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É também de autoria do linguista americano Leonard Bloomfield a ideia de que numa dada
forma linguística (sequência de fonemas dotada de significação) se não houver uma semelhança fonético-
semântica de uma das partes com outra forma, se está diante do morfema. Essa definição negativa de
morfema corrobora o princípio saussureano de que na língua tudo é oposição. Por exemplo, na oposição
livreiro/jardineiro, livr- e jardin- são morfemas distintos porque não apresentam semelhança fonético-
semântica entre si. O mesmo se pode dizer da oposição livreiro/livraria em que -eir(o) e -ari(a)
apresentam-se como morfemas distintos.
Outro interessante exemplo para esclarecer melhor a noção de morfema referida no parágrafo
precedente é o caso das formas homônimas. Em pedras e cantas, identificamos o morfema -s “plural de
nomes”, distinto do morfema -s, “2ª pessoa do singular” do verbo cantar no presente do indicativo. Essas
duas formas se opõem na medida em que não possuem a mesma distintividade: o morfema -s “plural” se
opõe ao singular (caracterizado por zero ‘O’, ou seja, ausência da informação de plural), enquanto o -s, “2ª
pessoa do singular” se opõe às demais pessoas, no singular e no plural, do paradigma número-pessoal.
Assim:
-s “plural”
pedra -O “singular”
-o
-s
canta -O
-mos
-is
-m
O -s “plural” e o -s, “2ª pessoa do singular” são, portanto, dois morfemas diferentes, apesar da
semelhança fonética (note-se que o uso do termo ‘fonética’, na teoria de Bloomfield, pode ser
interpretado como equivalente a ‘fonológica’). O que é fundamental na identificação de um morfema é a
estrutura semântica ou sistema do conteúdo da língua em questão.
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Enfim, o primeiro caminho para chegar com segurança à depreensão dos morfemas é o da
significação. Só faz sentido considerar um segmento de vocábulo como morfema se esse segmento for
significativo, se for responsável por parte da significação total do vocábulo.
O segundo caminho é verificar se a substituição, ou a comutação, de elementos diferentes,
mantendo-se os recorrentes, provoca uma alteração parcial de conteúdo. Tal forma de identificar os
morfemas, que são partes constitutivas das palavras, apoia-se no princípio da oposição linguística,
referido anteriormente. Por exemplo, uma forma como amas contém uma parte que não se altera, que é
am-, a qual se relaciona ao significado mais geral atribuído ao verbo AMAR. Substituído am- por louv-,
de LOUVAR, ou por ador-, de ADORAR, por exemplo, tem-se uma outra forma que apresenta um outro
significado lexical, o que leva a concluir que am- é uma unidade de som (significante) e significado;
portanto, um morfema, neste caso, lexical. Como saber, porém, se o restante, -as, é um elemento ou
mais de um? Também pelo confronto com outras formas. Amas difere, por exemplo:
(a) da forma de 3ª pessoa do singular (ama), o que mostra que -s pode ser isolado;
(b) da forma do subjuntivo (ames), que demonstra que -a- também pode ser isolado; por fim,
(c) não há qualquer marca específica para Tempo-Modo, como no futuro (amarás) ou no
pretérito imperfeito (amavas). Desta feita, amas poderia ser compreendida como contendo um morfema-
zero (morfema O):
amas
am- -a- -O- -s
radical vogal temática (VT) Indicativo Presente 2sg