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ANÁLISE

MÓRFICA
Noções básicas
PALAVRA – alguns conceitos

- A palavra é um elemento gráfico: separada por


espaços, desde que apresente sequência aceitável na
língua. Assim: A casa é de Maria. (5 palavras)

- A palavra é a unidade dicionarizada


PALAVRA – alguns conceitos

- A palavra é uma estrutura:


esperança X *ançaesper
pé de moleque X *pé velho de moleque
Conceito de lexia simples: uma só palavra, como flor; Conceito
de lexia composta: estrutura rígida, não pode ser alterada, como
beija-flor, chá de cadeira, pé de moleque
PALAVRA – alguns conceitos

- A palavra é uma unidade de sentido


(problemas com homonímia (diferentes palavras
semelhantes no som e/ou na escrita, como manga) e
polissemia (expansão de sentidos de uma mesma
palavra, como cabeça).
PALAVRA – alguns conceitos

- A palavra fonológica: grupo de força que apresenta um único


acento principal; considera a materialidade sonora da palavra;
(um ou um conjunto de vocábulos morfológicos cuja entoação
obedece a uma única sílaba de tonicidade máxima. Percebe-se
somente na discursividade. Ex.: a não ser que, em cima de, de
repente, por isso, enganaram-se: são mais unidades gráficas, mas
um único grupo de força).
PALAVRA – alguns conceitos

- A palavra é unidade sintática: pode ser usada como resposta


mínima a uma pergunta; pode ocupar diferentes posições numa
estrutura sintática.
Ex.: O que ela comprou? – Laranjas. A moça comprou laranjas.
Laranjas foi o que a moça comprou
PALAVRA – diferentes perspectivas

A palavra gráfica
A palavra como portadora de significado
A palavra fonológica.
A palavra como vocábulo formal como formas livres, dependentes e presas.
Uma definição possível…
PALAVRA: forma mínima que pode ocorrer
isoladamente numa sequência linguística, desde que
possa ocupar diferentes posições e diferentes funções
sintáticas e que apresente uma coesão interna e
significação (lexical ou gramatical) aceitável na língua.
(BATISTA, p. 45)
Uma definição possível…
Para resolver a delimitação do termo “palavra”,
que é plurissignificativo, polissêmico devido a
seu amplo uso popular, Bloomfield sugere usar
a expressão vocábulo mórfico.
Assim, são apresentados os conceitos de
formas livres e formas presas.
FORMAS LIVRES
1) comutam em ambientes sem
controle, sem previsibilidade, isto é,
não é possível definir os ambientes
em que ocorrem. Ex: “CADEIRA
quebrou”, “Encontrei uma
CADEIRA”, “MESA quebrou”.
FORMAS LIVRES
2) são autônomas, podem funcionar sozinhas como
comunicação suficiente, sozinhas podem constituir frase, isto é,
ocorrem independentes em respostas, podem constituir
sozinhas um enunciado.
Ex.: O que você vai fazer? Sair. Você vai sair? Sim. Não. Talvez.
O que você vai fazer? Prescrever. Prescrever o quê? Lei.
Quantas laranjas ele comprou? Duas. Ele é seu amigo? Sim.
Não. Felizmente.
FORMAS LIVRES
3) admitem a intercalação de outras palavras. NÃO
feliz – NÃO (muito) feliz.

Os substantivos, os verbos, os adjetivos são sempre


formas livres.
FORMAS LIVRES
A forma livre será simple, se for indivisível em
unidades mórficas menores, como radical, afixos,
desinências, vogal temática. Se for divisível, será
composta.
Ex. FLOR – 1 forma livre indivisível
I-MORAL – 1 forma livre e 1 presa
IN-FELIZ-E-S – 1 forma livre e 3 presas
FORMAS PRESAS
1) só funcionam ligadas a outras unidades; não
têm independência estrutural; são parte
integrante de um vocábulo. São os afixos, as
desinências.
Ex.: PRO-, o prefixo de PROscrever ou de
PROmeter; IN- de INfeliz; -AÇÃO de
devastAÇÃO.
FORMAS PRESAS
2) têm as suas chances de ocorrência de uso,
bastante limitadas/restritas/fechadas e previsíveis.
AFIXOS: (prefixos e sufixos) são formas presas.

Ex.: -(I)DADE liga-se a adjetivos: ágil – agilidade; sério


– seriedade. DESINÊNCIAS: S de plural sempre
ocorre no final da palavra, após a vogal temática:
casaS, casinhaS.
FORMAS PRESAS
3) não há como intercalar novas palavras:

CAS+INHA+S = CASINHAS BANAN+AL =


BANANAL BANAN+EIRA+S =
BANANEIRAS
VOCÁBULO MÓRFICO

VOCÁBULO MÓRFICO (Bloomfield)


• é a unidade a que se chega quando não é mais possível
uma nova divisão em duas ou mais formas livres.
• Há vocábulos formados por uma forma livre indivisível
Ex.: MAR, LUZ
VOCÁBULO MÓRFICO

• Há vocábulos formados por duas ou mais


formas presas Ex.: IM+PRE+VIS+IBIL+IDADE
• Há vocábulos formados por uma forma livre e
uma ou mais formas presas Ex.: IN+FELIZ
VOCÁBULO MÓRFICO - Exemplos

• luz – 1 Forma Livre


• cadeirinha: cadeir+inha – 2 Formas Presas
• indiscutível: in+discut+ível – 3 Formas presas
PROBLEMA…

Mas o que dizer de DE


em livro DE Pedro?

MATTOSO acrescenta
então a noção de
formas dependentes.
Formas dependentes (MATTOSO)

FORMA DEPENDENTE: forma que não é livre porque não funciona


isoladamente como comunicação suficiente; forma que não é presa,
porque se disjunge da forma a que se liga:
• 1) apresentam estrutura independente, mas nunca aparecem
isoladas, não funcionam isoladamente como comunicação
suficiente, embora apresentem certa autonomia; encerram relações
gramaticais, por isso precisam estar relacionadas a outras unidades.
Ex.: artigos, preposições, conjunções, verbos auxiliares
Formas dependentes (MATTOSO)

2) permitem a intercalação de novas palavras: livro DE Pedro – livro


DE (meu colega) Pedro.
• OBS.1: Merece atenção o caso dos pronomes oblíquos átonos
(clíticos), como fala-SE, disseram-ME, que não permitem a
intercalação de novos vocábulos. Todavia, devem ser consideradas
formas dependentes devido à mobilidade, isto é, podem mudar de
posição. Ex.: Ele disse-ME a verdade. / Ele ME disse a verdade.
Formas dependentes (MATTOSO)

OBS.2: A preposição é uma forma dependente, de


articulabilidade mínima: ela sempre deve vir antes de
substantivo, mas permite a interrupção da sequência.
Ex.: casa DE (a minha bela) vizinha
MORFEMA

• Unidade linguística provida de FORMA e


SIGNIFICADO; unidade mínima significativa.
A realização de um morfema se denomina de morfe e, se
há mais de uma realização, temos os alomorfes. Ex.: IN -
INcapaz, IMpossível, Irreal.
MORFEMA

• Importa a significação: só é morfema se for significativo, se for


responsável por parte da significação total do vocábulo.
• É a unidade elementar no âmbito da morfologia. Ex.: laranjAL -
bananAL - mandiocAL mas em Alto, AL não constitui morfema
• Um morfema pode ser livre, como MAR, ou preso, como o S de
mesaS.
MORFEMA
Quanto ao significado, os morfemas podem ser LEXICAIS ou
GRAMATICAIS.
A) MORFEMA LEXICAL (RADICAL): contém a significação básica da
palavra. É responsável pela significação externa, não gramatical.
Esta significação está contida na raiz (envolve considerações de
caráter diacrônico) ou radical primário. Ex.: LEAL FELIZ RATinho
aGRUPar aLARGar FELIZmente GOSToso CANTar PULar
GURI GRATo GRATidão enVOLVimento
MORFEMA
RAIZ ou RADICAL PRIMÁRIO é o elemento mínimo de
significado lexical. Se for ampliado por derivação ou
composição, forma o radical secundário.
Ex.: em TRANSFORMAR há um radical secundário
TRANSFORM-. Retirando o prefixo TRANS-, temos a
raiz ou radical primário FORM-
MORFEMA
Chega-se à RAIZ eliminando os afixos, as desinências e a
vogal temática; chega-se ao radical eliminando as
desinências e a vogal temática.
MORFEMA
B) MORFEMAS GRAMATICAIS: são os responsáveis pelas funções
gramaticais do vocábulo (gênero, número, pessoa, tempo, modo).
Dividem-se em:
• b.1) MORFEMAS. DERIVACIONAIS: formam novas palavras; são
os AFIXOS (PREFIXOS, que se anexam ANTES do radical, e
SUFIXOS, que se anexam APÓS o radical). Ex.: INcapaz / REler /
lealDADE / fingIMENTO
MORFEMA
2) MORFEMAS FLEXIONAIS: indicam as flexões dos NOMES
(gênero e número: meninA, meninoS) e dos VERBOS (pessoa,
número, tempo e modo: cantO, canta VA MOS, bebeS ).
• b.3) MORFEMAS CLASSIFICATÓRIOS: distribuem os vocábulos
em categorias, no paradigma dos nomes ou dos verbos; são as
VOGAIS TEMÁTICAS.
mesa dentE meninO cantar batEr partIr
MORFEMA
2) MORFEMAS FLEXIONAIS: indicam as flexões dos NOMES
(gênero e número: meninA, meninoS) e dos VERBOS (pessoa,
número, tempo e modo: cantO, canta VA MOS, bebeS ).
• b.3) MORFEMAS CLASSIFICATÓRIOS: distribuem os vocábulos
em categorias, no paradigma dos nomes ou dos verbos; são as
VOGAIS TEMÁTICAS.
mesa dentE meninO cantar batEr partIr
TIPOS DE MORFEMA
MORFEMA ZERO: ausência significativa, isto é, algumas noções
gramaticais (modo, tempo, pessoa e número do verbo, singular de
substantivos e adjetivos) não apresentam uma realização formal
concreta, por meio de um significante.
Ex.: plural: acréscimo de S / singular: ausência de S – morfema de
singular é ZERO. Guri - guriS Livro - livroS Mesinha - mesinhaS
TIPOS DE MORFEMA
ALOMORFE: os morfemas podem apresentar diferentes formas (ou
significantes, chamados morfes), condicionadas por razões
fonológicas ou morfológicas. Temos, assim, diferentes formas de
um mesmo morfema, os alomorfes (=outra forma).
Ex.: INfeliz x IMpróprio x Ilegal
MUDar x MUTável CABEÇa x deCAPITar
MÊS x MENSal
VOGAL TEMÁTICA
Segmento fônico que se acrescenta ao radical (primário ou não) para
agrupar palavras (nomes e verbos) em categorias.
• VT de verbos: -A, -E, -I: amAr corrEr partIr
• VT de nomes: -A, -E, -O: sala poetA dentE alegre cáquI
murO sériO céU
OBS.: O e E átonos finais: são vogal temática. A átono final: é VT se
não for desinência de gênero: artista. A átono final: pode ser
desinência de gênero, se se opõe a uma forma masculina: menina.
TEMA
Radical + vogal temática = TEMA, que serve de base para o
acréscimo das desinências.
• Mas há nomes ATEMÁTICOS: Palavras oxítonas, em vogal: sofá,
café, cipó, irmã, guri, tatu
Palavras terminadas em consoante: mar, azul, lápis. No plural, a VT
aparece: marEs, azul+ES= azuIs (aqui, como semivogal)
RAIZ E RADICAL
RAIZ – “Elemento irredutível e comum a todas as palavras da mesma
família” (SAUSSURE)
• “Parte significativa central das palavras, obtida pela eliminação dos
afixos, da VT e desinências” (LUFT).
• Raiz é o elemento que se repete em todas as palavras cognatas, às
vezes com pequenas variações (alomorfes).
• Sincronicamente, RAIZ é RADICAL PRIMÁRIO. Ex.: PEDRa
PEDReiro PEDRada PETRificar (alomorfe) emPEDRar
RAIZ E RADICAL
Raiz é o elemento originário e irredutível em que se concentra a
significação das palavras, consideradas do ângulo histórico
(diacrônico). É a raiz que encerra o sentido geral, comum às
palavras da mesma família etimológica.
Ex.: Raiz noc [Latim nocere = prejudicar] tem a significação geral
de causar dano, e a ela se prendem, pela origem comum, as
palavras nocivo, nocividade, inocente, inocentar, inócuo, etc.
RAIZ E RADICAL
RADICAL – à raiz ou radical primário pode-se acrescentar
sufixos e prefixos.
Se acrescentamos UM afixo, temos o radical secundário,
e assim por diante: terr- enterr- desenterr- desenterrad-
RAIZ E RADICAL
Radical é o elemento básico e significativo das
palavras, consideradas sob o aspecto gramatical
e prático. É encontrado através do despojo dos
elementos secundários (quando houver) da palavra.
1. Exemplo:
2. CERT-o, CERT-eza, in-CERT-eza

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