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REALISMO

Séc. XIX
O QUE DEFINE O REALISMO?

Trata-se de uma estética que retira suas temáticas do


mundo real, encarado-o de maneira OBJETIVA,
FOTOGRÁFICA, DOCUMENTAL, isto é, sem a participação da
subjetividade.

Como estética literária, o REALISMO procura analisar a nova


organização social e econômica, detectando suas causas e
denunciando suas consequências.
PROJETO LITERÁRIO

Representação
da realidade que Temas de
permita interesse coletivo
Olhar mais (adultério,
denunciar racional,
aspectos opressão,
objetivo e corrupção)
negativos da crítico
sociedade

EIXO PSICOLÓGICO + EIXO SOCIAL


Realismo e Naturalismo no mundo
Romance francês:
Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert
Germinal (1881), de Émile Zola
Germinal, de Émile Zola
Gado humano
Em casa dos Maheu, no número dezesseis do segundo grupo de casas, tudo
era sossego. O único quarto do primeiro andar estava imerso nas trevas, como se
estas quisessem esmagar com seu peso o sono das pessoas que se pressentiam
lá, amontoadas, boca aberta, mortas de cansaço. Apesar do frio mordente do
exterior, o ar pesado desse quarto tinha um calor vivo, esse calor rançoso dos
dormitórios, que, mesmo asseados, cheiram a gado humano.
O cuco da sala do rés do chão deu quatro horas, mas ninguém se moveu. As
respirações fracas continuaram a soprar, acompanhadas de dois roncos sonoros.
Bruscamente, Catherine levantou-se. No seu cansaço, ela tinha, pela força do
hábito, contado as quatro badaladas que atravessaram o soalho, mas continuara
sem ânimo necessário para acordar de todo. Depois, com as pernas para fora das
cobertas, apalpou, riscou um fósforo e acendeu a vela. Mas continuou sentada, a
cabeça tão pesada que tombava nos ombros, cedendo ao desejo invencível de
voltar ao travesseiro.
Agora, a vela iluminava o quarto, o quadrado, com duas janelas,
atravancando com três camas. Havia armário, uma mesa e duas cadeiras de
nogueira velha, cujo tom enfumaçado manchava duramente as paredes pintadas
de amarelo-claro. E nada mais, a não ser roupa de uso diário pendurada em
pregos, uma moringa no chão ao lado de um alguidar vermelho que servia de
bacia. Na cama da esquerda, Zacharie, o mais velho, um rapaz de vinte e um
anos, estava deitado com o irmão, Jercharie, com quase doze anos; na da direita,
dois pequenos, Lénore e Henri, a primeira de seis anos, o segundo de quatro,
dormiam abraçados; Catherine partilhava a terceira cama com a irmã Alzire, tão
fraca para os seus nove anos, que ela nem a sentiria ao seu lado, não fosse a
corcunda que deformava as costas da pequena enferma. A porta envidraçada
estava aberta, podiam-se ver o corredor do patamar e o cubículo onde pai e mãe
ocupavam uma quarta cama, contra a qual tiveram de instalar o berço da recém-
nascida, Estelle, de apenas três meses.

1. O que o espaço revela sobre a vida dessas pessoas?


2. O narrador compara as pessoas ao quê? Tal comparação provoca qual
recepção para o leitor?
3. Que relação podemos estabelecer entre essa cena descrita e os quadros
pintados no século XIX que analisamos em aula?
Realismo no mundo
Influências: desenvolvimento industrial, desenvolvimento capitalista,
operariado.

Inglaterra: as palavras de Friedrich Engels sobre o operariado.

[...] Estas centenas de casas que pertencem à antiga Manchester já foram há muito
abandonadas pelos seus antigos moradores; somente a indústria as abarrotou com os
bandos de trabalhadores que agora são alojados ali; somente a indústria construiu em
cada pequeno espaço entre as antigas moradias um teto para as massas que ela removeu
dos campos e da Irlanda; somente a indústria permitiu, aos proprietários desses
chiqueiros, alugá-los a pessoas pro altos preços e fazê-los de moradia, explorar a pobreza
dos trabalhadores, estragar a saúde de milhares, para que eles se enriqueçam; somente a
indústria conseguiu tornar possível que o trabalhador apenas recém-libertado da servidão
pudesse outra vez ser usado como simples material, como objeto, que ele tenha que se
deixar trancar numa moradia que para qualquer outro seria péssima, e que ele, agora,
com seu dinheiro sacrificado, tenha o direito de deixar-se arruinar totalmente. Somente a
indústria fez isto, ela que, sem estes trabalhadores, sem a sua pobreza e a sua escravidão,
não poderia existir.
Novos pensamentos
Influência de novas doutrinas sociais:
ADAM SMITH (1723-1790): a economia moderna, liberalista, sem a intervenção
estatal.

THOMAS MALTHUS: o descompasso entre a produção de alimento e o


crescimento da população.

KARL MARX (1818-1883): a estrutura social e as relações de trabalho. Junto com


FRIEDRICH ENGELS (1820-1895) publicou O manifesto comunista, em 1848.

Influência de outros pensadores:


AUGUST COMTE: o Positivismo e as leis universais para o progresso.

HIPÓLITO TAINE: o determinismo do meio, da raça e do momento histórico.

CHARLES DARWIN: o evolucionismo das raças com o livro Sobre a origem das
espécies, publicado em 1859.
Realismo no Brasil:
Machado de Assis (1839-1908)
Produção literária dividida em duas tendências:
Tendência ROMÂNTICA: Tendência REALISTA:
Ressurreição (1872) Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
A mão e a luva (1874) Quincas Borba (1891)
Helena (1872) Dom Casmurro (1899)
Iaiá Garcia (1878) Esaú e Jacó (1904)
Memorial de Aires (1908)

Observação: no Brasil, Romantismo e Realismo aconteceram praticamente juntos ou, ao menos,


em um intervalo de tempo muito pequeno. Vamos lembrar a data de publicação de alguns
romances românticos:
Primeiros cantos (1846), de Gonçalves Dias
Noite na Taverna (1855), de Álvares de Azevedo
Iracema (1865) e Ubirajara (1874), de José de Alencar
Memórias de um sargento de milícias (1853), de Manuel Antônio de Almeida
Vídeo
Para responder à questão, leia os fragmentos, de Casemiro de Abreu e
Machado de Assis, respectivamente.

TEXTO A
“Oh que saudades que tenho
TEXTO B
Da aurora da minha vida,
“Com franqueza, estava arrependido de ter
Da minha infância querida
vindo. Agora que ficava preso, ardia por
Que os anos não trazem mais
andar lá fora, e recapitulava o campo e o
Que amor, que sonhos, que flores,
morro, pensava nos outros meninos vadios,
Naquelas tardes fagueiras,
o Chico Telha, o Américo, o Carlos das
A sombra das bananeiras,
Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero
Debaixo dos laranjais.
humano. Para cúmulo de desespero, vi
 
através das vidraças da escola, no claro azul
Como são belos os dias
do céu, por cima do morro do Livramento,
Do despontar da existência
um papagaio de papel, alto e largo, preso de
– Respira a alma inocência,
uma corda imensa, que bojava no ar, uma
Como perfume a flor;
coisa soberba. E eu na escola, sentado,
O mar é lago sereno,
pernas unidas, com o livro de leitura e a
O céu – um manto azulado,
gramática nos joelhos.”
O mundo – um sonho dourado,
A vida um hino d’amor!”
Considerando os textos, NÃO é correto afirmar:

a) Casimiro de Abreu, em versos regulares e melodiosos, canta romanticamente o


passado, através da idealização da infância, representada como a fase mais feliz
da vida, que só pode ser recuperada pela memória.
b) Machado de Assis, em “Conto de escola”, retrata, de modo realista, os
sentimentos do menino, que vislumbra a liberdade do mundo e é obrigado a
permanecer na sala de aula.
c) Casimiro de Abreu e Machado de Assis escrevem em primeira pessoa, buscando,
nas lembranças de infância, a matéria para a construção literária.
d) Os dois fragmentos contrapõem visões de mundo diferenciadas na recriação da
infância: para Casimiro de Abreu, ela é um “ingênuo folgar”; para Machado de
Assis, ela é falta de liberdade na escola.
e) Os fragmentos lidos tematizam a infância através das lembranças da vida
doméstica, da relação com a família e dos conflitos vividos pelas crianças.
Leia os excertos abaixo.
TEXTO B
“Pai contra mãe”, de Machado de Assis
TEXTO A:
Navio negreiro, de Castro Alves “A escravidão trouxe consigo ofícios e
aparelhos, como terá sucedido a outras
“Negras mulheres, suspendendo às tetas instituições sociais. (...) O ferro ao
Magras crianças, cujas bocas pretas pescoço era aplicado aos escravos
Rega o sangue das mães: fujões. Imagina uma coleira grossa, com
Outras moças, mas nuas e espantadas, a haste grossa também, à direita ou à
No turbilhão de espectros arrastadas, esquerda, até ao alto da cabeça e
Em ânsia e mágoa vãs! fechada atrás com chave. Pesava,
  naturalmente, mas era menos castigo
E ri-se a orquestra irônica, estridente... que sinal.”
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...”
Tomando como base os textos acima, escolha a alternativa correta:
 
(A) Castro Alves e Machado de Assis desenvolveram a temática da escravidão e
ambos são escritores exemplares do Romantismo tradicional.
(B) O eu lírico do poema e o narrador do conto constroem uma atmosfera de
mal-estar e opressão, referindo-se aos aspectos cruéis da escravidão. Outro
exemplo do tema na obra de Machado de Assis é o conto O Caso da Vara.
(C) O chicote e o ferro ao pescoço eram usados, apenas, quando os escravos
fugiam.
(D) No primeiro trecho, os versos “Magras crianças, cujas bocas pretas / Rega o
sangue das mães” indicam a condenação da escravidão; no segundo trecho,
por sua vez, a frase “Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal”
indica sua deliberada aceitação.
(E) Os dois excertos pertencem ao gênero lírico, o qual traz como característica o
uso de versos, da rima e a presença da subjetividade.

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