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APRESENTAÇÃO
Os conceitos de ideologia, cultura e discurso não podem ser compreendidos separadamente, pois
são conceitos que se entrelaçam, especialmente no campo da Análise do Discurso. Nesta Unidad
e de Aprendizagem, você vai compreender de que forma esses conceitos se entrelaçam, bem co
mo reconhecer os pontos de contato entre eles. Além disso, você identificará como a noção de c
ultura entra no quadro teórico da Análise do Discurso.
Bons estudos.
DESAFIO
Você revisa, mas não encontra nenhum erro ortográfico. No entanto, alguma coisa nos sentidos
deste anúncio deixam você desconfortável. Lembrando, então, que muitas vezes aquilo que é tid
o como “normal” para um grupo de pessoas não o é para outras, você resolve avisar aos redatore
s sobre os possíveis problemas que a campanha pode causar.
Diante da situação, justifique sua posição, argumentando o motivo pelo qual o anúncio não pode
ser aprovado do jeito que está. Crie uma justificativa, baseando-se nos conceitos de cultura, disc
urso e ideologia que você conhece.
INFOGRÁFICO
Podemos dizer que a ideologia é o ponto de contato entre a noção de cultura e o discurso. Isso p
orque a ideologia produz um efeito de evidência dos sentidos do discurso e a cultura determina,
pela ideologia, os modos de dizer, agir, sentir de um determinado grupo social. Falar em cultura
na perspectiva da Análise do Discurso é pensá-la em sua relação com a produção de sentidos do
s discursos por um sujeito determinado pela ideologia.
Neste infográfico, você poderá visualizar melhor como as noções de cultura, ideologia e discurs
o se relacionam entre si e como a Análise do Discurso as concebe.
CONTEÚDO DO LIVRO
No capítulo Ideologia, Cultura e Discurso, do livro Linguística Avançada, você vai compreender
como as noções de ideologia e discurso estão articuladas entre si e quais são os pontos de contat
o na noção de cultura com a Análise do Discurso. Você verá que a cultura é um conceito difícil
de ser definido, mas que um breve percurso pelas diferentes definições ajuda a compreender mel
hor esse conceito.
Boa leitura!
LINGUÍSTICA
AVANÇADA
Introdução
Os conceitos de ideologia, cultura e discurso não podem ser compreendi-
dos separadamente, pois são conceitos que se entrelaçam, especialmente
no campo da análise do discurso (AD).
Neste texto, você vai compreender de que forma esses conceitos
se entrelaçam, bem como reconhecer os pontos de contato entre eles.
Além disso, você identificará como a noção de cultura entra no quadro
teórico da análise do discurso.
Discurso e ideologia
A noção de discurso, pela ótica da análise do discurso (AD), fundada por
Michel Pêcheux, é fundamental para a compreensão da produção de sentidos.
Se na proposta Pêcheuxtiana o discurso é efeito de sentidos entre locuto-
res, isso se deve a uma ruptura com o modelo de comunicação proposto por
Roman Jakobson, pois a ideia de discurso entre locutores significa que todos
os sujeitos estão envolvidos no processo de produção de sentidos, não apenas
aquele que enuncia.
106 Ideologia, cultura e discurso
https://goo.gl/TKgyf4
Se os discursos são formulados por sujeitos, se constituem por aquilo que os sujeitos
dizem e o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia, é possível afirmar que “[...]
a ideologia é a condição para a constituição do sujeito e dos sentidos [...]” (ORLANDI,
2012, p. 46). Diante disso, pode-se dizer também que não há discurso sem linguagem
e nem linguagem que não seja atravessada pela ideologia.
Cultura
Você já pensou sobre o que significa cultura? Que tipos de cultura existem?
Apesar de muito se falar em cultura, em geral, pouco se reflete sobre ela.
Muitos autores se debruçaram sobre esse conceito, buscando defini-lo. Veja
algumas visões sobre a cultura.
O que é cultura?
Buscando uma definição da expressão cultura, você irá se deparar com a
proposta de Michel de Certeau (1995 apud ESTEVES, 2013), que traz, entre
outros significados, o de cultura como a percepção ou compreensão de mundo
de determinado meio ou época, bem como os comportamentos, instituições,
ideologias e mitos que compõem e caracterizam uma sociedade.
Para o autor John Lyons (1987, p. 273), a palavra cultura possui vários
sentidos, porém, alguns deles merecem ser destacados. O autor contrasta
duas visões, uma que percebe a cultura como “[...] mais ou menos sinônimo
de civilização e, numa formulação mais antiga e extrema do contraste, oposta
ao barbarismo [...] baseado em uma concepção clássica do que constitui exce-
lência em arte, literatura, maneiras e instituições sociais [...]”. Essa cultura,
segundo o autor, foi revivida pelos humanistas do Renascimento, enfatizada
por pensadores do Iluminismo, do século XVIII, e associado à visão da história
da humanidade como progresso e autodesenvolvimento.
Por outro lado, Lyons (1987, p. 274) ressalta que o termo cultura pode ser
“[...] empregado sem nenhuma implicação de progresso humano uniforme do
barbarismo à civilização e sem nenhum julgamento de valor a priori quanto
à qualidade estética ou intelectual da arte, literatura, das instituições etc. de
uma determinada sociedade.”.
Assim, a cultura pode ser descrita como conhecimento adquirido social-
mente, ou seja, como o conhecimento que uma pessoa tem em virtude de ser
membro de determinada sociedade. O autor ressalta sobre a palavra conheci-
mento: “[...] tanto o saber fazer algo quanto o saber que algo é ou não assim. Em
segundo lugar, quanto ao conhecimento de proposições, o que conta é o fato
de algo ser considerado verdadeiro, e não a sua veracidade ou falsidade reais
[...]” (LYONS, 1987, p. 274). A partir desses sentidos possíveis para cultura,
poderia se distinguir os traços do homem culto, diferenciando-o do selvagem.
Por outro lado, a partir da visão de Gramsci (apud ESTEVES, 2013), todo
sujeito é um produtor de cultura, porque todo sujeito produz uma atividade
intelectual, qualquer que seja essa atividade.
Ideologia, cultura e discurso 109
Cultura e linguagem
As relações possíveis entre cultura e outros campos também foram propostas
por diferentes autores, com diferentes visões sobre o tema.
Nesse sentido, destaca-se o entendimento de Kawachi (2011 apud TERENZI,
2012, p. 100), que destaca a cultura como: “[...] um construto diacrônico que,
em sua abrangência histórica, social e artística, reflete – e/ou contribui para
constituir – a identidade de um grupo [...]”. Portanto, pode-se dizer que a
cultura também pode ser compreendida como um processo evolutivo, no qual
se acompanha as evoluções e mudanças sucessivas que ocorrem socialmente,
seja no âmbito linguístico, em que ocorrem as alterações em que termos são
substituídos por outros, como em demais âmbitos da cultura.
Ainda de acordo com a autora, a palavra cultura pode ser compreendida
como pertencimento a uma comunidade discursiva que compartilha um es-
paço social, uma história e imaginários comuns. Nesse caso, haveria uma
relação estreita entre a cultura e a língua de determinadas comunidades, ou
regiões, no qual a língua pode ser compreendida como um dos veículos para
a “transmissão de cultura”.
John Lyons (1987) afirma que é frequente a correlação entre língua e cultura
exercida em um nível muito geral, e com o pressuposto tácito ou explícito de
que os que falam a mesma língua tem que, necessariamente, compartilhar a
mesma cultura. Para o autor, esse pressuposto é falso com relação a muitas
línguas e muitas culturas, pois os falantes de línguas diferentes não possuem
110 Ideologia, cultura e discurso
a mesma visão de mundo. Para ele, muitos dos conceitos que lidamos são
vinculados à cultura, no sentido de que dependem do conhecimento transmitido
socialmente, tanto prático como propositivo, e variam consideravelmente de
cultura para cultura.
Lyons reforça sua concepção de que a linguagem é tanto um fenômeno
biológico como cultural. Explica que as diferentes línguas tem uma subes-
trutura universal, certamente em gramática e vocabulário e talvez também
em fonologia, e uma superestrutura não universal que não apenas se constrói
sobre tal subestrutura, mas é completamente ligada a ela.
Para o autor, a subestrutura universal é determinada, em parte, pelas facul-
dades cognitivas da mente humana, que são geneticamente transmitidas, ou
seja, o processo de aquisição da linguagem é de tal natureza que a transmissão
de tudo o que é universal em linguagem depende, também, para o seu sucesso,
do processo de transmissão cultural.
“Já a superestrutura não universal nas línguas, trata-se muito mais ob-
viamente de uma questão de transmissão cultural – e em dois sentidos. Não
somente faz parte da competência linguística transmitida de geração em
geração por meio das instituições de determinada sociedade, mas o que é
transmitido é em si um componente importante na cultura daquela sociedade.”
(LYONS, 1987, p. 292).
Dessa forma, Lyons conclui que se a competência em determinada língua
implica a habilidade de produzir e compreender sentenças daquela língua,
então constitui inquestionavelmente parte da cultura: isto é, do conhecimento
social. Afinal, o significado das expressões não é universal e dependente da
cultura. E esse resultado só acontece porque, entre as sociedades, há um grau
maior ou menor de justaposição cultural. Nesse sentido, ele afirma que “[...]
a possibilidade de tradução é uma função do grau de justaposição cultural
[...]” (LYONS, 1987, p. 292).
Para o autor, o aprendizado de uma língua pode e deve ser dirigido a
determinadas finalidades. Uma delas é a de adquirir e de participar tão comple-
tamente quanto for possível de uma cultura diferente daquela em que a pessoa
foi criada. Porém, existirão consequências linguísticas, como o empréstimo
e a tradução por empréstimo.
Ideologia, cultura e discurso 111
https://goo.gl/UeSsTS
Para autores como Esteves (2013) e Leandro Ferreira e Ramos (2016), a cultura no campo
da AD é vista como um lugar de interpretação que, assim como a língua, comporta o
lugar do equívoco. Esta noção funciona, nessa direção, como um lugar de produção de
sentidos que age naturalizando e mascarando as condições de produção. Os sentidos
vão sendo, assim, cristalizados por meio do processo de repetição, levando a falsos
espaços de identificação, legitimando esses sentidos sem necessidade de comprovação.
Leituras recomendadas
BAUMAN, Z. Ensaios sobre o conceito de cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
ESTEVES, P. M. Rumo a uma noção de formação cultural na ad. In: SEMINÁRIO DE
ESTUDOS EM ANÁLISE DO DISCURSO, 5., 2011, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre:
UFRGS, 2011. Disponível em: <anaisdosead.com.br/5SEAD/SIMPOSIOS/PhellipeMar-
celDaSilvaEsteves.pdf>. Acesso em: 03 set. 2017.
GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978.
OLIVEIRA, E.; ALVES, A. F. Uma análise literária sobre o conceito de cultura. Revista
Brasileira de Educação e Cultura, São Gotardo, n. XI, jan.-jun. 2015. Disponível em:
<http://periodicos.cesg.edu.br/index.php/educacaoecultura/article/view/200>.
Acesso em: 03 set. 2017.
VALIM, T.; FERREIRA, M. C. L. Para além de rituais e costumes: o que podemos dizer
sobre a noção de cultura em análise do discurso? Revista Estudos da Língua(gem),
Vitória da Conquista, v. 14, n. 2, p. 139-154, dez. 2016.
DICA DO PROFESSOR
Nesta Dica do Professor, veja a proposta, de Phellipe Marcel Esteves, de uma formação cultural
no âmbito da Análise do Discurso.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.
EXERCÍCIOS
1) Sobre a noção de discurso e sua relação com a ideologia, é possível afirmar que:
As formações discursivas são o local onde discurso e ideologia podem ser vistos apartados.
D)
Se a língua é a materialidade da ideologia, é possível dizer que o discurso é a materialidad
E)
e da língua.
Os sentidos de um discurso são determinados pelos sujeitos, que decidem o que querem di
A)
zer.
Cada sujeito escolhe a posição ideológica que ocupará e, a partir dela, os discursos adquire
E)
m sentido.
John Lyons afirma que não há relação entre cultura, língua e linguagem.
A)
John Lyons afirma que os que falam a mesma língua têm que, necessariamente, compartilh
B)
ar a mesma cultura.
Muitos dos significados atribuídos à cultura atualmente surgem no final do século XX, qua
A)
ndo esta palavra passa a ser utilizada com mais frequência.
Seria errôneo dizer que a cultura tem a ver com pertencimento a uma comunidade.
B)
No entendimento da Análise do Discurso, a cultura é o conhecimento adquirido pelo home
C)
m, que o distingue de um selvagem.
Na visão de Gramsci, somente os sujeitos que produzem uma atividade intelectual reconhe
D)
cida são produtores de cultura.
Na perspectiva discursiva, é pela ideologia que o sujeito se identifica com a cultura, que es
E)
tabelece o que pode/deve ser pensado, vestido, usado.
5) Sobre a perspectiva da Análise do Discurso em relação à cultura, assinale a alternativ
a CORRETA:
Para a AD, a cultura é justificativa para a naturalização do que é pensado, vestido, usado, s
E)
entido, cheirado, experimentado.
NA PRÁTICA
Como ponto de contato entre a noção de cultura e a Análise do Discurso está a noção de ideolog
ia, uma vez que não há cultura fora dela. Se o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia,
é também por meio dela que ele se identifica com determinada Formação Discursiva, que vai det
erminar o que pode e deve ser dito. Nesse sentido, a noção de Formação Cultural é proposta no â
mbito da Análise do Discurso, estabelecendo o que pode/deve ser pensado, vestido, usado, senti
do, cheirado, experimentado.
Qual é o significado de uma marca? Uma marca é determinada por um nome escrito, uma palavr
a, uma imagem ou um desenho. Mas nada disso é escolhido aleatoriamente. Uma marca busca s
e beneficiar de diversos recursos imagéticos ou verbais para fortalecer sua imagem na mente do
consumidor, a fim de ser facilmente reconhecida e lembrada.
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SAIBA +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo
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