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Anotações cap 9- hermenêutica em crise

-tópico 9.1
- “a passagem da filosofia da consciência para a filosofia da linguagem, segundo
Habermas traz vantagens objetivas, além de metódicas, uma vez que ela nos tira do
círculo aporético no qual o pensamento metafísico se choca com o antimetafísico, isto é,
onde o idealismo é contraposto ao materialismo, oferecendo ainda a possibilidade de
atacar um problema insolúvel em termos metafísicos que é a individualidade.”(p. 171
confirmar)
- Habermas critica a filosofia da consciência sobre a questão da incondicionalidade e
originalidade do fenômeno da autoconsciência, inclusive o naturalismo duvida disso,
sendo preciso dialogar Kant e Darwin para a concretização desse pressuposto.
- “A nova compreensão da linguagem, cunhada, transcendentalmente, obtém relevância
paradigmática graças, principalmente às vantagens metódicas que exibe, face a uma
filosofia do sujeito, o acesso às realidades da consciência é inevitavelmente
introspectivo.” (p.171) ( linguagem não se distancia do universo dos pensamentos, ela
converge e se congrega em comunhão com consciência, rompendo, assim, com visão
tradicional, que assegura a linguagem como algo pertinente a nomeação de objetos e
meio de comunicação, desprovido de relação com a consciência humana)
-“Observe-se que, embora correto o diagnóstico feito por Habermas, ele não supera, no
sentido filosófico da palavra, a filosofia da consciência (ou a sua vulgata voluntarista,
própria de setores da filosofia do direito). E por que ele não supera? Porque ele – e uso
as suas palavras – substitui a razão prática, eivada de solipsismo, por uma estrutura, a
razão comunicativa.”(p.172) ( entendimento, de que o pensamento onde existia somente
o eu e as sensações, sem reconhecimento de existência própria de outros seres, se
modifica, percebendo outros entes)
- A invasão da filosofia pela linguagem com os diversos nomes a que ela se dê, ocorreu
sob três frentes:
^ neopositivismo ou empirismo lógico (buscam construir linguagens ideais): “Os
positivistas lógicos sustentavam a ideia de que o conhecimento pode ser obscurecido
por certas perplexidades de natureza estritamente linguística. Desse modo, reduzindo a
filosofia à epistemologia, e esta à semiótica, afirmam que a missão mais importante da
filosofia deve realizar-se à margem das especulações metafísicas, numa busca de
questionamentos estritamente linguísticos.” (p. 172) ( ou seja, a linguagem e ciência
estão em sintonia para transmitir determinados dados ao mundo, sem linguagem
rigorosa que se diverge da linguagem natural, não há ciência)
- Prosseguindo: linguagem é objeto da semiótica( ver contexto da sintaxe, que expressa
a relação entre signos, a semântica, que trata da relação entre usuário e objeto, e
pragmática, da relação do signo com usuário). “do ponto de vista jurídico, uma
expressão está sintaticamente bem formada quando o enunciado acerca de uma ação
encontra-se deonticamente modalizado. Já a maneira pela qual as palavras se aplicam
aos objetos é estudado pela semântica. Sua preocupação é, pois, com a verdade dos
enunciados. A verdade opera, assim, como condição de sentido, sendo que um
enunciado não será semanticamente significativo se não for empiricamente verificável.”
(p. 172) – na semântica, enunciado precisa convergir com plano factual. “A pragmática,
terceira parte da semiótica, trata dos modos de significar, dos usos e das funções da
linguagem. Parte-se da ideia de que fatores intencionais dos usuários provocam
alterações na relação designativo-denotativa dos significados das palavras ou
expressões.” (p. 173) ou seja, a pragmática trata de como as influências dentro de um
contexto comunicacional afetam na estrutura conceitual./ ideologias exercidas. Não
pode ser usada para estudo concreto, já que não se manifesta de maneira “imparcial”.
- no âmbito do direito, a análise semântica encontra-se enraizada tanto no normativismo
kelseniano como no realismo de Alf Ross. Hans Kelsen promoveu uma espécie de
superação de um positivismo exegético/ primitivo que se sustentava no nível da sintaxe.
Sendo assim, para ele, os enunciados jurídicos teriam um sentido semântico sujeitos à
condição de verdade na medida em que afirmam a validade de uma norma. “O
conteúdo das normas cumpre funções sociais que em nada se referem às ideias
platônicas acerca dos conteúdos significativos que possam ser vistos como elementos
provenientes da natureza.” (p.173)
- Alf Ross e ideia de “common law” com interesse na vigência, normas vistas em
tribunais. positivismo fático/ normas carecem de significação, sentenças substituem
normas por terem correspondência fática.
-“Deste ponto de vista, acrescenta Severo Rocha, estas concepções epistemológicas
próprias do neopositivismo lógico, identificando a ciência com a linguagem, a partir de
uma atitude reducionista que pensa a linguagem como uma estrutura textual
autossuficiente, descobrindo a significação no interior do próprio sistema por ela criado,
esquecem as outras cenas de produção da significação.” (p.173) pode-se dizer que
diante disso, o neopositivismo “enganou” as ciências humanas.
-“ b) A segunda frente em que se operou o giro linguístico foi a filosofia de
Wittgenstein, naquilo que se pode denominar de “segunda fase”, a partir da obra
Investigações Filosóficas, que se constitui em uma ruptura com as concepções do
Tratactus, que os neopositivistas haviam eleito como suporte de sua teoria.” (p. 174)
“A essência da linguagem depende, desse modo, da estrutura ontológica do real, isto é,
Wittgenstein parte da crença de que existe um mundo em si que nos é dado
independentemente da linguagem, mas que a linguagem tem a função de exprimir.”(p.
174)
Isso quer dizer que, em sua primeira fase (Tratactus), Wittgenstein trabalha com uma
concepção instrumentalista-designativa-objetivista da linguagem, deixando-se guiar
pelo ideal de uma linguagem perfeita, capaz de reproduzir com absoluta exatidão a
estrutura ontológica do mundo;
Mudança de perspectiva desse autor: Parte da ideia de que não existe um mundo em si,
que independa da linguagem; somente temos o mundo na linguagem. As coisas e as
entidades se manifestam em seu ser precisamente na linguagem, posição que também o
aproxima muito de Heidegger. A linguagem deixa de ser um instrumento de
comunicação do conhecimento e passa a ser condição de possibilidade para a própria
constituição do conhecimento.
“Cai por terra, assim, a teoria objetivista (instrumentalista, designativa). Não há
essências. Não há relação entre os nomes e as coisas. Não há qualquer essência comum
entre as coisas no mundo. Abandona-se o ideal da exatidão da linguagem, porque a
linguagem é indeterminada. O ideal da exatidão é um mito filosófico.” (p. 174- 175)
linguagem é imprecisa, porque dialoga com contexto socioprático, o filósofo abandona
a ideia de linguagem exata, isso seria uma ilusão.
-“Por isto, diz que uma das fontes de erro na filosofia consiste, precisamente, em isolar
expressões do contexto em que emergem, o que significa não compreender toda a
dimensão da gramática da linguagem.” (p.175)
-terceira frente: A terceira frente ocorreu com o desenvolvimento da filosofia da
linguagem ordinária. “Leva-se em consideração a dimensão pragmática do discurso
ligado a ações coletivas, intersubjetivas, mesclando atos de linguagem e práticas
(ações).” (p. 176) De frisar, por relevante, e ainda com Manfredo, que a intenção de
Austin, em sua análise da linguagem, é estabelecer o terreno em que a filosofia se
articula e, assim, configurar o procedimento que lhe é próprio. Nesse sentido, a tese de
Austin é semelhante à de Wittgenstein das Investigações, é dizer, a linguagem é
essencialmente ação social, sendo a linguagem o horizonte a partir de onde os
indivíduos exprimem a realidade. Frisa o lado da pragmática

“A filosofia da linguagem ordinária tenta compreender a linguagem a partir do contexto


sócio-histórico, que gera os pressupostos possibilitadores dos atos de fala. Nesse
sentido, embora pesquisando numa outra perspectiva, aduz o filósofo cearense, ela se
aproxima da hermenêutica na medida em que ambas explicitam o contexto
intersubjetivo que gera o sentido.” (p. 177)

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