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GRUPO 11- Romance Urbano

-ANÁLISE-
MEMÓRIAS DE UM
SARGENTO DE MILÍCIAS
Manuel Antônio de Almeida
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Inserida no movimento do romantismo, a obra é narrada em terceira pessoa e


retrata a vida do Rio de Janeiro no início do século XIX. Foi publicado nos folhetins, e
semanalmente era oferecido um capítulo ao público no Correio Mercantil do Rio de
Janeiro. Assim, Manuel Antônio de Almeida prendeu a atenção de seus leitores com
capítulos curtos e diretos e ainda utilizando uma linguagem coloquial, esse tom de
comicidade da obra dificulta em definir seu gênero.

A obra possuía uma estrutura diferente da primeira geração do Romantismo,


pelo fato de os romances criados nessa época focavam somente nos aspectos
aristocráticos, considerado um romance urbano ou de costumes. Ou seja, por ser um
romance que destoa tanto do que era produzido na época, dessa forma, a maior
dificuldade na análise de obra de Manuel Antônio de Almeida é encontrar uma
caracterização satisfatória para um romance.
O romance picaresco, a crônica de costumes, o realismo de Manuel Antônio de
Almeida. São três caracterizações diferentes que podem ser encontradas na obra.
O romance picaresco vem de uma tradição marginal, classicista e renascentista
de obras focadas em personagens pícaros. Anti-heróis que, ao vento das desventuras,
tentam tirar vantagem de todas as situações, usando meios antiéticos para tal feito.
A crônica de costume é o retrato dos costumes de uma sociedade que se
aproxima de um tom jornalístico.
O realismo é a corrente literária que busca explicar uma sociedade por meio da
literatura, revestindo os personagens com uma carga psicológica e retratando as suas
relações.
Apesar de encontrarmos no romance diversos elementos das caracterizações
anteriores, não é possível definir Memórias de um Sargento de Milícias usando apenas
uma delas.

O humor, presente em narrativas românticas de forma tímida, ocupa o centro,


funcionando como eixo condutor da sucessão de aventuras em que se mete o
protagonista. Da mesma forma, as personagens de classes sociais mais baixas que,
tradicionalmente, ocupavam posições secundárias, constituem o núcleo central da
ação; o espaço central era parte urbana do Rio de Janeiro, porém, descreve locais
mais afastados, como um acampamento de ciganos, assim, diferentes classes sociais
são abordadas no romance. Isto é um procedimento de separação de padrões ou
regras podendo ser sociais, morais, ideológicas, em favor de conteúdos mais ligados
aos instintos e aos sentidos, ao riso, à sensualidade; condição do que apresenta essa
ruptura e mistura de tais elementos. Com isso, é capaz de desconstruir um grupo
marginalizado e reafirmar o preconceito, processo chamado de carnavalização.
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O próprio protagonista se apresenta como uma versão carnavalizada do herói


romântico. Sua origem é cômica, já que é descrito como “filho de uma pisadela e de um
beliscão”. Crescido, torna-se um malandro, tentando sobreviver à margem das
instituições sociais nas quais não consegue se enquadrar em família, trabalho, igreja
etc.
Foi a primeira vez durante o Romantismo que a figura do “malandro” (pícaro)
surge nas ações de Leonardo. Isso explica o estilo inovador do escritor segundo os
moldes dos romances na época.
Algumas trajetórias são bastante sugestivas. O Major Vidigal, por exemplo, age
em defesa da lei, mas também a usa ao seu favor, tal como quando manda soltar
Leonardo em troca de afetos, de acordo com critérios muito particulares. Acaba por se
corromper no final, ao permitir a soltura de Leonardo em troca dos afetos de uma
antiga namorada. Assim, a lei vira transgressão e ordem se mistura com desordem, o
que funciona como retrato da sociedade brasileira daquele e de outros tempos.
Também é significativo o que acontece com o Barbeiro, um homem bom e afetuoso,
tem em seu passado uma mancha da qual não manifesta nenhum remorso sério: ficará
de posse de uma pequena fortuna que lhe havia sido confiada para ser entregue a
outra pessoa. Desse modo, também as categorias de bom e mau são relativizadas.

Muitos personagens da obra são movidos por interesses, como José Manuel e
Leonardo-Pataca. Além disso, alguns deles não tem nome, como é o caso do padrinho
e da madrinha de Leonardo. Diante disso, a intenção do escritor era usar alegorias
simbólicas com o objetivo de incluir pessoas comuns que viviam naquele período no
Brasil.
A despeito de tudo isso, o livro pode ser entendido como romântico graças a
elementos como o registro de costumes, o final feliz, as personagens que agem por
impulso, a sucessão de aventuras nas perseguições do Vidigal e, por fim, a história de
amor envolvendo Leonardo e Luisinha. Contudo, independente de qualquer questão
referente à classificação da obra, pode-se ver o livro simplesmente como uma
sucessão de aventuras vividas por um protagonista humanizado pelos seus defeitos.

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