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Hermenêutica e a Filosofia Clínica

A hermenêutica é um problema fundamental da atualidade

A hermenêutica é um problema fundamental da atualidade. O termo deriva do


uso linguístico da teologia, sobretudo nas questões da justa compreensão bíblico-
teológica. Mas a hermenêutica também está intimamente conexa com o amplo campo de
“compreensão das ciências do espírito”.

Na justa compreensão dos elementos, texto – contexto – pretexto, o que


proponho como objetivo é uma análise do termo hermenêutica comparativamente com a
Filosofia Clínica abarcando um estudo de caso. Por texto entendemos a historicidade do
partilhante. Por contexto os elementos que compõem as categorias, que na FC são
cinco: assunto imediato, tempo, espaço, relação e circunstancia. E por pretexto a
estruturação de sua malha intelectiva, sua Estrutura de pensamento e os Submodos,
estratégias definidas de enfrentamento das dificuldades. Assim o planejamento clínico
que o Filósofo estabelece é a estratégia que vai estabelecer através dos submodos que a
pessoa emprega em sua rotina e que foram colhidos no levantamento da historicidade.

A filosofia clínica apresenta-se como um conjunto de procedimentos que


propicia a superação dos choques existentes na estrutura de pensamento da pessoa.
Packter, na obra Filosofia Clínica a filosofia no hospital e no consultório, destaca que:
“O filósofo clínico busca sentir a pessoa, o modo como toca, como olha, fala, como se
movimenta, como se relaciona com o meio onde vive; o filósofo busca conhecer como
esta pessoa está estruturada, quais os pré-juízos, emoções, paixões dominantes, papéis
existenciais, entre outros dados, e como eles se relacionam entre eles mesmos e com o
ambiente.” (p. 49)

Metodologicamente exponho uma compreensão histórico e metodológica do


conceito Hermenêutica, para a partir dele entender o texto do partilhante e compreende-
lo sob o olhar da Filosofia Clínica.

Com o objetivo de esboçar noções dos conceitos e especialmente suas interconexões


para a compreensão da subjetividade da pessoa inter-relacionada com o todo, o texto
busca no emaranhado de ideias e correntes filosóficas apoderar-se do campo
interpretativo esboçado pela hermenêutica.

O termo hermenêutica provém do verbo grego ermeneuein, que significa:


declarar, anunciar, interpretar ou esclarecer e, por último, traduzir. Trata-se, afinal, de
tornar algo compreensível. Um enunciado, muitas vezes, é obscuro, de difícil
compreensão, como, por exemplo, um texto histórico ou literário, cujo sentido não
aparece imediatamente, mas deve antes ser tornado compreensível.
Hermenêutica provavelmente deriva de Hermes, o mensageiro dos deuses, a
quem se atribuiu a origem da linguagem e da escrita. Em grego o termo já significa a
compreensão e a exposição de uma sentença dos deuses, de uma mensagem divina, de
um oráculo de Delfos, o qual precisa de uma interpretação. O termo referia-se, portanto,
a uma dimensão sacra: a compreensão e a interpretação de uma palavra divina. Por isso
essa palavra foi primeiramente formada e empregada no domínio teológico.

Aos poucos percebemos que a empregabilidade do termo vai sendo expandido,


daí também a hermenêutica histórico-filológica.

Platão chama de hermeneuta aquele que inspirado poeticamente transfere o


pensamento excelso de Deus entre os homens. Aristóteles escreveu um livro com regras
sistemáticas intitulado “Peri Hermeneias”. Os gregos se preocupavam muitas vezes
com a correta interpretação, por exemplo, das obras de Homero.

E aquilo que Homero foi para a cultura clássica grega, a Bíblia foi para os
hebreus e, mais tarde, para os cristãos. Os escribas e doutores da lei eram todos
iniciados na interpretação das Escrituras. O próprio Cristo se apresentou como
hermeneuta do Pai e de toda a Revelação. A hermenêutica, por isso mesmo, sempre
existiu e continuou também na Patrística, na Escolástica, no entusiasmo do retorno às
fontes na Renascença e nas exigências metodológicas da idade moderna. Mas um
impulso novo para um renascimento da hermenêutica vai aparecer no Romantismo, com
Schleiermacher e mais tarde com Dilthey. Ambos enfrentam o problema da
interpretação dos textos de maneira sistemática. Por isso mesmo, são considerados os
precursores da nova hermenêutica, que mais tarde será melhor desenvolvida
principalmente por Heidegger e Gadamer. Dentre diversos autores que poderíamos citar,
faremos um recorte e esboçar noções básicas da filosofia clínica que tem como
precursor Lúcio Packer. Lúcio Desenvolveu um método original de interpretar,
anunciar, declarar e traduzir as correntes filosóficas para um princípio da elevação do
ser da pessoa. Suas angústias, medos e dores hermeneuticamente interpretados e
solidificados num ponto fundamental: a historicidade da pessoa. Promovendo assim,
uma saída, descoberta de si e favorecendo o principio original da filosofia clínica.

Na elucidação do tema e para o propósito desse texto, esboçarei algumas ideias de


autores que destacaram a hermenêutica e aguçaram o paladar refinado da Filosofia
Clínica.

Friedrich Danill Ernst Schleiermacher nasceu na Breslávia, em 1768. É precursor da


Hermenêutica filosófica. Esse autor vai se afastar das regras gramaticais e figuras
retóricas tradicionais e tenta propor uma nova teoria de interpretação. Sua preocupação
– tipicamente romântica – é de pesquisar também as intenções e os sentimentos de um
autor. Percebe-se que o atuar do filósofo vai além de simples técnica de compreensão e,
portanto, de interpretação dos vários tipos de escrito. A hermenêutica começa também a
se tornar compreensão em geral da estrutura de interpretação que caracteriza o
conhecimento enquanto tal. É preciso compreender o todo para poder compreender a
parte e o elemento e, ainda mais geralmente, é preciso que o texto e o objeto
interpretados e o sujeito interpretante pertençam ao mesmo horizonte de modo, assim
dizer, circular. Ou seja, o autor sublinha a criatividade do espírito que opera em cada
agente de ação. O espírito vivente está presente tanto no compreender como no
interpretar. O essencial não é o texto, mas a relação eu-tu do agente e do intérprete. O
acento, pois, recai numa esfera psicológica.

A hermenêutica começou a se estender a todos os campos do saber: aos textos


sacros e profanos, à literatura antiga ocidental e oriental, à linguagem do jornal e o da
própria conversação cotidiana. O entender está presente também no interpretar. Entre
um e outro existe uma relação de interpretação. As regras filológicas e retóricas,
portanto, embora tenham um peso indiscutível, não são suficientes. O ato compreensivo
liga-se ao explicativo de forma circular, onde um exerce influência sobre o outro.
Acontece, portanto, uma interferência mútua entre compreender e explicar.

Outro autor é Wilhelm Dilthey (1833-1911) o qual representa uma articulada e tenaz
tentativa de construção de “crítica da razão histórica”. Coloca o problema hermenêutico
dentro do quadro das “ciências do espírito”, que ele opõe ao quadro das “ciências
técnicas da natureza”. Para cada um dos dois tipos de ciência ele postula um modo
próprio de conhecimento. Para as ciências do espírito é congenial a capacidade de
compreender ou reproduzir as experiências solidificadas em formas objetivas; enquanto
que para as ciências da natureza é mais importante o explicar, ou seja, esclarecer as
relações externas de causa-efeito e os legames mecanicistas.

Para Dilthey o espírito objetivo, ou seja, objetivação da vida, é produto da atividade de


homens históricos. Tudo saiu da atividade espiritual dos homens e, portanto, diz
Dilthey, tudo é histórico. O autor destaca ainda a “conexão dinâmica”, que produz
valores e realiza objetivos. O indivíduo, as instituições, as civilizações e as épocas
históricas são conexões dinâmicas. O homem, segundo Dilthey, é um ser histórico. E
históricos são todos os seus produtos culturais, inclusive a filosofia.

A compreensão nos coloca na experiência do outro. Dilthey acredita que é possível


captar a vida íntima que se esconde atrás da forma interior da obra particular. E no
receber a manifestação vital do outro se toma também consciência das próprias. Não é
só a experiência de nós mesmos que se abre para o outro, mas é também esta última que
se revela a nós. Fixando as nossas manifestações vitais na objetivação de obras e
documentos, que se conhece. O compreender é um reencontrar-se do eu no tu.

Compreender outros comporta uma abertura e uma descoberta de si. O processo de


revivificação do estranho torna-se possível graças a mesma corrente vital, que circula de
maneira igual em todos os indivíduos. Aqui encontramos uma sincronia entre o
Partilhante e o Filosofo Clínico, no qual este, no processo de compreender a estrutura de
pensamento daquele que lhe traz toda bagagem composta nos exames categoriais,
vislumbra um mundo próprio, mas significativo para sua existência.
A vida caminha mudando-se em saber, que, por sua vez, não é senão o cumprimento
desta. A objetividade e a validade universal é garantida pelas formas solidificadas que a
própria vida conseguiu produzir.

Nesse continuum axiomático o problema hermenêutico teve toda uma reviravolta com
Heidegger e sucessivamente com Gadamer, ambos considerados como os fundadores da
nova hermenêutica. A hermenêutica tradicional tinha mais uma preocupação
metodológica e ressaltava as regras filosóficas, procurando individuar sentimentos e
expressá-los em formas universais válidas. A nova hermenêutica procura os
fundamentos ontológicos do compreender. Vai-se, portanto, ao ser, que se revela no
campo da existência.

A fratura cartesiana entre sujeito pensante e objeto pensado é superado pela concepção
heideggeriana da inseparável unidade de compreender e existir. Compreender é o modo
de existir do homem que se projeta, se relaciona com os outros, se decide, é entendido
pelo mundo, age inspirado pela confiança ou ameaçado pela angústia. A pessoa se
percebe como um ser-que-está-no-mundo. Heidegger fala de “situação hermenêutica”,
ou seja, é a existência mesma que desvela, é o tempo que manifesta as estruturas do
cotidiano ser-no-mundo.

O ato originário do existir humano é o encontrar-se e o sentir-se que qualificam a


nossa relação com o mundo e com os outros, acompanhado por uma gama de
sentimentos: confiança, angústia, solicitude.

Nessa concepção de análise destaca-se a compreensão de existência autêntica e de


inautêntica. O homem voltado para o ser, o ser-aí, encontra-se envolvido na mais
autêntica função do ser, pois tem clareza de sua missão e possui uma dimensão clara de
sua finitude, a morte. E volta-se para a dimensão do ser como uma auto-explicação de
sua própria existência. O ente, enquanto objeto físico, caracteriza-se mais como
utilitário para a plenitude de seu ser do que a realização de sua felicidade. O homem
voltado para o ente, manipula as coisas, utiliza-as e estabelece relações sociais com
outros homens, permanecendo assim, numa existência inautêntica.

O que torna relevante esta análise hermenêutica heideggeriana é a compreensão que se


faz do homem enquanto ser-aí envolvido em projetos. A existência autêntica é a
existência angustiada, que vê a insignificância de todos os projetos e fins do homem,
vive a vida e a do seu povo, mas vive com desprendimento e arraigado numa certeza, a
morte.

Aqui um ponto importante destaca-se a historicidade do ser-aí. A maneira como este


está envolvido na historiografia da história, com a tríade passado-presente-futuro. A
característica essencial da existencialidade é o projetar-se, portanto o futuro, entretanto,
o cuidado, que antecipa as possibilidades, surge no passado e o implica. E entre o
passado e o futuro está aquele ocupar-se com as coisas que é o presente.
Podemos dizer que o ser-no-mundo do homem não é o da realidade, senão o da
possibilidade. O homem não é, como os outros entes, simplesmente presente, nem é
espectador desinteressado das coisas e dos significados; pelo contrário, como disse
Heidegger, o homem é o ser que se projeta sempre em suas possibilidades, pois o
homem dá significado ao mundo e projeta o mundo como seu – o homem tem por
essência a sua existência e esta é possibilidade e autocriação. Para Heidegger, a
característica do homem está em se abrir além dos laços ambientais, em um modo de ser
que dá sentido às coisas e lhe permite encontrar os outros.

Esses outros, o qual afirma Haidegger, encontra-se no domínio público. Aqui entende-se
todas as vizinhanças – que na Filosofia Clínica são os entes envolvidos na existência da
pessoa – pode ser desde os utensílios que foram produzidos por indivíduos numa
intencionalidade, como também as pessoas e animais que congregam o entorno
existencial, a qual é identificada na categoria relações.

É o homem que dá ao mundo uma cor e um significado. Enquanto ser-aí não pode ser
tratado como objeto da física, ou seja, não basta remover a causa para que desapareçam
os efeitos. Assim sendo, ao estudo da Filosofia Clínica, é impossível sem a
antropologia, enquanto estudo do homem. A análise do ser-aí através do currículo da
história de um indivíduo, através da história da vida interior, procura a categorialidade
de fundo do ser daquele indivíduo, isto é, o seu a priori existencial – o modo específico
pelo qual aquele indivíduo projeta o mundo, conferindo significado a coisas,
acontecimentos e relações. E é o a priori existencial que dá significado também ao
próprio fato inconsciente e o determina. Por isso, acredito, que na FC, é preciso agir
sobre o modo pelo qual o indivíduo projeta o mundo – os seus valores e os seus
significados - , observar, agir referente ao modo pelo qual aquele indivíduo dá sentido
ao mundo, sobre aquele a priori existencial por meio do qual ele se relaciona com o seu
ser-lançado, com a sua “factualidade”.

Hans Georg Gadamer, foi aluno de Heidegger. É considerado um refinado e agudo


interprete, sobretudo da filosofia antiga, mas também de Hegel e dos historicistas.
Publicou uma obra considerada clássica para a teoria da hermenêutica, Verdade e
Método.

Gadamer faz uma análise e uma interpretação histórica do ato de interpretar. Que o
interprete situado num determinado tempo e espaço não é neutro, mas faz parte de um
texto e contexto para uma tomada de decisão. Com efeito, o que ele tem a fazer é
manter o olhar firme para seu objeto, superando todas as confusões que provenham do
seu próprio íntimo. Diz Gadamer, quem se põe a interpretar um texto, está sempre
concretizando um projeto. Com base no sentido mais imediato que o texto lhe exibe, ele
esboça preliminarmente um significado do todo.

Para além do historicismo com seus problemas metodológicos, a consciência


hermenêutica entende-se exatamente como aquela que se sabe enraizada na mobilidade
da realidade temporal. O partilhante possui uma vivência, um modo próprio de ver e
interpretar. O método da Filosofia Clínica colabora no clareamento dessa consciência.
E, no entanto, ao invés de converter tal autoconsciência da sua transitoriedade e do seu
próprio engajamento em empecilhos que interditam o reconhecimento da realidade
histórica, percebe que é exatamente aí onde se encontram todas as condições de
possibilidade para a compreensão do passado. Seus pré-juízos, portanto, são
intelectualmente produtivos. Eles instalam, constituem e lançam a consciência no
mundo. Uma hermenêutica filosófica, destaca Gadamer, haverá de concluir que o
compreender só é possível quando aquele que compreende coloca em jogo seus próprios
pré-conceitos. A contribuição produtiva do Filósofo Clínico é parte inalienável do
próprio sentido do compreender. Nesse sentido, ao invés de macularem a objetividade
ou contaminarem a clareza das suas intenções cognoscentes, efetivamente oferecem
paradigmas e horizontes temporais – através da alocução dos submodos[1] – a partir dos
quais se pode visar o passado e reconstruir o presente.

O Filósofo Clínico atua através da ação hermenêutica, com uma metodologia própria,
especialmente articulada na historicidade. Então como fazemos para saber se é ou não
adequado esse esboço de interpretação? Gadamer auxilia que é a análise posterior do
texto que nos dirá se esse esboço interpretativo é ou não correto, se corresponde ou não
ao que o texto diz. Como veremos na sequência a Filosofia Clínica nos proporciona
através das Categorias essa leitura adequada para situarmos o texto e o contexto à luz da
historicidade.

A função do hermeneuta é infinita e possível. Gadamer assinala que é infinita pela razão
de que uma interpretação que parecia adequada pode ser demonstrada incorreta e porque
são sempre possíveis novas e melhores interpretações. Possíveis porque conforme a
época histórica em que vive o intérprete e com base no que ele sabe, não se excluem
interpretações que, precisamente, para aquela época se sabe, são melhores ou mais
adequadas que outras. Nesse sentido a Filosofia Clínica, através de um majestoso
trabalho de Lúcio Packter, enfrenta o texto colhido na historicidade, como uma tabula
plena, cheia de ideias e conceitos vindos das mais diversas correntes filosóficas.

Podemos afirmar que quem quiser compreender um texto deve estar pronto a deixar que
ele lhe diga alguma coisa. Por isso, o Filósofo Clínico, desempenhando uma consciência
educada hermeneuticamente deve ser preliminarmente sensível à alteridade do texto.
Essa sensibilidade não pressupõe neutralidade objetiva nem esquecimento de si mesmo,
mas implica numa precisa tomada de consciência das próprias pressuposições e dos
próprios pré-juízos. O intérprete deve ser sensível à alteridade do texto, deve falar para
escutar o texto, ou seja, deve propor um sentido melhor e mais adequado do que o outro,
para que o texto apareça sempre mais em sua alteridade, como o que realmente é.

Com o propósito de inter-relacionar Hermenêutica com a Filosofia Clínica, esboçarei


ideias referentes ao trabalho que o campo da Filosofia Clínica proporciona para o
indivíduo, como para grupos e instituições na sociedade.
Podemos evidenciar que a função basilar da Filosofia Clínica é pensar em como ajudar
as pessoas sem jamais pensar por elas.

O Filósofo e terapeuta da Filosofia Clínica, Lucio Packter, localizou as principais


antropologias filosóficas da história, o que se pensou e se definiu sobre o ser humano, e,
dessa forma, estruturou a Filosofia Clínica. Podemos afirmar que através da
hermenêutica, bem como da filosofia da linguagem, o filósofo clínico pode acessar
muito da historicidade do partilhante mesmo quando este não fala diretamente de si
próprio, e mesmo quando a linguagem utilizada para comunicação não é essencialmente
verbal.

Packter desenvolveu esses procedimentos a partir da clínica filosófica e não o inverso,


orientando-se essencialmente para os cuidados com o outro, constituindo-se,
principalmente, uma prática amorosa de encontro para só depois investigar a validade
das teorias acadêmicas a que se reporta. O exercício básico da atividade da Filosofia
Clínica esta centrada na escuta. Com agendamentos mínimos o terapeuta leva o
partilhante a centrar-se na sua subjetividade de tal maneira que recorda todas as
nuances, que faz sentido para sua malha intelectiva, de sua existência. Isso proporciona
um levantamento de dados que serão hermeneuticamente interpretados e traduzidos para
uma realidade cognoscente do partilhante.

Podemos dizer que a função moral obrigatória do Filósofo Clínico é uma escuta
dialógica consigo, sempre admirado perante a infinitude do outro, reconhecendo de uma
vez por todas a sua própria ignorância sobre as profundidades que nele (partilhante) se
ocultam.

O terapeuta busca conhecer como a pessoa está estruturada existencialmente. Através da


abordagem psicossomática da historicidade, o filósofo esboça seu desenvolvimento de
trabalho abarcando os dados divisórios e enraizamentos, se preciso for, para uma melhor
compreensão das necessidades. Com isso em mãos deve compreender a localização
existencial da pessoa com quem está trabalhando através da síntese das categorias. Com
esse conhecimento e utilizando-se dos dados coletados da historicidade o filósofo
clínico se utiliza dos trinta tópicos, um diálogo entre os vários extratos da inteligência
que compõe a estrutura de pensamento, elaborando, assim, um conjunto infinito de
possibilidades.

Esse trabalho terapêutico da Filosofia Clinica objetiva localizar os conflitos ou o que se


convencionou chamar os “nós” existenciais na estrutura psíquica do indivíduo, resolvê-
los ou, de alguma forma, minorar seu sofrimento. Entende-se sofrimento existencial
aquilo que subjetivamente, cause, na psique do partilhante, exigências de mudanças ou
soluções existenciais. Sendo que o motivo pelo qual o partilhante buscou ajuda foi um
assunto imediato, e consequentemente na leitura da historicidade levanta-se o assunto
último.

Fontes utilizadas:
Apontamentos das aulas no curso de Especialização em Filosofia Clínica. CEPAFIC.
2013-2014.

AIUB, Monica. Para entender Filosofia Clínica. 2º edição. Rio de janeiro, RJ: WAK
editora, 2008.

CARVALHO, José M. Filosofia Clínica e Humanismo. Aparecida, SP: Ed. Ideias e


Letras, 2012.

GRONDIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. São Leopoldo, RS: Ed.


Unissinos, 1999.

GOYA, Will. A Escuta e o Silêncio. Goiânia: UCG, 2008.

PACTER, Lucio. Filosofia Clínica. A filosofia no hospital e no consultório. São Paulo:


All Print editora, 2008.

PACKTER, Lucio. Semiose. Aspectos traduzíveis em Clínica. Fortaleza: gráfica e


editora fortaleza, 2002.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: vozes, 1993.

REALE, Giovani e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol III – do romantismo


até nossos dias. São Paulo: Ed. Paulina, 1991.

Giovani Luiz Romani

Filósofo Clínico FC 0132/15

[1] “Os Submodos são as maneiras como a pessoa vai existencialmente de um momento
ao seguinte, eles são os modos como agimos, como usamos o conteúdo que se apresenta
à farta em cada tópico da EP”. (PACTER. Caderno C. p. 1)

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