin-
cípios morais venerados por uma dada sociedade ou cultura. Na esfera religiosa,
por exemplo, ela busca estabelecer a sua orientação espiritual por meio da obser-
vância dos princípios éticos próprios do seu credo religiosos. Dessa maneira, ao
se colocar contra o adultério, por exemplo, faz isso a partir dos valores defendidos
por sua fé religiosa.

Sendo assim, o capelão apoia o seu ministério em princípios ético presentes


no cristianismo, sobretudo na bíblia. Desta maneira, as suas ações não são sim-
plesmente produto de sua cosmovisão de mundo, mas de princípios norteadores
próprios do pensamento ético cristão. Lembrando que os códigos éticos de uma
dada cultura, sociedade ou religião visam estabelecer parâmetros minimamente
aceitáveis para o convívio harmonioso dentro da família, na instituição onde traba-
lha e na sociedade de uma maneira geral.

5.2 RELIGIÃO
A religião e suas práticas estão presentes na história da humanidade desde
o surgimento do homem. Desta maneira, desde os tempos mais remotos o ser

128
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

humano esteve em busca de respostas que o ajudassem a responder ou lidar


com aquilo que desconhecia, com os seus medos, seus anseios, aspirações e
frustrações. Desta maneira, é plausível afirmar que há uma predisposição no ser
humano para o campo da religiosidade. Ou melhor dizendo, há uma necessidade
humana na crença do divino, do sobrenatural, em algo maior que si mesmo.

Por esse motivo, fenômenos religiosos podem ser observados nas mais di-
versas culturas, civilizações e povos através do tempo. Assim, os indícios dessa
religiosidade latente do ser humano são, na maioria das vezes, encontrados por
meio do trabalho de arqueólogos e antropólogos. Esses achados se dão através
da análise de pinturas rupestres, em vestígios materiais encontrados em esca-
vações arqueológicas, na presença de templos, lugares de adoração e sacrifício
cujas construções ou vestígios chegaram até os dias atuais.

“O comportamento religioso do ser humano, nos seus aspectos éticos, so-


cioculturais e psicológicos, é objeto privilegiado de estudo por parte de todas as
chamadas Ciências Humanas” (SANTOS; RAMÓN, 2007, p. 85). A religião é, se-
gundo as perspectivas dos autores, inegavelmente um vestígio cultural inerente a
todos os povos, civilizações, culturais e etnias ao longo da história humana.

IMAGEM 13 – A ORIGEM DA RELIGIÃO E O NASCIMENTO DOS DEUSES

FONTE: <http://g1.globo.com/platb/espiral/2010/08/02/190/>. Acesso em: 19 jul. 2021.

Não existe uma ideia fechada sobre o tema no meio científico, contudo, com
a junção dos campos de conhecimento relacionados ao estudo da arqueologia e
do funcionamento da mente humana, alguns especialistas mais céticos quanto à
existência do divino apresentam a hipótese de que o surgimento da religião teria
sido um desdobramento natural do processo evolutivo da humanidade. Ou seja,
a crença no sobrenatural, em criaturas místicas, deuses, fadas, demônios, anjos
e entre outros, está relacionado ao processo de desenvolvimento da psique hu-

129
Capelania Militar e Policial

mana. Dessa forma, segundo eles, a religião e consequentemente o sobrenatural


seria uma criação humana.

Apesar das discussões e conceituações apresentadas, é importante dizer


que independentemente do que diga a ciência e a intelectualidade, a verdade é
que para a maior parte das pessoas o sobrenatural é tão real quanto o ar que se
respira, a chuva ou o concreto de uma construção qualquer. Sendo assim, dentro
deste contexto, é inegável que a Capelania Militar traz consigo toda uma estrutura
psicossocial, o que acaba legitimando o ponto focal do trabalho do capelão que
é “cuidar e zelar da sociedade, contribuindo intensamente para a saúde espiritual
e emocional do ser humano” (CAVALCANTI, 2018, p. 9). Seu trabalho é crucial
para o apaziguamento daqueles que têm fé e buscam o consolo de sua crença. O
capelão, portanto, fonte de inspiração e referência para o aflito que deseja buscar
refúgio na fé e na esperança do socorro divino.

Não se pode negligenciar o poder libertador e restaurador que uma palavra


de consolo, um ombro amigo, ou da sabedoria de alguém que anda segundo as
suas próprias convicções de fé. Desta maneira, a figura do capelão se torna de
grande importância dentro da estrutura das instituições militares e das polícias.
Uma vez que o seu trabalho e empenho pessoal são indispensáveis à manuten-
ção da saúde emocional e espiritual das pessoas.

Independentemente da fé professada, ou da suposta ausência dela, o ser


humano é um ser social e, desta forma, precisa da escuta e do acolhimento dos
seus iguais. E é justamente nesta perspectiva que o trabalho da Capelania militar
se configura em fator balizador da relação na irmandade dos homens de armas,
ou melhor dizendo, dos militares e policiais militares. Sendo o seu aconselhamen-
to e orientação espiritual de grande relevância para a manutenção da saúde men-
tal e espiritual da soldadesca.

Uma vez que, assim como o ser humano necessita de algo maior do que si
mesmo para continuar a acreditar, há também a necessidade de pessoas que
guiem e fortaleçam a crença no poder divino de Deus. A Capelania se configura,
portanto, em um dos principais esteios sobre os quais se firma a confiança e o
amparo do soldado dentro da estrutura militar. Desta forma, ela deve continuar e
existir para que os seus frutos continuem a se multiplicar por meio do imprescindí-
vel trabalho do capelão militar.

130
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

LEITURA COMPLEMENTAR

CAPELANIA OFERECE APOIO ESPIRITUAL, EMO-


CIONAL E SOCIAL PARA MILITARES

Curitiba (PR) – As atividades da Capelania da 5ª Região Mili-


tar (5ª RM) são inúmeras e mantém o capelão sempre em contato
com as tropas do Paraná e Santa Catarina. Além de cultos religiosos
semanais na cidade de Curitiba,  que  são realizados em dias fixos
no Colégio Militar de Curitiba (CMC), no Hospital Geral de Curitiba
(HGeC) e no Forte Pinheirinho, o capelão também realiza atendimen-
tos individuais e em grupo.

Formado em Psicologia, o Tenente Cardoso possui uma agenda


repleta, que contempla cultos religiosos nas unidades, benção nas
formaturas, visita aos enfermos do HGeC e do Hospital da Guarnição
de Florianópolis (HGuFl), além de atendimento aos familiares, bati-
zados, casamentos e exéquias – assistência nos funerais. Uma das
suas principais funções é levar a espiritualidade e o apoio humano e
social aos integrantes das corporações. 

A Capelania também integra a força tarefa do Programa de Va-


lorização da Vida (PVV). Ela atua no processo de humanização das
organizações militares e no apoio psicossocial, respeitando a fé, cre-
dos e tradições daqueles que são atendidos. “É papel do capelão
oferecer apoio espiritual, além de emocional e social àqueles mili-
tares que enfrentam circunstâncias difíceis. A assistência é provida
independentemente de preferência religiosa”, esclarece o Tenen-
te  Cardoso, capelão da 5ªRM. Semanalmente nas OM são realiza-
dos encontros religiosos de diferentes seguimentos. 

FONTE: https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/
asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/id/10220705

1 A partir dos estudos a respeito das características, posturas e ati-


tudes que se espera de um capelão militar ou policial, analise as
proposições abaixo e classifique V para as sentenças verdadei-
ras e F para as falsas:
131
Capelania Militar e Policial

( ) O capelão deve estar sempre disposto a ouvir e interagir com


o seu “paciente” sendo, no entanto, vedado que desenvolva um
sentimento de empatia com relação a situação vivenciada pelo
por aquele que o procura.
( ) O capelão deve ser, antes de tudo, alguém vocacionado para o
exercício da função a qual se candidata. Desta forma, não adian-
ta ser um padre ou pastor sacramentado, mas alguém tenha com-
promisso com os princípios da fé crista e estar disposto a prestar
a assistência social de acordo com os princípios da Capelania.
( ) O capelão deve servir de modelo e, portanto, deve levar uma vida
de devoção a Deus e jamais permitir-se expor a situações que
possam depor contra sua conduta ética e moral ou que ponha em
cheque a credibilidade da instituição a qual representa.
( ) Espera-se que o capelão, no exercício de suas atribuições, bus-
que demonstrar zelo pelo seu trabalho e cuidado na condução de
seu rebanho. Entretanto, deve-se compreender que a sua vida
não deve, em hipótese algum, está atrelada a função de desem-
penha (capelão militar) dentro da instituição.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( )F-F-V-V
b) ( )F-F-F-V
c) ( )F-V-V-V
d) ( )F-V-V-F

2 De acordo com estudos, o capelão deve seguir determinados


ritos, adotando determinadas posturas em situações que envol-
vam usuários de drogas e álcool, também que envolvam doenças
terminais, a morte e o cuidado consigo mesmo. A esse respeito,
analise as proposições abaixo e marque CORRETA:

a) ( ) Como se sabe, o soldado que mantém uma relação de uso


abusivo com o álcool ou qualquer outra droga comete um crime
de natureza gravíssima. Desta forma, o capelão que toma conhe-
cimento deste fato e não denúncia o infrator comete uma falta
gravíssima.
b) ( ) Em situações que envolvam a morte de um soldado ou um poli-
cial militar, cabe ao capelão, através do serviço social da instituição,
entrar em contato com a família do falecido por qualquer que seja o
meio utilizado, e fazer a imediata notificação do fato ocorrido.
c) ( ) Sendo a dependência química classificada, segundo a OMS,
como uma doença, após a identificação, escuta e o acolhimento

132
O Capelão e a Relação Que o Seu Ministério
Capítulo 3 Pastoral Mantém Com A Ética E Com A Religião

do enfermo pelo capelão, o doente deve ser encaminhado para


tratamento com profissionais especializados.
d) ( ) Tendo em vista que o seu exercício profissional da Capelania é
garantido por lei e a própria CF 1988 garante ao enfermo o acesso
à assistência religiosa, não há obrigatoriedade de o capelão mili-
tar solicitar autorização, a administração hospitalar ou a equipe de
saúde responsável pelo tratamento do enfermo, para realizar visi-
tas ou qualquer rito religioso próprio de sua prática religiosa.

3 De acordo com estudos, a Capelania militar tem uma grande im-


portância para a manutenção da saúde psíquica e espiritual do
soldado. A esse respeito marque a alternativa que corrobora com
a afirmação feita acima:

a) ( ) “São exemplos disso, o Frei Orlando e o Pastor Soren, que em


razão de seus feitos, quando do cumprimento do seu dever para
com a nação e o exercício de seu ministério pastoral em situa-
ções adversas, tornaram-se inspirações para os seus irmãos de
farda e para as gerações de capelães que vieram depois deles”.
b) ( ) “A ideia é que o militar possa ter a oportunidade de tratar a
sua doença, pois o vício em si é uma doença, e ter a oportunida-
de de se reintegrar à vida militar, familiar e à sociedade”.
c) ( ) “Qualquer pessoa que tenha tido a experiência de encarar a
realidade da morte de um amigo ou familiar sabe o quanto esse
é um momento doloroso e desestabilizador. Contudo, é impres-
cindível entender que esta é uma realidade tangível e que a seu
tempo se apresentará a cada um”.
d) ( ) “o capelão se ver na obrigação de assumir um padrão de
comportamento que seja socialmente aceito e condizente com o
exercício do seu sacerdócio”.

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orientação do homem moderno. Petrópolis: Vozes, 2004.

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Capelania Militar e Policial

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