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UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

Faculdade de Letras Ciências Sociais e Humanidades

Discurso e Ideologia

Curso de Licenciatura em Linguística

Trabalho de Pesquisa

Ana Castro Fernando

Belina Alcino da Costa

Elina Olímpio Delfin

Eugênio Francisco Saimone

Fernando Oliveira Saidone

Tete

Abril, 2024
3o Ano; 4o Grupo

Ana Castro Fernando

Belina Alcino da Costa

Elina Olímpio Delfin

Eugênio Francisco Saimone

Fernando Oliveira Saidone

Discurso e Ideologia

Trabalho apresentado à Faculdade de


Letras, Ciências Sociais e Humanidades, da
Universidade Púnguè como requisito
parcial de avaliação sob orientações do
docente:

Mestre Januário Alberto Cabarela

Tete
Abril, 2024

Índice

1. Introdução..........................................................................................................................4

1.1. Objectivos...................................................................................................................... 4

1.2. Procedimentos Metodológicos.......................................................................................4

2. Discurso e Ideologia.......................................................................................................... 5

2.1. Contextualização............................................................................................................5

2.2. Linguagem..................................................................................................................... 5

2.3. Conceito de termos.........................................................................................................6

2.3.1. Discurso......................................................................................................................6

2.3.2. Ideologia.....................................................................................................................6

2.3.3. Argumentação............................................................................................................ 7

2.4. Discurso e ideologia.......................................................................................................7

2.5. Discurso......................................................................................................................... 8

2.5.1. Semântica discursiva.................................................................................................. 9

2.5.2. Sintaxe discursiva.......................................................................................................9

2.5.3. Discursos figurativos e não figurativos.....................................................................10

2.5.4. Formação discursiva.................................................................................................10

3. Considerações Finais....................................................................................................... 12

Referências Bibliográficas...................................................................................................... 13
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1. Introdução

O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito da cadeira de Linguística Textual e


de Discurso I e tem como tema o seguinte: Discurso e Ideologia. Ao caracterizar a produção
linguística dos seres humanos como "discursos". Saussure (1989) diferencia linguagem de
língua, esse autor considerava que o objecto de estudo da linguística deveria ser a língua e,
que só depois desse ser estudado como um sistema de signos é que os linguistas deveriam se
dedicar ao estudo da fala. Assim, na abordagem de Saussure, a língua liga o signo à estrutura
linguística. O signo só existe enquanto diferente de um outro signo e, portanto, ele existe
enquanto colocado num sistema, e este sistema é a estrutura linguística, ou seja, estudar os
signos é simultaneamente estudar a língua enquanto sistema de signos.

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral

 Compreender sobre o discurso e a ideologia.

1.1.2. Específicos
 Definir o discurso e ideologia;
 Explicar sobre o discurso e ideologia;
 Descrever o discurso e ideologia.

1.2. Procedimentos Metodológicos

O trabalho com tema supracitado remente-se ao campo Linguístico, o mesmo foi


feito duma forma grupal, grupo esse composto por cinco (5) elementos. Para a concretização
desse usamos a interpretação referencial (tratamento e reflexão). Esse trabalho teve como seu
principal motor à “Internetˮ, primeiramente baixamos alguns artigos em formato PDF onde
recorremos a análise, reflexão, discussão e selecção dos conteúdos relevantes, posteriormente
digitamos o mesmo utilizando o Microsoft Office 2013 (Word).
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2. Discurso e Ideologia
2.1. Contextualização

O presente trabalho aborda sobre o discurso e ideologia numa perspectiva linguística.


Duma forma superficial Saussure fala do discurso relacionado o mesmo aos signos
linguísticos. Purvis e Hunt (1993, p. 485) tendo como base a mutabilidade e imutabilidade do
signo referenciada por Saussure, argumentam que o discurso é uma rede social de
comunicação do indivíduo através do meio da linguagem ou dos signos-sistemas não-verbais.

Numa sociedade os falantes e ouvintes estão em constante processo de troca, aquilo


que um diz é construído por algo que lhe foi anteriormente dito e é construtor do que o outro
dirá em seguida. Nas palavras de Bakhtin (2006, p. 271) “toda compreensão da fala viva, do
enunciado vivo é de natureza activamente responsiva, ou seja, toda compreensão é prenhe de
resposta, o ouvinte se torna falante”. O falante estrutura seu discurso a partir da imagem que
é construída do outro, o que o outro diz espelha a forma como o falante entende o interlocutor.

2.2. Linguagem

Perante as nossas leituras e analises percebemos que é impossível falar do discurso e


ideologia sem antes falar da linguagem. Quando se pensa em linguagem, ou na tentativa de
defini-la, parece impossível não ter a significativa contribuição de Ferdinand Saussure como
ponto de partida.

Saussure (1916, p. 17), a linguagem é “multiforme e heteróclita; o cavaleiro de


diferentes domínios”. Quer dizer, ela está em constante estado de evolução, apresentando-se,
a todo instante, como “uma instituição actual e um produto do passado” (Saussure, 1916, p.
16), abarcando as manifestações físicas, fisiológicas e psíquicas que fazem parte da
comunicação verbal. Isto explica o fato de, para o autor, a mesma possuir uma dimensão
social, a língua, e outra individual, a fala. Isto é, a língua é definida como social e essencial,
a fala, é tratada como individual, acessória e mais acidental. Saussure (1916, p. 22) afirma
que:

A língua não constitui, pois, uma função do falante: o produto que o indivíduo
registra passivamente; não supõe jamais premeditação, e a reflexão nela intervém
somente para a actividade de classificação (...). A fala é, ao contrário, um acto
individual de vontade e de inteligência, no qual convém distinguir: 1º, as
combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de
exprimir seu pensamento pessoal; 2º, o mecanismo psicológico que lhe permite
exteriorizar essas combinações.
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Entender a língua como discurso significa não ser possível desvinculá-la de seus
falantes e de seus atos, das esferas sociais, dos valores ideológicos que a norteiam. Por isso
que, no conceito de língua, vista como objeto da linguística, não há e nem pode haver
quaisquer relações dialógicas (dialogismo), pois elas são impossíveis entre os elementos no
sistema da língua (entre os morfemas, as palavras, as orações etc.), entre os elementos da
língua no texto e mesmo entre os elementos do “texto” e os textos no seu enfoque
“rigorosamente linguístico” (Bakhtin, 1997).

2.3. Conceito de termos


2.3.1. Discurso

O discurso é um dos aspectos da materialidade ideológica, por isso, ele só tem


sentido para um sujeito quando este o reconhece como pertencente a determinada formação
discursiva. Os valores ideológicos de uma formação social estão representados no discurso
por uma série de formações imaginárias, que designam o lugar que o destinador e o
destinatário se atribuem mutuamente (Pêcheux, 1990, p.18).

Segundo Fiorin (1990, p. 177), o discurso deve ser visto como objeto linguístico e
como objeto histórico. Nem se pode descartar a pesquisa sobre os mecanismos responsáveis
pela produção do sentido e pela estruturação do discurso nem sobre os elementos pulsionais e
sociais que o atravessam. Esses dois pontos de vista não são excludentes nem
metodologicamente heterogêneos. A pesquisa hoje precisa aprofundar o conhecimento dos
mecanismos sintáxicos e semânticos geradores de sentido; de outro, necessita compreender o
discurso como objeto cultural, produzido a partir de certas condicionantes históricas, em
relação dialógica com outros textos.

Stuart Hall (1977, p.322) oferece a seguinte definição geral de discurso: "Conjuntos
de experienciados pré-fabricados e pré-constituídos, organizados e arranjados em tomo da
linguagem. Nesse sentido, o discurso sustenta um veículo para o pensamento, comunicação e
ação, e o discurso tem sua própria organização interna. Assim, o discurso é um sistema de
estruturas com limites variavelmente abertos entre ele mesmo e outros discursos. Por outro
lado, as elaborações acerca do discurso, feitas por Foucault, questionam que se considere a
ação do discurso simplesmente como um texto, palavras ou linguagem, no sentido de
comunicação.
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A análise de Foucault revela que a natureza do discurso depende não de um mundo


real, estável, natural representado no discurso, mas de um mundo histórico e social, fluido e
mutável (Dant, 1991).

2.3.2. Ideologia

Segundo Althusser (s.d.), a ideologia é a representação imaginária que interpela os


sujeitos a tomarem um determinado lugar na sociedade, mas que cria a "ilusão" de liberdade
do sujeito. A reprodução da ideologia é assegurada por "aparelhos ideológicos" (religioso,
político, escolar etc.) em cujo interior as classes sociais se organizam em formações
ideológicas ("conjunto complexo de atitudes e representações").

A ideologia é um conjunto de representações dominantes em uma determinada classe


dentro da sociedade. Como existem várias classes, várias ideologias estão permanentemente
em confronto na sociedade. A ideologia é, pois, a visão de mundo de determinada classe, a
maneira como ela representa a ordem social. Assim, a linguagem é determinada em última
instância pela ideologia, pois não há uma relação directa entre as representações e a língua.

A essa determinação em última instância, Pêcheux (1990) denomina "formação


ideológica ou condições de produção do discurso. Uma sociedade possui várias formações
ideológicas, e a cada uma delas corresponde uma formação discursiva (o que se pode e se
deve dizer em determinada época, em determinada sociedade). Por isso, os processos
discursivos estão na fonte da produção dos sentidos e a língua é o lugar material onde se
realizam os efeitos de sentido.

2.3.3. Argumentação

Sobre a argumentação, Plantin (2005), afirma que é um processo que se desenvolve


em diferentes fases, a saber։ Inicialmente, um proponente avança uma determinada
proposição; em seguida, esta mesma proposição vai gerar uma oposição por parte de um
opositor; num terceiro momento, surge, então, a questão, fruto do confronto de posições
verificadas anteriormente; por fim, surgirão os argumentos avançados pelo proponente, que
terá o dever de defender a sua conclusão.

Em relação ao que foi dito pelos autores acima, percebe-se que, apesar de seguirem
formas particulares de entender a argumentação, as diversas interpretações apresentam em
comum o seguinte ponto de pensamento: admitem a existência de um indivíduo ou conjunto
de indivíduos que argumentam com o objetivo de defender um ponto de vista, visando
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modificar comportamentos ou pensamentos de seu leitor/ ouvinte e, toda comunicação que o


homem realiza envolvem o acto de argumentar. Deste modo, perceber que, acção de
argumentar e enquadrada em todas formas de comunicação, seja para defender ou para
informar.

2.4. Discurso e ideologia

Foucault descreve o caráter construtivo do discurso, isto é, que tanto nas formações
sociais como em situações locais e em seus usos, o discurso realmente define, constrói e
posiciona os sujeitos humanos. Os discursos sistematicamente formam os objectos sobre os
quais eles falam, moldando as redes e as hierarquias para a categorização institucional e o
tratamento das pessoas.

Para Foucault (1972, p. 27), a questão que a descrição do discurso coloca é de como
um enunciado determinado apareceu ao invés de outro. A definição de Foucault sobre os
enunciados é de que eles não são proposições ou sentenças. Ele explica que a função
enunciativa, que é contextual, pode diferençar um enunciado de outro, mesmo quando em
termos gramaticais ele é preposicional e o conteúdo é o mesmo. Nesse sentido, enunciados
são a unidade molecular que cria a unidade discursiva dos enunciados, que Foucault chama de
discurso ou, mais precisamente, uma formação discursiva.

Para Foucault, as formações discursivas são caracterizadas pelos sistemas de


dispersões, os quais constituem a base de regularidades discursivas (Barrret, 1991, p. 127).
Embora haja diferentes versões do conceito de formações discursivas, em geral, elas
convergem no sentido de que esse conceito agrega o discurso. Então, a questão que surge é se
há algo fora do discurso.

Foucault (1972) insiste em manter a distinção entre reinos discursivos e não-


discursivos. Contudo, Laclau e Mouffe (1985), opondo-se a Foucault, rejeitam a distinção
entre discursivo e não discursivo

Nesse ponto, o que tem de ser considerado, de acordo com Purvis e Hunt (1993), é
que todos os esforços para especificar um acesso único ao social, seja através do discurso ou
através da ideologia, podem arriscar-se a ser uma expansão longa pela tentativa de abranger o
social sob uma conceituação unificadora.

A discussão que Foucault faz da teoria do discurso envolve uma rejeição explícita
das categorias marxistas, que são principalmente relacionadas com o conceito de ideologia.
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Nesse sentido, Barret (1991) assinala que a crítica de Foucault ao conceito de ideologia e seu
conceito de discurso devem ser relacionados com questões teóricas mais amplas, tais como
aquelas relativas ao contexto sociológico e histórico do discurso, especialmente ao problema
do determinismo, tópicos concernentes à epistemologia e à questão do conhecimento, verdade
e poder, e tópicos concernentes à definição do sujeito, da ação, do eu e da ética.

2.5. Discurso

Assim como a frase não é um amontoado de palavras, mas é uma cadeia construída
segundo certas regras, o discurso não é um amontoado de frases. O discurso tem uma
estrutura. Diante de um texto absolutamente caótico dizemos: Isso não significa nada.
Sabemos distinguir um texto de um não texto. Porque o discurso é estruturado, temos que
diferenciar no seu interior uma sintaxe e uma semântica.

A sintaxe discursiva compreende os processos de estruturação do discurso. Assim,


pertence a ela um procedimento como a introdução ou não da primeira pessoa no discurso.
Por exemplo:

a. Eu acho que Pedro foi ao cinema e Pedro foi ao cinema).

O uso da primeira pessoa cria um efeito de sentido de subjectividade, enquanto sua


não-utilização produz um efeito de sentido de objectividade. Se um cientista dissesse "Eu
afirmo que a Terra é redonda", isso poderia ser entendido como um ponto de vista pessoal.
Entretanto, quando ele diz "A Terra é redonda", é como se o próprio facto se narrasse a si
mesmo.

Para Bakhtin (2003, p. 324), a ideia de que o uso da língua se efetua em forma de
enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, proferidos pelos participantes de uma ou
outra esfera da actividade humana; que o enunciado é irrepetível, tendo em vista que é um
evento único (pode somente ser citado) que o enunciado é a unidade real da comunicação
discursiva, já que o discurso só tem possibilidade de existir na forma de enunciados e que o
estudo do enunciado como unidade real da comunicação discursiva permite compreender de
uma maneira mais correcta a natureza das unidades da língua.

O enunciado é visto por Bakhtin como a unidade da comunicação discursiva. Cada


enunciado constitui um novo acontecimento, um evento único e irrepetível da comunicação
discursiva. Ele só pode ser citado e não repetido, pois, nesse caso, constitui-se como um novo
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acontecimento. O enunciado nasce na inter-relação discursiva, por isso que não pode ser nem
o primeiro nem o último, pois já é resposta a outros enunciados, ou seja, surge como sua
réplica

2.5.1. Semântica discursiva

A semântica discursiva abarca os conteúdos que são investidos nos moldes sintáticos
abstratos. Por exemplo, o mecanismo abstrato do discurso directo, em que um narrador delega
a palavra a uma personagem para que ela fale, é sintáctico. A personagem a quem se delega
voz, o que ela diz etc. pertencem à semântica.

2.5.2. Sintaxe discursiva

A sintaxe discursiva goza de certa autonomia em relação às formações sociais,


enquanto a semântica depende mais directamente de factores sociais. Com efeito, mecanismos
como, por exemplo, o discurso directo, podem receber e veicular quaisquer conteúdos, mas
estes são determinados pela estrutura social.

Há no discurso, então, o campo da manipulação consciente e o da determinação


inconsciente. A sintaxe discursiva é o campo da manipulação consciente. Neste, o falante
lança mão de estratégias argumentativas e de outros procedimentos da sintaxe discursiva para
criar efeitos de sentido de verdade ou de realidade com vistas a convencer seu interlocutor. O
falante organiza sua estratégia discursiva em função de um jogo de imagens: a imagem que
ele faz do interlocutor, a que ele pensa que o interlocutor tem dele, a que ele deseja transmitir
ao interlocutor etc. É em razão desse complexo jogo de imagens que o falante usa certos
procedimentos argumentativos e não outros.

2.5.3. Discursos figurativos e não figurativos

O discurso figurativo é a concretização de um discurso temático. Para entender um


discurso figurativo é preciso, pois, antes de mais nada, apreender o discurso temático que
subjaz a ele.

Um texto figurativo é aquele construído predominantemente com figuras, enquanto


um texto temático é organizado basicamente com temas. Nos textos não-figurativos, a
ideologia manifesta -se, com toda a clareza, no nível dos temas.
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Nos textos figurativos, essa manifestação ocorre na relação temas-figuras. Os temas


do discurso político oficial pós são reveladores de uma dada ideologia por exemplo:

b. Ocorre, no mundo, uma luta entre a civilização cristã ocidental e o comunismo ateu.

Essa guerra é psicológica, pois ocorre no coração e nas mentes dos homens. Por isso,
ela é travada no interior de cada país. As fronteiras não são, então, externas, pois o inimigo se
acha entrincheirado dentro do país.

2.5.4. Formação discursiva

A formação discursiva representa a garantia de que a ideologia se divide, visto que


ela não é idêntica a ela mesma, e essa divisão não existe sem contradição, presente no
complexo com determinante do interdiscurso. O interdiscurso é, portanto, aquilo que “(...)
determina uma formação discursiva, ou seja, o interdiscurso contém os dizeres que não podem
ser ditos no âmbito de uma dada formação discursiva” (Indursky, 2007, p. 6).

Ao se identificar com uma formação discursiva, o sujeito não se identifica com


outras formações discursivas presentes no interdiscurso, o que revela a relação de
antagonismo necessária para a organização das formações discursivas. No entanto, apesar de
existir esse antagonismo, as formações discursivas não são homogêneas, o que indica que
saberes advindos de outras formações discursivas podem se fazer presentes na organização de
uma formação discursiva, justificável pelo carácter lacunar da forma-sujeito.

Essa identificação é necessária para que o sujeito possa significar o mundo, e esse
processo de atribuição de sentido se dá a partir da formação discursiva enquanto uma posição
política, ideológica e de classe (Pêcheux, 2007). Assim, não existe atribuição de sentido
desvinculada do funcionamento ideológico, representada por uma parte do interdiscurso com
a qual o sujeito se identifica.

Marca-se a importância de considerar a formação discursiva como conceito


fundamental para as pesquisas desenvolvidas no âmbito do discurso. A formação discursiva se
mostra como noção que representa a articulação entre inconsciente e ideologia, ou, nas
palavras de Pêcheux (2009), entre o assujeitamento ideológico e o recalque inconsciente.

Essa noção traz à tona a observação da contradição na determinação dos processos


discursivos, através do trabalho dialético sobre aquilo que é dito em relação com o que não é
dito, ela opera como conceito que não abre mão da forma de existência material da ideologia
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para o processo de estabelecimento de efeito de sentido, em relação histórica de sobre


determinação, e ela se torna o ponto no qual se pode instalar a contradição a partir de seu
interior, a partir daquilo que poderia e deveria ser dito com base na sua forma-sujeito,
processo que pode surgir pelos efeitos da atuação do inconsciente.

3. Considerações Finais

Posteriormente a pesquisa desencadeada pelo grupo e que culminou com a realização


deste trabalho concluímos que a questão que a descrição do discurso coloca é de como um
enunciado determinado apareceu ao invés de outro. Nos abalizando as ideias de Fiorin
percebemos que o discurso deve ser visto como objeto linguístico e como objeto histórico.
Nem se pode descartar a pesquisa sobre os mecanismos responsáveis pela produção do
sentido e pela estruturação do discurso nem sobre os elementos pulsionais e sociais que o
atravessam. Esses dois pontos de vista não são excludentes nem metodologicamente
heterogêneos. A pesquisa hoje precisa aprofundar o conhecimento dos mecanismos sintáxicos
e semânticos geradores de sentido; de outro, necessita compreender o discurso como objeto
cultural, produzido a partir de certas condicionantes históricas, em relação dialógica com
outros textos.

Percebemos ainda que não se pode tratar sobre o discurso e ideologia sem mexer
com a língua. Considerando as ideias de Sausssure, o mesmo afirma que A língua não
constitui, pois, uma função do falante: o produto que o indivíduo registra passivamente; não
supõe jamais premeditação, e a reflexão nela intervém somente para a actividade de
classificação (...). A fala é, ao contrário, um acto individual de vontade e de inteligência, no
qual convém distinguir: 1º, as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no
propósito de exprimir seu pensamento pessoal; 2º, o mecanismo psicológico que lhe permite
exteriorizar essas combinações.
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Referências Bibliográficas

Althusser, L. (1971). Lenin and Philosophy. Trans. Ben Brewster. New York and London,
Monthly Review Press.

Barret, M. (1991). The Politics of Truth: From Marx to Foucault. Stanford CA: Stanford
University Press.

Bakhtin, M. (1992). Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec.

__________________. Estética da criação verbal. (1997). Trad. Maria Ermantina G. G.


Pereira. (2a. Ed). São Paulo: Martins Fontes.

__________________. Problemas da poética de Dostoiévski. (1997). (2 a. ed). rev. Rio de


Janeiro: Forense Universitária.

__________________. Os gêneros do discurso. (2003). In: ______. Estética da criação


verbal. Trad. P. Bezerra. São Paulo: Martins Fontes.

Foucault, M. (1972). The Archaeology of Knowledge & The Discourse on Language. New
York, Pantheon Books.

Fiorin, J. L. Tendências da análise do discurso. Estudos Linguísticos. Greimas, A. J. Sobre o


sentido; ensaios semióticos. Rio de Janeiro: Vozes.

Hall, S. (1977). Culture, the Media and the Ideological Effect, In: Curan, J. et aI. Mass
Communications and Society. London: Edward Arnold.

Indursky, F. (2007). Formação discursiva: ela ainda merece que lutemos por ela. São Carlos:
Claraluz.

Laclau, E. and Mouffe, C. (1985). Hegemony and Socialist Strategy. London: Verso.
14

Pêcheux, M. (2009). Semântica e discurso: Uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de


Eni Orlandi et al. (4a. Ed). Campinas: Editora da Unicamp.

Purvis, T. and Hunt, A. (1993). Discourse, ideology, discourse, ideology, discourse,


ideology ...The British Journal of Sociology, Vol.

Saussure, F. (1983). Course in general linguistics. (11a Ed), São Paulo: Cultrix.

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