Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Abstract
Este artigo procura refletir sobre como a teoria da análise de discurso (AD) dá
abertura para identificar e compreender discurso de exclusão dentro do ambiente escolar.
Será que a exclusão escolar é dirigida somente ao sujeito que não pôde acessar
o espaço físico escolar? Que não teve o privilégio de participar do processo de ensino
escolar? Se, por acaso, a escola, em sua supremacia ideológica, criar mecanismos de
discriminação e violência simbólica contra alunos que não se encaixam no perfil almejado
por ela, não poderia isso se configurar, também, como modo de exclusão?
Tal questionamento teve como resultado a elaboração deste trabalho que
propôs, como fundamento, discutir sobre a pertinência da AD para se compreender os
sentidos de exclusão que se dão pela linguagem discursiva dentro do ambiente escolar,
tendo como problematização a dificuldade de identificação desse tipo de discurso, visto que
sua veiculação é realizada através de ditos e não ditos dissimulados por um contexto que o
normaliza e o reproduz, sendo, portanto, necessário uma teoria tal como a análise de
discurso para identificar e compreender os meandros que o circunscreve.
O discurso de exclusão pode ser difícil de ser detectado, embora possa ser
pungente, promotor de violência simbólica. Isso porque advém de uma ideologia dominante
e uma das características desta é a propriedade naturalizante que possui. “Alias, é próprio
da ideologia impor (sem o parecer, pois que se trata de ‘evidências’) as evidências como
evidências, que não podemos deixar de reconhecer, e permite as quais temos a inevitável
reação de exclamarmos: ‘é evidente! É isso! Não há dúvida!’” (ALTHUSSER, 1980, p.96).
Daí a razão de o sujeito acreditar que determinados constructos culturais é algo que sempre
existirá e não o pensa como alguma coisa que possa ser modificado.
Žižek (2009 apud BISPO; LIMA, 2014) descreve a violência simbólica como sutil,
difícil de ser detectada, apresentando-se através de “(...) palavras, nomeações,
classificações e formas de utilização da linguagem, não sendo, muitas vezes, reconhecida
como violência, mas produzindo efeitos de forma mais insidiosa” (p.163). O autor afirma
ainda que em relação à escola, ela pode tanto ser transformadora do uso social da
linguagem, como também promover através de suas práticas, burocrática e administrativa,
tal violência.
Bispo e Lima (2014) referindo-se ao efeito nefasto da violência simbólica às
crianças e adolescentes, afirmam que ela é capaz de produzir destinos trágicos ao sujeito,
pois rotulações negativas podem gerar discriminações e exclusão social.
Essa perspectiva, quando pensada na lógica institucional escolar, pode ser
exemplificada da seguinte forma: quando um aluno é taxado de fracassado (“burro”, “zé
ninguém”, “ sem futuro”), provavelmente isso terá os mais diversos efeitos para ele, tendo
em vista que vivemos em uma sociedade meritocrata, que valoriza sujeitos eficientes e
brilhantes. Uma das consequências para esse sujeito seria o de se sentir à margem das
expectativas escolares.
Levando em consideração ainda a teoria da ideologia althusseriana, podemos
pensar que essa exclusão não produzirá só um efeito de fora para dentro, ou seja, esse
sujeito não enxergará essa exclusão como um sistema separado de si, que o atinge do
exterior para o interior (caso levemos em consideração a máxima althusseriana de que a
ideologia interpela o indivíduo transformando este em sujeito). Uma possibilidade que pode
ser apontada é que ele mesmo, enquanto interpelado por tal ideologia, pode acreditar que,
de fato, ele é um fracassado e que, por consequência, não conseguirá ser “ninguém na vida”
e que aos (outros) fracassados, de modo geral, ele destinará resultado semelhante.
Esse singelo exemplo serve para denotar como o discurso é histórico
(enunciativo) e atual (enunciação) e, ainda, como o sujeito, dividido pelo recalque e
assujeitado a linguagem pode perpetrar uma violência contra si e contra outros sem ter
plena consciência da estrutura ideológica-social que o usa no processo de reprodução e
naturalização de modos de exclusão.
IV. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS