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Departamento de História

A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE AUGUSTO EM OVÍDIO

Aluno: Pedro Ivo P. Sampaio


Orientadora: Isabela Fernandes
Tutor: Professor Maurício Parada

Introdução
Poucos são os homens que conseguiram marcaram acontecimentos políticos e militares
de seu tempo a ponto de sua época ser conhecida pelo seu nome. Segundo Pierre Grimal,
Augusto foi um destes raros homens. O chamado “século de Augusto” teve início em 27 A.C.
com a vitória de Otávio sobre seus rivais na Batalha de Ácio, e se estendeu até a sua morte, em 19
de agosto de 14 d.C., na Campânia. Para que a ascensão de Otávio se realizasse, foi necessário
construir a crença no caráter sagrado e redentor da sua missão política. Para se estabelecer no
poder, Otávio fez uso das lendas que afirmavam ser ele o filho adotivo de um mártir com sangue
divino, César, descendente da própria deusa Vênus. Algumas obras literárias tiveram grande
importância para a difusão do ideal de Otávio. Entre estas obras, o Livro XV das Metamorfoses,
de Ovídio, se destaca por enaltecer o caráter divino de Júlio Cesar e de Otávio ao consagrar a
lenda sobre a passagem de um cometa durante a celebração dos jogos em homenagem à morte
do ditador. Este evento foi interpretado pelo poeta como uma prova da divindade de César e,
consequentemente, de seu filho adotivo. A construção da áurea divina em torno de Otávio
permitiu que ele recebesse do Senado romano o título de Augusto e, a partir daí, passou a ser
louvado como uma divindade e reconhecido como senhor legítimo do império romano.

Objetivos
A pesquisa tem por objetivo debater sobre a construção da imagem divina de Augusto
nos anos de seu principado utilizando como documento o Livro XV das Metamorfoses, do poeta
Ovídio. Como o jovem Otávio, sobrinho neto e herdeiro de Júlio Cesar, conseguiu, tão
rapidamente e com tanto êxito, realizar a transição de uma decadente República para um bem
estruturado Império? A realização de Augusto se torna ainda mais significativa se
considerarmos o trauma que os romanos conservaram, desde o fim de seu período monárquico,
em relação ao poder individual e centralizado. Pretende-se investigar como a obra de Ovídio
contribuiu para edificar a imagem divina de Augusto e elaborar um discurso legitimador do
poder do primeiro princeps de Roma.

Metodologia
A pesquisa será divididaem duas partes: a ascensão de Otávio e a construção da imagem
de Augusto no Livro XV das Metamorfoses. No primeiro momento vamos analisar o percurso
de Otávio a partir da morte de César, investigando as estratégias por ele utilizadas para a sua
rápida ascensão como o grande líder de Roma. No segundo momento discutiremos os recursos
ideológicos usados por Augusto para que ele se consolidasse no poder. Como base para nossa
pesquisa utilizaremos dois tipos de fontes: a autoral e ahistórica. Será utilizada como fonte
histórica a obra de Ovídio, As Metamorfoses, Livro XV, a partir da qual poderemos
compreender o processo de construção da imagem divina de Augusto enquanto primeiro
princeps. As fontes autorais serão usadas para a elaboração do arcabouço teórico que vai
fundamentar os dois momentos envolvidos em nossa pesquisa, além de auxiliar na
compreensãodo Livro XV das Metamorfoses. Como fonte autoral utilizaremosos seguintes
livros: Século de Augusto e O Império Roman, de Pierre Grimal;Roma Imperial, de Moses
Hadas; Mitos Romanos, de Jane Gardner;Declínio e queda do Império Romano, Edward
Gibbon; César e Cristo, de Will Durant, História Antiga: Grécia e Roma, de Flavia Eyler.
Departamento de História

Conclusão
De acordo com Hadas (1970), Augusto percebeu a urgência do estabelecimento do
império como solução política para a desagregação da República. Com grande habilidade e
diplomacia, ele foi centralizando o controle de toda a política romana e se fazendo, aos poucos,
soberano único. O princeps promoveu transformações radicais nos aparelhos do Estado,
enfraquecendo o Senado que antes era a célula política e social da República. O princeps
detinha poder sobre os exércitos e sobre toda a economia de Roma. Segundo Pierre Grimal
(2008), a manutenção de um diálogo constante com os diversos estratos sociais e com os
diversos setores políticos de Roma foi o motivo principal para o êxito de Augusto. Assim ele
se tornou o imperador único de Roma levando o povo a acreditar que ele na verdade restabelecia
a Res Publica.
Mecenas, literato e grande companheiro de Augusto, foi de grande importância para o
sucesso de seu governo, sendo o responsável pela política literária do regime. Concentrando à
sua volta os mais proeminentes poetas, Mecenas soube conferir glória ao governo de Augusto
através das artes e das letras. Porém o círculo de influência de Mecenas não englobavatodos os
poetas, e um dos mais famosos de seu tempo, Ovídio, lhe escapava. Inicialmente Ovídio nutria
profunda antipatia pelo princeps. Todavia, percebendo o sucesso da empreitada augustana,
passou a pender para o lado do líder romano. Em sua obra Metamorfosesele retoma as lendas
romanas e busca lhes conferir o encanto e a aura sagrada das lendas gregas. O Livro XV, o
último da obra, é dedicadoa construir uma imagem elogiosa e divina de Augusto e de sua
linhagem. Imagina-se que este trecho foi escrito numa tentativa de aproximação de Augusto,
que desaprovava suas obras anteriores e que, imagina-se por esse motivo, havia colocado o
poeta no exílio.
Se Esculápio aumentou os nossos Templos / A Roma vindo Nume forasteiro / Cesar Nume foi
feito em Roma mesma / Que o dera à luz vital. / Este Homem raro, Grande na paz, grande na
guerra, a honra / Teve de ser no Olimpo Astro recente: / Mas não a logrou menos por seus Feitos
Dignos de imortal / Ser, que pela glória, Que as Virtudes do Filho lhe adquiriram:O mérito mais
alto, que tem César, / É dizer-se, que é Pai do Grande Augusto. (OVÍDIO,
Metamorfoses, XV, 1141-1152)

Bibliografia
DURANT, Will. César e Cristo. Editora Nacional, 1946.
EYLER, Flavia Maria Schlee. História Antiga: Grécia e Roma: a formação do Ocidente. Rio
de Janeiro: PUC-Rio, 2014.
GARDNER, Jane F. Mitos Romanos. São Paulo: Editora Centauro, 1999.
GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. São Paulo: Editora Schwarcz S.A.,
2016.
GRIMAL, Pierre. O Século de Augusto. Lisboa: Edições 70, 2008.
GRIMAL, Pierre. O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1993.
HADAS, Moses. Roma Imperial. São Paulo: Editora José Olimpio, 1970.
OVÍDIO. Metamorfoses.

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