Você está na página 1de 6

De onde surge o termo "hermenêutica"?

O termo hermenêutica provém do verbo grego herméneuein e


significa declarar, anunciar, interpretar ou esclarecer e, por
último, traduzir.

Significa
que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada
à compreensão".

Não há certeza filológica, mas só probabilidade de que o termo


derive de Hermes, o mensageiro dos deuses, a quem se atribui a
origem da linguagem e da escrita. o certo é que já exprime a
compreensão e a exposição de uma sentença dos deuses o qual
precisa de uma interpretação para ser apreendido corretamente.

Encontra-se desde o séc. XVII e XVIII no sentido de uma


interpretação correta e objetiva da escritura.

CONCEITO DE COMPREENSÃO

Toda compreensão é apreensão de um sentido.

Oseventos da natureza deve ser explicado, mas a história, os


eventos históricos, os valores e a cultura devem ser
compreendidos.

Compreensão é apreensão de um sentido, e sentido é o que se


apresenta à compreensão como conteúdo. Só podemos
determinar a compreensão pelo sentido e o sentido apenas pela
compreensão.

O PROBLEMA DA COMPREENSÃO

Para Scheleiermacher a hermenêutica não visa o saber teórico,


mas sim o uso prático, isto é, a praxis ou a técnica da boa
interpretação de um texto falado ou escrito. Trata-se aí da
"compreensão", que se tornou desde então o conceito básico e a
finalidade fundamental de toda a questão hermenêutica.

Scheleiermacher faz distinção entre compreensão divinatória e


comparativa:

Comparativa: Se apóia em uma multiplicidade de


conhecimentos objetivos, gramaticais e históricos, deduzindo o
sentido a partir do enunciado.

Divinatória: Significa uma adivinhação imediata ou apreensão


imediata do sentido.

Schleiermacher define a hermenêutica como "reconstrução


histórica e divinatória, objetiva e subjetiva, de um dado discurso".

Wilhelm Dilthey é primeiro a formular a dualidade de "ciências da


natureza e ciências do espírito", que se distinguem por meio de
um método analítico esclarecedor e um procedimento de
compreensão descritiva.

"Esclarecemos por meio de processos intelectuais, mas


compreendemos pela cooperação de todas as forças sentimentais
na apreensão, pelo mergulhar das forças sentimentais no
objeto".

Heidegger em sua análise da compreensão diz que toda


compreensão apresenta uma "estrutura circular". "Toda
interpretação, para produzir compreensão, deve já ter
compreendido o que vai interpretar".
O PROBLEMA DA LINGUAGEM

Éprimeiramente na linguagem que se oferece a totalidade de


uma cosmovisão e é somente nessa totalidade já enunciada
verbalmente que consiste a objetividade.

Alinguagem fica sendo sempre um problema que fica por trás


do problema hermenêutico.

ESTRUTURAS BÁSICAS MAIS ESSENCIAIS DA COMPREENSÃO

Estrutura de horizonte: o conteúdo singular é apreendido na


totalidade de um contexto de sentido, que é pré-apreendido e
co-apreendido.

Estrutura circular: A compreensão se move numa dialética


entre pré-compreensão e compreensão da coisa, em um
acontecimento que progride em forma de espiral, na medida que
um elemento pressupõe outro e ao mesmo tempo faz com que
ele vá adiante.

Estruturade diálogo: No diálogo, mantemos nossa


compreensão aberta, para enriquecê-la e corrigí-la.

Estrutura de mediação: A imediatez se apresenta e se


manifesta em todos os conteúdos, mas que se medeia à
compreensão em nosso mundo e em nossa história.

CONSIDERAÇÕES GERAIS (Paul Ricoeur)

Até 1970 era reconhecido na França como fenomenólogo, tradutor


e comentarista de Husserl;
De 1970 a 1985 foi rejeitado na frança e emigra para os EUA;
Só a partir de 1985 é reconhecido em sua pátria;
Seu pensamento é caracterizado pela síntese;
Sua originalidade consiste em fazer pontes entre autores e
correntes de pensamento;
Estuda a linguagem em uma dimensão muito ampla: lógica,
espistemológica, antropológica, cultural, ontológica e mesmo
teológica.

A teoria do texto (Paul Ricoeur)

Com a teoria do texto, pretende uma síntese entre Gadamer e os


neo-positivistas;texto é o paradigma da distanciação na
comunicação e da comunicação na e pela distância;

a) A realização da linguagem como discurso


O discurso contém uma dualidade elementar: é acontecimento e
sentido.

b) O discurso como obra


O discurso como obra tem 3 traços distintos:
É uma sequencia mais longa que a frase que requer uma
composição;
A composição é codificada, segue certas regras que a tornam
poema, ensaio, narração, conforme seu gênero literário;
Cada obra tem uma configuração única, um estilo.

c) A relação da fala com a escrita


A passagem da fala para a escrita altera, essencialmente, para a
filosofia, todas as propriedades do discurso. A escrita torna o
texto autônomo frente às intenções do autor, condições
sociológicas, etc.. O sentido verbal do texto e o sentido mental do
autor tomam sentidos diferentes. Há uma distinção entre
escrever-ler e falar-ouvir.
d) O mundo do texto
A linguagem em forma de discurso, não só tem sentido, mas
também uma referência. Com exceção da lógica e matemática,
todo o discurso diz algo sobre a realidade.
Sua tese é que a abolição de uma referência de 1º grau
(descritiva) é a condição de possibilidade de uma referência de 2º
grau (não no nível observável) = mundo da vida.

e) Compreender-se diante da obra


Compreender é compreender-se diante do texto. Não é impor ao
texto as próprias idéias, mas expor-se ao texto, deixar-se criticar
por ele e receber dele um si mesmo mais vasto.
A distanciação é condição necessária da compreensão.

Explicação e compreensão

Segundo Wilhelm Dilthey, estes dois métodos estariam opostos


entre si: explicação (Ciências Naturais) e compreensão (Ciências
do Espírito);

Ricoeur visa superar esta dicotomia:

Método estrutural é legítimo e necessário para superar uma


interpretação ingênua, mas é insuficiente;

Compreender um texto é encadear um novo discurso no discurso


do texto. Isto supõe que o texto seja aberto.

Ler é apropriar-se do sentido do texto;

Dum lado não há reflexão sem meditação dos signos; doutro lado,
não há explicação sem a compreensão do mundo e de si mesmo.

Linguagem como experiência do mundo (Georg Gadamer)


Gadamer esforçou-se por revalorizar a palavra, que não significa
outra coisa senão uma "pré-compreensao" independente da
medida em que alcança o pleno sentido da coisa, já permite um
primeiro acesso de compreensão; preparando uma comprensão
mais ampla e mais profunda, pelo que será pressuposta por esta.

Permanece numa hermenêutica simplesmente fenomenológica,


que procura apontar o que na compreensão histórica "acontece
realmente", sem elaborar uma hermenêutica que desse regras e
indicações sobre o que deve acontecer na interpretação.

Há hermenêutica por que o homem é hermeneutico, isto é, finito


e histórico e isso marca toda sua experiência de mundo.

Não somente o mundo só é mundo enquanto vem à palavra,


mas a linguagem só é linguagem na medida que o mundo se
apresenta nela.

Cada homem vive num mundo lingüístico específico, porém


inclui, em princípio, tudo o que pode enriquecer sua visão inicial:
enquanto lingüisticamente constituído, cada mundo desses é, a
partir de si mesmo, aberto a um alargamento de sua própria
visão de mundo e, enquanto tal, acessível a outros.

nossa experiência de mundo lingüisticamente estruturada é


"absoluta", isto é, ela supera a todas as relatividades de posições
do ser, por que ela abrange todo ser-em-sí, em cujas relações
ele sempre se mostra.

Você também pode gostar