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Número da Ficha: 1

Nome do estudante: Dulce


Tema: Restrições Fonológicas (Palavra mínima em português europeu: a oralização de abreviaturas)
Referências Bibliográficas
BOOIJ, G. (2004). The morphology-phonology interface in European Portuguese. Review article of M.
Vigário, The Prosodic Word in European Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, Lisboa.
BISOL, L. O Clítico e o seu Status Prosódico. Revista de Estudos de Linguagem, Belo Horizonte.
Mateus, et al. (2003). Gramática da Língua Portuguesa. (5. Ed). Lisboa: Caminho.
Mccarthy, J. J.; Prince, A. S. 1995.Prosodic Morphology. In: GOLDSMITH, J. A. (Org.). The Handbook of
Phonological Theory. Cambridge, MA: Blackwell.
Pereira, et al. (1999). O acento de palavra em Português: uma análise métrica. Coimbra. Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra.
Página Citação Reflexão
1 Palavra mínima em português europeu: a
oralização de abreviaturas
Ao pronunciarmos as palavras,
Em línguas como o Português (na variedade brasileira ou não pronunciamos letra por letra,
europeia), a possibilidade de encontrarmos palavras como nem som por som. Muito pelo
pé, mi ou nu, levou autores como Bisol (2000) e Vigário contrário, pronunciamos a palavra
(2003) a considerar que tal restrição [Restrição de Palavra dividindo-a em pequenos
Página Mínima] não se encontra operativa nessa língua. Contudo, segmentos. Em agrupamento de
134 até Vigário (2003, p.159) não deixa de notar que, tendo em fonemas. Na variedade do
página 136 conta a lista do Português Fundamental […] que inclui português europeu assim como
cerca de sete mil formas flexionadas, apenas 138 palavras
brasileiro levou alguns autores a
(lexicais) são monossilábicas, e destas apenas 28
constituídas por sílaba aberta. Tais baixos valores considerarem que a restrição de
conduzem Booij (2004) a contrapor que o Português é de palavra mínima não se encontra
facto sensível a restrições de minimalidade, mas que operativa para essa língua porque
existe um reduzido número de palavras que a violam. algumas palavras são
monossilábicas e outras são
constituídas por silaba aberta.
1.1 Restrições fonológicas a que estão
obrigatoriamente sujeitas as palavras da língua
1.1.1 A condição de minimalidade: formulação geral
A CM é a restrição fonológica que, em interação com
outras, impõe uma quantidade mínima de material Todas as palavras da língua
fonológico para que uma cadeia fonética possa ser correspondessem, no mínimo, a
admitida como uma palavra da língua. Sendo passível de duas sílabas. O léxico
parametrização particular em cada língua, assumimos à contemporâneo do PE admite,
Página partida, como formulação geral da CM válida para um contudo, um número não
137 até grande conjunto de línguas do mundo, a generalização absolutamente desprezível de
página 138 encontrada em McCarthy e Prince, 1995:321-322). palavras monossilábicas. Além de
Sendo o português uma língua sem oposições um elevado número de formas
quantitativas, de acordo com o postulado de McCarthy e clíticas, dispomos em PE de
Prince (1995), todas as palavras da língua várias palavras lexicais
correspondessem, no mínimo, a duas sílabas. O léxico monossilábicas.
contemporâneo do PE admite, contudo, um número não
absolutamente desprezível de palavras monossilábicas. O PE caberia no conjunto das
Além de um elevado número de formas clíticas, dispomos línguas em que a CM, tal como
em PE de várias palavras lexicais monossilábicas. formulada em McCarthy e Prince
(1995) (vd. (1)), não faz parte das
O PE caberia no conjunto das línguas em que a CM, tal restrições fonotáticas nem das
como formulada em McCarthy e Prince (1995) (vd. (1)), condições de palavridade da
não faz parte das restrições fonotáticas nem das condições
língua.
de palavridade da língua.
1.1.2 Peso silábico e palavridade em Português
1.1.2.1 Peso silábico e acento de palavra A noção de sílabas pesadas e
leves, mostrando que, em muitas
Tradicionalmente, as descrições fonológicas do português
tendem a considerar o peso silábico como um fator línguas, a distinção entre sílabas
Página negligenciável em domínios em que, noutras línguas, ele pesadas e leves se reflete nas
139 até desempenha um papel importante, nomeadamente no regras de atribuição de acento.
14o tocante à atribuição de acento de palavra.
Descrições como Pereira (1999), Roca (1999), Mateus e
A ideia de uma aleatoriedade na
D’Andrade (2000) e Mateus et al. (2003), por exemplo,
apresentam-nos o acento de palavra do português como posição do acento não dá conta de
exclusivamente regido por fatores de natureza uma série de regularidades que
morfológica: nomes e verbos obedecem a regras acentuais existe na distribuição de acento.
distintas e, dentro de cada uma destas classes, o acento é Primeiramente, ela ressalta que no
descrito tomando por referência determinados morfemas português, assim como no
ou segmentos da cadeia morfológica espanhol e no latim, o acento só
morfossintaticamente determinados. pode cair sobre umas das três
Explicações como as Brandão de Carvalho (1988; 1989; últimas sílabas, o que já
2011) ou Wetzels (2007), por exemplo, enfatizam a demonstra certa regularidade
inocorrência de proparoxítonos com penúltima sílaba subjacente à distribuição de
pesada ou a preponderância estatística de oxítonos com acento.
última sílaba pesada, entre outros, como argumentos que
demonstram a natureza também fonológica do acento e a
sua sensibilidade ao peso silábico, também em português As gramáticas também tratam da
e de forma muito particular nas classes dos nomes e dos classificação das palavras quanto
adjetivos. à sílaba tônica: oxítonas (quando a
1.1.2.2 Peso silábico e palavras coincidentes com sílaba tônica é a última sílaba da
monossílabos pesados no português palavra), paroxítona (quando a
medieval sílaba tônica é a penúltima sílaba
da palavra) e proparoxítona
Considerem se, respetivamente, os exemplos das
(quando a sílaba tônica é a
evoluções cum>com e sic>sim) ou a lateral intervocálica
latina, ante evoluções como sale>sal e sole>sol. Segundo antepenúltima sílaba da palavra).
interpretações como as de Brandão de Carvalho Apenas os monossílabos podem
Página (2011:59), a título de exemplo, elas correspondem a ser átonos (quando não são
140 até palavras com núcleos vocálicos coincidentes com índices acentuados) e tônicos (quando são
141 de sonoridade mais elevados (i. é, com maiores graus de acentuados).
abertura), o que lhes conferiria um peso intrínseco maior
do que o tradicionalmente associado a σL. Neste artigo, Toda palavra possui acento, ou
não aprofundaremos muito mais a discussão deste tópico, seja, há sempre uma sílaba mais
embora a ele voltemos mais adiante. forte que as outras nas palavras.

Um dos processos fonológicos que tomam a palavra Às definições dos linguistas que
como domínio de aplicação, contribuindo, por se valem de critérios fonológicos,
conseguinte, quer para a identificação e delimitação desta morfológicos, sintáticos e
unidade, quer para a distinção entre palavras fonológicas semânticos. Esses critérios não
(dotadas obrigatoriamente de um e só um acento), podem ser aplicados
palavras clíticas (intrinsecamente desprovidas de acento) aleatoriamente porque têm suas
e compostos prosódicos mais extensos e mais complexos, limitações.
como o grupo clítico (formado mais do que uma palavra
morfológica mas dotado de um e só um acento principal, No nível fonológico, a palavra
de acordo com as discussões, relativas ao português, fonológicas, também chamada
desenvolvidas por Vigário (1998; 2003; 2007; 2010), vocábulo fonológico, é uma
Bisol (2000; 2004; 2007), Veloso (2012; 2013) e outros) palavra ou conjunto de palavras
ou o grupo de palavra prosódica (correspondente ao subordinadas a um único acento
agrupamento de várias palavras fonológicas e clíticos tônico.
numa unidade acentual mais longa e complexa, de
acordo, por exemplo., com a proposta de Vigário; Os monossílabos átonos nessa
Fernandes-Svartman, 2010). frase fazem parte da palavra
1.1.3 Outras restrições fonotáticas associadas à boa fonológica seguinte.
formação de palavras em português As preposições, conjunções,
As principais restrições fonológicas que, em línguas artigos, pronomes relativos,
como o português, uma palavra morfológica deverá indefinidos e interrogativos são
obrigatoriamente respeitar. (3). Restrições fonológicas palavras átonas mesmo que não
obrigatoriamente respeitadas pelas cadeias fonéticas sejam monossílabos. Ao contrário
admissíveis como palavras morfológicas em português. os numerais, os substantivos, os
(3a). Possuem um e só um acento principal, regido pelas adjetivos e os verbos são sempre
regras de atribuição de acento de palavra (Exceção: monossílabos tônicos.
Palavras Clíticas).
(3b). Obedecem às regras de combinação fonotática da
Percebo que a presença do acento
língua, não violando o Princípio de Preservação da
indica quantas palavras
Estrutura Kiparsky, (1985).
fonológicas existem na frase.
Mateus; D’Andrade (2000, p.60-64), que impõe,
designadamente as restrições resumidas em (4). Por conseguinte, a palavra
fonológica representa, na
(4). Principais restrições fonotáticas específicas do hierarquia prosódica, o primeiro
português europeu contemporâneo (ap., principalmente, nível em que morfologia e
MATEUS; D’ANDRADE, 2000, p.60-64) fonologia interagem.
(4a). A posição de núcleo silábico cabe exclusivamente a
segmentos vocoides (com a criação excecional de
“núcleos vazios” perante estruturas lineares que não Palavra fonológica é caracterizada
respeitem os princípios métricos explicitados no pelo acento tônico, a palavra
parágrafo seguinte). morfológica (que você deverá ver
no curso de Língua Portuguesa) se
(4b). Os ataques ramificados obedecem estritamente ao caracteriza pela significação,
Princípio de Sonoridade e à Condição de Semelhança. mesmo que seja gramatical.
(4c). O preenchimento segmental ou autossegmental da
coda silábica é altamente restrito (podendo esta
restritividade sofrer enfraquecimento no limite direito da
palavra, segundo Veloso, (2010): inexistência de codas No francês, o acento cai sempre
ramificadas; limitação das consoantes que podem ocorrer na última sílaba) o acento exerce
segmentalmente em coda silábica ao subconjunto restrito
formado por/4. apenas a função de identificar a

1.15 A importância da oralização de abreviações para palavra, ou seja, tem apenas a


a avaliação da Condição de Minimalidade função culminativa. No português,
Se a abreviação não for conhecida do falante, este deve entretanto, como é variável, além
ativar outros recursos do seu conhecimento linguístico
implícito, nomeadamente o seu conhecimento fonológico de uma função culminativa, o
(CF). acento tem também uma função
Tal como Plénat (1993) propõe para o francês, distintiva.
admitiremos que a minimalidade é o fator que determina
a escolha de uma ou de outra e será este o ponto de
partida para o nosso estudo empírico, do qual não
excluiremos, porém, a possível interferência de outras
variáveis fonológicas.

Resumo
Quanto a restrição fonológica refere-se à condição de minimalidade e a condição de palavridade,
porém nesse estudo enfatiza-se mais a condição de minimalidade.

Duma forma resumida perante as restrições fonológicas. Os requisitos frequentes invocados


como um critério fundamental para se definir a palavra, encontra-se a Condição de Minimalidade
(CM): numa dada língua, uma cadeia fonética será uma boa candidata ao estatuto de palavra se e
só se, entre outras exigências, contiver um material fonológico mínimo, abaixo do qual não são
admitidas unidades classificáveis como palavras.

O léxico contemporâneo do PE admite, contudo, um número não absolutamente desprezível de


palavras monossilábicas. Além de um elevado número de formas clíticas. A CM é a restrição
fonológica que, em interação com outras, impõe uma quantidade mínima de material fonológico
para que uma cadeia fonética possa ser admitida como uma palavra da língua. Sendo passível de
parametrização particular em cada língua, assumimos à partida. Formulação genérica da CM. Nas
línguas com oposições quantitativas: a palavra mínima deve conter pelo menos uma sílaba pesada
e nas línguas sem oposições quantitativas: a palavra mínima deve conter pelo menos duas sílabas.
Um dos processos fonológicos que tomam a palavra como domínio de aplicação, contribuindo,
por conseguinte, quer para a identificação e delimitação desta unidade, quer para a distinção entre
palavras fonológicas (dotadas obrigatoriamente de um e só um acento), palavras clíticas
(intrinsecamente desprovidas de acento) e compostos prosódicos mais extensos e mais
complexos, como o grupo clítico (formado mais do que uma palavra morfológica, mas dotado de
um e só um acento principal, de acordo com as discussões, relativas ao português.
As gramáticas também tratam da classificação das palavras quanto à sílaba tônica: oxítonas
(quando a sílaba tônica é a última sílaba da palavra), paroxítona (quando a sílaba tônica é a
penúltima sílaba da palavra) e proparoxítona (quando a sílaba tônica é a antepenúltima sílaba da
palavra). Apenas os monossílabos podem ser átonos (quando não são acentuados) e tônicos
(quando são acentuados).

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