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ATIVIDADE:
Levando os pressupostos de uma crítica mais imanentista, faça uma leitura do texto
“Mãos dadas”, de Carlos Drummond de Andrade:
Iser concentrou seus estudos sobre o efeito estético que as obras causam nos leitores. O
leitor é aquele que compreende as lacunas, os efeitos subliminares do texto. Segundo
Terry Eagleton (2019, p. 119-120), “Para Iser, a obra literária mais eficiente é aquela
que força o leitor a uma nova consciência crítica de seus códigos e expectativa
habituais. A obra interroga e transforma as crenças implícitas com as quais a
abordamos, ‘desconfirma’ nossos hábitos rotineiros de percepção e com isso nos força a
reconhece-los, pela primeira vez, como realmente são. Em lugar de simplesmente
reforçar as percepções que temos, a obra literária, quando valiosa, violenta ou transgride
esses modos normativos de ver e com isso nos ensina novos códigos de entendimento.”
A função da leitura seria, assim, a de nos despertar para uma consciência mais profunda,
inclusive de nossas próprias identidades. Para isso, o leitor precisa estar aberto às
transformações impostas pelas obras. Importante dizer que “um leitor com fortes
compromissos ideológicos provavelmente será um leitor inadequado, já que tem menos
probabilidades de estar aberto aos poderes transformativos das obras literárias.” (id., p.
120).
Barthes, nesse sentido, compreende a relação entre o leitor e a obra de forma erótica.
Vejamos algumas passagens de O prazer do texto:
“Escrever no prazer me assegura – a mim, escritor – o prazer de meu leitor? De modo
algum. Esse leitor, é mister que eu o procure [...]. Um espaço de fruição fica então
criado. Não é a ‘pessoa’ do outro que me é necessária, é o espaço: a possibilidade de
uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam
lançados, que haja um jogo.” (p. 9).
“A escritura é isso: a ciência das fruições da linguagem, seu kama-sutra.” (p. 11).
“[...] o interstício da fruição, produz-se no volume das linguagens, na enunciação, não
na sequência dos enunciados: não devorar, não engolir, mas pastar, aparar com minúcia,
redescobrir, para ler esses autores de hoje [...].” (p. 19).
“Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura,
não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura. Texto de fruição:
aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo enfado),
faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus
gostos, de seus valores e de suas lembranças com a linguagem.” (p. 20-21). Texto:
“fogos da linguagem” (p. 24).
“O texto tem uma forma humana, é uma figura, um anagrama do corpo? Sim, mas de
nosso corpo erótico. O prazer do texto seria irredutível a seu funcionamento gramatical
[...], como o prazer do corpo é irredutível à necessidade fisiológica.” (24).
“[...] observo clandestinamente o prazer do outro, entro na perversão; [...] Perversidade
do escritor (seu prazer de escrever naõ tem função), dupla e tripla perversidade do
crítico e do seu leitor, até ao infinito.” (p. 25).
“[...] o prazer é dizível, a fruição não o é.” (p. 28).
“O texto é um objeto de fetiche e esse fetiche me deseja. O texto me escolheu [...].” (p.
35).
“Como instituição, o autor está morto: sua pessoa civil, passional, biográfica,
desapareceu [...]: mas no texto, de uma certa maneira, eu desejo o autor: tenho
necessidade de sua figura [...].” (p. 35).
ATIVIDADE:
Leia o poema abaixo, de Antero de Quental, e faça uma análise comparativa com o
texto de Drummond, lido anteriormente:
A UM POETA
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
REFERÊNCIAS:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. São Paulo: Record, 2010.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo:
Martins Fontes, 2019.
ELIOT, T. S. O uso da poesia e o uso da crítica. Trad. Cecília Prada. São Paulo: É Realizações,
2015.
JAUSS, Hans Robert. O prazer estético e as experiências fundamentais da Poiesis, Aisthesis e
Katharsis. In: A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Trad. Luiz Costa Lima. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
MOISÉS, Massaud. A Crítica Literária. In: A criação literária – Prosa II. São Paulo: Cultrix,
1994. p. 169-244.
NITRINI, Sandra. Literatura Comparada: História, Teoria e Crítica. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2015.
NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. São Paulo: Ática, 1999.