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Maias
Nome autores
O que é uma tragédia?
«Os Maias aparecem estruturados numa feição trágica, no que diz respeito à ação principal.
Assim, o tema do incesto segue, desde logo, a tragédia Édipo Rei, de Sófocles. Além disso, tal como os heróis
da tragédia clássica, Carlos e Maria Eduarda destacam-se dos que os rodeiam pelo seu caráter excecional e
superior, tanto no que diz respeito à educação como à beleza.
A intriga tem uma feição trágica se tivermos em conta a aproximação dos protagonistas, uma vez que há uma
aproximação predestinada de Carlos e Maria Eduarda. Daí Ega afirmar que estão ambos «irresistivelmente,
fatalmente, marchando um para o outro». Além disso, a descrição da Toca corrobora a tragicidade dada ao
romance.»
As marcas trágicas
Hybris – desafio
Agón – dilemas
Conflito de Carlos entre fugir para viver o amor, ou não desgostar Afonso.
«Que melhor dever do que poupar ao pobre avô toda a dor?... Maria de certo, como mulher, estava
desejando ansiosamente a conversão do amante no marido […]. Mas ela mesma preferiria uma
consagração legal – que não fosse assim precipitada, dissimulada... Depois, tão recta e generosa,
compreenderia bem a obrigação suprema de não mortificar aquele santo velho.» (capítulo XV)
As marcas trágicas
As revelações do Sr. Guimarães (Peripécia) levam ao reconhecimento (Anagnórise) do parentesco dos protagonistas,
evidenciando o papel do destino (Ananké), que tudo transformará.
«– Muito agradecido a V. Exc.ª! Eu junto-lhe então um bilhete e V. Exc.ª entrega-o da minha parte
ao Carlos da Maia, ou à irmã. […]
– À irmã!... A que irmã? […]
– A que irmã!? A irmã dele, à única que tem, à Maria!» (capítulo XVI)
As marcas trágicas
Pathos – sofrimento
«Declaro que minha filha Maria Eduarda […] é portuguesa e filha de meu marido Pedro da Maia, de quem
me separei voluntariamente, […]. E o pai de meu marido era meu sogro Afonso da Maia, viúvo, que vivia em
Benfica e também em Santa Olávia ao pé do rio Douro.» (capítulo XVII)
«Sufocado, [Ega] beijou-lhe a mão que ela lhe abandonou, sem consciência e sem voz, de pé, direita no
seu negro luto, com a lividez parada dum mármore. E fugiu.» (capítulo XVII)
«A voz sumia-se-lhe, toda trémula. Estendeu a mão a Carlos que lha beijou, sufocado; e o velho,
puxando o neto para si, pousou-lhe os lábios na testa. Depois deu dois passos para a porta, tão
lentos e incertos que Ega correu para ele.» (capítulo XVII)
As marcas trágicas
Catástrofe – desenlace
Morte de Afonso;
«Uma réstia de sol, entre os ramos grossos do cedro, batia a face morta de Afonso.» (capítulo XVII)
«– Um efeito de conclusão, de absoluto remate. É como se ela morresse, morrendo com ela todo o
passado, e agora renascesse sob outra forma. Já não é Maria Eduarda. É Madame de Trelain, uma
senhora francesa. Sob este nome, tudo o que houve fica sumido, enterrado a mil braças, findo para
sempre, sem mesmo deixar memória... Foi o efeito que me fez.» (capítulo XVIII)
Afonso da Maia
Classe social
Marcado peloelevada;
destino: suicídio do filho; incesto dos netos;
«E Nobreza
Vilaça foideencontrar
valores; Afonso na livraria, com as janelas cerradas ao lindo sol de inverno, caído para uma
poltrona, a face cavada sob os cabelos crescidos e brancos, as mãos magras e ociosas sobre os joelhos...»
(capítulo
«Parte II) rendimento ia-se-lhe por entre os dedos, esparsamente, numa caridade enternecida. Cada vez amava mais o
do seu
que é pobre e o que é fraco. Em Santa Olávia, as crianças corriam para ele, dos portais, sentindo-o acariciador e
«Tinha agora
paciente. Tudo ao certeza
que viveque
lheeles sabiam
merecia tudo.– E
amor: mesmo
e era que não
dos que nessa noiteum
pisam fugisse para Santa
formigueiro, e seOlávia, pondo
compadece daentre
sede si e
duma
Maria uma
planta.» separação
(capítulo I) tão alta como o muro dum claustro, nunca mais do espírito daqueles homens, que eram os
seus amigos melhores, sairia a memória e a dor da infâmia em que ele se despenhara. A sua vida moral estava
estragada...» (capítulo XVII)
Morte (também) por desgosto.
«– Que queres então que faça? Onde está ele? Lá metido, com essa mulher... Escusas de dizer, eu sei, mandei
espreitar... Desci a isso, mas quis acabar esta angústia... E esteve lá ontem até de manhã, está lá a dormir neste
instante... E foi para este horror que Deus me deixou viver até agora!» (capítulo XVII)
As marcas trágicas
Carlos da Maia
Classe socialdo
Semelhança elevada;
nome «Carlos Eduardo» com «Maria Eduarda»;
Distinção
«Maria intelectual;
Eduarda, Carlos Eduardo... Havia uma similitude nos seus nomes. Quem sabe se não pressagiava a
concordância dos seus destinos!» (capítulo XI)
«Carlos pensara em arranjar um vasto laboratório ali perto no bairro, com fornos para trabalhos químicos,
uma sala disposta para estudos anatómicos e fisiológicos, a sua biblioteca, os seus aparelhos, uma concentração
metódica de todosde
Semelhanças, os acordo
instrumentos de estudo...»
com Maria Eduarda,(capítulo IV) Monforte;
com Maria
«– Sabes tu com
Marcado peloquem te pareces
destino: ás do
suicídio vezes?... É extraordinário,
pai; sorte ao jogo (azar mas é verdade.
no amor); Pareces-te
foi batizado comcom
o minha mãe!» (capítulo
nome do
XIV)
último Stuart, cuja vida foi atribulada; paixão pela irmã;
«– Ah, monsieur,
Estagnação exclamou a vasta ministra da Baviera, furiosa, mefiez-vous... Vous connaissez le proverbe: heureux
sentimental.
au jeu...» (capítulo X)
«[Maria Monforte] Andava lendo uma novela de que era herói o último Stuart, o romanesco príncipe Carlos
Eduardo; […] Carlos Eduardo da Maia! Um tal nome parecia-lhe conter todo um destino de amores e façanhas.»
(capítulo II)
As marcas trágicas
Maria Eduarda
«Parecia-lhe mais linda, agora que conhecia o seu sorriso duma graça tão delicada; era cheia de inteligência,
era cheia de gosto; e a pobre velha à porta, esse doente a quem ela mandava vinho do Porto, revelavam a sua
bondade...» (capítulo XI)
«Carlos cumpria esses encargos com o fervor de ações religiosas. E nestas piedades achava-lhe semelhanças com o
avô. Como Afonso, todo o sofrimento dos animais a consternava.» (capítulo XI)
Casa de Benfica
Ramalhete
Abandono
Era nesta
Depois decasa doconcluir
que
Carlos jardim, ode
Afonso queem
vivia,
cursose
dedestacam
Lisboa, naosealtura
Medicina seus
de elementos,
em
fazer que relacionados
umaPedro
viagemeradecasado com
fim decom aMaria
cursomorte: a estátua
peloMonforte.
mundo, de Vénus nesta casa
instalou-se
com enegrecida,
o avô. a cascata seca, o cedro e o cipreste.
Retrato do bisavô de Pedro, que se suicidara numa figueira;
Referência de Vilaça à lenda segundo a qual as paredes da casa são fatais aos Maias;
«eSuicídio
o Ramalhete possuía apenas, ao fundo dum terraço de tijolo, um pobre quintal inculto, abandonado às ervas
de Pedro;
«Afonso assombrou
bravas, com Vilaçaum
um cipreste, anunciando-lhe que decidiraseca,
cedro, uma cascatazinha vir habitar o Ramalhete!
um tanque entulhado,Oeprocurador
uma estátuacompôs logo um
de mármore
relatório
(onde
«A venda adaenumerar
Monsenhor os inconvenientes
Tojeirareconheceu
fora realmente do casarão
logo aconselhada
Vénus por[…];
Citereia) e pormas
enegrecendo
Vilaça: fimnunca
aaludia mesmo
um canto
ele a uma
na lenta
aprovara lenda,
humidade
que segundo
Afonso das a qual de
ramagens
se desfizesse
eram sempre
silvestres.»
Benfica fatais
– só(capítulo
pela aosI)Maias
razão as paredes
daqueles do Ramalhete.»
muros terem visto tantos(capítulo
desgostosI)domésticos.» (capítulo I)
Toca
É o local onde se dão os encontros amorosos dos protagonistas. Trata-se de uma propriedade vendida por Craft a Carlos, que
a destina a Maria Eduarda.
A tapeçaria
O próprio nome,
dos amores
que remete
de Vénus
para eum
Marte,
local que
escondido
denuncia
e resguardado
uma relaçãodo
adúltera
olhar alheio,
e incestuosa;
evoca a temática do incesto, pois é a
«habitação» de certos animais;
«onde desmaiavam na trama de lá os amores de Vénus e Marte» (capítulo XIII)
«– Não, venho-me a acostumar a todos esses duros... Somente aquele quadro, com a cabeça, e com o sangue...
O olhar
Jesus, da coruja sobre o leito, ave esta associada à noite e à morte.
que horror!
– Reparando bem, disse Carlos, creio que é o nosso velho amigo S. João Baptista.» (capítulo XIII)
«a um canto, de cima de uma coluna de carvalho, uma enorme coruja empalhada fixava no leito de amor, com um ar
de meditação sinistra, os seus dois olhos redondos e agourentos...» (capítulo XIII)
O predomínio do dourado e do amarelo, associados quer à luxúria quer ao declínio;
«Era toda forrada, paredes e tetos, de um brocado amarelo, cor de botão de ouro;» (capítulo XIII)
As marcas trágicas
Consolida
As marcas trágicas
1. Classifica as afirmações que se seguem como verdadeiras (V) ou falsas (F). Corrige as falsas.
B O facto de haver semelhanças entre Carlos e Maria Eduarda e os familiares constitui um indício trágico.
Verdadeira
C O Sr. Guimarães pode ser entendido como o mensageiro do Destino, que tudo transformará irremediavelmente.
Verdadeira
Solução
As marcas trágicas
2. Associa cada uma das marcas trágicas da coluna A ao respetivo espaço da coluna B.
Coluna A Coluna B
D A cascata seca
Solução
A– 2 B–3 C–1 D–2 E–3
As marcas trágicas
B Carlos vive o dilema de querer vivenciar o amor que sente e de, por outro lado, não querer magoar o avô.
D O reconhecimento do parentesco existente entre os protagonistas trata implicações que determinarão o rumo da história.
Solução