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Introdução:
O mundo como texto – o imaginário como fundamento do ser;
Nossa capacidade de narrar o mundo está ligada a nossa capacidade de conhecer
o mundo;
Toda narrativa carrega condigo uma visão de mundo, ela revela não o mundo,
mas uma visão de cultura, um posicionamento, um projeto social;
Cada livro realiza a redução ao verbal de um pequeno fragmento da realidade;
Há narrativas que iluminam, e outras que silenciam;
O Romance é uma produção do séc. XIX, porque há algo de novo nesse
momento histórico: a subjetividade (FREUD) – surge um novo tipo de sujeito,
que inaugura um novo tipo de literatura;
Se afasta da epopeia por narrar a trajetória de um ser, e não de uma coletividade,
de um povo, representado na figura de um herói, de uma dinastia;
A épica é a mãe de todo romance;
Primeiro romance conhecido: Robson Crosué, de Defoe, que narra a trajetória de
um homem que se faz a si só, ou seja, um burguês europeu que explora o novo
mundo – citar o livro Inimigo, que é a história de Robson Crosué narrada sob o
ponto de vista de “sexta-feira”, indígena escravizado por ele;
MODERNIDADE
Angústia da impermanência do mundo;
Seres humanos como produto, e não como processo;
A convicção de que nada é mais importante do que o homem, enquanto tema de
exploração e conquista, explica o desenvolvimento e o estado atual do romance
como forma preferida de nosso tempo;
Desenvolvimento
Existem coisas que só podem ser ditas por via do romance, como a experiência
de determinados personagens que só se comunica por aí. (Sartre apud Cortazar);
O romance moderno nasce da angustia da impermanência no mundo;
Toda narrativa carrega consigo uma visão de mundo, elas não pretendem apenas
(re) presentar o mundo, mas (re)apresenta-lo – Auerbach;
Romance social (personagens tipificadas) x Romance existencial (apenas um
homem diante de si mesmo), os homens tem vergonha de si mesmos, e o mundo
será salvo por poucos, por esses. O Romance clássico narrou o mundo do
homem, o como; o Romance existencial atual procura a resposta para o porquê e
para o para quê do mundo do homem.
Narrativa como ação – herança do texto dramático
O desenvolvimento do romance moderno se dá em duas etapas: o romance
renasce de seus esboços clássicos; inicia no XVIII a primeira de suas duas
etapas modernas, que chamarei gnosiológica (apoderar-se do comportamento
psicológico do homem, e narrá-lo, consciência envergonhada, sentimento de
culpa que o leva a se explorar como pessoa, podendo chegar a conhecer-se o
bastante para daí, por projeção sentimental e intelectiva; sondagem intensiva da
subjetividade humana, que se derrama ao contorno do personagem,
condicionando e explicando seus atos;
O romance do século XIX é uma resposta multifacetada à pergunta de como é o
homem, uma gigantesca teoria do caráter e sua projeção na sociedade. O
romance antigo ensina-nos que o homem é; nos começos da era contemporânea
indaga como ele é; o romance de hoje perguntar-se-á seu porquê e seu para quê.
O homem precisa do romance para conhecer-se e conhecer melhor;
As relações pessoais do homem consigo mesmo, e do homem com sua
circunstância, não sobrevivem a um clima de absoluto, da poesia;
A presença inequívoca do romance em nosso tempo, se deve ao fato de ser ele o
instrumento verbal necessário para a posse do homem como pessoa, do homem
vivendo e sentindo-se viver;
O seu propósito básico: o de chegar a compreender a totalidade do homem
pessoa;
Não há personagens no romance moderno, apenas cúmplices
o romance supõe e procura com seu impuro sistema verbal o impuro sistema do
homem;
o romance moderno caminha pelos séculos XVIII e XIX sem alterar de maneira
fundamental sua linguagem;
A variedade de intenções e temas é infinita; porém o instrumento, a linguagem
que suporta cada um destes inúmeros romances, é essencialmente a mesma: é
uma linguagem reflexiva, que emprega técnicas racionais para expressar e
traduzir os sentimentos, que funciona como um produto consciente do
romancista, um produto de vigília, de lucidez;
Convenhamos em chamar estética esta linguagem do romance dos séculos XVIII
e XIX, e assinalemos sinteticamente suas características capitais: racionalidade,
mediação derivada da visão racional do mundo ou, no caso de romancistas que
já iniciam uma visão mais intuitiva e simpática do mundo, mediação verbal
ocasionada pelo emprego de uma linguagem que não se presta -por sua estrutura
- a expressar essa visão. Um último traço: prodigioso desenvolvimento técnico
da linguagem;
Pela primeira vez e de maneira explícita, o romance renuncia a utilizar valores
poéticos como meros adornos e complementos da prosa;
Ao ingressar em nosso tempo, o romance inclina-se para a realidade imediata, o
que está mais aquém de toda descrição e só admite ser apreendido na imagem de
raiz poética que a persegue e revela;
O romance é narração, o que por um instante se pareceu quase esquecer,
deixando-se substituir pela apresentação estática própria do poema;
Já na posse da extrema possibilidade verbal que lhes dava o romance de raiz
poética, é visível em escritores de todas as filiações e lugares que seu interesse
se volta para algo diferente, que parecem fartos da experiência verbal
libertadora;
a cólera destes jovens de 1930 em diante é precisamente a de não encontrar na
literatura mais do que uma ação secundária, quase diria vicária; desde que a eles
lhes interessa a ação em si; não a pergunta sobre o quê do homem, mas a
manifestação ativa do próprio homem;
Dir-se-ia que o romance, nos primeiros trinta anos do século, desenvolveu e
lançou a fundo o que poderíamos denominar a ação das formas; seus êxitos
máximos foram formais, porque suas finalidades só poderiam ser atingidas
mediante a audaz libertação das formas;
mas o romance que continua, e cuja subida à cena ocorreu a partir de 1930, se
propõe exatamente o contrário: integra e corporifica as formas da ação.
a liquidação do romance bem valeria seu preço, se lembramos que os romances
são escritos e lidos par duas razões: para escapar de certa realidade, ou para se
opor a ela, mostrando-a tal como é ou deveria ser.
A plataforma de lançamento destes romancistas está no desejo visível de
estabelecer contato direto com a problemática atual do homem num plano de
fatos, de participação e vida imediata;
Como uma tácita homenagem ao que foi alcançado pela novelística das três
primeiras décadas, parece dar por assente que a via poética fez o seu,
desentranhou as raízes da conduta pessoal. Todos eles partem daí em diante,
querem tratar com o Homo faber, com a ação do homem, com seu batalhar
diário;
Sua obra não dá nada por resolvido, senão que é o próprio problema mostrando-
se e debatendo-se; em torno deste movimento existencial agrupam-se os
homens, para quem nenhum poder é aceitável quando se trata do homem como
pessoa e como conduta;
O romance existencialista, compromissando com o imanente humano, mostra e
expressa o existencial em suas próprias situações, em sua circunstância, e com a
única linguagem que podia expressá-la: a do romance.
O Romance social é o homem diante de si mesmo;
se o romance clássico narrou o mundo do homem, se o romance do século
passado perguntou-se gnoseologicamente o como do mundo do homem, esta
corrente que nos envolve hoje procura a resposta para o porquê e para o
para quê do mundo do homem.
No romance do século XIX, os heróis e seus leitores participavam de uma
cultura, mas não compartilhavam seus destinos de maneira entranhada;
romances eram lidos como fuga ou forma de ilusão, jamais como forma de
encontro ou de antecipação; agora são escritos ou lidos para confrontar-se hoje e
aqui.
A culpa das personagens é a nossa;
Romance contemporâneo
O romance se viu transformado nas últimas décadas no grande ponto de diálogo
entre culturas, levando a uma atualização permanente dos referenciais
periféricos;
Pamuk em O romancista ingênuo e sentimental, destaca o papel atualizador do
romance, que se dirige a públicos diversos, em sociedades as mais afastadas,
cumprindo uma função quase civilizadora;
Estudar as manifestações do romance contemporâneo é entender de que forma
esta “comunicação” se efetiva, quais as suas tensões, como é estabelecida a
relação entre o seu poder democratizador e suas conexões com o mercado
CONCLUSÃO
A leitura é uma disputa, é reflexo de um projeto político;
Não é mais possível uma avaliação sismográfica do mercado editorial;
O romance ocupa a centralidade como gênero, mas esta ocupação gera um
discurso de negação. Sua morte foi sucessivamente decretada, dando origem a
uma certa rejeição por parte de alguns críticos, em função da sua relação com o
mercado massificado, que repercute uma lógica consumista, do best-seller;