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Urubus e sabiás - Rubem Alves

(1)Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza
becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar
grandes cantores. (3) E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram
imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão
para mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada
urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa
Excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta
foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás...
(7) Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários
para um inquérito.

(8)— Onde estão os documentos dos seus concursos? (9) E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca
haviam imaginado que tais coisas houvessem. (10) Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera
com elas. (11) E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

(12) — Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.

(13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...

(14) MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá.

O texto acima foi extraído do livro "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica
— São Paulo, 1995, pág. 81.

Os mecanismos de coesão são cinco:

1. Referência (pessoal, demonstrativa, comparativa).


2. Substituição (nominal, verbal, frasal).
3. Elipse (nominal, verbal, frasal).
4. Conjunção (aditiva, adversativa, causal, temporal, etc.).
5. Lexical: repetição, sinonímia, uso de nomes genéricos, etc.).

1. Elementos de referência não podem ser interpretados semanticamente por si mesmos, mas remetem a outros itens
que podem ser interpretados. Ainda, a referência pode ser situacional (Fora do texto) ou textual (dentro do texto).

Você não se arrependerá de ter lido este anúncio. (exofórica)

Paulo e José são excelentes advogados. Eles se formaram na Academia do Largo de São Francisco. (referência
pessoal anafórica).

Quando ela começou a me contar o que houve, percebi que ela falava de si apenas, a humilde Cristina. (referência
pessoal catafórica)

Maria amava João que amava Cristina que amava José.

2. A substituição consiste na troca de um elemento (ou mais) por outro.

José comprou um carro, e João também.

Em seu livro, Koch explica os conceitos da Linguística textual. A autora o faz muito bem.

3. A elipse é a substituição por zero, em que se omite um termo (ou mais) que é facilmente recuperável pelo contexto.
João vai conosco para a festa?

Ø Vai Ø

4. A conjunção permite estabelecer relações significativas específicas entre partes do texto. Fazem parte desse
mecanismo diversos tipos de conectores e partículas de ligação.

Maria não foi para a escola. Estava doente.

Maria não foi para a escola, pois estava doente.

5. A coesão lexical consiste no uso de termos do mesmo campo semântico.

Houve um grande acidente na estrada. Várias ambulâncias transportaram os feridos para os hospitais mais
próximos.

➢ A referenciação e a sequenciação são também formas de progressão textual.

Responda em um parágrafo (fique atento à estrutura do parágrafo): Qual a importância e a utilidade dos
elementos de coesão de um texto?

Atividade 1: Como ficaria esse poema sem o uso de recursos fóricos?

Quadrilha – Carlos Drumond de Andrade.

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim
suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

Texto disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/Mzk0MDY/

Atividade 2: a) Reconstrua o texto abaixo, substituindo o nome Gisele por pronomes e substantivos, dando sentido ao
texto de forma que ele fique coeso e não repetitivo.

Você pode até duvidar do que vê, mas é Gisele. Gisele Bündchen, uma das mulheres mais lindas do mundo.
Gisele é a mais bem paga de todos os tempos, uma das maiores celebridades do momento, Gisele tem sempre um
batalhão de fotógrafos, produtores e fãs correndo atrás de Gisele. De repente Gisele está inteiramente à vontade,
descascando mandiocas no meio das índias do Xingu. Contudo, no que diz respeito à beleza, Gisele não fez muito
sucesso entre os índios do Xingu. Gisele foi considerada magrinha demais (...) Apesar de linda com trancinhas no cabelo,
pés descalços e pintura no rosto, no estilo dos habitantes do local, Gisele não foi vista como um bom partido. O galã
DiCaprio também não causou furor na selva. O astro foi considerado “tão branco que ele parecia doente”.

b) Agora, destaque os elementos de coesão e referenciação que fazem menção a qualquer outro elemento
do texto, ex.: à Di Caprio, à Gisele etc. Use cores diferentes para essas marcações e crie uma tabela de referência
para as cores utilizadas.

Atividade 3:

1. Observe como os períodos do texto são construídos, e reconstrua-o utilizando os diferentes mecanismos de coesão.

Aprendemos a matéria hoje. A matéria faz parte do conteúdo de gramática. Você já estudou o conteúdo de gramática.
Mas, mesmo assim, você precisa prestar atenção ao conteúdo. Prestar atenção ao conteúdo é preciso. A professora ensina
gramática. A professora vai continuar explicando sobre isso amanhã. Afinal, este é um conteúdo da gramática.
Precisaremos deste conteúdo de gramática posteriormente

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