Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA)

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

Departamento de História (DHIS)

Disciplina: História Antiga


Docente: Prof. Dr. Marcus Baccega
Discente: Larissa Vale Cutrim

ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DOCUMENTO HISTÓRICO


HISTÓRIA AUGUSTA OU VIDA DE MARCO AURÉLIO

Pergunta-Problema: Teria os princípios filosóficos seguidos por Marco Aurélio


determinado sua vida pública?

A história do “imperador filósofo” Marco Aurélio (121-180 d. C) é fortemente


marcada pela sua conduta moral que encontra bases na filosofia estoica. Ao longo da sua
vida, esse aspecto particular exerceu grande influência e centralidade, orientando
inclusive suas ações na vida política. Diante desses pressupostos podemos pensar e
analisar a construção da imagem desse imperador a partir da coletânea de biografias
imperiais, conhecida como “História Augusta” (392 – 423), que além de traçar uma
biografia pautada nas boas ações e qualidades pessoais dele, apresenta as características
principais de seu governo que teve início no ano de 161 a. C.
Segundo Le Goff, o bom historiador precisa estar tão próximo dos documentos
históricos quanto for possível. Em suma, este precisa extrair dos registros o máximo de
informação que ele traz enquanto dado de uma realidade pretérita. Na presente análise,
esses princípios serão mantidos, mesmo diante da dificuldade de provar a veracidades das
informações acerca da vida de Marco Aurélio presente no texto. Apesar das imprecisões
acerca dos autores que a escreveram, a obra não deixa de ser importante no que concerne
às informações sobre esse imperador romano, a fim de entender suas particularidades e
uma infinidade de aspectos que marcaram sua vida no plano das concepções políticas,
sociais, religiosas e morais,
A análise tem como foco o capítulo do livro “Vida de Marco Aurélio, o Filósofo”
de autoria de Júlio Capitolino. Nele, Marco Aurélio é apresentado como um bom
imperador, cheio de virtudes que o caracterizam. Essa concepção ajuda a construir, por
sua vez, um estereótipo em torno dessa figura política tão exaltada pelo autor, que,
segundo ele, pode ser considerado o imperador que mais se destacou quanto à pureza de
vida.
Essa postura tão evidenciada e enaltecida em História Augusta, encontra suas
raízes na filosofia estoica, a qual era tida por ele como uma forma de vida. O estoicismo,
em resumo, trata da importância de cultivar e manter as boas atitudes, coragem,
clemência, benevolência, etc.; em oposição aos vícios, inveja, angustia, desgosto, ciúme,
etc. Essas todas são virtudes que ajudam a entender tanto o homem Marco Aurélio, quanto
o imperador Marco Aurélio.
Um detalhe interessante narrado no livro é o fato de que o governante romano
sempre teve cautela em almejar o poder de Roma, isso para ele não correspondia as
primeiras de suas expectativas. Ele era um homem que simplesmente não ansiava pelo
poder à custa da morte de seu pai, conforme se evidencia. No entanto, com a morte do
seu pai adotivo e também imperador Antônio Pio, se viu obrigado a assumir tamanha
responsabilidade ao lado do seu irmão adotivo Lucio Aurélio Vero Cômodo, a quem teria
convidado para dividir a governança de Roma. Essa atitude, revela muito da sua
personalidade enquanto estudioso dedicado e completo amante da filosofia, o que o
tornou não só contemplador das mais belas virtudes humanas, mas alguém que as possuía.
A narrativa que a História Augusta realiza diante do imperador Marco Aurélio,
concentra-se nas ações que ele realizou, observando a partir delas, um modelo de
imperador que sugere o governante clemente e ideal. Sua narrativa está recheada de
exemplos que demonstram a postura de Marco Aurélio frente ao império e a construção
de sua imagem como um governante que tanto em situações pessoais, quanto políticas
agiu como uma espécie de filósofo seguidor dos princípios estoicos e como um modelo
de imperador a ser seguido e admirado pelas eras vindouras.
Desta maneira, a biografia nos informa sobre aspectos que contribuem na
formulação da história de Marco Aurélio. Um homem que se preocupava com as pessoas
a sua volta, apaixonado pela justiça, pela liberdade, piedoso e que fez da filosofia sua guia
nas questões que envolviam as várias dimensões da sua vida. Ele governou o Império
Romano por 18 anos, e esse período ficou conhecido na história como “os anos dourados
de Roma”, muito em função do fato de ter sido um líder com todas essas características
citadas. No que se refere as guerras, por exemplo, geralmente os altos custos que elas
geravam às finanças públicas não resultava na cobrança de imposto sobre a população,
ao invés disso, era preferível por ele que se vendesse os ornamentos imperiais para custear
as despesas. Além disso, sempre buscou dar um desfecho para todas os conflitos em que
Roma esteve envolvida durante seu governo sem maiores prejuízos para a população de
maneira geral, libertando da escravidão aqueles que encontrava nas províncias
conquistadas. E sobre os rumores acerca dos adultérios de Faustina, sua esposa, diz o
autor, sempre tratou com serenidade, inclusive, dedicando a ela um funeral com todas as
honrarias romana diante do evento trágico de sua morte.
Diante desses exemplos presentes no texto, portanto, é possível pensar neles como
uma fundamentação, de um certo modo, da descrição feita pelo autor sobre a conduto de
Marco Aurélio, mesmo que as informações ali contidas estejam carregadas por um
sentimento de enaltecimento e endeusamento dessa figura. E nesse sentido, é necessário
ter atenção sobre quais aspectos partem unicamente da subjetividade de quem escreveu a
biografia, e quais encontram bases nos fatos.
Por fim, não se deve deixar de lado a relação amorosa de Marco Aurélio e seu
filho Cômodo, que logo o sucederia como imperador. Em História Augusta, é exposta a
preocupação constante que este tinha diante da possibilidade de seu filho se tornar um
tirano quando ele assumisse o poder em Roma, assim insistia nas orientações sobre uma
melhor postura enquanto imperador, citou os vários exemplos dos imperadores tiranos do
qual não deveria seguir. Imperadores estes como Nero, Calígula e Domiciano que também
são narrados pelo próprio texto como homens truculentos enquanto permaneceram frente
ao império.
Assim, conclui-se que o documento histórico constrói um estereótipo em torno
dessa personalidade, cujo detalhes de sua vida são envoltos ainda por uma densa nuvem
de imprecisões e dúvidas. Contudo, Marco Aurélio fora um político que tentou unir os
princípios filosóficos às práticas exigidas de uma vida política com implicações no plano
pessoal. Assim sendo, o imperador fora antes de tudo filósofo, e o filósofo fora imperador
pelas contingências de sua vida. E isso, talvez, tenha determinado a visão que se tem hoje
de um grande homem à frente das questões públicas de sua época, aos moldes dos ideais
platônicos, os quais prestava grande admiração.

Você também pode gostar