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Angústia, Graciliano Ramos - 1936

Movimento literário:
Primeira geração: 1922-1930.
Segunda geração: 1930-1945

Transição:
revoltas e conflitos contra a política brasileira e a crise
econômica de 1929.
Revolução dos 30
Deposição de Getúlio Vargas
2ª Guerra mundial
Romances: mazelas sociais, voltados para o homem humilde e
injustiçado. Caráter regional, urbano e psicológico
Poesia: temas sociais. Período de reflexão da crise e da pobreza

Lembrando... 2ª fase do Modernismo

Universo temático ampliou => Destino dos homens e sua


presença no mundo (Prosa)
Crítica social, regionalismo, denúncia e reflexão
Sentimento humano, existencialismo e o posicionamento em
relação ao mundo (Poesia)
Literatura dos 30/ Geração dos 30 => Madura, crítica, popular,
racional, politizada, introspectiva e espiritual.
Autores: Carlos Drummond de Andrade; Cecília Meireles; Vinicius de
Moraes; Murilo Mendes; Jorge de Lima; Rachel de Queiroz; Graciliano
Ramos; José Lins do Rego- Jorge Amado; Erico Verissimo

Características: Influência do realismo ; Nacionalismo, universalismo


e regionalismo; Realidade social, cultural e econômica; Valorização
da cultura brasileira; Influência da psicanálise de Freud; Temática
cotidiana e linguagem coloquial; Uso de versos livres e brancos.

Graciliano Ramos
Nasceu no dia 27 de outubro de 1892 na cidade
de Quebrângulo, no estado do Alagoas, foi o
primogênito dentre quinze filhos de uma família
de classe média, assim, teve o privilégio de
estudar.
Sua residência e vivência do sertão nordestino o inspiraram. Concluiu
seus estudos na capital alagoana, sem cursar o ensino superior.
As atividades literárias de Graciliano Ramos têm início em 1904,
quando publica seu primeiro conto no jornal do internato, intitulado “O
pequeno pedinte”.
Em 1906, Graciliano começa a publicar sonetos na revista carioca O
Malho, utilizando o pseudônimo Feliciano de Oliveira.
Em 1910, passa a ser colaborador do Jornal de Alagoas, também
assinando com pseudônimos, e muda-se para Palmeira dos Índios (AL).
Graciliano Ramos embarca, em 1914, para o Rio de Janeiro, então capital
federal, para dar continuidade à carreira de jornalista, mas a morte de
três dos seus irmãos, no ano seguinte, leva-o de volta a Palmeira dos
Índios, onde passa a trabalhar no comércio e casa-se com Maria Augusta
Barros, com quem teve quatro filhos até enviuvar, em 1920.
Em 1927, é eleito prefeito de Palmeira dos Índios, e no ano seguinte
conclui seu primeiro romance, mesmo ano em que se casa novamente.
Em 1930 renuncia à prefeitura para assumir a diretoria da Imprensa
Oficial de Alagoas, em Maceió, quando estabelece contato com outros
escritores, como Rachel de Queiroz, Jorge Amado e José Lins do Rego. Em
1933, assume o cargo de diretor da Instrução Pública de Alagoas.
Em 1933, o romance ‘Caetés’ é lançado. Em sequência, ‘São Bernardo’ e’
Angústia’, de 1934 e 1936, são publicados, respectivamente.
Por consequência das operações do Governo Constitucional de Getúlio
Vargas, Graciliano Ramos é preso em 1936, sob a acusação de ser
comunista. Permanece encarcerado e refém das mais diversas
humilhações e injúrias por quase um ano até ser inocentado por falta de
provas, período que serviu de inspiração para o romance autobiográfico
Memórias do cárcere, de publicação póstuma.
No mesmo ano de publicação de Memórias do Cárcere, o célebre
romance Vidas Secas é escrito e publicado. É considerada como a obra
mais importante de Graciliano Ramos. O livro se torna um romance
atemporal que retrata a dura vida no sertão nordestino.
Depois de liberto, fixa residência no Rio de Janeiro, onde assume novo
cargo público, em 1939, desta vez como Inspetor Federal Secundário.
Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945 e dedica-se à
literatura até sua morte, em 1953, vítima de um câncer de pulmão
Características:
Identidade nacional;
Forte destaque de características pontuais que cercavam o contexto vivido no
nordeste brasileiro;
Prosa firme e crítica;
Humanização de personagens não-humanos, como a personagem Baleia,
em Vidas Secas;
Em um primeiro momento, Graciliano dá mais voz às relações humanas, em
segundo momento às paisagens retratadas;
Em Vidas Secas, por exemplo, o autor
nomina apenas uma personagem,
que, no caso, era o animal de
estimação da família;
Suas análises psicológicas precisam
ser destacadas. A relação do narrador
com as personagens num âmbito muito
mais metafísico é uma forte
característica de Graciliano;
Estilo direto e simples;
Grande parte de seus relatos colocam o
sertão como o palco de conflito entre o
homem comum e os poderosos de
classes privilegiadas. Sua preocupação
com os problemas populares também
estão marcados em importantes traços
em suas obras.

Resumo
Luís da Silva, protagonista do romance, veio do
interior (mundo rural) para a capital. Ele é um
anônimo qualquer na cidade. Em seu cotidiano
medíocre (segundo o relato do mesmo), escreve
para o jornal o que lhe pedem, atendendo a
encomendas, de forma quase robótica. Ele se
considera um intelectual fracassado num
mundo sem lugar na prateleira de heróis: vive
mediocremente, engaveta escritos, não progride https://professordiegodelpas
so.files.wordpress.com/2016
nem em sua vida profissional, carregando o /05/graciliano-ramos-
fardo de ser um reles funcionário público, nem angustia1.pdf
em sua vida afetiva, mantendo um noivado
prolongado pela falta de condições para a
efetivação do casamento.
O conflito da história acontece devido ao triângulo amoroso entre
Marina(noiva), Luís da Silva e Julião Tavares. A partir dessas
relações, outras discussões são levantadas, como as questões sociais e
políticas que perpassam toda a obra.
Inserido num mundo onde a voz do dinheiro fala mais alto, afunda-se em
dívidas, aluguéis atrasados e empréstimos tomados no intuito de agradar a
amada, Marina. Ele a pede em casamento mas ela o deixa por outro mais bem
sucedido, Julião Tavares. Este sim, filho de comerciantes bem sucedidos,
audacioso e competente na arte de ganhar dinheiro. Julião Tavares possui
cacife para comprar Marina com todas as ditas que ela deseja: jóias, sedas, idas
ao cinema e ao teatro. Isso remete aos pensamentos sobre o quanto as
pessoas podem ser materialistas e volúveis, temática muito utilizada por
Graciliano Ramos em seus livros.
Dentro do enredo, também há uma competição entre Luís e Julião. Julião
nasceu em um berço de ouro e usa seu dinheiro e posição social para
conquistar as mulheres. Já Luís vive de favor na casa dos outros, chega a pedir
esmolas, se torna funcionário público e está cheio de dívidas, além de ser
desprezado por sua noiva, Marina.
Luís nunca teve regalias. Contudo, viu sua vida mudar quando passou em um
concurso, começou a trabalhar na Diretoria do Tesouro Público de Maceió e
a escrever artigos encomendados por veículos de comunicação da cidade.
Diante desse contexto, Luís se torna amargurado e ressentido, atormentado
pelas lembranças de seu passado triste e miserável. Aproveitando-se da
situação, Julião Tavares, homem rico e simpático, conquista Marina, a amada de
Luís.
Marina se envolve com Tavares, encantada pela vida que poderia ter ao lado de
um homem rico, e desmancha seu noivado com o Luís sem lhe dar qualquer
explicação razoável. Assim, os sentimentos de vingança e decepção só
aumentam no coração do jovem traído.
Luís da Silva se vê impossibilitado de conviver com sua rotina desmotivada e
sem novidades. Passa a conviver com um crescente ciúme que,
gradativamente, o impele ao crime. Nesse clima de angústia, registrado
magistralmente pela pena de Graciliano coincidem prisões interiores,
marcadas pela vivência pessoal do personagem narrador e o mal-estar de
sobreviver em uma sociedade da qual se sente expelido.
Luís acompanha a vida de Marina, seguindo-a feito uma sombra,
principalmente depois que Julião Tavares a abandona grávida. O ódio a Julião
cresce de forma arrasadora, semeando a idéia de que só a morte iria dar fim
aquele suplício: neste caso, a morte de Julião Tavares, que representa tudo
aquilo que ele não podia ser, e com isso, surgindo como uma grande
ameaça.
Oprimido pelos acontecimentos, Luís da Silva persegue seu rival, que
andava às voltas com nova amante.Gradativamente amplia-se seu
drama interior, sente-se metade, diminuído diante da prepotência de
Julião Tavares e, enquanto a angústia o alucina, não tem condições
de raciocinar claramente, mas percebe que não há outra saída a
não ser o crime.
Há neste momento da narrativa um processo de construção
interessante do narrador personagem Luís da Silva, que se vê no
momento do assassinato como o seu instante de auto-estima, de
realização pessoal, tornando-se o herói do seu próprio relato. É
nesse contexto que Graciliano constrói a saga do protagonista de
Angústia, construído de forma diferente dos apresentados em outras
narrativas como São Bernardo e Caetés.
Luís, por uma questão de honra, começa a planejar
minunciosamente morte de Tavares. Um dia, Luís o enforca e
modifica a cena do crime para parecer um suicídio.
O próprio assassino confessa e narra detalhadamente o acontecido.
Luís matou Tavares não só por causa de Marina, mas também por
representar tudo que ele não poderia ser. Por isso, esse ato foi
encarado como uma libertação não apenas do rival, mas também
das decepções acumuladas durante a sua vida.
Nas últimas páginas do romance, após ter cometido o crime, Luís da
Silva imerge em uma angustiante crise psicológica que o
comprime e faz dele um ser alucinado e preso a um mundo em
que as portas se fecham e não existem saídas. No romance, temos
o efeito de circularidade também encontrado com maestria em
Vidas Secas: a história encerra justamente como começou, numa
narrativa circular, portanto, diferente do encontrado na trajetória de
Fabiano e sua família, apresentada de forma circular através de
quadros, de contos distintos.
No caso de Angústia, temos o fluxo de consciência, possibilitando o
narrador pensar aleatoriamente, indo e vindo de forma não
ordenada.

"Está aí uma história que narro com satisfação a Moisés. Ouve-me desatento.
O que lhe interessa na minha terra é o sofrimento da multidão, a tragédia
periódica das secas. Procuro recordar-me dos verões sertanejos, que duram
anos. A lembrança chega misturada com episódios agarrados aqui e ali, em
De resto a dor dos flagelados naquele tempo não me fazia mossa. Penso
em coisas percebidas vagamente: o gado, escuro de carrapatos, roendo a
madeira do curral; o cavalo de fábrica, lazarento e com esparavões; bodes
definhando na morrinha; o carro de bois apodrecendo; na catinga parda,
manchas brancas de ossadas e voo negro dos urubus. Tento lembrar-me
de uma dor humana. As leituras auxiliam-me, atiçam-me o sentimento. Mas
a verdade é que o pessoal da nossa casa sofria pouco. Trajano Pereira de
Aquino Cavalcante e Silva caducava; meu pai vivia preocupado com os doze
pares de França; sinha Germana tinha morrido; Quitéria, coitada, era bruta
demais e por isso insensível. Os outros moradores da fazenda, as criaturas
que viviam em ranchos de palha construídos nas ribanceiras do Ipanema,
não se queixavam. José Baía falava baixo e ria sempre. Sinha Terta rezava
novenas e fazia partos pela vizinhança. Amaro vaqueiro alimentava-se, nas
secas, com sementes de mucunã lavadas em sete águas, raiz de imbu,
miolo de xiquexique, e de tempos a tempos furtava uma cabra no
chiqueiro e atirava a culpa à suçuarana. Dores só as minhas, mas estas
vieram depois."

Análise
A obra é narrada em 1 ª pessoa, pelo próprio Luís da
Silva, e se destaca pelos diálogos interiores do
protagonista. Os sentimentos de Luís são tão
envolventes que o leitor também fica angustiado
com as situações vividas pelo personagem.

https://resumoporcapi
tulo.com.br/angustia/

A narrativa de Angústia traz total estranhamento em seu primeiro


contato: é um romance que requer bastante atenção e cautela do leitor,
visto que há fluxo de consciência em boa parte da história, além das
diversas temáticas existentes na trama, que passeiam desde o
existencialismo aos constantes símbolos, e concomitantemente,
abrindo espaço para uma narrativa primorosamente cinematográfica.
Alguns dados são de fundamental importância para entendimento maior
do romance Angústia. A primeira delas é o existencialismo, uma
corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a
responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo
considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus
atos e do seu destino.
O romance é narrado em tom confessional e memorialista, e por fins
didáticos, alguns críticos atribuem-lhe um lugar na trilogia densa e
fortemente existencialista, completada por Caetés (1933) e São Bernardo
(1938). O três romances, narrados em primeira pessoa, apresentam
personagens num intenso conflito, buscando respostas para seus
atos, indagando o porquê dos acontecimentos que os afligem. Tais
narrativas são semelhantes a diários íntimos. Em cada um deles, o
narrador se desnuda e se desvenda, expondo as dolorosas confissões
de culpas dramáticas.
Baseado em pesquisas, podemos dizer que o fluxo de consciência é uma
técnica literária introduzida por James Joyce, em que o monólogo
interior de um ou mais personagens é transcrito. Nesta técnica, a
narrativa apresenta-se como um fluxo de consciência que intercepta
presente e passado, quebrando os limites espaço-temporais. No
fluxo de consciência há uma quebra da narrativa linear, onde já não é
tão claro distinguir entre as lembranças da personagem e a situação
presentemente narrada. Na literatura brasileira, merece destaque a
obra de Clarice Lispector e Graciliano Ramos (especialmente em
Angústia).
Simbologia no romance de Graciliano Ramos: a corda, a cobra e os
ratos: Há alguns símbolos citados com freqüência no romance, como a
corda, a cobra e os ratos. De acordo com pesquisas no dicionário de
símbolos literários, a cobra, além de apresentar o fálico, um constante
confronto pessoal do personagem protagonista, vai ainda
representar a falsidade (Julião Tavares?). A corda, assim como a
cobra, representa de certa forma o fálico, portanto, fornece também
uma idéia de busca da redenção, salvação. Os ratos a sujeira que o
personagem enxerga à sua volta e a já citada necessidade de uso da
água, para lavar a sujeira que lhe toma.
A angústia é o nome da obra porque é o eixo central da narrativa, tudo
vem e volta para esse sentimento. Por isso, o foco narrativo do romance
é o monólogo interior.
Mesmo sendo regionalista, pode ser considerado um romance urbano
pelo espaço narrativo da cidade de Maceió, capital de Alagoas. No
entanto, como o fio condutor é o interior de Luís, ora descreve o
presente em Maceió, ora volta-se para seu passado rural.
No livro de Graciliano Ramos pode-se perceber através da oposição
entre a narração de Luís da Silva e a crítica à Julião Tavares a
concepção da literatura para o autor. A metalinguagem existente
dentro do romance prega a eliminação ou depreciação de uma
retórica ornamental, “fofa”, além de instigar uma reflexão
permanente sobre o próprio fazer literário. Nesse sentido, para
Bulhões:

"trata-se de uma atitude desmistificadora da linguagem estereotipada,


beletrista, vinculada ao movimento ideológico que consiste em substituir a
realidade dos fatos vivos por uma apoteose verbal. Não basta a recusa do estilo
derramado, dos clichês e dos recursos “embelezadores” do texto – tão em voga
na produção literária de seus contemporâneos –, mas o que essa negação
possibilita em termos de explicitação do ideológico. Não interessa ao escritor
apenas evidenciar uma oposição às formas estereotipadas, a utilização
ideológica subjacente a essas formas. Desse modo, parece haver uma
incorporação às avessas da linguagem estereotipada para a discussão no seio
ideológico, o que se dá, inclusive, pela paródia "(BULHÕES, 1999, p.161).

Outro exemplo desta recorrência ao passado, para viver nas suas


sensações, ocorre no início do livro quando ele não aguentando mais
as pessoas com quem tem que conviver se refugia na infância:

"Rua do comércio. Lá estão os grupos que me desgostam. Conto as pessoas


conhecidas: quase sempre até os Martírios encontro umas vinte. Distraio-me,
esqueço Marina, que algumas ruas apenas separam de mim. Afasto-me outra
vez da realidade, mas agora não vejo os navios, a recordação da cidade grande
desapareceu completamente. O bonde roda para oeste, dirige-se ao interior.
Tenho a impressão de que ele me vai levar ao meu município sertanejo. E nem
percebo os casebres miseráveis que trepam o morro, à direita, os palacetes que
têm os pés na lama, junto ao mangue, à esquerda. Quanto mais me aproximo
do Bebedouro mais remoço. Marina, Julião Tavares, as aponquetações que
tenho experimentado estes últimos tempos, nunca existiram.
Volto a ser criança, revejo a figura do meu avô, Trajano Pereira de Aquino
Cavalcante e Silva, que alcancei velhíssimo." (A, p.12/13. Grifo nosso).
(Enem 2007)
Texto I
"Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a família. Vivia preso
como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um
soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao
pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os
meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um
patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo."
(Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.)
Texto II
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução
fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando com
o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando
uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que
narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate
acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a
despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano
de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente
complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla
a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente
capazes. (Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001,
p. 254.)

No texto II, verifica-se que o autor utiliza


a) linguagem predominantemente formal para problematizar, na composição de Vidas
Secas, a relação entre o escritor e o personagem popular.
b) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a linguagem formal, dirige-se
diretamente ao leitor.
c) linguagem coloquial para narrar coerentemente uma história que apresenta o roceiro
pobre de forma pitoresca.
d) linguagem formal com recursos retóricos próprios do texto literário em prosa para
analisar determinado momento da literatura brasileira.
e) linguagem regionalista para transmitir informações sobre literatura, valendo-se de
coloquialismo para facilitar o entendimento do texto.

Alternativa A
Romance da Inconfidência, Cecília Meireles - 1953

Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio
de Janeiro em 1901. Perdeu o pai poucos meses antes
de seu nascimento e a mãe logo depois de completar 3
anos. Foi criada por sua avó materna, a portuguesa
Jacinta Garcia Benevides.

Cecília Meireles fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das
mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção.
Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de janeiro. Estudou música
e línguas. Passou a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro.
Em 1919, Cecília Meireles lançou seu primeiro livro de poemas, "Espectros" com 17
sonetos de temas históricos. Em 1922, casa-se com o artista plástico português
Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas.
Cecília Meireles estudou literatura, folclore e teoria educacional. Colaborou na
imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931
e publicou vários artigos sobre educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca
infantil no Rio de Janeiro. O interesse de Cecília pela educação se transformou em
livros didáticos e poemas infantis.
Ainda em 1934, a convite do governo português, Cecília viaja para Portugal, onde
profere conferências divulgando a literatura e o folclore brasileiros. Em 1935 morre
seu marido.
Entre 1936 e 1938, Cecília lecionou Literatura Luso-Brasileira na Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Em 1938, o livro de poemas “Viagem” recebe o Prêmio de
Poesia, da Academia Brasileira de Letras. Em 1940 casa-se com o professor e
engenheiro agrônomo Heitor Grilo.
Nesse mesmo ano, Cecília leciona Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do
Texas. Profere conferência sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra. Publica
em Lisboa o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.
Em 1942 torna-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de
Janeiro. Realiza várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo
conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Pelo trabalho realizado na literatura ela recebeu diversos prêmios, dos quais se
destacam:
Prêmio de Poesia Olavo Bilac
Prêmio Jabuti
Prêmio Machado de Assis
Em 1953, Cecília Meireles foi agraciada com o título de “Doutora Honoris Causa”
pela Universidade de Déli, na Índia.
Além disso, realizou palestras e conferências sobre educação, literatura brasileira,
teoria literária e folclore, em diversos países do mundo.
Cecília morreu em 1964.
No Chile, foi inaugurada a “Biblioteca Cecília Meireles” em 1964 na província de
Valparaíso.

Características da obra de Cecília Meireles


Cecília Meireles não gostava de ser chamada de poetisa, mas de poeta. Dizia não
ver necessidade de ‘‘sexualizar pessoas tão pouco concretas quanto os poetas”.
Cecília Meireles é tradicionalmente classificada como uma autora modernista, mais
especificamente da 2ª fase do movimento, mas sua obra apresenta influências
simbolistas, românticas e parnasianas.
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua
poesia, de modo geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso,
suas publicações iniciais evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo, reúnem
religiosidade, desespero e individualismo. Há misticismo no campo da solidão, mas
existe a consciência de seus dons e seu destino:
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
-Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."

O uso frequente de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o


espaço, a solidão e a música confirmam a inclinação neossimbolista:

Das Palavras Aéreas

Ai, palavras, ai, palavras,


que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma! (...)

Somente com o livro Viagem (1939) é que Cecília Meireles ingressa no espírito
poético da escola modernista. A poetisa foi cuidadosa com a seleção vocabular e
teve forte inclinação para a musicalidade (traço associado ao Simbolismo), para o
verso curto e para os paralelismos, a exemplo dos versos das poesia medieval
portuguesa:

Música

Noite perdida
Não te lamento:
embarco a vida

No pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,

Puro e sem nada,


- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida (...)
Poesia Reflexiva
Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que abordou temas
como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito e a natureza. Cecília foi
uma escritora intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a
partir das próprias experiências. Uma série de cinco poemas, todos intitulados Motivo
da Rosa, da obra “Mar Absoluto”, abordam o tema da efemeridade do tempo:

1º. Motivo da Rosa

Vejo-te em seda e nácar,


e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil. (...)

Poesia Histórica
A obra máxima de Cecília Meireles foi o poema épico-lírico Romanceiro da
Inconfidência, onde se encontram os maiores valores de sua poética. Trata-se de uma
narrativa rimada, escrita em homenagem aos heróis que lutaram e morreram pela
Pátria:

Romanceiro da Inconfidência

Atrás de portas fechadas,


à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio...”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam...”
Liberdade, Ainda que Tarde, (...)
Resumo/ Análise
Em 1789, inspirados pelas ideias iluministas europeias
e pela independência dos Estados Unidos, alguns
homens tentam organizar um movimento para libertar
a colônia brasileira de sua metrópole portuguesa.
Uma pesada carga tributária sobre o ouro extraído das
Minas Gerais deixava os que viviam dessa renda cada
vez mais descontentes.
Assim, donos de minas, profissionais liberais – entre os
quais alguns poetas árcades – e outros começaram a
conspirar contra Portugal.
Contudo, o movimento é delatado e os envolvidos, https://cdn-cms.f-
presos. Alguns são condenados ao exílio, e o único a static.net/uploads/2972482/nor
mal_5e2e250313a65.pdf
ser executado, na forca, é Tiradentes, em 21 de abril de
1792.
Fruto de longa pesquisa histórica, Romanceiro da Inconfidência é, para muitos, a
principal obra de Cecília Meireles. Nesse livro, por meio de uma hábil síntese entre o
dramático, o épico e o lírico, há um retrato da sociedade de Minas Gerais do século
XVIII, principalmente dos personagens envolvidos na Inconfidência Mineira,
abortada pela traição de Joaquim Silvério dos Reis, o que culminou na execução de
Tiradentes.
Nessa obra, Cecília Meireles utiliza-se, pela primeira vez, da temática social, de
interesse histórico e nacional, enfatizando a luta pela liberdade. Sem aprofundadas
reflexões filosóficas, mas com muita sensibilidade, a autora dá uma visão mais
humana dos protagonistas daquele que foi o primeiro grande movimento de
emancipação do Brasil: a Inconfidência Mineira.
Como se trata de um fato histórico, e dos mais importantes, a autora tem o cuidado
de não se limitar a relatá-lo em versos, mas procura recriá-lo por meio da
imaginação.
A gênese da obra ocorreu, de acordo com depoimento da escritora, quando foi pela
primeira vez à cidade de Ouro Preto (ex-Vila Rica), local onde se organizou o
movimento de Tiradentes e seus companheiros.
Cecília afirmou: “Todo o presente emudeceu, como plateia humilde, e os antigos
atores tomaram suas posições no palco. Vim com o modesto propósito jornalístico
de descrever as comemorações de uma Semana Santa; porém os homens de
outrora misturaram-se às figuras eternas dos andores; (…) na procissão dos vivos
caminhava uma procissão de fantasmas (…). Era, na verdade, a última Semana Santa
dos inconfidentes: a do ano de 1789”.
O gênero romanceiro é uma coleção de poesias ou canções de caráter popular. De
tradição ibérica, surgiu na Idade Média e é, em geral, uma narrativa com um tema
central. Cada parte tem o nome de romance – que não deve ser confundido com a
denominação do atual gênero em prosa, destinados ao canto e transmitidos
oralmente por trovadores e que permaneceram na memória coletiva popular.
Expressão poética específica do passado ibérico: saída técnica para dar maior
autenticidade e força evocativa ao episódio histórico.
Seus autores, em regra geral, ficaram anônimos. Os romanceiros eram conhecidos
na Espanha e em Portugal desde o século XV e tinham várias funções: informação,
diversão, estímulo agrícola, doutrinamento político e religioso.
Inspirada por uma visita a Ouro Preto, Cecília Meireles compôs esse poema de
temática social, que evoca a luta pela liberdade no Brasil do século XVIII e incorpora
elementos dramáticos, épicos e líricos.
No Romanceiro, o elemento histórico é bastante forte, como já citado. Contudo, o
que a autora tenta recuperar é menos os fatos históricos em si, e mais o ambiente e
as sensações envolvidas na revolta. Assim, cada elemento histórico adquire um valor
simbólico: a busca do ouro representa a ambição e a cobiça; a conspiração esconde
a esperança e o fracasso; as prisões dos envolvidos são focalizadas como situações
de medo; o degredo é visto como momento de perda e saudade; e as punições finais
mostram todo o desengano da derrota política.
A razão é que o Romanceiro não poucas vezes avança ou faz regredir uma
perspectiva. Além disso, há poemas transitórios, feitos de considerações de
momento, verdadeiros parênteses ou interpolações do poeta (alguns desses poemas
não recebem o título de "romance"). De qualquer forma, é possível ver-se um plano
geral de composição, que resumimos da seguinte maneira:
Há três estruturas que se alternam no poema:
1. Romances – a obra apresenta-se estruturada em 85 romances, além de outros
poemas, como os que retratam os cenários. Total de 95 textos. Em sua composição,
é utilizada principalmente a medida velha, ou seja, a redondilha menor, verso de
cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e, predominantemente, a redondilha maior,
verso de sete sílabas (heptassílabo), além de versos mais curtos, tercetos, quadras,
sextilhas, refrões e versos decassílabos. Os romances não são dispostos na
seqüência cronológica dos acontecimentos; ora aparecem isolados, ora constituem-
se em verdadeiros ciclos (o de Chica da Silva, o do Alferes, o de Gonzaga, o da Morte
de Tiradentes, o de Gonzaga no exílio, o de Bárbara Heliodora, o da Rainha D. Maria);
2. Cenários- situam os ambientes, marcando as mudanças de atmosfera e localizando
os acontecimentos: Imaginária serenata e Retrato de Marília.
3. Falas – representam uma intervenção do poeta-narrador, tecendo comentários e
levando o leitor à reflexão dos fatos referidos: Fala inicial, uma Fala à antiga Vila Rica,
uma Fala aos pusilânimes, uma Fala à comarca do Rio das Mortes e pela Fala aos
inconfidentes mortos.
Nessa obra de Cecília Meireles, há 85 romances, além de outros poemas, como os que
retratam os cenários. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha,
ou seja, a redondilha menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e,
predominantemente, a redondilha maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), como
ocorre na “Fala Inicial”:

Não posso mover meus passos


por esse atroz labirinto
de esquecimento e cegueira
em que amores e ódios vão:
(…)
No entanto, deve-se observar que, por ser uma autora moderna, Cecília não se
prende totalmente a esse modelo. Vale-se, também, de versos mais curtos, de quatro
sílabas (como em “Fala aos Inconfidentes Mortos”), e os mais longos, como os
decassílabos em “Cenário”.
Quanto às rimas, a autora utiliza as chamadas imperfeitas (terminações de versos
semelhantes), como se pode observar no Romance XIII:

Eis que chega ao Serro Frio,


à terra dos diamantes,
o Conde de Valadares,
fidalgo de nome e sangue,
José Luís de Meneses
de Castelo Branco e Abranches.
Ordens traz do grão Ministro
de perseguir João Fernandes.
(…)
A escritora faz uso, ainda, de rimas perfeitas (terminação em sons vocálicos e
consonantais idênticos), tal como no Romance VI:

Já se preparam as festas
para os famosos noivados
que entre Portugal e Espanha
breve serão celebrados.
Ai, quantas cartas e acordos
redigidos e assinados!
(…)
1. Ambiente e Contexto (romances I-XXIII)
Caracterização do boom minerador, seu papel social e histórico, suas figuras
humanas e sociais, suas crenças e expectativas.
Elementos ligados à tradição lendária (o caçador que se embrenha na mata, o
caso da donzela assassinada pelo próprio pai, o cantar do negro nas catas, a que
se podem associar os romances Do Chico-Rei e o De Vira-e-Sai) ou à tradição
histórica (a troca dos o fim de Ouro Podre, o requesto promovido pelo ouvidor
Bacelar, a provocante história de Chica da Silva, amante de João Fernandes, a
cobiça do conde de Valadares, que desgraçou a ambos, o adensar-se da ambição
de posse e das idéias de libertação, mais pronunciado nos três últimos romances
desta primeira parte.
De qualquer forma, toda esta primeira parte está governada por um princípio de
reorganização lendária e folclórica da realidade histórica, com intensa
participação da atmosfera de estribilho popular (dialogismo, provérbios,
exclamações) e sugestão de coral trágico a que já fizemos referência.

2. Articulação e fracasso (romances XXI V-XL VH)


Começa propriamente a articulação do movimento rebelde contra a opressão
lusitana:

Atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, uns sugerem, uns recusam, uns ouvem,
uns aconselham. Se a derrama for lançada, há levante com certeza. Corre-se por essas
ruas? Corta-se alguma cabeça? Do cimo de alguma escada, profere-se alguma arenga?
Que bandeira se desdobra? Com que figura ou legenda? Coisas da maçonaria, do
Paganismo ou da Igrefa? A Santíssima Trindade? Um gênio a quebrar algemas?
(Romance XXIV ou Da Bandeira da Inconfidência.)

O clima de terror começa com a chegada de uma carta misteriosa e ameaçadora:

Veio uma carta de longe.


O que dizia não sei.
Há calúnias, há suspeitas...
(Vede as lanelas fechadas!
Confabulam! Querem Rei!)
(Romance XXV ou Do Aviso Anônimo.)
Não obstante, toma vulto a agitação preparatória do movimento, a fermentação das
idéias liberais, a atividade incansável de Tiradentes, a carta-denúncia de Joaquim
Silvério, e a repressão do governo central, com a prisão dos principais envolvidos.
Poetização da figura de Tiradentes (a fala dos velhos, a ironia dos tropeiros, a
predição do cigano, o mistério dos seguidores encapuzados, as testemunhas, os
delatores — estes últimos são especialmente focalizados pela indignação do poeta).
3. Morte de Cláudio e Tiradentes (romances XLVIII-LXIV)

As circunstâncias misteriosas em que se deu a morte de Cláudio Manuel da Costa servem de


substância para a divagação de Cecilia Meireles. A morte de Tiradentes, por sua vez, é antecipada
nas palavras do carcereiro. Focaliza-se também a Tomás Antonio Gonzaga, suas angústias e
expectativas de prisioneiro, seus sonhos, suas fracassadas tentativas de se libertar por meios
judiciários. Essa parte culmina com o momento verdadeiramente trágico de Tiradentes: seus passos
de condenado rumando à forca, a indiferença ou o contentamento de uma parte da população, etc.

4. A infelicidade de Gonzaga e de Alvarenga Peixoto (romances LXV-LXXX)

Esta parte se abre com um panorama do ambiente em que Gonzaga vivera e se tornara magistrado
e poeta de prestígio. Depois, vem caindo sobre ele a ironia trágica, representada nas murmurações
e desconfianças, na precipitação do desterro (degredo para África), e, portanto, na perda daquela
Manha bela que ele cantara como Dirceu apaixonado.
Há também uma oposição amarga entre o retrato de Manha e o de Juliana de Mascarenhas (esta
última conquistará o coração do poeta, já em seu desterro de Moçambique). Háo inconformismo de
Manha, que ficará solteira até o final de sua vi-da. Há também um verdadeiro ciclo da vida do poeta
Alvarenga Peixoto.
Sua mulher, Bárbara Ehiodora, é focalizada em grande momento lírico de Cecilia Meireles. Há
também a bela filha de Alvarenga, Maria Ifigênia ("a princesa do Brasil"), que vem a morrer. A
imagem final é a da octogenária Manha, indo a caminho da paróquia de Antonio Dias.

5. Conclusão e D. Maria 1 (romances LXXXI-LXXXV mais a Fala aos Inconfidentes Mortos).


É o fechamento do Romanceiro da Inconfidência, com alguns poemas de lamento e dramaticidade,
reflexão dolorida sobre o conjunto da tragédia mineira. Esta parte é curta e peremptónia. D. Maria 1
é vista vinte anos depois, já no Brasil. Sua loucura galopante contempla agora o que ela mesma
havia feito com poetas, soldados, doutores. Os remorsos a levam à morte. O livro se encerra com a
Fala aos Inconfidentes Mortos:
Grosso cascalho da humana vida... Negros orgulhos, ingênua audácia, e fingimentos e covardias (e
covardias!) vão dando voltas no imenso tempo,
— à água implacável do tempo imenso, rodando soltos, com sua rude miséria exposta, Parada noite,
suspensa em bruma:
não, não se avistam os fundos leitos... Mas no horizonte do que é memória da eternidade, referve o
embate de antigas horas, de antigos fatos, de homens antigos.
E aqui ficamos
todos contritos,
a ouvir na névoa
o descon forme,
submerso curso
dessa torrente
do purgatório...

Quais os que tombam, em crimes exaustos, quais os que sobem, purificados?


http://educacao.globo.com/provas/enem-
2012/questoes/112.html

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