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HERMENÊUTICA

Aula 02
A objetividade na crítica literária
Perspectiva realista Perspectiva fenomenológica

• Estão separadas da análise • Parte do pressuposto de


documental: que a análise documental
1. A recepção do leitor; resultado de um:
2. As intenções do autor;
3. Análise interna = dissecação
do texto = interpretação 1. Mundo do autor;
2. Mundo do leitor;
Objetivo da análise: discorrer 3. Diálogo entre autor e
sobre a própria obra, como se leitor (compreensão)
fosse ‘um ser’ independente (‘o
texto fala por si’)
Perspectivas analíticas em contraste

realista • Estática, conceitual, atemporal


• Existência histórica e suas implicações
fenomenológica
(análise interna e externa)
Interpretação versus compreensão
interpretação compreensão

Relações Ser-no-
lógico- mundo
argumentativas (p.21)

Experiência
Análise pessoal
conceitual

Encontro
histórico
Não depende
do vivido
hermeneuein;
hermeneia

Hermes, o deus da linguagem e da


escrita

• Hermes está associado a Hermes (deus da


comunicação)
uma transmutação, ou
seja, cabe a ele
transformar tudo o que
ultrapassa a compreensão Hermeneia –
humana em algo que essa inter pretium
(interprete)
inteligência consiga
compreender (p.24)
• Hermes = mediador entre hermeneuein =
mundos interpretare
(=tornar
compreensível)
Hermeneuein como Hermeneuein como
Hermeneuein como dizer explicar traduzir
(dimensão expressiva) (dimensão explicativa)
A própria língua é uma
Refere-se à função Trata-se da formulação interpretação ou
anunciadora de de um juízo sobre o que tradução do real;
Hermes; é dito;
A língua é o repositória
Torna-se essencial que O que é dito passa pelo de uma experiência
os códigos e símbolos filtro das categorias de cultural (p.37) Ela se
sejam inteligíveis a fim pensamento, princípios torna um medium por
de que haja um e valores culturais do meio do qual
reconhecimento. autor (elementos do seu construímos nossa
mundo simbólico); visão de mundo.

A explicação torna-se Escrita ou a fala é uma


um juízo (avaliação) interpretação, por isso
sobre o que é dito; uma se torna indispensável
forma de interpretação considerar as marcas
de autoria e
destinatário, além da
*Ver próximo slide cena enunciativa
Explicação
(operações lógicas, verbalização)

Compreensão Interpretação
(sintonia) (processamento as informações, apreciação)
Produção de sentidos e relações interdiscursivas

Lucas 24, 25-27 Interrogações fundamentais

• E disse-lhes: “Ó homens • Qual o horizonte


loucos, lentos em acreditar interpretativo que uma
no que os profetas fonte histórica se insere?
disseram! Então não era
necessário que Cristo
sofresse tudo isto antes de • Como as relações de
ser glorificado? E poder, as influências
começando pelos livros de culturais se relacionam
Moisés e por todos os com o escritor?
profetas interpretou-lhes
tudo o que acerca dele se
dizia nas Escrituras.
Compreensão
significativa

(...) o sentido de
realidade e o modo de
estar no mundo patente
na obra devem ser um
ponto central para uma Contexto Circunstân
interpretação literária cias
‘capaz’, a base para
histórico históricas
uma leitura da obra que
pode ‘agrarrar-nos’ (e
‘ser agarrada’) pela
significação humana de
sua ação. (p. 40)
PROBLEMA
HERMENÊUTICO
Uma obra literária fornece um contexto para a sua própria
compreensão; um problema fundamental em hermenêutica é
explicar como o seu horizonte compreensivo do leitor se funde ao
horizonte compreendido do autor (p.36)
Problema hermenêutico = choque entre o mundo do texto e o
mundo do autor
A hermenêutica como campo de investigação

Explicação
O texto O texto e o sujeito fenomenológica / a
linguagem o ser

Fenomenologia da
Ciência de toda
existência ou
Exegese bíblica compreensão
compreensão
(voltada à Bíblia) linguística
existencial
(Schleiermacher) (Martin Heidegger)

Base Sistemas de
Metodologia
metodológica dos interpretação de
filológica geral
Geiteswissensch mitos e símbolos
(voltada a todo
aften (Hans-Georg
tipo de texto)
(Wilhelm Dilthey) Gadamer)
Significado e
âmbito da
hermenêutica
A questão Princípio
da hermenêutic
linguagem o: a questão
Hermenêutica
‘arte da
compreensão’

Confrontação de Examinar o
horizontes –
modo como
campos de
experiência - compreende
(autor/leitor) mos
O PROJETO DE
SCHLEIERMACHER (1768-
1834) DE UMA
HERMENÊUTICA GERAL
De uma hermenêutica centrada na linguagem
a uma hermenêutica centrada na
subjetividade
Processo hermenêutico:
estratégias para ampliar o significado do texto
Interpretação gramatical Interpretação psicológica

Expressã
Familiaridade com a expressão linguística Identificação dos temas e preferências
o Processo
linguístic s
a, falada mentais
ou do autor
escrita
Círculo
hermenêutico
O círculo como um todo
define a parte individual,
e as partes em conjunto
formam o círculo. Por
exemplo, uma frase
como um todo é uma
unidade.
Compreendemos o
sentido de uma palavra
individual quando a
consideramos na sua
referência à totalidade
da frase; e
reciprocamente, o
sentido da frase como
um todo está
dependente do sentido
das palavras individuais
(p.94)
Como ler Dilthey sob a ótica do círculo
hermenêutico ?

1. Captar a
orientação global
do autor, sem a
qual as partes não
se tornam
inteligíveis,
mesmo o conjunto
de suas obras;
Síntese da hermenêutica subjetiva de
Schleiermacher

Compreensão da linguagem

Compreensão daquele que fala

Expressão = pensamento

Expressão =
individualidade

Projeto hermenêutico de
Schleiermacher
Recomendações Importânc
ia da pré-
de compreen
Schleiermacher são
A análise dos processos
mentais asseguram o
sentido do texto? Não
seria mera especulação?
– tendência
psicologizante

E as circunstâncias
históricas? Não ajudam a
compor o processo de
significação?
Ir além da Condiç
expressão
linguística = ões de
E o campo de
experiência do leitor, não
psicologizar diálogo
é considerado? Enfim, o
que fazer com o nosso
próprio horizonte de
experiência?
DILTHEY: A HERMENÊUTICA COMO
FUNDAMENTO DAS
GEISTESWISSENCHAFTEN
Wilhelm Dilthey (1833-1911)
PROBLEMA
HERMENÊUTICO
Qual é a natureza do ato de compreensão que constitui
a base de todos os estudos sobre o homem?
Fundamento epistemológico para as ciências
humanas
‘Experiência vivida’ •Ponto •Transposiçã
(campo de
Mundo desócio- o real de
experiências) histórico
partida ‘mundos’

Compreensão
das expressões
da vida
A fórmula hermenêutica de Dilthey

experiência expressão compreensão


• Erlebnis = • Erlebnisausdrücke • Analogia de
sentimentos, • Qualquer coisa experiências;
sesanções, vontades, • Empatia;
percepções.
que espelhe a
• “experiência marca da vida • Explicação =
imediatamente vivida”, interior do homem categorias
desprovida de (p.118) científicas,
racionalidade. (p. 114) • Os estudos conceitos;
• A experiência está • Compreensão =
humanísticos
inserida numa
devem se centrar encontro de dois
‘realidade histórica’,
logo se estende a em ‘expressões de ou mais campos
mais de um indivíduo. vida’ de experiência;
Método das ciências Identificação
humanas: entre sujeito (
compreensão empática e objeto-suje
(verstehen) (passa

“conhecer é
reconhecer”
Diálogo entre mundo do Não se trata
autor e do leitor em reflexão purame
razão de uma natureza dada a necess
humana comum afinidades e i
ressubjet transp
ivação osição

compr
represe eensão transfe
ntação rência

reanim revivê
ação ncia
2. compreensão:
reconhecimento
das experiências
vividas

1. Expressões e 2. Mundo
manifestações histórico-
humanas espiritual

Diálogo
entre os
sujeitos
• A experiência é
Experiência
intrinsicamente temporal e,
Tarefa: fabricar as
categorias históricas portanto, a compreensão da
adequadas às
características da
experiência vivida
experiência tem também
(p.117)
quer ser dada em categorias
de pensamento
proporcionalmente temporais
(históricas) (p. 117)
A historicidade como fundamento da
hermenêutica de Dilthey
1. O homem compreende a si próprio, não pela
introspeção, mas sim por meio de objetivações da vida. “O
que o homem é, só a história pode dizer”;
2. A natureza humana não é uma essência fixa; em todas
as suas objetivações o homem não se limita a pintar
murais intermináveis nas paredes do tempo de modo a
perceber em que é que a sua natureza sempre consistiu;
(p.122)

Portanto, (...) o homem não foge à história, pois ele é o


que é, na e pela história. “ A totalidade da natureza
humana é apenas história” (p. 122)
A inevitabilidade da história e a temporalidade
intrínseca de toda compreensão

Plura Histó
lidad Plura ria,
e de lidad múlti
visõe e de plos
s de discu projet
mun rsos os de
do vida
Versões Versão
A interpretação coloca- contemp aristoté
se sempre na situação orâneas
em que intérprete se
lica
coloca; o significado
depende disso (p.125) Plat
ão
Versões Versõe
modern s
as cristãs
Versões
mediev
ais
Tarefa: encontrar
modos de uma
interação viável entre o
nosso horizonte e o
horizonte do texto.

Como fazer? Com quais


procedimentos?
• O acesso aos outros seres humanos
só é possível por meios indiretos; o
que sentimos inicialmente são gestos,
Referência sons e ações e só através do
processo de compreensão passamos
dos sinais exteriores à vida interior
subjacente à existência psicológica do
Outro. Já que a vida interior não nos é
dada na experiência do sinal, temos
de a reconstruir; as nossas vidas
fornecem os materiais que nos vão
permitir completar a imagem da vida
interior dos Outros. O ato de
compreender estabelece a ligação
com o eu espiritual do outro e o grau
de entusiasmo com que nos lançamos
nesta aventura depende da
importância que o Outro tem para nós
(BLEICHER, 1992, p. 21).
Linguagem/
campoCenário enunciativo:
semântico/circunstâncias
interpretação cenáriohistóricas, emissor,
enunciativo destinatário,
intencionalidades

hermenêutic
a

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