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Descrição
Propósito
Preparação
Objetivos
Módulo 1
Módulo 2
Módulo 3
As condições de produção do
discurso
Reconhecer as condições de produção do discurso.
meeting_room
Introdução
Vamos estudar a origem da Análise do Discurso (AD), no
contexto social e político efervescente da França do final dos
anos 1960. Vamos conhecer a evolução da teoria do discurso em
suas três fases e apresentar algumas perspectivas atuais em
Análise do Discurso.
Também aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a
concepção teórica da Análise do Discurso, abordando três de
seus conceitos basilares: a formação discursiva, o interdiscurso e
a ideologia.
A origem da Análise do
Discurso
A Análise do Discurso: conjuntura
histórica e teórica
No final dos anos 1960, a Linguística encontrava-se em plena expansão,
fruto de uma tradição de mais de 40 anos em torno da língua (langue),
definida por Ferdinand de Saussure como um sistema de signos
socialmente compartilhado e essencialmente explicado a partir de uma
visão interna e sem relação com seus usos reais nos variados contextos
de fala.
A contribuição da Sociolinguística,
nesse sentido, é a de que se deve
observar o uso atual da linguagem; e
a da Pragmática é a de que a
linguagem em uso deve ser
estudada em termos dos atos de
fala. Embora essas questões
indiquem uma certa mudança em
relação à dominância dos estudos
da gramática, não produzem um
rompimento maior, mas apenas o de
se acrescentar um outro
componente à gramática. O
discurso caracteriza-se como o que
vem a mais, o que vem depois, o que
se acrescenta. Em suma, o
secundário, o contingente.
Primeira fase
A primeira fase da Análise do Discurso estende-se de 1969 a 1975. Em
1969, é publicada a obra fundadora da AD: Análise automática do
discurso (GADET; HAK, 2014).
Segunda fase
A segunda fase da Análise do Discurso estende-se de 1975 a 1981. Em
1975, é publicada a obra Semântica e discurso: uma crítica à afirmação
do óbvio.
Terceira fase
A terceira fase da Análise do Discurso tem início em 1980, ano em que
acontece o colóquio Materialidades discursivas, na Universidade de
Nanterre, na França.
Reflexão
Questionava-se, por exemplo, se não haveria uma relação intrínseca
entre a Análise do Discurso e seu objeto, especialmente uma relação
política, o que colocaria em jogo o caráter científico da proposta.
Perspectivas da Análise do
Discurso
Nos anos 1980, a Análise do Discurso deixa de ser uma teoria marginal
e começa a se expandir para além do círculo restrito de Pêcheux e seus
colaboradores.
Comentário
A autora se refere à postura adotada por todo analista do discurso de
não restringir a análise dos textos apenas ao contexto imediato de sua
produção; mas, antes disso, ou para além disso, o analista deve levar em
conta as condições históricas e ideológicas de produção do discurso.
Comentário
Como é possível observar, a Análise do Discurso continua sendo uma
disciplina resistente a uma definição única e unânime, tendo em vista a
própria história de sua constituição, atrelada a uma conjuntura política, e
sua vocação para ser uma ciência das ideologias.
Análise de Discurso
AD
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A Análise do Discurso
Assista agora a um vídeo em que se apresenta o contexto histórico do
surgimento da Análise do Discurso, destacando as características de
suas três fases, bem como as perspectivas desse campo dos estudos
linguísticos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Questão 2
Formação discursiva
Para construir o edifício teórico da Análise do Discurso, Michel Pêcheux
e seus colaboradores desenvolveram um aparelho conceitual em torno
do discurso, no qual encontramos os seguintes conceitos:
Formação discursiva
Interdiscurso
Ideologia
(BARONAS, 2011, p. 1)
groups
A formação social
psychology
A formação ideológica
Partindo da tese de que “as palavras, expressões, proposições, etc.,
mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que
as empregam [...]” (PÊCHEUX, 1988, p. 160), Pêcheux formula o conceito
de formação discursiva, na obra Semântica e discurso: uma crítica à
afirmação do óbvio, e que transcrevemos a seguir:
Além disso, a formação discursiva indica que o sujeito não é livre para
dizer, pois, ocupando uma dada posição naquela formação ideológica,
vê-se impelido a dizer apenas “o que pode e deve ser dito”, sob a forma
de um gênero discursivo, que também vem a ser uma unidade
linguística, mas de grau superior à palavra.
Formação discursiva na
análise de vídeo de
campanha política
O conceito de formação discursiva é particularmente produtivo para
analisar discursos polêmicos, como os discursos político e religioso.
Para Maingueneau (2001, p. 243), apesar de o conceito ter-se
enfraquecido, por se prestar à análise de textos doutrinários, ele
continua atual para analisar posicionamentos de ordem ideológica. É o
que podemos compreender na análise do texto a seguir, pertencente ao
discurso político.
a data (2022).
FD DIREITA FD ESQUERDA
abandona acolhe
debocha ampara
ódio amor
Comentário
É nesse sentido que, para a Análise do Discurso, as palavras não são
neutras e tampouco refletem o ato individual de criação dos falantes. De
modo contrário, as palavras significam antes, na história, e recebem
seus sentidos da formação ideológica em que o sujeito está inscrito.
Essa análise discursiva, baseada no embate de duas formações
discursivas, coloca em evidência outro conceito fundamental na Análise
do Discurso: o interdiscurso. Isso porque, ao construir seu discurso, a
posição-sujeito Lula convoca o discurso do outro, isto é, da direita, pela
imagem ou representação que faz desse outro: abandono, deboche,
morte, guerra, ódio.
Interdiscurso
Notemos, ainda, que o outro discurso ressurge sob uma forma diferente
da que fora originalmente enunciada. Assim, no lugar de crânios, o autor
da peça publicitária escolheu representar corações, o que acrescenta
um valor emotivo à campanha, como é próprio da publicidade, ou seja,
um discurso de alto poder simbólico e ideológico.
Interdiscurso e intertexto
Além de sua forma implícita, como no anúncio da Benetton, o
interdiscurso também pode se manifestar de modo explícito. Isso ocorre
nos textos em que a alteridade é dada a reconhecer ao receptor. Assim,
nos casos em que o outro discurso é dado a ver e a interpretar, tem-se o
intertexto, ou seja, a relação mais ou menos explícita que um texto
entretém com outro.
Ideologia
O conceito de ideologia foi apropriado pela Análise do Discurso para
fortalecer as bases teóricas dessa disciplina, juntamente com os
conceitos de língua e sujeito. Mas em que medida a ideologia faz parte
do tripé que sustenta a teoria do discurso?
Comentário
A hipótese desses pesquisadores é a de que algumas ciências “sob
acobertamento do sujeito psicológico, ignoram, ou não querem saber, de
sua relação com a política, que ainda por cima se paramentam com os
atributos da cientificidade emprestando seus métodos da estática e da
linguística”, como também explica Maldidier (2003, p. 20).
Comentário
Na contemporaneidade, a Análise do Discurso se debruça tanto sobre
discursos doutrinários quanto sobre discursos menos regulados, a
exemplo das manifestações de rua, os comentários nas redes sociais,
os memes, a publicidade.
Resumindo
Como podemos observar, essa leitura só é possível porque há uma
memória histórica e discursiva sobre o lugar da mulher, ou ainda, uma
ideologia dominante que informa sobre esse lugar histórico. Com essas
reflexões, encerramos o módulo sobre os três conceitos basilares da
Análise do Discurso.
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Formação discursiva,
interdiscurso e ideologia
Assista agora a um vídeo em que se aborda o desenvolvimento dos
conceitos de formação discursiva, interdiscurso e ideologia no campo
da Análise do Discurso, exemplificando com alguns gêneros discursivos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
A I apenas.
B II e III.
C I e II.
D III e IV.
E todos os itens.
Questão 2
D
não é um sistema de representações sociais que
reproduz o funcionamento da sociedade de classes.
A produção do discurso
Diferentemente da Sociolinguística e da Pragmática, a Análise do
Discurso não restringe a análise linguística/textual à situação imediata
da fala. Ela vai além, ao considerar que as condições de produção do
discurso estão relacionadas às instâncias sociais que produzem
linguagem, sendo essa relação histórica e ideológica.
Isso explica por que Pêcheux considera que “é impossível [...] analisar
um discurso como um texto [...] é necessário referi-lo ao conjunto de
discursos possíveis, a partir de um estado definido das condições de
produção” (MALDIDIER, 2003, p. 23).
O texto
Corresponde ao eixo horizontal, da ordem do dito. O eixo horizontal
corresponde, segundo Orlandi (2015, p. 31), “à formulação, isto é, aquilo
que estamos dizendo naquele momento dado, em condições dadas”.
O discurso
Pertence ao eixo vertical, atravessando o texto, sendo da ordem do não
dito. O eixo vertical corresponde “aos dizeres já ditos — e esquecidos —
em uma estratificação de enunciados que, em seu conjunto, representa
o dizível” (ORLANDI, 2015, p. 30).
Observemos de que modo esse texto significa com relação ao que ele
efetivamente “diz”, ou seja, em relação ao eixo horizontal da leitura.
Comentário
Essa interpretação é possível porque o efeito cômico advém de uma
informação implícita. Para acessar esse implícito, o leitor precisará
realizar uma inferência, ou seja, precisará fazer um esforço de raciocínio
para depreender da fala da mãe a contradição que vem a ser o objeto do
riso.
Ao afirmar que o sujeito não está na fonte do sentido, e que esta é uma
condição necessária para que haja sujeitos e sentidos, a autora está se
referindo ao caráter determinante do não dito sobre o efeito de sentido
dos discursos.
Tanto é que, antes de dizer que “é pecado”, ela afirma: “Não fale
assim...”. Esse sintagma está no modo imperativo, soando como uma
repreensão, ou melhor dizendo, uma censura ao questionamento do
filho. Em sua posição-sujeito, a mãe dita, portanto, o que o sujeito pode
e deve dizer, demostrando que a língua sofre interditos.
Essa análise que fizemos revela que o sentido dos textos, na perspectiva
do discurso, não é transparente, tampouco evidente. Por isso, dizemos
que analisar um discurso é realizar um gesto interpretativo, adotar uma
postura que consiste em ver além da materialidade significante. Analisar
um discurso significa relacionar a língua a suas condições históricas e
ideológicas de produção. Somente desse modo é possível acessar os
efeitos de sentido de um texto.
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As condições de produção do
discurso
Assista agora a um vídeo em que se apresentam as condições de
produção do discurso, destacando a relação intrínseca que todo
discurso, sob a forma material de textos, institui com a história, o sujeito
e a ideologia.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Questão 2
A I, II e III.
B I e III.
C I apenas.
D III apenas.
E II e III.
Considerações finais
Aprendemos que a Análise do Discurso conheceu diferentes fases, em
que o conceito de discurso foi aos poucos reformulado, com o auxílio de
outros, como interdiscurso, formação discursiva, memória discursiva,
contribuindo para edificar a teoria. A partir de sua última fase, no início
dos anos 1980, a Análise do Discurso reavaliaria alguns de seus
conceitos e, sobretudo, seus métodos, passando a integrar as
problemáticas típicas das abordagens pragmáticas, como a enunciação.
Essa abertura promoveu o contato da teoria com outras perspectivas
científicas e filosóficas.
headset
Podcast
Ouça agora um podcast que apresenta a origem, o desenvolvimento e
os principais conceitos da Análise do Discurso de linha francesa,
destacando o conceito de discurso, interdiscurso, ideologia e produção
discursiva.
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Referências
ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Trad.
Joaquim José de Moura Ramos. Lisboa: Editorial Presença, 1980.
GADET, F.; HAK, T. (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma
introdução à obra de Michel Pêcheux. 5. ed. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 2014.
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