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AVANÇADA
Introdução
Para compreender a análise do discurso, é preciso perceber os dife-
rentes momentos pelos quais a disciplina passou desde sua fundação.
A análise do discurso, também chamada AD, é uma disciplina de
interpretação que nasce do entrelaçamento de três teorias: a linguís-
tica, conforme proposta por Ferdinand de Saussure; o materialismo
histórico, baseado em Louis Althusser; e a psicanálise, segundo a
visão de Jacques Lacan.
Neste texto, você vai conhecer melhor as principais fases da análise
do discurso, bem como a caracterização da disciplina no Brasil.
Para compreender melhor como essa reflexão crítica de Saussure se deu na teoria
de Pêcheux, leia:
OLIVEIRA, P. D. Michel Pêcheux como leitor de Saussure. Estudos linguísticos, São Paulo,
v. 40, n. 3, p. 1541-1550, set.-dez. 2011.
Na chamada primeira fase da AD, o autor propõe que um discurso deve ser
sempre pensado a partir de suas relações com as condições que o produziram.
Para ele, o discurso não é transmissão de informação, conforme o que
propunha Roman Jakobson na época, mas sim um efeito de sentidos entre os
pontos A e B. Esses pontos seriam algo diferente da presença física, empí-
rica do indivíduo, seriam lugares sociais determinados na estrutura de uma
formação social.
Roman Jakobson propôs um esquema informacional, no qual o processo de
comunicação funcionaria como o envio de uma mensagem de um destinador
a um destinatário, ou de um emissor a um receptor, conformo apresentado
na Figura 2.
Reconfiguração da teoria
Uma reconfiguração da AD começa em 1975, quando Michel Pêcheux e
Fuchs apresentam o quadro epistemológico que revisa a Análise Automática
do Discurso (a partir de agora, AAD).
A partir dessa reconfiguração, passa-se a falar em três épocas da AD,
como você vai ver a seguir.
Pêcheux nunca deixou de reformular sua teoria, de repensar as noções teóricas que
a compunham. Observe (PÊCHEUX, 1997, p. 163):
“Parece-nos que as observações, interpretações, críticas ou mesmo deformações
que suscitaram nestes dois níveis precisam de reformulação de conjunto, visando a
eliminar certas ambiguidades, retificar certos erros, constatar certas dificuldades não
resolvidas e, ao mesmo tempo, indicar as bases para uma nova formulação da questão,
à luz dos desenvolvimentos mais recentes, frequentemente não publicados, da reflexão
sobre a relação entre a linguística e a teoria do discurso.”
A diferença das teorias de Pêcheux e Foucault é que, se para Foucault (1999) a formação
discursiva está ligada à definição de uma regularidade nos discursos, para Pêcheux
(1997) as formações discursivas são determinantes dos sentidos, pois determinam o
que pode e deve ser dito, segundo a posição ideológica dos sujeitos da enunciação.
Você pode perceber aqui que, se o sentido é determinado pela ideologia, ele
não está colado nas frases, palavras e expressões. Ele é, portanto, direcionado
conforme a identificação dos sujeitos com determinada formação discursiva. Por
esse motivo, em AD, dizemos que os sentidos estão potencialmente à deriva, não
são únicos e literais, pois possuem direcionamentos pelas formações discursivas.
Sentido e sujeito sempre caminham juntos!
É nessa fase também que a noção de interdiscurso é introduzida na teoria.
Pêcheux define a noção de interdiscurso como um conjunto de já ditos que
sustenta todo dizer.
Eni Orlandi aponta para uma vertente empiricista da AD, que seria a análise do discurso
americana, a qual pensaria o sujeito dotado de intenções, ou um “sujeito intencional”,
e com a qual precisa romper a AD brasileira, cujo sujeito é visto como afetado pelo
inconsciente e constituído pela ideologia na sua relação com discurso.
Leituras recomendadas
BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 2004.
FONSECA, R. O. Uma proposta de ensino de análise do discurso. In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL DE TEXTO, ENUNCIAÇÃO E DISCURSO, 2010, Porto Alegre. Anais...
Porto Alegre: PUCRS, 2010.
ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2012.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4. ed. Campinas:
UNICAMP, 2009.
PIOVEZANI, C.; SARGENTINI, V. Legados de Michel Pêcheux: inéditos em análise do
discurso. São Paulo: Contexto, 2011.