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A LINGUAGEM NO TRACTATUS DE WITTGENSTEIN.

Bruno Senoski do Prado (PIBIC), Marciano Adilio Spica (Orientador), e-mail:


marciano.spica@gmail.com

Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências Humanas, Letras


e Artes, Departamento de Filosofia, Guarapuava/ Paraná.

Palavras-chave: filosofia, lógica, nome, proposição, sentido.

Resumo:

O presente trabalho tem por objetivo compreender o conceito de linguagem


na primeira de Ludwig Wittgenstein, o Tractatus Logico Philosophicus.
Através da compreensão de tal conceito é possível compreender de que
forma ela se ordena logicamente e perceber quais são seus limites; por
consequência, não ultrapassa-los para não correr o risco de dizer coisas
sem sentido criar problemas problemas que não existem.

Introdução

A questão da linguagem tem sido tema de algumas observações


durante boa parte da história da filosofia. No entanto, o que se tinha
anteriormente ao final do século XIX e início do XX eram apenas algumas
observações acerca desse tema; uma filosofia da linguagem propriamente
dita surgiu apenas na época citada acima com as discussões iniciadas por
Moore, Frege, Russell e Wittgenstein, sendo esse último um dos mais
importantes no que tange as reflexões sobre a linguagem e o alvo do
presente trabalho.
Em sua primeira obra, o Tractatus Logico-Philosophicus, Ludwig
Wittgenstein, faz uma crítica da linguagem ao analisá-la logicamente e, já no
prefácio, deixa claro seu objetivo. Segundo ele, o livro não trata de alguns
problemas ou teorias filosóficas, mas sim dos pseudoproblemas filosóficos,
mostrando que a formulação deles reside no mau-entendimento da lógica da
linguagem.

O livro trata dos problemas filosóficos e mostra – creio eu –


que a formulação desses problemas repousa sobre o mau
entendimento da lógica de nossa linguagem. (TLP, p.131)

A obra em questão, por meio de uma análise da linguagem, busca


dissolver os problemas filosóficos através deles mesmos. Nela, as reflexões
de Wittgenstein se orientam através da lógica. O objetivo principal do
Tractatus é traçar um limite para a linguagem com sentido, um limite para o

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que pode ou não pode ser dito. Tal limite só pode ser traçado dentro da
lógica, pois nossa linguagem é ordenada logicamente.
Segundo Wittgenstein, “a totalidade das proposições é a linguagem”
(TLP 4.001). Para uma análise acerca de um problema é necessário um
ponto de partida. Na crítica wittgensteiniana da linguagem, o ponto inicial de
discussão é a proposição. Na filosofia tractatiana, a proposição é entendida
como portadora última de sentido, a única forma de expressar um
pensamento de forma lingüística com sentido.
A análise da proposição torna possível a reflexão sobre os
fundamentos últimos e transcendentais da linguagem – entenda-se o termo
“transcendental” em um sentido kantiano.
Wittgenstein coloca-se, dessa forma, em uma filosofia crítica, assim
como Kant, dando a ela uma nova tarefa. “Toda filosofia é crítica da
linguagem” (TLP 4.0031). Através dessa visão acontece o que se chamou
“virada lingüística”. Segundo Peter Hacker, um estudioso de Wittgenstein,
em seu artigo Wittgenstein and the autonomy of humanistic understanding:

Primeiro, ele estava preocupado, na primeira e segunda


filosofia, com a elucidação dos limites da linguagem.
Enquanto Kant entende por “Kritik” o delineamento dos
limites de uma faculdade, Wittgenstein dá a virada lingüística
na forma da filosofia crítica. Enquanto Kant explora os limites
da razão pura, Wittgenstein investiga os limites da
linguagem. (HACKER, 2001. p. 34)

O conceito de proposição do TLP deve ser entendido como uma


sentença que expressa um pensamento e, portanto, não como um simples
conjunto de palavras desordenadas. A proposição não deve ser entendida
apenas como uma frase dita ou escrita, mas aquilo que o sinal proposicional
representa. A proposição, antes de tudo, precisa ter valor de verdade e seu
sentido é independente do seu valor de verdade. Ela é bipolar, ou seja, tem
a possibilidade de ser verdadeira ou falsa. O que dá o caráter da proposição
de ter ou não sentido é ser possível.
As proposições, que em sua totalidade formam a linguagem, são
constituídas por proposições elementares, estas por sua vez sendo os
últimos constituintes da linguagem que podem ser analisados. As
proposições elementares se constituem pelo encadeamento, pela vinculação
de nomes. Como o autor afirma: “A proposição elementar consiste em
nomes. É uma vinculação, um encadeamento de nomes.” (TLP 4.22).
Começamos assim, então, a perceber a lógica da linguagem que a
compreensão, Wittgenstein afirma, é imprescindível para não cometermos o
erro de dizer algo sem sentido e criar o que ele chamou de
“pseudoproblemas”.
Na análise da linguagem feita por Wittgenstein, o nome é o
constituinte último da linguagem, por isso não pode ser analisado. A
linguagem se forma, segundo o autor do Tractatus, da totalidade das
proposições, por sua vez formada pela união de proposições elementares

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que consistem na união de nomes. Os nomes, portanto são os últimos
constituintes e não podem ser mais analisados ou desmembrados em
outros. Entenda-se, porém, que os nomes não se ligam de forma aleatória,
mas de forma a respeitar as leis lógicas, pois não é possível representar
linguisticamente com sentido algo que contrarie as leis lógicas.

Representar na linguagem algo que “contradiga as leis


lógicas” é tão pouco possível quanto representar na
geometria, por meio de suas coordenadas, uma figura que
contradiga as leis do espaço; ou dar coordenadas de um
ponto que não exista. (TLP 3.032)

Sendo assim, a análise da lógica da linguagem feita por Wittgenstein,


estabelece como a linguagem é logicamente formada, analisando e
desmembrando seus constituintes; dessa forma, para que tal análise não
tenha um regresso ad infinitum, ela precisa ter um fim, que é o nome.
Observamos assim, portanto, que a linguagem possui uma lógica estrutural
e tudo que contradiga essa lógica não pode ser expresso linguisticamente
com sentido.

Metodologia

A metodologia utilizada, basicamente, para a realização da presente


pesquisa consistiu na leitura e fichamento dos textos selecionados. Após
uma leitura atenta e reflexão passou-se ao fichamento de tais textos e à
discussões com o professor-orientador, que resultaram na produção de
textos acerca do tema pesquisado.

Resultados e Discussão

A pesquisa buscou compreender o conceito de linguagem contido no


Tractatus Logico-Philosophicus, a primeira obra do filósofo austríaco Ludwig
Wittgenstein. Através da compreensão de tal conceito, pudemos observar
quais são os limites da linguagem e de que forma mundo e linguagem se
correspondem. Os resultados alcançados com a presente pesquisa foram
disseminados em eventos específicos da área como, por exemplo,
simpósios, colóquios e congressos – inclusive em um congresso
internacional – e publicados, através de resumos, em anais desses eventos.
A pesquisa, no entanto, não pode ser considerada finalizada, pois
levantou outra problemática: a de como é possível resolver o problema de
linguagens não proposicionais. Tal problema será tema de um projeto de
mestrado.

Conclusões
Ao final desta pesquisa mostra-se que, para Wittgenstein no
Tractatus, a linguagem possui limites que precisam ser respeitados. Caso
ultrapassemos tais limites criamos pseudoproblemas e corremos o risco de

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dizer algo sem sentido. Considerando o fato de que a linguagem em questão
é uma linguagem proposicional e tomando a proposição como ponto de
partida para análise, percebemos que os limites da linguagem com sentido
são os limites daquilo que é passível de verdade ou falsidade. Tautologias –
sempre verdadeiras – e contradições – sempre falsas – são os limites
lógicos da linguagem, pois não são bipolares. A totalidade das proposições,
que são bipolares, constitui a linguagem com sentido e tudo que não possa
ser passível de verdade ou falsidade, como juízos éticos, religiosos ou
estéticos, constitui o campo do sem sentido.
.
Agradecimentos
Agradeço, primeiramente, ao meu orientador, prof. Dr. Marciano Adilio Spica,
pela disposição e paciência em me orientar na presente investigação,
esclarecendo-me dúvidas, apontando erros e auxiliando na correção de tais
erros. Em segundo lugar, aos professores do Departamento de Filosofia
(DEFIL) que, de maneira direta ou indireta, contribuíram para o
desenvolvimento do presente trabalho.

Referências
DIAMOND, Cora. The Realistic Spirit: Wittgenstein, Philosophy and the mind.
Cambridge, 1991.
DALL’AGNOL, Darlei (Org.). Wittgenstein no Brasil. Escuta; São Paulo,
2008.
FREGE, Gottlob. Sobre o sentido e a referência. In Lógica e Filosofia da
Linguagem. EDUSP; São Paulo, 2009.
GLOCK, Hans-Johann. Dicionário Wittgenstein. Zahar; Rio de Janeiro, 1996.
HACKER, Peter. M.S. Wittgesntein and the autonomy of humanistic
understanding. In.: HACKER, Peter M.S. Wittgenstein: Conections and
Controversies. Oxford: Clarendon Press, 2001. Pp34-73. P 34-35.
HACKER, Peter. M.S.. Insight and Illusion: Wittgenstein on Philosophy and
the Metaphysics of Experience. Clarendon Press; Oxford, 1972.
HINTIKKA, Jaakko. HINTIKKA, Merrill B. Uma investigação sobre
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MACHADO, Alexandre Noronha. A terapia metafísica do Tractatus. Cadernos
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MACHADO, Alexandre Noronha. Lógica e forma de vida: Wittgesntein e a
natureza da necessidade lógica e da filosofia. Unisinos/ANPOF; São
Leopoldo, 2007.
PINTO, Paulo Roberto Margutti. Iniciação ao silêncio. Edições Loyola; São
Paulo, 1998
RUSSELL, Bertrand. Da Denotação. In.: RUSSELL, Bertrand. Lógica e
Conhecimento: Ensaios escolhidos. (Os pensadores). Nova Cultural; São
Paulo,1989.
SPICA, Marciano A. A religião para além do silêncio: Reflexões a partir dos
escritos de Wittgenstein sobre religião. Editora CRV; Curitiba, 2011.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus-Logico-Philisophicus. EDUSP; São
Paulo, 2010.

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