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Em sua obra intitulada Ontologia (Hermenêutica da Facticidade), Heidegger

desenvolverá o conceito da Hermenêutica introduzindo em seu núcleo a discussão da


ontologia. A própria obra se inicia com uma definição preliminar do significado de ontologia,
por esta possuir em seu sentido uma definição carregada de significados pela tradição. A
preocupação de Heidegger é diferenciar a sua posição ontológica da posição tradicional
metafísica.
Dentro da discussão realizada por Heidegger ministrada em um curso de verão em
1923, que foi assistido por Gadamer e outros. Heidegger procurará delinear o papel que a
hermenêutica exercerá em sua filosofia que estava em pleno desenvolvimento, culminando
em sua grande obra intitulada Ser e Tempo. Sendo a ontologia um estudo do Ser. “Mas esta
precisa ser compreendida aqui, segundo o próprio Heidegger como um empreendimento
indefinido e vago que o Ser deve de alguma forma ser investigado, e se chegar há alguma
compreensão e alcançar à linguagem.” (Heidegger, 2012, §1, p. 7).
Seu segundo passo será investigar de modo sistemático a projeção do Ser,
apresentando dois tipos de problematização que foram causados pela tradição, ou seja, em que
esta se fundamenta em um tipo de determinação do ser, ao tratar apenas uma característica
deste ser, isto é, apenas ao examinar objetos objetivos, e deixa de tratar de outras formas
possíveis que o ser possa ter. A segunda característica deixada para trás pela tradição segundo
Heidegger, por conta da falta anterior descrita acima, a ontologia não trata do ser dos seres
humanos, sendo esta falta uma perda da discussão das possibilidades que este Ser possa nos
revelar, sendo esta decisiva para a filosofia e a ontologia.
Heidegger empregará como já disscemos a Hermenêutica no âmbito da Ontologia, isto
é, para a discussão das ontologias regionais, ou seja, ontologia da natureza, ontologia cultural
e ontologias materiais afirmando que a fenomenologia é capaz de nos fornecer um conceito
mais adequado para a investigação ontológica. Vejamos o que o próprio Heidegger nos diz
sobre tal caminho: ... “Tais são as disciplinas nas quais se realça, em função de seu caráter
temático-categorial, o conteúdo objetual dessas regiões”. (Heidegger, 2012, p. 8).
Para o pensamento de Heidegger o termo ontologia pode se tornar enganoso para o seu
desenvolvimento sistemático, na elaboração de sua hermenêutica fenomenológica. Pois o
verdadeiro título que seria dado ao curso de verão ministrado pelo próprio Heidegger seria:
Hermenêutica da Facticidade optando segundo o mesmo pelo termo original da palavra, pois,
embora não resulte o resultado desejado, contudo permitirá destacar, mostrando o caminho a
ser percorrido que indicará os elementos necessários e eficazes para a realização da
investigação da facticidade. (Heidegger, 2012, p. 21).
Heidegger prossegue em distinguir a sua ontologia da ontologia tradicional, no mesmo
parágrafo que foi descrito acima. Em relação a sua objetualidade, como porta de entrada para
a sua Hermenêutica indicando sua objetualidade indicada a um Ser que se capacita para a
interpretação e que necessita desta intrínseca ao Ser, o Ser que de algum modo possa ser
revelado. Para o pensador a Hermenêutica possui como objetivo torna-se acessível ao Dasein,
quer dizer, Ser-no-mundo propriamente dito, em momentos de possibilidades no seu caráter
ontológico do Ser-aí mesmo, ao comunicá-lo, o papel desempenhado pela objetualidade na
hermenêutica é de aclarar esta alienação de nós mesmos neste Ser-aí é de ser alcançado. Pois,
é na própria hermenêutica que se configurará ao Dasein, ou seja, Ser-aí a um campo de
possibilidades de vir a alcançar a sua própria compreensão e de se tornar esta compreensão.
Nisto concluímos que a descrição realizada por nós entes e dos entes que nos circundam se
realiza na própria abertura do Dasein, configurando-se ao compreender-se e desta forma
alcançando este ser da compreensão. (Heidegger, 2012, §3, p. 21, §3º).
A preocupação de Heidegger em diferenciar-se do conceito de ontologia da tradição
nos mostra que, seu projeto inicial para a sua filosofia em criar uma hermenêutica da
facticidade, estaria em retirar todo o entulho conceitual que se lançou ao longo dos dois mil
anos de pensamento no mundo ocidental, e assim alcançar os primeiros rudimentos conceitual
da ontologia.
O próprio conceito de Dasein nos mostra que Heidegger se mostra preocupado em não
dar uma definição, ou uma conceituação ao Ser-aí nos moldes da tradição, ou seja, em não
cair em um conceito metafísico. Quando nos diz que a facticidade tem em seu sentido
demonstrar o modo particular do ser de Dasein. I isto ele nos mostra quando formula seu
conceito de Ser-aí, quer dizer, ser-no-mundo em diferenciar-se da palavra homem (mensch)
em alemão, que possui em seu significado conotações metafísica, pois a palavra Dasein é
composta por da que em alemão significa aí e sein, significa ser ou estar; sendo assim Dasein
significa literalmente Ser-aí, isto é, ser-no-mundo ou estar-no-mundo. Por isso sua
preocupação em não tomar a palavra homem mensch para evitar confusões na hora de
apresentar seu conceito ontológico de Dasein, evitando como já descrevemos acima
conotações metafísicas.
O tratado da Ontologia (Hermenêutica da Facticidade) não tem em seu objetivo
destruir ou descontruir a metafísica, mas sim em deixar-se mostrar o que está por baixo do
entulho colocado pela tradição. Heidegger prosseguiu em definir o que venha ser a
hermenêutica e a facticidade no contexto de sua discussão com a tradição. Logo de início do
§2 da obra citada acima, Heidegger procurará traçar o desenvolvimento do termo
hermenêutico. Para então superar o seu significado contemporâneo retrocedendo ao seu
conceito originário, que será então discutido na relação com facticidade.
Heidegger começa todo um resgate do termo para alcançar seu objetivo conceitual. O
pensador nos mostra que a palavra hermenêutica remonta de duas palavras gregas
“hermeneutike” que significam interpretar, interpretação e interprete. Definindo-a em sua
etimologia como obscura em seu significado, apesar de estar ligada a mitologia grega
acredita-se que ela está ligada ao deus mensageiro Hermes trimegisto. (Heidegger, 2012, p.
15).
Na obra intitulada Íon de Platão este definiu os rapsodos como mensageiros dos
mensageiros, ou seja, intérpretes dos intérpretes e os poetas como intérpretes dos deuses. Mas
Heidegger escolhe arauto em vez de intérprete,… “aquele que comunica aquele que informa
alguém a respeito do que o outro” pensa, isto é, aquele que transmite aquele que reproduz a
comunicação, a notícia; informa, isto é, noticia o que os outros pensam” (Heidegger, 2012, p.
15 e 16, §5º).
No teeteto a hermenêutica está associada ao logos, trazendo em seu âmago um
significado, assim a hermenêutica não só irá tratar de aspectos teóricos, mas também de
aspectos humanos do diz respeito à facticidade. Segundo Heidegger “... a hermenêutica é a
notificação do ser de um ente em seu ser em relação a...” (mim). (Heidegger, 2012, p. 16).
Segundo o próprio Heidegger, “Aristóteles estabelece conexão entre a hermenêutica à
conversação, a conduta fática de atualizar o logos e a linguagem será a de fazer conhecer algo
através de palavras” (Heidegger, 2012, p. 16). Ou seja, este ente enquanto ser vivente
necessitará do código da língua para segundo o texto de Heidegger “saborear”. Isto é, em suas
conversas diárias no cotidiano, ao lidar com as coisas; por isto este saborear será um
procedimento necessário no esforço com as coisas. Vejamos como Heidegger termina esta
ligação do logos com a hermenêutica: ““... “O falar a alguém e o falar de algo, porém, com os
demais (conversa a respeito de algo), existe para garantir o verdadeiro ser do vivente (em seu
mundo e com seu mundo)” (Heidegger, 2012, p. 16).
Heidegger prossegue mais a frente, afirmando que a palavra hermenêutica substitui a
palavra conversa, quer dizer, “o falar coloquial a respeito disso ou daquilo” (Heidegger,
2012, p. 16). Mais adiante Heidegger nos dirá que Aristóteles em sua obra intitulada Da
Interpretação (peri hermeneias), ou seja, “trata do logos em sua função fundamental:
descobrir e tornar conhecido o ente” (Heidegger, 2012, p. 17). Então este logos na tradição
teria a função de tornar este algo enquanto tal acessível, o logos teria a condição indicar, ou de
desocultar, colocar o aí, ou seja, no mundo, à disposição, o que antes se encontrava encoberta
oculto aos nossos olhos. Para Heidegger, a hermenêutica se ocupa da verdade daquilo que se é
dito, ou seja, do ser verdadeiro aletheuein em grego, tornando o que estava velado em
desvelamento, trazendo para fora aquilo que se encontrava oculto para tornar disponível ao
ser. (Heidegger, 2012, p. 17). Aqui Heidegger não discutirá de maneira mais profunda a
questão de verdade hermenêutica, mas poderemos notar que a verdade se ocupa em trazer
aquilo que se encontrava previamente velada para a abertura do Ser-aí no-mundo, agora não
mais escondido.
A hermenêutica não será uma condição ou modo artificial que se concebe em análise
imposta ao Ser-aí, ou seja, a hermenêutica não se impõe ao Ser-aí. Mas deve-se levar em
consideração a própria facticidade, de quando e em que medida, esta solicita proposição a
hermenêutica. A semelhança que há entre à hermenêutica e a facticidade não está entre a
assimilação da objetualidade e a objetualidade percebida, mas o próprio interpretar de igual
identidade “é um como possível distintivo do caráter ontológico da facticidade, quer dizer, a
interpretação é algo cujo Ser é o Ser da própria vida fática” (Heidegger, 2012, p. 21).
Este significado tem sua consequência, a hermenêutica na hermenêutica da facticidade
não indicará o sentido moderno de uma “doutrina”, sobre a interpretação, mas em uma auto-
interpretação da própria facticidade, onde esta mesma facticidade está sendo descoberta,
revelada, compreendida e se expressada em conceitos. (Heidegger, 2012, p. 22).
Para Heidegger a temática da investigação hermenêutica é o próprio Ser-aí em cada
possibilidade ou ocasião, no exato momento que este é hermenêutico, ao questionar o caráter
ontológico, na busca de configurar a sua atenção em si mesmo enraizada. “O Ser da vida
fática mostra-se no que é no como do ser da possibilidade de ser de si mesmo” (Heidegger,
2012, p. 22). Com isso Heidegger nos diz que esta possibilidade que é mais próxima de si
mesmo do que o Ser-aí, ou seja, a facticidade é, e de modo que esta se encontre no aí, ou seja,
no-mundo será classificada por Heidegger de existência. Segundo Heidegger este Ser é
questionado através da questão hermenêutica, visando que este seja o verdadeiro Ser de sua
própria existência, a facticidade se situará na posição prévia, vorhabe em alemão, que a partir
da qual e em vista da qual esta será interpretada. O que isto significa, significa que serão
produzidos conceitos e que estes terão sua origem na própria explicação destes objetos que
serão denominados de existenciais. (Heidegger, 2012, p. 22).
O conceito descrito por Heidegger indica uma possibilidade de Ser, no próprio
instante, ou seja, constrói este instante; um significa produzido na possibilidade deste instante
produz um conceito e este nos mostra a posição prévia, o próprio contexto produz a
experiência fundamental que nos mostrará a concepção prévia (Vorgriff) em alemão, segundo
o pensamento heideggeriano, esta concepção prévia se fundamenta em: exigir-se o como deste
falar e o questionar do outro; isto é, ultrapassar Dasein de acordo com sua tendência para a
interpretação e a preocupação. Os conceitos se tornam fundamentais e não acréscimos
posteriores, todavia são motivos condutores, tomando o Ser-aí em sua acepção na sua maneira
de Ser. (Heidegger, 2012, p. 22). A hermenêutica será usada no pensamento de Heidegger
para fazer-se mostrar os vários aspectos da facticidade, partindo de um suposto objeto,
indicando que este “objeto” será capaz de interpretar, e precisará desta e que este existe a
partir de um estado de ter-sido-interpretado.
Em Ser e Tempo Heidegger aprofundará mais as questões que foram levantadas em
Ontologia (Hermenêutica da Facticidade). Onde as estruturas prévias da compreensão serão
mais elaboradas na discussão de seu círculo hermenêutico. Heidegger identificará três
estruturas prévias que caracterizarão a posição inicial da compreensão, que se encontram nas
coisas no mundo, tendo estas coisas no pensamento de Heidegger sido compreendida pelos
termos da totalidade de relevâncias. Vejamos como Heidegger define estas possibilidades de
abertura do Ser:

No compreender, Dasein projeta seu Ser para possibilidades. Esse Ser para
possibilidades em compreendendo é um poder-Ser que repercute sobre o Dasein as
possibilidades enquanto aberturas. O projetar inerente ao compreender possui a
possibilidade própria de se elaborar em formas, Chamamos de interpretação essa
elaboração. 1

A primeira das estruturas é a posição prévia (Vorhabe), que em seu significado é tudo
aquilo que temos de antemão. Segundo Heidegger “ao apropriar-se da compreensão, a
interpretação se move em sendo compreensivamente para uma totalidade conjuntural já
compreendida” (Heidegger, 2012, p. 209). Ou seja, a interpretação tem a função no Ser na
direção de atingir a totalidade de relevância que já foi compreendida de antemão. Como na
citação acima o poder-Ser tem a finalidade de Ser para possibilidades. Heidegger nos diz que
sou capaz de diferenciar martelos de chaves para fendas e possuo alguma experiência de uso
com estes instrumentos, mas não muita, visto que, se tivéssemos não necessitaríamos de uma
compreensão explícita do objeto em mãos. Heidegger se utiliza do termo Vorhabe para
identificar como a intenção de alguém. Eu construo uma cerca para cercar o meu gado, na
verdade cerco-a para sobrevivência do Dasein.

1
Heidegger, Martim. Ser e Tempo, § 32, p. 209. 5ª edi. Petrópolis, RJ: Vozes, Bragança Paulista, SP:
Editora Universitária São Francisco, 2011.
Outra estrutura apresentada por Heidegger é a visão prévia (Vorsicht), definida como
um olhar para o anterior. Esta estrutura está liga ao Dasein. “A hermenêutica ou interpretação
sempre se funda sempre numa visão prévia, que recorta o que foi assumido na posição prévia,
segundo uma possibilidade determinada de interpretação” (Heidegger, 2011, p. 211). O
movimento realizado pela estrutura da compreensão do objeto que ainda se encontra
desconhecido para explicação, sempre ocorrerá na direção sob a perspectiva que fixa aquilo
que em cuja visão foi apreendida e compreendido deve ser interpretado. Eu me encontro na
necessidade de encontrar um martelo para pregar um prego em uma cerca, e não procurarei
um martelo que não seja para tal finalidade. Como dissemos acima a visão prévia se utiliza
das informações que foram dadas da posição prévia para abordar aquilo que foi apreendido
antemão pela primeira estrutura. (Heidegger, 2011, p.11). Assim Heidegger usará de modo
implícito o significado comum de Vorsicht, que se previne ou que se policia, para mostrar que
a perspectiva que Dasein escolhe, a escolhe para desenvolver sua interpretação, que implicará
numa necessidade em ser cuidadoso.
A terceira e última estrutura da compreensão a posição prévia (Vorgriff), tem em seu
significado aquilo que é compreendido antes no sentido de seus conceitos. “a interpretação
sempre já se decidiu, definitivamente ou provisoriamente, por uma determinada conceituação,
pois está fundada numa concepção prévia” (Heidegger, 2011, p. 211). Os conceitos podem
tomar para si os seres que estão sendo interpretados, ou podemos intentar forçar estes
conceitos a tornarem-se inapropriados. No caso dos martelos eu posso pensar neles em termos
de quão difíceis são de manuseá-los, ou quanto a estruturas de suas cabeças, ou o que seria
mais adequado, entretanto cogitar neles sobre qual seria suas cores seria inapropriado. “A
interpretação de algo como algo, funda-se, essencialmente, numa posição prévia, visão prévia
e concepção prévia” (Heidegger, 2011, p. 211). Para Heidegger a compreensão sempre será
uma interpretação de algo ou coisa que envolva a coisa nas estruturas prévias da
compreensão, esta interpretação nunca é uma compreensão livre de pressuposições de algo ou
uma coisa dada anteriormente. Aqui podemos perceber o pensamento heideggeriano atingindo
o seu objetivo hermenêutico, nota-se que Heidegger afirma que uma interpretação textual
exata qualquer ou nenhuma reivindicação ocorra de um “está aí” (sem pressuposições) é em
sua concepção simplesmente o preconceito que se evidencia e inquestionável do intérprete. “A
intepretação nunca é apreensão de um dado preliminar, isenta de pressuposições.”
(Heidegger, 2011, p. 211).
Heidegger prossegue em desmistificar a concepção de que é possível se alcançar uma
interpretação, sem as influências da especificidade que seu círculo hermenêutico propõe, ou
seja, a afirmação dita por Heidegger torna-se importante porque enfatiza sua tese de que não
pode existir qualquer entendimento direto que possa evitar às pressuposições do intérprete e
com isso evita as estruturas prévias da compreensão. Vejamos o que o próprio Heidegger nos
diz:
Se a concreção da interpretação, no sentido da interpretação textual exata, se
compraz em se basear nisso que “está” no texto, aquilo que, de imediato, apresenta
como estando no texto nada mais é do que a opinião prévia, indiscutida e
supostamente evidente, do intérprete. Em todo princípio de interpretação, ela se
apresenta como sendo aquilo que a interpretação necessariamente já “põe”, ou
seja, que é preliminarmente dado na posição prévia, visão prévia e concepção
prévia. 2

Heidegger com isso ataca de forma veemente as teorias da percepção direta dos
sentidos ou de intuição direta, ao afirmar em sua tese que estas simplesmente ao tentarem
encobrir o que realmente acontece na hora da apreensão e captação de algo tornando um
preconceito por parte daqueles que afirma serem capazes de compreender fora das estruturas
prévias da compreensão.
Heidegger agora tratará da objeção que provavelmente surgirá contra a sua teoria. Se
como vimos à compreensão é sempre por necessidade a base das estruturas prévias da
compreensão e também da interpretação, então como esta poderia produzir resultados
científicos sem adentrar no círculo hermenêutico? “Segundo as regras mais elementares da
lógica, no entanto, o círculo é um circulus vitiosus” (Heidegger, 2011, p. 214). I isto quer
dizer, que há um círculo vicioso em que antecipadamente imaginamos nas premissas, ou seja,
as estruturas prévias um algo que surgi na conclusão, que poderia ter sido provada no
desenvolvimento da argumentação. E segue-se sua argumentação quanto ao círculo vicioso,
ao afirmar que a falta de rigor lógico dito pelos seus antagonistas, seria compensada pela
importância de seus objetos espirituais e intelectuais, não havendo isto não se poderia extrair
conhecimentos válidos universalmente. Outros achariam melhor evitar o círculo e se apoiarem
em uma historiografia que estivesse fundamentada nos métodos das ciências naturais ou
generalizantes. Na verdade Heidegger nos diz que: “Mas ver neste círculo um vício, buscar
caminhos para evita-lo e também” “senti-lo” “apenas como imperfeição inevitável, significa
um mal-entendido de princípio acerca do que é compreender” (Heidegger, 2011, p. 214). O
que Heidegger quer nos dizer que pensar fora deste círculo é pensar de forma errônea a
compreensão desde começo. Heidegger não define o círculo como círculo hermenêutico da

2
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Op. Cit., P. 211 e 212.
compreensão, o problema colocado é o mesmo. Segundo o próprio Heidegger: “o decisivo não
é sair do círculo, mas entrar no círculo de modo adequado” (Heidegger, 2011, p. 214). Então
se a compreensão das partes é pré-requisito para se compreender o todo, e a compreensão do
todo dependa das partes, então pressupomos a compreensão das pares e do todo para se
alcançar a interpretação. Realizar esta pressuposição seria um círculo vicioso para seus
adversários, mas, isto é entender de forma errônea a interpretação. Então, “para a
compreensão é preciso saber entrar nas discussões da objetividade”. O círculo na
compreensão da interpretação não poderá ser evitado como alguns propuseram, já que este
propõe o papel das estruturas prévias da compreensão em todos os casos da interpretação,
quer a percebemos ou não. As estruturas prévias da compreensão são de propriedades
existenciais de Dasein. A pergunta é como adentramos corretamente no círculo? Deixemos a
resposta com o próprio Heidegger:

Quando este intérprete tiver compreendido que sua primeira, única e ultima tarefa
é de não se deixar guiar, na posição prévia, visão prévia e concepção prévia, por
conceitos populares e inspirações. Na elaboração da posição prévia, da visão
prévia e concepção prévia, ela deve assegurar o tema científico a partir das coisas
elas mesmas. 3

Com científico Heidegger nos quer dizer de um resultado que ganhe sua justificação
filosoficamente, e não oriundo da metodologia das ciências da natureza. Heidegger já nos
indicou o que ele quer dizer na discussão nas estruturas prévias da compreensão. Aqui os
conceitos que foram extraídos das estruturas prévias serão utilizados para atingir a
interpretação, podendo ser estes conceitos apropriados ou não para interpretar as coisas ou
algo, podendo ser forçados às coisas e direção de conceitos inapropriados. Heidegger nos diz
que estes conceitos podem ser assumidos de forma provisória ou definitiva. Abarca-los de
forma provisória seria o mais correto, todavia serão no processo de compreensão, que estes
talvez não sejam os conceitos adequados para interpretação. Por isso a fenomenologia entra
para indicar o melhor caminho em deixar o que se mostra ser visto a partir de si mesmo. É
tarefa constante dos intérpretes confrontarem as concepções que são aceitas de forma
passageiras nas estruturas prévias, pois o que nós temos são concepções que se mostram a
partir das coisas em si que se mostram para a compreensão.

3
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Op. Cit., P. 214 e 215.
RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

__________. Ser e Tempo. Tradução revisada e apresentação de Márcia Sá Cavalcante


Shuback; posfácio de Emanuel Carneiro de Leão. 5ª ed.- Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança
Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2011, (Coleção Pensamento Humano).
HEIDEGGER, Martin. Ontologia (Hermenêutica da Facticidade). Tradução de Renato
Kirchner- Petrópolis, Vozes, 2012. (coleção Textos Filosóficos).
KAHLMEYER-MERTENS, Roberto S. 10 Lições sobre Heidegger. Petrópolis, RJ: Vozes,
2015. (coleção 10 Lições).
SCHMIDT, Lawrence K. Hermenêutica. Tradução de Fábio Ribeiro. Petrópolis, RJ: Vozes,
2012. (Série Pensamento Moderno).

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