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verdades dos textos, sendo o leitor implicado nessa metodologia. Esse tipo de
método é chamado divinatório. No caso da teoria literária, o estudioso procuraria
desvendar o sentido primeiro do texto. Segundo Gadamer (1997),
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aproximação e os processos de evolução de modelos artísticos e da hermenêutica
são históricos, principalmente se tomarmos como referência a literatura. Em
amplo sentido, ambas têm como investigação a linguagem e, por isso, em grande
medida se aproximam e mantêm (co)relações.
Para pontuar o papel da hermenêutica para Gadamer, convém saber que:
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Na segunda metade do século XX, houve uma cisão referente à produção
ficcional e ao olhar sobre ela. Andreas Huyssen chamou esse fenômeno de great
divide. De um lado, fica explícita uma literatura definida como alta cultura; de outro,
aquela produzida por uma cultura mais popular. Essa nova abordagem acabou
dividindo o campo intelectual que, de um lado, valorizava e propunha o crivo
classificatório das obras canônicas e, de outro, aqueles que se dedicavam a
estudar o fenômeno da cultura de massa. Daí são criadas várias vertentes dos
estudos literários: dentro da teoria, da crítica e da história da literatura. Dos anos
de 1960 aos anos 1980, houve muitas discussões e articulações no campo dos
estudos da literatura, dentre as quais discussões importantes no que se definia
como estética da recepção.
A estética da recepção dividiu-se em duas categorias. A primeira, cujos
representantes são Roman Ingarden e Wolfgang Iser, tinha como foco de
observação a leitura como ato individual, dialogando abertamente com a
fenomenologia. A segunda, cujo representante é Hans Jauss, interessava-se pela
hermenêutica da resposta pública ao texto e seus aspectos históricos.
Pensando nas observações feitas ao pensamento de Jauss e à estética da
recepção, Zilberman observa que:
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mesmo lança problemas morais, mas apenas para “solucioná-los”
no sentido edificante, qual questões já previamente decididas. (Jauss,
1994, p. 32)
Wolfgang Iser publica em 1978 O ato da leitura, obra em que o teórico trata
das estratégias adotadas pelos textos e do repertório contido neles. A ideia é que
o leitor se familiarize com o texto para que dê sentido no processo de leitura. O
texto literário leva o leitor a uma consciência crítica de seus códigos e expectativas
sociais. Para Iser (1996a; 1996b; 1999), o texto literário é aquele que melhor é
capaz de transgredir modos normativos e descontruir hábitos rotineiros de
recepção. Nesse sentido, ao fazer esse movimento, o leitor estaria fomentando o
pensamento crítico e ampliando a sua visão de mundo. Segundo essa
perspectiva, há efeitos do texto literário, e o leitor pode ser transformado nesse
processo. Portanto, a literatura pode romper ou configurar os códigos do leitor.
Iser, ao propor a capacidade transformadora da literatura, coloca a obra no
lugar central de discussão. A obra não tem mais um sentido único apenas, ou uma
só interpretação ou apenas uma leitura que esgote sua capacidade semântica.
Ainda, toda a leitura é carregada de informações preexistentes que vão moldando
a capacidade interpretativa do leitor. A leitura não tem total grau de pureza, ela
não é inocente. As reações do leitor ou do público leitor revelam as características
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históricas e sociais do contexto de leitura. Ainda, outro aspecto a ser pontuado diz
respeito aos efeitos da leitura do texto literário e às possíveis funções ligadas a
ele.
Iser desenvolverá investigações em torno os aspectos comunicativos da
literatura. Em 1991, publica O fictício e o imaginário, obra em que se aprofunda
na discussão sobre a natureza do texto literário e sua relação com o leitor. Além
das investigações propostas e que dizem respeito à teoria da literatura, são feitas
outras relacionadas à neurociência, à psicologia cognitiva e à antropologia, em
diálogo com a estética da recepção. Em todas essas investigações, a questão
central posta é o texto literário e o leitor.
Inicialmente, os trabalhos de Iser se direcionam para a discussão do
fenômeno da substituição. Por ele, substitui-se o autor pelo leitor. Esse leitor tem
um caráter personalista, criado com base na sua relação com o texto. Na obra O
ato da leitura são propostas categorias para esse leitor, apresentado em três: o
leitor real, o leitor implícito e o leitor fictício (Iser, 1996a; 1999). O leitor real, como
o próprio nome sugere, é uma espécie de leitor empírico, aquele que está diante
do texto e cujo olhar percorre as palavras que estão no papel e absorve o discurso.
O leitor implícito, por sua vez, seria aquele que preencheria os espaços propostos
pelos discursos. Esse é o leitor pressuposto pelo texto. Ele seria capaz de
recuperar e compreender as diferentes intertextualidades que o texto sugere. Por
fim, o leitor fictício, aquele que é pensado pelo autor e, nesse sentido, tem uma
leitura do texto imaginada pelo autor, ou seja, o modo como o texto será recebido
imageticamente. Nessas categorias não há uma hierarquia a ser observada nem
uma possibilidade de que possam acontecer de forma autônoma, elas são
intercaladas no momento em que acontece a recepção do texto.
Segundo Zilberman (1999, p. 9):
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identidade, a interferência do leitor que se intromete sob a forma da
leitura.
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o deslocamento da relação de texto-autor para texto-leitor. Esses estudos
desenvolvidos pela Escola de Constança, como observado, acabaram divididos
em dois ramos, aquele desenvolvido por Jauss referente à estética da recepção e
à teoria do leitor implícito de Iser.
Segundo Jouve (2002, p. 14):
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determinada obra como a todos os públicos reconhecidos que a obra irá encontrar
ao longo de sua trajetória histórica. A leitura de um texto, dessa forma, é
atravessada por muitas leituras anteriores que, em certa medida, servem como
bagagem. Assim, Jouve (2002) escreve um subtítulo ao primeiro capítulo que
explica, em alguma medida, a historicidade da leitura e, ao mesmo tempo, o leitor
que toma em mãos a obra em um mundo fora do texto: “o texto e o além do texto”.
Mais especificamente no capítulo 3 da obra O leitor, Jouve remete à
discussão sobre a insuficiência textual, advertindo que a leitura, longe de ser uma
recepção passiva, apresenta uma interação produtiva. Para Jouve (2002, p. 61),
a obra precisa, em sua constituição, da participação do destinatário. Nesse
sentido, sem o leitor, o destinatário, o universo textual está inacabado. Um
romance, por mais semelhante que ele se pareça com o mundo em que vivemos,
não tem a possibilidade de dizer tudo. Tudo que se propõe no texto tem, por isso,
conexão com o mundo empírico. Mesmo as personagens mais fantásticas e
ficcionais conversam com propriedades ligadas aos indivíduos do mundo real. Um
ser absolutamente completo, conforme sugere Jouve (2002), é inassimilável pelo
leitor. O texto, por sua incompletude, precisa da contribuição, em última instância,
do leitor.
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pacto de leitura está determinado pela submissão da obra a certo número de
normas, mais ou menos evidentes, que vão codificar a recepção” (Jouve, 2002, p.
69).
Segundo Eco (1994, p. 83),
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REFERÊNCIAS
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ZILBERMAN, R. Recepção e leitura no horizonte da literatura. Revista Alea, v.
10, n. 1, p. 86-97, jan.-jun. 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/alea/v10n1/v10n1a06.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2020.