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DIR 200 – HERMENÊUTICA JURÍDICA – 22/07/2021

Unidade I – Conceitos preliminares

1) Noção ou sentidos da expressão “Hermenêutica”: Atividade que procura realizar


uma mediação de sentido para que algo se torne compreensível, algo esse que
havia uma obscuridade em torno do sentido e que deve ser superada. O
interprete é aquele que procura aproximar o “eu” do “outro” através da sua
atividade.
 Mediação de sentido é próximo a tradução, nem sempre isso pode se
realizar plenamente, ou por esperteza ou por deficiência técnica.
 Surge no contexto religioso, o rigem grega.

a) Expressões próximas, porém distintas: Hermenêutica, interpretação e exegese;

b) Raiz grega da expressão Hermenêutica – hermeneuien e hermeneias – se relaciona ao


Deus Hermes, responsável por aproximar a mensagem dos Deuses dos homens. (Deus
malandro, esperto).

c) Jean Grondin: sentidos possíveis de hermeneuien: declarar, anunciar e explicar; se


encontra em jogo na hermenêutica assim uma relação entre pensamento e linguagem;
peri hermeneias (da interpretação) – tratado de Aristóteles, onde diz que a hermenêutica
se realiza através do logos apofântico, onde a expressão, a palavra tem relação imediata
com o ser.

 Para os gregos o pensamento nunca conseguiria se exprimir com clareza


em sua totalidade na linguagem, na palavra, sempre fica algo para trás, ai
que se relaciona a hermenêutica, o interprete é assim primordial por tentar
a partir do discurso procurar reconstruir o pensamento que se encontra a
base daquele discurso.
 A explicação parte daquilo que é dito para procurar aquilo que a anima, o
hermeneuta procura a palavra interior para animar a palavra exterior.
Onde acontece o milagre da compreensão, que é resultado do processo da
hermenêutica.

d) Raiz grega da expressão exegese: ex-gestain: Trazer para fora. Próximo a


clarificação. Na Grécia e em Roma a palavra hermenêutica tem relação com a religião.

 Religião pública dos gregos: Zeus, Olimpo.


 Religião privada
 Há uma tradição filosófica no ocidente que procura se apegar ao logus, a
episteme como forma de libertação e a Tradição esotérica procura a libertação
através do culto religioso. Hermes está presente nos dois.

e) Raiz latina da expressão interpretação: inter-praetatio; entre partes, entre as


entranhas, trazia algo não compreendido a superfície para se tornar compreensível.
(Exemplo do pássaro que mostrava se o dia estava apto ou não para a jurisdição, direito
romano). Sentidos comuns às expressões: mediação, trazer à superfície algo que é
obscuro;

2) Situação gnosiológica da disciplina:

a) Emprego da expressão Hermenêutica como gênero gnosiológico: Dannhauer e


Chlaudenius – séculos XVII e XVIII – hermeneutica generalis;

b) Hermenêutica enquanto disciplina autônoma e unificada – século XIX: Friedrich


Schleiermacher;

 Em Roma hermenêutica, exegese e interpretação eram sinônimos.


 A partir da hermenêutica clássica romântica (Romantismo Alemão) a
hermenêutica passa a ser um gênero cujo o objetivo era a interpretação,
era um gênero que precisava usar a técnica intepretação e a exegese para
se chegar a compreensão. A partir de Schleiermacher, séc. XIX.
 Para a hermenêutica filosófica a compreensão faz parte da hermenêutica
da facticidade e a interpretação é a efetivação do compreendido. (Ver
adiante).
 Essa estrutura chega a hermenêutica jurídica, disciplina que se vale das
distintas modalidades de interpretação (Unificação das modalidades de
interpretação setorizadas: interpretação teológica, bíblica e literária) para
alcançar a compreensão que no caso do direito é o entendimento do
sentido e do alcance de suas expressões. Schleiermacher cria a arte da
compreensão não a partir do objeto, mas a partir uma regra geral que se
aplica a qualquer objeto.

e) Da inexistência de uma Hermenêutica Jurídica enquanto disciplina – técnica de


interpretação, de aplicação e de integração do direito. Atos e fatos que produzem
normas são as fontes. O interprete do direito é aquele que procura o sentido nas fontes
do direito (detectar nas fontes o direito subjetivo, o dever e a sanção) e o alcance (até
onde o sentido pode alcançar, atinge, quais são as situações fáticas que podem receber a
incidência daquele sentido) do direito.

 A hermenêutica trabalha também com a integração do Direito, de modo a


detectar as lacunas e comalta-las. Também trabalha com a aplicação, o ato
de vontade que não é voluntário, e sim fundamentado, racional a partir do
direito e dos fatos (que devem ser provados). Máxima de Chiovenda: o
que não está nos fatos não está no mundo.
 A hermenêutica jurídica (sentido epistemológico da disciplina) não é uma
hermenêutica, com a hermenêutica filosófica ficou claro que não é mais
uma técnica, ciência, e que a hermenêutica é um traço da relação histórica
entre vidas no interior de uma época. Nossa existência é hermenêutica, a
hermenêutica deixa claro o ponto de partido das ciências. A hermenêutica
mostra que a própria construção de métodos é histórica. A hermenêutica
filosófica mostrou que não há a necessidade de método para que a
compreensão se estabelecesse, a compreensão deixou de ser obtida
através de uma artimanha metodológica para ser um elemento que
acompanha a vida, a hermenêutica passou a ser um traço estrutural da
relação do homem com o mundo.
 A hermenêutica é uma metateória, (a teoria é partir de uma posição
justificando por meio de hipóteses, métodos). A posição inicial que leva a
argumentação interior não é explicada, a hermenêutica quer mostrar como
esse ponto de partida atende uma solicitação de um tempo.
 A jurídica é uma técnica de interpretação, de aplicação, Já a filosófica é
tudo menos técnica, e mostra como a técnica é ingênua.
 Deveria ser chamada de Teoria da intepretação, da integração e da
aplicação do Direito.
 A hermenêutica filosófica do séc. XX é anti-técnica, anti-teoria. Procura
se atentar aos fenômenos da vida para além da técnica.
 A hermenêutica filosófica surge com Husserl, Heidegger e Gadamer,
mostrando como A Hermenêutica Clássica Romântica ao mostrar que ao
se valer do método se chega a uma compreensão.
 Sem um método não se chega ao conhecimento. Professor diz que isso é
ingênuo, porque o método chega atrasado e o pré-conceito historicamente
constituído já mostra a coisa como coisa.
 O método se tornou mais uma ferramenta argumentativa do que o
caminho. Se tornou um cinismo argumentativo. Para não mostrar que se
chegou a conclusão por desdobramento racional.
 Teoria da decisão jurídica.
 Savigny é o primeiro a usar o termo hermenêutica no direito – pai da
hermenêutica jurídica.

AULA DIA 29/07/2021

Unidade II – História da Hermenêutica

1) Situação Histórica Inicial: antes de Schleiermacher, existiam unidades de


interpretações setorizadas, relação entre interpretado e interpretação; tipos de
interpretação, que se guiavam pelo objeto em questão. Não existia uma técnica
interpretativa unificada. São as: interpretação, interpretação jurídica e a
interpretação filológica.

 Hermenêutica e interpretação – mediação noético-linguística (medieção entre


pensamento/razão e linguagem);
 Modalidades: interpretação religiosa; religiosa (contexto Reforma protestante),
jurídica: (Surge em Roma – direito romano) e filológica: baixa idade média para
o renascimento, técnica de lida adequada com os pergaminhos de Platão e
Aristóteles, objeto texto clássico.
 Platão: Oráculo de Delfos e Pitonisas; Musas, poesia e rapsódia; Através de
dois dialógos: íon – fedro, aponta a origem religiosa da hermenêutica e a
transformação em técnica, em arte. Platão é aquele a delegar ao interprete o
papel de técnico, por isso no contexto do sistema filosófico do Platão a
hermenêutica era inferior em relação ao conhecimento.
 Raiz religiosa da interpretação:
o Culto aberto exotérico – interior da cidade, Representação de
Zeus e Apolo. Interior do Óraculo de delfos que surge a atividade
interpretativa, no Oraculo trabalhavam as Pitonisas, que eram
responsáveis por intermediar (mediar sentido através da
linguagem) e agendar a audiência dos generais com Deus
(Apolo), de modo a aproximar os Deuses dos homens 
Hermeneuta ou interprete.
o Se repete em Roma, no culto ao Mercúrio (equivalente a
Hermes). “A voz do povo é a voz do Deus” (24:00)
o Tradição privada esotérica – realizada através do orfismo  o
acesso a verdade se dava através do culto religioso. Hermes
também é cultuado.

 Platão diz que a interpretação acontece através do oficio do rapsodo (poeta) –


aquele que consegue explicar a filosofia para a população em geral. O poeta só
escreve o que escreve através da inspiração das Musas, escreve a partir da
mensagem das Musas (mais universal do que a pitonisas, sobretudo porque se
valia as vezes da escrita).
 Para o Platão as palavras sempre se remetem a campos ideais – logos thynos
(palavra de ou palavra sobre), é impossível falar e não “dizer”, a palavra sempre
é orientada pelo apalavrado.
 Para Platão a poesia é a articulação das ideais por meio da articulação das
musas, e a poesia é mais universal do que a história. A história é a reconstrução
de fato (narrativa de grandes feitos), a filosofia tem a possibilidade de fazer com
o universal se articule discursivamente, que a mensagem, a essência apareça. É
necessário então a figura do rapsodo, aquele que compõe a rapsódia, discurso
que permite retomar a mensagem poética e torna-lá compreensível de uma outra
forma.
 O artista realiza mimeses, cópia. Há uma ideia de artificialidade através do qual
a ideia poderia se transmitir a matéria sensível, as artes têm um papel
secundário. O rapsodo é aquele que pega a palavra dita (pelo artista) e procura
explica-la de outra forma.

 Aristóteles: Capitulo Peri hermeneias (da interpretação) – Grande livro da lógica


é o Órganon. Para Aristóteles a interpretação é técnica.
 logos apophanticos, uma proposição, um juízo: atribuição de um predicado a um
sujeito, a predicação é um ato através do qual a essência atua. A proposição
lógica consegue então aproximar ontologia e razão, permite a ligação entre ser e
linguagem. O hermeneuta é aquele que vai receber a proposição linguística,
clarificar o seu texto para que a essência apareça, prepara a atividade do filósofo.
A interpretação é uma técnica de esclarecimento, de exegese. (Palavra
relacionada com essência).

2) Interpretação Religiosa:

 Contexto da religião grega - nos primeiros anos da era cristã (313, Constantino,
381 Teodósino religião oficial), surge um corpo técnico de interpretes que
deveriam esclarecer os textos religiosos e alcançar a mensagem do sagrado, surge
no judaísmo - Tradição judaico-cristã. Essa tradição chega ao cristianismo.
 Primeira escola teórica do Cristianismo: Patrística: conciliação entre
conhecimento (filosofia grega) e fé (tradição religiosa-cristã que se apoia em
textos) – desenvolvido pelos Padres. Só foi possível em virtude do trabalho do
Alexandre, promoveu o helenismo (junção de conhecimentos do ocidente com o
oriente), as primeiras teses de conciliação entre razão e fé aparecem.
 Fílon de Alexandria: primeiro a desenvolver uma técnica de interpretação dos
textos bíblicos: alegorese: a interpretação alegórica, o ponto de partida de
compreensão da mensagem sagrada é através do texto da bíblia, a interpretação
literal, porém, deve se conjuga-la com a alegorese, a mensagem escondida nas
palavras, enxergar para além do texto.
 Orígenes: a tipologia – conciliar antigo e novo testamento, ler uma parte da
bíblia mais difícil através da chave: Cristo vai voltar. Resgaste a parusia: Para
Platão, mostração sensível da ideia, para o Cristianismo: A volta do Cristo.
 Santo Agostinho: Da Doutrina Trinitária: intellige ut credas, crede et intelligas:
entender para crer, crer para entender. Se precisa da fé para que a interpretação
alegórica aparece. Essa interpretação era só alcançada por meio do corpo de
iniciados, só os membros do clero teriam essa condição de argumentar a fé com a
razão. Surge o monopólio de interpretação das escrituras por parte da igreja.
Santo Agostinho reúne a tradição de interpretação bíblica que se dá antes dele,
interpretação no texto “Da doutrina alfinetaria

 Lutero: Para Lutero não era necessário um corpo de iniciados para a


interpretação, qualquer indivíduo através de sua fé individualmente ser iluminado
pela verdade. (Reforma protestante – monopólio da interpretação das escrituras).
A hermenêutica protestante mostra que sem Lutero não se criaria a hermenêutica
unificada. Lutero resgata a hermenêutica bíblica do cristianismo católico:
princípio do sola scriptura (só a escritura é suficiente para trabalhar questões
religiosas), porém, há uma técnica especifica de interpretação: Nasce no interior
da a retórica antiga, a tese do círculo hermenêutico (Flácius Iliricus): para se
entender uma passagem tem analisar a passagem à luz da totalidade do texto, e
para se entender o todo, tem que se passar por casa passagem que o compõem.
Para se entender a mensagem da salvação é necessária a relação entre corpus e
membra, entre parte e todo – interpretação sistemática.

 Para Lutero, o texto é sui ipsus interpres; o texto é interpretado por ele mesmo,
não é necessário nenhum tipo de artificio como alegoria, tipologia, porém, é
necessário a fé, a iluminação e a necessidade da graça da fé para ter acesso a
mensagem da salvação, porém, a graça é acessível individualmente. Requisição
entre contextus e scopus: a situação linguística permite ver a finalidade total da
interpretação.

 Lutero é o primeiro a mostrar que o modo como se interpreta o texto laico


também se interpreta o texto religioso, porém faltou a ele a percepção histórica.

 Schleiermacher duas características: 1. O fenômeno só é compreendido a luz da


totalidade da sua vida, tem que se inserir no todo 2. Esse nexo que lida parte e
todo é construído historicamente – consciência histórica, porém quer eliminar tal
distancia temporal por meio do método.
"O grande erro do Schleiermacher foi achar que a distância temporal precisaria ser
ultrapassada, eliminada (ideia de eliminar coetaneidade). Ele reconhece a distância, mas
quer eliminá-la. "

 Consequências da interpretação bíblica: necessidade de visualização do


fenômeno à luz da totalidade de sua vida; problema: apagamento da distinção
temporal.

Unidade II – História da Hermenêutica

2) Friedrich Schleiermacher (tido como o pai da Hermenêutica epistemológica) e a


formação Hermenêutica Clássica
a) Sentido da expressão “Hermenêutica Clássica”: Disciplina que surge no séc.
XIX a partir do trabalho de Schleiermacher que procura criar uma ciência
interpretativa unificando as modalidades setorizadas de interpretação que se
observava antes do séc. XIX.
Características:
 Tentativa de se pensar numa estrutura metodológico-cientifica que se
aplicaria a todo e qualquer tipo de objeto interpretativo possível.
b) Hermenêutica Clássica: Hermenêutica Romântica e Hermenêutica Historicista:
c) Hermenêutica Clássico-Romântica (Schleiermacher)
- Objetivo: arte da compreensão entender o autor melhor do que ele mesmo ligação
com a arte, com a detecção do estilo.
- Objeto: discurso em geral, independentemente de sua natureza e seu conteúdo
- Objetivo: Unificação das modalidades esparsas de interpretação;
- Influência do Iluminismo e do e do Romantismo alemão:
- Ponto de partida (influência do Iluminismo): distinção entre interpretação laxa e
interpretação austera
Intepretação laxa: A interpretação tal como se desenvolveu antes do
Schleiermacher era pensada como uma arte – arte como uma técnica de
esclarecimento de textos obscuros, o interprete realizava sua atividade procurando
realizar a compreensão que requisitava uma expertise especifica ao se deparar com
textos sobre o qual ele não conseguisse obter a compreensão. Uma interpretação
descuidada pois só se preocupa em compreender adequadamente ao se deparar com
a não compreensão. O ponto de partida deveria ser a atenção da razão em relação a
atividade interpretativa, sobretudo em relação aos preconceitos que circundam o
interprete – tese típica da modernidade filosófica – Decar. Preconceito por
autoridade: quando aquele que procura construir um discurso filosófico se pauta
sobre argumentos de autoridade é um erro, pois se pauta em pré-conceitos.
(Rivalizando com a tradição escolástica). Preconceito por precipitação: modo de
realização filosófica que se faz para além do método, como aquele que acredita na
existência natural do mundo exterior. Se lança assim a dúvida hiperbólica do Decar.
Interpretação austera: Inicialmente, deveria se quebrar o pré-conceito de que a
correta interpretação só se faria compreensível diante da não compreensão, o
interprete precisava se autovigiar para chegar a um resultado certo e seguro, tendo
atenção aos pré-conceitos e sua contaminação na atividade interpretativa.
- O problema da interpretação bíblica de Lutero e a formação das duas
características fundamentais da tradição de pensamento hermenêutico. A primeira
característica da hermenêutica relacionado a “parte de um todo” se desenvolveu na
hermenêutica bíblica protestante, segundo scheleiermacher, Lutero não percebe que
a bíblia é um texto histórico e foi escrito em contextos diferentes, assim, unificaram
através da fé e ignoraram as diferenças históricas, Chegamos a segunda
característica, que diz que devemos perceber que esse nexo que aproxima parte e
todo é construído historicamente, assim, para que a interpretação austera se
desenvolva, é necessário superar esse pré-conceito que não consegue perceber a
distância histórica de texto e presente. Se se quer entender o autor melhor do que ele
mesmo, se deve ter um meio de acesso ao contexto em que foi escrito, é necessário
então aproximar passado e presente.
O romantismo alemão contesta todas as conquistas intelectuais do iluminismo
valorizando aspectos que são secundários na visão do iluminismo, ressaltando o
papel da linguagem, natureza, mito, e sobretudo o papel da intuição como elemento
de conhecimento, a técnica cientifica-filosófica da modernidade se desenvolve
através do método dedutivo e do indutivo, a intuição que a apreensão imediata entre
parte e todo fica de fora. O romantismo alemão quer resgatar a importância da
intuição como elemento de mediação do conhecimento, Schleiermacher tem um
papel de importância no romantismo alemão.
- Concilia assim as teses do iluminismo com a do romantismo para desenvolver uma
ciência interpretativa.
- Outra influência destacada do Iluminismo é o de resgatar a importância do método,
schleiermacher então pensa a hermenêutica como duas espécies de interpretação:
- Modalidade de interpretação gramatical e psicológica (ou divinatória ou
advinhatória). Devem ser realizadas conjuntamente, devem se desenvolver de forma
metodológica (Savigny resgata as teses do Macher para desenvolver uma
hermenêutica jurídica clássica – se vale dos distintos métodos de interpretação:
gramatical, logico-sistemático, histórico e teleológico). Etapa da realização da
interpretação austera (interpretação metodológica).
- Importância do método: etapas a serem percorridas na interpretação gramatical e
na interpretação psicológica:
 Velha tese do círculo hermenêutico (tentativa de ler conjuntamente parte
e todo), (para Macher, 1. Entender o texto inserido no todo do gênero
linguístico daquele texto, 2. Perceber que a vida daquele ator é
fundamental para que se entenda o seu texto, a estrutura do alter-ego)
que vai ser responsável pela Suspensão dos pré-conceitos. Há porem uma
limitação, aquilo chamado por Macher de circularidade viciosa, que é
aquele problema, qual é mais importante? A parte ou o todo?
Ai vem a interpretação psicológica, que é aquela que permite superar a viciosidade do
círculo hermenêutico a partir da utilização da estética da congenialidade: significa que o
interprete vai se valer do gesto heroico (deve ser também um gênio) de saltar ao passado
e obter assim a coetaneidade.
 Coetaneidade: Coetano: aquilo que coexiste temporalmente, interprete e
autor lado a lado. O autor que ficou no passado e que se deve trazer para
o presente, é um gênio, pois inovou no uso da linguagem. Literalmente:
Aproximar passado e presente, quando se supera a distância entre
passado e presente.
 Estética da congenialidade (conversa de gênios) ou a retomada do
princípio estruturante da obra; Captação de estilo de forma intuitiva
como se fosse na forma de tentativa e erro. Técnica que permite que a
coetaneidade se dê.
- A figura do gênio: aquele que tem a capacidade de criar a partir do nada, aquele que
consegue se valer da linguagem convencional e utilizar formas linguísticas de modo
autentico, cria um modo especifico de desenvolvimento de um discurso compreender
o autor melhor que ele mesmo;
O interprete consegue ser genial quando se lança para a obra procurando o estilo do
autor, que sempre aparece intuitivamente, quando consegue alcançar esse estilo,
realiza o seu salto rumo a obra. Isso acontece a partir de tentativas e erros. Checagem
conjunta entre texto e intuição (ideia) até conseguir entender o sentido. Muitas vezes
o interprete complementa o trabalho de redação da obra ao entender o autor melhor
do que ele mesmo. Só a posse do estilo permite suplantar essa distância temporal.
- Entender uma lei significa detectar a vontade do seu autor.
- Críticas a Hermenêutica Romântica: coetaneidade e salto congenial.
- Gadamer contesta em seu livro “Verdade e Metodo”: 1. A ideia de distinção
temporal, Gadamer diz que o passado está aqui, o passado veio até a mim através do
fluxo da história. A história me joga um passado no presente e me abre para o futuro
(fenomenologia) 2. Salto congenial: Não há como fazer esse lançamento porque a
obra está aqui, o que importa é a configuração da obra na sua recepção. (Ex.: Platão –
Plotino, decisões históricas da tradição envolvendo o texto do Platão). É necessário
apenas lidar com a obra, porque assim o ser da obra se articula.

UNIDADE II – HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA

Hermenêutica Clássica: segunda estação: o Historicismo Alemão – Wilhelm Dilthey

Porque Hermenêutica Clássica? 1. Temos uma disciplina que se preocupa com a


compreensão em geral, compreensão para todo e qualquer tipo de objeto em questão. 2.
O modo de se alcançar essa compreensão é sempre através do método, não abre mão do
método.

a) Hermenêutica Clássico-Historicista;

b) Historicismo alemão do século XIX: Temos a reformulação e o avanço de alguns


pontos relativos a hermenêutica clássica de scheleiermacher e com Dilthey se tem a
modificação da própria pretensão, do próprio objeto da hermenêutica como um todo.

 Procura destacar e trabalhar a história de forma adequada.


 Primeira característica fundamental: Despertar do interesse em relação a
história, antes do séc. XIX era tratada como narrativa, de grandes feitos,
grandes comandantes de batalha, grandes homens, exércitos. Com o séc.
XVIII e XIX se tem um modo diferente de lidar com a história que começa a
se reconstruir no interior do Iluminismo, 1º texto filosofia da história:
Voltaire que se pergunta se existe um sentido da história. 1º autor que
trabalhou de forma mais aprofundada foi Kant: pensa a história como campo
de realização do transcendental – diz que se existe Deus, o homem um dia
pode se tornar perfeito através da moralidade, que vai se dar por meio da
história e não individualmente (humanidade) –Pensa a história de forma
racional e por meio de um postulado.
 Hegel pensa a história articulada a consciência: Idealismo alemão – corrente
de pensamento que faz com que a história seja o plano máximo de realização
da razão. A razão que se realiza é chamada por Hegel de espirito – realização
progressiva da razão na história.
 Historicismo alemão recepciona toda essa tentativa de abordagem da história
por parte da filosofia. De início não segue o tratamento idealista da história,
séc. XIX é o século da autonomização das ciências (História, biologia,
psicologia), tenta construir uma ciência da história.
 Três grandes representantes: Gustav Droysen, Leopold von Ranke e Wilhelm
Dilthey;
- Ciência histórica: sujeito histórico, descrição objetiva do fato histórico
documentado e utilização do método Droysen pai da ciência da história, tinha a
intenção da construção de uma ciência da história, faz se necessário utilizar a
estrutura metodológica das ciências naturais nas ciências históricas. Era necessário
então definir o objeto da ciência da história, que era a análise de um fato histórico
documentado. A construção da História como objeto de conhecimento e não mais
uma narrativa de grandes feitos, o ponto de partida da ciência era um fato histórico
narrado através de um documento;

- Droysen: a formação da historiografia como objeto de conhecimento;


desenvolvimento da consciência histórica;

O cientista da história é aquele que vai se debruçar sobre esse objeto através de um
método que vai lhe garantir a sua neutralidade, sua função é descrever esse fato
histórico procurando apresentar os motivos de sua constituição. A historiografia
trabalha com uma categoria típica das ciências naturais, a categoria da explicação
causal. Fazer história é recompor os nexos que explicam o modo pelo qual aquele
fato histórico aconteceu. Explicar o objeto significa toma-lo no espaço e no tempo e
apresentar a motivação da sua presença. Com Droysen temos o desenvolvimento pela
primeira vez de uma Ciência da história.

Ranke pensa numa relação entre particular e universal de outra ordem.

- Rejeição à utilização das categorias das ciências naturais – resgate de Vico – A


Ciência Nova e o princípio do verum-factum;

- Dilthey: projeto distinto – a fundamentação histórica das ciências. Todas as ciências


devem perceber que sempre se movimentam em um campo histórico especifico para
que não sejam ingênuas, as ciências necessitam reportar a história para que consigam
se desenvolver da melhor maneira possível. Para Dilthey, todas as ciências são
históricas porque a vida é histórica.

– desenvolvimento de uma filosofia da vida; unidade entre espírito e história,


categorias e vida;

- As categorias de conhecimento são necessariamente históricas: projeto de uma


Crítica da Razão Histórica; ele critica a razão histórica.

- Fundo histórico da vida: a noção de época; Dilthey diz que tudo que se dá no
interior de uma época é uma expressão vital histórica dessa época. Época então
significa esse contexto histórico que vai permitir a articulação do nexo vital, o espaço
de constituição da vida, vida necessariamente se desenrola no interior de uma época,
diz que somos finitos porque respondemos a solicitação de uma época. Expressão
espirito objetivo: tudo que se dá no interior de uma época é uma expressão histórica
dessa época.
- As expressões objetivas no interior de uma época: as vivências, os modos de ser,
são imediatamente articulações de uma época e o espírito objetivo; Tudo é expressão
vivencial de uma época. A lei responde a solicitação de um todo.

Dilthey diz que a ciência é ingênua a partir do momento que não percebe a sua
fundamentação histórica, pois o cientista acha que estuda um objeto a partir de sua
vocação, mas aquilo é uma articulação do contexto vital (faz sentido naquele
momento estudar aquilo), as ciências retiram o fenômeno de seu contexto vital.

As ciências são explicativas pois posicionam o objeto no espaço e no tempo e


procuram recompor a sua cadeira de formação. Explicar – do latim: ex plica: dobra
(saias plissadas) explicar: desdobrar. A causa do fenômeno está escondida e o
historiador traz o fundamento oculto para a presença. Contudo o aspecto que não
deve ser esquecido é a fundamentação histórica desse fenômeno particular, para
Dilthey a Hermenêutica vai fornecer as chaves de inserção do fenômeno do todo na
vida, compreensão é chamar atenção para essa relação entre parte e todo histórico.

- Características da tradição hermenêutica: unidade entre o particular e o universal no


esteio histórico;

- Hermenêutica das Ciências do Espírito: destacamento do nexo histórico que


perpassa a tudo;

- Reconstrução do Nexo Histórico: a compreensão é um elemento que permite a


aproximação do eu e do tu por meio da reconstrução do nexo histórico em que
idêntico e distinto se movimentam. Apesar de nós individualmente acreditarmos que
nossas vidas são distintas, as nossas vidas particulares têm o mesmo elemento de
conexão: se desenrolam no mesmo todo histórico.

O filosofo ao utilizar o método compreensivo não é dizer que o oficio do cientista é


menos importante e sim fornecer chaves para que o ofício do cientista se desenvolva
ainda melhor, as ciências humanas são complementares as ciências naturais.

- A compreensão é uma Metodologia das ciências humanas/complementares as


ciências naturais: As ciências humanas necessitam de uma metodologia para a
reconstrução através de expressões vitais.

Como reconstruir esse contexto vital: Estudar cada expressão vital para assim
recompor o nexo histórico. O que é impossível, como analisar cada expressão? Não
há como reconstruir o mundo a partir dele. Algumas expressões porem conseguem
dar voz com mais clareza ao tempo em que se movimenta, uma expressão
reverberante: a poesia. Porém, a biografia é o melhor método pois é importante o
contexto vital em que o retratado se movimenta. A partir do perfil do biografado se
consegue ver a época histórica. Ainda diz que o melhor método é a descrição da
psicologia interior, se se descreve a vida psíquica do interior o que se encontra é
história: Texto chamado “ideias sobre uma psicologia descritiva e analítica”:
Descrever o interior me permite ver o exterior.
 Heidegger diz que Dilthey estava à beira de perceber que não existe
interior, se reporte ao exterior, se reporta a filosofia da consciência, para
Heidegger, o interior é o reflexo do exterior, o psíquico interior é uma
articulação da história, um reflexo do exterior e não causa do exterior, não
se deve valorizar o interior em sua interioridade, por isso sua metodologia
não prossegue.
 Problema fundamental: relativismo histórico, não se pode voltar a época
antiga, o que é corrigido pela fenomenologia por meio da fusão de
horizontes. A congenalidade não entra pois o passado é a expressão de
uma outra época.

História: um dos processos de sedimentação

Memória: um dos planos de sedimentação

AULA DIA 18/08/2021

Unidade II – História da Hermenêutica

5) Fenomenologia e Hermenêutica I – Edmund Husserl (1859-1938): autor essencial


para que se trabalhe grandes partes dos problemas filosóficos da contemporaneidade,
alemão, veio da matemática, se tornou catedrático de filosofia da Universidade na
Alemanha, se aposentou, foi caçado por ser judeu e teve que fugir da Alemanha, boas
partes de seus textos quase se destruíram, e um discípulo, monge franciscano reuniu
esses textos e os levou para Luvan – Bélgica. A Universidade de Levan recebeu esses
escritos e construiu o Instituto Husserl – Husserleana – obra póstuma conjunta de
Husserl.

a) Vida e obra – textos e fases filosóficas fundamentais: obras com alterações de


percurso ao longo de sua trajetória filosófica
- Investigações Lógicas (1901): primeira fase: influência da lógica e da
matemática
- Primeiro Volume – Prolegômenos à Lógica Pura; se contrapõe as grandes
vertentes lógicas de seu tempo
- Segundo Volume: Introdução a Fenomenologia e a Teoria do Conhecimento;
introduz o método fenomenológico e a questão da intencionalidade
- Segunda fase: idealista: Ideias para a Fenomenologia Pura e para uma Filosofia
Fenomenológica 1 (1913)
- Hurssel Tardio:
 Meditações Cartesianas (1931) – surgiu de uma Conferência em Paris,
essencial para que Husserl fosse introduzido na França - Derridá
 A Crise da Ciência Europeia e a Fenomenologia Transcendental (1936);
critica o projeto filosófico que surge com o Iluminismo, um
esclarecimento epistemológico-cientifico a partir da filosofia da
História: tese do mundo da vida
b) Investigações Lógicas - Intenção filosófica fundamental: pretendeu desenvolver
a Filosofia como Ciência Rigorosa e muitas vazes esse projeto husserliano não é
devidamente entendido, Husserl é um filosofo que procura a todo instante a ideia
de evidencia, de essência, para que o projeto filosófico da contemporaneidade
pudesse ser corrigido, superando as hipostasias realistas e idealistas, pensar a
filosofia como ciência rigorosa é significa sobretudo analisar os problemas
filosóficos de uma forma crítica, a partir de uma segurança racional procurando
a evidencia das essências;
- Problemas filosóficos pretéritos: tese filosofia platônica – saber como crença
justificada; Sócrates foi condenado por descredenciar os Deuses da cidade,
Sócrates afirmava que ele se colocava como aquele que não sabe ao contrário de
seus contemporâneos que acreditavam que sabem aquilo que sabem, já Sócrates
tem certeza que ele não sabe. É importante citar que o Platão procura as
estruturas fundamentais do conhecimento a partir da realidade sensível, pois
segundo Platão não se tem conhecimento intuitivamente, o que nós temos é
apenas conhecimento discursivo. O ponto de partida para o conhecimento
discursivo é colocar em questão as crenças, crenças que diferentes do senso
comum não são injustificadas, pois discursivamente testam essas crenças até
chegarem a argumentos ideais que permitem que sejam aceitas. Movimento
ascendente de crença justificada até a crença justificada elevada, até que chega
ao ponto máximo que é a alegoria da linha. Essa tese se arrasta ao lado de toda a
tradição filosófica ocidental, chegando ao idealismo, ao kantismo: para que se
tenha conhecimento é necessário que se tenham previamente categorias,
resgatada pela idealismo alemão, para Husserl, isso precisa ser superado pois
levou a Hipostasia idealista.

- O Pscicologismo e a Lógica Pura: Hume e a particularidade do conhecimento.


David Hume: Não é possível qualquer tipo de experiência universal de
conhecimentos porque somos seres particularmente situados. A lógica não teria
condições de se pensar de forma universal porque somos seres particulares. O
pscicologismo vai mostrar que a lógica enquanto ciência pode ter falhas devido
ao nosso caráter de particularidade. Logo, todo o nosso conhecimento está
ligado a sensações que são associativamente organizadas, então o que chamamos
de princípios universais, lógica, são hábitos que vão paulatinamente
sendimentando de forma associativa justamente porque sempre se partem de
sensações localizadas.
Para Husserl, as experiências particulares que nós vivenciamos diariamente
apesar de serem particulares, o conteúdo dessas experiências é sempre
universalizado.
Derrida diz a partir de Husserl que a linguagem quando anuncia vai sempre
anunciar conteúdos significativos idealizados, não tem como falar e não dizer.
Com Husserl sobretudo a partir da primeira investigação lógica há uma
diferença muito clara entre expressão e significado.
Expressão:
 Ato de anunciar (um conteúdo seja anunciado, que se autonomiza
daquele que enunciou, de modo que há a possibilidade de ser
concretizado no seu ouvinte: pode entender esse conteúdo de uma
terceira forma, o que Husserl chama de preenchimento de significado, A
lógica jamais aceitaria isso, querem mostrar as investigações lógicas o
conteúdo universal de todo ato enunciativo, de toda a linguagem pelo
qual nós passamos diariamente.
- É necessário então que se lance as bases de uma Ciência rigorosa: dependência
da invariante eidética (alcance das essências a partir de suas evidencias) e a
busca da evidência;
- Problemas pregressos: a hipostasias: tese da filosofia que acredita que o ser do
fenômeno está para além do fenômeno, a verdade das coisas sempre está para
além do modo de aparição das coisas, é necessário então partir daquilo que
aparece, procurar o elemento que não aparece sensivelmente porque é esse
elemento que não aparece que permitirá a verdade do que aparece
 Realista: aquela que se verificou na filosofia greco-romana-cristã
(metafisica do objeto). Existiam essenciais reais, verdadeiras, imutáveis
que estavam nas coisas para além de mim, conhecer é a verdade
enquanto adequação do pensamento as coisas. Conhecer verdadeiramente
significa buscar o acesso a essas verdades imutáveis. O problema é o que
o meu acesso a essas coisas pode contaminar a verdade ao transmitir a
minha subjetividade.
 Idealista. Filosofia moderna – idealismo alemão, Kant e Hegel. As coisas
encontram sua medida de verdade na consciência, antes de me preocupar
a conhecer as coisas, eu razão tenho que me preocupar com minhas
próprias condições de conhecer. Virada copernicana: terra deixou de ser
vista como centro do universo (Copérnico), as coisas devem girar em
torno da razão – Crítica da Razão Pura Kantiana.
O idealismo chega a ver o objeto como uma outra face do sujeito, reduz
toda a realidade exterior a razão, pro idealismo absoluto Hegeliano a
realidade nada mais é que a razão expericiando a si própria no tempo,
Hegel chama de espirito. O mundo exterior é uma etapa para que o
objeto verdadeiro possa aparecer que é a razão que se experimenta. O
perigo é acreditar que o mundo exterior é uma fantasia.

Husserl diz que essas duas posturas hipostáticas são problemáticas porque sempre
pensam polos reduzidos da realidade.

- Fenomenologia e o conceito de fenômeno: aquilo que conduz toda a


investigação fenomenológica, fenômeno é aquilo que se dá por si mesmo, para si
mesmo, a alguém, aquilo que aparece por conta própria a alguém, não há
possibilidade de algo aparecer sem aparecer para alguém. Husserl deixa claro
que a consciência pensada pelo realismo e idealismo não se sustenta pois a
consciência é sempre uma consciência intencional: a intencionalidade (in –
tendere: tende ao interior dos objetos, não tem como ter um objeto sem ter um
ato, surgem ao mesmo tempo) - Surgiu com o autor da lógica alemã – Brentano.
Com a intencionalidade, quer HUSSERL afirmar que a consciência é sempre consciência de
alguma coisa pelo fato de ela sempre já se encontrar junto ao seu campo correlacional ou de
mostraçao dos “objetos”: “Sua intelecção fundamental era a de que a consciência não é de modo
algum uma esfera fechada em si, na qual suas representações estariam cerradas como que em um
mundo inferior próprio, mas de que ela já sempre se encontra ao contrário, segundo sua própria
estrutura essencial, junto às coisas. Trata-se de um falso primado da autoconsciência o que
acontece na teoria do conhecimento. Não há na consciência imagens representativas dos objetos,
de modo que o problema propriamente dito do conhecimento seria garantir a adequação às
coisas. A imagem que temos das coisas é muito mais normalmente a maneira como somos
conscientes das coisas”. GADAMER, O movimento fenomenológico, cit., p. 144-5.

1. A consciência nunca é um bloco monolítico pronto e acabado (diferente das


teses anteriores da tradição filosófica). Kant procura apresentar faculdades dessa
consciência para que se tenha acesso da consciência a esse mundo. Se pensam
assim em métodos por meio dos quais a consciência acessa as coisas: empirista
(das coisas a consciência) ou racionalismo (da consciência as coisas)

- Husserl diz que a Consciência são fluxos de vivências em que se desenvolve a


relação entre ato (lembrança, percepção, imaginação, representação, fantasia) e
correlato intencional (ou noesis e noema – Ideias I); Quando o ato de
consciência aparece ele imediatamente abre espaço para que o objeto correlato
se auto constitua co-originariamente, para que a coisa apareça por conta própria
na relação com a consciência. Fenômeno para o Kant é a organização de
sensações que se dão aos sentidos por espaço e tempo, conseguindo assim se ter
uma representação, ai pode se unir essa representação com as categorias de
entendimento e formar um juízo. Sentiu o perfume imediatamente a pessoa que
usa o mesmo perfume aparece. Quando o ato de lembrar (intencional) aparece
imediatamente o lembrado aparece sem que a pessoa tenha feito nada. Husserl
deixa claro que todo ato de consciência é intencional. Intencionalidade significa
dizer que a consciência explode rumo as coisas, sempre se depara com coisas
que apareçam a ela, o que não pode ser negado, esse caráter de auto
aparecimento das coisas. A fenomenologia vai lidar com esses fenômenos que
aparecem por contra própria a alguém na relação.
A consciência cria a possibilidade de estabelecimento de uma relação no interior
da qual ato requisita correlato – Relação de co-requisição – intencionalidade.
Quando se escreve 4 números numa letra não se pode negar que se vê uma data.
Fenomenologia é a descrição desse modo de autoconstituição de fenômenos.

- Autodação: as coisas se mostram a partir delas mesmas, para elas mesmas, na


relação com a consciência e princípio filosófico fundamental - §20, Ideias I; Não
existe a possibilidade filosófica de conhecer qualquer coisa que não seja guiada
por uma autodação, fenomenologia é a descrição desse movimento de autodação
das coisas na consciência. A consciência abre espaço para que o objeto correlato
aparece, o oficio do filosofo é descrever esse modo de aparição. A estrutura da
consciência é intencional, e quando isso se estabelece se tem uma possibilidade
de fazer uma ciência rigorosa.
- Ciência rigorosa então é a descrição fidedigna dos modos de autoapresentação
dos fenômenos na consciência.
Ato: atividade da consciência
Essência para Husserl é aquilo que é Correlato: aquilo que aparece no interior dessa atividade
invariante a partir de várias variações.
Filosofia como ciência rigorosa significa Noesis: ato intencional
Noema: objeto intencional que aparece na relação para
a descrição da essência: um fenômeno completamente
com o outro ladocompreendido a partir
dos
seus distintos modos de aparição

- Caminho filosófico:
a) epoché: abstenção de julgar, do juízo (a coisa) – problema da existência
externa do mundo natural; o ponto da partida deve ser a contestação da tese da
existência natural, problema da existência do mundo exterior, pressupomos que
as coisas das quais lidamos diariamente existem e são tal como as encontramos.
Desde os Gregos a existência do mundo exterior não é passível de contestação.
Não posso dizer que o mundo exterior é tal como eu vejo
b) redução [recondução] fenomenológica; deixo de lado, suspendo o mundo
exterior e passo a examinar a dinâmica da consciência. Reconduzir a minha
investigação a dinâmica interna da consciência, quando se faz essa analise
sempre se percebe que a consciência acontece nessa relação de fluxo entre atos e
correlatos, quando se analisa cada um desses correlatos, se percebe que a
compreensão nunca é plena (de uma vez só), o que Husserl chama de zona de
penumbra. É necessário que se perceba os distintos modos de aparição desse
objeto para conseguir aquilo que não varia em meio as distintas variações.

- O grego pressupunha que o mundo exterior era pronto acabado, perfeito,


realizado plenamente a partir de essência, caberia a consciência conhecer
adequadamente esse mundo, a coisa é o parâmetro de orientação da realidade:
Husserl – apostasia realista. no mundo grego que se observava a hipostasia:
perceber o ser do fenômeno para além da sua dinâmica de realização, o ser do
fenômeno está para além do fenômeno.

- No mundo moderno (Decar), muda se o polo mas o raciocínio continua o


mesmo, pressupunha se a perfeição (o ponto de partida da razão) para se deduzir
a realidade exterior. A fenomenologia quer acompanhar o movimento através do
qual as coisas se constituem como tal, só que esse movimento depende da
relação da consciência com as coisas (a consciência não cria as coisas), quer
perceber que a partir de uma dinâmica de consciência (um fluxo) a partir da qual
se estabelece uma relação com as coisas que se autoconstituem correlatamente.
O ato de consciência a partir de que se estabelece, abre espaço para que as coisas
se constituam na relação com a consciência a partir delas mesmas. Ex: Perfume,
o percebido aparece por conta própria através da percepção (ato de consciência),
instantaneamente. A Filosofia moderna é pensada da seguinte maneira: há uma
representação que ativa as categorias da razão e permitem a formação do juízo e
esse juízo permite a identificação daquela coisa. Quando as coisas se dão, não se
pode negar a objetividade daquilo que aparece. O método fenomenológico quer
acompanhar esse processo, o ponto de partida é a redução fenomenológica:
suspender a realidade do mundo exterior. A partir do momento que se dedica a
investigar a dinâmica da consciência que me é aberta pela redução
fenomenológica, tenho condições de passar para a redução transcendental:

c) redução transcendental: acompanhar o modo através do qual os correlatos


(noema) aparecem a partir do momento em que eu investigo a dinâmica da
consciência, como a pessoa pode aparecer pra mim enquanto percebida a partir
do momento em que eu analiso a relação entre percepção e percebido? Vai
investigar a gênese, a constituição dos objetos correlatos. Perceber aquele
elemento que não mais varia, a evidência como invariante na variação, a redução
transcendental permite ver a essência: elemento invariante, a gênesis, a
constituição dos objetos correlatos, a filosofia diante da essência tem a sua
evidencia: apresentação da essência de um objeto – o problema do
alumbramento do campo correlativo de objetos; Quando as coisas se dão uma
coisa necessariamente fica oculto, é necessário girar para que a zona de
penumbra fique um pouco mais claro. Assim, aquilo que aparece não pode ser
negado na sua aparição (ao contrário do que dizia Platão). Não existe ser da
coisa para além da aparência. Sem consciência é impossível que isso apareça. –
intencionalidade: entendere: entender as coisas, se tem a intencionalidade entre o
ser-aí e o ser no mundo.

c) As Meditações Cartesianas: Esforço tardio do Husserl de pensar o mundo da


consciência
- Retomada do problema do problema das Lições para uma fenomenologia da
consciência interna do tempo: retenção: sedimentação de experiências no tempo
e protensão: abre espaços para que novas experiências possam se constituir; vai
mostrar como as coisas vão se sedimentando paulatinamente na relação com a
consciência, a própria consciência se temporaliza, retém e antecipa experiências
– ouvir música, retém uma nota e antecipa a subsequente
- Problema do Mundo (reunião de todos aqueles objetos que sofrem algum tipo
de retenção na relação com a consciência, antecipando elemento a partir do
passado, o futuro se abre para mim, mundo é o conjunto desses elementos que
vão sedimentando temporalmente) Horizonte (apresentação do mundo para mim,
estrutura que permite experiências temporais posteriores, possibilita futuras
experiências (fusão de horizontes - gadamer): estrutura de concretização da
experiência do ego meditante;
- A consciência cinestésica: quando se percebe o objeto não nos damos conta
que ao perceber estamos lidando com um observador que é estático – ao se
movimentar diante de um objeto a percepção se modifica, acompanhar o próprio
movimento daquele que percebe e acompanhar também como o percebido se
percebe, se constitui, se dá na relação do percipiente que se movimenta e o
aparecimento análogo do outro: a percepção corporal do outro é diferente, não se
tem como ter acesso a consciência do outro para saber como ele percebe os
objetos. Há uma limitação de acesso a consciência interior do outro, só se pode
pressupor que ele percebe como eu percebo. – mundo da intersubjetividade.

AULA 26/08/2021 – HERMENEUTICA JURIDICA

Unidade II – História da Hermenêutica

6) Fenomenologia e Hermenêutica II – Martin Heidegger (1889-1976) Heidegger foi


aluno do Husserl, maior filosofo do séc XX, sua obra se orienta pela questão da
ontologia. Heidegger estuda a questão acerca do ser e o seu modo de atacar essa questão
vai se alterando. Heidegger quer pensar o ser para além das dinâmicas de constituição
particular dos entes, quer pensar a ontologia para além das sedimentações históricas das
diferentes formas de metafísica.

 “O copo está aqui” – aspecto espacial


 “O triangulo é composto por 3 lados” – juízo analítico. O verbo ser explicita
características do próprio sujeito, o predicado explicita características do
próprio sujeito.
 “O livro é bom” – atribuição de um predicado ao sujeito – juízo sintético
 “A agua é cristalina” - estado

Há distintos modos do modo ser se apresentar, mas o ser nele mesmo não se confunde
com cada um desses entes, o ser não é cristalino, não é 3 lados, não é aqui, não é bom.
O Heidegger quer pensar o que é o ser então para além dos distintos modos de
entificação? Ser e ente são coisas distintas. A pergunta da metafisica tradicional é “o
que é o ser enquanto ser?” Heidegger quer pensar o que é o ser pensado para além das
distintas respostas, para além dos distintos modelos históricos de metafisicas a respeito
da questão do ser, o que é o ser enquanto tal no interior da sedimentação da história da
metafisica?

a) Textos e fases filosóficas fundamentais:

- Ser e tempo (1927); deveria ser “Ser é tempo”, pois a tradição filosófica ocidental
pressupõe que o ser deve ser presença, estabilidade, imutabilidade. A causa final orienta
o movimento, para se orientar o movimento o fim não deve se alterar, se faz necessário
uma estabilidade para orientar o processo de movimento, permanência na mudança. O
transcendental no Kant, o espirito no Hegel. Obra em que Heidegger vai desenvolver a
chamada hermenêutica da fatidicidade, a hermenêutica do Ser-Aí.

- A Origem da Obra de Arte (1950);

- Contribuições à Filosofia (1936-8 – póstumo - 1986); obra mais importante de


Heidegger porém difícil de ser entendido
- Os conceitos fundamentais da metafísica – Mundo, Finitude, Solidão (póstumo –
década de 1930); texto de metade do percurso

b) Intenção filosófica fundamental: a ontologia e a questão do ser:

- Ser e tempo: Para a tradição filosófica ser é estabilidade e não pode se corromper pelo
movimento, Heidegger quer mostrar que o ser não é presença e estabilidade, mas
diferença temporal, por isso é fundamental se perceber que ser e ente são coisas
distintas, o que vai chamar de diferença ontológica. Todo o projeto filosófico
Heideggeriano é perceber a formação do fundamento histórico das distintas formas de
metafisica, contudo esse fundamento é temporal, o ser é temporal, e essa temporalidade
do ser não atenta quanto ser ele mesmo.

Primeira questão é perceber o que é o ser no interior das diferentes formas de


metafísica, e segundo o que é o ser enquanto ser para além das distintas formas
históricas da metafísica, Heidegger quer articular temporalidade, história e ontologia.

- O Problema da ontologia – a determinação histórica da pergunta acerca do ser


sobretudo no interior das ciências para além da concreção ôntica regional; ontologia e
história;

Heidegger quer mostrar como as ciências pautaram o modo como se pensa o ser. As
ciências posicionam um objeto no espaço e no tempo, requerem a estabilidade desse
objeto para descrever o modo através do qual esses objetos se tornam o que eles são,
quais são as características, as causas, os fundamentos da aparição daquilo que aparece,
logo para a ciência o ser precisa ser estabilidade no interior de um processo racional de
conhecimento. Heidegger quer mostrar como esse modo através do qual as ciências
lidam com os entes dificultam a percepção do ser. Esse modo precisa ser revisto para se
perceber que essas metafisicas, essas teses cientificas são datadas, são históricas e não
atacam de forma radical os seus próprios fundamentos. A ontologia deve atacar e
questionar o fundamento do qual se movimenta as ciências e as teses metafisicas em
geral.

a importância da ontologia fundamental; Para que essa ontologia global possa ser
conduzida é necessário que se conduza a ontologia fundamental: antes de se indagar
sobre o que é o ser em geral para além das distintas metafisicas, deve se perceber o
modo como se dá, como acontece, qual é o ser desse ente que questiona a respeito do
ser em geral, qual é o modo de ser desse ente que coloca a questão do ser? Heidegger
parte da análise daquilo que vai chamar de Ser-Aí (o homem) para que consiga
desenvolver a ontologia. A ontologia fundamental é então a descrição do modo de ser
do homem porque é justamente o homem que se coloca a questão a respeito do ser em
geral. Ontologia fundamental é uma analítica da existência do Ser-Aí ao mesmo tempo
em que se realiza uma hermenêutica da facticidade – como o ser ai é ao mesmo tempo
ser no mundo.
Heidegger diz que qualquer questão filosófica para que seja bem conduzida deve estar
atenta a “situação hermenêutica”, os conceitos filosóficos se formam, a partir desse
momento, o processo no interior do qual eles despontam fica pra trás. Mas essa vida do
conceito é fundamental para que eu entenda o conceito como conceito. Porque nós nos
movimentamos no interior desse processo histórico, e esse processo histórico orienta a
nossa visão acerca das coisas. Nós sempre nos movimentamos numa situação
hermenêutica, e essa situação hermenêutica é fundamental para que eu entenda o autor
em questão (Guimaraes rosa). Não basta fazer a pergunta: O que é o ser enquanto ser?
Se deve analisar a própria estrutura desse ente que pergunta a respeito do ser: Analitica
existencial

- §9: Analítica existencial – o ser-aí; por que ser-aí; ser-aí como a priori performático
(existencial, uma performance, um movimento), e não como categoria ou conceito (de
homem); Como de pronto e imediato esse ente que se pergunta a respeito do ser
acontece? Como ele se dá? Qual a gênesis?

- Heidegger quer rechaçar o conjunto de definições substancialistas de um homem. A


tradição filosófica sempre apresentou conceitos de homem: Aristoteles: um animal
político, cristão: aquele criado a imagem e semelhança do pai, filosofia moderna:
homem é um ente racional, Kant: categoria que movimenta o transcendental, Hegel:
compreensão do espirito, singular, universal concreto, pensamento materialista:
conjunção de estruturas materiais que se movimentam, froid: inconsciente, pensamento
evolucionista: uma espécie em evolução.

- Para Heidegger o Ser-Aí mostra o movimento dessa estrutura no interior do qual o


homem se movimenta. Ser um ser ai significa dizer que o homem não tem essência, ele
simplesmente existe, Existência não significa efetividade, não é concretização.

- A dinâmica ekstática de realização da existência – a intencionalidade e a existência;


existência não é efetividade; consequências: articulação entre poder-ser e ter-de-ser;
ausência de distância entre ser e sendo: o sempre-a-cada-vez-meu;

- Analise da existência do homem ao mesmo tempo em que se realiza uma hermenêutica


da facticidade, para Heidegger nós sempre nos movimentamos numa situação
hermenêutica e isso é fundamental para que se entenda o autor em questão. Para
Heidegger o homem não tem essência mas apenas ek sistere (existe), se lança, se
projeta. O Ser-Aí é literalmente o movimento de existência do homem, para Heidegger
o homem não tem essência e simplesmente existe, não é presença vista, não é
propriedade, ele simplesmente ek sistere lançando se no mundo exterior, o Ser-Aí é um
ente negativo.

- Falar que o Ser-Aí é um ente negativo significa dizer que não temos essência,
precisamos existir para sermos, nós somos projetos, possibilidade, nos precisamos
existir para concretizarmos essa finitude originária, essa abertura. Dizer que o Ser-Aí é
um ente negativo significa dizer que cada modo existencial nos concretiza, tudo o que
nós fazemos no interior do dia a dia nos concretiza enquanto projeto existencial porque
eu não sou de partida absolutamente nada. Cada um dos modos de ser do Ser-Aí na
dinâmica cotidiana o constitui enquanto tal, o seu ser sempre está em questão em cada
um dos seus atos, de suas performances, porque ele não é efetivamente nada para além
dessa dinâmica de realização. Dizer que o Ser-Aí é finito significa dizer que ele existe
na forma do cuidado (a determinação do ente na relação), cada um dos meus modos de
ser me constitui porque eu sou cuidado, o ser-aí sempre vai se constituir na relação, é
sempre um modo de ser.

- Nenhum desses modos de ser é definitivo. O que você é? Uma estudante de direito.
Isso é um modo de ser, ocupações, cada definição nos constitui porquê de pronta e de
saída não somos nenhumas delas (porque não temos essência), nos ocupamos com essas
coisas. O corpo como definição atômica é também uma ocupação, é um modo cientifico
de lidar com as coisas.

- Ser um ente negativo significa antes de tudo ser eternamente projeto aberto,
possibilidade. Só o ser aí pode se perguntar a respeito do ser em geral. Esse ente nunca
é, ele sempre está sendo.

- O Ser-Aí sempre se movimenta numa categoria temporal, o futuro. Eu sou no presente


projeção de futuro no passado. Eu sou um ser temporal. Se eu analiso a temporalidade
desse ente fundamental eu consigo articular a temporalidade do ser em geral.
Concretizar a sua existência em meio a dinâmica existencial. Não há um conceito de
ser-aí porque ele não tem essência, não tem categorização. Para se chegar a um conceito
é preciso analisar cada uma das coisas sensíveis, ver o que tem de semelhança e
diferença e e ver o elemento de permanência na variação. o Ser-Aí é um a priori
performático, uma estrutura.

- Aquilo que eu faço concretiza aquilo que eu sou porquê de pronto e imediato eu não
sou absolutamente nada.

- Ser-aí significa de imediato ser um ser ser-no-mundo: O ser-aí por não ter estrutura,
precisa do mundo para ser.

- Mundo significa o conjunto de sentidos históricos que vão aos poucos se


sedimentando. o mundo como capa de preconceitos ou como tradição; eu imediatamente
me movimento no interior de preconceitos, me movimento no interior de sentidos
históricos. Heidegger diz que o ser aí tem o caráter de jogado – está jogado no mundo
gostando ou não. Esses preconceitos e sentidos vão orientar a existência do Ser-Aí.
Cada uma de nossas decisões são orientações prescritivas e descritivas do mundo, faz
sentido fazer tal coisa. O mundo é estrutura, horizonte de realização da existência:
relação fenomenológica: existir sendo a cada vez junto a;

- Ser-no-mundo: perda de si e a impropriedade;

- Dizer que o Ser-Aí é um Ser-no-mundo implica: 01) dizer que o Ser-Aí é marcado por
compreensão; 02) disposição e 03) discurso;
- 01) Compreensão: significa a abertura da existência ao mundo, estar diante da
facticidade do mundo; mundo: totalidade de campos de sentidos histórico-sedimentos,
que mobilizam significados de cada uma de nossas ações mundanas; consequência do
ser-jogado;

- A existência é compreensiva – diferença para a Hermenêutica clássica; para a


hermenêutica clássica a compreensão é um resultado de um processo interpretativo,
precisaria de um método para que se tivesse o resultado a compreensão. Para Heidegger,
compreensão é um correlato da existência. Heidegger realiza a ontologização da
compreensão. Quando se efetiva cada um desses sentidos que nos são abertos pela
compreensão eu realizo a Interpretação.

Ex.: Faz sentido eu fazer direito. Fazer direito é a interpretação. A interpretação não
precisa de método, eu imediatamente existo compreendendo e interpretando.

- Ilusão do cotidiano: impropriedade, nos identificamos no campo de sentido do mundo


e nos perdemos de nós mesmos, nos esquecemos que somos possibilidades abertas, nos
movimentamos cotidianamente no improprio, mas nós propriamente não somos aquilo
que nos ocupamos, somos entes negativos. A estrutura ser-no-mundo permite a diária
fuga de si (impropriedade), ninguém é igual a ninguém porque cada um é um projeto
aberto.

Cotidianamente nos existimos na forma de impropriedade, e por isso nos perdemos de


nós mesmos, porque somos na verdade entes negativos de pronto e de saída.

O ser-aí existe de forma compreensiva, compreensão significa estar imediatamente


diante de campos de sentidos, de capa de pré conceitos que são historicamente
articulados. A existência se dá em meio a esses campos de sentidos, logo a existência é
compreensiva. Compreensão significa estar diante da facticidade do mundo: fato que
não pode ser negado – ao existir numa época eu imediatamente herdo o caráter histórico
da época e isso não pode ser negado, essa capacidade do mundo de orientar a nossa
existência = facticidade.

Esses pre conceitos sempre se sedimentam historicamente sempre de forma encurtada,


de um modo tal que há uma perda do significado originário desses conceitos. Ser um ser
no mundo significa permitir que a compreensão estabeleça esse vínculo entre existência
e mundo. Para a hermenêutica clássica a compreensão é resultado de um procedimento
intelectual conduzido metodologicamente que vai me permitir um resultado proveitoso.
Compreensão passa a ser um modo de ser, um existencial, Heidegger ontologiza a
compreensão.

- §§31-33: existir é se movimentar compreensivamente em campos de sentido: pré-


compreensão; Relatório Natorp:; Heidegger descreve a situação hermenêutica –
limitação da existência de uma forma compreensiva. Para Heidegger existir significa
sempre ter uma posição-prévia: posição diante de campos de pre conceitos, essa
situação fornece as chaves da minha existência: ter-prévio que vai me permitir com que
eu conceba, que eu tenha conceitos - conceber-prévio. Logo todos os conceitos precisam
ser estudados articulados com a situação histórico-compreensiva em que esses conceitos
se movimentam. Para estudar filosofia preciso ter consciência da minha situação
hermenêutica, da minha posição prévia, do meu ter prévio para que eu consigo manejar
uma conceitualidade prévia.

- Interpretação significa a explicitação do compreender; Mais tarde essa orientação do


mundo vai ser conhecida como o aspecto prático da hermenêutica, a compreensão nos
chama atenção para a primazia do mundo prático. Não precisa saber a essência da
cadeira para que se possa usa-la, quando me sento na cadeira, eu realizo a interpretação.
A Hermenêutica clássica acreditava que a interpretação era um procedimento que vai
levar a compreensão.

- Projeto-jogado: possibilidade que se realiza em meio às possibilidades do mundo, cujo


foco se estabelece pelo campo de sentidos;

- §§12-15: A mundaneidade do mundo circundante e a autodação dos entes


intramundanos (§20, Ideias I, de Husserl – tomar as coisas nos seus modos de autodação
(superar as hipostasias))

Dilthey procura desenvolver o nexo que aproxima vivencias e todos da vida, o que é
impossível de passar por todas as expressões de uma época. O Heidegger acredita que
para se ver a mundaneidade do mundo (como conjunto da capa de sentidos), eu tenho
que tomar os entes intramundanos a partir dos seus modos de ser. – três modos:

a) ocupação – retrata o modo como os entes intramundanos se mostram para mim


enquanto utensílio na sua dinâmica de uso; as coisas que estão no mundo são sempre
coisas para, são sempre utensílios – porque não usa as palavras poiesis (marca o ente no
seu aspecto de construção), coisa, mathesis (um ente tomado no seu processo de
conhecimento) objeto (remete ao sujeito)? Mas sim pragma (correspondente de
utensilio),

O utensílio (sempre aponta para uma rede referencial mais ampla em relação a ele)
deixa ver o mundo – o martelo e o martelar, a caneta e a escrita, o microfone e o falar, a
cadeira e o sentar (Ser e tempo), o sapato e o mundo do camponês (A Origem da obra
de arte); utensílio sempre aponta para a ideia de totalidade utensiliar; sedimentação dos
campos de uso;

A lógica da ocupação necessariamente vai articular a b) preocupação: Os utensílios


ao me mostrar os seus modos de ser fornecem os mobilizadores das ações – o modo
como devemos nos comportar em relação a esses utensílios, que nos mostram
imediatamente os outros (sala de aula vazia – ali deveriam estar pessoas), experiência
imediata dos outros e as relações interpessoais;

A nossa experiência é sempre uma experiência socializante, a lógica utensiliar sempre


vai me apontar para o outro e fornecer critérios para que eu possa agir. A coisa enquanto
propriedade presente à vista: a substância, Quando a lógica da ocupação se encerra,
passo a lidar com os objetos como entes que são dotados de propriedade e precisam ser
estudados, entes dotados da lógica da substancia. (Aqui que entra em jogo a figura das
ciências)

c) Não se apresenta na forma de ocupação e nem de preocupação: cuidado; O Ser-


Aí, o seu modo de ser é o cuidado, ao existir, o ser-aí coloca o seu ser em questão.

Esses entes intramundanos sempre me permite ver uma relação entre sentidos e
significados. Compreender significa se colocar diante de campos de sentido, quando se
muda os campos de sentido, se muda os significados.

- 02) A disposição: O modo de abertura do mundo para o ser-aí os modos de relação


com a estrutura do mundo – o problema da abertura da totalidade e as tonalidades
afetivas; os focos existenciais – o mundo se mundaniza;

Na filosofia moderna existem 2 modos específicos da razão se relacionar com as coisas,


a partir do aspecto teórico e do prático, Existem duas faculdades básicas na filosofia
moderna, a cognoscitiva que permite conhecer as coisas no mundo exterior e a
faculdade pratica da vontade que permite querer as coisas no mundo exterior, orientar o
agir no mundo exterior dois modos de se relacionar com o mundo do exterior, com a
intenção de conhece-las ou com a intenção de através da vontade estabelecer a minha
ação em relação a elas. Existe um terceiro modo de eu me relacionar com as coisas no
mundo exterior, que é a partir dos afetos, a partir dos sentimentos, (via não estudada, de
menor importância)

- Heidegger tenta resgatar a dignidade dos sentimentos, os afetos são os responsáveis


por abrirem o mundo a expressão. Os nossos estados sentimentais vão determinar o
modo como lidamos com os entes intramundanos (inclusive com o espaço).

Existem dois modos dos afetos se relacionarem com o mundo:

Tonalidades afetivas cotidianas (euforia, tristeza): responsáveis por abrir o mundo e


permitir que os entes intramundanos apareçam, o ente vem a presença e o horizonte se
retrai pois não é passível de alcance.

Tonalidades afetivas fundamentais (tédio profundo e angústia): responsáveis por abrir o


mundo e manter o mundo aberto, os entes não se mostram, não se tem campo de
sentido, significados e modos de ação – não consigo fazer nada pois não tenho como
seguir a orientação remissiva do mundo, as coisas deixam de ter essa capacidade de
articular a minha existência e orientar a minha ação.

- 03) O discurso: §34 – É a articulação compreensivo-dispositiva em linguagem;;

Compreensão me coloca diante de campos de sentido, disposição são os afetos que me


abrem o mundo a esses campos de sentido, e quando esses sentidos vem a presença, ele
se articula em palavra, se articula em linguagem, é o discurso. Linguagem é articulação
do projeto-jogado, quando nos falamos é o mundo que fala através da nossa linguagem.
As palavras não tem condição de estabelecer campos de sentido. Há fala porque nunca
se tem algo a dizer (A Caminho da Linguagem), porque não temos sentido, somos entes
negativos. Mundo é falatório – articulação do caráter histórico da significatividade
discursiva na existência cotidiana, linguagem que permite articular o mundo. Problema
da sedimentação discursiva do mundo – perda da capacidade de nomeação da palavra, o
discurso cotidiano é um discurso em que se movimenta significados intramundanos
quando nos falamos as palavras se desarticulam dos campos de aparição dos fenômenos
para simplesmente movimentar pré conceitos. Necessidade do projeto de destruição da
história da ontologia para se recomporem os fenômenos originários: para além da
sedimentação histórico no interior da metafísica.

- §38: Projeto-jogado no mundo (Ser-aí) aponta para a existência cotidiana na


impropriedade (decadência) que tem três elementos que a marcam, o falatório, a
curiosidade pelo novo e a ambiguidade

O ser ai por ser ser no mundo existe de forma decaída, existe de forma impessoal;
porque ele sempre se movimenta no interior do falatório (articulação discursiva da
linguagem), da curiosidade pelo novo (salta de um fenômeno intramundano para outro,
feed instagram) e da ambiguidade (consequência dos dois anteriores, o ser-aí acha que
tem conhecimento mas não o tem, está simplesmente mobilizando o mundo) o mundo e
a sedução da quididade; a decadência como fuga de si;

- Filosofia: necessidade de rompimento com a capa de preconceitos; Resgatar a


dimensão de propriedade do ser-aí, o fato de que ele é um ente negativo e quebrar a
sedução do cotidiano. Como: é necessário que ele enfrente o processo de crise
existencial e a rearticulação com a negatividade estrutural, existir abraçando a sua
incompletude, sem sofrer com isso, sem ter alguma aspiração.

- §40: Se dá quando se abate a angústia (campos de sentido não atuam mais e trazem de
forma escancarada a sua negatividade) e a confrontação com a negatividade estrutural;

§§49-53: a estrutura ser-para-a-morte: como antecipação da nadidade e finitude, como


radicalização da impossibilidade; a singularização (a angustia se estabelece e ressalta
para o ser-aí que ele é um ser-para-a-morte, quando o ser-aí experiementa a sua finitude
e volta a lidar com o mundo tendo consciência de que ele é finitude e que seus modos de
ser o constituem enquanto tal) e a temporalização da existência;

-§44: O ser aí trabalha com a experiência da verdade e os fenômenos originários; se vê


como um ente negativo e vê os entes intramundanos como entes intramundanos do qual
é dependente para constituir os sentidos.

Esse projeto acaba falhando ????? perguntar

c) Contribuições à filosofia e a perda da capacidade da relação autêntica com a


palavra; a incapacidade de a linguagem se reportar às coisas em questão;
- Mudança no espectro da crise: da crise da existência à crise do lugar da existência – a
ideia de acontecimento apropriador (Ereignis).

AULA DIA 14/09/2021

7) Fenomenologia e Hermenêutica III – Hans-Georg Gadamer (1900-2002) –


Husserl, Hegel e Platão como principais inspirações filosóficas do Gadamer

Gadamer vai unir a tradição da hermenêutica clássica (principalmente Dilthey) com a


fenomenologia. Gadamer só conseguiu construir sua hermenêutica filosófica a partir do
momento em que retoma o projeto de Ultaiano, sobretudo na construção de uma
objetividade nas ciências humanas, nas ciências do espirito, atreladas a história a partir
da fenomenologia. Gadamer utiliza as teses Husserlianas, o método fenomenológico de
investigação para tentar resgatar, retomar, e levar adiante o projeto de Ultaiano de uma
ciência do espirito que estivesse em condição de atrelar compreensão, razão e história.

Até podemos encontrar na Analítica existencial do Ser e Tempo de Heidegger, uma


análise fenomenológica da hermenêutica (da interpretação) ou uma hermenêutica da
facticidade. Contudo Gadamer foi o primeiro a pensar numa Hermenêutica Filosofica
que permitia a visualização do caráter universal da compreensão que seria aplicado a
toda e qualquer ciência. (Projeto de Ultaiano de fazer com que as humanidades
atuassem como esse elemento de fundo de todo e qualquer pensamento cientifico). A
hermenêutica filosófica tem a pretensão de chamar atenção para o caráter universal da
compreensão, de modo tal que a compreensão é um traço estrutural da relação homem
com história, assim, a hermenêutica filosófica vai pensar a relação entre compreensão,
história e finitude.

a) Textos e fases filosóficas fundamentais

- Verdade e Método I-II (1960); - Grande obra filosófica fundamental, no II responde as


críticas do I, sobretudo com Derrida
- Atualidade do Belo (1974);
- Hermenêutica da Obra de Arte – livro de 2010 – textos do Gadamer

b) Intenção filosófica fundamental: a hermenêutica filosófica


b.1) Propósitos de Verdade e Método; Esse livro quer desenvolver a chamada verdade
no interior dos processos históricos
- Verdade dos processos históricos – rejeição da verdade categorial ou lógica que vigora
no interior sobretudo das ciências naturais. O propósito do livro é investigar o tipo
especifico de verdade, a verdade da formação das objetividades no interior das
humanidades através do fluxo da história. Essa verdade, então, depende da transmissão
dessas objetividades para além da ideia de método. Esse livro, então, se contrapõe a
necessidade do método para que se alcance qualquer tipo de verdade, de compreensão.
- Formação de medidas históricas objetivas para além das subjetividades;
- Verdade e tradição: adequação e correção: imposição do caráter tradicional; - No
mundo antigo (mundo greco-romano cristão), a verdade era pensada como adequação
do que a que, adequação do pensamento as coisas, nessa época, se encontrava em
questão a ideia de metafisica do objeto, todo o pensamento antigo gravitava em torno
das essências eternas e imutáveis, dos princípios fundamentais da realidade. A questão
da arché (questão fundamental dos pré-socráticos), filosofia no nascimento da episteme
grega significava a razão que se adequava a esse movimento de mostração da arché.
Para os gregos, Verdade significava aletheia, desocultamento, ou seja, o modo de
funcionamento da arché aparecia, e cabia ao filosofo recolher esse movimento no
interior do qual as coisas se tornavam coisas elas mesmas através da razão. Daí a tese
platônica de que fazer filosofia significava diminuir a distância entre palavra e coisa,
pois havia a necessidade da razão se adequar ao movimento da arché e assim
acompanhar o modo através do qual a realidade se tornava realidade.
Na Modernidade, há uma mudança radical em relação ao modo como se concebia a
verdade, verdade significa correção. Correção não significava a exclusão da ideia de
adequação, se acompanhamos Décar, percebemos que ele coloca em questão na III
Meditação metafisica a própria existência natural do mundo exterior. E ele faz esse
questionamento a respeito da existência natural do mundo exterior a partir da dúvida
hiperbólica (Penso, logo existo), logo para Décar tudo que existe é passível de ser
questionado, permanecendo de pé diante do questionamento somente essa entidade
questionadora – a própria razão. A partir da razão a realidade exterior se adequaria,
alcançaria o elemento constitutivo.
Essa tese ganha o seu ponto máximo na filosofia Kantiana. Kant é o autor que através
do seu criticismo consegue pensar a unidade entre sensibilidade e razão.
Teses filosóficas kantianas – 3 objetivos fundamentais do criticismo
 O que posso conhecer
 Como posso agir
 O que devo esperar
A Crítica da razão pura tem por objetivo pensar as condições racionais que vão permitir
o conhecimento das coisas – As coisas somente são conhecidas se o fenômeno se mostra
a razão. Para Kant o conhecimento é junção de razão e realidade exterior, na razão
prática, Kant vai pensar na razão como elemento que vai possibilitar o agir prático.
O ponto máximo de expoente é o próprio idealismo alemão. Hegel é o autor que vai
dizer que não há distinção entre realidade e racionalidade, o real é racional.
A partir da filosofia moderna se tem a certeza da razão e se tem os meios através do
qual a razão se lança ao conhecimento das coisas exteriores a ela – A isso se dá o nome
de método. A partir da modernidade, sem método não há conhecimento, objetividade.
Logo no interior da tradição cientifica, verdade significa a submissão do particular ao
aspecto metodológico do universal, só há conhecimento se aquele fenômeno particular é
experimentado a luz das categorias cientificas universais da razão, para que eu conheça
algo, devo submeter esse particular ao universal através do método.
Gadamer vai rejeitar esse projeto cientifico moderno através do qual o conhecimento se
articularia necessariamente a figura do método, Gadamer vai apresentar a gênese, o
processo de formação de elementos marcados por objetividade que acontece no interior
da história. Gadamer vai pensar a verdade dos processos históricos, vai investigar a
gênese de medidas históricas objetivas que se formam para além da subjetividade.
Gadamer vai pensar na chamada verdade da tradição, vai mostrar como no interior da
história medidas objetivas se constituem, se formam e se impõem mesmo que não se
concorde com elas. Essas medidas objetivas se orientam no interior do fluxo da própria
história. (ideia gadameriana de historia efetual). Há uma articulação do ser histórico dos
fenômenos que se desenvolve no interior do movimento histórico e nos chega, nos é
entregue – daí a palavra tradição.
Algo nos é entregue do passado, e esse algo que chega através do passado não pode ser
negado na sua objetividade. Algo vem no passado, se impõe na sua dimensão de
objetividade para além do método.
- Articulação entre existência, compreensão e história: A existência acontece
compreensivamente(como em ser e tempo) em relação com a história, e essa existência
que imediatamente permite a relação co originaria com a compreensão, se movimenta
no interior da história. Gadamer vai resgatar a tese Heideggeriana de que existir
significa imediatamente colocar-se compreensivamente em relação com os pre
conceitos que são fornecidos pela história. consequências – a universalidade do
fenômeno hermenêutico (se justifica pelo fato de que a história permite a entrega
de elementos de objetividades tradicionais que se formam para além da ideia de
método) e rejeição do método como elemento de acesso racional à verdade.
Qualquer investigação cientifica só se dá a partir do momento em que há uma entrega
do passado ao presente – retoma a tese da circularidade interpretativa.
Gadamer segue de perto as teses de Ser e Tempo – existir significa abrir-se
compreensivamente aos pré conceitos (que se formam historicamente no interior de uma
tradição) de modo que qualquer comportamento nosso só é possível em virtude da
mediação da história da tradição.
A existência humana se estrutura hermeneuticamente, isso significa que a existência
acontece a partir da mediação da história quer gostemos ou não.
Os pré conceitos não são definitivos, há a possibilidade de rehistorização dos pre
conceitos através da figura de fusão de horizontes. Para Gadamer, a fusão de horizontes
era quase instantânea, a existência acontecia a partir da fusão de horizontes, não é
necessária a angustia, o acontecimento epocal do ser (Heidegger).
Gadamer quer acabar com a ingenuidade do pensamento cientifico (resgatar Dilthey).

b.2) As Humanidades e a rejeição do método de verdade das ciências naturais: O


método sempre chega atrasada, o resultado já me é antecipado através da mediação da
história.
- Investigar as Categorias centrais do Humanismo das quais há a transmissão de
medidas historias objetivas sem a necessidade de um método (resgata a tese de
Helmholtz): A formação para o humano, o tato, o juízo, o gosto e a retórica – há o
resgate da situação prática e do caráter paradigmático da phronesis em todos esses
elementos.
- A formação para o humano: formação como bildung e como paideia(formação do
cidadão grego, para a cultura grega, para a cidade, para o político, para servir a vida
pública, garantia a continuidade da polis – a formação é a articulação do espirito na
história (tese hegeliana), Gadamer vê no processo de formação do humanismo a
construção de medidas históricas que ultrapassam aquelas consciências individuais e
que se transmite as gerações anteriores – o que não depende do método, ao exemplo da
figura do clássico da literatura – aquela tese que é recorrentemente retomada. Não se
pode negar a objetividade do clássico.
Logo no interior das humanidades principalmente a partir do exame do clássico, se tem
a retomada temporal de uma configuração, ainda que ela adquira vozes distintas, que
vão pautar, balizar o modo como o presente lida com esse conteúdo.
- O tato: uma pessoa que tem tato é aquela pessoa que sabe se comportar a partir daquilo
que a situação existe, isso não se ensina metodologicamente, e sim se desenvolve com o
habito recorrente. Não é necessário que exista uma regra que vai orientar o
comportamento particular, é possível que exista uma ação objetiva em meio ao
comportamento particular. As pessoas agem de forma prudente se tornando prudente
por meio do habito.

O juízo: grande referência do kant, critica da faculdade de julgar – ideia do juízo


reflexionante: juízo que não segue o elemento universal mas ainda assim consegue se
universalizar. Kant diz que existem dois tipos de juízo, o juízo determinante: aplicar um
particular a um universal (regra), e o juiz reflexionante: aquele que procura
universalizar a ação particular porque não há de imediato regra universal que paute a
ação. O juízo significa a possibilidade de julgar sem se seguir uma regra prévia
universal mas sim a partir das orientações da situação.

O gosto: gosto se discute sim porque o gosto se pauta através de critérios que são
forjados e transmitidos historicamente. (ideia do Husserl - síntese passiva: a lógica
acredita que o juízo se articula com elementos universais, o universal se forma a partir
de um juízo. Husserl vai dizer que o juízo logico se movimenta numa estrutura
prejudicativa – elemento intencional que orientou a articulação do juízo, ao exemplo da
data) Gadamer resgata essa tese com o gosto, esse gosto é fornecido pela tradição, não
significa algo essencialmente particular.

A retorica: Retorica sempre foi pensada de forma pejorativa, sobretudo pelo papel dos
sofistas: arte de dobrar o outro. No Platão e no Aristóteles, retorica significa
acompanhar o nexo de verossimilhança: aproximação com o universal, com o
verdadeiro, ligado a capacidade que as palavras tem de alguma forma se remeterem as
coisas em questão (ideia de logos thynos do platão). Retorica é a habilidade que não se
ensina metodologicamente de escolher a melhor palavra para se transmitir a coisa em
questão, a repetição da pratica discursiva do orador que vai permitir que ele aos poucos
vai formando a sua habilidade de escolher as melhores palavras de traduzir o que ele
quer traduzir.

Vimos que é possível fazer uma ciência da física hermenêutica, uma filosofia do direito
hermenêutica, uma ética hermenêutica, uma matemática hermenêutica se na medida em
que são questionados os objetos específicos de cada um desses setores científicos, se
atenta justamente para esse horizonte temático de colocação de questões, o filosofo é
aquele que não somente acompanha o modo a partir do qual as ciências questionam o
seu objeto de estudo como também consegue lançar a atenção a essa estrutura histórica
que permite que em seu interior questões cientificas se apresentem. – Retoma o projeto
de Dilthey de fazer presente essa rearticulação entre vivencias no todo da vida do
espírito agora corrigido pelo aspecto fenomenológico.

b.3) O caráter paradigmático da experiência artística e da ontologia da obra de arte para


a hermenêutica filosófica
Gadamer dedica grande parte da obra Verdade e Método a análise da experiência do
acontecimento da obra de arte, procura desenvolver uma fenomenologia da obra da arte.
O modo como a experiência estética se desenvolve é o mesmo modo através do qual a
história se realiza. Toda a ideia de história efetual, fusão de horizontes tem exatamente o
mesmo movimento que se observa no interior da experiência estética. Quer chamar
atenção pra tese típica da fenomenologia de que não há nenhum tipo de estabelecimento
do ser das coisas para além da relação com as coisas.

Modo através do qual a tradição filosófica lidou com a experiência estética


Textos platônicos – A República: onde os poetas foram expulsos da cidade, o sensível
seria inferior ao inteligível, é necessário realizar a busca do elemento inteligível em
meio e a partir do sensível. O belo na arte: Platão e a ideia do belo; (tem importância
maior em relação as demais artes, mas ainda se manifesta sobre a forma sensível)
Para Platão, nos sempre precisamos falar sobre as coisas para que as idéias articulem o
movimento da fala e em meio a isso as coisas apareçam no interior do campo aberto
pelo discurso. Logo, a partir do conhecimento discursivo, nós temos acesso as idéias, ai
a necessidade de um esforço racional, intelectual para que as ideias apareçam. Para a
ideia do belo há a possibilidade de uma mostração sensível dessa ideia, justamente em
meio a forma física que é tida por bela. A ideia da beleza consegue ser visível aos olhos
físicos sem a necessidade de um esforço maior de ordem especulativa, a ideia de belo
tem uma possibilidade maior de mostração sensível.
A estética ainda era pensada no interior da tradição episteme. No século XVIII através
de um pensador chamado Alexander Baumgarten que a estética adquiriu o estatuto de
uma disciplina filosófica autônoma, destacada. Ele desenvolve uma reflexão estética
através da ideia de aisthesis – sensação (grego). A beleza tinha uma relação com
sensação de ordem física. Esse aspecto é superado sobretudo a partir da obra Kantiana.
- Kant: o belo e o prazer desinteressado do gosto; Kant na Faculdade do Julgar
desenvolve a obra em duas partes, na primeira ele vai analisar o juízo do belo, na
segunda parte ele vai analisar a teleologia da natureza: existe uma ideia de finalidade
inerente a natureza?
Kant chama de belo o prazer desinteressado, para o Kant não há conhecimento da coisa
em si, só há conhecimento daquilo que se apresenta as formas a priori da sensibilidade,
sem fenômeno não há conhecimento, logo a razão pura é interessada, o seu interesse é
conhecer. A razão prática é também interessada, o seu interesse é em agir. Agir de que
forma? É necessário que a partir da razão o critério da ação já esteja pronto por conta
própria, a razão orienta o agir.
Esse interesse não se nota no interior da terceira crítica (critica da faculdade de julgar),
Kant diz que a partir do momento que a razão se coloca diante de algo belo, há o livre
movimento das faculdades do entendimento e da sensibilidade. Elas entram em
movimento qual que quando se coloca diante da obra de arte bela, acontece o prazer
desinteressado, quando se está diante da obra de arte bela, há uma organização internada
razão que permite a plenitude diante da obra bela, nada mais importa do que analisar,
observar, estar em presença diante da obra de arte bela. Não há algo a se fazer, nenhum
tipo de necessidade a não ser a acompanhar a sua presentidade. O belo é prazer
desinteressado porque promove nas faculdades do entendimento e da imaginação o livre
jogo, de modo que não há nenhuma outra necessidade para além desse movimento de
estar diante da obra de arte.
Kant pensa na ausência de funcionalidade da obra de arte, beleza tida como algo “fútil”,
adjetivo, Kant diz que é isso mesmo. Contudo Kant acaba subjetivando o belo, porque o
belo está antes de tudo na razão, acaba interiorizando o belo porque o belo é produto do
juízo do gosto. Isso vai acabar se transmitindo ao Romantismo Alemão.
- Romantismo alemão vai difundir a tese da distinção estética (Schiller); Schiller vai
articular ética e política, quando vemos algo belo é natural que tenhamos a intenção
imediata de difundir aquilo ao outro. O Belo tem um aspecto comunitário, o belo nos
une. A beleza tem a capacidade de estabelecer laços de ordem comunitária. A educação
estética tinha a finalidade também de lançar sementes para a comunidade política.
A partir do Romantismo Alemão Gadamer difundiu a tese da distinção estética, o
fenômeno estético teria uma parte principal, o núcleo, a distinção estética que poderia
ser isolada de aspectos acessórios da obra de arte. É como se nós nos colocássemos
diante da obra e procurássemos o seu núcleo artístico. Qual o centro da obra de arte? O
que está em questão? Esse mesmo modo de lidar com a obra de arte é transmitido ao
Idealismo Alemão
- Idealismo alemão: sobretudo nas famosas preleções estéticas de Hegel, artigo chamado
atualidade do belo: e o caráter de passado da arte; Hegel procura a todo tempo
sobressaltar o próprio movimento do espirito, para ele o particular é sempre um aspecto
do universal, é sempre o espirito em seu movimento, uma obra de arte seria então a
mostração do absoluto. A obra de arte era uma etapa ainda não plena de realização do
absoluto.
A obra de arte no interior do idealismo é marcada por uma fonte tendência de
funcionalização pois ela sempre apontaria para algo além dela, nunca me contentaria
com o movimento de apresentação da obra, seria necessário se apegar a elementos que a
transcende. O caráter do passado da obra de arte significa transcender o campo de
mostração da obra de arte para ir buscar elementos que estão para além desse campo
fenomênico.
Fenomenologia: não há distinção entre essência e aparência porque a realidade acontece
em meio a superfície de sua mostração. Contesta essa procura de transcendência da obra
de arte (Contestado por Gadamer em Verdade e Metodo)
- Gadamer: o jogo da obra de arte (Huizinga) como tentativa de superação da metafísica
da obra de arte e da profanação da aura artística (Benjamin); Gadamer diz que a obra de
arte nunca está pronta para além da sua dinâmica de apresentação, não existe uma obra
de arte pronta, acabada, que vai ser simplesmente admirada pelo seu observador, o ser
da obra de arte se articula em meio a sua apresentação. A obra se torna obra a partir do
momento em que há o encontro da obra de arte com o seu interprete. A obra nunca é
plena e acabada, é uma imagem que vai se reconfigurando a cada apresentação dessa
obra.
Gadamer vai ressaltar esse movimento através do qual o ser da obra se articula através
da figura que ele herda do filosofo, do historiador holandês Huizinga, através da figura
do jogo. O jogo é o elemento constitutivo da antropologia ocidental.
- Atualidade do belo: arte como jogo – caráter medial da obra; o jogo como sujeito de si
próprio; Gadamer usa a palavra jogo para realçar o movimento de constituição da obra
de arte, a obra de arte se forma enquanto obra em meio a sua apresentação, quando o
interprete se coloca diante da obra de arte a obra acontece nesse livre jogo que tragam o
interprete e obra.
Diante do mar, por exemplo, há um livre jogo das ondas (se movimentam a partir de
uma dinâmica que é inerente a elas)
Gadamer diz que o jogo é melhor jogado quando o sujeito d jogo deixa de ser o jogador,
o jogo é tão melhor quando os jogadores desaparecem em meio a dinâmica do jogo.
Gadamer diz que o sujeito do jogo é o próprio jogo. A relação com a obra de arte é que
ela estabelece a sua dinâmica de apresentação, e quando isso acontece, o interprete se
coloca diante da obra de arte não para dizer o que ela é mas para se inserir no
movimento de acontecimento da obra de arte para que a partir do observador a obra de
arte ganhe voz. A partir do momento que uma obra é executada ela ganha o seu ser, pois
o ser da obra não é pronto antes da sua dinâmica da sua apresentação. O ser na obra
adquire outras configurações em meio a sua retomada no presente.
Para Gadamer há sempre a idéia de caráter medial da obra de arte, toda vez que uma
peça teatral é executada, a obra de arte teatral acontece. O ser da obra não existe para
além da apresentação. Há um caráter da própria obra que vai mediar a sua execução
“O bom interprete é aquele que quando fala, o que aparece é a obra e não o próprio
interprete”
- Atualidade do belo: arte como símbolo – a herança da tessera hospitalis (tabua de
hospedes) platônica – Platão diz que na Grécia há uma tradição de que ao visitar a casa
de uma pessoa, ao ir embora, o hospede recebe metade de um prato do anfitrião, caso
um descendente daquele hospedes venha a visitar aquela casa, ele irá levar aquele
pedaço que o seu antecessor recebeu, o pedaço de prato serve como passaporte –
elemento de reconhecimento da outra parte. Gadamer vai chamar esse aspecto de
simbólico, símbolo significa aquela parte que requer a outra metade para que adquira
totalidade. Platão ao pensar no simbólico pensa na tese das almas gêmeas. Símbolo
significa aqui aquilo que requer a sua outra parte para que exista um sentido.
A obra de arte é simbólica porque sem o interprete a obra de arte não é. Porque ela não
existe para além da sua interpretação. Há uma necessidade de corequisição entre obra e
observador.
- Atualidade do belo: arte como festa – a retomada da temporalidade da obra de arte –
influencia de Kierkegaard (pensa na temporalidade do instante) e o instante feliz; o ser
da obra de arte é temporal; Tempo era representado na tradição grega por Cronos e
Kairos, tempo cronológico é o tempo do eterno movimento, é o eterno fluxo, do relógio,
meses, anos. Kairos procura estabilidade em meio ao movimento, marcando a dimensão
do instante (insta re – estar presente hein), o instante é a dimensão temporal que procura
Unidade na multiplicidade, permanência na mudança.
O cristianismo pensa a relação de Deus com o tempo dessa maneira, Deus é eterno
porque está fora do tempo. É necessário que se pense algo que está em meio ao fluxo
mas que permanece em meio a mudança estando no próprio espaço de constituição do
movimento.
Kier usa metáforas para criticar filósofos: Mito do Don Ruan, se referindo a consciência
infeliz hegeliana – lá na fenomenologia do espirito Hegel apresenta os modelos de
experiência da consciência, consciência infeliz é aquela consciência que experimenta a
satisfação, o consumo, mas nunca se sacia, sempre requisita algo mais. Don Ruan é essa
consciência infeliz, aquele conquistador que nunca se contenta com a pessoa
conquistada.
Se contrapõe a ética kantiana – aquele que recusa o prazer por respeito a regra, não se
coloca no movimento de constituição temporal, na figura do casamento religioso o
elemento de permanência em meio a mudança. (as lembranças em meio a mudança da
pessoa serve como chave – permanência em meio ao fluxo temporal)
Sócrates e Cristo como dois mestres da existência, ambos fornecem as chaves para se
viver bem, Sócrates atrelado a vida temporal e cristo de modo transcendental – tese do
instante feliz, se experencia o divino em meio ao fluxo temporal.
Na figura da festa Gadamer retoma a tese da reprise . de uma forma distinta, quando se
está diante da festa, o tempo cronológico é suspenso, tem-se ali a temporalidade da
permanência, algo se estabelece em meio ao fluxo temporal. Aqui se tem o instante
feliz, a recuperação de algo do passado no presente que permite a reconfiguração
daquilo. O ser do Natal adquire outra face a cada vez que a data é retomada. Ser
temporal não significa que é necessário sempre ter temporalidade.
Tradição metafisica ocidental (Heidegger): se algo muda, não é o ser, é o vir a ser, ser é
presença, permanência.
Ser é mudança, é dissolução, mas essa dissolução não atenta contra o próprio caráter
ontológico porque o ser temporal é aquele que existe em se diferenciando no tempo, faz
parte da estrutura ontológica a dissolução histórica, ser é diferença ontológica.
- Ontologia da obra de arte: a unidade fenomenológica entre obra e intérprete a obra
sempre se mostra para o interprete, assim há uma relação que permite que o ser da obra
se articule Há sempre a retomada do Natal, mas a cada retomada a festividade acontece
em meio a relação para com o interprete (Husserl), quando o interprete se coloca diante
da obra, o ser da obra se autoapresenta diante do interprete. – a importância de A origem
da obra de arte, de Heidegger – no interior da obra da arte sempre se nota uma relação
entre mundo e terra. O mundo da obra de arte vem a presença quando nos colocamos
diante dela, porem há uma dimensão que resiste a penetração do olhar do observador,
Heidegger vai chamar isso de terra, a superfície nunca é superficial, algo acontece na
superfície que nem sempre tem a nossa atenção merecida ser e diferença temporal.

b.4) Desdobramentos da ontologia da obra de arte: fundamental para o modo através do


qual ele enxerga a hermenêutica filosófica
- Começa a segunda parte de Verdade e Método trabalhando a ideia de Situação
hermenêutica e o Relatório Natorp: o horizonte hermenêutico (a influência de Husserl e
Heidegger); Horizonte aparece pela primeira vez nas Meditações Cartesianas do Husserl
Horizonte é um termo que o husserl vai construir a partir da Inspiração da ideia do Kant
quando na Crítica da Razão Pura a razão começa a raciocinar utilizando somente as
categorias, Abrindo mão do fenômeno ela produz raciocínios contraditórias que o Kant
na terceira analítica transcendental vai chamar de paralogismos e antinomia da Razão
Pura prática, são juízos que se formam sem fenômeno, esses juízos podem existir mas
não podem, não tem nenhum tipo de importância para o conhecimento parágrafo cante
vai chamar esses raciocínios puramente Racionais ou seja sem fenômenos de
paralogismo paralogismos, antinomias ou ideias ponto a ideia tem dois tipos de função
primeiro é a prática, a ideia de liberdade, o que importa para a gente é a função
reguladora da ideia, ela consegue organizar toda a série do conhecimento porque ela é
um elemento de determinação futura ou determinidade indeterminada
A inspiração para o Husserl para essa ideia de Horizonte é o Kant, Horizonte é essa
estrutura que é indeterminada no começo, mas que vai adquirindo determinação
paulatina, Só que essa determinação nunca é definitiva
- Horizonte hermenêutico e tradição; O horizonte hermenêutico nada mais é que a
situação hermenêutica. Heidegger chama atenção para ideia de situação hermenêutica,
situação hermenêutica significa você se colocar no interior de uma determinada
configuração de sentido que é herdada pela História.
: Ser um ser aí significa imediatamente ser um ser-no-mundo, logo nós somos
imediatamente jogados no mundo em que campos de sentido são transmitidos a nós
imediatamente, isso é situação hermenêutica, É você sempre se movimentar no interior
de um ter prévio, de um conceber prévio, de um ver prévio e de uma conceitualidade
prévia.
Você sempre se coloca no interior de uma posição da história que vai te orientar a ver as
coisas como você as vê e conceituar as coisas como você conceitua. Logo tudo o que
nos fazemos é uma replicação do horizonte histórico da hermenêutica.
Nos sempre se movimentamos no interior de um horizonte de sentido que é
historicamente constituído.
- Esse horizonte de sentido sempre atua perante nós na forma da Tradição: campos de
sentido que são transmitidos pela história (pluridade de voz do passado que nos chega
ao presente), quando se fala em tradição, imediatamente estamos falando de
preconceitos; Gadamer vai dizer que 1. É impossível eliminar os preconceitos e 2. Se
isso fosse possível, seria desaconselhável, é impossível pois estar no mundo significa
estar imediatamente lidando com pré conceitos, ainda que fosse possível elimina-los,
nós não conseguiríamos fazer absolutamente nada.
- A história efeitual e a fusão de horizontes; Em alemão existem duas palavras para
representar a história, a história cientifica e o movimento histórico, história efeitual se
liga ao próprio movimento do acontecimento histórico, é a tradição oferecendo sentidos
a existência, a história sempre acontece na forma de transmissão de pre conceitos, de
transmissão de seus efeitos, a história é efetual, que nos apresenta um horizonte
hermenêutico no interior do qual eu estou lidando com pré conceitos.
Para Heidegger, deve se destruir a história da ontologia para se voltar ao fenômeno
originário, ao conceito se formando enquanto conceito. Gadamer desdramatiza esse
gesto. Para Gadamer, fusão de horizonte significa a checagem conjunta do horizonte de
saída (minha posição na historia efeitual) e o horizonte de chegada (aquilo que a obra
quer me dizer). A interpretação é feita quando as pre compreensões do interprete são
refinadas por aquilo que o texto nos diz. O próprio ser da obra adquire reconfiguração
no encontro com o seu interprete. Correção conjunto de pré conceito e ser da obra. Esse
processo de fusão de horizontes é constantemente aberto.
- O diálogo como prática hermenêutica: a dialética de perguntas e respostas (a
influência de Platão); Dialogo: movimento de fusão de horizontes, o ser da obra e o
interprete. Quando a fusão de horizontes se estabelece, o ser da obra pauta a relação. Os
pre conceitos do interprete são corrigidos pelo texto. A própria obra ganha presentidade
quando o interprete se questiona sobre ela.
- O ser que pode ser compreendido é linguagem: a linguagem é esse espaço no interior
do qual a coisa hermenêutica ganha voz, a fusão de horizontes acontece no interior da
linguagem, há uma relação entre fenomenologia e linguagem, as coisas se apresentam
em seus campos de autodação a partir da linguagem.
- Derrida e a crítica a Gadamer: o problema do logocentrismo – Diz que Gadamer é um
pensador logocentrismo, para o Gadamer o ser da obra nunca deixaria de articular, não
existe ruptura, para o Derrida é necessário desconstruir o ser da obra, a questão não é o
otimismo interpretativo e o acréscimo de ser.
AULA 11

Unidade III – O Juízo de Aplicação do Direito: A Hermenêutica Jurídica Clássica


01) Hermenêutica jurídica: noção fundamental
- O que são interpretação, integração e aplicação do Direito?
- Definição de Carlos Maximiliano – autor do século XX, ex-ministro do STF,
define hermenêutica jurídica como um conjunto de procedimentos investigativos
que tem meta determinar o sentido e o alcance das expressões do direito.
- A partir dessa noção percebemos que no interior da hermenêutica jurídica se
encontra em jogo a técnica de interpretação, de integração e de aplicação do
Direito.
- Hermenêutica jurídica é uma técnica e por isso se encontra mais afeta a ciência
do direito, está no meio do caminho entre a filosofia do direito, a teoria do
direito e a história do direito.
- Por interpretação, desde a hermenêutica clássica se encontrava em questão a
ideia de mediação significativa -> lidar com significados -> com campos de
sentido. No caso da interpretação jurídica, há a necessidade de se fixar o sentido
e o alcance das expressões do direito.
- O sentido do direito é a análise dos conteúdos deontológicos da norma jurídica
-> lidar com o conteúdo que advém das chamadas situações jurídicas. Situações
jurídicas se relaciona as teorias das fontes do direito (objeto de análise da
interpretação do direito). Fontes do direito: atos e fatos que são capazes de
produzir normas jurídicas (fonte material, fonte formal, fonte imediata, fonte de
apoio, etc).
- Primeiramente se deve analisar as fontes do direito para a partir delas
depreender as situações jurídicas -> posições dos destinatários das regras diante
delas, pois a partir dessa relação jurídica surgem direitos e deveres.
- Situações jurídicas se dividem em:
o Objetiva: Aquela que por meio de uma regra jurídica surge para o sujeito
do direito um conteúdo que ele não pode se afastar. Ex.: Um dever.

o Subjetiva: diante da posição do sujeito de direito perante as regras


jurídicas surgem para esse sujeito prerrogativas pessoais vantajosas. Ex.:
Direito subjetivo, faculdade jurídica.
- O interprete vai analisar as fontes do direito para mapear a partir dessas fontes
situações jurídicas objetivas e subjetivas que permitirão o aparecimento de
direitos subjetivos, deveres jurídicos e sanções.

“Interpretar o direito significa precisar direito subjetivo, dever jurídico e sanções


que surgem em meio a situações jurídicas subjetivas e objetivas que se originam
das fontes do direito enquanto atos e fatos que são capazes de produzir normas
jurídicas”.

- Maximiliano diz que interpretar é fixar o sentido mas também delimitar o seu
alcance -> precisar as situações fáticas que vão receber a incidência do sentido
interpretado. Quais fatos terão condições de receber aquele sentido? Análise
conjunta de fattispecie normativa e situação fática concreta que pode ser inserida
nesse gênero da fattispecie.

- A Integração jurídica
- A integração é o desenvolvimento de uma técnica que permite resolver o problema das
lacunas jurídicas -> colmatar lacunas -> preencher o vazio jurídico que se nota diante
das lacunas.
- Art. 4º LINDB: Diante da ausência de lei o interprete deve recorrer a analogia, aos
costumes e aos princípios gerais do direito. -> fontes de apoio do direito. (Princípio da
proibição do non liqued – o interprete diante da carências de fontes imediatas não pode
deixar de decidir, para isso existem as técnicas de interpretação -> previsão de
mecanismos que auxiliarão o interprete de modo que ele promova a aplicação do
Direito.

- A Aplicação do Direito
Toda aplicação é um ato de decisão. A decisão é um ato de vontade, um “eu quero” do
aplicador, que não é subjetiva por força do art. 83, IX da CFRB, toda decisão jurídica
deve ser motivada. Chamada pela Doutrina de “ ato de vontade racional “. Fundamentar
significa apresentar as razões de decisão -> os motivos que o levaram a decidir daquela
forma e não de outra -> quais etapas e caminhos percorreu para chegar aquele
resultado? – É isso que se chama de método.
A teoria de interpretação ocupa um lugar de destaque na hermenêutica jurídica, há uma
distinção dos tipos de interpretação desenvolvida pelo civilista Italiano Betti, tem o
dialogo muito profícuo com o Gadamer
- Emilio Betti e os distintos tipos de interpretação:
o Cognitiva: aquela que se dedica a entender o sentido em questão, a
alcançar a mensagem das fontes, a entender o conteúdo do discurso
o Recognitiva: antes de tudo desenvolve um esforço cognitivo, procura
entender, só que a sua missão vai além, ela procura entender o texto para
reproduzi-lo. Ex.: ator no teatro, professor no teatro.
o Aplicativa: A hermenêutica jurídica tem por missão aplicar aquele
conteúdo a situações concretas. (Está presente na interpretação teológica)
02) A Hermenêutica Jurídica Clássica
- Noção fundamental e contexto do surgimento da expressão;
- É uma expressão que se tornou popular sobretudo no séc. XX, para se referir a
hermenêutica jurídica nascida a partir de Savigny – pai da hermenêutica jurídica:
Conseguiu conciliar as teses do Schleiermacher com o conteúdo do direito Romano.
- Nasce no interior do direito privado, é contemporânea ao aparecimento dos grandes
códigos, se desenvolve na França paralelamente a Escola da Exegese Francesa – se
dedica a dar aplicação ao código de napoleão, mas é de forma mais restrita.
- A partir da segunda metade do séc. XX quando a Constituição e sobretudo o Direito
Público passam a ser objeto de destaque na reflexão da teoria do Direito, toda a
investigação da Hermenêutica Jurídica no interior do Direito privado passa a receber
uma nova terminologia, passa a se falar na Hermenêutica Jurídica Clássica (de Savigny,
privado) e a Hermenêutica Jurídica Contemporânea, aquela que se dedicaria a
interpretação da Constituição. O método não poderia ser o mesmo pois as regras são
distintas.
- Alguns autores ainda (Virgílio Afonso da Silva) dirão que não há diferença nenhuma
entre os dois métodos.
- A Hermenêutica Constitucional mais tarde vai procurar abolir a ideia de método, acaba
por recepcionar as teses de Gadamer.
- Franlois Geny; autor que escreve na transição do séc. XIX para o séc. XX – texto de
1925 – fontes do direito e interpretação das leis, onde usa a expressão “técnica jurídica
de interpretação e de aplicação do direito” para se referir a hermenêutica jurídica
clássica.

03) O Juízo da Aplicação do Direito: modo como a Hermenêutica Jurídica Clássica


pensou a interpretação, a integração e a aplicação do Direito. Expressão criada por
Francesco Ferrara: no livro Interpretação e Aplicação das Leis.
- Houve uma época em que esse juízo recebeu outras denominações, ao exemplo do
“silogismo jurídico”.
3.1) O silogismo jurídico – se origina na escola da Exegese Francesa.
- O que é silogismo? O silogismo é uma unidade de pensamento que é pensada pela
lógica, silogismo é o raciocínio que se faz a partir da coerência interna de premissas, ou
de proposições -> assertiva situada na lógica composta por um juízo, uma afirmação
judicativa. Um juízo é uma união entre um sujeito e um predicado por meio de um
cognitivo.
- Raciocinar significa analisar conjuntamente premissas e perceber que existem entre
essas premissas uma lógica interna, uma coerência, de modo tal que a partir dessa
coerência consegue se chegar a uma conclusão que é produzida por inferência a partir
da leitura das duas premissas.
- Silogismo -> Raciocínio a partir do qual se chega uma conclusão a partir da inferência
que se obtém diante da análise das premissas. Geralmente se tem uma premissa menor e
uma premissa maior, e a partir da coerência interna entre premissa maior e premissa
menor se obtém uma conclusão.
- Exemplo: modus barbara – Premissa maior: todos os homens são mortais (universal)
Premissa menor (alcance particular): Sócrates é homem,
logo Sócrates é mortal.
- Essa análise conjunta entre premissas é chamada de argumento.
- Desde Aristóteles se difundiu a tese de que a lógica é a fonte de raciocínios coerentes,
mas não de raciocínios verdadeiros, então, o silogismo não é a fonte de verdade, é fonte
de coerência. Esse raciocínio coerente mas falso é chamado de sofisma -> raciocínio
aparentemente coerente mas sem correspondência com a realidade.
- Escola da Exegese Francesa: o silogismo jurídico e o juiz como a “boca da lei” – o juiz
não teria a permissão para interpretar a lei, cabia ao juiz simplesmente aplicar de forma
mecânica, de forma silogística, o Direito. Havia uma desconfiança grande em relação ao
Judiciário, pois o Judiciário era o mesmo pré-revolução Francesa, diferente do
executivo e do legislativo.
- Premissa maior: a lei – texto do Código de Napoleão
- Premissa menor: situação fática que é discutida no processo
- Conclusão: decisão do juiz
- Para a Escola da Exegese a interpretação era mecânica, lógica, silogística, não cabendo
a possibilidade a margem interpretativa.
- Críticas da expressão: o problema da premissa menor do raciocínio de aplicação do
Direito: a conclusão por subsunção;
- Um processo se inicia a partir do momento em que as partes apresentam um relato as
autoridades, como a jurisdição só pode atuar a partir de provocação. Se a premissa
menor é aquela que se refere a situação fática e se primeiramente o processo se inicia a
partir do fato, o raciocínio de aplicação do direito começaria a partir da premissa menor
e não da premissa maior.
- A conclusão não se faz por dedução, por uma inferência, mas sim por subsunção ->
subsemere -> tomar o lugar de -> análise conjunta de texto e realidade, parte do fato
para o texto e do texto para o fato para que se investigue se o fato possui as
características que são indicadas no texto, de modo que o interprete transponha as
consequências abstratas previstas no texto para a realidade concreta.
- A premissa maior do raciocínio de aplicação do direito tem uma natureza distinta da
premissa maior do silogismo lógico, a premissa maior “todos os homens são mortais” é
um juízo de realidade “ser”, a premissa maior no direito é um juízo de dever-ser.
- Henrique Cláudio de Lima Vaz no interior da ética sugere que se use a expressão:
silogismo prático-moral para realçar esse movimento a partir do qual uma regra ética
vai ser cumprida na realidade sensível.
- Extensão no Direito: Silogismo prático-jurídico (professora Mariah Brochado) ou
juízo de interpretação e aplicação do Direito.
3.2) Juízo de Aplicação do Direito
a) Construído a partir de dois Modelos:
a.1) Ferrara: se constituiria da análise da premissa maior, da premissa menor e da
conclusão por subsunção;
- Crítica: incompatibilidade com a estrutura processual anteriormente indicada – o
processo começa pela premissa menor;

a.2) François Geny: Técnica jurídica – cinco etapas –


i) identificação da quaestio facti – analise da narrativa das partes acompanhado das
provas partes
ii) identificação da quaestio iuris – qualificação jurídica do fato (Engish – diz que essa
qualificação já é subsunção)
iii) crítica jurídica formal – identificar as fontes do direito e material – análise das
categorias jurídicas – válida? vigente? eficaz?
iv) interpretação – vai utilizar os 4 grandes métodos clássicos de interpretação: literal,
lógico-sistemático, histórico e teleológico para fixar o sentido e alcance do direito.
v) aplicação;

b) Premissa maior do juízo de aplicação do Direito – método do Ferrara


- Existem 2 modos de a regra jurídica incidir, a incidência em abstrato: regra jurídica
abstratamente é questionada por seus destinatários, ex.: quando um professor vai dar
uma aula de direito civil ele vai discutir os modos que o texto civil pode ser aplicado e a
incidência aparelhada: aquela que acontece perante a jurisdição. (Usaremos a
aparelhada)
b.1) A partir da Identificação do Direito existente:
- O que é identificar a existência do Direito: análise das categorias jurídicas –
existência, validade, vigência e eficácia.
- O Direito existe a partir do momento em que ele vem à tona no mundo exterior a partir
do trabalho da autoridade. (Publicada no Diário Oficial)
- As categorias jurídicas servem para afeiçoar o processo de juridicidade das regras
jurídicas, o processo de aquisição de força obrigatória do direito, de força deontológica
do direito.
- Validade: aquisição da força obrigatória da regra – quando passa a integrar o sistema
jurídico, é posicionada por uma autoridade, que é competente, e ao posiciona-la
respeitou todo o procedimento previsto em outras regras anteriores para que essa
posição pudesse ser feita além de observar o conteúdo regulatório. Não perde sua
validade diante do desuso ou do costume contra leggem. LC 95/98, Art. 9º - revogação
deve ser explicita.
- Vigência: O adiamento do início da eficácia da regra, geralmente é indicado no texto
legislativo. O intervalo entre a validade e a vigência é chamado de vacacio legis.
- Eficácia: Quando a lei é válida e vigente ela tem condição de produzir seus efeitos e é
eficaz.
- Vigor – ultratividade: A lei não é mais valida, nem eficaz nem vigente mas continua
sendo efetiva, se dá nas hipóteses de certeza jurídica: direito adquirido, ato jurídico
perfeito e na coisa julgada.
AULA 12

b.2) Interpretação do Direito identificado


- O que é a interpretação jurídica? Carlos Maxilimiano diz que é fixar o sentido
(perceber o funtor, o conteúdo deontológico) e o alcance de suas expressões
- Busca pelo sentido: voluntas legislatoris x voluntas legis – busca ora da vontade do
legislador, ora da vontade da própria lei, a Hermenêutica Jurídica Clássica acreditava
nisso ao procurar o sentido do direito -> elementos responsáveis por clarear o sentido.
- A partir do momento que a hermenêutica jurídica surge no séc. XIX, a primeira
concepção de sentido é aquela que afirma que interpretar a lei é interpretar a vontade do
legislador.
- Vontade do legislador: Escola da Exegese Francesa – motivos políticos e racionais;
influência da Hermenêutica Clássica; posição subjetivista, psicológica ou tradicional;
efeitos ex tunc; (Schleiermacher, procura captar o sentido do autor na interpretação
psicológica, a partir disso Savigny procura aplicar as categorias no próprio direito, daí,
na Escola da Exegese Francesa, surge essa idéia que afirma que interpretar a lei é buscar
a vontade do legislador).
- Se justifica: Escola da Exegese surge a partir da necessidade de interpretação dos
Códigos Franceses pós revolução, sobretudo o de 1804, tese vigente de que o direito
passou a ser um direito racional, a influência do iluminismo e do enciclopedismo se
manifestou na construção de textos marcados pela ideia de perfeição, completude,
clareza e com a ideia de estabilidade – veiculada na época da produção dos códigos. –
Política sob a regência do Consulado.
- Escola da Exegese dizia que não havia a necessidade de se interpretar o código, se
retoma uma tese de Justiniano – era tão perfeita que não precisava ser decodificada.
Tese “na clareza do dispositivo não cabe interpretação” – texto como expressão racional
do legislador francês.
- Contudo se acontecesse algum deslize e a clareza do texto não fosse totalmente
expressa, aí sim haveria a possibilidade de interpretação, que só poderia ser conduzida
na forma de um esclarecimento textual. O interprete deveria pensar tal como o
legislador, buscar a vontade do legislador – O Pai da Revolução, do Código.
- Escola tinha uma desconfiança em relação ao poder Judiciário, legislativo: membros
povo, Luís XVI guilhotinado, já o judiciário era o mesmo antigo regime.
- Procurar sempre efeitos ex tunc, porque o sentido desde sempre já se manifestou
assim, extensão das consequências da premissa maior a premissa menor.
- Essa posição tem inúmeras dificuldades, o legislador não é um ente concreto e singular
que poderia ser acessado, como fazer isso? De acordo com a Escola da Exegese, basta ir
aos debates das assembleias que discutiram a elaboração dos textos e acompanhar as
atas – não traduzem o projeto que foi aprovado, mas os debates em torno dos
antreprojetos.
- Vendeu se a ideia de que os textos eram inovadores mas na verdade trabalhavam o
mesmo conteúdo do ius commune europeu – parte especial
- Segundo: a busca pela vontade do legislador pode acabar de forma arbitrária e acaba
se esquecendo da ideia de autonomia do texto em relação a seu autor.
- Essa busca tinha muito mais características políticas do que bases cientificas ou
filosóficas, na segunda metade do séc. XIX aparece uma tese contraposta, tese que
afirmava que interpretar a lei é buscar a vontade da própria lei.
- Vontade da lei: Escolas Histórico Sociológicas do século XIX – realizar a verdade dos
fatos contra os códigos, posição objetivista, com efeitos ex nunc – vontade atual da lei;
- Revolta dos fatos contra os códigos, apareceram situações fáticas que não tinham
previsão nos códigos – legislador não previu elementos que surgiram com a Revolução
Industrial
- Francesco Ferra: diz que as duas posições isoladas são ambas insuficientes, para ele
interpretar a lei e procurar a sua ratio legis – a razão de ser da lei, buscar a vontade atual
da lei – unidade entre corpus, mens e telos;
- Segundo os Romanos interpretar a lei significa trabalhar com seu corpus, a sua mens e
o seu telos. Corpus: texto por meio do qual ela é veiculada, por isso qualquer
interpretação começa com a gramatical, mas é necessário ir além do texto para procurar
o sentido que anima aquele texto, daí a necessidade de analisar a mens –> sentido do
texto, conteúdo dos seus significados: como historicamente cada uma daquelas palavras
foi adquirindo o seu sentido próprio, o bom interprete deve procurar também o telos ->
sua finalidade, sua razão de ser. Buscar a ratio legis significa encontrar através do
corpus o telos que está presente em meio a sua mens.

b.2.1) Metodologia de Interpretação do Direito


Hermenêutica jurídica sempre vai ser metodológica pelo fato do legislador dizer que a
decisão precisa ser fundamentada – apresentar os fatos e os direitos fundamentais para
que a decisão ocorra de um modo e não de outro. “O método é o elemento que permite o
adequado acesso ao sentido. ” Sem o método não consigo obter a ratio legis e sem o
método o interprete vai transmitir a sua subjetividade a interpretação; O magistrado não
deve ser neutro, mas imparcial, e isso se nota quando se tem a distância entre aquele que
julga e aquele que acusa.
- Não há uma regra que diga qual método prevalece.
- Método como bengala interpretativa (esconder o deciosonismo)
- Método chega atrasado
- Método antifenomenológico por excelência
- Determinação dogmático-constitucional: art. 93, IX, CR/88;
- Métodos ou processos de interpretação (Maximiliano); Savigny

a) Gramatical, literal ou filológico – análise dos verba legis;


- Aquela que procura analisar a análise das palavras que compõem o texto da lei.

b) Lógico-sistemático: retomada do círculo hermenêutico;


- Realçar a relação de co-pertinência e requisição conjunta entre parte e todo, é aquela
que interpreta o texto do artigo a luz do capitulo em que se encontra, a luz de um título,
da seção do código, do próprio código e de todo o ordenamento jurídico. Assim como
dentro do próprio artigo não se interpreta o parágrafo sem interpretar o caput.

- Vicente Rau: dois métodos distintos, lógico e sistemático;


- As distinções são que o lógico complementa o gramatical: analisa o sentido da
proposição como um todo, já o sistemático de fato realiza a interpretação de acordo com
a totalidade do ordenamento jurídico.

- Professor Alípio Silveira e Professor Glauco Barreira (mostram cada um dos métodos)

c) Método histórico: busca da ocasio legis e da origo legis – procura a evolução do


próprio dispositivo
- Ocasio legis é a busca dos elementos das situações fáticas que vigoravam no momento
da criação do instituto jurídico -> situações econômicas, jurídicas, sociais, políticas, os
debater que circunscreviam as discussões que levaram a produção do texto, qual é a
textura social que vigorava naquela época?

- Origo legis: história do próprio instituto, como se originou no direito romano, como
foi caracterizado no mundo medieval, como se desenvolveu no ius commune, como foi
recuperado pelo código civil francês

- Escola Histórico-evolutiva (Geny): busca da ratio legis depende da identificação do


método histórico evolutivo, demonstra o modo como aquele instituto vem se
desenvolvendo; Apareceu com a escola histórica do direito (Savigny) e foi amplamente
difundido e estendido pela pandectista alemã.

d) Método teleológico (método clássico): Jurisprudência dos Interesses – interesse


juridicamente protegido; - procura a finalidade dos dispositivos legislativos (Ihering),
investigação dos interesses jurídicos em questão, Ihering diz que quando uma legislação
é elaborada, no interior dela ou no momento prévio estão em debate interesses
contrapostos e o legislador protege um e afasta o contraposto, o direito deve ser capaz
de entender como o legislador optou por um fim em detrimento de outro.
- Joaquim Carlos Salgado: fins são a ratio legis;

b.2.2) Classificação da Interpretações em relação ao alcance:


a) Interpretação declarativa: unidade entre texto e ratio – texto e interpretação são
coincidentes, texto conseguiu traduzir toda a razão de ser, busca pelos fins e sentidos se
encontram totalmente equilibrada no texto;
b) Interpretação restritiva: texto ultrapassa a ratio – texto disse mais do que deveria ter
dito, texto extravasou a razão de ser, a função do interprete é restringir o seu alcance.
Ex.: descendente ao invés de filho - sucessões;
c) Interpretação extensiva: ratio ultrapassa o texto – o texto disse menos do que deveria
ter sido tido, necessidade do interprete estender o alcance do texto por ter encontrado a
sua ratio, movimento de parte para gênero. Ex.: disse filho, mas deveria dizer
descendente; disse imposto, deveria ter dito tributo;

- Distinção entre interpretação extensiva e analogia – Intepretação parte da existência de


texto, a analogia se dá nos casos de lacuna, não há direito, e devo integra-lo, a extensiva
se nota um movimento da espécie rumo ao gênero, na analogia se tem a comparação
entre dois particulares.

AULA 13

b.3) Integração do Direito – E quando não se localiza o direito?


- Conceito de integração jurídica – o problema das lacunas: Tema clássico da teoria do
direito: o da completude do ordenamento jurídico; No contexto do positivismo jurídico
clássico do séc. XIX, existiam aqueles que defendiam que o ordenamento jurídico era
completo, e se nos deparássemos com uma situação que não fosse regulamentada pelo
direito, era uma situação de indiferença jurídica, ou seja, é algo licito. Porém, para a
maior parte dos estudiosos do direito, o ordenamento jurídico admite lacunas, porém,
não pode ter a ausência de critérios no seu anterior que tenha por missão resolver o
problema das lacunas jurídicas (incompletude indesejada do ordenamento jurídico) – A
maior parte do ordenamento jurídico apresenta as normas gerais inclusivas (Norberto
Bobbio)
- Art. 4º, LINDB: Na ausência de uma regra que advém de uma fonte primária de direito
o legislador poderá fazer uso da analogia, costumes e princípios gerais do direito; -
norma geral inclusiva que se dedica a comaltar as lacunas.
- Modo como a legislação enquadra os costumes ainda é influenciado pelo positivismo
pois os costumes na verdade são fontes imediatas do direito e não fontes puramente
supletivas.
- Analogia: raciocínio ad símile, a importância da ratio legis; analogia legis e analogia
iuris; Analogia é uma modalidade de raciocínio, assim como a dedução (universal para
o particular) e a indução (comparação dos distintos particulares para se chegar a uma lei
geral), a analogia realiza a comparação entre dois particulares, entre dois componentes
da mesma espécie. A analogia é uma forma de raciocínio ad símile, pois procura as
semelhanças entre aqueles dois particulares em comparação, de modo tal que uma vez
que se observa semelhanças e as razões pelas quais elas se justificam, é possível
estender a característica de um particular a outro pois o fundamento das semelhanças e
das distinções se observam.
- Na filosofia antiga, com Platão e Aristóteles, sobretudo Aristóteles, diz que a analogia
se observa quando há extensão de notas acidentais essenciais dos entes uns aos outros.
Procura desenvolver o raciocínio que procura o desenvolvimento da intelecia ->
significa o movimento através do qual o ente sai da sua pura potencialidade para a sua
realização concreta em ato. Logo as suas características essenciais vão se realizando
plenamente. Para Aristóteles, o ente, através de sua causa final, através de sua
substancia, podem ter dois tipos de características: acidentais e essenciais;
- Acidentais: dispensáveis no processo de realização da intelecia -> altura, pois a
característica essencial do homem é a racionalidade.
- Essencial: a racionalidade do homem
- Aristóteles diz que se os entes possuem em comum características meramente
acidentais, eles são aparentemente semelhantes, se possuem pelo menos uma ou mais
notas acidentais, eles são semelhantes, se possuírem em comum todas as notas
essenciais, eles são iguais, se possuírem todas as notas acidentais e todas as essenciais,
eles são idênticos.
Analogia seria possível apenas com entes aparentemente semelhantes e semelhantes,
pois se são iguais ou idênticos não é necessário.
- A analogia jurídica (no interior do direito) é aquele raciocínio de comparação que tem
por missão estender uma consequência jurídica prevista a uma dada situação para outra
situação que não tem expressamente prevista essa consequência, porque o fundamento
da consequência de uma situação também está prevista na outra situação. (Possuem em
comum o mesmo fundamento de previsão de consequência).
- Fundamento é a mesma ratio legis sobre a qual falamos anteriormente.
“Analogia é esse raciocínio que vai transmitir a partir da identificação da ratio legis a
consequência de uma situação para outra”
A doutrina faz a distinção entre:
 Analogia legis: quando se encontra sobre análise duas situações que são
regulamentadas em lei.
 Analogia iuris: estende a consequência jurídica em fonte que não são a lei:
jurisprudência, costume, contrato.
- Princípios gerais do direito: noção – herança do positivismo jurídico.
Não está se referindo as normas princípios, que são fontes imediatas do direito. Dois
exemplos clássicos: segurança jurídica (previsibilidade de condutas futuras) e certeza
jurídica (imodificabilidade de situações jurídicas produzidas no passado) ->
identificados a partir do esforço intelectual da doutrina.
Idéia de Panprincipiologismo, não se pode invocar princípios não positivados para
orientar direitos e obrigações (Lenio Streck).
Uma vez interpretado o direito (fixado o seu sentido e o alcance) o próximo passo do
aplicador é analisar a Premissa menor do juízo de aplicação do Direito.
b) Premissa menor do juízo de aplicação do Direito (análise diante da situação fática)
- A situação fática deduzida em juízo; - uma vez provocada, o estado-juiz não pode
deixar de decidir alegando que não há regra prévia regulamentada, o aplicador não pode
abrir mão da sua obrigação de decidir: “Princípio da proibição do non linqued”, as
partes devem reconstruir os fatos narrativamente em juízo e apresentar os meios de
provas suficientes para essa reconstrução. A construção desses fatos por meio de provas
recebe o nome de quaestio facti: questão de fato.
- O ônus da prova em regra para os romanos compete a parte que faz as alegações em
virtude do princípio do allegata et probata, porém o direito pode prever a possibilidade
do ônus da prova ser invertido, sobretudo nas situações em que se verificam
hipossuficiências, como é o caso do direito do consumidor.
- Romanos: allegata et probata e iuria novit cúria – “Alegue e prove”; “ o juiz conhece o
direito”
- Formação da quaestio facti e da quaestio iuris;
- A importância das provas e do ônus de provar;
- A presença da subsunção; A construção da quaestio facti a partir das provas já implica
em subsunção -> aquele raciocínio por meio do qual se analisam conjuntamente
características dos fatos e do direito, parte das regras para os fatos e dos fatos para as
regras.
- O magistrado vai fazer o enquadramento jurídico, ou seja, promover a chamada
quaestio iuris -> qualificação que o juiz vai conceder aqueles fatos apresentados pelas
partes diante do direito (partes já tem essa possibilidade de enquadramento, contudo
isso não é definitivo), as partes porém não tem essa obrigação, pois “o juiz conhece o
direito”.
- Tanto na formação da questão de fato quanto na formação da questão de direito já é
subsunção, já há uma leitura conjunta de fato e de realidade. Não são os fatos que são
subsumidos ao direito, mas sim conceitos ou relatos sobre os fatos. -> subsunção =
subsumere = tomar o lugar de outro. Aquela situação fática apresentada tem a mesma
característica da hipótese normativa descritas nas normas jurídicas.
Subsunção significa reconhecer que aquele fato tem as notas essenciais previstas na
fattispecie (na hipótese de incidência) da norma jurídica.
- Fundamento da subsunção: Karl Engish (livro Introdução ao Pensamento Jurídico) e
Karl Larenz (Metodologia da Ciência do Direito): significa perguntar se a respeito do
porque aquela situação fática configura um exemplo da hipótese prevista no texto da
norma jurídica, para eles, essa subsunção se realiza através da teoria da equiparação:
reconhecer que os fatos narrados têm as mesmas características essenciais dispostas na
hipótese de incidência, no texto da fattispecie.
- No interior da subsunção se observa duas características da Hermenêutica Clássica e
da Hermenêutica filosófica: Teoria do círculo hermenêutico (todo e parte, direito e fato)
e a fusão de horizontes (horizonte do texto se encontra com o horizonte de fato)
d) Conclusão por subsunção – a aplicação jurídica -> aplicar significa a vontade
racional apoiada no direito, por meio de quem recebe competência funcional para tanto
(investida naquela função a partir de regras jurídicas sobretudo constitucionais), que vai
fixar de forma normativa o sentido interpretado. Decidir significa fixar o sentido de
forma coercível (Há elementos do judiciário que garantem isso)
- A decisão enquanto ato de vontade racional; Incidência aparelhada, a decisão é
fundamentada (consubstanciadas em fatos e em direito)
- Fundamentação: unidade entre direito interpretação, fatos provados e argumento
decisório; Deve apresentar todos os fatos e direitos que permitiram que se chegasse
aquela conclusão -> rações jurídicas de fundamento aquela decisão
- Teste de Decidibilidade: a verificação dos argumentos decisórios – Kant e o juízo de
reflexão da aplicabilidade. Para que uma decisão seja fundamentada, o magistrado deve
mostrar como essa fonte incide em relação a esse fato, deve apresentar o argumento
decisório -> liame que vai ligar direito e fato, explicação sobre como aquele direito
incide sobre aqueles fatos, deve mostrar uma concatenação lógica que aproxime direito
e fato, se cumprido o argumento decisório, em relação a esse argumento se observa a
decidibilidade.
Existem 3 modos através do qual o argumento decisório se desenvolve:
 Método dedutivo: aquele observado pela Escola da Exegese Francesa, parte da
premissa maior para a menor e aplica por inferência, o argumento decisório
parte da Universalidade do direito para a particularidade do fato.
 Método indutivo: Começa a fundamentação apresentando os fatos para depois se
reportar ao direito para explicar como esses fatos recepcionam o direito
 Método analógico: aquele que compara fato e direito.
Os três são usados recorrentemente, mas o importante é que o argumento exista na
sentença.
- Juizo reflexionante: teste por meio do qual o magistrado deveria passar. “Será, que
qualquer juiz, diante dos mesmos fatos e das mesmas regras, decidiria da mesma
maneira? ” A minha decisão poderia ser universalizada? Se sim, a decisão tem pedigree,
passou pelo teste. Se não, a decisão é contaminada por sua subjetividade, e não cumpriu
com a obrigação de ser vontade racional.
- Hoje, as teorias da argumentação jurídica (Alexy) tem o propósito de apresentar as
razões argumentativas que permitam que a razão tenha alcance universal. –
Universalizado para além do método, teorias da decisão para além do método.
AULA 14

01) Hermenêutica Jurídica Clássica (surge com o Savigny) x Nova


Hermenêutica Jurídica

- As insuficiências da Hermenêutica Jurídica clássica: características incisivas e


marcantes: a) origem no Direito Privado – resgate do direito romano por meio do direito
privado para depois aperfeiçoar o direito público (sobretudo no direito constitucional e
administrativo), os métodos de interpretação que se aplicava na escola da exegese
francesa, aquela escola que aparece com os códigos napoleônicos sobretudo com o
código civil francês, de 1904, se aplica ao direito privado – metodologia de
interpretação literal do texto surge na escola da exegese,; b) aplicação metodológica –
permite o interprete fixar o sentido e alcance do direito sem transmitir a sua
subjetividade, o método blinda o interprete para que ele não contamine o processo de
interpretação e aplicação do direito; c) aplicação das regras jurídicas por subsunção –
raciocínio de checagem conjunta do texto das fontes do direito e das realidades do fato,
relacionar os conceitos a respeito da premissa menor do raciocínio de aplicação do
direito à estrutura de universalidade dos textos da fonte do direito, relacionar conceitos
fáticos a conceitos jurídicos; - Desde o século XIX até a primeira metade do século XX.

- Pós-Segunda Guerra Mundial: mudança de eixo axiológico do Direito – a importância


da Constituição e do Direito Público para a reconstrução da eticidade da comunidade
jurídica – de modo a evitar que normas atrocidades aconteçam;

- O papel abstencionista do Estado se releva inadequado, há a necessidade do estado


intervir nas relações interpessoais de modo a ajusta-las tendo em vista valores
fundamentais, prestar serviços públicos, a Constituição passa a ser o espaço
fundamental de concatenação dos anseios sociais, para o desenvolvimento de uma vida
digna, constituição como espaço jurídico e ético que visa a promoção da dignidade
humana.

- A Constituição, a partir da Revolução Francesa passa a ser texto jurídico, com o fim da
segunda-guerra esse diploma jurídico passa a chamar pra si a função de dirigir a
sociedade ao desenvolvimento pleno da dignidade humana, rumo a realização de todos
os valores jurídicos fundamentais -> erradicação da pobreza, fraternidade, realização de
todos os serviços públicos, solidariedade -> em consonância com a Declaração da ONU.

- É nesse contexto que aparece o Pós Positivismo, a corrente predominante pré segunda-
guerra era o positivismo jurídico, com isso se percebeu que o positivismo jurídico ao
adotar uma posição neutra, ao direcionar o seu esforço intelectual tão somente no papel
de descrição das normas jurídicas sem alguma participação valorativa, se visualiza que
esse papel foi fundamental para que as atividades da guerra acontecessem.

Com o final da guerra há o renascimento da necessidade de o Direito voltar outra vez a


abraçar as ideias de justiça, de a ciência do direito aspirar ao desenvolvimento de teorias
da justiça que permitissem uma correção moral do próprio direito -> Aparecimento do
Pós Positivismo, sobretudo a partir da Lei Fundamental de Bom de 1949 -> Modelo
Constitucional que a Alemanha teve.

- Essa lei não teve toda a legitimidade que uma assembleia constituinte requereria teve a
necessidade de ser corrigida em termos morais sobretudo pelos tribunais, direito volta a
chamar atenção para a necessidade de correção moral e ética das normas jurídicas para
que as aspirações da sociedade pós-guerra pudesse se organizar.

- Os chamados “Pós-Positivismo” e neoconstitucionalismo;

Pós- Positivismo é a corrente de pensamento no interior das teorias do Direito que surge
sobretudo nos anos 50 do séc. XX que tem por finalidade reconciliar Direito e Ética,
Direito e valores, é nessa década que aparece a Escola “Jurisprudência dos valores”, que
tem por missão através da argumentação jurídica inserir os valores éticos no interior do
direito. Alexy chama isso de “correção moral do direito”, permitir que as normas
jurídicas sejam contaminadas por toda a eticidade fundamental para que a humanidade
não mais erre em termos de falhas com o próximo. Ética como valor fundamental no
interior do direito.

Há a necessidade portanto de se pensar as teorias da constituição de outra maneira, idéia


do neoconstitucionalismo -> vai resgatar a necessidade de se ver a constituição não só
como espaço de organização da política pelo Direito, mas também como espaço em que
se fornece as garantias de fruição dos direitos fundamentais. Esforço de se pensar a
constituição em consonância com as teses do neopositivismo e com a jurisprudência dos
valores.

Constituição como espaço privilegiado no interior do direito, logo, o tratamento deveria


ser distinto.

- Consequências: seriam as regras constitucionais idênticas as regras


infraconstitucionais?

- Três posições: a) igualdade plena – há um tratamento igual entre as regras


constitucionais e infraconstitucionais – resgata teses do positivismo clássico, regras são
regras. – há críticas; b) diferença total – uma é totalmente diferente da outra, logo o
modo de se desenvolver a interpretação e aplicação dessas regras deve ser totalmente
diferente – não é possível criar uma técnica totalmente nova; c) pontos de convergência
e de diferença – há pontos de convergência: são regras, e de diferença: tem finalidades
diferentes, tem o conteúdo diferente – essa tese prevaleceu;

- Principal distinção apontada pelo Pós-Positivismo: normas-regra e normas-princípio;

- A constituição contem na maioria de suas regras normas princípio e o direito


infraconstitucional é composto em sua maior parte por normas regra.

02) Distinção entre Norma-regra e Norma Princípio:


- Ronald Dworkin, Modelos de Regras 1 – policies, principles e rules;

Diz que a constituição comporta as regras policies – normas de política pública;


principles – que são as normas princípio e rules – que são as normas regras

Policies: são aquelas que tem por finalidade estabelecer o propósito do estado, a
finalidade básica essencial do estado: erradicar a pobreza, promover a dignidade
humana. São projetos, tem aplicação a longo prazo.

Principio e regra: Tem o conteúdo normativo mais imediato, podem ser levados ao
tribunal para que ele de uma aplicação forçada em caso de seu desrespeito.

“Princípio e regra se diferenciam através do modo argumentativo quando eles se


aplicam, principio tem o grau de abstração maior do que a da regra”. Mas Dworkin não
estabelece com precisão os critérios de distinção entre princípio e uma regra.

- Robert Alexy: Teoria dos direitos fundamentais – distinção a partir de duas teses –
tese fraca e tese forte.

Resolver a dificuldade da obra de Dworkin, quer diferenciar norma-regra e norma-


principio, existem dois modos de isso ser feito, a tese fraca e a tese forte.

- Tese fraca: diferença de nível de abstração; Tese forte: modos distintos de aplicação;

Tese fraca vem sendo desenvolvida desde o positivismo jurídico clássico, a diferença se
dava pelo fato de que a norma princípio é mais ampla e abstrata e a norma-regra é mais
concreta em termos de fattispecie normativa, não consegue se delimitar com clareza
qual a conduta positivada. – Tem dificuldade de delineamento prático, logo, não serve
para apresentar com clareza as diferenças.

- Tese forte: regras se aplicam nos easy cases – ou tudo, ou nada, via subsunção; em
caso de conflito entre regras, aplicam-se as cláusulas de exceção;

Tese forte se faz necessária, é aquela responsável por diferenciar norma-regra e norma-
principio através dos seus modos de aplicação.

As regras se aplicam nos casos dos casos fáceis, ou elas são aplicadas, ou não são
aplicadas através da subsunção, se observa se aquela situação fática configura um caso
da hipótese de incidência, se sim, a consequência jurídica da hipótese de incidência
obrigatoriamente se aplica aquele fato, se não, não se aplica.

Ademais, quando há um conflito de regras, deve se utilizar as cláusulas de exceção, o


próprio direito, quando há conflito entre os funtores normativos, desenvolve os critérios
de resolução de antinomias -> critério cronológico, critério da especialidade e critério da
hierarquia. Se aplicam por subsunção na forma do tudo ou nada, no final, se chega a
apenas uma regra.

- Princípios: aplicação nos chamados hard cases; aplicabilidade imediata por


envolverem direitos fundamentais; em casos de colisão (e não conflito) não há
precedência prima facie ou imediata (maior importância), mas condicionada à situação
fática (qual princípio deve ser aplicado em maior medida e qual em menor medida);
princípios são mandamentos (e não mandados) de otimização – configuram em
comandos para que o aplicador utilize a aplicação conjunta dessas duas normas, de
modo a otimizar o modo que esses princípios aplicam ambos conjuntamente em maior
ou menor medida;

Representa o modo através do qual o constitucionalismo vai se desenvolver com


excelência, sempre vai apontar diretrizes éticas que são fundamentais. Por isso, não se
pode aplicar um valor em detrimento a outro, pois todos são fundamentais para a
construção da dignidade humana, por isso a aplicação do princípio não é fácil. Deve se
condicionar um modo que esses valores sejam aplicados todos ao mesmo tempo. As
normas princípio vão abrigar valores que correspondem aos chamados direitos
fundamentais.

- Como condicionar a conjunta aplicação recíproca? Teoria da Argumentação Jurídica,


como especificação da Argumentação Moral – o Direito necessita da correção moral por
ser um autor que estabelece no interior do pós positivismo;

- A resposta será correta e adequada à situação através do procedimento racional da


proporcionalidade ponderativa:

A etapa posterior pressupõe o esgotamento da etapa anterior, se não há adequação, eu


nem passo pela necessidade.

- Etapas: a) adequação – a solução que o aplicador está propondo é a mais adequada? –


não há outro caminho, o caminho é a escolha; b) necessidade – analise em relação ao
caso concreto, a escolha não representa uma violação maior aos direitos? A medida que
é menos gravosa para aquela situação; c) proporcionalidade em sentido estrito –
realiza-se a ponderação dos valores ou dos bens jurídicos em questão, qual direito terá
um peso maior na aplicação daquele caso fático;

É a partir das características dos fatos que o aplicador chega a uma argumentação
jurídica mais adequada para resolver aquela colisão, logo, não há uma resposta prévia
correta.

- Dworkin: a decisão jurídica se estabelece a partir da busca, por parte do juiz Hércules,
da, da integridade e da coerência; decidir: construção da tese do romance em cadeia –
retira do Harold Brun – o seu texto individual dialoga com o conjunto de autores que
escreveram antes de você;

Para Dworkin, há sempre uma resposta correta no interior do direito, logo, a decisão
jurídica deve buscar essa resposta correta que já existe de antemão, essa aplicação deve
se orientar pela atividade do juiz Hercules, aquele juiz que tem capacidade sobrehumana
de identificar a resposta correta no interior do ordenamento jurídico, através da análise
da cadeia de decisões que é desenvolvida no meio do tribunal. Buscar a integridade e a
coerência significa que a solução proferida pelo magistrado é uma decisão que não pode
ser isolada em relação ao conjunto de decisões do tribunal, o magistrado deve respeitar
a cadeia de decisões anteriores proferidas pelo tribunal nos casos parecidos, a decisão
coerente dialoga com a história institucional dos tribunais – tribunais em casos
complicados sempre tem um padrão de decisão.

Dworkin é americano – Common low, precedentes tem uma importância privilegiada


em relação as fontes legisladas. Sentença como capitulo de um grande livro chamado
“decisões judiciais dos magistrados”.

art. 426-428 CPC – determinação de que a decisão judicial deve dialogar com a história
institucional do tribunal. – influência do Lenio Streck

Lenio diz que no interior do direito brasileiro há uma mixagem metodológica, não há
mais a aplicação da metodologia do direito privado, há a necessidade de se desenvolver
teorias da decisão judicial em que as respostas se constroem a partir de padrões
argumentativos em sentido amplo – Modelo do Alexy e do Dworkin são os mais
utilizados, porém, os aplicadores não percebem que eles são distintos.

3) Metodologia de Interpretação e de Aplicação da Constituição

- Os métodos de interpretação da constituição – a crítica de Virgílio Afonso da Silva

- Métodos: Direito alemão – Konrad Hesse;

a) Unidade da Constituição – Hesse – interpretação lógico-sistemática;

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