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relação que tem com os ouvintes. Podemos dizer que um objeto não tem sentido
fora de uma relação com alguém e que a relação determina significado.” (p.34)
“Para que o intérprete faça uma performance do texto tem que o compreender;
tem que previamente compreender o assunto e a situação antes de entrar no
horizonte do seu significado. Só quando consegue meter-se no círculo mágico
do seu horizonte é que o intérprete consegue compreender o seu significado.
Esse é o tal misterioso círculo hermenêutico sem o qual o sentido do texto não
pode emergir.” (p. 35)
• A interpretação como dizer: ler, o ato de ler em silêncio ou em voz alta. A
interpretação como explicação: o leitor tem que compreender o texto,
compreensão essa fundada na pré-compreensão, em conhecimento prévio.
“Ele (o intérprete) tem que, na própria compreensão do texto, agarrar esse texto
e ser agarrado por ele. A sua posição neste encontro a pré-compreensão do
material e da situação a que tem que chegar, numa palavra. Todo o problema da
fusão do seu horizonte compreensivo com o horizonte compreensivo que vem
ao encontro dele no texto, nisto consiste a complexa dinâmica de interpretação.
É o problema hermenêutico.” (p. 36)
Hermeneuein como traduzir
“Nessa orientação, interpretar significa traduzir. Quando um texto é na própria
língua de um autor, o choque entre o mundo do texto e o do seu autor pode
passar despercebido. Quando o texto é numa língua estrangeira, o contraste de
perspectivas e horizontes não pode ser ignorado.” (p.36)
• O autor vai traçar um paralelo entre os problemas de quem traduz um texto de
uma língua estrangeira e do crítico literário que trabalha com a própria língua.
Palmer diz que os problemas enfrentados por ambos são similares.
“O tradutor é um mediado entre dois mundos diferentes. A tradução torna-nos
conscientes do fato de que a própria língua contém uma interpretação. A
tradução torna-nos conscientes de que a própria língua contém uma visão
englobante do mundo, à qual o tradutor tem que ser sensível, mesmo quando
traduz expressões individuais.” (p.37)
• Palmer traz o problema teológico da tradução bíblica. A Bíblia foi traduzida de
uma língua distante, não só no tempo, mas no tempo histórico, bem como no
espaço geográfico. Traduzir esse livro seria, portanto, traduzir toda uma cultura
distante e um contexto histórico com uma diferença de 2 mil anos para o nosso.
O questionamento seria se devemos manter a tradução literal ou apresentar um
equivalente moderno? Exemplo, o cumprimento com beijos entre homens era
algo comum na época, porém, hoje, já não é, então devemos traduzir a frase de
São Paulo “cumprimentai-vos uns aos outros com um santo beijo” como
“cumprimentai-vos uns aos outros com um santo aperto de mão”?
• O autor, em verdade, quer chegar aos seguintes questionamentos: Como
devemos compreender o Novo testamento? O que estamos tentando
compreender? Até onde devemos saber do contexto histórico-cultural do Novo
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
“Há uma justificativa histórica para esta definição (de hermenêutica como
princípios de interpretação bíblica, que é a sua definição mais antiga), visto que
a palavra encontrou seu uso atual precisamente quando surgiu a necessidade
de regras para uma exegese adequada das Escrituras.” (p.44)
“Assim, houve um ímpeto forte no desenvolvimento de padrões viáveis e
independentes para interpretar a Bíblia; entre 1720 e 1820 não passava um ano
que não aparecesse algum novo manual para ajudar os pastores protestantes.”
(p.44)
“Portanto, no seu uso em inglês, a palavra pode referir-se a uma interpretação
não bíblica, mas nesses casos o texto é de um modo geral obscuro ou simbólico,
requerendo um tipo especial de interpretação para que se alcance o seu
significado escondido. A definição mais geral de hermenêutica manteve-se como
sendo uma teoria da exegese das escrituras.” (p.45)
• O autor não pode se aprofundar na história precisa de como a hermenêutica
saiu da definição de exegese das escrituras até a Nova Hermenêutica na teologia
contemporânea. Ele se limitará a apontar dois pontos, um sobre a natureza da
hermenêutica e outro sobre a questão do âmbito da hermenêutica
“O texto não é interpretado em si mesmo; de fato, pode ser que isto seja um ideal
impossível (...). Nesse sentido, a hermenêutica é o sistema que o intérprete tem
para encontrar o significado oculto do texto.” (p.46)
• Traçar a história da hermenêutica seria uma boa resposta para o problema
hermenêutico atual?
“Tão necessário como cada uma das perspectiva referidas (...) é uma
compreensão mais funda do fenômeno da própria interpretação, uma
compreensão que seja filosoficamente adequada, quer epistemologicamente
quer ontologicamente.” (p.47-48)
A HERMENÊUTICA COMO METODOLOGIA FILOLÓGICA
• Filologia: estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua
transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos. Estudo científico
do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, baseado em
documentos escritos nessas línguas.
“Surgiu então o método histórico-críticos na teologia; tanto a escola de
interpretação bíblica gramatical como a histórica, afirmavam que os métodos
interpretativos aplicados à bíblia, eram precisamente os que se aplicavam às
outras obras.” (p. 48)
“A tarefa da exegese era pois entrar profundamente no texto, usando as
ferramentas da razão natural e encontrando aquelas grandes verdades morais
que o escritores do Novo Testamento pretendiam, verdades escondidas sob
diferentes termos históricos.” (p.49)
“(...) de um modo geral, as consequências na hermenêutica e na investigação
bíblica foram salutares. A interpretação bíblica fez desenvolver técnicas de
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
“Por hermenêutica entendemos a teoria das regras que governam uma exegese,
quer dizer, a interpretação de um determinado texto ou conjunto de sinais
susceptíveis de serem considerados como textos. (...). A hermenêutica é o
processo de decifração que vai de um conteúdo e de um significado manifestos
para um significado latente ou escondido.” (p.52)
“Porque a hermenêutica tem a ver com textos simbólicos com múltiplos
significados; estes podem constituir uma unidade semântica que tem como os
mitos um significado mais fundo. A hermenêutica é o sistema pelo qual o
significado mais fundo é revelado, para além do conteúdo manifesto.”
• Freud diz que não podemos confiar nos símbolos da superfície da consciência,
permitindo que seja possível a destruição de símbolos e ilusões. A hermenêutica
freudiana é portanto iconoclástica.
“ Isto leva a Ricoeur a sustentar que nos nossos dias há duas síndromes muito
diferentes da hermenêutica; um, representado pela desmitologização de
Bultmann, lida amorosamente com o símbolo esforçando-se por recuperar o
significado que nele se oculta; o outro procura destruir o símbolo enquanto
representação de uma realidade falsa.
• Três autores que destruíram símbolos: Marx, Nietzsche e Freud, cada um em
um campo diferente do conhecimento.
“A desmitologização trata o símbolo ou o texto como uma abertura para uma
realidade sagrada; os desmitificadores tratam os mesmos símbolos (ou seja, os
textos bíblicos) como uma falsa realidade a ser destruída.” (p.53)
GRODIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. São Leopoldo: Usinos,
1999. (p. 117 – 205)
HERMENÊUTICA ROMÂNTICA E SCHLEIERMACHER
• Friedrich Schleiermacher foi um filósofo e teólogo alemão influenciado por Kant.
A hermenêutica de Schleiermacher é tida como fundamento geral das ciências
humanas ou ciências do espírito, contra a pretensão hegemônica da metodologia
positivista das ciências naturais experimentais. O autor expõe que o processo de
compreensão hermenêutica se dá pela inserção daquele que compreende no
horizonte da historia e da linguagem, as quais são aquilo mesmo que deve ser
compreendido, assim resta estabelecida a inseparabilidade de sujeito e objeto,
o condicionamento de toda expressão do homem a um determinado horizonte
linguístico, a circularidade entre o todo e o particular, ou a mútua dependência
constitutiva entre a parte e a totalidade , que impossibilita a compreensão por
mera indução, e finalmente a referencia a uma pré-compreensão, que
estabelece a prioridade da pergunta sobre a resposta e problematiza a noção do
dado empírico puro.
A passagem pós-kantiana do Esclarecimento para o Romantismo: Ast e
Schelegel
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
“Para Ast, esta lei ainda possui um caráter meramente descritivo: o particular
deve ser entendido a partir do outro e vice-versa. Nada é anterior ao outro,
ambos se condicionam reciprocamente e são ‘uma vida harmônica’.” (p.121)
• A hermenêutica posterior irá questionar de que modo o todo pode ser obtido a
partir do particular e se o pressentimento de um todo não irá antes prejudicar a
concepção do particular.
“Da problematização desta harmonia, a doutrina do Círculo hermenêutico, aqui
perceptível, tornar-se-á um decisivo pomo de discórdia da hermenêutica
posterior.” (p.121)
• Schelegel pensava na elaboração de uma filosofia da filologia e,
respectivamente, de uma filologia da filologia. Ele orienta-se pela divisão da
filologia em Gramática, Crítica e Hermenêutica. Ele é um precursor e um
representante da hermenêutica romântica, porque não deixou suas concepções
hermenêuticas chegarem a nenhuma estruturação sistemática.
“Da autodestruição da razão feita por Kant, seguiria agora, que apenas uma auto
reflexão da filologia poderia abrir caminho para uma renovação da filosofia.”
(p.121)
“o que não se discute, é de que a auto reflexão metodológica da filologia deve
ter ante os olhos o modelo da Antiguidade. (...). Se a hermenêutica deve um dia
chegar a perfeição, requer-se um conhecimento histórico da Antiguidade.”
(p.122)
“O que devia ser alcançado era, por assim dizer, uma autocompreensão da
compreensão, que deduziria teorias do modelo dos clássicos, porque ‘a
Antiguidade é a arena da arte filológica’.” (p. 122)
“Tornado acósmico e progressivamente inseguro, o sujeito hermenêutico torna-
se romântico: ele se volta para a Antiguidade, para explorar às apalpadelas as
regras artificiais de seu agir. Constitutiva para essa visão romântica torna-se,
pois, a insegurança elementar do sujeito, e, consequentemente, a sua
dependência do trabalho preliminar da Tradição.” (p. 122)
• Acósmico: relativo a acosmismo; doutrina que nega o mundo real e sensível e
considera que Deus é a realidade última.
“Por sua fundamentação do Romantismo, Schleiermacher (1768-1834) foi
decisivamente influenciado, quando ele se dispôs a incluir a fundamental
insegurança do sujeito na teoria universal da compreensão.” (p. 123)
Schleiermacher: a universalidade do mal-entendido
“Porque, fundamentalmente, ele (Scheleiermacher) segue a hermenêutica mais
antiga, ao esclarecer no início de sua hermenêutica, que ‘cada ato de
compreensão é a conversão de um ato de falar, enquanto deve chegar à
consciência, que espécie de pensamento esteve na base do discurso.” (p.125)
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
“(...) que o discurso ‘exterior’ deve ser conduzido à compreensão, por sua relação
retroativa ao pensamento íntimo do autor.” (p.131)
“Ao invés de mediar um sentido, ou uma verdade, unicamente interessaria a
Schleiermacher entender um autor, ou um ato criador. Para Schleiermacher, (...),
o intérprete deveria considerar ‘os textos, independentemente da pretensão de
verdade, como meros fenômenos de expressão’”. (p. 131)
• Dilthey (filósofo alemão que propôs uma metodologia própria para o estudo das
ciências humanas), viu na obra de Schleiermacher um viés psicologicista, que
significa a tendência para tentar fazer com que prevaleça o ponto de vista da
psicologia sobre outra ciência qualquer numa questão comum.
“Ele (Dilthey) considerava ser ‘pensamento norteador’ de Schleiermacher, que a
interpretação seria uma reconstrução da obra, como um ato vivo do autor, do
que resultaria ser tarefa da hermenêutica fundamentar cientificamente essa
reconstrução, a partir da natureza do ato producente.” (p.131)
“Só nos tornaremos a partícipes da verdade, se estivermos hermeneuticamente
intencionados, isto é, se estivermos dispostos a romper o frágil dogmatismo da
esfera meramente gramatical, para penetrar na alma da palavra.” (p.132)
O campo dialético da hermenêutica
• Grodin fala que só se atribui a Schleiermacher uma psicologização se não for
considerado o horizonte dialético dele, ou mais precisamente, dialógico (em
forma de diálogo). Com o termo dialética, entende Schleiermacher uma teoria do
fazer-se entender.
“Sua necessidade emerge da inexequibilidade de um ‘saber perfeito’, ou de um
ponto arquimédico para nós humanos. Em vista da nossa finitude, devemos
antes admitir, acredita Schleiermacher, que, em toda a parte, na esfera do
pensar estaria disponível – (...) – assunto infindável para contenda (discussão
consequente de uma discórdia). Por isso estamos condicionados a promover
conversação uns com os outros – (...) – para chegarmos a verdades comuns e
originariamente livres de contenda.” (p. 132)
“(...) o indivíduo que se encontra na ilusão só pode conquistar seu saber pela via
da troca de pensamentos com outras pessoas. A hermenêutica, como a ‘arte de
entender corretamente o discurso alheio, sobretudo o escrito’, participa dessa
busca dialógica do saber.” (p. 133)
“A hermenêutica repousa sobre um solo dialógico: interpretar um texto significa
entregar-sea um colóquio com ele, dirigir-lhe perguntas e deixar-se questionar
por ele. Sempre de novo deve a interpretação, se não quiser tornar-se
redundante, ultrapassar o meramente escrito, e, assim, ‘ler entre as linhas’, como
Schleiermacher dizia acertadamente.” (p. 133)
• A moldura dialógica casa perfeitamente com o entendimento de
Schleiermacher do círculo hermenêutico. Ast entendia que a manifestação
exterior do espírito dever ser entendida com base em seu contexto global, a partir
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
• O ser não escolhe se quer vir ao mundo ou não. Mas a partir do momento que
estamos nesse mundo, somos obrigados a viver e interagir nele. Quando
começamos a interagir nesse mundo, o ser torna-se ser-comum, que vive no
coletivo, um ser coletivo, massificado, que se distancia da essência do ser.
“Também aqui não se deve tomar Heidegger pela palavra, mas ler a entre as
linhas, como dizia Schleiermacher. Não se tratar de um desconhecimento ou
repressão da linguagem. Heidegger deseja apenas, que em cada palavra falada
se escute também o cuidado do ser-aí que se revela.” (p. 170-171)
• O que ele quer dizer é que não podemos reduzi a linguagem a um simples
constructo lógico e esquecer o processo da linguagem é também o processo
pelo qual o ser-aí se expressa.
Hermenêutica da Virada
“Por certo a linguagem se fez valer, agora como a ‘morada do ser’, como se ela
tivesse assumido, a partir de agora, a precedente e insuperável revelação do
ser.” (p. 173)
“É claro que esta auto penetrabilidade não deve ser pensada como auto
transparência, porém ser entendida – da mesma forma como o délfico conhece-
te a ti mesmo – como percepção dos próprios limites da nossa inamovível
projeção, e mesmo como consciência da nossa finitude em face da história do
ser.” (p. 175)
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
• Filosofia da virada: “O ser-aí não vale mais, como parecia em 1927, como o
autor potencial de seus esboços de compreensão; ele os recebe, antes de uma
história do ser geralmente subliminar, cujo aclaramento deve tornar-se a
primeiríssima tarefa da interpretação hermenêutica.” (p. 175)
“De que modo a sua obra básica concebe mais exatamente a hermenêutica, ele
o explica, misteriosamente e de forma quase tautológica, como tentativa ‘de
determinar primeiramente a essência da interpretação a partir do hermenêutico’.”
(p. 176)
“Porém, quando Gadamer retorna o diálogo com as ciências humanas, (...), mas
para realçar, a exemplo dessas ciências da compreensão, a insustentabilidade
da ideia de um conhecimento universalmente válido, e, dessa forma, também o
questionamento do historicismo.” (p. 181)
“Assim, é tese inicial de Gadamer que o caráter científico das ciências do espírito
se pode ‘antes compreender com base na tradição do conceito de formação
cultural, do que a partir da ideia da ciência moderna’.” (p. 183)
“De outra parte, Gadamer também não incide no apelo positivista em prol de uma
negação da estrutura pré-conceitual, para deixar as próprias coisas falarem,
isentas de qualquer perturbação subjetiva.” (p. 188)
“Mas, se não houver critérios realmente seguros, há, no entanto, indícios. Com
essa intenção, ‘Verdade e Método’ destaca a produtividade dos intervalos de
tempo. No olhar histórico retrospectivo, estamos frequentemente em condições
de reconhecer os princípios de interpretação que realmente se comprovaram.”
(p. 188)
“Por história efetual entende-se, desde o século XIX, nas ciências literárias, o
estudo das interpretações produzidas por uma época, ou a história de suas
recepções. Nela se torna claro, que as obras, em determinadas épocas
específicas, despertam e devem mesmo despertar diferentes interpretações.” (p.
190)
“A história efetual não está em nosso poder ou à nossa disposição. Nós estamos
mais submissos a ela, do que disso podemos ter consciência.” (p. 190)
“A história continua atuante, mesmo onde nós ousamos sobrepor-nos a ela (...).
é ela que determina a retaguarda das nossas valorações, dos nossos
conhecimentos e até dos nossos juízos críticos. ‘Por essa razão’, conclui
Gadamer, ‘os preconceitos de cada um, muito mais do que os seus juízos, são
a realidade histórica do seu ser.” (p. 191)
“Um texto só se torna falante, graças às perguntas que nós hoje lhe dirigimos.
Não existe nenhuma interpretação, nenhuma compreensão, que não
respondesse a determinadas interrogações que anseiam por orientação. Um
perguntar desmotivado, como o imaginava o positivismo, não interessaria a
ninguém e seria, consequentemente, desprovido de interesse científico.” (p. 195)
a conversação (interior), que nós somos para nós mesmos e uns para os outros.”
(p. 199-200)
“Nós não filosofamos porque possuímos a verdade absoluta, mas porque ela nos
falta. Como realidade da finitude, a filosofia precisa recordar-se de usa própria
finitude.” (p. 202)
• Na pratica, o que se sustenta, é que o código esta admitindo que o texto pode
ser eventualmente obscuro, insuficiente ou inexistente. E, nesse caso, cabe ao
juiz julgar de acordo com a sua discricionariedade. O que tira a obscuridade,
insuficiência ou inexistência do texto é a discricionariedade.
• O juiz precisa, nesse caso, manter a vontade, o espírito do legislador, que não
é necessariamente esse culto a literalidade. Se colocar no lugar do legislador.
• Como eu me coloco no lugar do legislador? Aplicando ao código os mesmos
critérios que o legislador se vale para produzi-lo. Então o juiz não é um mero
restaurador, ele vai completar o trabalho do legislador, o juiz é um produtor, mas
que clona e repete a lógica do legislador.
• Qual é o método? O método gramatical. O legislador se vale de uma estrutura
linguística e gramatical para produzir seu texto, então se eu vou completar algo
ou corrigir alguma coisa, eu preciso intervir na estrutura gramatical e a sua
relação com o sentido.
• Se algo está obscuro, eu observo essa obscuridade através de uma regra
gramatical, e essa regra pode ajudar o juiz a desvendar o real significado daquele
texto.
• Ao lado dessa estrutura gramatical, temos a estrutura logico-sistemática. Isso
significa que o código possui uma estrutura onde conceitos gerais são, num
movimento de dedução, levados aos conceitos específicos. Tudo aquilo que é
especifico decorre de uma estrutura de premissa maior premissa menor
conclusão.
• Qual é o método exegético? Trata-se de uma mudança de paradigma. Se antes
achava-se que o direito era auto suficiente semanticamente, agora a exegese
vem corrigir os erros semânticos. Semântica é a relação da palavra com a coisa
e os vários sentidos que a palavra pode ter. A exegese busca fora da semântica
os elementos para corrigir a semântica, e onde ela vai buscar? Na sintática, que
revela a relação que a palavra tem com outras palavras.
• Para a inexistência da uma norma, já que ela não existe, não há o que se
interpretar, então, nesse caso da inexistência da norma, esse método sintático
se transforma em analogia.
• O que aconteceria se o legislador não souber estrutura gramatical correta? Isso
não interessa ao exegeta, ele presume que o legislador sabia o que estava
fazendo ao redigir a lei, e interpreta daquela maneira.
Aula 8 (faltei)
Aula 9 (01/10/2018)
● CULTURALISMO JURÍDICO
• O direito começa a ter uma relação reducionista com os textos, com os
glosadores e com a volta aos textos do Direito Romano. O trabalho dos
glosadores era como trabalho de arqueólogos.
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
e norma: não se pode enxergar um sem o outro, e como a norma reforça valores,
que por sua vez iluminam os fatos e que se refletem na norma e que reforça
valores... Walber diz que essa relação é em espiral: quando olhada de frente, ela
é um círculo (dialética circular) e quando olhamos de lado vemos uma espiral,
que é a repetição desse círculo ad inifinitum.
• Quando lemos o Código Civil, por exemplo, lemos uma norma turva, mas isso
não significa que ele é desprezível. Cabe à hermenêutica estrutural iluminar essa
lei, de maneira a interpretar essa norma a partir da interação de valores e fato.
• Há limites para a interpretação, há limitações para a hermenêutica estrutural.
Nesse ponto, ele precisa que o legislador ilumine. Isso acontece por exemplo,
quando a norma não reflete mais a realidade.
• Kelsen reduz a interpretação cognitiva, gerando mais segurança cognitiva (pois
é difícil errar a interpretação em Kelsen), porém gerando insegurança jurídica.
Reali aumenta a exigência da cognição, vez que pede que a norma passe,
necessariamente, pelos valores e fatos, e com isso perde em segurança
cognitiva e ganha em segurança jurídica.
• Outra crítica que Walber faz a Kelsen, é que sua teoria não é hermenêutica.
Ela não tem uma relação de circularidade, mas sim de pirâmide, cascata. Parte
da proposição maior e vai para a menor linearmente. O pensamento de Reali é
hermenêutico, uma vez proposto o círculo na relação entre valor, fato e norma.
Ocorre que esse pensamento também não responde os anseios da
modernidade, uma vez que ele pensa os valores e os fatos sociais como
estáticos em uma sociedade de consenso, e isso é algo que a sociedade
moderna não é. A modernidade traz pluralidade e movimento.
Aula 11 (cancelada)
Aula 12 (10/10/2018)
Seminário sobre Machado Neto (Hermenêutica jurídica no egologismo de
A.L. Machado Neto)
• Teoria Egológica: a objetividade e racionalidade da decisão judicial dependem
da convergência de valores presentes em uma sociedade.
• A norma não é a coisa mesma do direito, não posso começar meu
conhecimento a partir da norma. O estudo do direito não pode começar pela
norma, mas pelo que está atrás da norma, que é a conduta humana interferência
subjetiva.
Aula 13 (22/10/2018)
Seminário sobre Hesse (Hermenêutica Constitucional)
• Lassale x Hesse – Constituição dos Fatores reais de poder e a Constituição
real que flutua no plano do dever ser e que deve estar ligado à norma.
• Hesse é um dos primeiros autores que se situam numa hermenêutica filosófica.
Métodos não controlam a minha interpretação, toda a interpretação esta
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2
método, e sim dizer como o sujeito com competência para interpretar o direito
(competência essa dada pelo próprio direito) interpreta e aplica esse direito. O
positivismo, portanto, não é hermenêutico, pois não tem circularidade.
• Com isso, estudamos duas teorias circulares: A Teoria Tridimensional do
Direito de Reali e a teoria de Carlos Cosso. Esses modelos não consideraram a
pluralidade da sociedade, uma sociedade onde os princípios plurais produzem
diferentes sentidos das respostas do Direito. Nesse sentido, começamos a
estudar Alexy, ele defende que nossas pré-compreensões não podem extrapolar
a normatividade da Constituição.
• Isso significa que uma teoria do direito precisa dizer como é a estrutura da
interpretação e fazer um controle dialógico discursivo.
• Hoje, estamos num patamar que vamos precisar não de uma teoria para
interpretação, mas uma teoria da argumentação (dialógicas)
Aula 19 (14/11/2018)
O desafio da sociedade plural
• O problema de hoje é que vivemos em uma sociedade da pluralidade marcada
pela complexidade, não sendo possível mais imperativos normativos no sentido
de “a sociedade deve ser de tal maneira”. Não há como eliminar a pluralidade.
• Diferentes vetores valorativos que circundam a sociedade e estão presentes.
Isso não significa que qualquer ideia seja sustentável, especialmente aquelas
que querem justamente negar a dimensão plural e se colocar como exclusiva. O
tema da intolerância não cabe numa perspectiva plural de sociedade.
• Não vivemos apenas um desafio da pluralidade, mas também da complexidade
e seus desdobramentos que a complexidade exigiu para o funcionamento da
sociedade.
• A sociedade complexidade vai se implicando nela mesma e exigindo
diferenciação funcional. Cria diferentes esferas de comunicação que ao se
diferenciarem cuidam apenas e tão somente dessa dimensão da complexidade:
cada indivíduo faz uma coisa.
• A tentativa de reduzir a complexidade, paradoxalmente, aumenta a
complexidade, porque quanto mais você se especializa em um assunto, mais
problemas você enxerga nele. Tome como exemplo a medicina, que cada vez
mais cria áreas de especialização (ortopedia – ortopedia com ênfase no
pé/joelho/etc). A consequência disso é que nós tendemos a ser muito bons
naquilo que a gente se especializa, mas começamos a ser muito ruins em outras
coisas, não enxergando aquilo que não somos especializados.
• Walber compara a sociedade a um software. O software é complexo, mas para
fazer coisas específicas (como escrever um texto, editar uma foto etc) você
precisa de um programa específico para isso (word, photoshop etc)
Hermenêutica Jurídica – Walber Lívia Andrade 2018.2