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INSTITUTO DE FILOSOFIA SANTO TOMÁS DE AQUINO – INFISTA

HERMENÊUTICA

José Augusto Scudilio Junior

SÃO CARLOS
Maio/2023
José Augusto Scudilio Junior

Trabalho apresentado ao curso do


Instituto de Filosofia Santo Tomás de
Aquino em disciplina Hermenêutica.

Professor: Padre Marcos Eduardo Coró.

SÃO CARLOS
Maio/2023

CONTROVÉRSIAS HERMENÊUTICAS
O capítulo extraído do livro Hermenêutica, busca investigar quatro grandes
críticas filosóficas à hermenêutica enquanto ciência filosófica, compreendendo-as por
cada filósofo em questão, para que através disso, seja possível compreender quais os
caminhos a Hermenêutica enquanto processo, precisa seguir em seu desenvolvimento
futuro.
Em primeiro momento, Hirsch trás a posição tradicional do processo de
compreensão literário e da filologia, que parte da filosofia de Schleirmacher, em que
destaca que a posição se fundamente em afirmar que o significado propriamente de um
texto se faz através da compreensão do intensão do autor.
Em segundo, Habermas, consiste em defender a ideia de que a Hermenêutica
não pode criticar a tradição, em vista da visão de Gadamer que parece subestimar o
poder próprio da compreensão reflexiva.
Em terceiro, Paul Ricoeur investiga que para que seja possível validar um
processo de interpretação hermenêutica é necessário unir a teoria da interpretação com a
da explicação, para que assim, não se caia no relativismo, como e Gadamer.
Em quarto, o debate de Jacques Derrida, com Gadamer, que fazem críticas aos
desconstrutivistas, afirmando que a teoria filosófica de Gadamer se prende
demasiadamente a metafísica, e por isso, não é radical nem eficiente suficientemente.
Para Hirsch, sobre a validade na interpretação, defende que: o princípio
individual universal é que a vontade do autor determina o significado de uma elocução;
o princípio social universal é que o gênero determina o tipo do significado completo de
uma elocução; o significado aquilo que o autor intencionava, é distinto da significância,
qualquer outra relevância que o significado possa ter para o intérprete; e a compreensão
do significado verbal expresso num texto pode ser validada através de argumentos
probabilísticos.
Sendo assim, em seu pensamento, o interprete do autor, deve buscar descobrir o
uso específico que o autor fez das normas gerais, ou seja, entender como a linguagem
era conhecida e entendia quando o autor escreveu, que se dá na compreensão dos
gêneros por eles ali empregados e a partir deste, deve buscar identificar qual eram as
intenções particulares do autor para emprego de determinados símbolos linguísticos.
Hirsch ainda defendia ser de suma importância ao intérprete fazer a distinção de
significado e significância, daquilo que deseja ou não ser compartilhado, daquilo que é,
e daquilo que está por detrás, como uma concepção. Por essa compreensão, por ele se
entende que apenas a intenção do autor, quando identificada e destacada, pode favorecer
a compreensão do enunciado, em concordância com a teoria de Husserl que afirmava
que atos intencionais diferentes podem ter o mesmo objeto intencional ou significado.
O significado verbal é um tipo desejado e compartilhado que o autor consegue
comunicar usando as convenções da linguagem e do gênero. Através da relevância
deste tipo de análise compreensiva do texto, é possível ao intérprete chegar ao que se
caracteriza mais próximo ao contexto e significados que o autor pretende transpassar,
melhor a fundo em seu pensamento.
Diante disso, Hirsch e Gadamer não concordam sobre a constituição do
significado, onde ele primeiramente defende a hipótese de Husserl, que a
intencionalidade do significado só pode ser direcionada pelo autor, enquanto Gadamer,
defende a ideia de que o significado sempre está a disposição e por isso é possível ser
identificado e interpretado. E para ele, a historicidade de compreensão leva ao
relativismo, consequentemente a uma perigosa hipótese interpretativa.
Habermas, se opõe a autocompreensão objetivista do texto, em relação as
ciências sociais, Afirma que a Hermenêutica filosófica necessita incluir uma
compreensão autorreflexiva, porém, baseada no distanciamento metodológico do objeto
em questão. O filósofo busca três maneiras, formas possíveis para refutação das buscas
por uma universalidade hermenêutica. Sendo elas:

Uma forma seria usar a epistemologia genética de Jean Piaget, que “descobre
as raízes não linguísticas do pensamento perativo”. Se a teoria de Piaget fosse
bem-sucedida, então poderíamos basear o pensamento operativo nestas
estruturas pré-linguísticas e a hermenêutica encontraria seu “limite nos
sistemas linguísticos da ciência e das teorias de escolha racional”. Uma
segunda forma seria a linguística gerativa: uma teoria geral das linguagens
naturais. Se este projeto fosse completado, então sua teoria do significado
baseada nas estruturas linguísticas substituiria a teoria hermenêutica do
significado. A terceira forma de refutar a reivindicação de universalidade da
hermenêutica emerge de uma análise da compreensão na psicanálise e de uma
crítica da ideologia para fenômenos coletivos. Habermas elabora esta terceira
possibilidade neste ensaio.

O filósofo afirma que afirma em sua discordância com Gadamer entre poder da
razão e da justificação metodológica das interpretações, que é preciso incorporar
alguma metodologia crítica à compreensão hermenêutica se ela não quiser sucumbir a
um relativismo perigoso. Gadamer diz que no evento da verdade o preconceito legítimo
brilha e convence os parceiros do diálogo, e este evento não se baseia na metodologia,
ou seja, pedir uma justificativa metodológica é chegar tarde demais.
Já para Paul Ricoeur, aponta que as situações críticas que envolvem a
hermenêutica se fazem em questão de a mesma não possuir um fundamento básico
crítico, ou seja, um modo concreto na qual se possa ser trabalhado e extraído suas
formas de interpretação, uma composição hermenêutica. Sendo assim, para ele a
compreensão adequada de um texto, requer uma dialética que se relacione entre a
explicação e a compreensão, ou seja, uma hermenêutica da desconfiança deve ser
incorporada à hermenêutica filosófica.
Afirma sobre a necessidade do distanciamento que ocorre na linguagem e que
permite uma compreensão melhor de um texto, sendo elas três: a primeira, do dizer dito,
que permite que o significado apareça no discurso, naquilo que propriamente está
escrito; a segunda, quando o texto se faz descrito em forma de obra, onde esta apresenta
características próprias de organização e estrutura que permitem que os métodos sejam
aplicados ao discurso e consequentemente compreendidos; a terceira, aplicar o mundo
da obra à frente do texto para nós mesmos, adotamos uma posição crítica a nós mesmos
que permite uma explicação de nós mesmos no sentido de uma crítica da ideologia.
Jacques Derrida faz grande crítica a Gadamer de não ser suficientemente radical
Ele enfatiza que a linguagem é um sistema fragmentado de significantes em que nada
tem um significado transcendente. Sendo assim, Gadamer aponta que a linguagem
revela o mundo, mesmo que apenas parte do sujeito seja compreendido. “Gadamer não
reconheceu a radicalidade da crítica da verdade de Nietzsche, e portanto o evento da
verdade no diálogo de Gadamer é comprometido pela tentativa clássica de descobrir a
verdade”. Ele, porém, entende que a interpretação correta de um texto é desconstrutiva,
o que mostra que o texto é polissêmico. Para Gadamer, a interpretação correta de um
texto escrito preenche os requisitos normativos do texto. Assim, a interpretação mostra a
perspectiva especulativa do sujeito do texto.
Finalmente, nossa finitude significa que nunca haverá uma linguagem perfeita
em que o mundo apareça à luz da eternidade. A hermenêutica se baseia no fato de que,
quando nos comunicamos com os outros, precisamos entender a tradução e, assim,
entender como a linguagem funciona. Como os filósofos não chegaram a um consenso
universal que não tenha sido questionado, é impossível para eles se conformarem a uma
hermenêutica particular. Alguns dizem que é possível escapar do círculo hermenêutico;
para outros é impossível. Gadamer provavelmente apoiou uma filosofia hermenêutica,
mas o futuro dessa filosofia é incerto. Segundo ele, esse tema será entendido de forma
diferente no futuro, mas ainda de forma correta.

REFERENCIA
SCHMIDT, Lawrence K. Hermenêutica. Trad. Fábio Ribeiro. Petrópolis: Vozes, 2013.

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